N°USP: 7178655
O que?
O objetivo principal deste texto é mostrar de que maneira as pesquisas sobre habitação
- principalmente sua produção acadêmica - nas últimas décadas tem sidos centradas em
abordagens do consumo e da política habitacional governamental, ou seja, aquelas
praticadas pelas esferas de governo, sejam elas municipais, estaduais ou federais. Desta
maneira, pretende-se mostrar como o estudo e a compreensão da esfera da produção,
o distanciamento entre discurso e prática são necessários para reorientar o enfoque da
pesquisa sobre habitação.
Apenas essa abordagem ampla, que toma a moradia como um produto social
e histórico, pode explicar o desaparecimento de certas formas de provisão
em algumas cidades. É o caso das vilas populares ou carreiras de pequenos
sobrados resultantes da ação de um pequeno promotor, nas primeiras
décadas do século XX, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, que
desapareceriam na segunda metade do século. – página 36
Como?
Para tanto, ela se apropria das pesquisas desenvolvidas por Gabriel Bolaff, Nilton
Vargas e Sérgio Ferro para a compreensão do canteiro, da produção e da provisão
habitacional brasileira, para em seguida se apropriar de conceitos e pesquisas de
Michael Ball e de David Harvey, inserindo a produção brasileira no panorama mundial e
se apropriando dessas pesquisas para demonstrar a necessidade de desenvolvermos
aqui produtos semelhantes para entender melhor a realidade e não sermos mais
deficitários desse conhecimento que se faz necessário para políticas públicas de
habitação capazes de responder à demanda e aos problemas dos centros urbanos
brasileiros verdadeiramente.
Por que?
O texto visa realizar uma crítica não exatamente às políticas habitacionais ou suas
formas de provimento, mas sim às pesquisas – majoritariamente às de caráter
acadêmico – que versam sobre a questão habitacional brasileira. A crítica se coloca
basicamente sobre a necessidade de que a pesquisa não gire ao redor apenas dos dados
de consumo concernentes às morarias, bem como deixem de versar apenas sobre os
meios de provisão de habitação com origem no poder público.
Esse exemplo [o estudo de Ball (1988) para Europa e Estados Unidos] mostra
como a orientação adequada da pesquisa acadêmica pode nos conduzir para
uma compreensão mais ampla e cientifica da realidade. Não dispomos de
conhecimento que permita caracterizar as mudanças na estrutura de
provisão da moradia, sua evolução e adaptação à nova (des)ordem
internacional. Esse desconhecimento fragiliza o esforço na definição de
políticas para o enfrentamento de problemas tão graves como, por exemplo,
os que as nossas metrópoles apresentam. – página 46