No século XVII René Descartes marcou o pensamento ocidental com sua visão de
homem. Nesta nova forma de enxergar o homem, ele acaba sendo concebido com uma
dualidade entre mente e corpo, interatuantes entre si. Tal visão criou uma tendência nas
ciências, por conseguinte, cientistas e pesquisadores postularam suas teorias sobre essas
duas entidades separadamente, tal como o Freud com a psicanálise baseada no
inconsciente e Wundt que buscou o estudo do cérebro humano, reduzindo-o a partículas
elementares de sensações, sentimentos e imagens. No decorrer dos séculos, surgiram
teorias que contestaram essa visão e consideravam essa dualidade um desafio no
caminho para se entender e descrever os seres humanos. Dentre tantas teorias, uma que
adquiriu destaque e conquistou adeptos foi a teoria organísmica. A partir do ponto de
vista organísmico, o ser humano passa a ser visto com uma unidade, um todo unificado
e organizado.
Carl Ransom Rogers nasceu em Oak Park, Illinois, em 8 de Janeiro de 1902. Frequentou
a Universidade de Wisconsin e depois transferiu-se para Universidade de Columbia
onde obteve grau de mestre e doutor em Psicologia. Seu primeiro contato com a
experiência prática em psicologia clínica e psicoterapia foi como interno no Institute for
Child Guidance , que tinha uma orientação fortemente freudiana. Depois de receber seu
grau de doutor em psicologia, Rogers reuniu-se à equipe do Rochester Guidance Center
e mais tarde tornou-se o diretor da instituição. Segundo palavras do próprio Rogers, a
equipe era eclética e ocorriam muitas discussões sobre métodos de tratamento na prática
cotidiana. Foi nessa instituição que surgiu nele um esforço para descobrir a ordem
existente na experiência de trabalho com pessoas (ROGERS, 1959, p. 186-187 apud
HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000).
Para criação de sua abordagem e teoria da personalidade, Rogers tivera duas influências
principais. A primeira delas foi a psicologia humanista. Para Rogers, a psicologia
humanista se opõe ao pessimismo e desespero inerentes à visão psicanalista do ser
humano, por um lado, e à concepção robótica do ser humano da análise do
comportamento. A psicologia humanista é mais otimista e esperançosa com relação ao
ser humano, considerando que cada indivíduo possui em si um potencial para o
desenvolvimento saudável e criativo. O fracasso desse desenvolvimento se daria em
virtude de influências coercitivas e distorcedoras do contexto familiar, da educação e de
outras pressões sociais. E mesmo diante do fracasso, os efeitos prejudiciais podem ser
superados se o indivíduo estiver disposto a aceitar a responsabilidade por sua própria
vida. A segunda é a psicologia existencial, pois sua teoria é basicamente
fenomenológica, levando-se em conta que ele enfatiza a experiência das pessoas, seus
sentimentos e valores e quase tudo o que está contido na expressão “vida interior”.
A teoria da personalidade de Rogers, tais como a de Freud, Jung e Adler, foi concebida
a partir de suas experiências como terapeuta. A partir de suas influências, Rogers
formulou uma teoria que não evidencia construtos e sim a mudança e desenvolvimento
da personalidade. Porém, dois construtos são de importância fundamental para
compreensão de sua teoria: o organismo e o self.
O Organismo e o Self
Rogers coloca, entretanto, que uma questão decorre disso: como o sujeito pode, dessa
forma, discernir uma imagem subjetiva que é uma representação fiel da realidade de
uma que não é? Como ele pode diferenciar fato de ficção em sua realidade subjetiva?
Para responder a isso Rogers propõe que as percepções de uma pessoa não constituem a
realidade para ela, mas antes hipóteses sobre a realidade, que a pessoa irá testar,
verificando a exatidão da informação na qual a hipótese da pessoa se baseia,
comparando com outras fontes de informação. Apesar disso, muitas pessoas não tratam
suas subjetivações como hipóteses, mas como representações fieis da realidade, e
frequentemente acabam com várias ideias errôneas sobre o mundo e sobre si, que as
fazem agir de forma irrealista e por vezes prejudicial, inclusive para si mesmas (HALL
LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p.368)
O self por sua vez diz respeito a uma parte do campo fenomenal que se diferencia por
envolver aquelas percepções do organismo sobre si próprio, ou seja, seu autoconceito.
Do conceito de self deriva o conceito de self ideal, que seria o self que o indivíduo
gostaria de ter; colocado de outra forma, a pessoa que ele gostaria de ser (PERVIN &
JOHN, 2004).
Dinâmica da Personalidade
De acordo com Carl Rogers (1951), o organismo tem uma tendência e uma busca básica
– realizar, manter e melhorar o organismo que experiencia. Esta tendência é seletiva e
projeta o organismo em direção à realização e completude, baseando-se na suposição de
que os organismos têm um motivo fundamental para melhorar. Numa direção positiva e
progressiva, o organismo age motivado por um impulso auto realizador, e tem como
meta ser uma pessoa completa, por meio da ação. A ação, que constitui o fenômeno, é o
elemento central de percepção da existência do organismo como indivíduo, e tal busca
de experiência traz possibilidades formativas. Há assim um movimento para a frente na
vida de todas as pessoas, uma contínua tendência a atualização. Esta tendência nos
move como seres humanos e é a única força na qual o terapeuta pode realmente confiar
para conseguir melhoras no cliente. Para tal, Rogers recomenda que aja um
relacionamento funcional visando a melhora terapêutica, criando um clima de mudança
em que o cliente se senta livre para reconhecer e agir de acordo com sua tendência
atualizadora.
Desenvolvimento da Personalidade
Referências