Anda di halaman 1dari 9

1

Do Estruturalismo à Linguística Textual



Profª. Drª. Anna Maria Marques Cintra
Profª. Drª. Nílvia Pantaleoni
Num rápido retrospecto, podemos dizer que o século XX, tanto no seu início, quanto em sua fase final, caracterizou-se por
profunda transformação nos estudos da linguagem: de uma concepção arraigada no historicismo, passou para uma análise
estrutural e daí para a consideração do texto, do discurso, da língua em uso.
Ferdinand Saussure1, com sua obra póstuma Cours de Linguistique Générale (CGL), foi o responsável maior pela profunda
transformação não apenas nos estudos da linguagem, mas, a partir deles, por uma verdadeira alteração no quadro científico
vigente. Os três princípios que nortearam o CLG e, até hoje, citados à exaustão, são: a língua é um sistema; a língua é forma,
não substância; e as unidades da língua só se definem por suas relações.
Apoiado nos estudos saussurianos, Lévi-Strauss introduz o estruturalismo na Antropologia e a partir daí essa concepção
espalha-se pelas ciências do homem e pelas ciências naturais. Piaget, citado por Jakobson2, em Congresso de Psicologia,
realizado em Moscou, em 1966 afirma que a linguística é, sem dúvida, a mais avançada das ciências sociais, tanto pela sua
estruturação teórica, como pela exatidão do trabalho que se propõe, e mantém com outras disciplinas relações de um
grande interesse. O próprio Jakobson, em 1973, abriu seu livro Relações entre a ciência da linguagem e as outras ciências3
dizendo: “Se quiséssemos caracterizar resumidamente o pensamento que dirige a ciência atual nas suas mais variadas
manifestações, não encontraríamos expressão mais adequada que a de estruturalismo”.
Mas afinal, o que foi o Estruturalismo? Uma teoria, um método, uma abordagem?
Entre as muitas discussões que encheram páginas e páginas de livros e periódicos, ao longo do século XX, a propósito do
Estruturalismo, destacamos a que nos parece mais sábia e que se encontra em um estudo denominado o Estruturalismo
Linguístico, de Mattoso Câmara Jr.4, reproduzido de uma Comunicação que o autor fez, em 1966, em Marília-SP. Diz o autor:
“Para conceituar o estruturalismo, em geral, nada melhor do que as considerações de Joseph Hrabák, que servem de
epígrafe a uma antologia de trabalhos do Circulo Linguístico de Praga, organizada por Paul Garvin (1964): ‘O estruturalismo
não é uma teoria nem um método; é um ponto de vista epistemológico. Parte da observação de que todo conceito num dado
sistema é determinado por todos os outros conceitos do mesmo sistema, e nada significa por si próprio. Só se torna inequívoco
quando integrado no sistema, na estrutura de que faz parte e onde tem lugar definido’...”.
No desenvolvimento da Linguística, o Estruturalismo ocupou espaço importante nos estudos fonológicos, constituindo-se o
ponto de partida para a construção metodológica das outras disciplinas. Simó5 reproduz os quatro princípios fundamentais
da análise linguística estrutural que dominaram os estudos linguísticos até o final da década de 60, apresentados por
Troubetzkoy, em 1933. São os seguintes:
• A fonologia passa do estudo de fenômenos linguísticos conscientes ao de sua infraestrutura inconsciente.
Comentário: A noção freudiana de inconsciente precisa ser entendida no plano psicológico e no plano epistemológico. No
plano psicológico observa-se que o sujeito que atua num dado sistema não tem consciência da estrutura que perfaz o
sistema, por isso o falante não tem consciência da estrutura da língua que fala, da mesma maneira que a estrutura
elementar de parentesco escapa da consciência dos sujeitos que a realizam. No segundo sentido, a infraestrutura ou a rede
formada pelos elementos do sistema não se apresenta ao observador, não é aparente. Ela se inscreve num nível de
inteligibilidade que só pode ser alcançado através do fenomenal.
• O “método” estrutural nega-se a tratar os termos como entidades independentes, tomando, pelo contrário,
como base de sua análise, as relações entre os termos.
Comentário: Logo essa análise não leva em conta a noção de substância, os objetos em si e sim a sua “forma”, a sua
abstração. Ao pretender explicar os objetos científicos pela rede de relações onde eles se inscrevem e que a constitui,
mostra-se como básica a noção de comparação.
• A fonologia atual não se reduz a declarar que os fonemas são sempre membros de um sistema; a fonologia
mostra sistemas fonológicos concretos e põe em evidência sua estrutura.
Comentário: Evidentemente, nenhuma operação estrutural seria possível se não se partisse da presunção de
sistematicidade do objeto científico.

1 SAUSSURE, F. (1916)
2JAKOBSON, R. (1974:39)
3 IDEM. (1974:11)
4 MATTOSO CAMARA JR. (s/d)
5 SIMÓ (1972)
2
• O “método” estrutural fonológico persegue a descoberta de leis gerais, seja encontradas por indução, seja
deduzidas logicamente, o que lhes imprime um caráter absoluto.
Comentário: No pensamento estrutural há espaço para a indução, a dedução e a analogia. Daí se poder dizer que o
estruturalismo parte do consciente em busca do inconsciente, operando com relações entre termos ordenados em
estruturas que constituem sistemas.
Esse modo estruturalista de estudar a linguagem permitiu trilhar caminhos que não evidenciaram a língua em uso. Pelo
contrário toda língua era abstraída para ser estudada. Daí seu esgotamento no final da década de 60, quando, por razões
diversas, buscou-se trabalhar a língua em uso. Entre as razões que poderiam explicar o nascimento de nova abordagem,
permitimo-nos selecionar uma, nascida dentro do próprio estruturalismo: a oposição competência e performance, tornadas
evidentes pela teoria gerativo-transformacional de N. Chomsky.
Embora toda sua teoria tenha ficado restrita à competência, foi pelo caminho da performance que ocorreu a grande
mudança. Na concepção gerativo-transformacional, a performance - devido sua infinita variedade - coloca em risco a
sistematização da língua. Mas, para os filósofos da linguagem de Oxford, o desafio valia a pena e, pouco a pouco, a
concepção ligada à performance foi ganhando força. Em meados da década de 60, iniciam-se novas formas de analisar a
linguagem, graças à consideração da língua em uso.
Pouco antes, em 1955, na Universidade de Harvard, o filósofo J. L. Austin proferiu uma série de doze conferências, as
famosas The William James Lectures que foram publicadas em 1962, dois anos após sua morte, com o título How To Do
Things With Words6. As sete primeiras conferências tratam dos performativos, as cinco últimas apresentam a sua teoria dos
atos de fala. Conceitos fundamentais foram apresentados durante as conferências e, a partir de então, têm sido aceitos
como verdadeiros axiomas pelos estudos pragmáticos da linguagem, aí se incluindo também as várias correntes da Análise
do Discurso. É o caso, por exemplo, além da classificação dos atos de fala, da distinção entre força ilocucionária e os efeitos
de sentido.
Atualmente, não podemos mais entender a natureza da linguagem sem levar em consideração como ela é usada na
comunicação, isto é, nos atos de fala. Principalmente, dois outros Filósofos de Oxford continuaram a tarefa de impulsionar
os estudos pragmáticos da linguagem. São eles J. Searle e H. P. Grice.
Em 1969, John Searle7, tomando como ponto de partida a obra de Austin, elabora a versão americana dos atos de fala,
publicando Speech Acts - An Essay in the Philosophy of Language. Ele procura estabelecer, então, o ato ilocucionário como a
base da comunicação linguística e propõe sua taxonomia dos atos ilocucionários, dividindo-os nas seguintes categorias:
assertivos, diretivos, comissivos, expressivos e declarativos.
Para Grice, a comunicação é um ato de fé na linguagem e no interlocutor. Já em 1957, na sempre citada conferência Logic
and Conversation, proferida também em Harvard, postula para os atos de fala o Princípio de Cooperação, que vai ser
revisado em 1975. O processo, como é tratada a conversação, pode ser entendido como duas atividades: o intercâmbio de
informação e a negociação de significados, de tópicos ou de temas discursivos. Este intercâmbio e esta negociação são
eficientes na medida em que seguem o Princípio de Cooperação que postula que os interlocutores são conscientes dos fins e
da direção do ato conversacional, pelo fato de seguirem as seguintes máximas:
a) Quantidade: diga só o necessário;
b) Qualidade: diga o que é importante e só aquilo que você sabe;
c) Modo: seja claro;
d) Relação: seja pertinente ou relevante.
Grice ressalta que as relações conversacionais estão sob o domínio de princípios gerais, que devem ser respeitados por
todos, regulando a forma pela qual o interlocutor reconhece a intenção do locutor e consegue entender o significado
daquilo que ele diz.
Já na linha da Análise do Discurso, podemos dar o exemplo de D. Maingueneau que emprega em suas pesquisas os
fundamentos da teoria dos atos de fala e os estudos que se seguiram. Ele concorda com Austin e Searle, ao observar que é
bastante difícil uma classificação que dê conta dos atos de fala, sobretudo pelo fato de não haver “acordo sobre a lista dos
elementos envolvidos, nem sobre os critérios pertinentes”8. Ele traz como sua contribuição aos estudos pragmáticos da
linguagem a noção de macroato de fala: “A pragmática textual é confrontada com sequências mais ou menos longas de atos de
linguagem que permitem estabelecer num nível superior um ato ilocutório global, o dos macroatos de linguagem”9.

6 AUSTIN (1990)
7 SEARLE (1981)
8 MAINGUENEAU (1996:11)
9 Idem (1996:14)
3
Assim os estudos até então restritos a femas, fonemas, morfemas, lexias, sintagmas, sentenças, que, timidamente, haviam
chegado ao enunciado, rapidamente o ultrapassou e assumiram o texto e o discurso.
Paralelamente, Émile Benveniste vai cotejar o emprego das formas com o emprego da língua. Ele estabelece que se trata de
dois mundos diferentes, já que o emprego das formas é parte necessária de toda descrição e o emprego da língua é um
mecanismo total e constante que afeta a língua inteira. O emprego da língua é seu próprio funcionamento que se dá pelo
ato individual de utilização, isto é, pela enunciação. O processo da enunciação pode ser estudado sob diversos aspectos,
tendo o autor selecionado três deles: a realização vocal da língua; a conversão individual da língua em discurso; e o quadro
formal da realização da enunciação.
A realização vocal da língua é o modo mais perceptível e direto do estudo da enunciação e é normalmente realizado por
linguistas preocupados com o quadro de um determinado idioma, quando pesquisam, por exemplo, seu processo de
aquisição, de difusão e de alteração. Para tanto, eles têm necessidade de partir de atos individuais, procurando,
evidentemente, eliminar os traços individuais dessas enunciações para ficar com uma imagem média dos sons que estão
estudando.
A conversão individual da língua em discurso trata de pesquisar como o “sentido” se forma em “palavras”, "em que
medida se pode distinguir entre as duas noções e em que termos descrever sua interação. É a semantização da língua que está
no centro deste aspecto da enunciação, e ela conduz à teoria do signo e à análise da significância”10.
Finalmente, a terceira abordagem, o quadro formal da realização da enunciação que considera, pela ordem, o próprio
ato da enunciação, as situações em que ele se realiza e os instrumentos de sua realização. O ato individual requer
evidentemente um locutor. Antes que ele enuncie, a língua é apenas uma possibilidade, depois da enunciação a língua se
realiza em uma instância de discurso que emana dele e que suscita, na sequência, uma outra enunciação do alocutário, já
que toda enunciação é uma alocução. A esse processo dá-se o nome de apropriação. O locutor se apropria do aparelho
formal da língua e enuncia sua posição de locutor por meio de índices e de procedimentos. É importante salientar que a
língua se acha empregada, na enunciação, para a expressão de uma certa relação com o mundo, ela deve referir, a referência
faz parte integrante do processo de enunciação.
A situação da enunciação se manifesta por meio de formas linguísticas específicas que têm a função de colocar o locutor em
relação constante e necessária com sua própria enunciação: os índices de pessoa (a relação eu/tu); os índices de ostensão
(por exemplo: este, aqui, agora); as formas temporais que se determinam em relação ao ego, centro da enunciação.
Além disso, a enunciação fornece as condições necessárias ao que Benveniste denomina as grandes funções sintáticas, a
saber: a interrogação, a intimação e a asserção. Também, de modo mais geral, a enunciação organiza os tipos de
modalidades formais que enunciam atitudes do enunciador do ângulo daquilo que enuncia e que indicam, por exemplo,
dúvida, incerteza, possibilidade.
Em relação ao quadro figurativo da enunciação, Benveniste afirma que a enunciação, como forma de discurso, coloca em
cena duas figuras na posição de parceiros que se alternam como protagonistas, na estrutura do diálogo. Mesmo o
monólogo, Benveniste considera como um diálogo interior. Ainda que os protagonistas da enunciação não tenham nada
específico para comunicar, existe entre eles uma comunhão fática, conceito que Benveniste empresta de Malinowski. Há
comunhão fática quando os parceiros “jogam conversa fora”: falam sobre o tempo, perguntam sobre a saúde, trocam
elogios, são corteses.
Benveniste abre perspectivas para novas abordagens a respeito dos estudos da enunciação, sugerindo que pesquisas sejam
realizadas para a determinação das alterações lexicais determinadas pela enunciação, ou ainda, para que se distinga a
enunciação falada da escrita, já que esta se desdobra em dois planos: "o que escreve se enuncia ao escrever e, no interior de
sua escrita, ele faz os indivíduos se enunciarem”11. Os estudos sugeridos por ele, há quarenta anos, foram realizados por
muitos analistas do discurso que o consideram uma das figuras mais significativas da geração de linguistas, herdeiros
diretos de Saussure.
Texto e Discurso
Objetos de várias correntes teóricas, os termos texto e discurso carregam variações significativas que precisam ser
esclarecidas. A variação significativa que os permeia vai desde a mais completa identidade - o que provoca o uso indiferente
dos termos como sinônimos - até a uma radical diferença entre eles. Mas seja qual for a conceituação, uma coisa parece
indiscutível: texto ou discurso, ambos cumprem uma função comunicativa, mesmo que a força da inter-relação dos
componentes linguísticos e extralinguísticos ou situacionais seja diferenciada.
Por ora, estamos chamando de componentes linguísticos o conjunto de referentes textuais, composto por palavras, frases,
períodos, parágrafos, partes do texto, e de componentes extralinguísticos, os referentes situacionais que envolvem o
próprio contexto situacional no qual se dá o texto/discurso.

10 BENVENISTE (1970:87)
11 Idem (1970:90)
4
Entre os referentes textuais, há que se ressaltar a palavra lexêmica, provida de uma base significativa, tematizada
intratextualmente, em função do co-texto e extra-textualmente, em função do contexto situacional. Mas além da palavra
lexêmica ocorrem palavras gramaticais que desempenham importante papel na direção argumentativa dada ao
texto/discurso e as palavras dêiticas (os índices de ostensão, para Benveniste), cuja função indicial é designar mostrando,
não conceituando. Frases e períodos abarcam a trama sintático-semântica do texto/discurso que, embora sejam
fundamentais para a compreensão, têm, de fato, na sua parte propriamente descritiva uma aplicação mais restrita.
Já o parágrafo se constitui numa unidade representativa, uma vez que ele se compromete com a carga de significado do
texto/discurso e que sua divisão se harmoniza com o esquema de raciocínio sustentado pelo autor. Como demonstrou O. M.
Garcia12, o parágrafo-padrão se constrói a partir de uma estrutura básica que permite a apresentação de ideia central ou
nuclear sob a forma de um tópico frasal que, no entanto, não dispõe de lugar inteiramente fixo na estrutura do parágrafo.
Na parte que se convencionou chamar de desenvolvimento do parágrafo, diferentes maneiras de composição marcam o
esquema textual: contraposição, explicação, argumentação, definição, comparação ou analogia, enumeração, reiteração,
julgamento, conclusão etc. É provável que o conhecimento destas possibilidades possa proporcionar um trabalho mais
eficaz com resumos, com paráfrases, com construção de textos.
Mas além desses elementos componentes do texto, há que se levar em conta os referentes situacionais que congregam o
conjunto de objetos, circunstâncias e acontecimentos extralinguísticos a que a mensagem se refere. Vejamos o exemplo
tirado de Pedro Nava, apresentado por E. Guimarães13:

O governo ou os governos que por obstinações macarthistas prescindem dos conselhos e da sabedoria de um homem como ele
(Afonso Arinos) são tão incompetentes e suicidas como os que dispensassem Churchill ou Clemenceau no momento dum
cataclismo semelhante ao que atravessamos. Porque nós estamos agora como o que foram a Inglaterra sob as bombas e a
França debaixo da invasão.

Como se observa pelo exemplo, da gama de significados de cada palavra, emerge um sentido, determinado pela relação
textual/contextual, segundo as intenções do autor e as possibilidades do leitor, Ainda que seja possível compreender que o
texto se refere a um momento político de crise, o grau desta compreensão vai variar entre os leitores, a partir do
conhecimento que cada um tem do que é macarthismo, de quem foram Afonso Arinos, Churchill e Clemenceau, do que
significa governo ou cataclismo. Portanto, aí entram conhecimentos prévios de mundo, fundamentais para uma
compreensão “ótima” do texto.
Na linha da distinção texto/discurso, há quem tome texto como objeto ou sistema concluído, formado por um conjunto de
hierarquias, de configurações estruturais internas, e discurso como objeto em construção no momento em que o
locutor/enunciador articula elementos linguísticos e extralinguísticos. Essa distinção, embora questionável do ponto de
vista de teorias de leitura, nos mostra a emergência de dois focos: o do emissor que pode ser visto como locutor ou
enunciador e o do receptor, locutário, ou enunciatário. Dito de outra forma, o foco do autor e o do leitor podem tomar
direções diversas no tratamento desta unidade maior, marcando diferentes posicionamentos teóricos.
Em linhas gerais podemos dizer que, pelo foco do autor, é possível ver o texto/discurso como algo pronto, constituído e
pelo foco do leitor, como objeto aberto, plural, dialogante, ligado de forma inalienável ao contexto situacional.
Há vários enfoques que poderiam ser considerados. Ficamos com a Análise do Discurso de linha francesa, porque ela opera
sobre o texto escrito, suporte mais comum no trabalho acadêmico, enquanto que a Análise do Discurso anglo-saxônica pelo
menos em algumas tendências, opera, mais frequentemente, sobre o discurso oral. Por conta desta diferença, a primeira
tem objetivos mais textuais e a segunda, mais comunicacionais.
Maingueneau14 adverte que, embora a expressão "análise do discurso seja muito utilizada para nomear qualquer tipo de
análise, ela, na verdade, deveria ficar restrita à análise que busca sentidos ocultos no texto e que o faz a partir de uma
técnica apropriada”.
Também Orlandi, no prefácio da edição brasileira do livro O Discurso. Estrutura ou Acontecimento, de M. Pêcheux15, faz
notar que a Análise do Discurso:

"... quer se considere como um dispositivo ou como a instauração de novos gestos de leitura - se apresenta, com efeito, como
uma forma de conhecimento que se faz no entremeio e que leva em conta o confronto, a contradição entre sua teoria e sua
prática de análise. E isto compreendendo-se o entremeio seja no campo das disciplinas, no da desconstrução, ou mais
precisamente no contato do histórico com o Iinguístico, que constitui a materialidade específica do discurso”.

12 GARCIA (1969)
13 GUIMARAES (1990:11):
14 MAINGUENEAU (1987)
15 PÊCHEUX (1990:8)
5
Ainda segundo Orlandi, Pêcheux aceita o desafio do entrecruzamento de três caminhos: o do acontecimento, o da
estrutura e o da tensão entre descrição e interpretação, ao analisar o discurso "On a gagné”, proferido na França em
10/5/81, quando Mitterrand foi eleito presidente.
A observação deste tipo de análise nos permite dizer que o discurso se expressa em texto e que o trabalho do analista se
torna complexo, pois ele terá de fazer uma leitura do texto/discurso, monitorado por alguns parâmetros capazes de levá-lo
ao desvendamento de informações ocultadas por mecanismos próprios do autor, que dão conta de fatores sócio-históricos
e ideológicos, relacionados com o contexto de produção.
Não se pode esquecer que a Análise do Discurso é uma área desenvolvida dentro do pensamento marxista e como tal está,
indelevelmente, ligada a questões das ciências sociais e assujeitada à “dialética da evolução científica que domina este
campo”16.
Assim, a Análise do Discurso se relaciona com textos produzidos no quadro de instituições que restringem fortemente a
enunciação, onde estão cristalizados conflitos históricos e sociais. Maingueneau observa que os objetos que interessam à
Análise do Discurso correspondem ao que Foucault chamou de formações discursivas: "um conjunto de regras anônimas,
históricas; sempre determinadas no tempo e no espaço que definiram em uma época dada, e para uma área social, econômica,
geográfica ou linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa”.
Desta forma, a Análise do Discurso não se ocupa do discurso de um indivíduo, a menos que ele seja representante de uma
manifestação sócio-histórica significativa. Daí ser do escopo da Análise do Discurso estudos que envolvem as tipologias
funcionais do tipo: discurso jurídico, discurso religioso, ou tipologias formais como: discurso narrativo, discurso didático
etc. Vale assinalar que as tipologias formais são apenas uma etapa preliminar para a análise dos discursos funcionais. A
rigor, as tipologias formais são objeto da Linguística Textual.
O conjunto que se caracteriza hoje como Análise do Discurso de linha francesa opera sobre formações discursivas que
podem ser exemplificadas através de discursos como o da imprensa socialista, o dos manifestos feministas, ou o das
religiões, o da atuação didática etc.
Considerando que, nosso intuito é apenas lançar um primeiro olhar sobre o termo discurso, passamos em revista alguns
aspectos mencionados por Maingueneau, na terceira parte do seu trabalho, quando trata das palavras do discurso. Segundo
o autor, o léxico ocupa lugar importante na Análise do Discurso, pelo fato de ser essa análise voltada para as proposições e
para o texto. Este método se apoia num saber apriorístico, na medida em que não é o texto que possibilita a localização dos
temas, mas os pressupostos do analista que formula perguntas de ordem sócio-históricas. Como mostra o autor, esse
método deve ser tomado como auxiliar, para apoiar de forma localizada um estudo mais amplo do discurso e ser mantido
sob controle, já que os termos são definidos não a priori, mas durante a análise.
Tomemos alguns aspectos do exemplo apresentado por Maingueneau. Trata-se de um estudo de manuais da escola francesa
da III República. A análise da formação discursiva começou pelo exame da relação entre o sujeito do discurso, a França e
suas colônias. Foi a partir disto que se pôde descobrir o papel crucial do que ele chama de deslizamento metafórico do
termo “mãe” para “França”, projetado sintagmaticamente sobre o significante "pátria-mãe”. Assim ele constituiu um corpus
com todas as ocorrências de mãe e filho nos exercícios de um manual de língua francesa, considerado representativo. Diz o
autor17:
“Esta análise permite, na sequência, que se abram novas redes de inteligibilidade nos textos de nosso corpus. Especificamente,
foi-nos possível integrar uma série de leituras dispersas no mesmo manual às quais não tínhamos prestado atenção. Elas
descrevem uma cena inscrita em uma narrativa exemplar: em um primeiro momento, uma criança adormecida, passiva, tudo
recebe da mãe que vela seu sono; a seguir, lembra-se a esta criança que, mais tarde, quando for adulta, deverá restituir,
pagar sua dívida. Fica assim enunciado o ‘contrato’ ideológico primordial que estrutura a cena enunciativa pedagógica,
contrato sobre o qual se desenvolve a enunciação desta formação discursiva: o ensino dispensado na escola constitui uma
espécie de ‘adiantamento’ feito ao escolar pela mãe/pátria. E através de seu comportamento posterior de bom cidadão da
república que deverá honrar os termos deste contrato, quitando sua dívida”.

Análise de Texto
Também na Análise de Texto não há unanimidade. São várias correntes, várias posições, havendo mesmo divergência na
nomeação da área: Linguística Textual, Teoria de Texto, Análise de Texto, abrangendo tanto textos escritos, quanto orais,
mas sempre delimitados pragmaticamente: um sermão, um diálogo, um livro, um artigo. Toma-se como competência inata a
capacidade do ser humano para distinguir um texto coerente de um incoerente. Trata-se de uma competência que se dá no
mesmo nível da capacidade de parafrasear, resumir, dar título e mesmo produzir alguns tipos de textos, como narrar,
descrever, dissertar.

16 MAINGUENEAU (1987:11)
17 Idem (1987:135).
6
Na década de 80, dizia Marcuschi18 que a Linguística Textual, surgida na década de 60, ainda não tinha definido de forma
satisfatória seu objeto, assim como suas categorias de análise. Arrematava dizendo: "Dispõe, porém, de um dogma de fé: o
texto é uma unidade linguística hierarquicamente superior à frase. E uma certeza: a gramática de frase não dá conta do texto”.
Apesar da evolução das pesquisas da área, estas afirmações continuam verdadeiras, assim como a dupla focalização que o
autor fez para as definições de texto: um foco "partindo de critérios internos ao texto ( olhando-o do ponto de vista imanente
ao sistema linguístico)” e outro, “partindo de critérios temáticos ou transcendentes ao sistema (considerando o texto como
uma unidade de uso ou unidade comunicativa) ".
Assume o autor uma definição provisória para Linguística de Texto, ou Linguística Textual que ressalta o texto
como unidade comunicativa concreta, atual, realizada tanto no nível de uso, como no nível de sistema:

"... estudo das operações linguísticas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e
recepção de textos escritos ou orais. Seu tema abrange a coesão superficial ao nível dos constituintes linguísticos, a coerência
conceitual ao nível semântico e cognitivo e o sistema de pressuposições e implicações ao nível pragmático da produção do
sentido no plano das ações e intenções. Em suma, a LT trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo
universo de ações humanas. Por um lado deve preservar a organização linear que é o tratamento estritamente linguístico
abordado no aspecto da coesão e, por outro, deve considerar a organização reticulada ou tentacular, não linear, portanto dos
níveis de sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas”19.

Analisando a definição proposta, podemos notar que, excetuado apenas o trabalho com textos orais, objeto da Análise da
Conversação, a Linguística Textual pode fornecer subsídios para os estudos de textos, tomados como entidades linguísticas
concretas, como unidades “congeladas”.
Apesar de ser, praticamente impossível definir texto ou discurso, sem o apoio explícito numa dada teoria, ou sem um
objetivo claro, podemos dizer que o texto, numa concepção geral, é uma unidade de sentido caracterizada pela coerência e
pela coesão, conjunto de relações responsáveis pela sua tessitura. Há que se levar em conta na organização textual, não só
os elementos temáticos, mas também os elementos, propriamente, linguísticos. Os elementos temáticos caracterizam-se
por dois tipos de relações: as relações lógicas e as relações de redundância, Enquanto as primeiras são condicionantes do
processo de expansão do texto, as segundas garantem a fixação do tema, graças à reiteração.
Os elementos linguísticos reúnem os já mencionados referentes textuais (palavras, frases, períodos, parágrafos, partes do
texto) e categorias superestruturais, Tanto do ponto de vista do autor, quanto do leitor - embora seja mais saliente do ponto
de vista do leitor - o texto se faz num eixo de sucessividade relativa, onde se opera um movimento progressivo, associado a
um movimento de vai-e-vem, de antecipação e retroação. Assim, a organização do texto, normalmente, é assumida como
uma articulação de elementos estruturais, já que existem formas e funções, expressas numa rede de dependências e
implicações, na qual o todo é qualitativamente distinto da soma das partes. As relações que podem ser de equivalência, de
associação ou de hierarquia, ocorrem em diferentes níveis: fonológico, morfológico, lexical, sintático, semântico,
pragmático. Como resultado das relações estabelecidas, pode-se ter uma estrutura compacta, na qual o esquema de
compreensão textual do leitor tende a reproduzir a estrutura original do texto; ou uma estrutura difusa, onde elementos
estruturais apresentem-se num quadro de deslocamentos e inversões - fora dos padrões normais - , gerando esquemas de
difícil acompanhamento pelo leitor.
Marcuschi apresenta um esquema geral provisório das categorias textuais, a partir de quatro fatores: contextualização,
conexão sequencial (coesão), conexão conceitual cognitiva (coerência) e conexão de ações (pragmática).
Valendo-nos do trabalho mencionado, destacamos para efeito de reflexão inicial, as seguintes categorias:
1. Em termos de contextualização:
§ Contextualizadores: autor, localização, data e elementos gráficos; título.
2. Em termos de conexão sequencial ou coesão:
§ Repetidores: recorrência
§ Substituidores: pronomes, elipse
§ Sequenciadores: tempo, conjunção, disjunção, contrajunção, subordinação, tema-rema
§ Moduladores: modalidades.
3. Em termos de conexão conceitual-cognitiva ou coerência:
§ Relações lógicas: causais, pressuposições, implicações, argumentação
§ Modelos cognitivos globais: conceitos, frames, esquemas, scripts, planos, macroestruturas.

18 MARCUSCHI (1983: 01)


19 Idem (1983: 12/13)
7
4. Em termos de conexão de ações ou pragmática:
§ Intencionalidade
§ Informatividade
§ Situacionalidade
§ Aceitabilidade
§ Intertextualidade

Contextualização

No conjunto das categorias arroladas, as contextualizadoras contribuem para equacionar alternativas de compreensão e de
dimensionamento da tarefa de leitura, fator muito importante para a predisposição psicológica na leitura. O título constitui
elemento estratégico na articulação do texto, uma vez que ele não só determina a primeira entrada do leitor na
configuração do sentido do texto, como também se faz local de ancoragem do sentido inicial.
A ancoragem do texto no título pode ser feita por um procedimento anafórico ou catafórico. Anafórico, quando o título
funciona como lembrete da informação conhecida e assim vai monitorando a leitura e, porque não dizer, a própria
escritura; catafórico, quando a elucidação do título só acontece com o desvendamento do texto pela leitura. Portanto o
título tem uma função cognitiva e uma função articuladora no processo de organização e desmontagem do texto.

Conexão sequencial ou coesão

Entre os fatores coesivos ou de conexão sequencial estão categorias que carregam procedimentos de articulação da
significação superficial do texto, que funcionam como enlaçadores textuais garantindo parte da unidade significativa.
Fávero20 observa que há divergências entre autores sobre coerência e coesão. Há quem distinga e quem não distinga uma
coisa da outra; há quem faça referência a apenas um dos termos e quem estude vários aspectos comumente englobados
num destes fenômenos, sem nenhuma rotulação.
Admitindo a coesão como fenômeno específico, a autora toma a referência como um primeiro grau de abstração para
distinguir dois tipos de coesão referencial: a reiteração e a substituição.
Os elementos repetidores ou de recorrência são expressões que se repetem no texto, expressões que podem ter a mesma
referência, referência diferente ou superposta. São expressões que carregam traços semânticos recorrentes que levam à
identidade total ou parcial, através de reiterações, de substituições lexicais (sinônimo, hiperônimo, hipônimo).
“A criança caiu e chorou. Também o menino não fica quieto.”
“Gosto muito de doces, Cocada, então, adoro.”
Também exercem um papel semelhante os substituidores que, através de pro formas, repõem significados já explicitados
no texto em situações de anáfora ou catáfora. Como um tipo específico de substituição, mencionamos a elipse que
corresponde a uma substituição por zero, já que é possível ao autor e ao leitor processar a informação elíptica.
“Tenho um automóvel. Ele é verde.”
“O menino leu e compreendeu o texto”. (= O menino leu e o menino compreendeu o texto).
Como tipos de sequenciadores estão as categorias relacionadas com o tempo do mundo real, expresso, normalmente,
através de formas verbais; os operadores (conectores) que estabelecem relações no texto de, por exemplo, disjunção,
conjunção, contrajunção explicitadas pela estrutura sintática, por operadores argumentativos; e o tema-rema ou tópico
comentário, expresso por construções mais complexas. A própria ordem sequencial dos enunciados garante a coesão do
texto. Por exemplo:
“Vim, vi e venci”. e “*Venci, vi e vim.”
Observe exemplos de operadores que estabelecem relações entre partes do texto/enunciado:
Conjunção (relação de adição) “Chove e faz frio.” “Não me arrisco nem arrisco você.”
Contrajunção (relação de contraste, de desigualdade): “Fez o que quis, mas levou na cabeça.”
“Jogou muito bem, contudo não conseguiu o título.”
Disjunção ( relação de alternância): “Ou se usa luva ou se usa anel.”

20 FÁVERO (1991)
8
Nos moduladores destacamos as modalidades expressas, por exemplo, por construções em que entram formas como
querer, poder, dever, parecer, ou construções com o futuro do pretérito que marcam o não comprometimento do autor com
suas afirmações.
A coesão recorrencial tem por função levar o texto adiante. É este tipo de coesão que articula a informação nova à velha, por
intermédio da recorrência de termos, de estruturas (paralelismo), recorrência semântica (paráfrase), recorrência de
recursos fonológicos segmentais e suprassegmentais.
"Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor (...)” (Manuel Bandeira)

“Eia! eia! eia!


Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia sem fios; simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! (...)” (F. Pessoa)

Conexão conceitual-cognitiva (coerência)


Em termos da conexão conceitual cognitiva, ou seja, de coerência, estão categorias que permitem dar continuidade de
sentido às ideias expressas no texto. São categorias que dão conta do processamento cognitivo do texto, na medida em que
se estabelecem no nível de conexão conceitual e de estruturação do sentido, manifestado, em grande parte,
macrotextualmente. São as relações lógicas e os modelos cognitivos globais.
As relações lógicas referem-se a relações de causa/consequência, pressupostos e implicações ocorrentes no texto, tipos de
argumentação (exemplificação, analogia, comparação, citação de autoridade etc.).
Entre os modelos cognitivos globais está o conceito, entendido por Marcuschi como "uma constelação de conhecimentos
estruturados numa unidade consistente”. Prossegue o autor: "No seu uso, ativamos conhecimentos armazenados na memória
semântica e na memória episódica. A memória semântica espelha modelos inerentes da organização do conhecimento, ou seja,
as estruturas de eventos; fatos e experiências. Tem a função de organizar os fatos entre si. A memória episódica contém a
lembrança de fatos”. 21
Os modelos globais são de quatro tipos: “frames”, esquemas, planos e “scripts”.
Os “frames” abrangem o conhecimento diário sobre um conceito central, sem estabelecer ordem ou sequência lógica ou
temporal. Dito de outra forma, os “frames” contêm os conhecimentos comuns sobre um conceito primário. Tome-se como
exemplo o “frame” “alimentação” ou “páscoa”. A explicitação destes termos desperta conjuntos significativos cultural e
individualmente determinados.
Os esquemas são modelos globais de acontecimentos ou estados que pressupõem sequência ordenada na linha do tempo
ou de causas. Ao contrário dos “frames”, os esquemas são fixos, permitindo estabelecer hipóteses, ou prever ordens,
disposições. Como exemplo, vale mencionar o esquema que comanda o uso dos talheres e copos num jantar.
Os planos são modelos de acontecimentos ou estados que conduzem a algum fim pretendido. Todos os elementos do plano
devem estar numa ordem previsível, tendo em vista o fim desejado, como num plano de metas de um candidato ou de um
executivo. Os “scripts” são planos estabilizados, aos quais se pode recorrer para exercer determinados papéis. Seu caráter
de plano estabilizado marca o “script” como uma rotina.
Fávero22 afirma que, segundo Beaugrande e Dressler, "o texto coerente é aquele em que há uma continuidade de sentidos
entre os conhecimentos ativados pelas expressões do texto.”
Isso permite dizer que, no limite, não há textos coerentes ou incoerentes, pois a coerência/incoerência se estabelece numa
determinada situação, para um dado leitor. Assim situam-se alguns autores no campo da semântica procedimental
(procedural semantics) que opera com dois níveis de conhecimentos: a razão e a experiência. Neste tipo de estudos há que
se distinguir o conhecimento declarativo do conhecimento procedimental.
O conhecimento declarativo nos é dado pelas sentenças e suas proposições, na medida em que organizam os
conhecimentos a respeito de situações, fatos do mundo real e entre os quais se estabelecem relações lógicas como
generalização, especificação, causalidade. O conhecimento procedimental é dado pelos fatos ou por nossas convicções num
determinado formato, para um uso determinado.

21 MARCUSCHI (1983: 47)


22 FÁVERO (1991:59)
9
“Esse conhecimento, armazenado na memória episódica através de determinados modelos globais, é culturalmente determinado
e construído através da experiência e trazido à memória ativa (= espaço de organização dos conhecimentos declarativo
e procedimental) no momento da interação verbal, a partir de elementos presentes no texto”.23

As macroestruturas correspondem à estrutura semântica do texto. Elas se apresentam, num primeiro plano, pelo
desenvolvimento temático do texto e sua realização plena está condicionada a elementos cognitivos ativados por
expressões lexicais e gramaticais e pelo universo de referência do texto. É; pois, essa realização plena ou essa adequação da
estrutura semântica global que recebe o nome de coerência. Nela se inscreve a intenção comunicativa do escritor e as
estruturas linguísticas que manifestam a intenção. Assim, a coerência é um fenômeno pragmático que parte da intenção
comunicativa e passa pelos elementos linguísticos. A coesão, nesta concepção, é o efeito da coerência, conseguido por meio
de relações intratextuais. Sob diferentes ordenações, as ideias vão sendo encadeadas e assim o sentido do texto vai sendo
construído num jogo múltiplo e mútuo, que resulta na sua coerência. Em última instância podemos dizer que a coerência
resulta da sintonia entre as relações lógicas e as relações de redundância.
Conexão de ações (pragmática)
Entre os elementos de conexão de ações, ou pragmática, figuram a intencionalidade do autor, a estrutura informacional do
texto, a situação em que ele ocorre, sua aceitabilidade e suas possibilidades intertextuais. Estas categorias não podem ser
analisadas de forma isolada, uma vez que há um claro entrelaçamento entre elas, na configuração pragmática do texto.
Dentre estes aspectos mencionados no nível de conexão pragmática, há que se observar o papel da intencionalidade do
autor e do leitor.
A estrutura informacional diz respeito, diretamente, ao conteúdo significativo do texto, às suas informações nucleares. Este
é um aspecto que, a nosso ver, merece aprofundamento. A situacionalidade e a aceitabilidade apresentam-se como
categorias de grande importância prática no momento da leitura, uma vez que elas permitem ao leitor posicionar o texto no
seu universo de conhecimentos e assumir uma postura psicológica, propícia ou não, para a leitura.
Estudos de textos têm mostrado que as práticas intertextuais estão sempre presentes. Admite-se mesmo que cada novo texto
se inscreve num campo intelectual já conhecido do redator e do leitor, o que faz com que não exista o absolutamente novo.
Finalmente, é necessário enfatizar a importância para a linguística textual da noção de superestrutura, desenvolvida por
Van Dijk24. No seu entender, a superestrutura do texto corresponde a estruturas globais que caracterizam diferentes tipos
de textos, independentemente de sua macroestrutura, isto é, de seu conteúdo. Mais precisamente, a superestrutura é um
tipo de esquema abstrato que estabelece a ordem global de um texto, as relações entre seus fragmentos e que se compõe de uma
série de categorias cujas possibilidades de combinação se baseiam em regras convencionais. Por exemplo, as categorias do texto
narrativo compreendem: Situação, Complicação, Ação ou Avaliação, Resolução, Moral ou Estado Final; e as do texto
argumentativo stricto sensu: (Tese anterior), Premissas, Argumentos, (Contra-argumentos), (Síntese), Conclusão (Nova Tese).
Embora as regras de formação determinem a ordem em que as categorias devem ocorrer, van Dijk admite que as
superestruturas devem ser vistas como elementos de natureza cognitiva, culturalmente organizadas na memória, Assim,
não há superestrutura de qualquer tipo que seja universal.
Bibliografia
AUSTIN, J.L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. (trad. Souza Filho, Danilo Marcondes) Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Geral I e II. São Paulo: Nacional, 1970.
FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Tradução de Izabel Magalhães. Brasília: Editora UnB, 2001.
FÁVERO, L. L. & Koch, I. Linguística textual: introdução. São Paulo: Cortez, 1983.
FÁVERO, L. L. Coesão e Coerência Textuais. São Paulo: Ática, 1991,
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 2ª ed., Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1969.
GUIMARÃES, E. A articulação do texto. São Paulo: Ática, 1990.
JAKOBSON, R. Relações entre a ciência da linguagem e as outras ciências. Trad. M. Fernanda B. Nascimento, Lisboa/SP: Bertrand. Martins Fontes, 1974.
MAINGUENEAU D. Novas tendências em Análise do Discurso. Campinas: Pontes, 1989.
MARCUSCHI, L. A. Linguística de Texto. O que é e como se faz. Recife: UFPE, Série Debates 1, 1983.
MATTOSO CAMARA JR. J. O estruturalismo linguístico. Tempo Brasileiro - Revista de Cultura 15/16 Estruturalismo. RJ: s/d.
PÊCHEUX, M. O Discurso. Estrutura ou Acontecimento. Campinas: Pontes, 1990.
SAUSSURE, Ferdinand de. [1916]. Curso de linguística geral. Trad. Antônio Chelini (et al.). São Paulo: Cultrix, 2004.
SEARLE, J. Os actos de fala. Trad. Carlos Vogt (et al.). Coimbra: Almedina, 1981.
SIMÓ, M. P. La linguística estructural y las ciencias del hombre. Buenos Aires: Nueva Vision, 1972.
VAN DIJK, T. A. Cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto, 1992.

23 FÁVERO (1991:61)
24 VAN DIJK (1992)

Anda mungkin juga menyukai