O jornal do Brasil

Rio de Janeiro • Quarta-feira • 9 de maio de 2018 FUN DADO EM 9 DE ABRIL DE 1891 Ano 127 • nº 74 • www.jb.com.br • R$ 5,00

Saída de Barbosa embola

ainda mais as eleições
Com a alegação de motivos pessoais, o ex- ministro do STF Joaquim
Barbosa comunicou, ontem, à direção do PSB, que desistiu de se candida-
tar à Presidência da República. Ele era o último ‘outsider’ na disputa, que
agora ficará restrita aos políticos de carreira, como Jair Bolsonaro, Marina
Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. Sem a presença do ex-presidente
Lula, a desistência de Barbosa deixa Bolsonaro mais confortável à frente
da corrida ao Planalto. Mas também abre espaço para uma aliança do PSB
com o PDT do pré-candidato Ciro Gomes.

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil José Lucena/AE José Lucena/AE João Laet/FNP

Jair Bolsonaro (PSL) Marina Silva (Rede) Ciro Gomes (PDT) Geraldo Alckmin (PSDB)

Bolsonaro Campanha não Ciro Gomes

perde rival tem ‘outsider’ ganha força
Páginas 2 e 3

Argentina vai ao FMI

Rompidos desde 2003, Argentina e FMI retomam vou as taxas de juros de referência de 33,25% para 40%, do FMI, Christine Lagarde, sobre a possibilidade de um
conversações para firmar um acordo que tire o governo com objetivo de atrair de volta investidores e conter a “empréstimo preventivo”, a taxas mais baixas que as do
de Mauricio Macri da instabilidade financeira que abala disparada do dólar. O ministro da Economia, Nicolas mercado. Economistas estimam que o valor deve ficar
o país. Na sexta-feira, o Banco Central argentino ele- Dujovne, disse que já conversou com a diretora-gerente em torno de US$ 30 bilhões. Pág.11

COLUNAS 100% ORGÂNICA Petrobras tem

Hector Retamal/AFP
lucro de R$ 6,9 bi
Tereza Cruvinel
A saída de Barbosa
no 1º trimestre
aumentará o deses- A Petrobras surpreendeu analistas ao
pero da centro-di- apresentar um lucro líquido de R$ 6,96
reita, que via nele bilhões no primeiro trimestre, 56,5%
alguém que poderia acima dos ganhos de igual período do
representá-la ano passado. É o melhor resultado tri-
no segundo mestral desde o início de 2013. Pág. 12
turno. Pág. 2

Donald Trump
rompe acordo
Informe JB
Coisas da política. Dono de padaria
nuclear com Irã
é indicado para dirigir importante Apesar dos protestos da comunida-
unidade de conservação ambiental na de internacional, o presidente Trump
Baixada Fluminense. Pág. 6 anunciou a retirada dos EUA do acordo
nuclear com o Irã. Grã-Bretanha, Fran-
ça e Alemanha criticaram a medida e
Hildegard Angel vão tentar manter o acerto. Pág. 14

Em Nova York, o Baile do Met, orga-

nizado por Anna Wintour, foi uma
grande oportunidade para os costurei- Lava Jato liga
ros italianos. Caderno B, pág. 3
propina a esquema
de aeroportos
Renato M. Prado Laudo da Lava Jato mostra repasses
Assistir às atuações de LeBron James é da Odebrecht para José Yunes, amigo de
acompanhar um supergênio em ação, Michel Temer, Eliseu Padilha e Moreira
um craque, um dos melhores jogadores Gisele Bündchen arrasou no Baile do Met, com seu vestido sustentável Franco, todos atrelados a contratos de
de basquete da história. Pág. 15 da Versace. Ativista do meio ambiente, ela aderiu ao #GreenCarpetChalenge. concessões de aeroportos. Pág. 4
2 • Conheça nosso site www.jb.com.br Política Quarta-feira, 9 de maio de 2018

COISAS DA POLÍTICA
Presidenciáveis
elogiam ex-ministro
Todos lamentam saída, mas sinalizam que vão atrás de seus eleitores
Rebeca Letieri Fotos de divulgação
MARCUS CELESTINO E

Tereza Cruvinel REBECA LETIERI

marcus.celestino@jb.com.br
tereza.cruvinel@jb.com.br rebeca.letieri@jb.com.br

Mais incerteza O decisão dos ex-ministro do STF

Joaquim Barbosa não se dispôs a entrar na selva
eleitoral, comprometendo seus arranjos profissionais
e financeiros e seu conforto pessoal, ele que detesta
ter a vida futricada. Sem ele, o quadro muda mas a
incerteza é que cresce. Não haverá um ganhador em
particular mas crescerá também o desespero da cen-
tro-direita fragmentada, que mesmo desconhecendo
as ideias de Barbosa, via nele alguém que, na falta de
outro, poderia representá-la num segundo turno,
contra a esquerda ou contra Bolsonaro. É desse de-
sespero que podem surgir as tentações por uma saída
fora da eleição.
Joaquim Barbosa de desistir da cor-
rida à Presidência da República teve
forte repercussão entre os demais
pré-candidatos que participaram on-
tem de encontro com prefeitos de
todo o Brasil em Niterói, no Rio de
Janeiro. Entre elogios e lamentos, os
presidenciáveis mostraram que vão
atrás das intenções de votos que le-
varam Barbosa despontar com quase
10% das preferências nas pesquisas Marina lamentou decisão de Barbosa Ciro referiu-se à tradição do PSB
de opinião. Opinaram sobre o novo
momento. O deputado Jair Bolsona- Rebeca Letieri

Os 10% de eleitores que, na última pesquisa
Datafolha se dispunham a votar em Barbosa, ago-
ra devem refluir para outras candidaturas. Uma
parte deles retornará ao lulismo, seja quem for que
o venha representar, como principal polo anti-esta-
blishment. Outra deve sobrar para Ciro Gomes, que
neste momento é visto como ponto de convergência
por setores da esquerda e da direita. Marina Silva
e Bolsonaro certamente serão beneficiados, pois
mesmo sendo políticos profissionais, são percebi-
dos como diferentes pelos que buscam renovação.
Alguma coisa sobrará para Alckmin, ainda que não
baste para a decolagem. Em que proporções se dará
a divisão só uma nova pesquisa dirá mas a decisão
de Barbosa pode dar impulso aos esforços por reali-
nhamento que estão na praça.
Na esquerda, despontam defensores de uma uni-
dade com Ciro, contra a decisão do PT de levar a
candidatura de Lula até à linha final. O que era meio
murmurado ganhou ressonância com a declaração do
governador do Maranhão, Flávio Dino, que ao propor
apoio a Ciro atropelou não apenas os aliados petistas
mas também a candidata de seu partido, o PC do B,
Manuela D’Ávila. Lá de Curitiba, através do visitan-
te Leonardo Boff, Lula mandou avisar que continua
candidatíssimo.
Na direita, há movimentos paralelos. Alckmin
continua avançando em direção a Temer e ao MDB.
Deve ser advertido sobre o risco do beijo da morte
na reunião de hoje da Executiva do partido. Menos
propensos ao suicídio, outros partidos que ajudaram
o MDB a derrubar Dilma e a colocar Temer na Presi-
dência buscam saídas de emergência. Rodrigo Maia,
do DEM, conversa com Álvaro Dias e Flávio Rocha
PR sobre uma aliança sem tucanos e emedebistas,
enquanto PP e PR cogitam sobre uma aliança pou-
co provável com Ciro. Na planície, parlamentares do
PSDB, PPS, PTB e similares preparam um manifesto
liberal-reformista a ser proposto aos candidatos des-
te polo, prevendo o afunilamento de candidaturas na
época das convenções, em julho.
Estes movimentos, entretanto, não resolvem o
drama da centro-direita. Se Alckmin se alia a Te-
mer, ganha o tempo de televisão do MDB, o apoio da
máquina federal e o dever de defender seu governo
rejeitado. Mas a coalizão de direita sem Temer e os
trunfos propiciados pelo MDB, e não dispondo de
um nome reluzente, será um soma de nanicos. Todos
estes partidos são associados ao governo de Temer e
ao impeachment de Dilma. Hoje, 47,9% da popula-
ção, segundo pesquisa do Instituto da Democracia
e da Democratização da Comunicação, núcleo do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INTC),
acham que ela sofreu um golpe parlamentar. Tudo
somado, a conta chegou.
Por isso digo que na falta de saídas para a direita
pode morar o perigo. Barbosa, em entrevista a Lauro
Jardim, em O Globo, listou suas três maiores preocu-
pações: vitória de Bolsonaro, golpe militar ou um ar-
ranjo continuísta com Temer, que significaria o adia-
mento da eleição. O assanhamento militar continua:
ontem o general aposentado Paulo Chagas perguntou
numa rede social se os ministros do STF que julgam
o recurso de Lula tomarão o partido do Brasil ou do
crime. E Temer topará qualquer coisa que lhe mante-
nha o foro especial. Ontem mesmo a Lava Jato voltou
a mirá-lo em nova operação envolvendo propina da
Odebrecht em contrato com a Petrobrás.
ro, PSL, e o empresário Flávio Rocha,
do PRB, não participaram do evento.
O pré-candidato à Presidência do
PSDB, Geraldo Alckmin, classificou a
decisão de Barbosa como “uma per-
da”. O ex-governador, que é aliado
do PSB em São Paulo, sinalizou para
a possibilidade de que o ex-ministro
possa colaborar em seu governo, ci-
tando especificamente projetos liga-
dos a área de gestão pública. “Nós
precisamos de novas lideranças, de
maior participação. Eu gosto do Joa-
quim. É um homem preparado, com
serviço prestado ao Brasil. Mas é uma
decisão dele, nem sei se é definitiva.
Todavia, se não for desta forma, pres-
tará serviço ao Brasil de outra manei-
ra. Tenho total respeito”, disse ele.
No encontro, a pré-candidata da
Rede Sustentabilidade, Marina Sil-
va, também lamentou a decisão do
ex-ministro Barbosa. “Já estamos fa-
zendo algumas coligações. São pro-
gramáticas, não pragmáticas. Vamos
continuar aprofundando o diálogo.
Temos espaço de diálogo com os
partidos que caminharam juntos em
2014. O PSB vai fazer suas próprias
avaliações”, afirmou. Segundo fonte
ligada ao partido, as chances de PSB
e Rede se reunirem são “boas”. “Já en-
cetamos conversas. Ter Joaquim Bar-
bosa e o PSB ao nosso lado, mais uma
vez, seria ótimo”, comentou.
O pré-candidato do PDT, Ciro Go-
mes, foi ovacionado pela plateia. Mas
vale explicar que o prefeito da cida-
de anfitriã, Rodrigo Neves, é do PDT.
Ciro também lamentou a “perda” de
Barbosa. Comentou que a presença
do ex-ministro no debate eleitoral se-
País não mudou após a prisão de Lula
Levantamento do Instituto Para-
ná Pesquisas feito em parceria com o
JORNAL DO BRASIL apurou a per-
cepção dos brasileiros com relação a
uma melhora ou piora do país após
a prisão do ex-presidente Lula. Para
66% dos entrevistados, o país perma-
neceu igual. Para 22,3%, o país piorou
após a prisão do petista, e, para 9%, o
país melhorou. Não sabe ou não opi-
nou foram 2,6%.
A pesquisa também questionou a
percepção das pessoas com relação a
maior cautela dos políticos brasileiros
para não se envolver em casos de cor-
rupção após a prisão do ex-presiden-
te. Para 40,5%, os políticos devem ter
mais cuidado; para 38,6%, os políticos
brasileiros continuarão se compor-
tando como sempre se comportaram.
Já 18,9% acreditam que os políticos
Alckmin fala de futura colaboração
ria importante, mas não quis falar so-
bre uma futura aliança. “O PSB deve
ser reconhecido como um partido de
grande tradição”, limitou-se a dizer.
Alvaro Dias, do Podemos, acredita
que os votos de Barbosa vão para sua
candidatura, mas não descarta uma
chapa com o ex-ministro. “Sempre o
valorizei. É alguém muito importante
na defesa da justiça. A ausência dele
empobrece o debate, em especial ten-
do em vista seu histórico recente con-
duzindo o STF na ação do mensalão”,
acrescentou. O senador também fez
questão de reiterar que seu partido
não fará alianças com o PSDB. Já Gui-
lherme Afif Domingos, pré-candida-
to do PSD, afirmou que não chegou
a “ver [Joaquim Barbosa] entrar [na
corrida presidencial]”. “Mas empo-
brece a disputa. É uma pessoa impor-
tante nesse processo”, ponderou.
O presidente da Câmara e pré-can-
didato do DEM, Rodrigo Maia, disse
AE
Pesquisa repercutiu o Brasil sem Lula
brasileiros vão se envolver em mais
casos de corrupção. Não sabe ou não
opinou foram 2,1%.
Sobre a percepção com relação à
punição de políticos envolvidos em
casos de corrupção após a prisão do
ex-presidente, 44,7% acreditam que a
justiça brasileira vai aumentar a puni-
Dias valorizou o ex-ministro do STF
que o anúncio de Barbosa “era o es-
perado”. Ele comentou que “alguns
ficaram ansiosos” com a possível can-
didatura do ex-ministro. Na opinião
dele, as intenções de voto atribuídas
ao jurista não têm destinatário cer-
to. “Acho que uma parte não vai para
ninguém e outra, pulveriza”, disse
A pré-candidata Manuela D’Ávila,
do PCdoB, reforçou o que já havia
dito, em entrevista, ao JORNAL DO
BRASIL: “[Barbosa] tinha apresen-
tado algumas pautas interessantes.
Manifestou a sua contrariedade em
relação à reforma da Previdência e ao
processo de impeachment [da ex-pre-
sidente Dilma Rousseff ]”, comentou.
“Ele tinha opiniões já apresentadas
e boas. Mas respeito a decisão dele”,
completou. Manuela reiterou que
a candidatura de Barbosa era uma
“candidatura de esquerda” e que, ha-
vendo harmonia e unidade, a esquer-
da poderá se unir.
ção. Para 40,9%, por outro lado, a jus-
tiça deve continuar a agir como sem-
pre agiu com relação aos políticos. Já
para 10,4%, a justiça brasileira vai dar
menos atenção à punição de políticos
envolvidos em casos de corrupção.
Não sabe ou não opinou, 4,1%.
Feita com 2.002 eleitores, a pesqui-
sa de opinião pública foi estratificada
segundo sexo, faixa etária, escolari-
dade, nível econômico e posição ge-
ográfica, em 26 estados e Distrito Fe-
deral e em 154 municípios brasileiros
entre os dias 27 de abril a 2 de maio.
A amostra atinge grau de confiança
de 95,0%, com margem estimada de
erro de aproximadamente 2,0% para
os resultados gerais. A pesquisa está
registrada no Tribunal Superior Elei-
toral sob o número BR- 02853/2018
para o cargo de Presidente.
Quarta-feira, 9 de maio de 2018
O adeus do ‘outsider’
Joaquim Barbosa desiste da pré-candidatura e abre espaço para aliança do PSB com o PDT
KATIA GUIMARAES
katia.guimaraes@jb.com.br
Depois de muita expectativa em rela-
ção à possível candidatura de Joaquim
Barbosa à Presidência da República
pelo PSB, o ex-ministro anunciou sua
desistência frustrando a legenda, que
não tinha outra alternativa e agora terá
que fazer a sua escolha para a sucessão
de outubro. O próprio Barbosa admitiu:
“’Meu coração já vinha me dizendo: não
mexe com isso, não”. Esse sentimento foi
revelado ao presidente do PSB, Carlos
Siqueira, quando Joaquim Barbosa te-
lefonou ontem para dizer que não seria
candidato.
O ex-ministro sempre se disse dividi-
do em entrar na vida política e uma de
suas maiores justificativas é que ele é
arrimo de família e os próprios paren-
tes não simpatizavam com essa ideia. O
temperamento dele e os ataques sofridos
na internet também são apontados como
influenciadores para a decisão.
Apesar de Siqueira dizer que tudo
ocorreu dentro do combinado, pois
quando o ex-ministro entrou para o par-
tido foi informado de que a legenda não
estaria assegurada, o não de Barbosa foi
lamentado por integrantes da cúpula do
PSB. “Nos não tínhamos plano B, o nosso
plano era JB. Achávamos que o Joaquim
tinha condição de fazer esse sentimen-
to diferenciado em uma eleição onde
as coisas estão tensionadas. Ele era um
nome que tinha condições de unificar e
pacificar a politica brasileira”, afirmou o
líder na Câmara, deputado Júlio Delga-
do (MG). “A gente perdeu uma grande
oportunidade”, acrescentou.
Sem ‘outsider’
Com o ex-ministro fora da disputa,
não há mais um outsider nas eleições
deste ano, como muitos desejavam em
função da falta de renovação e da onda
de criminalização da política que vem
tomando conta do país. O jogo se re-
sume a antigos políticos conhecidos.
“Todas as candidaturas são do meio da
política, não tem ninguém de fora que
pudesse representar algo novo de aspira-
ção da sociedade”, afirma Delgado.
Por ser novo na política, Barbosa ti-
nha justamente o potencial de angariar
votos dos descontentes, não só da es-
querda mas principalmente da direita,
como os tucanos, que agora respiram
mais aliviados com essa notícia. Muitos
achavam que Joaquim Barbosa poderia
roubar eleitores do ex-governador Ge-
raldo Alckmin, que não conta com bons
índices de intenções de votos.
Mesmo que alguns pessebistas prefi-
ram a candidatura própria, como é o caso
do ex-deputado Beto Albuquerque, diri-
gente do PSB, para Carlos Siqueira, está
Inquérito contra Aécio vai para 1ª instância
O ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal, decidiu enca-
minhar para outras instâncias processos
contra oito parlamentares, entre eles um
inquérito instaurado com base na delação
da Odebrecht que investiga o senador Aé-
cio Neves (PSDB-MG).
O inquérito do tucano foi encaminhado
para a Justiça Criminal Estadual de Primeiro
Grau da Comarca de Belo Horizonte, para
“regular e livre distribuição”, conforme de-
terminado por Moraes. O processo investiga
supostas irregularidades na construção da Ci-
dade Administrativa no segundo mandato de
Aécio como governador de Minas Gerais.
As decisões de Moraes foram feitas a
partir do entendimento do STF de restrin-
gir o foro privilegiado para deputados fe-
Política
Ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa tinha até 10% das intenções de voto, mas alegou motivos pessoais para desistir da corrida ao Planalto
hipótese não está sendo aventada. “Can-
didatura própria eu não cogito. Candi-
datura não é coisa que se improvise. O
mais provável é que discutamos apoiar
o candidato que tem maior proximidade
Risco de um racha profundo
V
ice na chapa encabeçada
por Marina Silva em 2014
e atual vice-presidente de
Relações Governamentais do PSB,
o ex-deputado Beto Albuquerque
enxerga o risco de um racha pro-
fundo na legenda, caso o projeto
de uma candidatura própria ao
Palácio do Planalto seja de fato
abandonado. Reconhecendo que
o partido foi surpreendido pela
desistência do ex-ministro do STF
Joaquim Barbosa de concorrer, Ele
ressaltou que o apoio a qualquer
um dos nomes hoje colocados para
a corrida presidencial seria preju-
dicial para o conjunto do partido.
Para Beto Albuquerque, “seja
Ciro Gomes, Geraldo Alckmin,
Marina Silva ou qualquer nome
hoje colocado, o PSB ganharia de
um lado e perderia do outro”. Ele
diz que seu partido precisa de uma
solução que não atrapalhe os 10
candidatos nos Estados”. “Infeliz-
mente, não temos outro Joaquim
derais e senadores, que só deve valer para
os crimes cometidos no exercício do man-
dato e em função do cargo.
Em nota, a defesa do senador Aécio Neves
(PSDB-MG) afirmou ontem, que a decisão
do ministro Alexandre de Moraes, de enca-
minhar processo contra o parlamentar para a
primeira instância era uma medida “espera-
da”, já que foi baseada em decisão do pleno do
Supremo Tribunal Federal sobre a restrição
do foro privilegiado.
“O senador Aécio Neves reitera que jamais
participou da formação de suposto cartel. O
edital de licitação foi previamente apresenta-
do ao MP-MG e ao TCE. A licitação foi objeto
de ampla investigação por parte do Ministé-
rio Público Estadual que concluiu pelo arqui-
vamento de falsas denúncias após constatar
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com PSB”, afirmou. O partido já recebeu
propostas de alianças de diversos parti-
dos que já têm candidatos próprios entre
eles o PT, PCdoB, PDT e Rede. O tema
vai ser discutido pela a Executiva Nacio-
Divulgação
Beto Albuquerque prevê divisão no PSB
Barbosa na manga, não temos
outro Eduardo Campos. Mas é
essencial que encontremos uma
maneira de manter uma candida-
tura própria”, disse o exdeputadoe
à Agência Estado.
A disputa interna do PSB passa
em especial pelo alinhamento de
diretórios regionais ao governador
de São Paulo e candidato à reelei-
ção, Márcio França, e ao comando
do partido em Pernambuco.
a regularidade de todos os procedimentos.
As obras foram auditadas em tempo real por
uma empresa independente”, escreveu o ad-
vogado Alberto Zacharias Toron.
Ao todo, Moraes encaminhou para outras
instâncias seis inquéritos e uma ação penal. A
ação penal investiga o deputado federal Ro-
berto Góes (PDT-AP), investigado por crime
de responsabilidade, associação criminosa e
falsificação de documento público, durante a
época em que comandava a Prefeitura de Ma-
capá. A ação penal foi encaminhada à 4ª Vara
Criminal da Comarca de Macapá.
Um inquérito que investiga os deputados
federais Cesar Hanna Halum (PRB-TO) e
Carlos Henrique Amorim (DEM-TO) foi en-
viado à Justiça Criminal Estadual de Primeiro
Grau da Comarca de Palmas
3
Agência Brasil
nal que ainda vai se reunir. “Vamos dei-
xar a poeira baixar e chamar a Executiva
para discutir o assunto”, disse.
No cenário atual, as chances de uma
coligação com o PDT de Ciro Gomes é
considerada a mais plausível por inte-
grantes do PSB e analistas políticos. Não
só pela identidade programática, mas
principalmente porque facilita as alianças
regionais, consideradas prioritárias não
só para a eleição e reeleição de governa-
dores, mas também para impulsionar a
bancada do PSB na Câmara. Esses dois
critérios vão ser pesados na hora da deci-
são sobre quem a legenda vai apoiar. “E
o Ciro está escolado. Com duas campa-
nhas presidenciais e indo para a terceira,
ele saber fazer o jogo”, afirma o analista
político André César, da Hold Assessoria
Legislativa.
Candidatos nos estados
São os casos, por exemplo, de Per-
nambuco, governado por Paulo Câmara
(PSB) e do Espírito Santo, onde o ex-
-governador Renato Casagrande (PSB)
voltará se candidatar ao governo estado,
e as conversas com o PDT já estão em
andamento. Um dos únicos problemas
apontados, mas passível de resolução é
o cenário do Amapá, onde o governado
Valdez Góis (PDT) tentará se reeleger e
o senador Capiberibe é o candidato pelo
PSB. Para André César, a campanha des-
te ano vai ser fragmentada em que o ven-
cedor vai ganhar por “default”. “Caiu um,
caiu mais um e o Ciro vai ficando. Ciro
não vai sair (da campanha)”, observa.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Aécio diz que jamais participou de cartel
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Propina atrelada à
concessão de aeroportos
Laudo da Lava Jato mostra repasses a Yunes, Eliseu Padilha e Moreira Franco
Laudo produzido pelos peritos da Lava
Jato de Curitiba mostra que as entregas
de dinheiro da Odebrecht para o amigo
do presidente Michel Temer, o advogado
José Yunes, e aos ministros da Casa Civil,
Eliseu Padilha, e de Minas e Energia, Mo-
reira Franco, estão atreladas no sistema do
departamento de propina da empreiteira a
contratos de concessões de aeroportos.
O documento corrobora com a hipóte-
se criminal apurada pela Polícia Federal
em inquérito no Supremo Tribunal Fede-
ral (STF) em que Temer, Padilha e Moreira
Franco são investigados por corrupção e
lavagem de dinheiro. Solicitado pelo dele-
gado do caso, o laudo já foi anexado ao in-
quérito, mas é mantido em sigilo.
O inquérito investiga os repasses de
propinas revelados por delatores da Ode-
brecht para campanhas eleitorais do MDB
em troca de favorecimento à empresa em
contratos com órgãos públicos, entre eles a
Secretária de Aviação Civil da Presidência
da República. Padilha e Moreira Franco co-
mandaram a Secretaria, de 2013 a 2015, no
governo Dilma Rousseff (PT).
Os peritos Ricardo Andres Hurtado e Ro-
drigo Lange apresentaram no laudo todas
as planilhas, e-mails e documentos relacio-
nados aos codinomes Primo, Tabule, Ango-
rá e Kibe encontrados nos sistema Drousys
e Mywebday, utilizados pelo departamento
de propina da empreiteira baiana.
O primeiro documento relacionado a
aeroportos encontrado foi uma planilha
com a “programação semana por cidade 11
a 15/08/2014”, em que o codinome Angorá
está atrelado ao valor R$ 1,5 milhão pro-
veniente da OTP - Odebrecht Transport.
Angorá era o codinome utilizado para de-
signar Moreira Franco, mas segundo o ex-
-diretor de Relações Institucionais da em-
preiteira também foi usado para entregas
ao ministro Eliseu Padilha.
Em um e-mail de 19/08/2014, a relação
de valores destinado ao codinome relacio-
nado a Moreira Franco e o tema aeroportos
fica ainda mais explícito. O diretor da OTP
Paulo Quaresma escreve a Ubiraci Santos,
funcionário do departamento de propina
pedindo que ele programe o pagamento:
“Aeroportos/Angora/R$3.000.000”.
O delator Benedicto Júnior, o BJ, expli-
cou aos investigadores a necessidade de
alocar “as despesas” com os repasses a Mo-
reira Franco e por isso decidiu por fazê-lo
na OTP porque ela tinha o “Aeroporto do
STF julgará família Vieira Lima
A Segunda Turma do Supremo Tribunal
Federal (STF) tornou por unanimidade,
ontem, o ex-ministro Geddel Vieira Lima
e seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima
(MDB-BA), réus no caso do bunker de R$
51 milhões, encontrado em Salvador (BA).
Geddel foi preso preventivamente em 8
setembro do ano passado, três dias após o
dinheiro ser encontrado. Também pelos
crimes de lavagem de dinheiro e associação
criminosa se tornaram réus a mãe dos po-
líticos, Marluce Vieira Lima, o ex-assessor
parlamentar Job Ribeiro Brandão e o em-
presário Luiz Fernando Machado da Costa
Filho. Os ministros, por unanimidade, re-
jeitaram a denúncia contra o ex-diretor da
Defesa Civil de Salvador Gustavo Pedreira
Ferraz, acusado por lavagem de dinheiro.
A Segunda Turma é formada pelos mi-
nistros Edson Fachin, relator do caso, Dias
Toffoli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewan-
dowski e Celso de Mello. Os ministros en-
tenderam que há indícios suficientes para
que as investigações sejam continuadas
pela instauração de uma ação penal.
Em relação ao recebimento da denúncia
Nacional
Os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco são suspeitos de receberem propina da Odebrecht
Galeão como ativo.” BJ disse que autorizou
os pagamentos “em razão de ser Moreira
Franco uma pessoa muito próxima do nú-
cleo duro do governo federal.”
Segundo o delator, os repasses ao atual
ministro de Minas e Energia “seriam uma
contrapartida por todo o empenho do mi-
nistro Moreira Franco nos temas relaciona-
dos à concessão do Aeroporto do Galeão.”
Em 2013, quando o emedebista comandava
a Aviação Civil, o consórcio liderado pela
OTP e a Changi Airports International
conquistou a concessão para ampliação,
manutenção e exploração do Galeão.
R$ 1 milhão para Angorá
Os peritos também encontraram uma
planilha anexa a um e-mail de 1ª de setem-
bro de 2014. O documento lista a saída de
R$ 1 milhão da OTP para o codinome An-
gorá. Na última coluna da planilha consta
uma observação sobre a entrega: “Entregar
na rua Capitão Francisco, 90 - Jd Europa.
Procurar Sr José Yunes ou Sra Cida”.
Em depoimento no mesmo inquérito, o
PM Abel Queiroz, da transportadora de va-
lores responsável pela entrega, confirmou
ter efetuado ao menos duas entregas, em
2013 e 2014, no local onde fica o escritó-
rio de advocacia do ex-assessor de Temer.
contra Geddel, Lúcio, Marluce e Job, e a re-
jeição da acusação contra Ferraz, a turma
foi unânime e seguiu o voto do relator. So-
mente o ministro Gilmar Mendes divergiu
sobre tornar réu o empresário Luiz Fernan-
do, mas acabou vencido nesse ponto.
Segundo a denúncia da PGR, de 2010
até 5 de setembro de 2017, a família Viei-
ra Lima cometeu crimes de ocultação da
origem, localização, disposição, movimen-
tação e propriedade das cifras milionárias
em dinheiro vivo. Até janeiro de 2016, o di-
nheiro teria ficado escondido em um closet
na casa de Marluce Vieira Lima.
Após essa data, o montante de R$ 42 mi-
lhões e cerca de U$ 2,5 milhões foi trans-
ferido em malas e caixas para um aparta-
mento no bairro da Graça, em Salvador.
Semanas depois, foi levado para um apar-
tamento vizinho, onde ocorreu a apreensão
pela PF, na Operação Tesouro Perdido.
Quando recebeu a denúncia e os pedidos
da PGR em dezembro, Fachin atendeu à so-
licitação de bloqueio de cerca de R$ 13 mi-
lhões que, segundo a acusação, teriam sido
lavados por Lúcio, por Geddel, pela mãe e
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Segundo os delatores, o chefe da Casa Civil
recebeu valores tanto sob o codinome An-
gorá como Primo. Em um arquivo anexo a
um e-mail de 17 de março de 2014, os peri-
tos encontraram o registro da entrega de R$
1 milhão no escritório de advocacia de Eli-
seu Padilha em Porto Alegre. O documento
atrela o valor à OTP e a “Aeroportos”.
Brian Alves Prado, advogado de Temer,
disse que “a defesa do presidente da Repú-
blica reitera as respostas já há muito tempo
dadas sobre esse mesmo enredo, ou seja,
nega qualquer envolvimento do presidente
Michel Temer com os fatos em apuração”.
“José Yunes é advogado com mais de 50
anos de atividade profissional e jamais foi
intermediário de qualquer pessoa”, disse
sua defesa. “Não conhece e nunca teve con-
tato com Abel de Queiroz”.
O advogado Antônio Pitombo, que de-
fende Moreira Franco “reitera que não há
qualquer vínculo entre o seu cliente e os fa-
tos sob apuração nesta investigação”.
A Odebrecht também se manifestou.
Disse que “está colaborando com a Justiça
no Brasil e nos países em que atua. Assinou
acordo de leniência com as autoridades do
Brasil, Estados Unidos, Suíça, República
Dominicana, Equador, Panamá e Guatema-
la.” (Estadão Conteúdo)
por Luiz Machado, sócio da Cosbat Cons-
trução Engenharia, por meio de empresas
do ramo imobiliário.
Dudu da Fonte também vira réu
A Segunda Turma do STF também tornou
réu, por maioria, o deputado federal Edu-
ardo da Fonte (PP-PE) pelos crimes de la-
vagem de dinheiro e corrupção passiva, no
âmbito da operação Lava Jato. O caso en-
volveu ainda o ex-executivo da Petrobras
Djalma Rodrigues de Souza, também tor-
nado réu ontem.
Os ministros Edson Fachin, Celso de Mello
e Ricardo Lewandowski consideraram que
há indícios suficientes para a aceitação da
denúncia, ficando vencidos os ministros
Dias Toffoli e Gilmar Mendes. O decano
Celso de Mello foi o único a votar ontem.
Segundo a denúncia, o empresário Ricar-
do Pessoa, dono da construtora UTC En-
genharia S/A, pagou R$ 300 mil a Eduardo
da Fonte, conhecido como Dudu da Fonte,
sendo R$ 100 mil em espécie e R$ 200 mil
em doações oficiais ao diretório estadual do
Partido Progressista em Pernambuco.
Quarta-feira, 9 de maio de 2018
Audiência no
Supremo sobre
venezuelanos
A ministra Rosa Weber, do Supremo
Tribunal Federal (STF), marcou para o
próximo dia 18 de maio, sexta-feira da
semana que vem, uma audiência entre
o governo de Roraima e a União, para
tratar do pedido de fechamento de
fronteira entre Brasil e Venezuela feito
à Corte no mês passado pela governa-
dora de Roraima. Segundo a ministra,
o encontro é marcado com “vista à ten-
tativa de conciliação”.
A audiência, que deve ocorrer às 14h
no prédio do STF, em Brasília, também
contará com a presença de represen-
tante da Procuradoria-geral da Repú-
blica, que já se manifestou contrária ao
pedido do Estado.
No despacho em que intima as partes
a comparecerem à audiência, assinado
nesta segunda-feira, Rosa destaca que
o governo de Roraima se mostrou fa-
vorável à tentativa de conciliação, pro-
posta pela ministra em abril. Naquela
ocasião, Rosa concedeu um prazo de
30 dias para a União se manifestar so-
bre os pedidos do governo de Roraima
e sobre a sugestão de um eventual en-
caminhamento da ação à Câmara de
Conciliação e Arbitragem Federal da
Advocacia-Geral da União (AGU).
Na ação civil, o estado de Roraima
critica a atuação do governo federal na
crise migratória de venezuelanos e co-
bra medidas de controle. O presidente
Michel Temer já se posicionou contra
a proposta do governo. A governa-
dora, Suely Campos (PP), alega que
o cuidado com as fronteiras é de res-
ponsabilidade da União, e que o estado
se encontra sobrecarregado pelo fluxo
migratório que já levou cerca de 50 mil
venezuelanos a Roraima desde 2015.
Cármen Lúcia suspende
aumento de professores
A presidente do Supremo Tribunal Fede-
ral (STF), ministra Cármen Lúcia, decidiu,
em despacho publicado na segunda-fei-
ra, suspender um aumento do vencimen-
to inicial da carreira dos professores da
rede estadual paulista, por meio de uma
ação apresentada pelo estado de São
Paulo. A ministra deteve temporariamen-
te uma decisão da primeira instância da
Justiça de São Paulo que havia estendi-
do aos professores de todo o estado uma
parcela complementar que elevou esse
vencimento, em abril do ano passado,
até o piso salarial nacional. Segundo
Cármen, que atendeu ao pedido da pro-
curadoria-geral do estado de São Paulo,
a manutenção dessa decisão da Justiça
paulista significaria “grave risco de lesão
à ordem e à economia públicas”.
Ossos são achados em local
onde prédio desabou em SP
O Corpo de Bombeiros encontrou
fragmentos de ossos nos escombros do
Edifício Wilton Paes de Almeida, que de-
sabou há uma semana após um incêndio
no centro da cidade de São Paulo. O
anúncio foi feito ontem, pelo secretário
da Segurança Pública de São Paulo,
Mágino Alves Barbosa Filho. Segundo o
secretário, os fragmentos de ossada são
compatíveis aos de adultos e crianças
e podem ser de uma família. Entre os
desaparecidos, estão Selma Almeida
da Silva, de 48 anos, e seus dois filhos
gêmeos (Welder e Wender). Também on-
tem, foi encontrado um corpo de dimen-
sões reduzidas, que poderia ser de uma
criança - ainda que as condições não
permitam estas conclusões. Segundo os
bombeiros, os ossos devem ser de mais
de uma pessoa, pois foram encontrados
“um pouco espalhados”.
Quarta-feira, 9 de Maio de 2018 Cidade Conheça nosso site www.jb.com.br • 5

O vale-tudo referendado
Câmara diz não a veto do prefeito Marcelo Crivella a projeto que legitima lotes irregulares
Fotos de Lucas Fernandes/CMRJ

ROGÉRIO DAFLON
rogerio.daflon@jb.com.br

Sem grandes protestos de vereadores da

base da administração municipal, o parla-
mentar Chiquinho Brazão (MDB) assistiu à
maioria de seus colegas dizer um rotundo não
ao veto do prefeito Marcelo Crivella ao Pro-
jeto de Lei Complementar (PLC)174-A/2016.
Apertando fortemente a mão de quem passa-
va à sua frente no plenário, Brazão transmitia
a confiança de quem derrubou a lógica do
veto, da qual um dos argumentos é o de que
este PLC interfere numa responsabilidade do
poder executivo: o zoneamento urbano. O
PL visa legalizar lotes irregulares a partir de
sua promulgação. Apenas o Centro e a Zona
Sul não estão incluídos nas áreas do PLC do
parlamentar. A assessoria de imprensa da pre-
feitura não quis adiantar se Crivella vai levar
o caso à Procuradoria Geral do Município,
ajuizando uma ação de inconstitucionalida-
de: “A Prefeitura do Rio, assim que receber a
comunicação formal da Câmara Municipal,
irá analisar os procedimentos que serão ado-
tados sobre o caso”.
Há quem aposte que o prefeito não vai le-
var o caso à frente, porque pretende contar
com a boa vontade da Câmara Municipal
para aprovar os projetos de lei complemen-
tar 57/2018 — Lei de Uso e Ocupação do
Solo — e 56/2018 — Lei do Parcelamento
do Solo —, que propõem novas regras para
o município. Há linhas traçadas nos projetos A votação de ontem foi acompanhada por pequeno público na galeria da Câmara: expectativa é que haja um grande acordão com a prefeitura
que não convergem com as do PLC 174-A.
O regramento sobre o solo do Rio de Janeiro Divulgação

é alvo de disputa entre os poderes legislati-

vo e executivo, e sofre pressões do mercado
imobiliário e construtor.
O vereador Renato Cinco (PSOL) diz que
o PLC 174-A vai propiciar a regularização
fundiária para várias famílias de áreas da ci-
dade legitimando um mercado imobiliário
que construiu irregularmente. “O Rio tem
essa tradição de o mercado imobiliário fazer
a cidade, e depois o poder público vai lega-
lizando tudo. É uma prática ruim que nada
tem a ver com o que defendemos. A regula-
ção fundiária deve ser feita caso a caso, em
prol da cidade e da justiça social, e não em
nome de uma diretriz imobiliária”, disse o
parlamentar do PSOL.
Chiquinho Brazão pensa diferente. Para
ele, as áreas com casas não regularizadas são Brazão diz que existem mais de 50 mil irregulares Painel da Câmara com o resultado final: três vereadores mudaram de voto ontem
como uma sombra. “Nela, algum empreen-

dedor comprou um terreno e, em vez de le-
galizar, o fracionou, dizendo que a legaliza-
ção do parcelamento de solo estava por vir”,
descreveu o parlamentar. “Isso é parte de
um processo de mais de 30 anos. São sítios
e condomínios com arruamentos, muitas
das vezes respeitando as leis urbanísticas da
cidade”, afirmou Brazão. O vereador calcula
que possa haver mais de 50 mil residências
nessa situação. “Isso aumentaria a arrecada-
ção de IPTU(Imposto Predial e Territorial
Urbano)”, destaca.
O parlamentar ressalva que condomínios
ou sítios que ferem as leis ambientais e ur-
banísticas não serão legalizados. A análise
da Secretaria municipal de Urbanismo não
traz esse otimismo. Valéria Hazan, subse-
cretária da pasta, diz que o PLC só exige a
análise prévia ambiental em áreas de encosta
(acima da cota de 60 metros de altura), sem
considerar áreas planas, como as de Vargem
Grande, Vargem Pequena e Guaratiba, su-
jeitas à inundação e sem previsão de análise
ambiental prévia no PLC. A questão fundiá-
ria também é um ponto a causar apreensão,
já que muitos desses lotes irregulares foram
construídos em terrenos nos quais não se
sabe quem são os donos.
Perguntado se o PLC não pode induzir
a ação de incorporadores de construir ile-
galmente, Chiquinho Brazão transferiu a
responsabilidade à prefeitura. “Cabe ao po-
der municipal fiscalizar o solo. E, com o au-
mento do IPTU acarretado pelo meu PLC, a
prefeitura terá mais recursos para contratar
mais fiscais”, argumenta.
O tema polêmico não foi alvo de celeumas
“ “
Cabe à prefeitura
fiscalizar o solo.
Com o aumento
do IPTU acarretado
pelo meu PLC,
haverá recursos
para mais fiscais”
CHIQUINHO BRAZÃO
vereador do MDB
na Câmara. Brazão obteve o não de 31 ve-
readores ao veto da prefeitura. Apenas cin-
co votaram pelo sim: Renato Cinco (PSOL),
Babá (PSOL), Paulo Pinheiro (PSOL), Tarcí-
sio Motta (PSOL) e Reimont (PT). O aperto
de mão de Brazão foi tão convincente que
até a vereadora Luciana Novaes do PT votou
pelo não ao veto da prefeitura. O vereador
Fernando William também surpreendeu. Na
votação passada, votara não ao PLC de Bra-
zão, fazendo um discurso no qual destacava
a falta de padrão urbanístico e construtivo
de alguns condomínios. Disse à época que
esse tipo de vale-tudo incentiva empreende-
dores a atuar irregularmente. Sua contun-
Houve um loteador
que vendeu o que
não podia vender.
E há um comprador
que terá de pagar
para regularizar
sua casa”
LUCAS FAUHABER
arquiteto
dência deu lugar a um discreto não ao veto
do prefeito Marcelo Crivella.
Lucas Faulhaber, membro do Conselho
de Arquitetura e Urbanismo, diz que a dis-
cussão suscitada pelo PLC de Chiquinho
Brazão não deve perder de vista um aspec-
to: “Duas coisas devem ser bem analisadas.
Houve um loteador que vendeu o que não
podia vender. Os moradores terão de pagar
mais uma vez para poder regularizar a sua
casa”, disse o arquiteto.
A subsecretária Valéria Hazan também
aponta mais um problema: o PLC 174-A
não prevê contrapartidas pela regularização
que poderiam ser utilizadas em obras fun-
“
O Rio de Janeiro
tem essa tradição
ruim de o mercado
imobiliário fazer
a cidade, e o
poder público vai
legalizando tudo”
RENATO CINCO
vereador do PSOL
damentais a um mínimo de padrão urbanís-
tico. Assim, não há qualquer obrigação que
associe os recursos arrecadados com o paga-
mento de contrapartidas pela regularização
a obras de urbanização, infraestrutura e im-
plantação de equipamentos públicos.
Chiquinho Brazão afirma que esses con-
domínios que reivindicam a regularização
só foram construídos dessa forma pela omis-
são do poder público. E diz que o projeto
foi desenhado com a prefeitura, sobretudo
na administração passada. “Tivemos várias
reuniões na época com Sérgio Dias (um
dos secretários de Urbanismo na gestão de
Eduardo Paes)”.
6 • Conheça nosso site www.jb.com.br Cidade Quarta-feira, 9 de Maio de 2018

INFORME JB
Ex-prefeito de Cabo
Frio é investigado
MP averigua irregularidade em contrato de coleta de lixo na cidade
Jan Theophilo O Grupo de Atuação Especializada lidade do contrato foi fixada em 16 probidade administrativa.
jan@jb.com.br no Combate à Corrupção (GAECC) anos. No total, o município gastaria Alair Corrêa usou seu perfil no
do Ministério Público do Rio e a De- com o negócio R$ 768 milhões. A Facebook para se defender. “Desejo

Absurdo ecológico legacia Fazendária da Polícia Civil,

cumpriram, ontem, 17 mandados de
licitação foi suspensa e, posterior-
mente, cancelada pela Justiça a pedi-
tranquilizar os meus amigos quan-
to à visita da Polícia Civil em minha

U
m padeiro será nomeado nos próximos dias,
pelo Ministério do Meio Ambiente, diretor
de uma das mais importantes unidades de
conservação ambiental do Rio. Emerson Fernandes
de Lima, dono da Panificadora Rainha do Corumbá,
em Nova Iguaçu, vai pôr a mão na massa e será o novo
diretor da Reserva do Tinguá, que se espalha por 24
mil hectares e engloba quatro municípios da Baixada
Fluminense. A unidade guarda uma rica e única biodi-
versidade, com espécies endêmicas, como o sapo-pulga,
o menor anfíbio do mundo. O novo diretor não manja
nada de sustentabilidade. Porém, em seu currículo,
Emerson destaca a experiência como ex-assessor do
ex-vereador Marcelo Nozinho, do PROS de Nova
Iguaçu, que foi o padrinho de sua indicação junto ao
ministro Carlos Marun, que por sua vez o recomendou
ao ministro Sarney Filho. Este é apenas mais um caso
bizarro de nomeações políticas que rigorosamente não
tem relação nenhuma com a prestação de serviços à
sociedade. Mas, em ano eleitoral, vale tudo.
busca e apreensão na capital e nos
municípios de Cabo Frio, Búzios e
São Pedro da Aldeia, na Região dos
Lagos, e em Rio Bonito, no interior
do estado. Os principais alvos da in-
vestigação são o ex-prefeito de Cabo
Frio Alair Corrêa e o empresário
Osaná Socrates de Araújo Almeida.
De acordo com a denúncia, há
indícios de direcionamento ilegal
de uma licitação realizada em 2015,
quando o município de Cabo Frio
estava sob a gestão de Alair Corrêa,
para contratação de uma empresa
para coleta e destinação do lixo pro-
duzido na cidade.
O valor do serviço foi estipulado
em R$ 48 milhões por ano, e a va-
do do MPRJ.
De acordo com as investigações
do Ministério Público, as irregu-
laridades na coleta de lixo teriam
começado antes de 2015. Em 2008,
o município de Cabo Frio firmou
contrato com a empresa Dois Ar-
cos Transporte de Resíduos Sólidos
para recebimento e deposição final
de resíduos sólidos provenientes da
coleta de lixo em aterro sanitário,
com prazo de 12 meses, no valor es-
timado de R$ 3,6 milhões. O Tribu-
nal de Contas do Estado (TCE-RJ)
apontou, entretanto, uma série de
irregularidades no contrato. O do-
cumento é objeto de ação civil pú-
blica ajuizada pelo MPRJ por im-
residência nesta manhã. Aqui estive-
ram em busca de documentos sobre
a coleta de lixo na cidade nos últimos
anos. Esse processo foi iniciado em
2008, há 12 anos, no governo ante-
rior ao meu”, escreveu o ex-prefeito
de Cabo Frio.
Alair cita ainda as buscas feitas em
sua casa pelos policiais da Delegacia
Fazendária: “Nada foi encontrado em
minha casa relacionado a este proces-
so. Já estou trabalhando normalmen-
te em meu escritório”.
Até a publicação da matéria, a
Agência Brasil não conseguiu conta-
to com o empresário Osaná Socrates
de Araújo Almeida, também alvo da
ação do MPRJ. (Agência Brasil)

Tristes tempos e pastor Otoni de Paula

ABOLIÇÃO NO ARQUIVO NACIONAL
Em entrevista ontem aos (PSC) anunciou que não Thomaz Silva/Agência Brasil

jornais, o juiz Marcelo votaria a favor de dar

Bretas afirmou que nada
tem a temer, e que se for o
caso “abre mão do foro de
prerrogativa”. “Ou é igno-
rância ou falsa coragem”,
diz uma raposa felpuda do
Direito. “O foro foi criado
para proteger o cargo, e a
autoridade não pode abrir
mão dele. Triste ver um
juiz tão empoderado, que
usa a prisão preventiva
como forma de mostrar
poder se esconder atrás de
proselitismos”.
Tô fora
Lá da Câmara, Cesar Maia
mandou avisar: assuntos
relacionados a eleição não
são com ele. Cesar não
tem nem saído em agenda
com os pré-candidatos.
Preenchendo papel
Considerada pelos cientis-
tas brasileiros a maior res-
ponsável pela burocracia
que atravanca a pesquisa
nacional, a Controlado-
ria Geral da União topou
discutir o tema com re-
presentantes da área. Na
sexta-feira, o secretário de
o nome da tribuna da
Casa à vereadora Mariel-
le Franco porque o PSOL
“trabalha para bandidos”,
Brizola Neto descalçou
um pé e ameaçou dar-
-lhe uma “sapatada nessa
boca imunda”. O tempo
esquentou.
Sapatada 2
Otoni deixou o gabinete e
subiu à tribuna desafian-
do Brizola Neto. E reafir-
mou sobre o PSOL: “vai
trabalhar assim pra ban-
dido no raio que o parta”.
Não ri não, porque quem
paga isso somos eu e você.
Olhos nos olhos
Ciro Gomes e Manuela
D´Ávila, de namoro fir-
me, marcaram um novo
olho no olho para quinta-
-feira em Gramado (RS).
Nessa dança, o PT conti- Programação do 13 de maio O Arquivo Nacional inaugurou, ontem, a Exposição 130 anos da Abolição da
nua segurando a vassoura. Escravatura, que apresenta mais de 40 itens históricos referentes ao período, entre eles o original da Lei Áurea (foto),
um dos documentos que mais atraem a curiosidade dos visitantes e que foi identificado na edição de ontem do JOR-
Miau NAL DO BRASIL como sendo o da Lei do Ventre Livre, devido a um equívoco na legenda das imagens que ilustra-
Ciro Gomes, aliás, decep- vam a matéria sobre o evento, que vai até sábado, com entrada franca e variada programação de shows.
cionou algumas apoiado-
ras ao chegar para falar no
encontro da Frente Nacio-

PF apura propina na Refer

Controle, Antônio Car-
los Leonel, participará de
uma reunião na Coppe
com reitores de diversas
universidades. A burocra-
cia do governo consome
hoje 35% do tempo dos
pesquisadores brasileiros.
Sapatada 1
Falando na Câmara, mais
um exemplo do alto nível
dos nossos edis. Indig-
nado porque o vereador
LANCE LIVRE
• Brasilcap cria “Sala Inte-
ligente” no campus da Uerj
para qualificar 780 docentes
em Educação Financeira.
Ação faz parte do projeto
Educap, que será lançado no
nal de Prefeitos, em Ni-
terói. As moças acharam
visual do pré-candidato
mais barrigudinho do que
deveria para a estação.
#chatiado
Nos bastidores do encon-
tro dos prefeitos ontem,
Rodrigo Maia nem tentou
disfarçar que não gostou
nadica do encontro de
Geraldo Alckmin com Ín-
dio da Costa.
dia 16. Leonardo Martinez,
da agência V3A, participa do
evento “O Futuro é Ao Vivo”,
que discutirá os projetos de
transmissão ao vivo no Brasil,
dia 15, em São Paulo.
O Ministério Público Federal no
Rio de Janeiro (MPF-RJ), a Polícia Fe-
deral (PF) e a Superintendência Na-
cional de Previdência Complementar
(Previc) vão investigar se diretores do
fundo de pensão da Fundação Rede
Ferroviária de Seguridade Social (Re-
fer), presos na operação deflagrada
ontem, receberam propina para rea-
lizar investimentos considerados rui-
nosos, após a mudança na política de
investimentos do fundo, em 2009.
Segundo o MPF, a má gestão cau-
sou prejuízo de R$ 270 milhões ao
fundo de pensão dos empregados da
extinta Rede Ferroviária Federal.
O MPF afirma que, pelo menos, onze
investimentos foram realizados pelos in-
vestigados sem que fossem observados
os princípios de segurança, solvência,
liquidez e rentabilidade e transparência,
determinados em resolução do Conse-
lho Monetário Nacional, em 2009.
A 3ª Vara Criminal Federal decretou
quatro mandados de prisão temporária,
por cinco dias, e seis de busca e apreen-
são. Os alvos são o diretor-presidente,
o diretor-financeiro, o coordenador de
investimento e uma ex-diretora de se-
guridade. Também foi determinada a
apreensão do passaporte dos investiga-
dos, cujos nomes não foram revelados.
Medidas cautelares
Segundo o Ministério Público, as
medidas cautelares são necessárias
para que se investigue se a gestão,
classificada de temerária ou fraudu-
lenta, teve como contrapartida o re-
cebimento de propina e o desvio de
recursos do fundo para o patrimônio
particular de pessoas jurídicas benefi-
ciadas pelos investimentos.
A investigação aponta que a gestão
dos alvos da operação promoveu mu-
danças na política de investimentos
do fundo em 2009, com o objetivo de
afrouxar o processo decisório de in-
vestimentos.
A Operação Fundo Perdido ocorre
como desdobramento da Operação
Greenfield, deflagrada em 5 de setem-
bro de 2016. Na época, foram revela-
dos desvios bilionários dos fundos
de pensão, bancos públicos e estatais,
estimados, inicialmente, em R$ 8 bi-
lhões. (Agência Brasil)
Quarta-feira, 9 de Maio de 2018 Cidade Conheça nosso site www.jb.com.br • 7

Caso Marielle: cerco se fecha

Comissão externa aponta falhas nas investigações, mas diz que polícia está perto de chegar a assassinos
20.11.14/Antônio Cruz/Agência Brasil

Deputados federais da comissão exter-

na que acompanha as investigações sobre os
assassinatos da vereadora Marielle Franco
(PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes
se reuniram, ontem, com o chefe da Divisão
de Homicídios da Capital (DH—Capital), o
delegado Fábio Cardoso. Segundo Alessandro
Molon (Rede-RJ) e Jean Wyllys (PSOL-RJ), o
objetivo do encontro foi cobrar explicações das
causas do que classificaram como uma série de
“erros” nas investigações do caso.
Entre as falhas apontadas pelos parlamen-
tares, estão a falta de realização de exames de
raio-X nos corpos das vítimas, por falta de
equipamento adequado disponível; a demo-
ra na identificação de que a arma usada no
crime foi uma submetralhadora; o fato de o
carro usado pelas vítimas ter permanecido
por dias do lado de fora da DH, antes de ser
transferido para o Instituto de Criminalística
Carlos Éboli; e novos fragmentos de projéteis
só terem sido encontrados recentemente no
carro das vítimas.
Depois do encontro, que durou cerca de
duas horas, Jean Wyllys se mostrou satisfeito
com as informações que recebeu do delegado
Fábio Cardoso. Segundo o deputado, várias li-
nhas de investigação sobre o duplo assassinato
foram descartadas e o cerco aos criminosos
Jornal diz que
testemunha
acusa vereador
O vereador Marcello Siciliano (PHS) e
o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, pre-
so no ano passado, acusado de chefiar uma
milícia na Zona Oeste, tramaram a execu-
ção da vereadora Marielle Franco. É o que
afirma uma testemunha do caso, que teria
sido segurança do ex-PM, segundo infor-
mações do jornal “O Globo”.
De acordo com a publicação, a testemunha,
que inicialmente procurou a Polícia Federal,
prestou três depoimentos à Divisão de Homi-
cídios (DH) da Polícia Civil e forneceu datas,
horários e até locais de reuniões entre o verea-
dor e o miliciano. As conversas entre os dois
teriam começado em junho do ano passado,
num restaurante no Recreio dos Bandeiran-
tes. Nessa reunião, o vereador teria dito em
voz alta que tinham que ver a situação da Ma-
rielle, que o estaria atrapalhando.
Segundo depoimento do delator, que teria
O deputado federal Jean Wyllys ficou satisfeito com as informações do delegado decidido colaborar com a polícia em troca de
proteção contra ameaças de morte que teria

está “se fechando”.
Jean Wyllys disse que o delegado Fábio Car-
doso preferiu não dar prazo para a elucidação
do crime, que está prestes a completar dois
meses, sem que os assassinos ou mandantes te-
nham sido apontados. “Disse que não há prazo
e que a sociedade precisa ter paciência, porque
homicídios necessitam de uma investigação
mais rigorosa. Mas disse que, de fato, tem in-
formações suficientes para cruzar os dados e
chegar aos assassinos”, contou Wyllys.
No domingo passado, o programa “Do-
mingo Espetacular”, da TV Record, veiculou
a informação de que Marielle e Anderson não
foram mortos por projéteis disparados de uma
pistola, mas sim de uma submetralhadora. Se-
gundo mostrou a reportagem, a submetralha-
dora HK MP5 que teria matado os dois em alta
precisão e é usada somente por forças de elite
da polícia do Rio.
Câmeras desligadas e reconstituição
Apesar de o trajeto feito pelas vítimas con-
tar com câmeras de segurança, as imagens não
poderão ser usadas na elucidação do caso. Se-
gundo o jornal “Extra”, cinco equipamentos da
Secretaria de Segurança foram desligadas no
período entre 24 e 48 horas antes dos assassi-
natos. O contrato de manutenção das câmeras
havia terminado em outubro, mas elas conti-
nuaram funcionando normalmente até serem
desconectadas.
A reconstituição do crime está marcada para
amanhã, no Estácio, e contará com a presença
do secretário de segurança, o general Richard
Nunes. O objetivo é consolidar os depoimen-
tos das testemunhas do crime.
“ “
sofrido, o incômodo de Siciliano com Mariel-
le estaria ligado à expansão das ações comu-
nitárias da parlamentar na Zona Oeste e sua
crescente influência em áreas de interesse da
milícia, mas que ainda seriam controladas pelo
(O delegado) Orlando (ex-PM, tráfico, especialmente em Jacarepaguá.
Mesmo preso, o ex-PM lidera a milícia
disse que (...) a já preso, que que explora a comunidade Vila Sapê, em
sociedade precisa controla milícia em Curicica, que trava uma guerra com os trafi-
cantes da Cidade de Deus, favela que passou
ter paciência, porque Jacarepaguá) era o a ser apoiada pela vereadora, o que teria in-
comodado seu colega, que mantém parte de
homicídios precisam braço operacional seu reduto eleitoral naquela região.
“Ela peitava o miliciano e o vereador (...)
de investigação do vereador na Orlando era o braço operacional do vereador
rigorosa” Zona Oeste” na Zona Oeste. O vereador continuou a contar
com o apoio da quadrilha mesmo depois de o
JEAN WYLLYS TESTEMUNHA miliciano ser preso”, diz trecho de depoimento.
deputado federal ex-segurança do miliciano De acordo com a testemunha, a execução
foi ordenada pelo ex-PM em fevereiro, um mês
antes do atentado. O primeiro passo foi clonar
15.03.17/Renan Olaz/CMRJ
um carro para usá-lo no crime. Depois, um ho-
mem identificado como Thiago Macaco foi en-
carregado de mapear os hábitos da vereadora,
como os lugares que frequentava e os trajetos
que fazia ao sair da Câmara. A testemunha for-
neceu ainda nomes de quatro homens que te-
riam sido convocados a participar da execução.
Todos estão sob investigação policial.
O ex-PM foi preso em outubro do ano pas-
sado, numa operação da Delegacia de Repres-
são às Ações Criminosas Organizadas e Inqué-
ritos Especiais (Draco-IE) e da Coordenadoria
de Recursos Especiais (Core).
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o verea-
dor Marcelo Siciliano negou as acusações e dis-
Marcello Siciliano na tribuna da Câmara: delator diz que vereador está envolvido se que a notícia é mentirosa.

Estado lança Jovem
Aprendiz no Teatro
A Secretaria Estadual de Educação
e a Secretaria Estadual de Cultura,
com apoio do Ministério do Trabalho
e do RioSolidario, firmarão uma
parceria pioneira com os institutos
Arcadia e Invepar e com o MetrôRio
para oferta de Cursos de Apren-
dizagem e Formação Profissional
em Teatro direcionados a alunos
de escolas públicas e adolescentes
que cumprem medidas socioedu-
cativas. Além da capacitação, os
jovens terão a Carteira de Trabalho
assinada e receberão salário por
meio do Projeto Jovem Aprendiz
em um projeto pioneiro no país. O
lançamento do projeto hoje, às 10h,
na Casa de Cultura Laura Alvim.
Vândalos incendeiam
terreiro de candomblé
O Centro Espírita Caboclo Pena Bran-
ca foi alvo de intolerância religiosa
na madrugada de ontem, em Nova
Iguaçu, na Baixada Fluminense. O
terreiro de candomblé foi totalmente
destruído pela ação de vândalos, que
atearam fogo nas instalações, depre-
daram os orixás e deixaram palavras
pichadas nas paredes, como “Não
queremos macumba aqui” e “Fora
macumbeiros. O centro está insta-
lado há 15 anos no bairro de Cabu-
çu. O pai de santo Sérgio Malafaia
d’Ogum relatou que uma vizinha viu
o terreiro pegando fogo e chamou
o Corpo de Bombeiros, mas quando
as equipes chegaram o terreiro já
estava totalmente destruído.
Polícia procura quadrilha
que rouba usando facas
A Polícia Civil está buscando
informações que levem à prisão
de três suspeitos de integrar uma
quadrilha especializada em roubos
com o uso de facas, na região de
Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. O
Disque Denúncia oferece recom-
pensa de R$ 1 mil por informações
que levem à prisão dos três. Eles
foram reconhecidos por várias
vítimas de assalto em Vila Isabel e
nos bairros vizinhos do Andaraí e
Maracanã. Contra Edimar da Con-
ceição Barreto, de 26 anos, Hilton
Marcos Noschang da Costa, de 20
anos, e Marcelo Veríssimo Pedrosa,
de 35 anos, há mandados de prisão
pelo crime de roubo majorado.
PM faz operação na Cidade
de Deus pelo 6º dia seguido
Policiais do 18º Batalhão da Polí-
cia Militar (Jacarepaguá) fizeram
ontem, pelo sexto dia consecutivo,
operação na Cidade de Deus, a
procura dos assassinos do capitão
da PM Stefan Contreiras, morto a
tiros na quinta-feira passada por
dois homens que tentaram roubar
a moto do militar. No dia da morte
do oficial, a PM fez uma grande
operação na favela, que resultou na
morte de quatro pessoas e feri-
mentos em outras três. Durante a
ação, a Linha Amarela, via expressa
que liga a Barra da Tijuca à Ilha do
Governador, no outro extremo da ci-
dade, foi fechada por cerca de duas
horas, por medida de segurança.
Portal busca informações
sobre caso Matheusa
O Portal dos Procurados divulgou,
ontem, um cartaz para pedir infor-
mações sobre a morte da estudan-
te Matheus Passarelli, assassinada
no último dia 29 após uma festa no
Morro do Dezoito, na Zona Norte
do Rio. A universitária, que se
identificava como uma pessoa de
gênero não-binário (nem masculino
nem feminino), com o nome de
Matheusa, cursava Artes Visuais
na Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (Uerj) e foi considerada
desaparecida por cerca de uma
semana. A morte foi confirmada
nesta segunda-feira pela Polícia
Civil, que apura em sigilo as cir-
cunstâncias do crime.
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Vice-Presidente Editorial
Gilberto Menezes Côrtes
Presidente: Omar Resende Peres | Conselheiros: Gilberto Menezes Côrtes - René Garcia Jr - Octávio Costa - Wilson Cid - Hildeberto Aleluia
Acenos ao centro
O presidente Michel Temer não produziu surpre-
sa aos meios políticos, quando manifestou simpatia à
construção de uma alternativa de centro, a ser ofere-
cida ao eleitorado, que vai caminhando para as urnas
de outubro. Ele não censura o desejo de direita e es-
querda terem propostas próprias, mas não invalida, até
mesmo estimula, o direito de o voto situar-se entre as
forças políticas postas nos extremos. Tratando-se dele,
registre-se a ressalva de que a possibilidade de se valer
dessa simpatia para disputar a reeleição fica transferida
para julho, quando saberá se é possível reverter o qua-
dro de hoje, em que sua candidatura esbarra em pálida
presença nas pesquisas de tendências.
Mas ele também transita, de passagem, pelo desa-
fio de definir, com substância, o que é ou o que deve
ser um projeto político de centro, tarefa em que outros
políticos têm preferido flutuar, procuram desviar-se,
como já se disse, semanas atrás, neste espaço. Na maio-
ria das vezes, os adeptos se satisfazem em condenar,
igualmente, esquerda e direita, sem propor, com cla-
reza, como desconstruí-las, mesmo se, em sua defesa,
adotem a ideia de que elas se igualam no ódio à demo-
cracia, segundo a lição de Norberto Bobbio, este que é
hoje o astro nas citações dos juristas. Mas nem o pen-
Por uma agenda mínima para a saúde
PAULO MARCOS SENRA SOUZA*
Estamos a cerca de 20 semanas das eleições para presi-
dente da República, governadores e legisladores. Eleições
que ocorrem em um ano no qual há importantes marcos na
área de saúde: 30 anos da Constituição que definiu a saúde
como um dever do Estado e um direito do cidadão; 30 anos
da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), e, que poucos
sabem, é considerado o maior sistema público e universal de
saúde do mundo; e 20 anos da lei 9656/98, que regulamen-
tou os planos de saúde e abriu caminho para a criação da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Chegou a hora de escolhermos candidatos que tenham
uma agenda mínima para a saúde que desejamos – um cho-
que de gestão a partir da implantação um sistema de infor-
mação moderno, barato, universal e de fácil implementação,
aproveitando tudo que existe, inclusive o blockchain e a in-
teligência artificial (soluções mais confiáveis para identificar
paciente e compartilhar informações), poupando os custos
astronômicos do cartão de saúde.
Um sistema de informação discutido há mais de 20 anos
sem ser implementado, e que atribuirá a todo brasileiro, des-
de seu nascimento, dados e acesso à rede de saúde (pública
ou privada) mais próxima à sua residência, com um conjun-
to de direitos, ações, prestações e deveres definidos. As infor-
mações compartilhadas com os profissionais e unidades de
Editores
• Política/Nacional: Octávio Costa | octavio.costa@jb.com.br
• Cidade: Clóvis Saint-Clair | clovis@jb.com.br
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Opinião
Fundado em 9 de abril de 1891
Diretor-Presidente
Omar Resende Peres
Diretor de Redação
Toninho Nascimento
CONSE LHO E DIT ORIAL
EDITORIAL
sador italiano ensinou o que colocar no lugar do ódio
dos extremistas. Temer também não tem a receita.
No Brasil não faltaram simulacros, em todos os
tempos em que esteve em moda discutir algo atraen-
te para o caminho do meio no pensamento político;
ainda que diante das muitas rotas políticas indefinidas,
que vieram após o Estado Novo varguista. Propostas
e sugestões direcionadas a partidos e candidaturas de
centro nem havia faltado na célebre reunião da Rua
Raul Pompeia, em junho de 1945, quando nasceu o
pessedismo, escola manhosa e folclórica do raposis-
mo. Benedito Valadares, Agamenon Magalhães, Mar-
condes Filho levantaram a bandeira que, colocada
no mastro, revelou nada ter de centrismo. Nada teve
e nada disse, a começar pelo nome daquele que seria
o predecessor do PSD: Partido Nacional Democrático
Republicano. O óbvio, pois estranho seria se fosse par-
tido estrangeiro, sem democracia e fora da república...
Pois, desde ali, a ideia de centro já vinha confusa, alei-
jada, sem definições, tal como hoje.
A bem da verdade, tentativas mais sérias houve, em-
bora em nada contribuíssem para organizar algo que
não oferecesse apenas uma guilhotina para as militân-
cias de esquerda e de direita. Nem seria exceção o ta-
“
Além de aumentar o volume
de recursos, temos que fa-
zer guerra ao desperdício e
focar na eficiência do setor”
saúde, sem identificação do usuário, vão formar uma base
de dados que possibilitará a todos os participantes do ecos-
sistema conhecer as reais necessidades, demandas, consumo
e gastos em saúde. O que resultará em melhor planejamento
e alocação mais eficiente de recursos no setor.
Ao mesmo tempo, precisamos atender às demandas do
envelhecimento da população, bem como criar um pro-
cesso ativo para a prevenção dos fatores de risco, como o
tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, estresse laboral, aci-
dentes de trânsito e violência. No âmbito do acesso, pre-
cisamos desenvolver e implantar vínculos dos cidadãos
aos programas de saúde da família e à atenção primária,
incluindo telemedicina, teleconsultas, telemonitoramento,
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• Editor de arte: Ricardo Gomes | ricardo.gomes@jb.com.br
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Quarta-feira, 9 de maio de 2018
Vice-Presidente Administrativo
Antonio Carlos Mello Affonso
lento de Tancredo Neves, que preferiu adotar um viés
pouco pragmático, mas uma elaboração romântica.
Para ele, o centro devia se caracterizar e propugnar por
algum programa que assim se organizasse: moderação
sem covardia, sabedoria sem presunção, austeridade
sem malícia e tolerância sem pusilanimidade. Uma for-
mulação simpática, mas fluida e etérea, quando já se es-
perava um ideário político concreto. Pois, tanto tempo
passou, e o velho político mineiro, antes que descesse
em mortalha a rampa do Planalto, não havia retratado
o suficiente; nem mesmo ele, dono de um perfil que se
formou no horror a todo tipo de radicalização.
De volta ao presidente Temer, que provocou o as-
sunto, sendo ou não candidato a um mandato próprio,
diferentemente do atual, que é um mandato comple-
mentar. Definido como político avesso aos extremos e
exercendo o comando de um grande partido, bem que
poderia elaborar o breviário sobre direitos e deveres de
uma nova organização política que, sem ceder ao ape-
lo às indefinições e ao conforto das oposições mera-
mente formalistas, oferecesse um norte para o confuso
momento nacional que vivemos. Sim, exatamente ele,
que está no comando de uma nação ávida, não apenas
de novidade, mas, principalmente, de inovações.
reduzindo deslocamentos e carências de especialistas num
país de dimensões continentais.
Quanto ao financiamento, além de aumentar o volume de
recursos, temos que fazer guerra ao desperdício e focar na efici-
ência do setor. Garantir a proposta popular dos 10% da Receita
Corrente Bruta da União para o setor de saúde e a autonomia
de gestão em todos os níveis das redes de saúde, com incenti-
vos para a desospitalização e a profissionalização do cuidado;
criar uma política de remuneração associada ao desempenho,
que remunere não o ato médico, mas as linhas de cuidado.
Também criar redes assistenciais responsáveis e integra-
das de saúde, regionalizadas, com foco no paciente, garan-
tindo a continuidade do acesso a todos os níveis da rede de
serviços (do médico de família ao hospital), com respostas
adequadas às necessidades do paciente em todos os âm-
bitos de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação.
Melhorar as estratégias existentes de assistência farmacêu-
tica de forma a garantir as medicações de uso contínuo
para todos os pacientes. Finalmente, fortalecer, moderni-
zar e profissionalizar a Agência Nacional de Saúde Suple-
mentar (ANS) e fortalecer a participação social, através de
mecanismos de controle e de avaliação da satisfação dos
usuários. Essa é a saúde possível para o Brasil.
* Médico, conselheiro do Instituto
Latino-Americano de Gestão de Saúde
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Quarta-feira, 9 de maio de 2018
Política como exigência da fé
CHICO ALENCAR*
A primeira entidade de nível nacional
que se manifestou oficialmente sobre as
eleições de outubro próximo foi a Con-
ferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), reunida na sua 56ª assembleia
geral, em abril.
Na linha do papa Francisco, que quer
uma Igreja Católica despojada e inserida
no mundo, a CNBB fixou diretrizes impor-
tantes em seu documento “Compromisso e
esperança”, dirigido ao povo brasileiro. Se
todas as pessoas de boa vontade, religiosas
ou não, as seguirem, as urnas impulsiona-
rão mudanças importantes no Brasil.
A CNBB lembra que nenhum cristão
pode desconhecer “a dimensão política da
fé”, sendo alienado: “a razão da verdadeira
política é a construção do bem comum”. A
Igreja “não pode nem deve ficar à margem
da luta pela justiça”. Esta remete à opção pre-
ferencial pelos pobres e excluídos: “sem tirar
os pés do duro chão da realidade, somos mo-
vidos pela esperança, que nos compromete
com a superação de tudo o que aflige o povo”.
O episcopado reconhece a “aguda crise
que abala fortemente as estruturas demo-
cráticas do país”. Menciona um “cenário
desolador”, marcado por:
1- corrupção de agentes públicos e pri-
vados, com “raízes cada vez mais alastra-
das e profundas”;
2- aumento do desemprego, da pobreza
e dos que vivem em situação de vulnerabi-
lidade;
3- crescimento da violência no campo
e na cidade, que ceifa vidas – “sobretudo
de mulheres, pobres, jovens, negros e in-
dígenas”;
4- retirada de direitos e conquistas sociais;
5- carência de políticas públicas consis-
tentes;
6- discursos e atos de intolerância e de ódio;
Qual o real valor da
Educação, Ciência e Tecnologia?
WANDERLEY DE SOUZA*
Vivemos tempos de ajuste fiscal quando
a atitude que vem imperando é a mais sim-
plista: fazer cortes orçamentários lineares.
Neste momento, é fundamental refletirmos
sobre as conseqüências de reduzir os orça-
mentos destinados às áreas de Educação,
Ciência e Tecnologia. Afinal, todas as deci-
sões tomadas hoje têm reflexos de curto e
médio prazos que influenciam a posição que
o país ocupará no cenário internacional. Ou
apostamos em que essas áreas vão permitir o
nosso crescimento econômico e social sus-
tentável ou vamos continuar perseguindo o
sonho explicitado por Stefan Zweig de que
somos “o país do futuro”.
Inicialmente, imaginei ser desnecessário
incluir neste artigo qualquer comentário
sobre o papel da educação. No entanto, no
momento, a maioria das universidades pú-
blicas não consegue fechar as contas a cada
final de mês. Em outras, as dificuldades são
maiores interferindo mesmo no pagamento
do salário de seus servidores. Logo, nosso
radar precisa estar focado neste setor, sendo
necessário conscientizar a sociedade sobre a
importância de continuarmos investindo em
educação e em todos os níveis. Cabe sempre
lembrar que as universidades são as princi-
pais responsáveis pela formação dos quadros
mais especializados e que atuam em todos os
setores da sociedade. É ainda responsável
pela maior parte da produção científica do
país. Sua presença interfere de forma absolu-
ta no perfil econômico da cidade onde se en-
Opinião
7- “economia que submete a política
aos interesses do mercado”.
Para a CNBB, as eleições deste ano, re-
alizadas com lisura, “dentro de princípios
democráticos e éticos (...), têm sentido
particularmente importante e promissor”
para a superação “da crise institucional
vigente”. E para evitar a “judicialização da
política e a politização da Justiça”. Alerta
para as fake news, “já presentes nesse perí-
odo pré-eleitoral”.
Os bispos reconhecem a importância
do voto, “embora este não esgote o exer-
cício da cidadania”. E exortam a cidadania
a “acompanhar os eleitos e participar efe-
tivamente da construção de um país justo,
ético e igualitário”.
Para a escolha consciente do(a) elei-
tor(a), a CNBB aponta critérios claros:
1- “conhecer e avaliar as propostas e a
vida dos candidatos, identificando os inte-
resses subjacentes a cada candidatura”;
contra. Basta comparar o perfil econômico
de cidades como Campinas, Campina Gran-
de, São Carlos e Viçosa, antes e depois da
presença das suas universidades. Em muitas,
a universidade tem mais impacto econômi-
co na cidade do que o poder público.
Em relação à pesquisa científica e tecno-
lógica, a situação vem se deteriorado com
grande velocidade. Isso, apesar do empenho
constante das várias entidades que atuam na
área, tendo à frente a Academia Brasileira
de Ciências e a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência, bem como de todas as
autoridades que integram o Ministério de Ci-
ência, Tecnologia, Inovação e Comunicações.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, principal instru-
mento de apoio à infraestrutura científica do
país, tem um orçamento baseado na captação
de recursos oriundos da atividade econômi-
ca, fora do orçamento do Tesouro. A captação
prevista para 2018 é de R$ 4,6 bilhões, mas so-
mente 25% desse valor serão disponibilizados
para apoio a projetos da área. Esses recursos
não permitirão a necessária modernização
da infraestrutura científica brasileira, nem o
reparo e manutenção dos equipamentos exis-
tentes, frutos de um investimento nos últimos
13 anos de cerca de R$ 4 bilhões.
Neste momento é fundamental que ocorra
a imediata disponibilização do que o FNDCT
arrecada, liberando os recursos aprovados pelo
Congresso Nacional e inscritos no orçamento
como “Reserva de Contingência”. Por outro
lado, há reinvindicações crescentes do setor
produtivo no sentido de que o FNDCT finan-
Conheça nosso site www.jb.com.br
Gabriel Souza
2- não votar naqueles “que se rendem
a uma economia que coloca o lucro acima
de tudo e não assumem o bem comum
como sua meta”;
3- não eleger “os que propõem e defen-
dem ‘reformas’ que atentam contra a vida
dos pobres e sua dignidade”;
4- não sufragar os “que se deixaram
corromper pelo poder político e econô-
mico (...) e que buscam foro privilegiado e
outras vantagens”;
5- aprovar os que, buscando eleição ou
reeleição, “honraram o exercício da políti-
ca” e, como exorta o papa Francisco, “não
se deixam intimidar pelos grandes pode-
res financeiros e midiáticos”.
Com a palavra (e o voto), Sua Excelên-
cia, o(a) eleitor(a).
* Professor de História, escritor e
deputado federal (PSOL/RJ)
cie projetos tecnológicos relacionados com as
áreas finalísticas dos vários fundos setoriais.
Por último, cabe enfatizar que o cresci-
mento econômico em um mundo altamente
competitivo depende da capacidade do setor
produtivo de inovar, criando novos produtos
e processos. Para que tal ocorra é fundamen-
tal que haja uma forte interação entre o setor
acadêmico e o setor produtivo. A Finep vem
procurando atuar para que essa integração se
concretize. Alguns setores da economia bra-
sileira já sentiram o impacto positivo de uma
associação real com as instituições geradoras
de recursos humanos altamente qualificados,
bem como de novos conhecimentos.
Tradicionalmente citamos como exem-
plos o complexo aeronáutico, liderado pela
Embraer; e o complexo agropecuário, lide-
rado pela Embrapa e toda a cadeia produti-
va que tem forte impacto nas nossas expor-
tações. Como exemplo mais recente merece
destaque o impacto das pesquisas realiza-
das em várias universidades brasileiras em
associação com o Centro de Pesquisas da
Petrobras e que levaram, em um período
relativamente curto, à descoberta e à utili-
zação econômica do chamado pré-sal, hoje
responsável por mais de 50% da produção
de petróleo no Brasil. Os resultados econô-
micos desses investimentos, aparentemente,
não são levados em consideração pelos for-
muladores da nossa política econômica.
* Professor titular da UFRJ; membro da
Academia Brasileira de Ciências; diretor de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep
• 9
O sonho de
Descartes
MAIRA MONTEIRO FRÓES*
Penso, logo existo. Princípio primeiro
dentre os princípios assinados indelevelmen-
te por Renée Descartes (1596 – 1650) em sua
obra seminal “Princípios Filosóficos”, essa
pequena sentença validaria historicamente
o processo de pensamento como garantia de
existir na realidade do mundo, e, portanto,
de acesso à verdade. O pensamento, para
Descartes, se confundia com a dúvida, que
chamaria o sujeito à razão e assim o coloca-
ria em condições de selecionar objetivamen-
te uma dentre múltiplas possibilidades de
explicar os fenômenos e as coisas do mundo,
suas ordens de estruturação, suas leis imutá-
veis. Firmava-se, assim, a grande revolução
na história do conhecimento humano.
Se pararmos um pouquinho para refletir so-
bre essa proposta, perceberemos em Descartes
uma preocupação com a contradição entre a
fluidez do imaginário, típica do pensamento e
necessária à formulação de explicações sobre o
mundo, e a presumível rigidez das leis físicas
que regeriam a estrutura e o funcionamento
deste mesmo mundo, garantindo-nos a pre-
visão de resultados físicos a partir de relações
de causa e efeito. Descartes, então, identificou
a dúvida como um modo de pensamento que
resolveria esse impasse. Surpreendentemen-
te, essa conclusão visionária, resumida, hoje,
como pensamento cartesiano, teria surgido a
partir da interpretação simbólica que Descar-
tes teria feito de uma sucessão de três sonhos,
conforme relatado por seu biógrafo Adrien
Baillet (1649-1706).
Nos sonhos de Descartes (como nos nossos),
a dúvida estaria ausente; as situações que, se
vividas em estado acordado, figurariam como
absurdas, eram percebidas sem contestação de
coerência durante o sonho, pois confirmadas so-
mente pelos sentidos, estranhamente ativos no
imaginário da consciência de sonho, enquanto
a razão crítica permaneceria adormecida. Des-
cartes, então, associou a capacidade de duvidar
à certeza de estar acordado. Uma vez acordados,
estaríamos mergulhados na realidade física e,
portanto, disporíamos de meios para checar ra-
cional e objetivamente a validade de nossas teo-
rias sobre as verdades, que imaginamos, estrutu-
rariam nosso mundo. O pensamento ancorado
na dúvida, e não na possibilidade ilusória dos
sentidos, figuraria como sistema básico de razão
aplicada à revelação de verdades do mundo. Um
abismo entre sujeito e objeto, corpo e mente, ra-
zão e afeto/emoção/estética se abriria desse mo-
mento em diante.
Quase quatro séculos mais tarde, o que a ci-
ência tem a dizer sobre o equívoco dos sentidos
e a independência da mente? Afinal, que pen-
samento de razão é esse que experimentamos
quando estamos acordados? Paradoxalmente,
o avanço das ciências experimentais, sobretu-
do das neurociências, que passaram a debru-
çar-se sobre nossos sujeitos humanos, vem
determinando, de forma emblemática o fim do
dualismo cartesiano com a constatação de que
o corpo, e os sentidos, incorporam a mente.
Paulatinamente, nos vemos forçados a
abandonar a dicotomia razão/afeto diante das
evidências experimentais de que nossas abstra-
ções mentais são propriedades funcionais de
nossos corpos. Pensamentos e sentidos não se
definiriam como processos independentes, au-
tônomos, de uma máquina humana, mas sim
aspectos naturalmente indissociáveis de nossa
experiência de mundo, indissociabilidade esta
que se reafirma cientificamente em níveis que
vão das células ao comportamento humano.
Historicamente classificados como recur-
sos rejeitáveis no fazer científico, os atributos
ditos subjetivos de nosso acesso à realidade
física de mundo, marcados por aspectos de
processamento consciente e não conscien-
te, estão à nossa disposição como recursos
axiais da imaginação criativa na ciência. Re-
velam-se frequentemente como catalisado-
res do fazer científico.
Nossa ciência é sensível pela condição ines-
capavelmente humana que a sustenta. E isso
não deve nos surpreender. Não nos esqueça-
mos que a ciência, como a entendemos hoje,
nasceu de sonhos, dos sonhos de um homem,
a ciência dos sonhos de Descartes.
* Professora associada da UFRJ
10 • Conheça nosso site www.jb.com.br Economia&Negócios Quarta-feira, 9 de maio de 2018

Justiça pode vetar reajuste

Defesa do Consumidor pede suspensão de reajuste, nova fórmula e indenizações de planos de saúde
GABRIEL VASCONCELOS
gabriel.vasconcelos@jb.com.br
MUITO ALÉM DA INFLAÇÃO
O Instituto Brasileiro de Defesa do Con-
sumidor (Idec) pediu, ontem, a suspensão 16
temporária do reajuste máximo que os 13,55 13,57 13,55
14
planos de saúde individuais e familiares
poderão adotar nos próximos 12 meses. 12 9,65
Apoiada em parecer do Tribunal de Con- 10 9,04
tas da União (TCU) de 2015, mas divul- 7,93
8
7,69
gado apenas em março deste ano, a ação 6,76 6,73
5,76 5,48 8,17 9,28
acusa a Agência nacional de Saúde (ANS) 6
de cometer irregularidades sistemáticas 6,57 6,49 6,28
no cálculo dos aumentos há pelo menos 4 5,53 5,26 5,10
5,04
nove anos. 2 3,00 4,08
A agência reguladora nega as acusações.
0
Entretanto, as altas que chancelou no pe-
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
ríodo descolaram da inflação oficial. No
ano passado a alta permitida até abril úl-
timo foi de 13,55%, enquanto o IPCA au- IPCA ANO (MAIO A ABRIL) ÍNDICE REAJUSTE ANULA ANS
mulado no período ficou em 4,08%, uma
discrepância superior a nove pontos per-

centuais.
As falhas listadas na Ação Civil Públi-
ca (ACP) vão desde a duplicação de fa-
tores do cálculo até a falta de verificação
dos custos declarados pelas empresas, que
subsidiam a conta. Para definir a alta dos
planos singulares, desde 2001, a ANS uti-
liza uma média do aumento registrado pe-
los planos coletivos — aqueles com mais
de 30 contratantes. O Idec argumenta que
os preços desses pacotes grupais não so-
frem regulação e, ainda que a ANS exclua
os aumentos extremos, o índice final dos
planos individuais acaba inflado.
Além disso, desde 2009, passou a in-
cidir no reajuste dos planos individuais
o impacto de novos procedimentos obri-
gatórios, que o TCU chamou de “fatores
exógenos”, adicionados anualmente. “O
problema é que o custo com estes novos
serviços já está embutido no aumento dos
planos coletivos. Então, no cálculo atual
esse valor é repassado duplamente ao
cliente individual”, explica Ana Carolina
Navarrete, advogada do Idec.
Cerca de 47,6 milhões de pessoas têm
planos de saúde no Brasil. Dessas, 9,34
“
milhões (20%) contratam serviços in-
dividuais ou familiares. “Questionamos
a fórmula do reajuste há mais de quinze
No cálculo atual, o anos. Mandamos ofícios, participamos de
audiências e nada mudou. Então só nos
custo dos planos restou a via judicial”, argumenta Navarre-
te. Uma saída aceitável, segundo ela, seria
com novos serviços amarrar o reajuste deste ano ao IPCA até
que o cálculo seja aperfeiçoado e, nos três
já está embutido anos seguintes, descontar das mensalida-
des os eventuais abusos do passado. Mais
no aumento dos do que isso, diz, poderia quebrar as ope-
planos coletivos. radoras.
Procurada, a ANS informou que não
Então, esse valor foi notificada sobre a ação e negou que o
acórdão do TCU aponte ilegalidades. O
é repassado relatório do Tribunal, no entanto, cita uma
reunião em março de 2013, na qual os
duplamente ao técnicos da agência teriam reconhecido a
cliente individual” dupla contabilização, no cálculo, da atua-
lização da carta de serviços obrigatórios.
ANA CAROLINA NAVARRETE Historicamente, o aumento permitido
advogada do Idec pela ANS é divulgado todo início de maio.
Desta vez, porém o anúncio foi prorro-
gado e deve ser divulgado até junho. Se-
gundo rumores de mercado, o rejuste deve
ficar na casa dos 13%, repetindo as altas
registradas desde 2015, quando a taxa pu-
lou de 9,6% para 13,5%. A ANS informou
“se tratar de especulação” e disse que o ín-
dice está em apreciação pelo Ministério da
Fazenda.
Judicialização como saída
A estratégia do Idec de acionar a jus-
tiça contra a ANS pode ser bem suce-
dida. Em 2017, um levantamento do
próprio instituto revelou que 75% dos
clientes que entram na Justiça questio-
nando o aumento de seu plano, conse-
guem suspender o reajuste. No univer-
so dos que venceram suas causas, 56%
receberam o valor que pagaram a mais
e 26% conseguiu a reversão do aumen-
to em primeira instãncia, sem precisar
buscar o ressarcimento. A pesquisa ana-
lisou as decisões de tribunais de segun-
da instância em 10 estados do país e do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) entre
os anos de 2013 e 2017.

Mensagens dos leitores

As cartas, contendo telefone e endereço do autor devem ser dirigidas à redação do JORNAL DO BRASIL, Avenida Rio Branco, 157 - CEP: 20040-006 ou pelo e-mail: cartas@jb.com.br

AGROTÓXICOS
Já sabemos que o Brasil é
o maior consumidor de
agrotóxicos do planeta,
informa a Associação Brasileira
de Saúde Coletiva. Mas a
bancada ruralista ainda acha
pouco e deseja aprovar um
projeto de lei que afrouxa
o controle sobre o uso de
pesticidas.
O texto vai ser votado por
uma comissão especial da
Câmara dos Deputados. A
proposta original é do senador
Blairo Maggi (PR), ferrenho
adversário dos ambientalistas,
e atual ministro da
Agricultura.
A fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) alerta que a
mudança da lei pode causar
“prejuízos incomensuráveis”.
As denúncias, lógico, parecem
não impressionar os ruralistas,
os grandes interessados na
aprovação do projeto. Faz-se
necessária uma forte reação da
sociedade contra esta aberração
que agride o meio ambiente e
afetará gravemente a saúde da
população.  centuais elevados de dependen-
Elzi de Barros
Rio de Janeiro
LIBERDADE DE IMPRENSA
Nada de novo no front sobre o
fato do Brasil se encontrar em
102º lugar no ranking da liber-
dade de imprensa, conforme no-
ticiado no JB (8/5). É resultado
do menosprezo cultural da classe
política, em especial aquela liga-
da ao poder econômico.
As fake news das redes sociais
apenas corroboram os antolhos
que milhões de brasileiros usam
por ignorância ou falta de opção.
O combate à violência contra
os profissionais de imprensa
deve ser uma busca constante
dos meios de comunicação e
dos políticos sérios que tenham
por objetivo a informação com
qualidade para o público formar
a sua própria opinião. Isso é
democracia. Sugiro o nome do
cinegrafista Santiago Andrade para
batizar este movimento.
Celso Costa Pinheiro
Rio de Janeiro
COMBATE ÀS DROGAS
Está mais do que na hora de
discutirmos a atual legislação
antidrogas. Além de levar per-
tes às prisões, que permanecem
presos sem julgamento por anos
a fio, esta postura legal estimula,
segundo especialistas, a lucra-
tividade do tráfico de drogas,
com consequências que todos
conhecem.
Exemplos de outros países que
alteraram a política de crimina-
lização repressora - a chamada
guerra perdida - devem servir
de exemplos para que mudemos
tal filosofia, rumo a um comba-
te eficaz da violência, que esta
criminosa atividade produz no
Brasil como um todo.
José de Anchieta Almeida
Rio de Janeiro
INCÊNDIO DO PRÉDIO
Este desmoronamento do prédio,
em São Paulo, é o retrato atual
do nosso Brasil brasileiro. Todo
mundo sabia de tudo que ocorria
no edifício. Foram feitas visto-
rias, laudos técnicos, memoran-
dos e diversos ofícios correram
nas repartições responsáveis.
Tudo foi esquecido. Pegou fogo,
desabou,  morreram pessoas. Aí
ninguém sabe de nada, ninguém
viu nada. Todos os envolvidos
são inocentes, quem recebia
aluguel faz filantropia.
Teresa Abreu de Almeida  para as petroleiras estrangeiras
Rio de Janeiro
FORO PRIVILEGIADO
O STF conseguiu confundir,
mais uma vez, nesta questão do
foro privilegiado. Piorou o que já
era ruim. O STF como guardião
da Constituição, descumpriu
o artigo 102, alínea b, que fala
sobre a competência do Supremo
Tribunal Federal em “processar
e julgar, originariamente, nas
infrações penais comuns, o Pre-
sidente da República, o Vice-Pre-
sidente, os membros do Con-
gresso Nacional, seus próprios
ministros e o Procurador-Geral
da República.”
Não há nenhuma referência ao
momento em que foi cometido
o delito, se antes ou durante o
exercício do mandato. E agora?
Por que tomar decisões que des-
respeitam a Constituição?
Panayotis Poulis  educação, da saúde, dos trans-
Rio de Janeiro
PETRÓLEO
Sobre a matéria publicada no JB
(7/5), sabemos que a Medida Pro-
visória 795/17, que dispõe sobre
as atividades de exploração de
petróleo, abriu mão de 50 bilhões
por ano, com as isenções fiscais
explorarem o nosso pré-sal.
Foi para isso que fizeram um
acordo com o Supremo e deram
o golpe em 2016? Com a palavra
os paneleiros, que já não batem
mais as panelas!
Celso Costa Pinheiro
Rio de Janeiro
APLICAÇÃO DAS LEIS
No Brasil, só vão diminuir os
índices pavorosos de corrupção,
quando as leis impedirem os
usurpadores do dinheiro público
de ocuparem cargos em qualquer
um dos poderes – Executivo,
Legislativo e Judiciário. Tudo de
maneira célere, de modo a não
proporcionar mais privilégios.
Hoje eles estão imunes às leis,
protegidos por juízes de instân-
cias superiores. E continuam a
roubar o dinheiro que seria da
portes e da segurança.
João Direnna
Quissamã-Rio de Janeiro
NOTA DA REDAÇÃO
Em matéria sobre a Eletrobrás
(JB, 6/5) o nome do senhor
João José Abdala é associado ao
banco Máxima. Ele é do banco
Clássico.
Quarta-feira, 9 de maio de 2018
Maccri joga
a toalha e
vai ao FMI
Reservas caíram a US$ 26 bilhões;
Brasil tem US$ 230 bilhões em reservas
Em meio a turbulências que desvalo-
rizaram o peso em quase 5% na última
semana. o governo da Argentina deci-
diu ontem voltar a recorrer ao Fundo
Monetário Internacional (FMI), 15 anos
depois, para equilibrar a situação finan-
ceira do país. O anúncio foi feito pelo
presidente argentino, Mauricio Macri,
há mais de dois anos no cargo, em pro-
nunciamento televisionado. Fontes ex-
traoficiais estimam uma linha de crédito
de até US$ 30 bilhões.
O peso, que chegou a perder 4,61%, re-
verteu a queda para apenas 2,66% após o
anúncio de Macri, e fechou a 22,94 ante
o dólar. No último mês, a depreciação foi
de mais de 10%, apesar de o Banco Cen-
tral ter vendido US$ 8 bilhões de suas
reservas e elevado a taxa de juros básica
a 40%. As reservas do país caíram para
pouco mais de US$ 26 bilhões.
“Há minutos falei com Christine La-
garde, diretora do FMI, e ela confir-
mou que começaremos hoje mesmo a
trabalhar em um acordo”, disse Macri,
em anúncio surpresa depois de o Banco
Central da República Argentina ter su-
bido a sua taxa básica de juros três ve-
zes seguidas em menos de oito dias, de
27,25% - que vigorava desde 24 de outu-
bro - para 40% na última.
Único caminho
“Estamos recorrendo ao único cami-
nho possível para sair da estagnação,
buscando evitar uma grande crise eco-
nômica que nos faria retroceder e pre-
judicaria a todos”, acrescentou Macri. A
linha de apoio financeiro poderá chegar
aos US$ 30 bilhões, segundo apurou o
jornal argentino El Clarín. Em Washin-
gton, Lagarde confirmou em nota oficial
que “foram iniciadas discussões sobre
como poderemos trabalhar em conjunto
para fortalecer a economia argentina e
levaremos esses diálogos a cabo em bre-
Com dólar em alta, mais hedge no câmbio
São Paulo - A crise cambial da Argenti-
na provocou uma manhã muito nervosa
no mercado brasileiro de câmbio ontem,
com o dólar rompendo a barreira dos R$
3,60, para recuar no meio da tarde, ainda
com alta de 0,46% para R$ 3,5685, a maior
cotação do ano. Com a escalada do dólar
tanto exportadores quanto importadores
trataram de buscar proteção para o câmbio
futuro na B3, para travar o câmbio.
O dólar para junho, às 17h18, subia
0,46% e estava em R$ 3,5760. Os negócios
no futuro somavam US$ 10 bilhões. A ava-
liação do mercado é que o real continuará
sob pressão, por conta do cenário geopo-
lítico, que traz tantas incertezas quanto o
quadro eleitoral doméstico. Num cenário
de tantas dúvidas, as cotações devem conti-
nuar apresentando alta volatilidade.
Economia&Negócios
ve”. Ela não mencionou valores e ressal-
tou que a Argentina “é membro valioso”
do FMI.
“Neste momento dos diálogos, ainda
não falamos de detalhes. Temos que levar
em conta que estamos falando com um
FMI muito diferente do que conhecemos
há 20 anos”, acrescentou o ministro. Em
janeiro de 2006, a Argentina tinha sal-
dado seu último crédito com o FMI, por
US$ 9,6 bilhões. Macri defendeu, em sua
fala, a atual “política econômica gradua-
lista”, que segundo ele busca “equilibrar
o desastre que nos deixaram nas contas
públicas, cuidando dos setores vulne-
Diversificação, a diferença
D
iferente do Brasil, com
pauta de exportações diver-
sificada, tanto em produtos
primários como em bens industrias
(automóveis, caminhões e tratores
, produtos siderúrgicos, alumínio,
celulose e aviões) e com largo saldo
comercial, a Argentina tem alta
concentração de produtos primários
(sobretudo soja, milho e trigo, além
de petróleo e derivados) na pauta de
exportação. E um saldo muito estrei-
to entre exportações e importações.
País bem menor que o Brasil
em população (44 milhões contra
209 milhões ainda este mês) e um
PIB igualmente reduzido( US$ 640
bilhões, contra US$ 2,100 bilhões
do Brasil), a Argentina exportou
em 2016 US$ 129 milhões, mas as
importações bateram em US$ 128,4
bilhões, com saldo de US$ 600 mi-
lhões. Já o Brasil, que tem US$ 230
bilhões em reservas, exportou em
Bruno Foresti, gerente de câmbio do Ou-
rinvest, lembra que a tendência para o dólar
é de valorização frente ao real, e as incerte-
zas do cenário alimentam a alta volatilidade
dos negócios “O cenário geopolítico é mui-
to nebuloso, com a guerra comercial, com a
saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã,
a expectativa de mais elevações dos juros
americanos. Isso leva ao fortalecimento do
dólar em relação a outras moedas”, afirmou.
Foresti observa que nos leilões de swap
cambial do BC os contratos para agosto
têm saído a taxas com alta de 2,8%; já para
novembro e janeiro de 2019, elas sobem
para perto de 3,2% e 3,3%, respectivamen-
te. “Isso mostra que o mercado está enxer-
gando mais risco para o período pós-elei-
ção”, afirma o gerente da Ourinvest.
Também é visível na curva dos juros fu-
Conheça nosso site www.jb.com.br •
ráveis e ao mesmo tempo garantindo o
desenvolvimento”. Ele lembrou, contu-
do, que essa política “depende muito do
financiamento externo”.
O presidente disse que, nos dois pri-
meiros anos de seu governo, o contexto
mundial foi muito favorável, “mas isso
hoje está mudando, as condições mun-
diais estão cada dia mais complexas”, co-
mentou, citando razões como a alta dos
juros em vários países e o avanço do pe-
tróleo e de outras moedas. “Somos dos
países do mundo que mais dependem do
financiamento externo”, admitiu, atri-
buindo o problema a erros de governos
2017 US$ 184,5 bilhões e importou
US$ 129,4 bilhões. Um saldo de
US$ 64 bilhões. O Bradesco projeta
saldo de US$ 67 bilhões neste ano.
Em 2017, a soja liderou as ex-
portações brasileiras com 14%, os
materiais de transporte (sobretudo
automóveis e caminhões que são
o principal item vendido à Argen-
tina) pesaram 13% na pauta, com
10% para os embarques de petróleo
e derivados e 10% dos minérios. A
estiagem na Argentina no começo
de 2018 afetou as safras de soja e
milho. Quando o país esperava
compensar a queda de volume
com a valorização dos preços no
mercado internacional, a escalada
do dólar afetou duplamente o país
vizinho. Como as cotações são
expressas em dólar, a valorização da
moeda norte-americana implica em
queda das cotações e das receitas. E
os encargos financeiros aumentam.
turos que o mercado está revendo suas ex-
pectativas em relação à queda da Selic na
reunião do Copom dia 16: antes, 70% das
apostas eram que ela cairia para 6,25% ao
ano, agora esse porcentual já estaria mais
para 50%. “O cenário mudou muito nos
últimos dias, principalmente em relação ao
câmbio. Se o corte não vier, não pegará o
mercado mais de surpresa”, afirmou.
Proteção no câmbio
A alta de quase 10% em três meses de-
sencadeou corrida por proteção cambial
nas empresas de comércio exterior. Os ex-
portadores ficaram mais propensos a “tra-
var” a taxa de câmbio pela qual receberão
por produtos vendidos ao exterior após a
moeda superar os R$ 3,50. Também houve
aumento nas contratações de hedge (prote-
11
Divulgação
passados. Macri ressaltou que um acor-
do com o FMI dará maior respaldo à Ar-
gentina para enfrentar o novo cenário
global “e evitar crises como as que tive-
mos em nossa história”.
Mercados fechados
Para a analista Mariana Dal Pogetto,
da consultoria Ecogo, “não é uma boa
notícia para a Argentina que, neste mo-
mento, esteja indo ao FMI diante de um
fechamento dos mercados de capitais”.
“O que aconteceu é que foi cortado o
crédito para a Argentina. Politicamente,
a decisão de ir ao Fundo não está isenta
de custos internos”, disse Dal Pogetto.
Além da desvalorização, a Argentina
enfrenta uma inflação de mais de um
dígito (24,8% em 2017) e um déficit fis-
cal cuja meta foi reduzida de 3,2% para
2,7% do PIB na semana passada. O go-
verno estabeleceu uma meta de inflação
de 15% para este ano e insiste que não
será modificada, embora o próprio FMI
a tenha projetado em 19%.
Quando assumiu, em dezembro de
2015, Macri permitiu a flutuação da moe-
da, eliminando o controle cambial que
vigorou durante o governo de Cristina
Kirchner (2007-2015). Mas a valorização
do dólar nos últimos dias afetou o peso
argentino mais que a outras moedas.
O FMI esteve em Buenos Aires pela
última vez em 2003, tendo, então, assi-
nado duas linhas de apoio, uma de US$
2,1 bilhões em janeiro e outra de US$ 8,9
bilhões em setembro. A primeira linha
foi desembolsada durante a presidência
de Eduardo Duhalde e a segunda já no
mandato de Néstor Kirchner.
O primeiro programa de assistência
financeira ao país foi assinado em 1957.
Desde a independência, o país teve sete
bancarrotas - a última em 2001 - e cinco
crises cambiais desde os anos 1970, a úl-
tima das quais em 2004.
ção) por parte dos importadores, que não
querem se expor ao risco da escalada do
dólar exigir o dispêndio de mais reais pelos
produtos que encomendam do exterior.
Segundo balanço feito pela B3, a bolsa
por onde passam essas transações, em abril
os exportadores venderam a termo US$
18,1 bilhões (+75% acima da média em 12
meses). Em quatro meses, as empresas pro-
tegeram US$ 49,8 bilhões em contratos a
termo de venda de dólares, o que já corres-
ponde a 42% do hedge feito em 2017. Já o
montante protegido pelos importadores so-
mou US$ 14,1 bilhões em abril, o maior va-
lor em 11 meses. Para Fábio Zenaro, diretor
de Produtos da B3, “as empresas poderiam
ter feito antes essa proteção, mas não pre-
viam aumento tão significativo do dólar”.
(Estadão Conteúdo)
12 • Conheça nosso site www.jb.com.br Economia&Negócios Quarta-feira, 9 de maio de 2018

Após quatro
Marcos Tristão

anos, Petrobras
lucra: R$ 6,96 bi
Resultado é 56,5% superior ao do primeiro
trimestre de 2017 e o melhor desde 2013
O lucro líquido da Petrobras cresceu 56,5%
no primeiro trimestre deste ano, em relação a
igual período do ano passado, atingindo R$ 6,96
bilhões. O crescimento expressivo surge depois
de quatro anos seguidos de prejuízos e de um
processo de reestruturação e de redução do
endividamento da companhia, que teve início
após as denúncias da Operação Lavo Jato.
Com o lucro líquido registrado no primeiro
trimestre de 2018, a Petrobras irá remunerar to-
dos os seus acionistas com R$ 0,05 por ação. A
distribuição para os acionistas não era feita des-
de 2014. A medida foi decidida pelo Conselho
de Administração e prevê a antecipação do pa-
gamento dos dividendos na forma de juros so-
bre capital próprio (JCP) para ambas as classes
de ações para o próximo dia 25.
Este é, segundo a estatal, o melhor resultado
a recuperação”, disse o presidente da Petrobras,
Pedro Parente.
Para ele, além de consolidar o processo de
recuperação da empresa, “o balanço indica
resultados financeiros positivos, com redu-
ção da alavancagem (da dívida), redução de
custos e gerando uma base muito sólida para
que a companhia possa criar uma base muito
sólida em direção ao pleno retorno na direção
do aumento da sua capacidade exploratória,
cuja área cresceu 25%. É um resultado que
realmente reflete a visão da empresa de ter
um planejamento estratégico e de seguir este
planejamento com muita disciplina no novo
sistema de gestão.”
“O indicador financeiro, que é a relação entre
a dívida líquida e o Ebitda [sigla em inglês que Alta do petróleo vitaminou o resultado da Petrobras, que voltará a remunerar os acionistas
significa lucros antes de juros, impostos, depre-

trimestral desde o início de 2013, quando a em-
presa havia lucrado R$ 7,69 bilhões, e também
terminou o trimestre com resultados positivos
em sua métrica de segurança.
Segundo a Petrobras, a principal explicação
para o aumento de 56% no lucro líquido do pri-
meiro trimestre de 2018 é a elevação nas cota-
ções internacionais do petróleo, que saíram de
US$ 53,8 na média do primeiro trimestre de
2017 para US$ 66,8 este ano.
Além disso, a mudança no preço internacio-
nal também permitiu que a Petrobras obtivesse
margens mais elevadas nas exportações de pe-
tróleo e gás natural, assim como na venda de
derivados. A empresa também teve ganhos com
a alienação de ativos de Lapa, Iara e Carcará no
pré-sal da Bacia de Santos.
ciação e amortização] também registrou melho-
ra, saindo de 3,67 vezes para 3,52, reafirmando
o compromisso estabelecido no plano de negó-
cios da Petrobras de chegar ao fim do ano com
uma relação dívida líquida/Ebitda ajustada de,
no máximo, 2,5 vezes”, disse Parente.
“Estamos cumprindo à risca o que promete-
mos no nosso plano de negócios anunciado em
2016 e o resultado do primeiro trimestre mostra
que as escolhas têm sido acertadas”, ressaltou.
Para Pedro Parente, no entanto, ainda há
muito a ser feito. “Com este resultado, consoli-
damos a trajetória de recuperação da Petrobras.
Nosso objetivo é chegar a dezembro com uma
empresa com indicadores de segurança entre os
melhores do nosso setor, financeiramente equi-
librada e com sua reputação recuperada”.
“
ção ao primeiro trimestre de 2017, refletindo as
paradas programadas e o desinvestimento no
Campo de Lapa.
Também houve queda de 7% na produção de
O resultado derivados e de 9% nas vendas em relação ao pri-
meiro trimestre de 2017, totalizando 1.679 mil
indica redução barris por dia (bpd). O diesel vendeu menos 3%,
a gasolina perdeu 7%, a venda de óleo combus-
da alavancagem tível encolheu 28% e a de nafta, 14%, devido à
e de custos, retração das compras da Braskem.
A Petrobras manteve a posição de expor-
gerando base tadora líquida, principalmente em razão da
redução das importações, que caíram 38% no
sólida para período. Pelos dados divulgados, a empresa
fechou o primeiro trimestre do ano com um
aumentar a saldo de 507 mil barris por dia (bpd) de de-

Parente explica resultados Produção

“Este é um resultado certamente bastante
positivo e que espelha não apenas o esforço que
está sendo feito na empresa nos últimos tempos,
e que acontece em todas as áreas, consolidando
capacidade de rivados, contra os 489 mil bpd do primeiro
trimestre do ano passado. A estatal informou,
A produção total de petróleo e gás natural
no primeiro trimestre de 2018 foi de 2.680 mil
exploração ainda, que o fluxo de caixa se manteve posi-
tivo pelo décimo segundo trimestre conse-
barris de óleo equivalente por dia (boed), sendo PEDRO PARENTE cutivo, atingindo R$ 13 bilhões no primeiro
2.582 mil boed no Brasil, 4% inferior em rela- trimestre de 2018.

Guardia defende venda da Eletrobras Petróleo cai

abaixo dos
US$ 70
O ministro da Fazenda, Eduardo Guar- Wilson Dias/Agência Brasil

dia, defendeu, em audiência pública na

Câmara dos Deputados, a aprovação do
projeto de privatização da Eletrobras (PL
9463/18). Pela proposta apresentada, a
privatização ocorrerá por meio do lan-
çamento de novas ações no mercado até
que esse número transforme a União em
acionista minoritário.
Atualmente, a União detêm 51% das
ações ordinárias (com direito a voto) e
outros 40,99% do capital total da com-
panhia. O BNDES e seu braço de investi-
mentos, o BNDESPar, controlam, juntos,
outros 18,72% do capital da Eletrobras.
Segundo Guardia, “não é uma propos-
ta de venda, mas sim de capitalização” da
companhia. “Queremos uma Eletrobras
forte. A gente precisa capitalizar a em-
presa para que ela seja capaz de desem-
penhar o seu papel, para competir nesse
mercado que é competitivo. Precisamos
de recursos que o acionista controlador
[União] não tem”, destacou. Ele mencio-
nou a questão ao falar sobre o alto endi-
vidamento da empresa
Para o ministro, o modelo de desesta-
tização proposto pelo governo preservará
a autonomia da Eletrobras, por meio da
“democratização” de seu capital. “No fi-
nal desse processo, não terá um dono pri-
vado com controle da empresa. No jargão
do mercado, vamos transformar a Eletro-
bras numa corporação, o mesmo modelo
da Embraer e da Vale, que passaram a ter
um controle difuso”, explicou. De acordo
O ministro Eduardo Guardia afirmou que o objetivo do governo é “capitalizar” a Eletrobras
com Guardia, o projeto de lei prevê uma
regra que impede um comprador de ad-
quirir um valor superior a 10% das ações
da Eletrobras. Além disso, se a proposta
for aprovada, a União manterá uma ação
golden share, que dá ao governo poder de
veto sobre decisões estratégicas da com-
panhia, como mudança de sede, e terá o
direito de indicar até dois representantes
no conselho de administração, enquanto
os demais sócios só teriam direito a uma
indicação no colegiado.
Pagamento da outorga
Ainda segundo Eduardo Guardia, o
valor de R$ 12 bilhões que será pago
para a União com a privatização da Ele-
trobras não se refere à venda de ações,
mas ao pagamento pela renovação da
outorga de exploração hidrelétrica da
companhia por mais 30 anos. “O pri-
meiro movimento é a capitalização da
empresa, em operação na Bolsa de Va-
lores, transparente, seguindo as melho-
res práticas.
O petróleo recuou ontem após o
presidente Donald Trump anunciar a
saída dos Estados Unidos do acordo
nuclear com o Irã - decisão já espe-
rada pelo mercado. O barril de “light
sweet crude” (WTI) para entrega em
junho perdeu US$ 1,67 dólar, a US$
69,06, no New York Mercantile Ex-
change (Nymex). Na segunda-feira,
o barril tinha rompido a faixa dos
US$ 70.
Trump confirmou a saída dos EUA
do acordo nuclear de 2015 e anun-
ciou o restabelecimento de sanções
contra o Irã, membro da Organização
dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep).
As especulações levaram os preços
do petróleo a caírem até 4% nos mer-
cados futuros.
A queda chegou a impactar as ações
da Petrobras, mesmo após a empresa
anunciar resultados melhores que o
esperado. A ação PN fechou em alta
de 1,15% e o ON ficou estável.
“De maneira geral, a visão do ba-
lanço de Petrobras foi positiva. E
ainda há perspectiva positiva com a
questão da cessão onerosa e dos de-
sinvestimentos da companhia”, ob-
servou Vítor Suzaki, analista da Lero-
sa Investimentos.
Quarta-feira, 9 de maio de 2018 Economia&Negócios Conheça nosso site www.jb.com.br • 13

BNDES reduz spread de risco

Taxa integra estrutura de preços das operações do banco e cobre perda esperada com inadimplências
O Banco Nacional do Desenvolvimen-
to Econômico e Social (BNDES) vai re-
duzir todas as taxas de spreads de risco,
exceto para os entes públicos. Os sprea-
ds de risco fazem parte da estrutura de
preços das operações do Sistema BNDES
e cumprem a função de cobrir a perda
esperada com inadimplências.
O anúncio foi feito ontem pelo presi-
dente da instituição, Dyogo Oliveira, em
café da manhã com a imprensa na sede
do BNDES, no Rio. Segundo ele, a nova
norma de Precificação de Risco de Cré-
dito seria aprovada na tarde de ontem,
dentro da política de revisões periódicas
na metodologia das taxas cobradas pelo
banco, feita pelo menos uma vez por ano.
“Isso tudo é derivado da revisão das
metodologias de análise de risco de cré-
dito. A principal mudança é a incorpo-
ração da probabilidade de recuperação
do crédito. O que a gente está vendo é
uma queda geral da inadimplência no
país. Isso impacta na metodologia por-
que você tem um risco mais baixo de
inadimplência para cada nível de risco.
Então, isso é um reflexo de uma melhora
geral da avaliação de risco nas operações
do banco”.
Segundo Dyogo Oliveira, a inadim-
plência no BNDES hoje está em 2%, “sen-
do que metade disso é do Rio de Janeiro,
que tem garantia do Tesouro, então quer
dizer que a inadimplência é de 1%”.
Para as operações diretas, onde o risco
é mais elevado, o spread será reduzido
de 25% a 50%, de acordo com o risco do
cliente. “Uma empresa nível C, pegaria
3,5%; o triplo A fica por volta de 1%. Vai
cair dependendo da avaliação da empre-
sa”, explicou. Para as operações indiretas,
a taxa passa de 0,23% para 0,15% ao ano.
Já a taxa para operações de fiança ban-
cária feitas pelo BNDES passa de 0,40%
para 0,25%. A questão é que os agentes fi-
nanceiros precisam repassar a queda aos
clientes.
Como parte da reestruturação pela qual
o BNDES está passando, com redireciona-
mento do foco de negócios para pequenas e
médias empresas, Dyogo Oliveira disse que
“a intenção é ocupar espaços onde o merca-
do não quer ou não tem condições de atuar”,
de forma a operar “de maneira sempre com-
Andressa Anholete/AFP
Oliveira: principal mudança é a incorporação da probabilidade de recuperação do crédito
plementar e de maneira inclusive a fomentar
o desenvolvimento do mercado de capitais”.
Taxa para “Vamos usar cada vez mais instru-
operações mentos de mercado de capitais, como
debêntures, participações em fundos de
de fiança investimento, aquisição de cotas de fun-
dos existente”, disse. “São instrumentos
bancária que permitem ao banco assumir uma
posição no projeto durante a fase de
realizadas pelo construção, que tem maior nível de risco
BNDES passa e menor apetite do mercado financeiro,
para, em seguida, à medida que o proje-
de 0,40% to se desenvolva e esteja amadurecido, o
banco vender o projeto no mercado”.
para 0,25% Ele destacou que essas medidas rees-
truturantes também vão contribuir para
a obtenção de funding (captação de re-
cursos para investimento), no mercado
internacional. “À medida que o banco
atua dessa maneira, em um formato de
crédito que seja securitizável, que seja
possível de revender ao mercado, a gente
consegue, com a reciclagem do dinheiro,
manter o banco fazendo operação e fi-
nanciando projetos importantes ao país”.
O presidente do BNDES anunciou
também a criação da área de Reestrutu-
ração de Projetos e Desestatização, den-
tro da Diretoria de Mercado de Capitais.
Hoje, já atuam no setor 30 técnicos e
está previsto o aumento em 50%.
“Essa área vai cumprir o papel de
desenvolver os projetos de infraestru-
tura. Nós vamos contratar empresas de
projetos, consultorias, e isso vai ficar
na prateleira. À medida que nós formos
selecionando junto com os governos fe-
deral, estadual, municipal, uma carteira
de projetos prioritários, eles imediata-
mente passam a ser desenvolvidos uti-
lizando as empresas contratadas pelo
banco. Então, o banco vai assumir o pa-
pel que hoje não tem ninguém fazendo”.
Segundo Dyogo Oliveira, atualmente
não há “nenhuma coordenação intrago-
vernamental ou nacional” responsável
por desenvolver projetos, “fazer os estu-
dos de engenharia, jurídico, financeiro,
que vão dar base para uma licitação, uma
concessão, uma PPP”. O modelo adota-
do será o que já vem sendo usado pelo
BNDES nos estudos sobre a privatização
das empresas estaduais de saneamento.
“O banco vai assumir essa função que,
a nosso ver, está relegado. Hoje nós te-
mos falta de projetos. Nos encontros que
fazemos com investidores estrangeiros,
eles têm apetite para investir no Brasil,
mas são poucos os projetos detalhados.
São quantas rodovias para concessão,
quantos portos, quantos aeroportos? Há
uma percepção de que faltam projetos,
e é a realidade. O próprio banco tem di-
ficuldades em aplicar recursos, porque
faltam projetos”.
Dyogo Oliveira informou que este ano
o BNDES dispõe de R$ 54 bilhões para
financiar projetos de infraestrutura nos
setores de saneamento, resíduo sólido,
iluminação pública, estradas estaduais e
presídios. (Agência Brasil)

Banco trabalha para atrair investidor privado a Viracopos

O BNDES já provisionou
em seu balanço cerca de 70%
dos R$ 2,6 bilhões que tem
em financiamentos (crédito
mais debêntures) à Triun-
fo Participações (que une a
Triunfo e a UTC, com 51%),
concessionária do Aeroporto
de Viracopos, em Campinas
(SP), disse ontem o presiden-
te banco, Dyogo Oliveira.
Segundo o executivo, o
banco de fomento trabalha
para atrair um novo investi-
dor privado, interessado em
comprar a fatia dos atuais
controladores da conces-
sionária. “A expectativa que
temos é de trabalhar para
encontrar uma solução de
mercado para o projeto”, afir-
mou Dyogo Oliveira
Ele disse que, em reuniões
feitas antes do pedido de re-
cuperação judicial com o BN-
DES, empresas “têm manifes-
tado interesse” no projeto. O
banco de fomento já se reuniu
com quatro companhias es-
trangeiras, de “várias origens”,
como asiáticas e europeias,
disse Oliveira.
O presidente do BNDES
e seu diretor jurídico, Mar-
celo Siqueira, também lan-
çaram dúvidas sobre a RJ ser
o melhor caminho para os
problemas da concessioná-
ria. Dyogo Oliveira lembrou
que ainda não está claro se a
dívida da operadora do aero-
porto com a União, referente
às outorgas da concessão, en-
trarão na recuperação.
Ontem, a Agência Nacio-
nal de Aviação Civil (Anac)
divulgou nota sobre a situa-
ção de Viracopos, cuja con-
cessionária pediu recupera-
ção judicial nesta semana.
A agência diz que cabe ao
governo federal decidir sobre
eventual processo de relicita-
ção do terminal.
A Anac lembra que a Lei
13.448 não é aplicável ao
caso, já que é necessário de-
creto do Executivo para re-
gulamentar efeitos e proce-
dimentos previstos na nova
legislação. “Na ausência
desse decreto, o pedido de
relicitação protocolado pela
concessionária encontra-se
no âmbito do Ministério dos
Transportes, Portos e Avia-
ção Civil, tendo em vista
tratar-se de uma decisão de
governo”, cita a nota.
No texto, a agência lembra
ainda que a concessionária
Aeroportos Brasil Viraco-
pos S/A protocolou, em 20
de abril de 2018, a defesa no
processo de caducidade da
concessão. A área técnica da
Anac examina a questão.
A Anac também reafirma
que não há risco operacio-
nal para o terminal paulista.
“Não é possível afirmar que
existe qualquer risco às ope-
rações do terminal, tendo em
vista o bom desempenho que
Viracopos tem apresentado
nos diversos indicadores de
satisfação de passageiros e
qualidade de serviço aos usu-
ários”, cita a agência de avia-
ção civil.

Fundo Soberano
resgata R$ 3,5 bi
O Fundo Soberano
realizou ontem resgate de
um dos investimentos da
carteira no valor de R$
3,5 bilhões. O dinheiro
vai para o caixa do Te-
souro Nacional e ajuda-
rá no esforço do gover-
no para o equilíbrio das
contas públicas. Em nota,
o Ministério da Fazenda
informa que a operação
está alinhada com a deci-
são de extinguir o Fundo
Soberano anunciada pelo
governo em 2016.
Com o resgate, a car-
teira criada em 2008 pelo
governo fica mais per-
to da extinção e passa a
acumular saldo próximo
de R$ 500 milhões.
14 • Conheça nosso site www.jb.com.br
Ruptura unilateral
EUA deixam Acordo do Irã sob protestos da comunidade internacional
WASHINGTON - Depois de semanas
de suspense e intensa pressão de
aliados europeus pela construção
de um entendimento, a saída dos
Estados Unidos do acordo do Irã foi
oficializada pelo presidente Donald
Trump ontem, em discurso na Casa
Branca. Além de não reconhecer os
termos firmados com Irã, Rússia,
China, Reino Unido, França, Ale-
manha e a União Europeia, os EUA
também retomaram imediatamen-
te sanções econômicas contra o
Irã. O departamento de Tesouro
americano deu até três meses para
empresas estrangeiras saírem “vo-
luntariamente” do país.
Em uma declaração transmiti-
da pela TV estatal iraniana, o pre-
sidente do Irã, Hassan Rouhani,
afirmou que o país pode retomar
o enriquecimento de urânio “sem
limites” depois da decisão do diri-
gente americano, que considerou
fruto de uma “guerra psicológi-
ca”. Apesar da retórica inflamada,
Rouhani declarou que pretende
dialogar com os outros signatá-
rios sobre os termos do acordo.
A decisão da Casa Branca foi ce-
lebrada pela Arábia Saudita e por
Israel, aliados dos EUA e inimigos
históricos do Irã. Em um comuni-
cado divulgado pela mídia estatal
saudita, autoridades do governo
acusaram o Irã de se aproveitarem
do acordo, que permitiu o fim das
sanções econômicas, para finan-
ciarem uma suposta desestabiliza-
ção no Oriente Médio. O premiê
israelense, Benjamin Netanyahu,
classificou como “corajosa” a de-
cisão de Trump.
A nova postura americana foi
alvo de forte oposição dos outros
signatários do acordo e de enti-
dades como as Nações Unidas. O
secretário-geral da ONU, António
Guterres, se disse “profundamen-
te preocupado” pela saída dos
EUA do acordo do Irã, e concla-
mou os demais países signatários
a reiterarem seu suporte ao enten-
dimento firmado com Teerã.
Congo tem
novo surto
de ebola
KINSHASA - Depois da epidemia
de ebola que assolou a África Oci-
dental em entre 2013 e 2016, que
resultou em mais de dez mil mor-
tos, um novo surto na República
Democrática do Congo causou a
morte de 17 pessoas, segundo di-
vulgou o ministério da Saúde do
país. Além das perdas, 21 pessoas
apresentam o quadro de febre he-
morrágica.
O governo congolês preparou
uma resposta aos focos da doen-
ça e coordenará ações junto da
Organização Mundial da Saúde
(OMS) e da organização Médicos
sem Fronteiras (MSF). Segundo
Peter Salama, diretor-adjunto da
OMS, o epicentro da epidemia é a
cidade de Bikoro.
O último surto de ebola na
República Democrática do Con-
go ocorreu no ano passado.
Quatro pessoas morreram, mas
a doença foi rapidamente con-
tida. O país já enfrentou nove
epidemias desde que o vírus foi
descoberto, em 1976.
Trump exibe decreto que reestabelece sanções econômicas contra o Irã de forma imediata na Casa Branca
Horas depois do anúncio de
Trump, os governos da França,
Alemanha e Reino Unido enfati-
zaram em um comunicado con-
junto que pretendem seguir com
a implementação dos termos,
incluindo o veto à retomada de
sanções econômicas ao Irã, “em
benefício da economia e da po-
pulação iranianas”. Declaração
semelhante veio da chefe da di-
plomacia da União Europeia, Fe-
derica Mogherini, que confirmou
a intenção da UE de preservar o
acordo. A Rússia se disse “profun-
damente decepcionada” com a re-
tirada dos EUA.
Com a saída do acordo do Irã,
a administração Trump rompe
oficialmente com um dos maiores
legados da política externa do an-
tecessor Barack Obama, que con-
siderou a decisão um “grave erro”,
uma vez que “aliados europeus e
até o atual secretário de Defesa
também reconhecem a eficiência
do acordo.
As acusações de agressão de Michelle Barish (à esq.) e Tanya Selvaratnam derrubaram Eric Schneider
Cai defensor do #MeToo
NOVA YORK - As acusações de
violência contra mulheres der-
rubaram o procurador-geral do
estado de Nova York, Eric Sch-
neiderman, um forte opositor
do presidente Donald Trump
e defensor do movimento con-
tra o assédio em Hollywood, o
#MeToo. No cargo desde 2010,
Schneiderman, um ex-senador
democrata, apresentou ontem
sua renúncia depois do gover-
nador Andrew Cuomo cobrar
sua saída.
Quatro mulheres alegaram,
em entrevista à revista “The
Internacional
O ACORDO
Entenda os termos
O
Plano de Ação Con-
junto Global, conhe-
cido popularmente
como acordo nuclear do Irã,
foi assinado em 14 de julho
de 2015 em Viena, na Áus-
tria, e conta como signatá-
rios os Estados Unidos e o
próprio Irã, além de Rússia,
China, Reino Unido, França,
Alemanha e União Europeia.
O entendimento prevê
a redução das capacidades
nucleares do Irã com o ob-
jetivo de impedir o país de
construir uma bomba atô-
mica, sem impedir os ira-
nianos de usarem a energia
nuclear para fins civis.
O número de centrífu-
gas capazes de enriquecer
New Yorker”, terem sido víti-
mas de agressões físicas por
Schneiderman durante rela-
ções sexuais ou momentos
em que o procurador estava
embriagado. Duas delas fala-
ram sob anonimato. As outras
duas, Michelle Mannig Barish
e Tanya Selvaratnam, relata-
ram um comportamento abu-
sivo durante relacionamentos
que mantiveram no passado,
enquanto ele estava no cargo
de procurador.
Selvaratnam, que se relacio-
nou com Schneiderman entre
Saul Loeb/AFP
urânio caiu pela metade:
o Irã tem hoje 5.060 delas,
frente a 10.200 antes do
acordo, que também exi-
giu a modificação de um
reator de águas pesadas
em Arak, com o objetivo
de impossibilitar a produ-
ção de plutônio com fins
militares, sob a vigilância
da comunidade interna-
cional. O Irã permitiu que
a Agência Internacional
de Energia Atômica tives-
se acesso limitado às suas
instalações nucleares.
Essas medidas fizeram
com que o processo de cria-
ção de uma bomba atômica
subisse de três meses para
um ano no Irã.
Getty Images North America/AFP
2016 e 2017, relatou ter tido
sua respiração cortada pelo
então procurador, além de ter
sido chamada de “escrava”. Ela
e Barish relataram estrangula-
mentos como uma forma de
dominá-las física e psicologi-
camente.
Schneiderman nega todas
as acusações, mas abdicou do
cargo por considerar que as
denúncias o impedem de “di-
rigir” a Promotoria. Ele decla-
rou, ainda, que participou de
jogos sexuais, mas nunca teria
agredido ninguém.
Quarta-feira, 9 de maio de 2018
Pompeo
viaja para
Pyongyang
WASHINGTON - O secretário de
Estado americano, Mike Pompeo,
viajou novamente para Pyong-
yang, onde desembarcou ontem.
Dessa vez, a visita será voltada
para a negociação das tratativas do
encontro histórico entre Trump e
Kim Jong-un e da libertação de
três cidadãos americanos. Já o lí-
der da Coreia do Norte fez uma
visita inesperada ao presidente da
China, Xi Jinping, na cidade lito-
rânea de Dalian, na última segun-
da-feira. A confirmação só veio
depois que Kim retornou para
Pyongyang.
Os dois encontros sintonizam
o encaminhamento para a cúpu-
la entre Trump e Kim, em locais
e datas ainda não anunciados,
embora já estejam definidos, se-
gundo o dirigente americano. É
esperado que a divulgação ocorra
durante ou logo após a visita do
secretário de Estado.
Mike Pompeo esteve em Pyong-
yang no feriado da Páscoa antes de
sua nomeação ser confirmada pelo
Congresso. Agora, na condição de
chefe da diplomacia dos EUA, seu
papel deverá ser o de acertar os
termos das conversas entre Trump
e Kim Jong-un. Rito semelhante
ocorreu antes da viagem do nor-
te-coreano à Zona Desmilitarizada
para as conversas com o presidente
da Coreia do Sul, Moon Jae-in.
O encontro entre Xi e Kim em
Dalian também acertou pontos
a serem discutidos no encontro
com Trump, embora a agência
de notícias chinesa Xinhua tenha
destacado os esforços em reapro-
ximar os dois líderes depois que
Pequim defendeu sanções contra
o regime norte-coreano.
Em meio aos trâmites diplo-
máticos, Trump telefonou ontem
para Xi Jinping e ouviu do presi-
dente chinês o pedido para que
considere as preocupações “ra-
zoáveis” de segurança da Coreia
do Norte como uma forma de
construir “a confiança mútua en-
tre as duas nações”.
Armênia elege novo
premiê depois de crise
O líder opositor Nikol Pashinyan foi
eleito primeiro-ministro da Armênia
pelo parlamento do país ontem em
meio à crise política que se arras-
ta por três semanas e derrubou
Serzh Sargsyan, ex-presidente que
foi nomeado premiê em abril sob
acusações de tentar se perpetuar
no poder. Pashinyan garantiu que
“não existirá mais corrupção” na
Armênia. As instabilidades devem
persistir, pois o partido de Sargsyan
detém a maioria parlamentar.
Mulheres sauditas já têm
data para dirigir
O governo da Arábia Saudita
declarou ontem que a permissão
para dirigir será garantida às
mulheres a partir de 24 de junho.
A iniciativa, patrocinada pelo
príncipe herdeiro Mohammad bin
Salman, já havia sido anunciada
no ano passado, mas a data foi
oficialmente confirmada pelo
ministério do Interior. De acordo
com o decreto real, mulheres acima
de 18 anos poderão realizar o
exame em autoescolas para obter a
carteira de habilitação.
Quarta-feira, 9 de maio de 2018 Esportes Conheça nosso site www.jb.com.br • 15

Renato Mauricio Prado Futebol & Cia renato.mprado@jb.com.br

LeBron me dá saudades do ‘velho’

A
TV era uma Philco de 24 polegadas, a cores e
com antena UHF! Naquela época longínqua,
tratava-se da última palavra em televisores e,
por isso, foi recebida com festa. Estamos falando de um
tempo em que as casas de classe média, como a minha,
tinham apenas um aparelho de TV, normalmente insta-
lado na sala de estar e era em torno dele que a família se
reunia para assistir, após o jantar, às novelas, aos filmes e
aos programas de auditório, exibidos pelos poucos canais
abertos – não havia cabo e muito menos internet, ou seja,
Netflix e que tais.
Lá em casa, não era diferente. Incomum foi a descober-
ta que meu pai fez, quando resolveu explorar o botão do
UHF, deparando-se, maravilhado, com transmissões ao
vivo do basquete americano. Tinham narração em inglês
(idioma que, então, nenhum de nós dominava), mas a
linguagem dos craques da NBA nas quadras era universal
e papai assistia a tudo, deleitando-se e me convocando para
acompanhar os jogos com ele:
- Alemão, ô Alemão (esse era o apelido pelo qual
me chamava), olha o que esses caras fazem com a
bola! Papagaio!
Até àquela época, a única coisa parecida que eu
conhecia eram os “Globetrotters”, time americano de
exibição, que corria o mundo afora e, também com o
velho, eu tinha visto uma vez no Maracanãzinho. Os
caras eram infernais, é verdade, mas havia nos jogos
(disputados entre dois quintetos deles, mesmo) um quê
de “armação”. Lances geniais e acrobáticos, mas, dava
pra notar, as partidas não eram pra valer.
Daí o nosso entusiasmo ao acompanhar, pela
primeira vez, naquelas transmissões meio clan-
destina, jogos de verdade, entre adversários reais e
não estrelas da mesma companhia. Não me lem-
bro quanto tempo isso durou, mas fato é que certo
dia, assim como surgiram através do sinal UHF,
os duelos da NBA desapareceram da telinha, para
tristeza de papai.
Recordo essa história dos meus tempos de criança, por-
que tenho me deliciado com os playofffs deste ano, na liga
americana de basquete. E sempre bate uma tremenda sau-
dade, pensando como meu pai gostaria de estar vendo tudo
isso. Certamente, como eu, seria um fanático torcedor. Não
de um time, mas de um jogador. Aliás, um jogador, não.
Um supercraque, um gênio, um monstro, um dos melhores
de todos os tempos, com certeza absoluta.
Falo, claro, de LeBron Raymone James. Por causa dele
já virei casaca do Cleveland Cavaliers para o Miami Heat e
voltei a torcer pelos Cavaliers. Nos tempos em que de-
fendia o “Heat” tive a enorme alegria de assistir a um de
seus jogos, na American Airlines Arena, em Miami. Não
com meu pai, já então falecido, mas com minha filha, que
viajava comigo e também é apaixonada por esportes. Uma
aventura inesquecível: LeBron e Cia., naquela noite, arrasa-
ram o New York Knicks, onde pontificava o surpreendente
chinês Jeremy Lin.
Voltando aos dias de hoje, o que se vê é extraordinário.
O Cleveland, nem de longe, possui uma equipe e um elenco
à altura das principais forças da NBA nesta temporada.
Mas tem LeBron James. E ele vem carregando o time nas
costas, com atuações espetaculares, sublimes.
No primeiro confronto dos playoffs, diante de um India-
na Pacers determinado e talentoso, King James teve que fa-
zer das tripas, coração, para não cair logo na fase inicial do
mata-mata, algo que seria inédito em sua vitoriosa carreira.
O Cleveland esteve em desvantagem duas vezes na série, 1
a 0 e 2 a 1, mas acabou desclassificando o rival por 4 a 3.
Vieram, então, os Raptors, de Toronto. Donos da melhor
campanha da Conferência Leste. E o que fez LeBron? Au-
mentou ainda mais o nível, já normalmente estratosférico,
de seu jogo e varreu o rival com um acachapante 4 a 0, no
qual nem o mais fanático torcedor dos Cavaliers apostaria.
Que venha agora o vencedor do duelo entre Boston Celtics
e 76ers. Os Celtics lideram a série por 3 a 1.
Do jeito que LeBron anda, já é possível sonhar com nova
final contra o Golden State Warriors, dos também geniais
Stephen Curry e Kevin Durant, o atual campeão e, em tese,
o melhor time da NBA. Se isso acontecer, será a oitava final
consecutiva de James (com três títulos conquistados) – ele
disputou ainda mais uma, e perdeu, em 2007.
Como gostaria que meu velho estivesse vivo para vê-lo,
em ação, e gritar, uma vez mais:
- Alemão, Alemão! Olha o que esse cara está fazendo...
Papagaio!
Estou vendo pai. E tomara que você, aí de cima, tam-
bém. Sua benção!
Estatísticas estúpidas
Estatísticas no futebol podem ser úteis, se analisadas
com inteligência, ou extremamente danosas, se vistas ape-
nas com a frieza dos números. Qualquer cérebro mediana-
mente capaz sabe disso, mas ainda assim são produzidas
reportagens inacreditáveis, como a que o Globo Esporte
levou ao ar, ontem, apresentando o medíocre lateral-es-
querdo Renê como um campeão de desarmes e passes
certos – quase um misto de Nilton Santos com Júnior!!!
Os rubro-negros que acompanham os jogos do Flamen-
go sabem muito bem o quão Renê irrita, por sua incapaci-
dade de acertar um cruzamento decente e são testemunhas
sofridas de sua eterna briga com a bola – essa ingrata, que
não se atem às estatísticas.
Algo semelhante já tinha sido feito, em determinada
época do ano passado, com Márcio Araújo, igualmente
exaltado pelos mesmíssimos números: desarmes e passes
certos - o que nunca dizem é que após os desarmes, muitas
bolas são perdidas e os passes são de, no máximo, dois
metros.
Graças a essa bobagem, que alguns técnicos levam mui-
to a sério, Márcio Araújo deixou Cuellar no banco durante
muito tempo. Pode existir prova maior de que estatísticas,
quando analisadas estupidamente, fazem mal?

PSG conquista a tríplice coroa Para confirmar a vaga Flu muda

nacional na França
O Paris Saint-Germain venceu por 2 a 0 o
modesto Les Herbiers, da terceira divisão
francesa, e conquistou o tetracampeonato
da Copa da França. O argentino Lo Celso
e o uruguaio Cavani, de pênalti, anotaram
os gols da final. Como o PSG já havia ga-
rantido o Campeonato Francês e a Copa
da Liga Francesa neste ano, alcançou a
tríplice coroa nacional pela terceira vez
nas últimas quatro temporadas. Foi o
38º título da carreira do brasileiro Daniel
Alves, que se isolou como jogador mais
vitorioso da história do futebol.
Southampton perto da
salvação no Inglês
Em confronto direto, o Southampton
superou ontem o Swansea por 1 a 0, fora
de casa, e ficou muito perto de escapar
do rebaixamento no Campeonato Inglês.
O italiano Gabbiadini marcou o gol da
vitória logo após entrar em campo. O re-
sultado, que rebaixou o West Brom, fez o
Southampton saltar para a 16ª colocação,
com 36 pontos e um saldo superior ao do
Huddersfield, que visita hoje o Chelsea.
Primeiro time do Z3, o Swansea precisa-
rá vencer o rebaixado Stoke em casa e
torcer por duas derrotas do Huddersfield.
Ferguson sai do coma e já
conversa com a família
O ex-treinador Sir Alex Ferguson, operado
com urgência após hemorragia cerebral
no último sábado, saiu do coma. O esco-
cês já consegue sentar e conversar com
seus familiares. O jornal “Daily Mail” re-
velou que, nas primeiras palavras depois
de acordar, Ferguson perguntou sobre o
Doncaster Rovers, clube da terceira divi-
são inglesa treinado por seu filho Darren.
Bem-humorado, o ex-técnico também
sondou a possibilidade de ir a Kiev para a
final da Liga dos Campeões, no dia 26.
A vitória por 2 a 1 no Chile deixou a
missão encaminhada, e hoje, às 21h45m, o
Botafogo recebe o Audax Italiano no Nilton
Santos para confirmar a classificação para
a segunda fase da Copa Sul-Americana. O
alvinegro avança até com derrota por 1 a
0. Caso perca por 2 a 1, a decisão vai para
os pênaltis, e qualquer outra vitória do Au-
dax dá a vaga aos chilenos. O adversário é
ideal para o time alvinegro se recuperar da
derrota sofrida no último domingo, para o
Cruzeiro (1 a 0), e buscar outra sequência
positiva na temporada.
O Audax não sabe o que é vencer
desde 25 de fevereiro, e acumula seis
derrotas e três empates nas últimas
nove partidas. A equipe ocupa o
14º lugar no Campeonato Chileno,
de 16 times, e tem os mesmos sete
pontos do penúltimo e do último colo-
cados, após 12 rodadas. Apesar da péssima
fase, o treinador Juan José Ribera, que as-
sumiu o comando em abril, declarou que
estímulo não falta a seus jogadores. “Não
vivemos nosso melhor momento, mas esta-
mos motivados e confiantes”, garantiu.
A torcida alvinegra sonhava aproveitar
o confronto para reverenciar o ídolo Loco
Abreu, que entrou no segundo tempo da
partida no Chile, mas o reencontro não
acontecerá. Isso porque o atacante ficou
no país para aguardar o julgamento do in-
cidente que protagonizou há duas sema-
nas, no empate com o Antofagasta, quan-
do honrou seu apelido e arremessou uma
mesa na torcida, que o criticava.
Mesmo diante da fragilidade do rival de
hoje à noite, o lateral-direito Marcinho pre-
gou cautela. “Não podemos ficar visando o
momento do outro time. Não podemos nos
acomodar. Essa vantagem é perigosa. Va-
mos jogar o jogo e tentar a vitória para não
dar chances a eles”, alertou.
O jovem de 21 anos, revelado nas cate-
gorias de base do Botafogo, admitiu que é
uma satisfação pessoal entrar em campo na
Sul-Americana. “É muito legal estar dispu-
Vítor Silva/SSPress/Botafogo
Marcinho treina no Estádio Nilton Santos
tando uma competição internacional. Sendo
um tiro curto, aumenta nossas chances. Al-
guns anos atrás eu percebia que muitos clu-
bes deixavam de lado a Sul-Americana, mas
a Conmebol deu muito valor para ela”.
Botafogo: Jefferson, Marcinho, Joel Car-
li, Igor Rabello e Gilson; Rodrigo Lindoso,
Matheus Fernandes, Rodrigo Pimpão, Re-
natinho e Leo Valencia; Brenner. Audax
Italiano: Peric, Bosso, Escobar, Cuello e
Crovetto; Figueroa, Cornejo, Carrasco,
Abrigo e Faúndez; Jeraldino. Juiz: Michael
Espinoza (Peru).
sua rota na
Bolívia
O Fluminense tinha um plano. Para
se acostumar à altitude que enfrentará
amanhã em Potosí, a 4.064 metros, a
equipe realizaria hoje aclimatação na
cidade de Sucre, que fica 2.819 acima
do nível do mar. De Sucre, a delegação
tricolor iria de ônibus para o local do
jogo. Mas o caos político no departa-
mento de Chuquisaca, que tem Sucre
como capital, jogou por terra o plane-
jamento do Flu.
Com aeroporto e estrada fechados
por conta de protestos pelos royalties
de uma importante reserva de gás, a
solução foi se hospedar em Santa Cruz
de la Sierra, ao nível do mar, e treinar
no CT do Blooming, clube local. A ida
a Potosí será só amanhã, em aviões de
pequeno porte, pois o aeroporto da ci-
dade onde o Fluminense enfrentará o
Nacional não recebe voos comerciais.
A realização da partida chegou a
ficar em dúvida para a diretoria trico-
lor, que cobrou um posicionamento da
Conmebol na noite da última segun-
da-feira. A resposta só chegou ontem, e
irritou os dirigentes do clube.
“Não podemos aceitar tranquila-
mente essas mudanças. É uma cidade
que não tem também as melhores con-
dições hoteleiras (Potosí). Somos uma
equipe com competições a disputar.
Temos jogo contra o Botafogo já na se-
gunda, pelo Brasileiro”, desabafou Pau-
lo Autuori, diretor esportivo de futebol.
Autuori usou o acidente da Chape-
coense como exemplo para externar
seu temor em relação à logística para a
partida. “Não podem esquecer a tragé-
dia da Chapecoense, e temos trabalha-
do nesses três meses em prol da segu-
rança de todos. Não posso admitir que,
por causa de um jogo, coloquemos em
risco a segurança da delegação”.
16 • Conheça nosso site www.jb.com.br Quarta-feira 9 de maio de 2018

Esportes
JORNAL DO BRASIL

Futebol em segundo plano

Vasco estreia na Copa do Brasil em meio a episódios que seguem movimentando a política do clube
Armando Paiva/Raw Image/Lancepress!
Uma goleada por 4 a 1 sobre o América-
-MG em casa que recuperou a confiança de
uma equipe recém-eliminada da Copa Li-
bertadores, antes de ir a Salvador enfrentar
o Bahia hoje, às 21h45m, na estreia na Copa
do Brasil. Quem olha a tabela de jogos do
Vasco se depara com esse cenário, mas ele
não passa de mera ilusão quando se leva em
conta a grave crise política na qual o clube
está mergulhado.
Ontem, o presidente Alexandre Cam-
pello veio a público para prestar esclareci-
mentos depois de receber acusações dos 13
vice-presidentes que deixaram o Vasco na
sexta-feira passada – todos do grupo polí-
tico Identidade Vasco. Eles reclamaram de
falta de transparência por parte de Campel-
lo, principalmente na venda de Paulinho
para o Bayer Leverkusen, sacramentada há
duas semanas.
“Talvez eu tenha incomodado pelo ex-
cesso de transparência, em fazer o que tem
que ser feito. Se o Orlando (Marques, ex-
-vice de finanças) não sabia do balanço, é
porque não se interessou. Ele passou um
fim de semana em Trancoso, outro feriado
fora. Talvez por isso não tenha visto o ba-
lanço. Tudo que foi prometido está sendo
feito: transparência, gestão profissional e
futebol competitivo. Todos os eventos que
ocorreram a partir de janeiro foram lança-
dos, como a venda do Paulinho. Nele cons-
tam todos os valores, condicionamento e ‘Aqui está a pasta do Paulinho’. Campello se defende da acusação do ex-vice de futebol Fred Lopes sobre a transferência recente do jovem
bônus”, justificou-se Campello.
Campello aproveitou para dar mais deta-
lhes acerca da negociação que culminou na Reforço no gol Gabriel Félix não convenceu nas chances Arouca, que pertence ao Palmeiras e está
saída da principal revelação vascaína dos Assim como aconteceu no ano passado, que recebeu neste ano. “Está sendo uma encostado no Atlético-MG, clube com o
últimos anos. “Falei com Fred Lopes so- o técnico Zé Ricardo tem a difícil missão oportunidade única para minha vida e car- qual tem contrato de empréstimo até o fim
bre a venda de Paulinho e perguntei se 20 de blindar seu elenco dos acontecimentos reira. Fiquei muito orgulhoso com o convi- de 2018. O salário de Arouca, no entanto,
milhões de euros seriam aceitáveis. Fred dos bastidores, incluindo o atraso de salá- te”, afirmou o novo goleiro vascaíno. deve travar a negociação. Zé Ricardo tam-
e Newton (Drummond, gerente de fute- rios. Em 2017, ele conseguiu levar o Vasco Além de Gabriel Félix e Fernando Mi- bém busca mais um reforço para o ataque.
bol) disseram que sim. Achei interessante à Libertadores em meio a uma forte instabi- guel, que não poderá atuar na Copa do Bahia: Douglas Friedrich, Nino Paraíba
o clube ficar com 10%, mas o preço caiu lidade política. Na Copa do Brasil, que co- Brasil por já ter defendido outro clube, Zé (João Pedro), Everson, Lucas Fonseca e Léo
para 18 milhões. Ainda elevei para 18,5 meça hoje para a equipe, está a maior pos- Ricardo contará com Jordi para a posição. Pelé; Elton, Gregore, Élber, Vinícius e Zé
milhões. O dinheiro entrou e está sendo sibilidade de alçar voos altos na temporada. Ele voltou recentemente de empréstimo do Rafael; Edigar Junio. Vasco: Martín Silva,
usado para salários e dívidas. Dizem que O Vasco anunciou e apresentou ontem o Tractor Sazi, do Irã. Pikachu, Paulão, Werley e Henrique; Desá-
estou isolado, o que não é verdade. Recebi goleiro Fernando Miguel, de 33 anos, que Apesar da nova contratação, o elenco bato, Wellington, Wagner (Kelvin), Bruno
apoio das mais diversas áreas. Estou muito veio do Vitória. Ele chega para ser o reser- do Vasco ainda não está fechado. Alexan- Cosendey e Caio Monteiro; Andrés Ríos.
mais forte que antes”, declarou o presidente. va imediato de Martín Silva, já que o jovem dre Campello admitiu interesse no volante Juiz: Vinicius Gonçalves Araújo (SP).

Diego Alves: ‘Pé no chão’ VOLTA AOS GRAMADOS

Reprodução Internet Reprodução Internet

Depois de cinco partidas sem sofrer
gols, o Flamengo vive seu melhor mo-
mento na temporada. Os bons resultados
se devem especialmente ao trabalho da
defesa e criam expectativa para a partida
de amanhã contra o Ponte Preta, no Ma-
racanã, às 19h30m. Ontem, o Flamengo
treinou no Ninho do Urubu para o pró-
ximo compromisso pela Copa do Brasil,
com alguns desfalques já antecipados.
Juan, que sentiu dores na coluna e
não chegou a entrar em campo na parti-
da contra o Internacional no último do-
mingo, ficará novamente fora no jogo de
amanhã. A dupla do capitão Réver será,
de novo, o jovem zagueiro Léo Duarte.
O colombiano Orlando Berrío, operado
no ano passado, treinou no Ninho como
parte do seu processo de recuperação.
Outra ausência será a do meia Diego,
que sofreu uma lesão no joelho e sentiu
dores durante a partida contra o Ceará.
Seu retorno está previsto para o con-
fronto com o Emelec, pela Libertadores,
daqui a uma semana. Rhodolfo e Felipe
Vizeu, que não jogaram no Campeonato
Brasileiro até agora por conta de lesões
musculares, também ficarão de fora.
Com a boa fase no Flamengo, as aten-
ções naturalmente se voltaram para o
goleiro Diego Alves. Para o camisa 1, o
time merece elogios, mas é preciso ter
humildade, pois ainda há muito o que al-
cançar. “Seguimos com os pés nos chão.
Não conquistamos nada ainda. Um time
para ser vitorioso e conquistar objetivos,
é preciso um determinado tempo”, decla-
rou o goleiro, ressaltando que o Flamen-
go sofreu apenas três derrotas em 2018.
O atleta procurou equilibrar as expec-
tativas por conta dos bons resultados
e os desafios que o time enfrenta para
conquistar novos títulos. “Não conse-
guimos o Carioca, mas até o momento,
saldo positivo. Vamos seguir com pé no
chão”, ressaltou.
Diego Alves também elogiou o traba-
lho do técnico Maurício Barbieri, e atri-
buiu a boa fase ao interino. “Tivemos
duas semanas para trabalhar à maneira
dele. O Maurício está conseguindo fazer
todos renderem em um nível bastante
alto”, declarou o goleiro.
O jogador, entretanto, evitou comen-
tar o episódio das agressões da torcida Alexi Lalas vira juiz O excêntrico ex-zagueiro da seleção dos Estados
contra a equipe do Flamengo no aero- Unidos, destaque na Copa do Mundo de 1994, anunciou em rede social que
porto do Galeão, onde foi visto jogan- conseguiu a licença da federação do país para ser árbitro. Ele apitará partidas
do um copo de café na multidão. “Eu de ligas inferiores antes de ingressar na Major League Soccer, a elite do futebol
respeito a pergunta”, se esquivou. “Para norte-americano. Já sem o longo cabelo e a barba ruiva que o deixaram famo-
mim, é um assunto encerrado. Temos sos, Lalas chegou a presidir dois clubes depois de sua aposentadoria, em 2003.
tantos assuntos bons para falar”, disse Atualmente, é comentarista de futebol em uma emissora de esportes dos EUA.
Diego Alves.
Rio de Janeiro — Quarta-feira, 9 de maio de 2018
O múltiplo
mineiro
No próximo sábado, o mineiro mais mineiro do
Clube da Esquina, o cantor, compositor e instrumen-
tista Beto Guedes vai subir ao palco do Teatro Brades-
co, na Barra, para apresentar seus principais sucessos
e algumas novidades. Tímido por excelência, o bardo
de Montes Claros com alma de roqueiro arrasta uma
multidão por onde passa. Afinal, não é todo dia que
se tem a chance de ouvir grandes clássicos da música
brasileira, como “Lumiar”, “Sol de primavera”, “Feira
moderna”, “Sal de primavera”, na voz do seu autor.
Beto Guedes, de 66 anos, não tem pressa e gosta de
manter um pacto com o novo, mostrar coisas novas em
cada show. Calado, frases curtas, ele diz: “Estou fazendo
meus shows pelo país e sempre pensando em alguma no-
vidade para mostrar para o meu público. Tem muita coisa
boa sendo feita no Brasil, pena que não são mostradas”.
Beto começou tocando baixo. Volta e meia, ele toca
com uma relíquia, um modelo alemão Hofner idênti-
co ao de Paul McCartney, com o formato de violino,
que aparece na capa do álbum “Contos da lua vaga”,
de 1981. Ele também toca violão (de 6 e 12 cordas),
viola caipira, bandolim, cuatro venezuelano, bateria e
percussão e, nos últimos anos, não larga as suas gui-
tarras Fender Stratocaster, que, ao lado das Gibson,
são ícones do rock mundial.
Conheça nosso site www.jb.com.br • Não pode ser vendido separadamente
JORNAL DO BRASIL
Beto Guedes representa para a (ainda) pacata Lu-
miar, na Região Serrana do Estado do Rio, o que
Brigite Bardot foi para Búzios. A bordo do antológico
álbum de estreia “A página do relâmpago elétrico”, de
1977, a faixa “Lumiar” estourou em todo o país, ficou
meses em primeiro lugar nas paradas e também na
liderança das músicas mais tocadas no rádio.
Por isso, o distrito de Nova Friburgo, com seus
rios, sua neblina, seus pássaros e seu silêncio, entrou
no mapa do turismo e hoje está perigosamente bem
maior. “A página do relâmpago...” é considerado um
dos mais importantes trabalhos da música popular
brasileira contemporânea e foi um sucesso de vendas.
No show de sábado, o mineiro vai dar uma geral em
sua carreira que começou quando ele tinha 18 anos e
participou do V Festival Internacional da Canção de
1970, com “Feira moderna”, uma parceria com o muito
saudoso amigo Fernando Brant (1946-2015), defendi-
da pelo Som Imaginário, o ‘time dos sonhos’, formado
por Wagner Tiso (piano), Fredera (guitarra), Zé Ro-
drix (voz), Tavito (violão), Luiz Alves (baixo), Naná
Vasconcelos (percussão) e Robertinho Silva (bateria).
A mistura de música mineira tradicional, rock dos
anos 1960 e choros que o pai seresteiro (seu Godofre-
do) compunha, fez de Beto Guedes um artista múlti-
Lívia Bastos/divulgação
LUIZ ANTONIO MELLO*
Especial para o JB
plo. Ele participou ativamente do Clube da Esquina,
que projetou nacionalmente os compositores mineiros
contemporâneos (de nascimento ou de coração), como
Milton Nascimento, Lô Borges, Fernando Brant e o
próprio Beto Guedes.
“Meus shows são sempre prestigiados pela moçada.
Acho que as melodias tocam as pessoas, independente
da idade”. Beto tem razão. Graças as suas inúmeras
referências musicais, as plateias misturam gente de
todas as idades e nos últimos tempos tem levado ma-
ciçamente a “moçada”, na faixa dos 30 anos.
Sobre o Brasil? Beto Guedes pondera: “Espero que o
bom senso e o equilíbrio predominem e que possamos
construir um país melhor”.
* luizantoniomellomail@gmail.com
Serviço
Beto Guedes ao vivo
Sábado (12/5), às 21h
Teatro Bradesco (Shopping VillageMall - Av. das Américas,
3.900 - Barra da Tijuca; Tel.: 3431-0100)
Ingressos a partir de R$ 40
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Divulgação

Cheia de si

IZA promove o álbum de estreia, ‘Dona de mim’, que chegará às lojas na próxima sexta

IZA é uma amálgama. Uma fusão de gêneros, de artistas que a pre- foi um passo natural. “Acho que amadureci mais como artista. A minha
MARCUS CELESTINO
cedem. “Sempre gostei de um monte de coisas e não sabia se as pessoas musicalidade tem mais a ver comigo”, garante.
marcus.celestino@jb.com.br
aceitariam logo de cara”, comenta, por telefone, um tanto hesitante. Seu timbre poderoso fez com que a própria gravadora a consi-
A artista lançou o álbum de estreia, “Dona de mim”, nas plataformas derasse a “Rihanna brasileira”. “Me sinto lisonjeada, até porque ela
digitais no final de abril e o trabalho chegará às lojas nesta semana. é uma pessoa que admiro, mas estou longe disso. Tento entender
“Queria criar uma parada que tivesse todas as minhas influências. Foi o que fiz nesse positivamente essas comparações, pois sei que é uma forma de elogiar o que faço”.
tempo”, destaca a carioca de Olaria, de 27 anos. Por outro lado, há quem encontre no clipe de “Ginga”, que gravou com Rincon Sa-
No disco, IZA - o nome artístico de Isabela Lima tem as iniciais em maiúsculas piência, semelhanças com Beyoncé.
- firma parcerias com figuras de estirpe. Carlinhos Brown, Marcelo Falcão, Rincon O objetivo da artista é outro. “Sou muito fã da Beyoncé, mas este foi um trabalho
Sapiência e Thiaguinho são algumas das figuras que emprestam fulgor ao álbum. Time inspirado em outras grandes produções do audiovisual. Queríamos fazer uma coisa
diversificado. “Fiquei muito feliz. Todo mundo que queria está no disco”, frisa. “Cada que tivesse significado. A música é muito brasileira, muito afro. O nome ‘ginga’ re-
música escolhe um artista”, completa. Em “Corda bamba”, por exemplo, ela faz dueto mete ao Brasil. Foi daí que vieram todos os signos do clipe”, explica e acrescenta: “O
com Ivete Sangalo. A canção, que alterna beats eletrônicos e batuque brasileiro, emana Rincon é um dos caras que mais têm feito a diferença no rap, há uma assinatura no
poder. “É uma música feminina, pop. Precisava de uma mulher poderosa”, ressalta. “A flow dele, que é a cara do Brasil e muito especial artisticamente”, elogia. IZA também
mais poderosa que conheço é a Ivete”, acrescenta fazendo reverência à baiana. diz que a dupla buscou inspiração em Kendrick Lamar e SZA, que fazem dueto em
Além das participações desses artistas, a cantora também teve a ajuda de Pablo Bispo, “All the stars” (da trilha sonora de “Pantera Negra”).
Sergio Santos e Ruxell. O trio ajudou Além da agenda abarrotada de
a carioca a criar, elaborar e produ- shows, IZA também já ensaia alguns
zir as canções presentes em “Dona passos na seara da atuação. Ela fez
de mim”: “Na primeira reunião, eles uma participação em “Vai que cola”,
perguntaram o que eu gostava de can- sitcom do canal Multishow. “Curti
tar. Mostrei Stevie Wonder, Rihanna, bastante. Foi a primeira vez que atuei.
Beyoncé, Dona Summer e outras”, O elenco me deixou superconfortá-
diz. “O que a gente fez foi criar uma vel”, relata. “Estou louca para ver o
identidade eletrônica, sonora, para resultado”, diz animada. A cantora
amarrar todos esses estilos”. afirma que pretende fazer mais “al-
“Dona de mim” é plural, mas guma coisa” nessa área. Todavia, não
conciso. “Queria mostrar minha será uma prioridade. Outro tópico
versatilidade, colocar tudo que gos- que não está no topo dos seus ob-
to de cantar mesmo. Tem rap, R&B, jetivos, ao menos por enquanto, é o
blues, reggaeton e, claro, pop. Sou de uma possível (e provável) carreira
apaixonada por música pop”, expli- internacional.
ca. O ecleticismo de Iza vem de ber- “Mal comecei, quero fazer as coi-
ço. O pai, instrumentista, e a mãe, sas com calma. Vai rolar o momento”,
professora de música, inundaram os garante. Por ora, quer mesmo é curtir
ouvidos da jovem com gêneros di- a promoção de seu álbum e os shows,
versos. “Tudo que curto ouvir hoje como o que fará no próximo dia 18,
ouvi quando era criança, com eles. no Viaduto de Madureira, na Zona
Era ótimo”, rememora. Norte do Rio.
A cantora ganhou notoriedade, “É um show que eu estava espe-
inclusive fazendo covers de artistas rando muito. É um público que me
pelos quais têm apreço. Despontou segue faz tempo, que me inspira. Tem
em uma trilha sonora de televisão sido muito divertido ver o pessoal de
cantando “I put a spell on you”, gra- Madureira curtir minhas músicas”,
vado em estúdio com orquestra e ar- comenta, empolgada. No viaduto,
ranjos do maestro Arthur Verocai. A pretende desfilar seu repertório com
versão foi produzida para a novela as já usuais performances vocais bem
“Pega pega”. A música ficou fora do trabalhadas e passionais, que exalam
primeiro álbum. Neste trabalho, a sua confiança. Confiança, aliás, que IZA
extensão vocal foi valorizada. “Os ou- adquiriu há pouco tempo.
tros covers não tinham essa potência. “Estava muito insegura sobre o ca-
As pessoas que não me conheciam minho que deveria tomar. As muitas
descobriram o que eu gostava e como A cantora faz influências que tenho poderiam ficar
gostava de cantar”, avalia. um mix de suas meio perdidas. Hoje estou muito con-
O single “Pesadão”, que veio logo referências fiante”, afirma. As 14 faixas de “Dona
em seguida, gravado com Marcelo musicais, como de mim” deixam claro que IZA não
Falcão (ex-O Rappa) fez a carreira blues, rap, R&B caiu no famigerado clichê de “caldei-
de IZA decolar de vez. Mais de 127 rão de influências” que acabam tiran-
e o pop
milhões de usuários do YouTube já do a identidade de vários artistas. IZA
assistiram ao vídeo. “Dona de mim” amarra tudo com precisão.
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O GALA DO MET é planejado meses antes pela

Hildegard Angel
diretora de moda da Vogue, Anna Wintour. É o evento
do ano da moda no mundo. Cada roupa que cada
celebridade usará é planejada para satisfazer os
holofotes da mídia. O Baile traduz a liberdade de criar,
para que a moda se mantenha sempre no patamar
de expressão artística, pois assim é considerada e
preservada em museus de todo o mundo. hilde@jb.com.br

Q
Só faltou entrar uem não tem cão caça com gato. Quem não tem Baile do Copa
caça com Baile do Met. Ou vice-versa. Pois, esta semana, assistir
a Orquestra à entrada do Baile do Metropolitan Museum teve um certo déja
vu. Foi praticamente como assistir à entrada do Baile do Copa na
do Maestro turma do sereno, com os grandes costureiros do carnaval assinando as
Severino e roupas mais espetaculares. Tipo o Henrique Filho, que veste como deusas
as Rainhas do Baile e de Bateria, desde as Galisteus e Lumas até as atuais
atacar uma Sabrinas e Julianas, sempre leves, etéreas, majestosas. O Baile do Met tam-
marchinha de bém é temático. Este ano, o tema foi “Corpos Celestes: Moda e Imaginação
Católica”, celebrando a exposição sobre moda eclesiástica inaugurada no
carnaval, para Fashion Museum. Lá estavam as maiores celebridades do mundo, vestin-
do looks excêntricos e luxuosos, assinados pelos grandes estilistas da atua-
animar de vez o lidade, lembrando, alguns deles, fantasias de carnaval de luxo.
sacrilégio O que foi uma grande oportunidade para os costureiros italianos, impreg-
nados com a ambiência católica do Vaticano, brilharem. Gucci, Valentino,
Fotos AFP
Gianbatista Valli, Moschino, Versace, Dolce&Gabbana estiveram imbatíveis
com suas criações, excedendo-se, sem cerimônia, nos símbolos sacros. O
Espírito Santo virou cocar, o Sagrado Coração serviu de liga de meia e as
cruzes abundavam, que o digam Madonna e as voluptuosas Kardashian. Na
moda não há há heresias. Sem esquecer um oratório, com a Sagrada Família
dentro, que Sarah Jessica Parker equilibrava na cabeça, e arrancou aplausos
desde a saída de casa, em West Side, quando ela desceu a escadinha de sua
Townhouse e entrou na Van de teto alto, que precisou ser providenciada,
para caber a catedral. Enquanto Ariana Grande cobriu-se de pintura do teto
da Capela Sistina, Rihana foi de branco com a Mitra e a capa do Papa, mas as
pernocas de fora. Cardeais, bispos, padres, os homens foram o plus da noite,
a moda masculina realmente superou-se, com capas, estolas, smokings e ter-
nos bordados e rebordados com crucifuxos, hóstias, cálices, missais, pom-
bas e muito vermelho. No meio de tanta santidade, havia um com smoking
de cetim todo vermelhinho, inclusive nos sapatos. Até ELE foi, socorro!

Blake Lively: vermelho Vaticano

Rihana iconoclasta Lana Del Rey: Espírito Santo azul

Cara
Delevigne:
na clausura
Ariana Grande: teto da Sistina por Da Vinci

Jeremy Scott e Cardi B de Moschino

Evans Rachel; Katy Perry, anjo de procissão Jared Leto: Jesus Cristo

Lily
Collins

Tayor Santa
Hill Madonna
Amal Clooney, rosas vermelhas de Santa Terezinha; Chadwick Boseman, o Pantera Negra, eleito o Mais Bem Vestido do Met Sarah Jessica Parker: Presépio na cabeça
Com João Francisco Werneck
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Fotos divulgação

Ricardo Martins e Patrícia Selonk em cena de ‘Hamlet’, espetáculo da Armazém Companhia de Teatro que está indicado a sete categorias

Redução de preços
nos ingressos teatrais
Anúncio será feito na entrega do 12º Prêmio APTR, no Theatro Net Rio, esta noite
De olho na crise de público
MÔNICA RIANI
que afeta as peças em car-
monica.riani@jb.com.br
taz na cidade, o produtor
Eduardo Barata anuncia
hoje, durante a entrega do 12º Prêmio APTR (Associação
dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), a campanha
de popularização de ingressos para formação de plateia.
A cerimônia de premiação será realizada no Theatro Net
Rio, em Copacabana.
Conjuntamente, Barata revelará uma estratégia para
driblar a dificuldade que muitos espectadores, sobretudo
da Terceira Idade, sentem em lidar com a internet para
comprar ingressos, depois que a publicação de roteiros
da mídia impressa foi reduzida drasticamente nos últi-
mos anos, prejudicando o acesso à informação sobre os
Em sentido horário:
espetáculos em temporada.
Guida Vianna está
Os contemplados levarão para casa uma estátua sim-
indicada como melhor
bolizando o reconhecimento. Nada de dinheiro. “Tanto
atriz por “Agosto”,
a Prefeitura quanto a Rede Globo retiraram o patrocínio,
Armando Babaioff
mantido apenas pelo Itaú Cultural”, conta o produtor ca-
melhor ator por “Tom
rioca, que há 30 anos trabalha no setor. Concorrem espe-
na fazenda” e Amir
táculos, artistas, produtores e técnicos em 13 categorias.
Haddad, que dirigiu
A estrela da noite vai além da crise. Decano do teatro bra-
Maitê Proença em “A
sileiro, o mineiro Amir Haddad, de 80 anos, participante
mulher de Bah”, é o
dos principais momentos do teatro nacional, fundador do
grande homenageado
grupo Tá Na Rua, será o homenageado. Os apresentadores
da premiação
são os atores Renata Sorrah e Jonathan Azevedo.
A comissão julgadora é formada por Bia Radunsky,
Daniel Schenker, Lionel Fischer, Luiz Felipe Reis, Mack-
sen Luiz, Maria Siman, Rafael Teixeira, Rodrigo Fonseca, favorecidos. Ocorre que há ONGs que se profissionali-
Tânia Brandão e Wagner Correa, todos com atuação de OS INDICADOS zaram nisso, o que é ruim. Na Rocinha, há cinco que
excelência no território das artes cênicas. Este ano, os disputam entre si. Sou contra. Estamos longe de conseguir
Espetáculo “Pagliacci”
recordistas de indicações são os espetáculos “Suassuna - uma alternativa para melhorar a questão de formação de
“Adeus, palhaços mortos!” Mônica Martelli por “Minha
O auto do Reino do Sol” (oito categorias), “Hamlet”, da “Hamlet” vida em Marte” plateia”, destaca.
Armazém Companhia de Teatro (sete categorias) e “Tom “Love, love, love” Pedro Kosovski por “Tripas” Ao longo desses 30 anos de experiência no setor teatral,
na fazenda” (sete categorias). “Suassuna - O auto do Reino Atriz em papel o produtor ressalta que, nas décadas de 1990/2000, o fe-
“Na noite de hoje, também estamos comemorando os do Sol” protagonista nômeno das “Velhinhas das vans” alcançavam o grande
15 anos da APTR, fundada quando o Rio havia perdido “Tom na fazenda” Aline Deluna por “Josephine público e lotavam as salas. Pessimista, pensa lá na frente,
o Prêmio Moliére e havia uma crise similar à atual. A Direção Baker, A Vênus Negra” para onde vão os que estão chegando. “Vejo acontecer
criação do prêmio APTR foi para que a classe se visse Eric Lenate por “Love, love, Débora Falabella por “Love, uma grande renovação na cena teatral carioca, de grupos,
refletida”, afirma Barata. Antes de Amir Haddad, outros love” love, love” de novos autores, de novos elencos, companhias que estão
medalhões foram homenageados, como o saudoso Ser- José Roberto Jardim por Guida Vianna por “Agosto” se reunindo, muitos profissionais se formando pela Escola
gio Britto e as damas Fernanda Montenegro, Nathalia “Adeus, palhaços mortos!” Patrícia Selonk por “Hamlet” Martins Pena, a Casa de Artes de Laranjeiras e a Unirio,
Timberg e Bibi Ferreira. Luiz Carlos Vasconcelos por Yara de Novaes por “Love, não sei que mercado há para comportar essa massa que
“Suassuna - O auto do Reino love, love”
Segundo ele, a crise é cíclica. “Só que há 12 anos, a bilhe- está chegando”, pondera.
do Sol” Ator em papel
teria era o principal sustentáculo econômico de manuten- Uma tentativa para alterar este quadro é o lançamento
Paulo de Moraes por “Hamlet” protagonista
ção de uma peça. Hoje, não. Apenas fenômenos como os Rodrigo Portella por “Tom na Adrén Alves por “Suassuna - da campanha de popularização de ingressos e também de
monólogos do ator Paulo Gustavo e da atriz Monica Mar- fazenda” O auto do Reino do Sol” informação no cenário teatral carioca. “Tem muita gente
telli, que está indicada como melhor autora, conseguem Autor Armando Babaioff por “Tom da Terceira Idade que ainda não se adaptou à internet.
isso”. Daí a iniciativa de se investir em formação de plateia Bráulio Tavares por “Suassuna na fazenda” Há quem ficou órfão do tijolinho no jornal. O público se
numa campanha. “Estou sempre viajando na ponte-aérea - O auto do Reino do Sol” Ary Fontoura por “Num lago habituou a procurar este serviço”, completa.
Rio-São Paulo, com espetáculos aqui e lá. No Rio, durante Gustavo Gasparani por “Zeca dourado” A APTR está fora da reunião de grupos que vêm se
um ano em cartaz a peça ‘Os vilões de Shakespeare’, de Mar- Pagodinho - Uma história de Gustavo Vaz por “Tom na reunindo para mudar o estado de coisas que paralisa
celo Serrado, penou com público. Em São Paulo, a lotação amor ao samba” fazenda” equipamentos culturais e a cadeia produtiva das artes
estava sempre esgotada nas duas sessões de sábado e uma Luís Alberto de Abreu por Ricardo Kosovski por “Tripas” cênicas na cidade. “Acho que o setor teatral se politizou
no domingo. Lá há leis muito ativas, unidades do Sesc por de forma partidária, a APTR está fora disso. Somos uma
todos os bairros, um baita Sesi na Avenida Paulista com associação representativa, o teatro em nosso entender
entrada franca. No Rio, alguma coisa precisa acontecer a chegada de duas mulheres de classe média alta a um precisa conversar com o Estado, independente de quem
para mudar o quadro”, adverte. espetáculo de sua produção, com credenciamento de esteja lá. Se não houver diálogo com representante do
Barata é contra a ação de Organizações Não-Governa- uma entidade do gênero com atuação na Rocinha. “Esses setor cultural no Poder Executivo, alguém que propicie
mentais (ONGs) e grupos que levam público por valores grupos surgiram no lastro da contrapartida obrigatória avanços na Lei Rouanet, no sistema fiscal ou tributário,
populares ao teatro. Diz que presenciou pessoalmente das leis de incentivo, que prevê 10% da plateia para menos fica inviável”.
Quarta-feira, 9 de maio de 2018
Rapper
americano
estoura com
clipe que faz
crítica cheia
de metáforas e
é considerado
uma ‘obra-
prima
dolorosa’
Gambino
e a metáfora
da violência
REBECA LETIERI Ator, roteirista e criador
rebeca.letieri@jb.com.br da premiada série “Atlan-
ta”, Donald Glover foi
convidado a apresentar
o episódio do “Saturday Night Live” do último sába-
do e ser a atração musical do programa. Na ocasião,
aproveitou para performar duas novas músicas e fazer
a estreia mundial do videoclipe que já está dando o que
falar, “This is America“.
O clipe alcançou 32 milhões
de visualizações no YouTube em
48 horas. Dirigido por Hiro Mu-
rai, é coreografado por Sherrie
Silver, especialista em dança afri-
cana. Murai, parceiro de Glover
na série “Atlanta” - que fala sobre
a vivência do negro na América -
dirige um cenário que é palco de
tiroteios, violência policial, pro-
testo, e o porte de armas, tudo
em torno do racismo.
No programa da NBC, Glo-
ver ainda fez piada com o rapper
Kanye West - que vive um dos
momentos mais polêmicos de
sua carreira, desde que declarou
ao site TMZ que a escravidão nos
EUA era uma opção. West compartilhou o videocli-
pe de Glover - também conhecido na música como
Gambino - em sua conta no Twitter, o que foi recebido
com provocações dos internautas: “Ele é quem você
gostaria de ser”.
Em artigo publicado no ”Washington Post”, a jor-
nalista Sonia Rao descreve o videoclipe como “uma
obra-prima dolorosa, mas perfeitamente cronometrada,
o que Glover parece fazer melhor”. O single deve compor
o novo disco de Gambino, ainda sem data de lança-
mento definida. São muitas metáforas em um clipe que
desperta diversas reações, entre elas o choque, a raiva, e
o incômodo. Na tela, Gambino aparece sem camisa em
um grande galpão, onde a atmosfera vai da calmaria ao
caos, de forma simultânea e com cortes violentos. As
vítimas são sempre pessoas negras: “Essa é a América”,
repete a persona de Donald Glover, ao longo da música.
“É um clipe incrível com várias referências provoca-
tivas. Para mim, como artista, ele é uma grande influên-
cia. E uma influência altamente positiva. Dificilmente
alguma coisa nesse ano de 2018 vai superar o impacto
desse trabalho”, comentou o rapper brasileiro Rincón
Sapiência, premiado pela Bravo! com o álbum “Galanga
livre”. A cantora e compositora de rap e R&B Drik Bar-
bosa faz uma advertência: “O clipe mostra nitidamente
como o entretenimento que nós mesmos produzimos
pode ser usado pelo sistema contra nós, se não prestar-
mos atenção”.
Versos fúteis
Gambino não canta sozinho no vídeo. Convidou
alguns rappers que estão em alta no momento, como
Young Thug e Chance The Rapper para a gravação,
Caderno B
além de citar versos que criticam a futilidade, como
os de artistas que dizem se sentirem bonitos ou se ga-
baraem por usar roupas de grife, enquanto, ao fundo,
uma guerra acontece.
O rapper brasileiro Rashid comenta que o estilo
musical escolhido por Glover para falar sobre a vio-
lência policial e perpassar por todos os estereótipos do
norte-americano. “Ele mistura o rap moderno, que é o
trap, com uma pegada meio gospel e uma menção ao
folk, com uma mudança totalmente inesperada”, expli-
ca o músico que acredita que a mistura foi feita com a
intenção de satirizar o estilo musical do rap moderno,
considerado vazio pelos tradicionais críticos da mú-
sica. “Ele está trazendo um discurso superpoderoso
em uma batida de trap. E essa mensagem através da
música também brinca através das cenas”, completa.
Há diversas interpretações para o clipe, sendo
a referência mais explícita os eventos em Charles-
ton em 2015, quando os participantes de um culto
de oração foram assassinados pelo autodeclarado
supremacista branco Dylann Roof. No Twitter, di-
versos usuários tentaram decifrá-las. Glover começa
dançando, fazendo poses e caretas, que remetem aos
personagens racistas da Era Jim Crow, termo usado
para descrever as leis de segregação pré-direitos civis.
Tudo isso distrai o telespectador para o que acontece
ao fundo durante todo o vídeo. Para a revista “For-
bes”, “essas expressões de alegria do artista no clipe,
em contraste com a violência ao redor, sugerem uma
América que se diverte com a contribuição cultural
da comunidade negra”.
Na opinião de Rashid, Gambino acerta por re-
ter a atenção nele, quando o caos se instaura atrás
Conheça nosso site www.jb.com.br • 5
Fotos Reprodução do YouTube
dele. “Ninguém está
olhando, porque todo
mundo foca no que
acontece no mains-
tream. Essa violência
e a forma como ela é
tratada nos Estados
Unidos também está
muito presente no
Brasil”, acrescenta.
É possível perce-
ber também que to-
das as armas usadas
pelo personagem de Glover são devolvidas com
muito cuidado, enquanto os corpos são deixados
de lado, fazendo alusão ao culto às armas nos EUA,
como se as pistolas fossem tratadas com mais res-
peito do que a vida humana. No país, os estados
são os responsáveis por regulamentar o porte de
armas de fogo.
O vídeo termina com Gambino perseguido em um
corredor escuro, cena sugerida como referência ao
filme de Jordan Peele, indicado ao Oscar de 2018: “Get
out”, ou “Corra!”, no Brasil. Se as referências foram
premeditadas ou não, o rapper grita a realidade, que
é se lamentar do assassinato de um negro, enquanto
mantém um sorriso falso na cara.
Quem é Gambino?
Donald Glover começou a carreira em 2006, como
roteirista da série “30 Rock”, com a qual ganhou o
Prêmio Writers Guild of America de Melhor Série
de Comédia em 2009, pela terceira temporada. Seu
último disco, “Awaken, my love”, de 2016, teve cinco
indicações ao Grammy, incluindo a de Álbum do
Ano. A faixa “Redbone” ganhou o Grammy 2018
de Melhor Performance R&B Tradicional. Gambi-
no recebeu dois Emmy e um Globo de Ouro por
“Atlanta”. Lançou dois outros álbuns - “Camp” (2011)
e “Because the Internet” (2013) - e atua no filme ‘Han
Solo: Uma história Star Wars’, de Ron Howard, que
estreia no Brasil no próximo dia 24. Para a crítica, é
um artista completo. “Ele é muito versátil e não é um
versátil meia boca. Tudo que ele mete a mão é para
fazer com a maior qualidade possível”, observou o
youtuber Faustino Beats.
6 • Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Quarta-feira, 9 de maio de 2018

O mundo aos
RODRIGO FONSECA*
Especial para o JB

CANNES (França) - Presidente do júri de Cannes,

ocupada desde ontem em avaliar os 21 filmes concor-
rentes à Palma de Ouro, Cate Blanchett está com Holly-

pés de Blanchett
wood a seus pés - sem contar a Croisette. Preparada para
desafiar as forças do sobrenatural em “The house with
a clock in its walls”, a ser lançado em setembro, a atriz
australiana de 48 anos tem pela frente um dos títulos
mais esperados pelo mercado exibidor: “Oito mulheres
e um segredo”, previsto para junho, tendo Sandra Bullock
e Anne Hathaway a seu lado. Depois, em outubro, será Alberto Pizzoli/AFP
vista à frente de um candidato nato ao Oscar: “Where’d
you go, Bernadette”, de Richard Linklater, o diretor do
aclamado “Boyhood” (2014). E não cessam os convites
para ela atuar ou dublar animações. Só que, daqui até o
dia 19, quando saem os ganhadores do festival francês,
seu foco está 100% na Croisette.
Isso se seus filhos - Edith, Dashiell, Robert e Ignatius
- colaborarem, pois dia 14, segunda que vem, é seu ani-
versário. “Todo festival de cinema tem uma implicação
política, pois os filmes que eles revelam e premiam im-
pactam a sociedade de várias maneiras. Nosso trabalho
aqui é extrair o melhor que temos”, disse Cate a Cannes,
para mostrar seus planos no comando de um júri de nove
artistas de múltiplas origens e experiências.
Seu time de jurados reúne a cantora e composito-
ra Khadja Nin (Burundi); duas atrizes (a francesa Léa
Seydoux e a americana Kristen Stewart); a diretora Ava
Duverney (EUA); os também realizadores Denis Ville-
neuve (Canadá), Andrey Zvyagintsev (Rússia) e Robert
Guédiguian (França) e o ator chinês Chang Chen. Eles
têm de escolher o ganhador da Palma de um rol de con-
correntes aberto ontem por “Todos lo saben”, do iraniano
Asghar Farhadi. Só três dos competidores têm mulheres
na direção: a francesa Eva Husson entra no páreo com
“Les filles du soleil”; a italiana Alice Rohrwacher vai pra
disputa com “Lazaro felice” e a libanesa Nadine Labaki
confronta seus rivais com “Capharnaüm”. Como o núme-
ro de homens cineastas na peleja por láureas aqui é de 18,
parte da mídia europeia (sobretudo o jornal “La Croix”)
vê sexismo na seleção montada por Thierry Frémaux, o
diretor-artístico de Cannes. Mas Cate entende que trans-
formações são graduais.
“Se você me perguntar se eu penso que deveria haver
mais mulheres, eu vou dizer que sim, é óbvio. Mas, veja,
edições passadas só traziam duas mulheres em concurso.
Já houve vez em que tivemos só uma. Às vezes, nenhuma.
Precisamos mudar. Mas nenhuma mudança se faz da noite
para o dia”, diz Cate, que já aceitou participar de todos os
eventos paralelos de Cannes ligados ao pleito feminino,
com a entrega do troféu honorário Women in Motion, à
diretora Patty Jenkins (de “Mulher-Maravilha”) no dia 13
de maio. “A diversidade e a igualdade de gêneros é urgente”.
Em 28 anos de trajetória nas telas, Cate, revelada ao
estrelato em 1998, com “Elizabeth”, já ganhou dois Oscars.
O primeiro veio por sua atuação como coadjuvante em
“O aviador” (2004), de Martin Scorsese, no qual inter-
pretava a mítica estrela Katherine Hepburn. O segundo, A poderosa Cate Blanchett comanda um júri de nove artistas de múltiplas origens e experiências
de Melhor Atriz, veio em 2014, por “Blue Jasmine”, de
Woody Allen. Ela sabe o quanto um prêmio pode nutrir
uma carreira.
“Um filme digno de Palma é aquele que conjugue a ge”, falando do Islã, de crises simbólicas e de imperialismo. dos Realizadores, paralela à disputa oficial de prêmios. Aos
melhor direção ao melhor trabalho de elenco à melhor “A cada filme, Godard nos leva a uma nova experiência. 75 anos, o diretor de “Taxi driver” (ganhador da Palma
dramaturgia ao mais intenso empenho técnico. Mas é Nunca dá pra saber o que ele vai mostrar”, diz Cate. O dourada de 1976) está finalizando um novo thriller de
também um filme antenado a seu tempo”, explica a atriz, clipe alcançou 33 milhões de visualizações no YouTube Máfia: “The irishman”, para a NetFlix, com seus velhos
que militou pelo direitos LGBT ao viver uma aristocrata em 48 horas. Dirigido por Hiro Murai, é coreografado parceiros Robert De Niro e Joe Pesci. Ele fugiu da ilha de
lésbica em “Carol” (2015), sempre apoiada por seu marido, por Sherrie Silver, especialista em dança africana. Murai, montagem apenas para receber a honraria cannoise. Logo
o dramaturgo Andrew Upton, com quem vive desde 1997. parceiro de Glover na série “Atlanta” - que fala sobre a após a homenagem, será exibido o aguardado “Pájaros de
Um de seus desafios é julgar os filmes pelo que eles são vivência do negro na América -, dirige um cenário que verano”, ensaio metafísico de viés ameríndio sobre o tráfico
e não pelo histórico de seus realizadores. Afinal, há entre é palco de tiroteios, violência policial, protesto, e o porte de drogas na Colômbia com direção do casal Cristina
os indicados polemistas profissionais, como Jafar Panahi de armas - tudo em torno do racismo.”. Gallego e Ciro Guerra, o mesmo de “O abraço da serpente”.
e Spike Lee e uma lenda das telas, Jean-Luc Godard, que, Nesta quarta, o já citado Martin Scorsese vem a Cannes
desde “Acossado” (1960), desafia parâmetros de lingua- para receber um prêmio especial pelo conjunto de sua *Rodrigo Fonseca é roteirista e presidente da Associação
gem. Godard vem à Croisette agora com “Le livre d’ima- carreira, a Carroça de Ouro, dada na mostra Quinzena de Críticos do Rio de Janeiro (ACCRJ)

‘Todos lo saben’: Novela do SBT com fotografia de luxo

Saca aquele tipo de filme com atores de quem você é
devoto (Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín),
pilotado por um cineasta de quem se é fã (Asghar Farhadi)
e ambientado num país que gerou lendas das telas (e esta-
mos falando de lendas com L em caixa alta, caso de Carlos
Saura e Pedro Almodóvar), no qual, lá pelas tantas, perce-
be-se que está faltando algo? Então, o filme de abertura de
Cannes em 2018 é isso aí: “Todos lo saben” desaponta. A
imprensa chiou às pencas ao fim da sessão, ontem.
O respeito pelos envolvidos nessa produção multi-
nacional, rodada em Madri e orçada em 10 milhões de
euros, até faz a gente torcer para que, de uma hora para
outra, uma reviravolta ou um espírito de luz que fale es-
panhol mude tudo. Porém todas as viradas desse roteiro
formulaico escrito pelo oscarizado realizador iraniano de
“A separação” (2011) se guiam pela obviedade, a ponto
de o público, na projeção para jornalistas, rir em cenas
talhadas para fazer chorar. Nem Darín salva: o papel dele,
mal lapidado, ofusca seu carisma.
Penélope Cruz e Javier Bardem, no filme de Farhadi
Como a fotografia é de José Luis Alcaine, um parceiro
fiel de Almodóvar, a luz que embrulha os planos é soberba.
Estamos diante de um dos maiores fotógrafos da Europa.
Porém o glacê não disfarça o azedume do bolo. Na direção
e em sua concepção de dramaturgia, Farhadi não prima
por aprofundar os conflitos de seus personagens - todos,
menos o de Bardem, são reduzidos a caricaturas. Ele
também não explora os enredos periféricos, capazes de
enriquecer o filme de fora pra dentro.
Pesado, por não dar espaço a redenções num formato
(o folhetim) afeito à ideia da “volta por cima”, o rascante
“Todos lo saben” tem como seu eixo um rapto. Em visita
à sua família na Espanha, depois de anos morando na
Argentina, Laura (Penélope) tem sua filha adolescente
sequestrada. Seu marido, o ex-alcoólatra salvo por Deus
Alejandro (Darín), ficou por aqui pela América do Sul.
Resta a ela contar com um ex-namorado do passado,
hoje casado: Paco (Bardem), que comprou terras outrora
pertencentes ao pai de Laura.
Existe uma pressão marxista que obriga Paco a ajudar
seu amor de ontem: ele foi empregado naquelas terras,
onde a mais-valia ainda impera. Porém essa dimensão
social do longa acaba aterrada em fórmulas de fácil resul-
tado que não se sustentam, dada a fragilidade na tessitura
dramática de Laura e cia. Parece novela do SBT. (R.F.)