Maximilianus Pinent
Mas, ninguém entra num mercado “roubando” espaço ou clientes. As lacunas (gaps na
administração e gargalos na Teoria das Restrições) aparecem quando algo não está sendo
satisfatório para o cliente final. E é nestas lacunas, principalmente na área de serviços, que as
novas tecnologias tem avançado e se popularizado, introduzindo processos de customer success
(sucesso do cliente).
Com ferramentas práticas na palma da mão uma pessoa consegue olhar a agenda cultural de
outra cidade, emitir uma passagem aérea, fazer uma reserva de hospedagem, chamar um
transporte até o aeroporto, fazer check in e atravessar o país para ir num show com a entrada
comprada antecipada. São tecnologias que permitem pessoas comuns criarem suas listas de
desejos para muito além das atividades culturais que as cercam cotidianamente.
Mas, se estes apps são bons para reserva de carros, de voos, de espetáculos e até mesmo de
bicicletas, ou entregas em casa, porque não para meios de hospedagem ou de pacotes turísticos?
Certa vez ouvi que o Airbnb era o Uber da hospedagem. Sim. É. E só existe porque tem brechas
nas entregas que os clientes desejam. Para atender o sucesso do cliente. Meios de hospedagem
que investem em entregas para os clientes não estão muito preocupados com a existência do
Airbnb. Até estudam o seu funcionamento para identificar melhorias em seu próprio serviço.
Claro. É necessário ajustar normas, mas isso deve ser feito sem criar regras de protecionismo
para que o mercado interno possa acompanhar a evolução global, como fez Portugal.
A chave desse sucesso está na denominada – e não tão nova assim – economia da recorrência,
ou popularmente conhecida como modelo de assinaturas (em inglês subscription economy)
que todos estes canais utilizam para demonstram aos seus clientes que buscam alternativas para
atender suas demandas ou sanar eventuais problemas a partir das críticas dos usuários para
constantes atualizações no app store. Enquanto isso, há meios de hospedagem que escondem
seus livros de reclamações e sugestões.
Já os críticos da nova economia digital, que avança até mesmo para uma moeda – o Bitcoin –
sabem que suas maiores preocupações estão relacionadas a eles mesmo terem que se reinventar
perante os novos desafios tecnológicos. E é cansativo se reinventar, tanto quanto fidelizar novos
clientes. Mas é mais cansativo remar contra a maré.
Outra tendência que cresce, vislumbrando que no Brasil 99% dos empreendimentos são micro e
pequenas empresas, são os produtos DIY (Do it yourself – faça você mesmo). Mesmo que o
conceito seja “faça você mesmo”, o DIY, que começou a se popularizar a partir da década de
1970, com a disseminação de ideais anticonsumismo, tem gerado inúmeros produtos e chega
aos serviços com sucesso.
Um exemplo disso é a filosofia Slow food, criada por Carlo Petrini, na Itália, em 1986 e já conta
com mais de 100 mil membros em todo o mundo, pregando o direito ao prazer da alimentação,
respeitando padrões artesanais em que o consumidor se torna coprodutor. Dentre os valores que
a associação defende está o respeito à biodiversidade da cadeia de produção, que aproxima
produtores de consumidores, utilizando-se basicamente de insumos da base local. Ou seja,
fortalece a cadeia produtiva do entorno geográfico do estabelecimento.