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TEXTOS DISSERTATIVO- ARGUMENTATIVOS: Subsidios para qualificagao de avaliadores LUCILIA HELENA DO CARMO GARCEZ VILMA RECHE CORREA Organizadoras BRASILIA-DF AGOSTO/2017 Insttuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionas Anis Tecra (ep) £ permiida a reproducio total ou parcial desta pubicagd, desde que cada a fone, PRESIDENCIA DO INST/TUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EOUCACIONA\S ANISIO TEIXEIRA (INEP] DIRETORIA DE AVALIAGAO DA EDUCACAO BASICA (DAEB) ‘COORDENAGAO GERAL DE INSTRUMENTOS F MEDIDAS EQUIPE TECNICA ‘Maria Inés Fini Diretoria de Avaliagio da Educagio Bésica (Daeb) COORDENAGAO DE EDITORAGEO € PUBLICAGOES (COEP) DIAGRAMAGKO Erika Janaina de Ol Lucas Ribeiro Franca Saraiva Santos PROJETO GRAFICO Marcos Hartwich Raphael Caron Freitas, corprraria. Inep/MEC ~ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio T SIG Quadra 4, Lote 327, Edificio Villa Lobos, Térreo ~ Brasiia-DF ~ CEP: 70610-908 Fone: (61) 2022-3070 editoracao@inep.govbr Cebraspe — Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliacio e Selegio e de Promoslo de Eventos Campus Universitario Darcy Ribeiro Edifcio-Sede do Cebraspe, Caixa Postal 4545, Asa Norte ~ Brasilia-DF ~ CEP: 70904-970 Fones: (61} 2109-5913 | 2103-5915, ttpi//annw cebraspe.org br Dados internacionais de Catalogacio na Publicacao (CIP) Textos dissertative-argumentativos : subsidios para quaificacao de avaliadores / Lucila Helena do Carmo Garcea, Vilma Reche Corréa, organlzadoras. ~ Brasla Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionals Anis Teixeira, 2017, 279 pi, ISBN 978-85-7863.054.6 1. Qualficagéo de Avaliadores 2. Avaliagdo. 3. Enem. |. Garcez, Lucia Helena do Carmo, I, Cortéa, Vilma Reche. COU 806.90:331.86 O TEXTO DISSERTATIVO- ARGUMENTATIVO Maria Luiza Coroa* Este texto propde-se a apresentar, sucintamente, os conceitos de lingua, linguagem, texto, género textual e tipo textual, todos eles orientados para a finalidade do trabalho peda- R6gICo, incluindo a etapa da avaliagSo. Isso significa que, embora as discussdes em torno desses conceitos sejam complexas e proficuas, apenas os tomaremos como categorias impli cadas nas atividades de sala de aula e nas avaliagdes do processo de ensino e aprendizagem. Nessa delimitagao, sera privilegiada a caracterizaao do tipo textual mais comumente explo- rado nesse Ambito: o tipo dissertativo-argumentativo e suas vinculagdes com o tipo expositivo eo tipo dissertativo. 1 LINGUA E LINGUAGEM E pela capacidade de construir, intencionalmente, significados e, com eles, agir sobre a natureza e o mundo, modificando-os segundo nossa vontade que nos distinguimos dos demais habitantes do planeta Terra. Apenas nés, os seres humanos, apresentamos a capa- cidade de usar verbal e intencionalmente os signos linguisticos. Além disso, temos também habilidades para refletir sobre essa capacidade, modulando-a, alterando-a e tirando dela os melhores efeitos desejados. N3o sé produzimos linguagem, como também produzimos conhecimento sobre a prépria linguagem. € nesta segunda atividade que a escola ~o sis- ‘tema educacional e académico, como um todo ~ tem se constituido em locus privilegiado. Portanto, questionamentos sobre o que ¢ lingua, 0 que é linguagem, como funcionam, para * Professora da Universidade de Sasi © coutora em Linguistics pes Universidade Estadual de Campinas ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES gue servem, e reflexdes a respeito de como esses conceitos devem ser considerados nese proceso de construc do conhecimento requerem a explicitacdo do ponto de vista tedrico que fundamenta esse entendimento. Desde a década final do século Xx, documentos norteadores da educagio no Brasil dire- cionam esse ponto de vista para um referencial tedrico que extrapola 0 cédigo como objeto do trabalho didatico-pedagégico. A Lei de Diretrizes e Bases da Educago Nacional (LOB), as dire- trizes curriculares, os Parametros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) e outros documentos afins trazem objetos linguisticos ~ sobre os quals produzimos o conhecimento a respeito da lingua e da linguagem — vinculados a lingua ndo apenas como representagéo, mas sobretudo como uma “atividade interativa de natureza sociocognitiva” (MARCUSCHI, 2002a). Marcuschi esclarece bem como devemos entender a distingdo entre lingua e linguagem nessa perspectiva de interacdo humana. + Aexpressio “linguagem” designa uma faculdade humana, isto é, a habilidade de Usar signos com objetivos cognitivos. A linguagem & um dispositive que caracteriza a espécie humana como Homo sapiens, ou seja, como um sujeito reflexivo, pois por ela conseguimos nos tornar seres sociais racionais. Assim, alinguagem é um fenémeno humano, hoje tido como inato e geneticamente transmitido pela espécie, + Aexpressio “lingua” refere uma das tantas formas de manifestaco concreta dos sistemas de comunicagdo humanos desenvolvidos socialmente por comunidades lin- guisticas e se manifesta como atividades sociocognitivas para a comunicago inter- pessoal. Assim, com esse termo referimos sempre uma dada lingua natural e histé- rica particular; por exemplo, “lingua portuguesa’, “lingua alema’, “lingua francesa” e assim por diante. Cada lingua tem suas caracteristicas tipicas sob vérios aspectos, se fonoldgico, morfoldgico, sernantico, pragmético ou cognitiv. De acordo com esse ponto de vista, a lingua que realiza a nossa capacidade de linguagem tem intimas vinculagdes com nossas préticas sociais e com os papéis que ocupamos na socie~ dade. Falar de lingua portuguesa, no nosso caso, é mais do que falar de cédigo linguistico, de estruturas gramaticais, de palavras; falar de lingua é falar de atos significativos que ocorrem socialmente e que tém raizes histéricas porque ha sempre uma razdo para que uma estrutura sintatica se organize de urna maneira, e ndo de outta, para que uma palavra tenha tal proniincia ou tal grafia, e no outra. Portanto, estruturas gramaticais e palavras s8o situadas em praticas interativas de linguagem —e por elas moldadas e configuradas significativamente em seus usos sociais € culturais. Refletir sobre os modos em que a lingua realiza atos significativos coloca 0 texto como unidade central de qualquer trabalho pedagdgico. ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES 2 TEXTO Embora haja hoje uma grande variedade de definigdes para texto," pois cada corrente teGrica propde sua propria concepgdo, existe uma caracteristica que todas essas correntes apresentam em comum: um texto é uma unidade significativa. Isto quer dizer que a fungo, a conceituago ou a definigdo de texto esté ligada a fazer sentido. Assim se reconhece que as “partes” de um texto se articulam de tal maneira que os sentidos so construldos global- mente, solidariamente em um determinado conte sociocomunicativo. Trata-se, pois, no de uma mera “soma” de signos, mas de uma arquitetura construfda em “camadas” e hierar- quias de significagbes. Associando uma perspectiva teérica vinda da pragmtica a uma perspectiva cognitiva, entende-se hoje que um texto, longe de ser um produto acabado, constitui-se em uma uni- dade complexa que realiza atividades, ou ages, comunicativas, ou interativas, por meio do processamento de modelos histérico e culturalmente determinados. Consequentemente, visto como atividade interacional entre sujeitos sociais, realizado para determinados fins, umn texto 1ndo traz todas as significacdes fechadas e fixas: seus sentidos so construidos na interlocucao. Contudo, isso ndo se dé arbitrariame ,, produzindo qualquer significagao, mas a partir de marcas, ou pistas textuais, que o sujeito pradutor do texto vai fornecendo de maneira que 0 sujeito leitor v8 reconhecendo e interpretando, em um processo de avango e recuo, buscando coeréncia nas significagBes. Nessa interpretagio, a coeréncia pode ser considerada a possibi- lidade de atribuir ura continuidade de sentidos @ um texto. Estabelece-se na interlocucao e depende de uma multiplicidade de fatores que no estao apenas e exclusivamente no texto, pols o canhecimento de mundo e as experiéncias prévias das pessoas que o interpretam séo alguns desses fatores (COROA, 2008b, p. 74). Nesse contexto, os interlocutores se constituem como sujeitos participantes da com- plexidade de significagdes. Por isso, algumas assaciagbes de significados, de modos de dizer, podem ser pertinentes em um texto, mas em outros textos, ndo. Cabe ao produtor inicial do texto propor as significagdes que, no correspondente contexto saciocomunicativo, 0 leitor tece, como sentidos globais do texto, na sua leitura. Os modos de dizer e as escolhas lexicais @ gramaticais seguem parametros convencionados como adequados, legitimos ou certos relativamente ao contexto em que o texto € produzido - tanto na fase da leiture como na da elaboracao. Ou seja, na leitura, os sentidos de um texto so produzidos pelo leitor como se ele seguisse um “mapa”: a cada marca ou pista, ele avanga, recua ou reorienta seu caminho. Nessa abordager, 0s sentidos de um texto so con! uidos também pela multiplicidade de lamas aqu de textos lingustces, emboraconsderemos que qualquer sistema de simbolos ~ ou sistema semiénco —possa to visual ou musa, por exemple ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES experiéncias de mundo tanto do autor quanto do leitor. Visando a uma (re)construcio de sen- tidos coerente, 0 produtor do texto deve, assim, considerar o conhecimento de mundo que seu leitor precisa ter para chegar & interpretac3o, ou leitura, desejada, Quanto maior for a informacao do leitor a respeito do tema, maior sua prontidao para interpretar a continuidade de sentidos, a coeréncia textual. A harmonia entre as informagées que servem de pistas para estabelecer essa continuidade constitui a coeréncia textual, Portanto, diferentes leitores, com diferentes informagtes prévias, com diferentes visdes de mundo, podem atribuir niveis de coeréncia diferentes ao mesmo texto (COROA, 2008a, p. 82) Nessa abordagem, o controle das informagées necessérias para que o assunto do texto seja apreendido e interpretado integra a habilidade de produzir um texto: o que dizer, como dizer e para que dizer s80 aspectos associados na tessitura textual Se compararmos a elaboragio e a leiture de um texto a um percurso em que se vo dei- xando e reconhecendo “pistas’, para construir coerentemente os sentidos permitidos pelo texto, 6 na sistematizacao dessas “pistas” que se desenvolve o processo de ensino e aprendizagem de um texto. £, consequentemente, sobre essa sistematizagio que uma avaliagao adequada deve ser desenvolvida E importante lembrar que, ao se organizar num todo significativo, ou em uma unidade de sentidos, o texto “dialoga” externamente com a sua situaco de produgio, mas se apoia, internamente, em relagdes que se dao entre estruturas linguisticas. Essas duas dimensées textuais ~ a vinculagdo com a “face externa’, sacial e cultural da interagao linguistica, e a vin- culago com a “face interna’, de estruturago gramatical, semédntica e lexical - conduzem-nos a outros dois conceitos relevantes para a sistematizacdo da anélise e do estudo de texto: os géneros textuais, que se classificam segundo a “face externa’, e os tipos textuais, que se clas- sificam segundo a “face interna” 3 GENEROS TEXTUAIS Em decorréncia da abordagem de lingua como lingua em acdo, lingua em uso, como interagdo, atuacdo social, ¢ da “flexibilidade” na construgdo dos sentidos do texto, torna-se for- 050 reconhecer que nem todas as situagdes sociocomunicativas admitem o mesmo formato em um texto. Ou, visto de outra maneira: para cada situagdo de interagdo, texto se organiza de maneira diferente. Se os textos esto intimamente ligados &s suas condicdes de producio, a0 contexto em que so produzidos, aos interlocutores que se estabelecem na interagdo @ as finalidades - ou propésitos ~ para as quais sd produzidos, é aceitavel pensar que todos esses fatores acabem por influenciar os padres mais adequados de comportamento linguistico para tornar bem-sucedida a interagao. ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES Nessa perspectiva da variacdo dos textos em razdo dos contextos em que circulam, alin guistica, sobretudo aquela de orientago pragmatica, tem proposto e desenvoivido a categoria discursiva de géneros textuais, na pretensdo de caracterizar as especificidades das manifesta- Ges culturais concernentes ao uso da lingua e de facilitar o tratamiento cognitivo desse uso, seja oral, seja escrito (ANTUNES, 2009, p. 210). Abase da classificagdo de géneros textuais esté, portanto, na conformidade ao contexto sociocomunicativo: & nas préticas socials e discursivas que uma cadeia de enunciados (sen- tencas ou palavras) constitui cu no um texto. € situada em suas condigdes de produgio que uma sequéncia de palavras articula sentidos. Tudo porque os textos so formatados segundo as necessidades de seus objetivos e das relagdes sociais entre seus interlocutores. Consequentemente, diferentes géneros vio sendo formatados de maneiras diferentes a0 longo das praticas discursivas. Uns apresentam secdes ou partes bem distintas, como a receita culindria, por exemplo, que se divide ern “ingredients” e “modo de fazer”, ou as cartas que comegam com local, data e vocativo, ¢ assim por diante. Esses formatos so histérica e cultu- ralmente construidos e, por isso, apesar de relativamente estéveis? também sofrem mudangas. Sdo as comunidades e sociedades que, a0 longo do tempo, vo definindo como deve ser orga nizado um texto, Assim reconhecemos que, na produgo de um texto, oral ou escrito, o nivel de linguagem, as caracteristicas da situagio, a relagdo social entre os interlocutores e as finalidades das ati vidades desenvalvidas interferem na sua textualidade. Por isso, precisamos levar em conside- rao todos esses elementos como parte integrante das escolhas linguisticas que fazemios ao construir um texto. Ou seja: nao apenas escolhemos as palavras e as frases para compor um texto, como também seguimos o género em que vamos realizar esse texto. Esses condicio- nantes, que situam o texto em sua circulagdo sociocultural e que sao tradicionalmente tratados como elementos “externos”, acabam por se integrar de modo indissocidvel aos elementos lingu(sticos, tradicionalmente considerados intemnos. € nessa integrago que os sentidos so produzidos: sem que os chamados aspectos “formais” sejam independentes dos chamados aspectos de “conteuido”, Apenas para efeitos de andlise e sistematizacdo, a classificago dos textos quanto @ aspectos que os situam socialmente varia de acordo com as culturas e com as épocas histé- ricas. Trata-se, portanto, de uma classificagio aberta. Nao se pode dizer, por exemplo, que ha vinte ou duzentos ou 2 mil géneros diferentes em lingua portuguesa no Brasil, pois esse niimero 6 flutuante, de acordo com as necessidades de interagdo da sociedade. Novos géneros vao resultando de novas situagées de interagdo: quem, ha vinte anos, por exemplo, conhecia um blog, ou um chat? Ou, ha setenta, conhecia um telejornal? € frequente que, para finalidades akin (2000) dein gbneros~a que cham “scursves~como esruuras latvarnent stive's que seconstroem hstéica cuturalment, por so, cuturas ferences 2 épocas diferentes deldem que um texto adequede, oundoadequado, sua sttuagio de prouctofetura ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES semelhantes, encontremos uma variedade de géneros que atendam a pequenas alteragées na relacdo entre os interlocutores, como um bilhete e uma carta comercial, ou no desenvolvimento da tecnologia, como ume carta e um telefonema, e assim por diante Nessa perspectiva teérica de classificagdo de géneros textuais, ndo deixa de ser rele- vante também a compreensao e explica¢o dos modos de funcionamento da linguagem em. cada “formato” socioculturalmente constituido. As nogdes de certo e errado, no uso da lingua, esto, dessa maneira, associadas ao género textual. A cada género diferente corresponde um nivel de formalidade diferente: alguns géneros admitem abreviaturas, por exemplo, outros exigem tratamento formal do interlocutor; alguns permitem girias, outros admitem a cons- trugdo de sentidos apenas sobre usos jé culturalmente legitimados pela norma de prestigio. De outra forma, alguns géneros exigern usos menos formais de linguagem, seja para manter a proximidade entre os interlocutores, seja para realizar outra estratégia de eficécia textual. A lingua como cédigo imbrica-se, assim, em exigéncias dos géneros textuais que @ cristalizam em variedades adequadas. J8 que a lingua é a matéria-prima do texto, as estruturas linguisticas utilizadas em sua superficie composicional? ~a tradicionalmente chamiada “face interna” do texto so a base de classificaglo dos tipos textuais 4 TIPOS TEXTUAIS Enquanto os géneros textuais so muito diversificados, porque atendem & grande varie dade de situacdes sociocomunicativas, 0s tipos textuais s80 definidos por critérios linguisticos e classificados em um niimero restrito, No entanto, as duas classificagdes esto interligadas ra prdpria produgo de sentidos do texto. O fato de cada tipo de texto ser caracterizado pela predominancia de determinadas marcas linguisticas de superficie (por exemplo, o emprego de certos tempos verbais: oimper- feito, para o tipo descritivo; o imperativo para o tipo instrutivo; 0 perfeito para o tipo narra- tivo etc.) no deixa de ter suas raizes mais remotas em aspectos de sua dimensio contextual (ANTUNES, 2009, p. 209-210). Tomemos dois pequenos fragmentos como exemplos para substanciar a reflexio a res- peito dos modos de organizacéo textual terme “supertice compasiclona”&unlade por Marcuse (20026) em seu artigo fundarte sabre gtneros textual, ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES EXEMPLO 1 No enderego dos Beauregard encontro uma casa de janelasfechadas, sem sina de vida. € uma cons- truco modesta, quase colada aos seus dois vizinhos, num renque de sobrados triggmeos que sé pelas cores se cistinguem entre si O delesé ocre com venezianas verdes de madeira, sendo central 2 janela do segundo andar, ea do rés do chio deslocada para a exquerda em simetria com a porta. (BUARQUE, 2014, p. 82) EXEMPLO 2 Pouco antes daquela data, numa esquina a cem metros da minha escola vi grupos descendo dos bairros elegantes rumo ao centro da cidade. Resolvi acompanhé-los por desenfado, jé que, depois de uma palestra no centro académico sobre o embargo a Cuba, tinha assistido duas horas de aula de alemao e a de literatura francesa eu podia dispensar por adiantado na disciplina, (BUARQUE, 2014, p. 47-48) Reconhecemos com facilidade que o exemplo (1) realiza uma descrico e 0 exemplo (2), uma narragdo, Séo formas de organizar textualmente os sentidos com as quais estamos fa liarizados nas nossas préticas de leitura (e de ensino}. ‘Ao observar 0 uso dos verbos nos dois fragmentos, percebemos que no primeiro denotam mais estaticidade. No segundo, os verbos conferem maior movimento aos acontecimentos. Relagdes de temporalidade so mais relevantes no segundo fragmento, na narracao. Na descrico, 6 espacialidade que predomina sobre a temporalidade: séio comuns as exoressdes que indicam lugares e caracteristicas, como “No endereco” e “f uma construgio modesta”. No exemplo (2) hé varias expressdes que pdem em sequéncia os acontecimentos: “ja que, depois de uma palestra” e “resolvi acompanhé-los". Ao mencionar um acontecimento depois de outro que tinha ocorrido, © tempo verbal fornece essa pista: “tinha assistido”, Aanalise de outros exemplos de descricao e de narracéo nos mostraria que na descrico hd predomindncia de expresses nominais, como substantivos, adjetivos e verbos nas formas nominais (participio, infinitive e gertindio). Na narracao, hé predomindncia de periodos com: postos, com exploracao de vérios tempos e locugdes verdais, além de advérbios e conjuncées que permitem recuperar a sequéncia de eventos no texto. Em principio, as “imagens” descritas no primeiro fragmento poderiam ser apresentadas em outra ordem, sem que a organizacao da textualidade fosse prejudicada, Isso se dé porque, ra descrigao, caracteristicas e propriedades, em uma abordagem estitica, se sobrepdem & mudanca dos acontecimentos no tempo. O tipo descritivo caracteriza-se, assim, por apresentar “pistas” que levam a construir ima gens mentais de um objeto a partir de um ponto de vista. Por isso, 0 tipo descritivo é comumente ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES associado & dimensio espacial, como se o olhar do leitor fosse conduzido, linguisticamente, ppara um passeio por determinados lugares ou para a observagio de coisas e pessoas. Por outro lado, no segundo fragmento, hd um marco temporal inicial depois do qual se desenvolve a narragio, © texto caminha com a mudanga de eventos e de agdes. A situago de inicio vai sendo modificada e, a final, ja & outra, Por sua forte vinculaco com as mudangas no tempo, a0 mostrar ages, ¢ que o tipo narrativo costuma apresentar mais frequentemente 0 uso do pretérto perfeito, pos & esse tempo verbal que melhor marca a mudanga nos acontecimentos. \Vejamos outro exemplo para ilustrar um terceiro tipo textual EXEMPLO 3 11.3 BATERIA ‘Antes de utilizar 0 telefone, carregue a bateria por 3 horas e trinta minutos até que ela atinja a carga total Mantenha a bateria carregada enquanto ndo estiver usando 0 telefone, deste modo 0 aproveita- mento dos tempos de conversago e espera sero malores., 1.3.1 INSTALANDO A BATERIA Para instalar a bateria, insira a parte inferior dela na abertura existente na parte traseira do tele- fone. Empurre entdo a parte superior de encontro ao aparelho até ouvir a trava de seguranca cencaixar-se na bateria. (Trecho do Manual do Usuério de um telefone celular) Observando a predominancia das categorias gramaticais utilizadas, percebemos que os, verbos no modo imperativo sdo a caracteristica mais marcante do texto: “carregue”, “mantenha’, “nsira". A finalidade do género do qual foi transcrito o trecho, manual de instrucdes, favorece 0 emprego de estruturas linguisticas que “deem ardens”, que instruam, que ensinem a usar ou estabelecam passos de comportamento. Por isso, 0 tipo é denominado instrucional ou injuntivo. Dirigir-se diretamente ao leitor (usudrio) também é marca identificadore desse tipo textual Além disso, termos e expressdes que estabelecem a ordenacdo das ages 2 serem executadas so relevantes na organizago de instrucdes ~ e o texto faz amplo uso deles: “até que ela atinja 2 carga total”; ou “Empurre entdo”; e mais explicitamente, “até ouvir a trava’” Os fragmentos aqui tomados como exemplos foram escolhidos por mostrarem mais claramente as caracteristicas do tipo a que remetem. Mesmo assim, apresentam uma mes de tipos. Podemos, por exemplo, observar alguns tracos do tipo narrativo no exemplo descri- tivo: “No enderego dos Beauregard encontro uma casa”. Também vemos tragos de descrigiio no exemplo narrativo: “numa esquina a cer metros da minhe escola”; ou "bairros elegantes”. 0 inicio do Manual do Usudrio tem trechos, no transcritos aqui, em que o aparelho celular é descrito em sua constituig3o. ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA GUALIFICACAO DE AVALIADORES Essa mescla de tipos textuais em um mesmo texto, para realizar um determinado género textual, ressalta que a organizagio dos sentidos recorre a varios tipos em um mesmo texto. Ou seja: cada texto costuma apresentar mais de um tipo textual. Por isso, fala-se em sequén- cias de tipos constituindo a textualidade. A classificacdo se dé, entéo, pela predominancia de cada tipo. Até mesmo géneros textuals que obedecem a regras mais rigidas de estruturagio, como os manuais de instrugées ou bulas de remédios, admitem a variedade de tipos na sua organizacdo. No fragmento, por exemplo, encontramos uma explicagdo que argumenta sobre o carregamento da bateria: “deste modo o aproveitamento dos tempos de conversacdo e espera sero maiores.” A explicitagdo ou a fundamentagio de afirmacSes caracterizam outro tipo tex: tual: 0 argumentativo. Sobre as caracteristicas do tipo argumentativo versa a sego seguinte. 5 O TIPO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO Se as caracteristicas composicionais de organizacdo textual sio claras e facilmente iden- tificdveis para os trés tipos de texto de que falamos na segdo anterior, o mesmo no se dé para © tipo argumentative, Embora as propriedades que distinguem o tipo argumentativo dos trés primeiros sejam claras, frequentemente encontramos, nos autores e pesquisas sobre o tema, diferencas nas delimitagdes que levam a titulos como tipo argumentativa, tipo expositiva e tipo dissertativo, A caracterizacdo do que seja um tipo expositivo ou um tipo argumentativo aparece mais claramente. No entanto, é frequente que o nome dissertativo seja usado para classificar um tipo que nao faca a distincdo entre expositivo e argumentativo, Nas praticas escolares & mais comum vermos o tipo dissertativo abranger tanto caracteristicas do tipo expositive quanto do argumentativo, No entanto, 0 rétulo dissertativo implica o apagamento dessa distinggo, Ou ‘eja, a0 nomear um texto apenas como dissertativo, fazemos, aparentemente, 0 movimento de eximi-lo do forte poder da argumentacdo. Por outro lado, a0 nomeé-lo como dissertativo- -argumentativo, as relagdes argumentativas so reconhecidas e devem ser explicitadas. Do ponto de vista da sistematizaco no processo de ensino e aprendizager, distinguir os ois tipos pode trazer a vantagem de tornar mais clara a necessidade, ou nao, de convencer 0 leltor sobre uma tese, por meio de fortes articulagdes ldgicas entre os significados (tipo argu- mentativo), ou de admitir apenas uma exposicdo de ideias e conceitos, sem necessidade de um forte convencimento (tipo expositivo}. Esses dois “caminhos" para focalizar as ideias levam a diferentes classficagbes do tipo tex- tual. Quando o texto dissertativo se dedica mais 2 expor idefas, a fazer que o leitor/ouvinte tome conhecimento de informagées ou interpretacbes dos fatos, tem caréter expositivo e podemos Classificd-lo como expositive. Quando as interpretagdes expostas pelo texto dissertativo vo ‘mais além nas intengBes e buscar explicitamente convencer oleitor/ouvinte sobre a validade dessas explicagdes, classifica-se 0 texto como argumentativo (COROA, 20086, p. 121). ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES \Vejamos um exemplo do tipo expositivo. EXEMPLO 4 ‘A forma temporaria como tratam os videos criados reflete outro aspecto caracteristco desses apps. Em oposi¢do & nogdo de que tudo o que é postado na internet fica registrado para a eternidade {e tem potencial de se transformar em viral), 0s aplicativos querem passar a sensacao de efémero. ‘Quem nao viu a transmissdo ao vivo dificilmente terd nova chance. Nisso, eles se assemelham a ‘outro app de sucesso, o Snapchat, servico de troca de mensagens pelo qual o contetido é destruido. segundos apés ser recebido pelo destinatirio. (VEIA, 2015, p. 98) tivo, \Vejamos agora um exemplo do tipo argumer EXEMPLO 5. Fazer pesquisa critica envolve dificels decisbes de cunho ético e politico a fim de que, no importa {uals sejam os resultados de nossos estudos, nosso compromisso com os sujeitos pesquisados. seja mantido, A questo é complexa por causa das miltiplas realidades dos multiplos parti pantes envolvidos na pesquisa naturalistica da visa social, Por exemplo, no projeto de pesquisa de referéncia neste artigo, havia um componente que envolvia a observacao participante da sala de aula, sto €, a observacio a procura das unidades e elementos significativos para os préprios participantes da situagao. (KLEIMAN, 2001, p. 49) Como se pode observar, 0 tipo expositivo se caracteriza por enunciados de identificacio, caracterizacdo e ligaco de fendmenos, em que predominam os verbos no presente acrescidos de grupos nominais (adjetivos e substantivos). A expressao “reflete outro aspecto caracteris- tico desses apps” fornece um elemento de identificagio dos apps, que é “A forma temporaria como tratam os videos criados”, O uso da forma verbal de presente confere estabilidade & caracterizacdo. 0 verbo de ligactio em “fica registrado para a eternidade (e tem potencial de se transformar em viral)", usado pare estabelecer uma liga¢ao com grupos nominais, é associado a outra caracteristica estével por meio do conectivo aditivo. A estratégia discursiva de compa- ago “Nisso, eles se assemelham a outro app de sucesso” também caracteriza a construcao de um novo conhecimento por meio da exposicio. A estratégia de comparar a nova informacao com outra jé dada é recurso amplamente utilizado no tipo expositivo. Podemos perceber alguma semelhanca entre o tipo descritivo, ilustrado no exemplo (1) da seco anterior, e este, 0 tipo expositivo. Partilham ambos a desvinculagéio com uma forte articula¢do temporal entre as informagdes. No desenvolvimento de uma sequéncia expositiva, podemos observar que a producdo de sentidos nesses dois tipos depende mais de ligacdes ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA GUALIFICACAO DE AVALIADORES entre estados de coisas, propriedades e fendmenos do que entre sequenciago de aconteci- mentos. A dimensao de temporalidade apenas se torna relevante se, inserida no tipo expositivo, a sequéncia narrativa de algum evento é tomada como propriedade do fendmeno a ser exposto. No entanto, apesar de se aproximar da descri¢do em uma visio do referente desvinculada de caracteristicas temporais, a exposigdo tem como tema ideias, conceitos ou fendmenos, dife- rentemente da descricdo, que tem como tema coisas, pessoas ou situagdes. Como, nas nossas praticas sociais e culturais, 0 tipo expositivo é o mais indicado para informar ou para explicar relagdes entre processos ou acontecimentos, géneros textuals que tém a finalidade de informar ou explicar so os que mais nele se realizam. Por isso, ¢ um tipo muito comum nas praticas pedagégicas, seja na oralidade (em aulas}, seja na escrita (nos livros didaticos), Em contraste com o exemplo do tipo expositivo, o fragmento exemplificador do tipo argu- mentativo é organizado no encadeamento de relacdes l6gicas. Tem claramente o objetivo de dar a conhecer alguma coisa ao leitor — informé-lo ou ensind-lo-, como também pretende o tipo expositivo, mas o tipo argumentativo busca mais: visa convencer o leitor sobre a verdade dos sentidos que constréi. Por causa desse objetivo, neste tipo—em contraste com o expositivo -, a articulacdo légica entre as ideias usadas para a atribuicdo de qualidades, ou para a expresso de opinido, é fundamental, Nele, os fendmenos, conceitos ou ideias so chamados de tese € argumentos. E uma tese sustenta-se como verdadeira quando apoiada em argumentos que permitem uma continuidade de sentidos que nao admitem contestagio valida. Por outro lado, se a tese ndo for admitida, aceita como plausivel, os argumentos tornam-se vazios ou inécuos. Por articular os sentidos em uma rede de aces linguisticas de convencimento, é 0 tipo que predomina em textos que tm como objetivo provocar 0 leitor para um posicionamento a res~ peito de algum ponto de vista ~ como em editoriais de jornais e revistas —e, principalmente, em textos publictérios que pretendem “vender” uma ideia, servigo ou produto. Por causa da necessidade de uma forte ligago entre a ideia selecionada para ser (com) provads e as razées para (com|prové-la, 0 tipo argumentativo recorre com muita frequéncia as relagbes légicas para demonstrar a verdade daquilo que di como as de causa e consequéncia € as de condigo. Comumente tals relacdes so expressas por conectivos de finalidade, de causa, de justificativa, como em “por causa das multiplas realidades” ou em “a fim de que, no importa quais sejam os resultados de nossos estudos, nosso compromisso”. Mas também a selegdo lexical, como “complexa’, “miltipias realidades”, “elementos significativos”, deve estar a servigo do objetivo da argumentacéo. Outra estratégia textual muito produtiva na argumentacao é 0 uso de exemplos ¢ ilus- tragdes de casos particulares para mostrar a generalizagdo, como no trecho que parte de “Por exemplo, no projeto de pesquisa de referéncia neste artigo, havia um componente [...” Neste caso, é muito recorrente que exemplos se desenvolvam com predominancia do tipo des- Critivo e do tipo narrative (quando nao do expositivo). ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES Da mesma forma que os demais tipos textuais aparecem imbricados na realizagdo de cada texto, 0 tipo argumentativo se vale, especialmente, da contribuigo dos demais tipos textuais para se organizar composicionalmente. 0 elemento norteador (e critério maior de classificac3o} encontra-se nos sentidos globals do texto. Esses sentidos, por sua ver, inter-relacionam-se com a velculagdo social do texto, o género textual Quando o tipo argumentativo € 0 eixo de construgao textual de um género, a continui- dade de sentidos requer “pistas textuais” que concatenem os argumentos de maneira clara @ inequivoca, sob pena de comprometer a coeréncia do texto como um todo. Por isso, para que seja possivel um desenvolvimento coerente da argumentago, é necessério que a escolha do ponto de partida seja respeitada ao longo da tessitura textual. As relagdes ldgicas de argu- mentacdo tém compromisso no apenas com a retomada da ideia que foi introduzida como tese: também a insercio de novos referentes deve ser motivada, Referentes que apenas “se juntam” ao texto, sem assumir fungSes relevantes na argumentacdo, criam o risco de apontar para outras diregdes argumentativas e fraturar a coer€ncia necesséria 8 comprovagio da tese. A negacdo de possiveis — ou hipotéticas — contestagdes revela-se uma produtiva estra- tégia argumentativa se empregada solidariamente com a afirmagio das comprovacées. Nem 6 pela via da afirmac0, como nem sé pela via negacdo, se constréi uma argumentacdo eficaz O controle das informagées, originadas no campo do autor e langadas em forma de marcas de produgao de sentidos para o leitor, ¢ 0 compromisso que @ tese assume em um texto dissertativo-argumentativo. CONSIDERAGGES FINAIS O trabalho pedagégico sobre a lingua e a linguagem, ao extrapolar as caracteristicas de cédigo, sem deixar de contemplé-lo—isto é, ao tomar como unidade de estudo o texto, recu- pera a realizac3o da lingua em uso nas praticas socials. E a0 considerar a variedade dos géneros textuais nas nossas praticas de sala de aula, estamos muito mais préximos da realidade do uso linguistico, porque é assim que interagimos linguisticamente, por meio de géneros adequados a cada situaco sociocomunicativa. A culminancia do processo de reflexdo sobre a lingua assenta-se na producio textual. Por isso, 0 conhecimento sobre os modos de tecer a textualidade, sobre as caracteristicas dos diversos géneros e dos tipos textuais permite ao professor de lingua portuguesa sistematizé-las, tanto nos processos de ensino e aprendizagem quanto na etapa da avaliagio. Como pratica social, em situagdes de avaliagdo, o género textual jé é apresentado no enunciado da tarefa. A associacdo com a primazia de um tipo, ou outro, costuma receber algumas orientagdes menos explicitas, como “dé evidéncias” (expositivo), “defenda seu ponto de vista” (argumentativo}, “relate acontecimentos que conduzem a esta ou aquela concluséo” ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES (narrative) etc. Do ponte de vista do aluno que interpreta tais orientagSes 2 luz do referencial dos tipos textuais, as caracteristicas das “pistas” a serem produzidas so atualizadas em situa~ «Ges concretas. Do ponto de vista do avaliador, os elementos caracterizados do texto, dos tipos dos géneros so organizados em critérios de avaliacéo. REFERENCIAS ANTUNES, |. Lingua, texto e ensino ~ outra escola possivel. Sdo Paulo: Pardbola, 2009. BAKHTIN, M. Estética da criagGo verbal. So Paulo: Martins Fontes, 2000. BUARQUE, C. 0 irméo alemdo. S80 Paulo: Companhia das Letras, 2014. COROA, M. L. M.S. Coeréncia Textual —Unidade 18 - TP 5 ~ Estilstica, Coeréncia e Coesio, PROGRAMA DE GESTAO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR — GESTAR Il DIPRO/ FNDE/ MEC. 2008a Tipos Textuais ~ Unidade 11 - TP 3 - Géneros e Tipos Textuais. PROGRAMA DE GESTAO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR — GESTAR II. DIPRO/FNDE/MEC. 2008b. KLEIMAN, A. B. Letramento e formagio do professor: quais as praticas e exigéncias no local de trabalho? In: (Org.). A formagao do professor: perspectivas da linguistica aplicads. Campinas: Mercado de Letras, 2001. KOCH, |. introdugdo 6 Linguistica Textual. Séo Paulo: Martins Fontes, 2004. MARCUSCHI, L. A. Oralidade e ensino de lingua: uma questdo pouco “falada”. In: DIONISIO, A. P.; BEZERRA, M.A. (Orgs. 0 livro didético de portugués. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002a. Géneros textuais: definigao e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P. et al. (Orgs. Géneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002b. VILICIC, FA era do instanténeo. Veja. 22 abr. 2015. ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES REDAGAO ESCOLAR: UM GENERO TEXTUAL? Maria da Graca Costa Val* Para responder & pergunta que da titulo a este texto, apresento, de i ici, uma compilagio de ideias hoje bastante divulgadas sobre o conceito de género textual, privilegiando aspectos relevantes para 2 reflexo que pretendo construir. Em seguida, seleciono alguns pontos dessa retomada tedrica para caracterizar o que estou chamando de redaco escolar. 1 GENEROS TEXTUAIS Os géneros textuais’ vao-se constituindo no uso coletivo da linguagem — oral e escrita. (Os membros de uma sociedade vo estabelecendo, no correr de sua histéria, modos esnecificos de se dirigirem a determinado publico para alcancarem determinados objetivos, cumprindo determinadas funges. Em outras palavras, as praticas sociais de linguagem vo estabelecendo modelos textuais para serem usados em determinadas situacdes, numa esfera especifica de atividade humana Luiz Anténio Marcuschi (2002, p. 19) considera os géneros textuais como préticas sécio- -histéricas cuja funcionalidade prevalece sobre a forma. Segundo o autor, 0s géneros “so fend- menos histéricos, profundamente vinculados & vida cultural e social”, que “contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia"; “so entidades sociodiscursivas @ formas de ado social incontornéveis em qualquer situagSo comunicativa” Profesor da Univer Federal de Minas erase doutora em Educo neta mesma inst, N30 vou consderar neste artgo 2 sting terminaldgiea entre género de texto e genera de curs. ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES A ideia de que os géneros organiza nossa vide social e tipificam nossas ages é a base da teoria de Charles Bazerman (apud DIONISIO; HOFFNAGEL, 2005). Para o autor, eles definem padres para as agdes de linguagem orais e escritas que realizamios nos diferentes contextos socials: na convivéncia cotidiana com a familia e amigos, no trabalho, na igreja, na escola etc. De fato, as instituigdes que frequentamos estabelecem modelos de comunicacdo orais e escritos que realizam certas acdes recorrentes em determinadas circunstancias. Alguns modelos nos permitem pouca ou nenhuma inovagdo, como o género cheque, que circula nas relagdes bancé- Tias e comercials, ou 0 género formuldrio de pedido de férias, usado nas empresas e nos érgos pablicos. Outros géneros institucionais, como a aula, @ conversa com o gerente ou a carta de demissdo, sdo mais abertos 8 criatividade e a0 estilo pessoal do produtor, mas, de qualquer forma, tém padres formais e funcionais a serem observados. No entanto, “os géneros tipificam muitas coisas além da forma textual; sdo parte do modo como os seres humanos do forma as atividades sociais” (BAZERMAN apud DIONISIO; HOFFNAGEL, 2005, p. 31). Nosso conhecimento e reconhecimento dos géneros e de seu funcionamento institu- ional é que nos possibilita, por exemplo, decidir como devernos comunicar alguma coisa a nosso chefe, no trabalho. Conversa pessoal, telefonema, memorando, e-mail ou bilhetinho — a escolha de um desses géneros vai depender das rotinas usuais na empresa, das relagdes do funcionario com 0 chefe, da importancia ou gravidade das informagdes. E, em determinadas situagdes, hd riscos a correr, consequéncias a assumir, quando se decide no seguir os padrées. Para Bazerman, a padronizagio das aces de linguagem € que explica o sentido que atribuimos a determinados documentos e a submissio sem questionamento que assumimos diante de certos formulérios ou procedimentos. Por exemplo: por que aceitamos assinar ponto, quando todos sabem que estamos presentes no local de trabalho e que realizamos nossas tarefas normalmente? Essa aco de linguager padronizada, embora possa parecer sem sentido, 6 um dos elementos que organizam nossa vida social. Ou seja, o género ponte & um elemento de organizago coletiva nas instituig6es de trabalho, Interpretando Bakhtin, Faraco, citado por Marcuschi (2008, p. 23), afirma que géneros do discurso e atividades stio mutuamente constitutivos. O pressuposto bésico da elaboracdo de Bakhtin é que o agir humano nao se dé inde- pendentemente da interagdo; nem o dizer do agir. Numa sintese, podemos afirmar que, nessa teoria, estipula-se que falamos por meio de géneros no interior de determinada esfera da ati- vidade humana. Falar no é, portanto, apenas atualizar um cédigo gramatical num vazio, mas moldar o nosso dizer as formas de um género no interior de uma atividade. Nas sociedades complexas, a diversidade das formas de ago humana gera uma varie~ dade de géneros discursivos, que responde a diversidade dos grupos sociais e das relacdes interpessoais que se estabelecem intra e intergrupos. Bakhtin? (1992, p. 277-326) discute @ ak vveu de 1895 21975. Seu estudo Os gbneros do dscuts 0 eserto em 1952-1953 epublcado\em Moscou, em edigdo péstuma,em 1979.No Bras texto est na vo Esténica da Creedo Verba, ecco de 1992. ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES questo da diversidade dos géneros discursivos ponderando 0 peso de trés fatores cruciais 1a delimitacdo e definigdo dos diferentes géneros: as condigdes hist6rico-culturais que deter- minam 0s processos de produsdo, circulagdo e compreensdo do discurso, 0 jogo interlocutive € 0 intuito discursivo do sujeito Os géneros nascem da praxis comunicativa de sujeitos que interagem numa determinada esfera da convivéncia humana: as atividades e expectativas comuns — que definem necessidades € finalidades para 0 uso da linguagem —, 0 circulo de interlocutores ~ que define hierarquias & padres de relacionamento -, a prépria modalidade linguistica (oral ou escrita) ~ ligada ao grau de proximidade e intimidade dos interlocutores-, tudo isso acaba definindo formas tipicas de organizagao dos textos. Assim, pode-se dizer, por um lado, que os géneros se constituem na interdiscursividade e, por outro, que conformar 0 préprio discurso a um género implica entrar em relago com 0 discurso do outro, dos outros, anénimos, cujo trabalho linguistico-histérico resultou na configuragio daquele padrao. © jogo interlocutivo tem também papel decisivo no estabelecimento dos géneros dis- cursivos: “as diversas formas tipicas de dirigir-se a alguém e as diversas concepgdes tipicas do destinatério so particularidades constitutivas que determinam a diversidade dos géneros do discurso” (BAKHTIN, 1992, p. 325). Tanto os processos interlocutivos — a produgio do discurso orientada pela representac3o das circunsténcias da enunciagdo e dos conhecimentas e dispo- sigbes do interlocutor buscando/presumindo determinadas atitudes responsivas — quanto os processos interdiscursivos — 0 entrecruzar-se dos discursos na sociedade em geral e em cada esfera de convivéncia em particular — vdo historicamente constituindo formas padronizadas de organizagao dos discursos, Do ponto de vista formal, umn género pode ser reconhecido, segundo Bakhtin (1992, p. 277-326), por modos tipicos de organizago temtica, composicional e estilistica. Em cada esfera de atividade, vo se constituindo formas padronizadas de organizaco dos discursos, que associam a determinadas situagdes de relacionamento humano determinadas aborda- gens tematicas, determinados “procedimentos composicionais” e determinados usos dos recursos linguisticos Os géneros estabelecem pautas tematicas e formas tipicas de tratamento do tema: nas diferentes instdncias de uso da linguagem, estabelecem-se diferentes expectativas quanto ao leque de assuntos pertinentes ou impertinentes, permitidos ou proibidos, e quanto ao grau de autenticidade/fidedignidade exaustividade de sua abordagem. Determinado tema, frequente no lo cientifico, pode no ter penetracdo e circulagio no circuito familiar ~e vice-versa; © compromisso com a veracidade e a precisio das afirmagées & muito mais rigoroso na esfera cientifica ou oficial do que na familiar, por exemplo. Os géneros estabelecem padres de estrutura composicional (construgtio composicional, tipo de estruturagao e de conclusdo do todo}, que se pode entender como as partes que usual- mente compem os textos pertencentes a determinado género e a organiza¢do modelar dessas ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES partes. Bakhtin aponta também formas usuais de delimitacdo do discurso, como sua extensao, suas fronteiras, Os géneros definem o estilo, orientando 0 processo de selegio de recursos lexicais e morfossintaticos intra e interfrasais. Quando escolherios um detetminado tipo de oragéo, ndo escolhemos somente uma ddeterminada oragao em fungo do que queremas expressar com a ajuda dessa oracio, selecionamos um tipo de oragdo em fungae do todo do enunciado completo que se apresenta & nossa imaginago verbal e determina nossa opeao. A ideia que temos da forma do nosso enunciado, isto &, de um género preciso do discurso, dirige-nos em nosso proceso discursive. [.] O género escolhido dita-nas 0 seu tipo, com suas articulagSes composicionais (BAKHTIN, 1992, p. 305). ‘A padronizagio formal dos géneros, integrada aos conhecimentos linguisticos dos sujeitos, 6 que possibilita ao interlocutor engajado num processo interacional — que partlha, pois, situagao, conhecimentos e pressupostos — prever, desde as primeiras palavras, 0 todo do discurso, sua forma de organizacao ¢ o intuito discursivo do locutor, o que facilita/viabiliza a compreensio (BAKHTIN, 1992, p. 300-302). Por seu turno, “a variedade dos géneros do discurso pressupée a variedade dos escopos intencionais daquele que fala ou escreve"; entretanto, a praxis linguts- tica social vai estabelecendo padres de realizag3o desses escopos intencionais, de tal modo que, na vida cotidiana, “o querer-dizer do locutor quase que sé pode se manifestar na escolha do género”, ao qual se adapta e se ajusta, “sem que o locutor renuncie & sua individualidade 8 sua subjetividade” (BAKHTIN, 1992, p. 291; 301-302} E ainda em Bakhtin (1992, p. 277, grifo nosso) que encontramos a conhecida postulacaio de que os géneros, embora atuem como padrées, no so imutéveis, néo slo inalterdveis: “so padres de enunciado relativamente estdveis”. Por sua estabilidade, esses padrdes nos orientam ras atividades comunicativas, na compreensio e na produsao de textos. No entanto, como a vida social muda e as praticas de linguagem se modificam continuamente, esses padres so apenas relativamente estdveis: alteram-se de acordo com as novas possibilidades e necessi- dades sociais. Por isso, ha géneros que caem em desuso (ex.: telegrama, telex} e géneros novos que aparecem (ex.: e-mail, WhatsApp). Portanto, séo intimeros os géneros textuais coexistentes numa sociedade, jé que so miiltiplas as necessidades comunicativas das coletividades humanas. O autor considera que os géneros funcionam como uma “gramética do discurso”, no sentido de que os membros de uma comunidade linguistica aprendem, na convivéncia social, 0s géneros de que precisam no seu dia a dia e acatam razoavelmente os padrées apreendidos. No entanto, Bakhtin (1992) explica que, embora essa gramética do discurso tenha “leis nor- mativas”, suas leis sdo “mais maleéveis, mais pldsticas e mais livres” do que as da gramatica da lingua. Se os géneros sio padrées relativamente estaveis, as leis que regulam sua configuragao ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES € seu uso tém de ser maledveis e pldsticas, As leis so normativas na medida em que s6 tém razo de ser se forem acatadas por toda a comunidade; mas so maledvels e pldsticas na medida em que precisam mudar conforme mudam os usos e costumes socials e a tecnologia disponivel para a comunicacdo. Além disso, lembra Bakhtin (1992, p. 302-303) que hé sempre a possibilidade de se “confundir(em] deliberadamente os géneros pertencentes a contextos diferentes". Essa possibili- dade ¢ geradora de efeitos de sentido que podem servir a diferentes objetivos: hd propagandas que se disfarcam de noticia para dar mais credibllidade ao produto que pretendem vender; hé aulas que se parecem com shows de auditério, para envolver os alunos. Pode-se também, no plano do discurso, “confundir deliberadamente” os componentes e 0 estilo dos géneros: i) reprocessando a organizagio pica (por exemplo, comecando um edi- torial pela conclusdo, ou entao iniciando um romance pelo desfecho ou pelo meio da histéria e recuperar 0s episédios anteriores desordenadamente, seguindo os movimentos da meméria de uma personagem); i) buscando efeitos de sentido especiais pelo recurso a mistura de estilos ou a um estilo inusitado para determinada situagio (por exemplo, num bilhete informal de agra~ decimento a um amigo por um favor prestado, pode-se empregar um ficar-the-el para sempre penhorado, buscando produzir um efeito cémico) 2 OS GENEROS ESCOLARES Anatureza séclo-histérica dos géneros e sua funcdo tipificadora das praticas de linguagem, ras diversas esferas de atividade humana, possibilitam o surgimento de padrdes textuais que servem 8 organizagao e ao funcionamento de diferentes instituigdes. A instituigdo social escola produz géneros que organizam e controlam seu funcionamento administrativo e pedagdgico, como 0 registro de matricula dos alunos, o histérico escolar, o disrio de classe, a lista de pre- senga, 0 boletim. Hd ainda géneros constitutivos das agdes de linguagem que integram 0 pro- cesso de ensino-aprendizagem, como o dever de casa, 0 exercicio, o questiondrio, a ficha, orresumo, a pesquisa, a prova ea redacdo, entre outros. Todos eles define padrées para ages recorrentes no funcionamento cotidiano da escola, Nesse sentido, nao se pode duvidar que a redago escolar é um género. Beth Marcuschi (2007, p. 64) considera que @ redago escolar se configura como um “macrogénero" que abarca as subcategorias “redaco endégena ou clissica” — que nasce e cir- cula quase que exclusivamente dentro da escola ~e “redac3o mimética” — que traz para a sala de aula modelos de géneros que circulam externamentte & escola € os tora como objetos de ensino, mas numa situago que apenas imita sua efetiva trajetdria e suas fungBes. Vou consi derar aqui apenas a chamada redagio endégena ou cléssica, que se manifesta, tradicionalmente, come padro textual em trés modalidades distintas: a descrigdo, a narracdo e a dissertago, ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES Sdo conhecidas as condigdes de realizaco da redacdo classica. A partir de um tema — trabalhado ou apenas sugerido -, 0s alunos escrevem seguindo um modelo prévio de estrutura composicional e usando um estilo de linguagem considerado adequado, para atender ao propé- sito pedagdgico de aprender a escrever. Trata-se de um propésito escolar legitimo, como acentua Beth Marcuschi, em geral explicitado para os alunos: a tarefa é escrever de acordo com 0 que © professor prope como certo e desejavel, para obter uma avaliagdo positiva, uma boa nota. A interacdo se dé entre 2 fungo aluno e a fungao professor, numa aco endégena e ritualizada Essa pratica sugere algumas consideracdes. A primeira delas, de acordo com Schneuwly © Dolz (1999}, € 0 “desaparecimento da comunicacdo”. Na cena discursiva, no se veer inter locutores empenhados em dizer alguma coisa ou em compreender a palavra do outro, esco- thendo 0 género mais edequado para se expressar naquela circunstancia, de modo @ cumprir determinado objetivo e produzir determinados efeitos. Apaga-se a dimensdo discursiva do texto produzido. Anulada a possibilidade de comunicagdo, esse exercicio tradicional da escrita na escola acaba tomando como objeto de ensino apenas os elementos formals caracterizadores dos géneros, sem levar em conta sua funcionalidade. A elaboracdo temética, que implica selecio, organizaco e articulacdo dos contetidos, visando 8 construcdo de um texto coerente, sempre € orientada de maneira eficiente e suficiente. O que ganha lugar privilegiado, nesse processo, so a estrutura composicional e o estilo de linguagem. Ou seja, 0 trabalho com a redagao escolar valoriza enfaticamente os padrdes formais e 1ndo favorece a formacao do aluno como sujeito de linguagem capaz de compreender as circuns- tancias de sua enunciagdo e definir a que género de texto recorrer para dizer o que tem a dizer ‘a seus interlocutores, tendo clareza quanto aos objetivos comunicativos que pretende alcancar. Esse procedimento, que oblitera a natureza maledvel e plastica da “gramtica do discurso”, ndo dé aos alunos a oportunidade de aliar ao estilo do género 0 seu proprio estilo, de contrapor & “forma” composicional prescrita seu intento de “confundir deliberadamente” os elementos do género que intenta produzir, para obter determinados efeitos de sentido Submetendo a escrita dos alunos a padrdes formais inflexiveis e & auséncia de uma perspectiva discursiva, a redagao escolar é um género que s6 funciona na escola, para cumprir objetivos pedagégicos em geral unilaterais: o professor manda, e o aluno escreve por obrigacdo. Aendogenia da redacio tem relago de reciprocidade com os padrées textuais exerci- tados na escola, A descricdo, a narragao e a dissertacdo (expositiva e/ou argumentativa) nao so textos empiricos que circulam publicamente no espaco social, a ndio ser em concursos de redaco ou em provas de selego para cargos oficiais ou vagas em universidades. €m outdoors ou revistas, a descrigio no aparece como texto auténomo, constituldo exclusivamente dese tipo de organizacdo composicional e que tenha como tinico objetivo retratar uma pessoa, um objeto, uma paisagem. Nao se encontram dissertagées em jornais ou blogs. O que se vé, com ‘TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS: SUBSIDIOS PARA QUALIFICACAO DE AVALIADORES frequéncia, sao colunas jornalisticas, artigos de opinido, editorials, reportagens, cujo propé- sito costuma ser repercutir uma questo polémica e discutir sobre ela, buscando convencer 05 leitores da posi¢ao do enunciador. Esses géneros néo se constituem de uma sequéncia de pardgrafos expositivo/argumentativos reunidos de modo a compor uma introduggo, um desen- volvimento e uma concluséo nitidamente delimitados. Pelo contrério, eles podem incluir pas- sagens descritivas e narrativas que se apresentam como provas e argumentos altamente con- vincentes, podem, deliberadamente, promover alteragdes na ordenagdo dos camponentes ¢ estilo usuais pare surpreender, para chocar, para captar a atenco do leitor, para mascarar seu verdadeiro propésito, Os objetos de ensino que a pratica de escrita escolar elege no configuram um género na sua integralidade de forma e funcao. O trabalho se volta para o que os estudiosos tém chamado de tipos textuais, modos de organizagdo que correspondem a diferentes atitudes enunciativas (narra, relatar, descrever, expor, argumentar, ordenar procedimentos) e se caracterizam por um Uso especifico de determinados recursos linguisticos (aspectos lexicais, tempos verbais, con- jungdes, advérbios e locugdes adverbiais, estruturas sintéticas, entre outros). Os tipos podem, entrar na composigao de diferentes géneros; um texto pertencente a determinado género pode incluir diferentes tipos em sua composi¢ao. Um género como o romance, por exemplo, em que predomina a atitude enunciativa de narrar, pode conter passagens descritivas, expositivas, argumentativas, tanto na fala do narrador como na dos personagens. A tradi¢i0 escolar trabalha com tipos textuais na crenga de que, focalizando exclusi- vamente os aspectos composicionais e estillsticos, possa contribuir para o desenvolvimento de capacidades lingulsticas “supragenéricas” que sejam transferivels para a escrita de textos pertencentes a qualquer género. Ainda que a transferéncia de aprendizado possa ocorrer, 0 aprendizado da dimensio discursiva dos géneros fica excluido. A redago escolar nao propicia a0 aluno deserwolver-se como sujeito autor, capaz de realizar a escolha do género adequado as circunstdncias da interlocugao e adaptar seu querer-dizer is exigéncias desse género, sem renunciar 8 sua individualidade e 2 sua subjetividade. REFERENCIAS BAKHTIN, M, Os géneros do discurso. In: Estética da criagdo verbal. So Paulo: Martins Fontes, 1992. DIONISIO, A. ®,; HOFFNAGEL, J. C. (Orgs.). Géneros textuais, tipificagdo e interagéo — Bazerman. 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