existencialismo
Breve apresentação sobre o maior representante
do existencialismo francês, Jean-Paul Sartre.
Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi filósofo, escritor e crítico francês, um dos mais
importantes representantes e divulgadores do existencialismo.
Em sua infância, Sartre viveu numa família tipicamente burguesa, foi educado
por seu avô e por cuidadores. Foi muito incentivado para seguir a vocação de
escritor.
Desde cedo Sartre teve contato com a literatura e os clássicos, entre eles Vicor
Hugo, Gustave Flaubert, Stéphane Mallarmé, Guy de Maupassant, Johann
Wolfgang von Goethe.
Sartre e a filosofia
Seu contato com a filosofia se iniciou com a leitura de Henri Bergson, mas logo
passou a estudar Nietzsche, Kant, Descartes e Espinoza. Na escola já escrevia
sobre liberdade, consciência, absurdo e contingência. Seu principal interesse,
desde cedo, era o indivíduo e a psicologia.
Em 1964 ele recebeu o prêmio Nobel de Literatura, porém recusou por conta de
seus princípios políticos. Sartre faleceu em 1980, e por conta de sua
popularidade, seu funeral foi acompanhado por mais de 50 mil pessoas, e seu
corpo está hoje enterrado no Cemitério de Montparnasse, em Paris.
Jean-Paul Sartre (1905-1980)
Filosofia de Sartre
Para Sartre, não somos predeterminados por algo ou alguém, não há uma
essência anterior que defina nossa existência. A pessoa primeiramente existe,
para depois se tornar o que fizer de si, a nossa essência é, portanto, resultante de
nossa existência concreta no mundo.
Não há nada além de nós mesmos, ou fora de nossa existência, que irá definir o
modo como somos. Não há um Deus, uma razão nem uma natureza humana que
delimite o vamos nos tornar. O ser humano surge no mundo, existe e escolhe o
que vai se tornar e se transforma com o tempo. A vida não tem sentido algum
antes do sentido que atribuímos a ela.
“O homem primeiramente existe,
surge no mundo;
e somente depois se define.”
(Sartre)
Diferenças entre pessoas e coisas
Um objeto é feito para servir o ser humano, possui uma essência prévia, que
corresponde o modo como deve ser produzido e para qual será seu uso. Todo
objeto é fabricado já tendo em vista seu uso e sua forma final.
Já o ser humano, não é feito para um fim específico nem uma predeterminação
com relação ao seus modos de ser e se colocar no mundo, portanto não há como
saber o que ele irá se tornar. Ele será o resultado do que fizer de si mesmo.
Diferenças entre pessoas e animais
Fenômeno é tudo aquilo que aparece para uma consciência, não entendido como
uma representação da coisa observada, nem mesmo a "coisa em si", mas a coisa
tal como é revelada à uma consciência.
Edmund Husserl
Para a fenomenologia, as coisas não são uma aparição falsa da realidade, mas são
os fenômenos tal como aparecem na consciência. Esse é o objeto de estudo da
fenomenologia, os fenômenos, como dados objetivos e conteúdos da
consciência, ao mesmo tempo. Essa proposta revê a questão antiga entre
“sujeito e objeto”, entendendo que só há objeto para uma consciência, e que a
consciência se dirige intencionalmente a um objeto.
Liberdade
Libertinagem e liberalismo
Outros acreditam que livre é aquele que pode adquirir o que deseja, que possui
dinheiro para comprar produtos e serviços e sai por aí comprando o que vê pela
frente. Essa seria uma liberdade no sentido liberalista.
Liberdade para Sartre
Segundo Sartre, o homem está condenado a ser livre. Pois somos livres para
escolher o que vamos fazer de nossa vida, e não temos como não ser livres.
A todo momento somos livres, pois a todo momento estamos fazendo escolhas,
inclusive quando não escolhemos, também estamos a escolher. A “não escolha” é
também uma escolha, pois escolhemos não escolher.
Não há como não ser livre, pois não há como não fazer escolhas. Se não estamos
satisfeitos com a vida que estamos levando, podemos escolher fazer algo para
mudar, e com isso mudamos os rumos de nossa vida. Ser livre, neste sentido, não
significar “ter o que se deseja”, mas escolher o que deseja.
“A escolha é possível em um sentido,
mas o que não é possível é não
escolher. Eu sempre posso escolher,
mas tenho que saber que se não
escolho, isso também é uma escolha.”
(Sartre)
Angústia
Apesar de ser vista como algo ruim, faz parte da condição humana, e que nos
coloca realmente presentes diante do que estamos vivendo num momento.
A angústia nos solicita uma ação, é defrontar com a realidade que está em nossa
frente, e não uma evitação ou fuga.
“O inferno são os outros.”
(Sartre)
Liberdade situada
Encarar a nossa existência como resultado de nossas escolhas nos faz perceber
livres, ao invés de determinados por uma essência prévia. E por sermos livres,
somos responsáveis pelo que fazemos de nós mesmos.
Por ser livre, cada pessoa é responsável por suas escolhas. Para Sartre, a má-fé
consiste em responsabilizar o outro ou um “determinismo” por suas escolhas.
Se a pessoa diz que “Deus” escolheu para ela, está deixando de lado sua
responsabilidade de ter feito sua escolha, ou quando diz que mora numa cidade
porque seus “pais” escolheram, deixa de reconhecer que escolheu continuar na
mesma cidade que “seus pais escolheram”.
Exemplos de má-fé
● Fatores sociais;
● Determinação biológica;
● Horóscopo;
● Traumas ou experiências passadas;
● Deus.
“Ao definirmos a situação humana como
sendo de uma escolha livre, sem escusas
e sem auxílios, todo homem que se
refugia por trás da desculpa de suas
paixões, todo homem que inventa um
determinismo, é um homem de má-fé.”
(Sartre)
Concepção de ser humano
O ser humano é temporal e histórico
O ser humano não é uma consciência separada do mundo, mas um ser que se
relaciona “no” e “com” o mundo, que habita um período histórico, onde convive
com pessoas, que por ele é influenciado e nele exerce influência.
Toda pessoa estabelece constante relação com os espaços que habita e transita.
Somos seres relacionais, nossas experiências internas são resultantes também
de nossas experiências externas. Não existe um ser neutro, que não se altera
pelo meio em que vive, todos somos modificados pelas condições e
circunstâncias de nosso tempo e espaço.
O mundo não é algo pronto, onde temos de nos ajustar a ele como está, mas algo
em constante transformação, onde fazemos parte dessa transformação. Não
somos somente resultado dos modos de onde habitamos, mas também criamos
novos modos de ser e interferimos nas outras pessoas e no mundo.
“O existencialista nunca tomará o
homem como fim, pois ele sempre
está por fazer-se.”
(Sartre)
Existencialismo e marxismo
Por não haver uma essência que defina nossa existência, não há um sentido
prévio que determine o modo como vamos viver a nossa vida.
A vida então não possui um sentido dado, mas somos nós que, vivendo
concretamente, atribuímos sentidos a nossa vida. O sentido é sempre individual,
particular, e se difere de pessoa à pessoa.
Para uma pessoa o sentido da vida pode ser se empregar, comprar bens e ter
filhos, para outra pode ser se envolver em ações sociais e escutar música, para
outra pode ser ler livros, para outra pode ser um autônomo e inventar coisas.
Engajamento
Para Sartre, não há como definir uma pessoa sem considerar seu engajamento,
ou seja por quais temas e questões ela vive e sua vida faz sentido para si mesma.
O engajamento é justamente o motivo que a pessoa escolhe para sua vida, com
o que ela escolhe se envolver e se envolve na prática. A pessoa pode escolher se
engajar no estudo de um instrumento e estilo musical, ou pode se engajar num
partido político, numa religião, numa filosofia, por exemplo.
É o engajamento que dará sentido para a vida de uma pessoa, partindo de sua
escolha, ou seja, cada um escolhe com o que deseja se engajar.
“Não definimos o homem senão em relação
a um engajamento.”
(Sartre)
Existência como projeto para fora
Realizamos nossa vida sempre nos projetando para fora, como que numa busca
de encontrar o que está além de nosso momento presente, num projeto que
transecende nossa condição atual para ir além dela mesma.
Esse modo de ser para fora, que se projeta fora de si mesmo, é o que caracteriza
a existência humana e a singularidades de cada um. A pessoa não é um ser
fechado em si mesmo, mas um ser lançado no mundo, em situação e relação.
Sua liberdade não consiste em voltar para si mesma, mas buscar sempre fora de
si sua realização particular, se realizando assim como ser existente.
Existência
O existencialismo é uma filosofia que considera o ser humano como livre para
fazer escolhas e responsável por elas. Trata-se portanto de uma filosofia de
ação, que coloca a pessoa diante de sua própria existência, de modo a escolher
novos caminhos e possibilidades para si mesma.
Como estamos sempre escolhendo o que vamos fazer de nossa vida, estamos
sempre diante da ação de escolher, de perceber a nós mesmos e de nos
conscientizar de nossas escolhas, para que possamos então fazer novas
escolhas. Deste modo, fazemos e refazemos a nós mesmos, nossa existência e
nosso modo de ser no mundo.
“O homem precisa encontrar-se ele
próprio e convencer-se de que nada
poderá salvá-lo de si mesmo. Neste
sentido, o existencialismo é um
otimismo, uma doutrina de ação.”
(Sartre)
por Bruno Carrasco
Atua valorizando cada pessoa em seu modo de ser singular, colaborando para
lidar com suas dificuldades e ampliar suas possibilidades de escolha.
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2017
Referências
Cotrim, G.; Fernandes, M. Fundamentos da Filosofia. 2 ed. Saraiva: São Paulo, 2013.
Japiassú H., Marcondes, D. Dicionário de Filosofia. Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 2005.
Maciel, Luiz Carlos. Sartre: Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
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2017