ÍNDICE
PRIMEIRO ATO
CENA I
CENA II
CENA III
CENA IV
SEGUNDO ATO
CENA ÚNICA
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
BOLA DE PAPEL A
BOLA DE PAPEL B
LIXEIRO
CADEIRA
SECUNDÁRIOS
ALUNOS E ALUNAS
PRIMEIRO ATO
CENA I
Sala de aula. O lixeiro do lado da porta. Bolas de papel espalhadas pelo ambiente. Os alunos
aguardam o toque. Enquanto isso, tumulto generalizado entre eles. Dois alunos pegam uma
bolinha de papel.
ALUNO A
ALUNA C
ALUNA D
ALUNA E
Com um gesto expansivo, a Aluna E esbarra na Aluna C, que pinta as unhas da Aluna D.
ALUNA C
ALUNA E
ALUNA E
ALUNA D
ALUNA E
CENA II
Toque de encerramento das aulas. Os alunos saem apressados, se esbarrando uns nos outros.
Sala vazia. Somente as cadeiras, o lixeiro e as bolas de papel no chão.
BOLA DE PAPEL A
- Poxa, meu! Que povo agoniado! Já não aguentava mais aquelas meninas chatas. (imitando os
gestos afetados das garotas) “ai, mulher”, “vixe! Que nojo”. Ôoooh tanta frescura. Não!
CADEIRA
- E eu aqui, sendo riscada com os lápis pontudos. E ainda achando pouco a minha função de
aguentar o peso e a chatice, esse pessoal ainda derrama esmalte em mim. Vê se pode, cara!
LIXEIRO
- E isso é lá nada. E eu, hein? Vocês não veem o que eles me fazem não, é? Me chutam, me
derrubam, me arrastam pelo chão... (interrompido pela BOLA DE PAPEL B)
BOLA DE PAPEL B
- Ha, ha, ha, ha! Engraçado você, LIXEIRO, muito engraçado. E o que eles fazem com a gente?
Olha o nosso estado? Somos os únicos que passaram por uma metamorfose.
CADEIRA
- Metamorfose? Qual?
BOLA DE PAPEL B
- Ora qual! Não vê não, é? A gente era folha de caderno. A gente tinha orgulho disso, viu? Mas,
esses..., esses.... ah.
BOLA DE PAPEL A
- É verdade, povo. Eles feriram o nosso orgulho. Vejam no que nos transformaram! Em míseras
bolas de papel. E mais: eles nos fazem de capachos. Nos jogam pra um lado e pra outro. Nos
usam pra tudo (careta dos outros elementos), menos para o que, de verdade, servimos.
CADEIRA
- Pera lá! E eu, gente? Eles passam o tempo todo em cima de mim. Me pisam com os seus
sapatos imundos (careta dos outros elementos), me arrastam, me sujam, me riscam e me
fazem de cama...
CENA III
DONA DONDOCA
- Minha nossa senhora! Santa mãe dos pecadores! Que diacho é isso? Esses adolescentes não
têm o juízo perfeito não. Que imundície essa. Bolas de papel espalhadas por todo canto. O
lixeiro derrubado. A cadeira derrubada: toda suja, meu Deus. Isso vai dá um trabalho danado
pra tirar. Olha isso: é esmalte? Tinta de caneta? Ai meu Deus... (suspira fundo).
Junta as bolas de papel. Coloca o lixeiro no lugar e levanta a cadeira.
DONA DONDOCA
CENA IV
BOLA DE PAPEL A (Depois de ter escutado tudo o que falou dona Dondoca)
CADEIRA
- E se...
LIXEIRO
- E se...
- E se não...
BOLA DE PAPEL A
SEGUNDO ATO
CENA ÚNICA
Dia seguinte. Sala de aula arrumada. Chegam os alunos, agitados. Abrem logo o lixeiro. Pegam
as bolas de papel e começam a jogar uns nos outros. Riscam a cadeira (“Claudete ama X”).
- Deixa que eu atinjo o olho desse aqui. (atinge o olho de um aluno – que grita)
BOLA DE PAPEL B
- Eu já estou todo melado com o resto da merenda de ontem, que eles jogaram no meu amigo
Lixeiro. Tá bem azeda. Vou melar todo mundo.
LIXEIRO
- Vou ficar atravessado aqui, no meio, pra derrubar os manés que vão passar por aqui.
- Vamos fazer essas daqui de besta. Quando elas forem sentar, a gente sai do lugar e deixa que
elas se estatelem no chão.
O plano causa confusão nos alunos. Eles começam a perceber que há alguma coisa de errada
na sala. Os elementos se reúnem e atacam com força total. As bolas de papel, em vez de
ficarem voando pelos ares de mão em mão, fazem isso com os alunos. O Lixeiro lidera a
revolução derramando toda a sujeira que havia acumulado daquela turma desde muito tempo.
Os alunos, espantados, começam correr, tentando sair da sala. Algazarra total. Conseguem
alcançar o lado externo da sala e ficam sem entender nada. Aí, então, fala a porta da sala:
PORTA DA SALA
- Vocês tão pensando o quê? Que podem sujar para sempre o meio ambiente em que vocês
vivem e não sofrerem nenhuma consequência disso, é? Pois, então, senhoras e senhores,
vocês estão muito enganados. Saibam que para cada ação realizada existe a sua reação. E, às
vezes, essa reação é bastante dolorosa. O homem se acostumou a mal administrar o lixo que
produz, jogando-o em lugares inapropriados, em rios, nas ruas. Haverá um dia, e digo que já
chegou, em que esses elementos cobrarão por toda essa desfeita, por todo esse descaso. E o
preço será bem alto. Por isso, façam o que é correto. Não deixem que florestas inteiras sejam
consumidas somente para que vocês utilizem, ao bel-prazer, os seus produtos da maneira
como vocês fazem com as folhas de caderno e outros derivados da madeira. Não pensem que
o lixeiro da sala de aula, os lixeiros das ruas são somente para enfeites. Eles têm uma função
importante. As cadeiras que utilizamos em nossa escola foram feitas para nos dá conforto na
hora do aprendizado e não para servir caderno. Mas, vocês invertem tudo: o caderno fornece
as bolas de papel para vocês guerrearem em sala; as cadeiras servem de caderno para vocês
rabiscarem. Pensem sobre isso e realizem com a natureza um pacto de não agressão. Ela
retribuirá num futuro bem próximo.