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Os Sábios
do Talmud

Rabi Akiva
Pérolas do Rabi Akiva (1)

Mishná 3:17 do Pikê Avót


A Ética do Sinai, Irving M. Bunim
Editora Sêfer
RABI AKIVA
O Rabi Akiva Ben (filho de) Iossef, viveu em cerca de
40-135 e.c.; era de origem pobre e humilde, e analfabeto
e inculto até os quarenta anos.33 Ajudado por sua esposa,
Raquel, filha do poderoso Calba Savúa, estudou extensa
e intensamente com os grandes eruditos de Iavne; ambos
padeceram de penúrias durante todo este tempo. Para sus-
tentar-se, ele vendia lenha, e ela teve de cortar sua extensa
cabeleira para vendê-la. Durante muitos anos estiveram se-
parados para que ele pudesse dedicar-se integralmente ao
estudo da Torá em Iavne, até que chegou a ser um distinto
mestre da lei judaica. Considerado, afinal, o maior erudito
de sua época, tinha milhares de estudantes em sua acade-
mia em Benê Brac,34 entre os quais alguns que seriam, a seu
tempo, destacados mestres da geração seguinte. Seus ensi-
namentos registrados refletem sua humildade e modéstia.
Por outro lado, sua bondade e benevolência foram notá-
veis.35 Acima de tudo, foi agraciado com uma capacidade
intelectual realmente extraordinária.
Com relação a sua grandeza como intérprete da Torá
escrita, o Talmud relata que, no Sinai, Moisés viu o Todo
-Poderoso fazendo pequenas coroas, como adornos, sobre
as letras da Torá. Quando perguntou a que se deviam, foi
informado de que um dia, um sábio chamado Akiva ben
Iossef iria deduzir as interpretações legais e regras a partir de
cada coroa e linha de adorno destas letras.36
Pioneiro da interpretação da Bíblia, também reuniu e orde-
nou toda a Torá oral por tópicos, estabelecendo as bases para
a posterior redação da Mishná pelo Rabi Iehudá Hanassí.37
Quando Roma promulgou decretos contra a fé judaica, o
Rabi Akiva integrou a comitiva que foi à capital para obter
sua revogação.38 Roma finalmente proibiu categoricamente
o estudo da Torá. O Rabi Akiva ignorou o decreto tran-
quilamente e, em 135, depois da derrota de Bar Cochbá (a
quem havia apoiado em sua esperança messiânica), sofreu
uma morte de mártir, com a prece “Shemá” nos lábios.39
Nenhum tanaíta teve influência mais profunda na histó-
ria religiosa judaica.

Notas

33. T. J. Berachót 4, 1. T. B. 27b. Pessachim 49b; Avot deRabi Natan A 6.


34. T. B. Iebamot 62d; Nedarim 50a; Ketubót 63a.
35. Tossefta Meguilá 4, 16; T. B. Nedarim 40a; Midrash Rabá Levítico 34, 16.
36. T. B. Menachót 29b.
37. T. B. San’hedrin 86b.
38. Vide T. B. Sucá 23b; Midrash Rabá, Rute 6, começo.
39. T. B. Berachót 61b; T. J. 9, 5.
O Rabi Akiva diz:
Risos e leviandade conduzem o homem à liberti-
nagem.
A massoret (tradição) é a cerca da Torá;
os dízimos são a cerca da fortuna;
os votos são a cerca da devoção;
e a cerca da sabedoria é o silêncio.
A palavra hebraica para “conduzir” é marguilim, que está re-
lacionada com rêguel, “pé”. Os risos e a leviandade podem acostu-
mar o pé de uma pessoa a trilhar um certo caminho que conduz à
imoralidade.
Bem, uma certa dose de riso faz bem à pessoa, e algum humor
é necessário para tornar a vida suportável, pois é relaxante e permite
superar as tensões da existência. Em certas ocasiões, o Rabi Akiva e
o Rabi Iehudá Hanassí inseriam algumas brincadeiras em suas sérias
e compenetradas aulas de Torá, a fim de animar os alunos que esta-
vam semiadormecidos. O Raba começava cada dissertação sua com
algo divertido, para relaxar seus discípulos.154 Mas, se as brincadeiras
e a diversão deixarem de ser um meio, para se converterem num
modelo de vida, a ponto de destruírem a seriedade e a formalidade,
podem levar ao cinismo e ao descaramento, e acabar conduzindo à
imoralidade.
A palavra marguilim está relacionada com herguel: costume,
hábito. O riso e a leviandade acostumam a pessoa a certos pensa-
mentos; determinados modos de ver as coisas se tornam habituais.
Isto é perceptível em qualquer ambiente. Assim, o sadismo e a bru-
talidade da comédia de pancadaria, com o uso constante da cruelda-
de como se fosse uma “piada”, os duplos sentidos e nuanças obscenas
em assuntos “engraçados”; as alusões nada sutis a corrupção e obs-
cenidade por parte de “humoristas” carentes do verdadeiro humor,
evocam ideias em nossas mentes, que nos afastam da Torá. Quando
um homem absorve e revela pensamentos lascivos e impuros, os atos
imorais certamente serão o próximo passo.
A massoret (tradição) é a cerca da Torá
Uma cerca serve a duas finalidades: por um lado, proteger
aquilo que encerra dos elementos externos; por outro lado evitar que
aquilo que encerra transborde suas fronteiras. A “cerca” que serve a
este duplo propósito com relação à Torá é a nossa sagrada tradição, a
interpretação oral de nosso texto escrito, que foi fielmente entregue
por Moisés a Josué e daí para as demais gerações, até que Rabi Iehu-
dá Hanassí começou a registrá-la por escrito sob a forma da Mishná.
A transmissão fiel desta tradição exigiu grande diligência e estudo
por parte de muitos mestres e eruditos. Ela exigia estudo, repassa-
gem constante e análise perspicaz.
Esta é a tradição que tem protegido nossa Torá contra-ataques
e investidas internas e externas. Forças externas sempre exerceram
pressão para que abandonássemos a Torá. Às vezes, a força bruta era
usada, como nos dias dos greco-sírios, dos romanos e da Inquisição.
Depois, havia a pressão das restrições econômicas e discriminações,
e mais tarde, o engodo da aceitação social e da emancipação política.
Estas eram forças abertas ou veladas, aparentes ou tácitas, tangíveis
ou intangíveis, que tornavam tão mais “fácil” o abandono do judaís-
mo tradicional. Não obstante, esta nossa tradição, que envolvia toda
a vida do judeu e estava firmemente arraigada em sua alma, formava
uma cerca inexpugnável contra todas as pressões. Nossa “cerca” ser-
viu bem a seu primeiro propósito.
Mas, em quase todas as gerações, apareceram no seio do povo
judeu “pensadores” que ofereceram novas interpretações da Torá e
tentaram revolucionar as normas e valores judaicos. Houve os sa-
duceus, os essênios, os caraítas e os maskilim, todos reivindicando
“iluminismo.” Mas a massoret, nossa cuidadosa e precisa tradição
da Torá oral, autenticamente mantida e transmitida, desmentiu as
suas interpretações e estes movimentos acabaram ficando à beira da
estrada, não tendo sido seus seguidores elementos vitais na história
de nosso povo.
Mas o que a massoret faz por nós, exatamente? Ela é essencial,
ou melhor, é indispensável para nossa compreensão da Torá em vá-
rios e diferentes níveis. Para começar, nem saberíamos a pronúncia
das palavras da Torá, se não fosse pela nossa tradição. O idioma
hebraico normalmente não usa os sinais vocálicos e assim as pala-
vras podem ser pronunciadas de diversas maneiras, e cada uma das
quais permitiria diferentes significados. Assim, por exemplo, a pala-
vra chalav, leite, pode ser lida chélev, “gordura”; zécher, “memória”,
pode ser lida zachár, “varão”. Nossa tradição, portanto, conserva a
leitura correta de cada palavra das Sagradas Escrituras e, portanto,
seu significado correto.
Por outro lado, a ortografia de cada uma das palavras da Torá
também é muito importante, pois frequentemente pode afetar todo
o conjunto da lei judaica. Por exemplo, ao estabelecer a festividade
de Sucót, a Torá menciona três vezes a palavra Sucót, “cabanas”.155
Nos primeiros dois casos, a palavra é escrita chasser, “carente” da
letra vav, enquanto na terceira vez, o vav é incluído (na palavra Su-
cót). A tradição interpreta que a letra vav faltante indica uma Sucá
“incompleta”, ou seja, a “cabana” pode ser satisfatória mesmo se tiver
um pequeno defeito, por exemplo, só três paredes.155a Somente a
autêntica massoret poderia ter protegido e conservado tanto a orto-
grafia precisa quanto o significado das letras faltantes.
Ademais, a massoret ainda tem muito a nos dizer quanto às
partes narrativas da Torá. Como observou certa vez o Rabi Moishe
Stoll, existe uma tremenda diferença entre as descrições de algumas
das grandes figuras bíblicas em relação a como aparecem no Tanach e
a forma como aparecem nas interpretações e exposições do Talmud e
Midrash. Por exemplo, o caráter de José é um tanto sutil e ambíguo,
se nos restringirmos apenas ao relato bíblico. Podemos observar isto
comparando as diferentes interpretações e retratos aos quais Thomas
Mann e Maurice Samuel chegaram em seus respectivos escritos.156
Ambos fizeram suas obras partindo somente da Bíblia e para o res-
tante fizeram largo uso da sua imaginação, a “licença poética”. Mas
quando olhamos para José, segundo a tradição rabínica, ele assume
novas dimensões e torna-se um verdadeiro gigante entre os homens,
um herói da moralidade.
O mesmo pode ser dito da história do rei David. Como figura
multifacetada, ele se presta a variadas interpretações. Segundo o as-
pecto de sua personalidade que se considere como principal, pode-se
chegar a biografias de David-o rei, David-o amante, David-o poeta,
David-o guerreiro. Hollywood, por exemplo, tomou seus estereoti-
pados valores adolescentes e fez uma produção de um milhão de dó-
lares com base em David e Betsabá, o que, sem dúvida, deixou uma
imagem distorcida em milhões de mentes impressionáveis – uma
tarefa educativa distorcida e difícil de ser corrigida.
Novamente, é a massoret que nos permite ver a David tal qual
o Tanach o considerou definitivamente. É no Talmud que ficamos
conhecendo o David como o homem que dormia o sono mais leve e
curto todas as noites apenas para ser despertado à meia-noite, quan-
do o vento norte fazia vibrar levemente as cordas da sua harpa. Então
ele costumava acordar e compor os Salmos de adoração ao Todo-Po-
deroso.157 No Talmud vemos David-o erudito, imerso em diferentes
aspectos da lei judaica, para chegar às decisões necessárias.158
Na realidade, a massoret é uma cerca que rodeia a Torá, e pre-
serva e salvaguarda a sagrada palavra em sua totalidade, dando-lhe
seus matizes, sabores e significados corretos. Com esta proteção, a
Torá permanece inalterável diante de qualquer tentativa de corrup-
ção, perversão e distorção.
Os dízimos são a cerca da fortuna

Você poderia pensar que os dízimos, longe de serem uma cerca


da fortuna, tenderiam a dissipá-la, pois, se de um milhão de dóla-
res, você doar um dízimo, ficará com $100.000 a menos do que a
quantia original. Contudo, o Talmud toma as palavras da Escritura,
asser teasser (Certamente separarás o dízimo...)159 e faz um jogo de
palavras, interpretando-as como asser bishvil shetitasher: “Dá o dí-
zimo para que possas ficar mais rico.”160 O Senhor do Universo o
recompensará pelo dízimo, abençoando-o com ainda mais riqueza;
assim, você poderá dar mais, em troca.
Se você pensa que isto é bom como pregação, mas não fun-
ciona na vida real, existe uma história fascinante no Midrash, que é
digna de ser contada: Havia um homem que sempre era cuidadoso
e preciso com os seus dízimos. Sua granja produzia mil medidas de
grão, e cada ano doava cem medidas de dízimo. Isto deixava-lhe
mais que o suficiente para sustentar adequadamente sua família.
Quando sentiu que seu fim se aproximava, chamou o filho a
seu lado: “Meu filho” – ele disse – “cuida da granja: Ela produz uma
colheita de mil medidas, e destas eu sempre doei cem para o dízimo.
Isto me proveu o sustento necessário por toda a vida.”
No primeiro ano após a morte de seu pai, tudo correu como
antes: o campo produziu mil medidas, das quais o filho doou cem.
No segundo ano, ele decidiu economizar: deu somente noventa me-
didas a título de dízimo, achando que isto seria o suficiente. Na co-
lheita seguinte, o rendimento foi de somente 900 medidas de grão.
Mas o filho foi persistente e deu novamente menos do que o dízimo.
Desta vez deu oitenta medidas em vez de noventa.
Veio a próxima safra, e a produção agora foi de oitocentas me-
didas. O filho ficou ainda mais determinado. Das oitocentas medi-
das, ele doou como dízimo, somente setenta.
Isto continuou até que a colheita toda se reduziu a cem medi-
das, ou seja, a quantidade que seu pai desejava que ele doasse como
dízimo. Uma vez que ele estava enfrentando a pobreza absoluta, sua
família decidiu intervir. Um belo dia, todos os parentes vieram visitá
-lo, vestidos de branco (com suas melhores roupas sabáticas). Ele os
recebeu com amargura: “Viestes regozijar-vos com meu problema?”
– indagou.
“Que o Céu não o permita!” – responderam com uma ponta
de sarcasmo. –“Viemos falar contigo. No passado, eras um dono de
terras e o Santíssimo, bendito seja, era o cohen, já que recebia cem
das mil medidas que a granja produzia. Mas, agora, tu és o cohen e
Ele é o dono de terras” – Ele deu a ti o dízimo sobre as mil medidas
originais.161
O relato do Midrash termina aqui, e só nos resta desejar que o
filho tivesse entendido, finalmente, que, ao tentar “enganar” o To-
do-Poderoso, doando para caridade como se Ele o tivesse abençoado
com uma fortuna menor, o Todo-Poderoso fez com que ele ficasse
realmente com aquilo que fingia ter.
No livro dos Salmos, encontramos: “O Eterno é tua sombra
protetora sobre tua mão direita.”162 Sabemos como uma sombra se
comporta. Quando a mão está fechada, a sombra da mão está fe-
chada. Quando se abre a mão, sua sombra também se abre. Esta é
a reciprocidade com que o Todo-Poderoso age. Se a mão direita for
generosa para com os pobres, o Todo-Poderoso também abrirá os
Seus tesouros de bênção e abundância. Mas se ela retiver ou recusar
a prática da caridade, Ele reduzirá suas bênçãos.
A relação entre dízimos e riquezas pode ser confirmada, se
quiser, por algo que muitos observaram na história social e política
dos Estados Unidos. Durante a grande depressão do começo da dé-
cada de 30, a sociedade americana, como também as riquezas que
possuíam, foram protegidas pelos gastos abundantes, os “dízimos”
que o governo americano concedeu. Empregos acordados por meio
de projetos governamentais, subsídios a pequenos donos de terra e,
posteriormente, o sistema de seguro social e indenização por desem-
prego foram os “dízimos” que finalmente ajudaram a preservar seu
sistema de livre empresa e as “riquezas” que ele promove.
Em sentido definitivo, a “riqueza” que você possui não lhe per-
tence, já que não pode levá-la ao outro mundo. A verdadeira “cerca”
ou proteção para nossa riqueza consiste em dar o dízimo à caridade,
já que concretizando boas ações com nosso dinheiro, convertemos
nossa “riqueza” em algo permanente, duradouro e, em certo sentido,
“portátil”, pois, assim agindo, trocamos o dinheiro por uma riqueza
de mérito e virtude que nos acompanhará mais além do túmulo.

Os votos são a cerca da devoção

Tanto na Bíblia quanto no Talmud existe todo um conglome-


rado de leis que tratam do tema das “promessas”: que restrições ou
abstinências um judeu pode impor-se, além daquelas ordenadas pela
Torá, e quais os “votos” que podem adquirir a força de uma lei da
Torá.
Em geral, nossa tradição não vê com bons olhos as promessas
e votos especiais, nem aprova totalmente as pessoas que se abstém
de coisas permitidas pela Torá. A respeito, o Talmud assevera que
“quem faz um voto é chamado pecador mesmo se cumpri-lo”163;
ademais, se “alguém faz um voto, é como se construísse um altar de-
sautorizado; e se o cumpre, é como se oferecesse um sacrifício sobre
ele.”164 Esta atitude é confirmada por uma lei que se aplica ao nazir
(nazireu), uma pessoa que faz uma promessa de abster-se de beber
vinho, cortar o cabelo e tornar-se ritualmente impuro: quando com-
pleta seu período de abstinência, que geralmente dura trinta dias, a
Torá exige que ele ofereça um chatát (oferenda por haver pecado).
Mas qual teria sido o pecado deste nazir?
Primeiro, o de ter-se privado de alguns prazeres que são conce-
didos por Deus e constituem uma bênção para a humanidade.
Em segundo lugar, o nazir está, de fato, acrescentando à Torá,
por assim dizer. Aparentemente, ele considera as múltiplas proibi-
ções da Torá insuficientes, e deseja “aperfeiçoá-las”, acrescentando
novas. Este pode ser um ato de devoção e adoração, mas está fora
de lugar, sob o ponto de vista religioso. O Todo-Poderoso ordenou
a construção de um Templo Sagrado em Jerusalém. Oferecer sacrifí-
cios sobre altares não autorizados e situados em outros lugares é sinal
de um forte impulso de adoração, mas ao mesmo tempo indica que
a Torá não foi considerada suficiente.
Em geral, então, o nazir não é muito estimado no judaísmo.
Apesar disto, existem aqueles que escolhem fazer um voto mesmo
diante da desaprovação assinalada. Para muitos, ser um nazir por
algum tempo é proveitoso, pois reforça as determinações de uma
pessoa de controlar suas paixões e impulsos tempestuosos. Neste
sentido, Rabi Akiva os considera uma cerca para o autodomínio.
Shimon, o Justo, foi um Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) do
Templo Sagrado. Havia um nazir do qual ele se lembrava vivida-
mente, entre os muitos que traziam seus sacrifícios.
“Vi” – disse Shimon, o Justo – “que era de boa aparência, olhos
bonitos e cabeleira ondulada. Disse-lhe: ‘meu filho, qual o motivo
para que tu destruas este lindo cabelo?’ – pois fazer o voto implica-
va em cortar todo o cabelo ao final do período de abstinência. Ele
respondeu: – ‘Eu era um pastor para o meu pai em minha aldeia.
Certa vez, ao tirar água de um poço, vi meu reflexo (na água) e meu
ietser hará (má inclinação) apoderou-se de mim e procurou excluir-
me do mundo da moralidade e da decência, pois fez com que eu me
desse conta de quão devastadoramente atraente poderia ser para as
mulheres. Paixões começaram a incitar-me a uma carreira de imora-
lidade indiscriminada. Disse para o meu mau instinto: ‘Ó, perverso!
Por que te envaideces e orgulhas de um mundo que não é o teu
e em favor de alguém que está destinado a servir de alimento aos
vermes? Juro que rasparei os cabelos por amor aos Céus.’ – Naquele
momento e lugar – concluiu Shimon – levantei-me e o beijei na
cabeça, exclamando: Meu filho, que possam haver em Israel muitos
que façam o voto de nazir, como tu fizeste! A ti se aplica o versículo:
‘Quando um homem... fazendo um voto de nazir, para consagrar-se
ao Eterno’165 (por amor ao Todo-Poderoso ).”166
Neste caso, o voto foi por um motivo puro, moral. Mas, se a
pessoa fizer um voto de nazir por pura fanfarronice, para mostrar
que é mais devoto do que o seu semelhante, ou se agir impulsiva-
mente, por masoquismo ou autoflagelação, ele está pecando.

A cerca da sabedoria é o silêncio

Na sabedoria popular de quase todas as nações existe um adá-


gio elogiando a virtude do silêncio. Todos estamos familiarizados
com o ditado “A palavra é prata, o silêncio é ouro.”167 o Talmud tem
sua própria versão, muito mais antiga: “A palavra vale um sêla (moe-
da), mas o silêncio vale dois.”168
Esta afirmação de nossa Mishná, porém, implica que o indiví-
duo já tem sabedoria e, então, a melhor política é o silêncio. A inter-
pretação para sua reticência será de que está imerso em pensamentos
profundos ou não acha necessária sua intervenção erudita no tema
da conversa. Por outro lado, se for arrastado para uma discussão
poderá emitir julgamentos apressados, fazer uma observação impru-
dente ou indiscreta. Se você tem sabedoria, proteja-a com uma cerca
de silêncio.
Bem se disse que “o homem sábio sabe o que diz, mas o tolo
diz o que sabe.”169 As pessoas que não se detém para refletir tendem,
naturalmente, a dizer sem discrição o que sabem.
Muitas vezes, acaba sendo indiscreto e imprudente. Com fre-
quência, nas réplicas e tréplicas do trato social, é melhor não se re-
velar completamente numa conversa comum. É mais prudente ser,
por assim dizer, “um mistério” do que alguém cujas opiniões todos
conhecem.
Mas, finalmente, como diz o sábio Salomão: “Há um tempo
para tudo... tempo de calar e tempo de falar.”170 O ensinamento da
nossa Mishná é válido em temas de conversas cotidianas, em nossas
relações sociais habituais, mas quanto às palavras de Torá, o princípio
aplicado é: “E falarás a respeito das mesmas quando estiveres sentado
em tua casa e quando estiveres andando pelo teu caminho.”171 Ao es-
tudar Torá é necessário dar expressão aos pensamentos e articulá-los,
para que fiquem claros em nossa memória. Aqui devemos mesmo
falar, para preencher nossa mente e coração com a palavra de Deus.
Consideremos agora outra questão: que ligação ou relação há
entre os diversos pronunciamentos do Rabi Akiva nesta Mishná?
Talvez possamos encontrar entre eles, elementos de associação.
Seu primeiro ensinamento foi: “Risos e leviandade conduzem
o homem à libertinagem.” Por que alguém se entrega completamen-
te a risos e leviandade? Talvez porque seja ignorante e não saiba nada
sobre Torá. Neste caso, que ele comece a estudar; “a massoret (tradi-
ção) é a cerca da Torá.” Ou talvez ele seja rico, não tenha problemas
para se sustentar e a ociosidade o conduza à leviandade e daí à imo-
ralidade. Neste caso, que ele se dedique à caridade, a causas filantró-
picas; “os dízimos são a cerca da fortuna.” Que ele atue numa escola
de Torá, uma ieshivá ou em um lar dos velhos. Mas talvez ele seja
uma pessoa de sangue ardente e paixões fortes, o que o conduz ao
riso e frivolidade, no caminho para os prazeres ilícitos. Neste caso,
“os votos são a cerca da devoção”. Que ele se inscreva em um movi-
mento de apoio à Torá, em uma luta para dominar e libertar-se de
suas paixões. Finalmente, o veículo para a leviandade e brincadeiras
irresponsáveis é a palavra.
Como sustenta Salomão: “Na abundância de palavras, os peca-
dos não estarão faltando, mas quem refreia seus lábios é sábio.”172 “A
cerca da sabedoria é o silêncio.” A “cura” mais eficaz para um palha-
ço, o exibicionista incorrigível que arrasta a si e aos demais para além
dos limites do decoro, é um pouco do áureo silêncio autoimposto.
Notas

154. Midrash Rabá, Gênesis 58, 3; Cântico dos Cânticos 1, 64; T. B. Pessachim
117a.
155. Levítico 23:42 (duas vezes) e 43 (uma vez).
155a. Isto vem indiretamente da grafia em T. B. Sucá 66.
156. Comparar com o tratamento de Thomas Mann em sua famosa trilogia
“Joseph”, e Maurice Samuel, Certain People of the Book, Nova York, 1955.
157. T. B. Berachot 3b.
158. Ibid 4a.
159. Deuteronômio 14:22.
160. T. B. Shabat 119a, Taanit 9a.
161. Midrash Rabá Êxodo 31, fim.
162. Salmos 121:5.
163. T. B. Nedarim 77b.
164. T. B. Iebamot 109b, Nedarim 22a, Guitín 46b, Nedarim 59a e 60b diz: “é
como se ele tivesse queimado incenso nele.”
165. Números 6:2.
166. T. B. Nedarim 9b.
167. Citado por Thomas Carlyle em Sartor Resartus como um provérbio suíço.
168. T. B. Meguilá 18a.
169. Iossef Chayím Caro (1800-1895), Minchát Shabat (comentário sobre Avot
), Krotoschin 1847, ad loc.
170. Eclesiastes 3:1, 7.
171. Deuteronômio 6:7.
172. Provérbios 10:19.

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