Projeto de Opção II
Um caso raro de Pericardite Aguda
A rare case of Acute Pericarditis
Helena
Manuela
Neves
de
Sousa,
a78553
Mestrado
Integrado
em
Medicina
2º
ano
Ano
Letivo
2016/2017
Hospital
Senhora
da
Oliveira
-‐
Guimarães
Cardiologia
e
Unidade
de
Cuidados
Intensivos
Cardíacos
(UCIC)
Tutora:
Drª
Bebiana
Faria
Ano
Letivo
2016/2017
ÍNDICE
Índice
de
Abreviações....................................................................................................................3
Resumo.................................................................................................................................................4
Abstract................................................................................................................................................5
Introdução...........................................................................................................................................6
Objetivos...............................................................................................................................................8
Metodologia.........................................................................................................................................9
Vivências..............................................................................................................................................10
Exposição
de
Caso
Clínico....................................................................................................10
Eletrocardiograma..................................................................................................................10
Avaliação
Analítica..................................................................................................................11
Ecocardiograma
Transtorácico..........................................................................................11
Evolução
Clínica........................................................................................................................12
Ecocardiograma
Transtorácico....................................................................................12
Tomografia
Computorizada...........................................................................................13
Pericardiocentese
Ecoguiada..............................................................................................14
Diagnóstico
Diferencial..........................................................................................................14
Tratamento.................................................................................................................................15
Conclusão.............................................................................................................................................16
Bibliografia..........................................................................................................................................17
Anexos...................................................................................................................................................19
2
Ano
Letivo
2016/2017
3
Ano
Letivo
2016/2017
RESUMO
No
âmbito
da
Unidade
Curricular
Projeto
de
Opção
II,
realizei
um
estágio
de
5
semanas
no
serviço
de
Cardiologia
do
Hospital
Senhora
da
Oliveira
–
Guimarães
(HSO).
Escolhi
esta
área
porque
a
Cardiologia
sendo
uma
especialidade
médica,
tem
uma
índole
invasiva
crescente,
permitindo
uma
experiência
mais
completa.
Foi
possível
durante
o
período
de
estágio
acompanhar
as
rotinas
nas
diferentes
valências
que
constituem
um
serviço
de
Cardiologia,
nomeadamente,
na
enfermaria,
unidade
de
cuidados
intensivos
cardíacos,
consulta
externa,
serviço
de
urgência
e
bloco
operatório
observando
procedimentos
realizados
pelo
sector
de
pacing
e
electrofisiologia.
No
decorrer
destas
semanas,
acompanhei
diversas
patologias
cardíacas
e
pude
inteirar-‐me
um
pouco
mais
acerca
dos
meios
complementares
de
diagnóstico
disponíveis,
tendo
assistido
à
realização
de
electrocardiogramas,
provas
de
esforço
em
tapete
rolante,
ecocardiogramas
transtorácicos
e
transesofágicos.
Apesar
dos
inúmeros
pacientes
e
respetivas
patologias
com
os
quais
pude
contactar,
o
caso
que
mais
me
marcou
foi
de
um
paciente
com
pericardite
aguda(PA)
de
aparente
etiologia
idiopática
à
admissão
mas
com
evolução
clínica
desfavorável,
pelo
que
se
decidiu
iniciar
o
estudo
etiológico
permitindo
o
diagnóstico
de
pericardite
tuberculosa.
A
PA
é
relativamente
comum,
representando
5%
de
todas
as
causas
de
dor
torácica
que
aparecem
no
Serviço
de
Urgência(SU).
Contudo
a
sua
etiologia
tuberculosa
tem
uma
prevalência
inferior
a
5%
nos
países
desenvolvidos,
daí
este
caso
ser
tão
interessante
do
ponto
de
vista
clínico.
Assim,
neste
relato
irei
identificar
as
diferentes
etiologias
da
pericardite,
referindo
os
exames
auxiliares
que
permitiram
o
diagnóstico
desta
patologia,
o
tratamento
e
o
prognóstico,
sempre
contextualizando
com
o
caso
clinico
que
acompanhei.
4
Ano
Letivo
2016/2017
ABSTRACT
Within
the
scope
of
the
Curricular
Unit:
Option
II
Project,
I
completed
a
5-‐
week
internship
at
the
Cardiology
Department
of
the
Hospital
Senhora
da
Oliveira
-‐
Guimarães
(HSO).
I
chose
this
area
because
although
Cardiology
is
a
medical
specialty,
has
an
increasing
invasive
nature,
allowing,
in
this
way,
a
more
complete
experience.
It
was
possible
during
the
internship
period
to
follow
the
routines
in
the
many
different
valences
that
constitute
a
Cardiology
service,
such
as
in
the
nursery,
intensive
care
unit,
external
consultation,
emergency
service
and
operating
room
observing
procedures
performed
by
the
pacing
and
electrophysiology
sector.
Over
the
course
of
these
weeks,
I
followed
several
cardiac
pathologies
and
I
was
able
to
understand
a
little
more
about
the
complementary
diagnostic
exams,
whitch
includes
electrocardiograms,
treadmill
exercise
tests,
transthoracic
and
transesophageal
echocardiograms.
In
spite
of
the
numerous
patients
and
their
pathologies
with
which
I
was
able
to
contact,
the
case
that
impressed
me
the
most
was
a
patient
with
acute
pericarditis
of
unknown
etiology
upon
admission,
that
after
the
etiological
study
assumed
the
diagnosis
of
pericarditis
caused
by
infection
by
Mycobacterium
Tuberculosis.
Acute
Pericarditis
is
relatively
common,
representing
5%
of
all
causes
of
chest
pain
that
appear
in
the
Emergency
Room.
However,
its
tuberculous
etiology
has
a
prevalence
of
less
than
5%
in
developed
countries,
that’s
why
this
case
is
so
interesting
from
a
clinical
point
of
view.
Thus,
in
this
report
I
will
identify
the
different
etiologies
of
pericarditis,
referring
to
the
auxiliary
exams
that
allowed
the
diagnosis
of
this
pathology,
the
treatment
and
the
prognosis,
always
contextualizing
with
the
clinical
case
I
followed.
5
Ano
Letivo
2016/2017
INTRODUÇÃO
No
âmbito
da
Unidade
Curricular
Projeto
de
Opção
II,
realizei
um
estágio
de
5
semanas
no
serviço
de
Cardiologia
do
Hospital
Senhora
da
Oliveira-‐
Guimarães.
À
medida
que
fui
acompanhando
os
diversos
doentes
com
as
inúmeras
patologias
que
possuíam
dispus-‐me
fazer
este
trabalho
sobre
o
tema
da
pericardite
aguda
(PA)
após
ter
contactado
com
um
caso
clínico
muito
particular
e
invulgar
de
um
paciente
admitido
por
PA,
cuja
evolução
clínica
fazia
suspeitar
uma
etiologia
secundária.
O
que
tornou
tão
invulgar
este
caso
foi
a
raridade
da
sua
etiologia
e
marcha
diagnóstica.
A
PA
trata-‐se
de
uma
inflamação
do
pericárdio
–
saco
fibroelástico
que
envolve
o
coração
e
as
raízes
dos
grandes
vasos
que
tem
como
função
protegê-‐lo
contra
infeções
e
mantê-‐lo
lubrificado1.
Esta
patologia
afeta,
principalmente,
indivíduos
do
sexo
masculino
jovens
(com
idades
compreendidas
entre
os
20
e
os
50
anos),
é
relativamente
comum
representando
5%
de
todas
as
causas
de
dor
torácica
que
aparecem
no
serviço
de
Urgência2,3.
A
etiologia
das
pericardites
pode
ser
categorizada
como
infecciosa
ou
não-‐infecciosa.
Nos
países
desenvolvidos,
os
vírus
são
a
causa
mais
frequente,
enquanto
nos
países
em
desenvolvimento
é
a
tuberculose.
A
pericardite
de
etiologia
não
infecciosa
advém
de
causas
autoimunes,
neoplásicas,
metabólicas,
traumáticas
e
iatrogénicas4.
Nos
países
em
desenvolvimento
que
apresentam
uma
grande
prevalência
de
tuberculose
na
população,
esta
é
responsável
por
cerca
de
70%
dos
casos
de
pericardite
e
tem
elevada
percentagem
de
mortalidade:
cerca
de
25%
aos
6
meses,
na
ausência
de
infeção
por
vírus
da
imunodeficiência
humana
(HIV)
e,
aproximadamente
40%
naqueles
indivíduos
com
co-‐infeção
pelo
HIV5,6.
Por
outro
lado,
a
pericardite
tuberculosa
é
muito
menos
comum
nos
países
desenvolvidos,
contando
com
menos
de
5%
de
todos
os
casos7-‐11.
Contudo
os
fluxos
migratórios
podem
aumentar
a
prevalência
destes
casos
nos
países
desenvolvidos6.
Clinicamente,
a
PA
manifesta-‐se
com
dor
torácica
anterior,
de
características
pleuríticas,
que
agrava
com
os
movimentos
respiratórios
e
em
decúbito
dorsal
e
alivia
com
a
flexão
anterior
do
tronco.
Pode
haver
irradiação
álgica
para
o
pescoço,
membros
superiores
e
músculo
trapézio.
É
comum
uma
história
concomitante
ou
recente
de
sintomas
sugestivos
de
infeção
do
trato
respiratório
alto
e
gastrointestinal2.
O
exame
físico
costuma
revelar
febre,
taquicardia,
atrito
pericárdico
e
por
vezes
hipofonese
dos
sons
cardíacos.12
Uma
das
manifestações
possíveis
da
pericardite
aguda
é
o
derrame
pericárdico,
que
pode
evoluir
para
tamponamento
cardíaco13.
O
diagnóstico
clinico
de
pericardite
é
feito
pela
presença
de
2
dos
seguintes
critérios:
(1)
dor
torácica
aguda
e
pleurítica,
presente
em
>85%-‐90%
dos
casos;
(2)
atrito
pericárdico,
presente
em
<33%
dos
casos;
(3)
alterações
no
eletrocardiograma:
elevação
generalizada
do
segmento
ST
de
concavidade
superior,
com
infradesnivelamento
do
segmento
PR;
(4)
derrame
pericárdico13,14.
Existem
ainda
outros
achados
clínicos
que
corroboram
este
diagnóstico
e
permitem
a
monitorização
da
atividade
da
doença
e
a
eficácia
terapêutica
como:
elevação
dos
marcadores
de
inflamação
nomeadamente,
proteína
reativa
C
(PCR)
e
velocidade
de
sedimentação
(VS).
O
aumento
dos
6
Ano
Letivo
2016/2017
7
Ano
Letivo
2016/2017
OBJETIVOS
§ Conhecer
o
funcionamento
das
diferentes
valências
que
o
serviço
de
Cardiologia
do
HSO
tem
para
oferecer
à
população
alvo.
§ Desenvolver
competências
comunicativas
adequadas
na
relação
médico-‐
paciente
numa
situação
de
consulta
e
internamento.
§ Estimular
competências
práticas
como
auscultação
cardiopulmonar,
avaliação
da
tensão
arterial
e
a
interpretação
de
exames
auxiliares
de
diagnóstico
como
o
eletrocardiograma.
§ Compreender
o
quadro
clínico
da
Pericardite,
as
suas
diferentes
etiologias,
percebendo
o
papel
dos
exames
complementares
para
o
diagnóstico
da
patologia,
bem
como
o
tratamento
mais
adequado
e
dirigido
às
diferentes
etiologias.
8
Ano
Letivo
2016/2017
METODOLOGIA
De
forma
a
atingir
os
objetivos
propostos,
ao
longo
destas
5
semanas
passei
pelos
diversas
valências
do
serviço,
nomeadamente,
a
unidade
de
cuidados
intensivos(UCIC)
que
integra
os
pacientes
mais
críticos,
onde
se
realizam
cardioversões
eléctricas
e
exames
invasivos
de
diagnóstico
com
sedação,
nomeadamente
ecocardiogramas
transesofágicos.
Analisei
e
acompanhei
a
situação
clínica
dos
pacientes
internados
na
enfermaria
de
Cardiologia,
através
dos
diários
clínicos
e
tive
oportunidade
de
realizar
entrevistas
clínicas
bem
como
parte
do
exame
objetivo,
nomeadamente
a
auscultação
cardíaca
e
pulmonar
e
medição
de
pressão
arterial
manual.
Na
unidade
de
diagnóstico,
assisti
à
realização
de
exames
complementares
de
diagnóstico,
entre
os
quais
ecocardiogramas
transtorácicos
e
transesofágicos,
provas
de
esforço
e
eletrocardiogramas.
Esta
experiência
permitiu-‐me
um
maior
desenvolvimento
e
compreensão
de
alguns
padrões
electrocardiográficos
associados
a
determinadas
patologias,
como
a
cardiomiopatia
isquémica,
fibrilação
auricular,
síndrome
de
brugada,
hipertrofia
ventricular
esquerda,
entre
outros.
Para
além
disso,
estive
presente
na
Consulta
de
Cardiologia
Geral
onde
pude
aprimorar
e
perceber
um
pouco
melhor
como
conduzir
a
conversa
de
forma
a
colher
a
melhor
história
clínica
possível
e
as
dificuldades
inerentes
à
anamnese.
Também
tive
a
oportunidade
de
passar
por
uma
vertente
mais
cirúrgica
do
serviço,
o
sector
de
pacing
e
electrofisiologia,
onde
pude
observar
a
implantação
de
pacemakers
definitivos
ou
provisórios,
sistema
de
ressincronização
cardíaca
e
cardioversordesfibrilhadores.
Tive
a
oportunidade
de
assistir
a
intervenções
inovadoras
que
consistem
na
implantação
de
um
dispositivo
que
monitoriza
o
ritmo
cardíaco
(registador
de
eventos)
com
capacidade
de
monitorização
remota
hora
a
hora
permitindo
uma
maior
vigilância
do
ritmo
do
utente.
Semanalmente
assisti
à
realização
de
estudos
eletrofisiológicos
de
doentes
com
patologias
diversas,
onde
se
destaca
a
ablação
de
vias
acessórias
que
medeiam
taquicardias
supraventriculares
e
estimulação
ventricular
programada
em
doentes
com
síndrome
de
brugada.
Durante
o
período
que
passei
na
enfermaria
de
Cardiologia
segui
atentamente
o
caso
de
um
doente
admitido
por
PA,
ao
qual
realizei
uma
entrevista
clínica
e
procedi
à
auscultação
cardiopulmonar.
Também
assisti
de
perto
aos
procedimentos
a
que
este
foi
submetido,
nomeadamente
realização
de
ecocardiograma
e
pericardiocentese.
Ao
mesmo
tempo,
recolhi
os
exames
complementares
que
este
utente
foi
realizando
e
fiz
pesquisa
bibliográfica
para
melhor
compreender
a
dimensão
desta
patologia.
9
Ano
Letivo
2016/2017
VIVÊNCIAS
EXPOSIÇÃO
DO
CASO
CLÍNICO
DC,
sexo
masculino,
32
anos,
autónomo
para
as
atividades
da
vida
diária.
Mecânico
de
automóveis
de
profissão.
Sem
antecedentes
pessoais
de
relevo
ou
medicação
habitual.
No
dia
19
de
maio
de
2017
recorreu
ao
SU
do
HSO,
encaminhado
do
médico
assistente
por
quadro
de
10
dias
de
evolução
de
febre
de
predomínio
noturno
(max
39ºC).
Nos
2
dias
anteriores
apresentava
queixas
de
toracalgia
em
picada,
agravada
durante
a
inspiração
profunda
e
decúbito
lateral
esquerdo.
Negou
tosse,
expectoração,
dispneia,
otalgia,
odinofagia
e
perdas
hemáticas.
Sem
queixas
genitourinárias
ou
gastrointestinais.
No
dia
15
de
maio
de
2017,
recorrera
a
médico
assistente
que
teria
prescrito
azitromicina
500mg,
uma
vez
por
dia
(com
término
a
18/05),
com
manutenção
da
febre.
Trazia
estudo
analítico
do
exterior
com
parâmetros
inflamatórios
elevados
VS:
98mm;
PCR
88.6mg/dL)
e
radiografia
do
tórax
com
reforço
hilar
bilateral
e
índice
cardiotorácico
no
limite
superior
do
normal.
Sem
conviventes
doentes,
refere
colega
de
trabalho
com
tosse,
perda
ponderal
e
hipersudorese
de
longa
duração.
Nega
contacto
com
animais
no
domicílio
nomeadamente
roedores.
Refere
picada
de
inseto
artrópode
(desconhece
qual),
mas
apenas
2
dias
após
o
início
da
febre.
Ingere
água
engarrafada.
Nega
viagens
recentes.
Nega
consumo
de
drogas.
Ao
exame
objetivo,
apresentava-‐se
consciente,
orientado
e
colaborante,
corado
e
hidratado,
eupneico.
Febril
(Temperatura
axilar:
38,7ºC),
apesar
de
antipirético
fixo
de
8/8h.
Tensão
arterial:114/74
mmHg;
frequência
cardíaca(FC)
100bpm;
saturação
periférica
de
O2
a
ar
ambiente:
97-‐98%.
A
auscultação
cardíaca
apresenta
S1
e
S2
rítmicos,
sem
sopros
e
sem
atrito
pericárdico.
Auscultação
pulmonar
com
murmúrio
vesicular
presente
bilateralmente,
simétrico
e
sem
ruídos
adventícios.
Restante
exame
físico
sem
alterações
de
relevo.
No
SU
realizou
os
seguintes
exames
auxiliares
de
diagnóstico:
ELETROCARDIOGRAMA
(ECG)
Como
se
pode
inferir
da
figura
1,
o
ECG
apresenta
um
ritmo
sinusal,
com
FC
100bpm,
uma
elevação
do
segmento
ST
com
concavidade
superior
difusa
e
infradesnivelamento
do
segmento
PR.
10
Ano
Letivo
2016/2017
Figura
123:
ECG
semelhante
ao
que
foi
realizado
pelo
paciente
à
admissão
no
SU.
Seta
azul:
supradesnivelamento
de
concavidade
superior
do
segmento
ST.
Seta
verde:
infradesnivelamento
do
segmento
PR.
AVALIAÇÃO
ANALÍTICA
Os
resultados
analíticos
revelaram:
• Hemoglobina
de
11g/dL,
(N=14,0-‐18.0g/dL)
• Leucócitos
de
7.2
x
103/uL,
(N=4,8-‐10,8
x
103/uL)
• Velocidade
de
sedimentação
de
83
unidades,
(N<10mm)
• Creatinina
de
0,84mg/dL,
(N=
0,72-‐1,25mg/dL)
• Proteína
C
Reativa
(PCR)
de
155mg/dL,
(N<3mg/dL)
• Troponina
I
<0,015ng/mL;
(valor
normal)
• BNP
139pg/mL.
(N<125pg/mL)
Estes
resultados
mostram
aumento
de
marcadores
inflamatórios
(PCR
e
VS)
com
biomarcadores
de
necrose
miocárdica
negativos.
ECOCARDIOGRAMA
TRANSTORÁCICO
(ECOTT)
O
EcoTT,
que
o
paciente
realizou
no
SU,
mostrou
cavidades
cardíacas
de
dimensões
normais,
paredes
do
ventrículo
esquerdo
(VE)
não
espessadas,
boa
função
sistólica
biventricular,
sem
alterações
da
cinética
segmentar
do
VE,
estruturas
valvulares
sem
alterações,
derrame
pericárdico
de
moderado
volume
circunferencial
(12mm
de
diâmetro
telediastólico
em
paraesternal
eixo
longo)
sem
compromisso
hemodinâmico.
Assim
pela
presença
de
dor
torácica
com
derrame
pericárdico
e
alterações
electrocardiográficas,
ficou
internado
no
serviço
de
Cardiologia
com
o
11
Ano
Letivo
2016/2017
diagnóstico
de
PA
de
etiologia
não
esclarecida.
Tendo
iniciado
terapêutica
com
anti-‐inflamatórios,
nomeadamente
ibuprofeno
600mg
de
8/8h
e
colchicina
0,5mg
de
12/12h.
EVOLUÇÃO
CLÍNICA
Durante
a
permanência
no
internamento
de
Cardiologia
manteve
picos
febris
diários
de
predomínio
noturno,
aumento
significativo
dos
parâmetros
inflamatórios,
com
uma
PCR
máxima
de
173mg/dL,
ao
4º
dia
de
internamento.
Ecocardiograficamente
foi
reavaliado
no
3º
dia
de
internamento,
em
que
evidenciava
um
aumento
do
derrame
pericárdico
de
“diâmetro
máximo
telediastolico
de
22mm
ao
nível
da
parede
livre
do
ventrículo
direito,
com
swinging
heart
e
colapso
parcial
da
aurícula
direita
e
do
ventrículo
direito.
Pericárdio
visceral
com
ecogenicidade
aumentada”
(figura
2
e
3)
Figura
2:
EcoTT
em
apical
4
câmaras.
12
Ano
Letivo
2016/2017
Realizou,
também
uma
TOMOGRAFIA
COMPUTORIZADA
DO
TÓRAX,
ABDÓMEN
E
PÉLVIS
(TC
TAP),
presentes
nas
figuras
4
e
5,
revelando
“densificações
micronodulares
do
parênquima
pulmonar
periférico,
mais
evidentes
à
direita,
inespecíficas,
que
poderão
ter
sede
centrilobular
e
representar
incipientes
alterações
de
natureza
infecciosa,
a
valorizar
no
contexto
clínico”...”
Exuberante
derrame
pericárdico
com
uma
espessura
máxima
de
25
mm,
a
confrontar
com
dados
de
estudo
ecocardiográfico.
Não
há
derrame
pleural.”
Figura
4:
TC
do
tórax
em
corte
axial,
revelando
grande
derrame
pericárdico
Figura
5:
TC
em
corte
coronal,
evidenciando
derrame
pericárdico
13
Ano
Letivo
2016/2017
A
maioria
das
PA
tem
uma
evolução
benigna
não
complicada,
e
por
isso
na
grande
maioria
das
casos,
não
carecem
de
uma
investigação
etiológica
e
são
classificadas
como
idiopáticas.
Contudo
neste
caso
em
particular,
como
não
era
evidente
um
processo
infeccioso
recente
e
como
paciente
sob
terapêutica
médica
otimizada
mantinha
picos
febris
diários
com
hipersudorese
e
aumento
sustentado
dos
marcadores
inflamatórios
e
derrame
pericárdico,
decidiu-‐se
então
realizar
uma
pericardiocentese
para
prosseguir
com
a
investigação
etiológica.
PERICARDIOCENTESE
ECOGUIADA
A
Pericardiocentese
é
uma
técnica
indicada
em
casos
de
tamponamento
cardíaco
ou
derrame
pericárdico
moderado
a
extenso
com
suspeita
clínica
de
etiologia
bacteriana
ou
neoplásica17.
Este
paciente
apresenta
um
derrame
pericárdico
de
grande
volume,
mas
ausência
de
critérios
de
tamponamento
cardíaco,
que
consistem
no
aumento
da
pressão
venosa
jugular,
hipofonese
dos
sons
cardíacos
e
hipotensão
(Tríade
de
Beck)1,14.
Assim
no
6º
dia
de
internamento
procedeu-‐se
à
colocação
de
dreno
na
cavidade
pericárdica,
numa
abordagem
subxifóide
e
guiada
por
ecocardiograma.
Drenou-‐se
no
total
800ml
de
um
líquido
amarelo
palha.
O
dreno
pericárdico
foi
retirado
após
12h.
A
amostra
de
liquido
pericárdico
foi
enviada
para
contagem
celular,
analise
bioquímica,
microbiológica
e
citológica.
A
contagem
celular
corrigida
mostrou
1397
leucócitos/uL,
com
predomínio
de
mononucleares,
81%.
A
análise
bioquímica
do
fluído
pericárdico
colhido
permitiu
classificá-‐lo
como
um
exsudado
com:
§ pH
7.5
§ Glicose
de
68mg/dL
§ Adenosina
desaminase
(ADA)
de
129,5
U/L
§ Lactato
desidrogenase
(LDH)
liquido/soro
de
4,5
§ Proteínas
totais
liquido/soro
=
0,86
O
líquido
pericárdico
exsudativo
é
definido
por
apresentar
rácio
Lactato
Desidrogenase(LDH)
liquido/soro
>
0,6
e
rácio
proteínas
totais
liquido/soro
>
0,516.
DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL
–
PERICARDITE
DE
ETIOLOGIA
TUBERCULOSA
Um
diagnóstico
definitivo
de
pericardite
tuberculosa
baseia-‐se
na
identificação
do
Micobacterium
Tuberculosis
no
pericárdio
ou
líquido
pericárdico.
Um
diagnóstico
provável
é
realizado
pela
análise
bioquímica
do
liquido
pericárdico
que
tipicamente
é
um
exsudado,
tal
como
se
verificou
neste
caso.
O
derrame
pericárdico
tuberculoso
particularmente
ostenta
alto
teor
em
proteínas;
leucocitose,
com
predominância
de
linfócitos
e
monócitos
e
aumento
14
Ano
Letivo
2016/2017
15
Ano
Letivo
2016/2017
CONCLUSÕES
A
pericardite
tuberculosa
é
uma
manifestação
rara
de
tuberculose
e
está
associada
a
mortalidade
e
morbilidade
consideráveis,
que
pode
ser
minimizada
com
diagnóstico
e
tratamento
eficientes
e
antecipados.
Esta
etiologia,
apesar
de
rara,
não
deve
ser
esquecida
em
casos
de
pacientes
com
diagnóstico
de
PA,
febre
de
longa
duração
e
que
não
respondem
à
terapêutica
anti-‐inflamatória,
já
que
Portugal,
sobretudo
a
região
norte,
apresenta
uma
elevada
taxa
de
incidência
de
tuberculose.19,22
O
prognóstico
da
pericardite
é
determinado
pela
idade
do
paciente
e
pela
etiologia
da
mesma.
Ressalvando,
que,
nos
países
desenvolvidos,
a
taxa
de
mortalidade
nos
hospitais
é
de
1,1%.20,21
A
pericardite
constritiva(PC)
é
uma
complicação
rara
das
PA
virais
ou
idiopáticas,
contudo
representa
um
risco
significativo
nas
pericardites
tuberculosas.
Caracteriza-‐se
por
comprometimento
do
enchimento
dos
ventrículos,
na
fase
diastólica,
devido
a
doença
pericárdica
e
manifesta-‐se,
clinicamente
no
paciente,
como
fadiga,
edema
periférico,
dispneia,
ascite
abdominal,
congestão
venosa,
hepatomegalia
ou
até
derrames
pleurais.
Pode
ser
suspeitada
em
exames
imagiológicos
como
o
ecocardiograma,
TC,
ressonância
magnética,
mas
o
diagnóstico
definitivo
só
é
possível
com
a
cateterização
do
coração
direito,
que
revela
equalização
das
pressões
teledistólicas,
nas
4
câmaras
cardíacas.
O
principal
tratamento
é
a
pericardiotomia,
contudo
o
uso
de
medicamentos
anti-‐bacilares
e
anti-‐inflamatórios
pode
reduzir
bastante
este
espessamento
do
pericárdio
e
o
risco
de
PC.
Para
concluir,
gostaria
de
ressalvar
que
este
estágio
foi
imensamente
enriquecedor
e
proveitoso
e
que,
não
obstante
todos
os
conhecimentos
médicos
que
adquiri,
nomeadamente,
acerca
do
tema
pericardite,
mas
também
dos
métodos
auxiliares
de
diagnóstico
e
as
cirurgias
com
que
pude
contactar,
acho
que
o
de
melhor
retiro
de
toda
esta
experiência
foram
os
primeiros
passos
que
dei
no
contacto
com
o
doente
e
qual
a
postura
a
ter
nos
vários
momentos
de
consulta,
internamento
ou
bloco.
Até
então
associávamos
ao
hospital
momentos
de
maior
vulnerabilidade
e
doença,
todavia
hoje
vemos
nele
o
local
onde
pudemos
fazer
a
diferença
na
vida
de
alguém
e
a
enorme
gratificação
que
isso
dá.
16
Ano
Letivo
2016/2017
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Pericarditis.
Life
in
the
fast
lane:
Medical
education
website
and
medical
blog
providing
emergency
medicine
and
critical
care
education,
elearning
(cited
20
June
2017);
Available
from:
https://lifeinthefastlane.com/ecg-‐library/basics/pericarditis/
18
Ano
Letivo
2016/2017
ANEXOS
ANEXO
1
–
HORÁRIO
DO
ESTÁGIO
19