Mc 6.30-34
Por isso, aprendemos que Cristo tem
Quando Jesus saiu do barco, viu a multidão e teve pena daquela gente
porque pareciam ovelhas sem pastor (Mc 6.34)
As chuvas que têm caíram no sul do brasil deixaram muitos
desabrigados. De várias cidades temos notícias de pessoas que estão fora
de suas casas, enfrentando dificuldades dos mais diferentes tipos para
viver estes dias. Outros não perderam apenas temporariamente suas
casas, mas elas foram destruídas pelas águas ou foram soterradas pela
lama e tudo foi totalmente perdido. Além da chuva, ainda tem o frio.
Esta situação do povo do sul tem levado muitas pessoas a usá-los como
meio de ganhar a vida. São políticos corruptos, empresários ou
beneméritos mal intencionados... Por outro lado, quem de nós não fica
com pena, não sente piedade daquele povo ao ver a situação em que
vivem? Quem de nós já não se perguntou como poderia ajudar a
diminuir todo aquele sofrimento? Mas, quem de nós lembra-se da
situação que eles estão enfrentando fora do horário do noticiário?
Isso acontece porque nós temos um sentimento chamado piedade,
vulgarmente chamado de pena ou dó. Este sentimento nos leva a
momentaneamente sofrer com outras pessoas. Mas, por causa do
pecado, tão logo deixamos de enxergar o sofrimento do próximo,
também deixamos de ter piedade por ele. Afinal, pensamos nós, que é
que eu posso fazer para diminuir todo este sofrimento? E, se fizer algo,
que tipo de incomodação eu vou ter? Terei que pagar alguma coisa? Ou
será que eles irão me pagar para que eu ajude? Vemos, portanto, que
temos alguma piedade, mas desde que ela não nos custe muito.
No evangelho de hoje, conforme a BLH, vemos que Jesus teve pena da
multidão que ia em seu encalço, buscando ajuda para seus problemas. A
palavra grega está mal traduzida nesta versão que usa uma linguagem
bastante simples. Outras traduções da Bíblia usam o termo compaixão,
que é mais apropriado para o sentimento que Jesus teve. Compaixão é
um sentimento de piedade que vem do íntimo da pessoa. É, podemos
dizer, uma piedade apaixonada.
uma compaixão apaixonada por nós. E por essa razão nós podemos
avançar com gratidão a Deus.
I. A Compaixão de Jesus vem a nós
Uma das coisas que chama a nossa atenção na compaixão de Jesus, é o
fato de que ela vem até nós. Jesus é compassivo porque Ele conhece as
nossas necessidades. Isso nós aprendemos do episódio do evangelho de
hoje. Os discípulos retornaram de sua missão e agora prestavam um
relatório ao Jesus de tudo aquilo que haviam feito e anunciado. Jesus
percebe que tudo o que eles mais precisavam era de algum tempo para
descansar. Afinal, eles tinham enfrentado vários dias de trabalho pesado
e estafante.
Mas havia tanta gente ao redor deles que não conseguiriam descansar
ali. Jesus então compadecido de seus discípulos, convida-os a irem a um
lugar tranqüilo, onde possam descansar. Isto nos ensina que Jesus
conhece as nossas necessidades físicas e tem interesse em dar-nos o que
precisamos. Foi para dar descanso físico aos discípulos que Ele sugeriu
procurarem outro lugar.
Por outro lado, Jesus também conhece as nossas necessidades
espirituais. Tanto Ele conhece que veio para nos dar tudo o que
precisamos neste campo. Veio para nos dar perdão dos pecados e para
nos dar o Espírito Santo, que nos convence do amor de Deus por nós e
da Salvação que temos em Cristo. Isso nós aprendemos da compaixão
que Jesus teve da multidão que foi atrás dele. Eles estavam
espiritualmente carentes, e Cristo passa a ensinar-lhes, dando-lhes aquilo
que precisam.
Um aspecto interessante da compaixão de Jesus, é que Ele é compassivo
apesar dos nossos motivos para estarmos com Ele. Os discípulos
estavam apenas preocupados em fazer logo o seu relatório e descansar.
As multidões que foram atrás dele, não conheciam a sua pobreza
espiritual. Elas estavam apenas interessadas em que Jesus fizesse um
milagre e se tornasse o rei que tanto esperavam (confira Ezequiel 34 e
Lucas 15.4-7).
Nós, por nossa vez, que motivos teríamos para correr atrás de Jesus?
Quando nós mais lembramos dele? Não é quando estamos doentes,
querendo que ele seja o médico eficiente e a farmácia mais barata ao
nosso alcance? Quando estamos em situação de perigo, querendo que
Jesus nos proteja e nos salve, preferencialmente sem nenhum arranhão?
Ou quando nos metemos em alguma enrascada, pedindo que ele nos tire
desta situação o mais rapidamente possível?Não é verdade que é comum
nos momentos de alegria, no nosso aniversário, por exemplo,
convidamos muitos amigos para um churrasco e festa, e deixamos de vir
ao culto para comemorar com aquele que nos deu mais um ano de vida?
Mas apesar de toda esta nossa falta de visão daquilo que Jesus realmente
é, Ele tem compaixão de nós e vem a nós. E isso acontece porque Jesus
não quer que ninguém se perca. Os discípulos eram os seu povo.
Aquelas multidões que o seguiam eram suas ovelhas e Jesus, como o
Bom Pastor, não quer que nenhuma ovelha se perca.
Hoje nós somos o povo, as ovelhas de Cristo e Ele vem a nós com sua
compaixão porque nós somos sua propriedade. É por isso que Jesus diz
a cada um de nós: Eu sou o bom pastor. Assim como o Pai me conhece,
e eu conheço o Pai, também conheço as minhas ovelhas, e elas me
conhecem. E estou pronto para morrer por elas (João 10.14-15). E
Cristo, de fato, morreu por compaixão a nós.
II. A compaixão de Cristo o leva a agir
Muitas vezes a nossa compaixão pelos outros resume-se a um
sentimento. Sentimos um grande pesar, mas não agimos para mudar o
quadro. É até muito comum que digamos ao pedinte que bate em nossa
porta que sentimos muito, mas não podemos ajudá-lo em nada. A
compaixão de Cristo por nós é muito diferente. Ele não apenas sente,
mas age em favor de seu povo.
Em primeiro lugar, Jesus pastoreia o seu rebanho. Ele cuida das
necessidades do seu povo, ainda que isso exija que os planos sejam
mudados e que a trajetória seja refeita. O que Marcos deixa transparecer
é que a idéia de um descanso tranqüilo junto com os discípulos foi
deixada de lado para atender necessidades mais urgentes de uma
multidão que parecia um bando de ovelhas sem pastor. Jesus viu a
pobreza espiritual daquelas pessoas e passou a ensinar-lhes muitas
coisas, especialmente a respeito do amor de Deus por cada ser humano e
de como em Cristo nós temos perdão pleno e, assim, a vida eterna.
Em segundo lugar, Jesus salva o seu povo, o seu rebanho. Foi para isso
que Jesus veio ao mundo: para que as ovelhas tenham vida e vida
completa (João 10.10). Esta vida completa Jesus conquistou para cada
um de nós ao morrer na cruz do Calvário. Ali Ele realizou o seu ato
supremo de compaixão: deu seu corpo e derramou seu sangue para
perdão de nossos pecados. O perdão de Deus a todos os nossos pecados
é o resultado da compaixão de Cristo. A história do filho pródigo que foi
perdoado pelo pai ilustra muito bem a nossa situação: nós abandonamos
Deus, mas Deus não nos abandona. Ele age e vem em nosso socorro,
pois a sua compaixão o leva a agir.
Conclusão
Compaixão é uma descrição bonita da atitude de Deus para conosco.
Nós somos ovelhas que são dadas a vagar por aí, sem destino e,
freqüentemente nos perdemos e adoecemos. Mas a boa notícia é que
Jesus tem compaixão de nós e vem nos socorrer. Apaixonadamente Ele
se compadece de nós e nos dá tudo o que precisamos, apesar de nossa
teimosia e revolta, porque não quer que alguém se perca.
Apaixonadamente Jesus se compadece de nós e nos pastoreia com amor
e nos salva eternamente.
Assim, nós podemos avançar com gratidão a Deus. Afinal, Cristo tem
compaixão de nós. Esta é a notícia mais maravilhosa para todos: Jesus
tem compaixão de nós. Amém.