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pedido do Ministério da Saúde, e publicado no periódico

médico Vaccine, 82,6% das crianças brasileiras tomaram


todas as vacinas recomendadas até os 18 meses de idade. O
estudo, que avaliou 17295 crianças das 27 capitais, desco-
briu, no entanto, um dado inusitado: nas classes mais ricas
das capitais mais ricas, a vacinação era deficitária. Em São
Disciplina: “Técnicas de Redação e Interpretação” Paulo, por exemplo, 71% das crianças do estrato A (o mais
Turma: 3ª. Série do Ensino Médio rico) haviam recebido a imunização completa – enquanto no
Responsável: Prof. Adriano Tarra Betassa Tovani Cardeal estrato E (o mais pobre), a cobertura era de 81%. “Uma das
Tema redacional 18: Hábitos vacinais: entre o direito à não razões para essa discrepância é a ideia de que é exagero va-
exposição a danos colaterais em âmbito individual e o dever cinar os filhos contra algumas doenças”, diz José Cassio de
de evitar-se propagação de enfermidades em nível coletivo. Moraes, professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa
de São Paulo, membro do Comitê Técnico Assessor de Imu-
O perigo de não vacinar as crianças nização do Ministério da Saúde e coordenador da pesquisa.
As vacinas que costumeiramente são mais descartadas são a
Aretha Yarak de sarampo, difteria, hepatite B e da gripe. “Desde a década
de 1970, casos dessas doenças são muito baixos. Esses pais
Antes de haver sido erradicada com o uso maciço de nunca tiveram de lidar, de temer tais doenças, então, deixam
vacinas, no fim dos anos 1970, a varíola matou 300 milhões de vacinar, acreditando que o filho não corre riscos”, diz
de pessoas, contando apenas o século XX. O sarampo, uma Edécio Cunha Neto, diretor do Laboratório de Investigação
doença altamente contagiosa, foi responsável por cerca de Médica de Imunologia Clínica e Alergia da USP. Mas, se,
2,6 milhões de mortes por ano, antes de 1980, época em que para muitos, a redução drástica nos casos dessas doenças é
começaram as intensas campanhas de vacinação. Já os casos motivo para burlar o calendário básico de vacinação, para
de poliomielite, doença que pode causar paralisia infantil, a- outros, ela pode significar sérias complicações de saúde. Há
presentaram uma queda de 99% desde 1988, quando, mais dentro dos programas de vacinação o que se costuma cha-
uma vez, a prevenção com vacina teve início. Criadas em mar de “imunidade de rebanho”. A ideia é de que, quando
1796, pelo médico britânico Edward Jenner, as vacinas de- você vacina, no mínimo, 95% das crianças de uma comuni-
ram início à revolução na Medicina preventiva – tornando dade, todas ficam protegidas. Nesses 5% restantes, expli-
possível evitar a ocorrência de doenças letais e contagiosas. cam os especialistas, estariam aquelas que, por algum moti-
Há quem, no entanto, na contramão de todas as evidências vo, não podem tomar vacina. No grupo, estão, segundo Re-
científicas, opte por não vacinar seus filhos. A lamentável i- nato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imuniza-
deia encontrou abrigo entre um grupo de pais, grande parte ções (Sbim), crianças com câncer, AIDS, insuficiência renal
da classe média alta, que vem optando por não imunizar os ou outras doenças crônicas que comprometem o sistema i-
filhos para doenças que deixaram de ser comuns, como o sa- munológico. “Elas se protegem quando há a garantia de que
rampo e a difteria. Alguns por acreditarem em teorias exóti- as outras crianças não vão transmitir a doença para ela. Va-
cas e fraudulentas, outros por medo de que a vacina prejudi- cinar o filho é mais que uma ação individual”, diz. Quando
que a saúde da criança, e outros, por questões ideológicas, uma criança é vacinada, formas amenizadas ou mortas de
pensam resistir ao que seria uma imposição criada pela in- vírus ou bactérias que causam doenças são injetadas no cor-
dústria farmacêutica. Por um motivo ou outro, a irresponsa- po. O sistema imunológico reconhece esses organismos e
bilidade pode colocar em risco não só a saúde da criança, desenvolve anticorpos contra eles. Esses anticorpos ficam,
mas de todos à sua volta, alertam especialistas. “O que esta- então, armazenados no batalhão de células de defesa do cor-
mos percebendo é que há um aumento, mesmo que pequeno, po, para combater a doença em caso de uma exposição futu-
no número de pais que buscam médicos que orientam a não ra. Se a criança não é vacinada, no entanto, ela, obviamente,
vacinar a criança”, diz Eitan Berezin, presidente do Depar- se torna suscetível à doença – e pode se tornar um potencial
tamento Científico Infeccioso da Sociedade Brasileira de agente de transmissão e iniciar um surto. É esse mecanismo
Pediatria (SBP). Apesar de representarem ainda uma peque- usado para criar os anticorpos que preocupa algumas pesso-
na parcela da população brasileira, esses pais que optam por as. Há quem diga que os riscos de efeitos adversos não va-
não imunizar os filhos para determinadas doenças se con- lham a pena se a criança tem uma saúde plena. “Não sou
centram nas classes mais altas da sociedade, aquelas que, contra vacinar, mas acredito que existe hoje um exagero. Há
pelo menos na teoria, tiveram e têm acesso a informação de vacinas demais”, afirma Liliane Azambuja, pediatra homeo-
boa qualidade. Entre os argumentos mais triviais para a re- pata e criadora da comunidade virtual Tem vacina d+. De a-
cusa está o medo de que a vacina traga problemas sérios de cordo com a médica, as chamadas “doenças da infância”,
saúde, como o autismo, e a sensação de que é desnecessário como sarampo, ajudam a fortalecer o sistema imunológico
se prevenir contra doenças que têm ocorrência baixa. “Os da criança saudável. “Cerca de 90% das crianças que che-
riscos de a criança desenvolver uma complicação séria em gam ao meu consultório têm algum tipo de alergia. Elas são
função da vacina são muito menores do que os de ela contra- mais atópicas do que as crianças de décadas atrás. Claro que
ir a doença. Não há nem comparação. E isso não é algo que há outros fatores envolvidos, mas a vacina tem um papel im-
eu acho ou acredito, é um fato comprovado cientificamen- portante”, diz. Para a pediatra, seria ideal ainda que o calen-
te”, diz o pediatra americano Paul Offit, um dos maiores es- dário fosse repensado e as vacinas, dadas em períodos mais
pecialistas no assunto. Docente da Universidade da Filadél- esparsos e tardios. A época de início da imunização mais a-
fia, é ex-membro do Centro para Controle e Prevenção de dequada seria, então, aos seis meses de idade, quando o sis-
Doenças (CDC, sigla em inglês) e autor de Deadly choices: tema imunológico do bebê já está mais amadurecido. “Uma
how the anti-vaccine movement threatens us all e Autism’s enorme quantidade de organismos inoculados é dada de u-
false prophets: bad science, risky medicine, and the search ma vez a uma criança de meses. Acho isso muito agressivo,
for a cure. De acordo com um levantamento recente feito a além de acreditar que possa ajudar a desenvolver doenças

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autoimunes”, diz Liliane. É bom lembrar que o sarampo é missão de Estudos do ECA da Ordem dos Advogados de
uma doença altamente contagiosa e, embora, na maioria dos São Paulo, cabe aos pais gerenciar esses direitos, e não dis-
casos, não coloque em risco crianças saudáveis, pode ser fa- por deles. “Se a criança vier a adoecer em função duma fa-
tal para pessoas com o sistema imunológico sem resistência. lha na vacinação, isso pode levar à perda do poder familiar.
Felizmente, o movimento antivacinação ainda engatinha no Os pais podem responder por crime de abandono, omissão
Brasil. Em países da Europa e nos Estados Unidos, no en- dolosa ou culposa”, diz. Para o advogado, há uma diferença
tanto, vem causando surtos que preocupam as autoridades entre a escolha pessoal de diversos tratamentos (que podem
de saúde. Grupos antivacinação sempre existiram, mas, em ser guiados por crenças e filosofias dos pais) e a recusa des-
1998, ganharam reforço que sempre esperaram. Um estudo tes. “Só se pode tomar decisão como essa quando há emba-
publicado num dos principais periódicos médicos do mun- samento científico. Não vai vacinar porque tem medo de al-
do, o britânico Lancet, de autoria do médico Andrew Wake- guma complicação? Então, tenha todas as provas científicas
field, alegava que 12 crianças – que eram normais até terem emitidas por autoridades médicas”, diz. Do contrário, garan-
recebido a vacina tríplice viral – se tornaram autistas depois te Cabezón, os pais correm o risco de perder a guarda da cri-
de desenvolverem inflamações intestinais. O estrago provo- ança. “Há uma série de medidas que um juiz pode tomar pa-
cado foi grande. Após a divulgação da pesquisa, muitos pais ra garantir o direito da criança à saúde”.
optaram por deixar de vacinar os filhos contra as doenças
infantis. Como resultado, houve um aumento dos casos de (Veja, “Saúde”, 11.03.2012)
sarampo na Europa e nos Estados Unidos, onde a ideia de
que vacinas fazem mal também prosperou. Em 2008, tanto Brasil também tem adeptos do movimento antivacina
o País de Gales quanto a Inglaterra registraram epidemias
de rubéola. O estudo, no entanto, era uma fraude. O jornalis- Mariana Della Barba
ta Brian Deer desmascarou Wakefield, no British Medical
Journal, ao ter provado que cinco das 12 crianças já tinham Excesso de vacinas, desconfiança com as suas possí-
problemas de desenvolvimento, fato encoberto pelo médico. veis reações colaterais e pressão da indústria farmacêutica
Várias pesquisas e investigações (britânica, canadense e a- são alguns dos motivos que levam muitos pais e mães no
mericana) foram feitas depois do controvertido estudo, que país a decidirem não vacinar o filho. Esse movimento anti-
só levou em conta a pequena amostragem de 12 crianças, e vacina entrou no radar do governo quando uma pesquisa en-
não encontraram relação entre o aparecimento do autismo e comendada pelo Ministério da Saúde detectou que a média
a vacina tríplice. Wakefield perdeu a licença médica, mas da vacinação no Brasil era de 81,4%, enquanto que na classe
continua com certo prestígio nos Estados Unidos, onde vive A era de 76,3%. “Essa queda no estrato mais alto se dá justa-
e ainda defende a ideia de que vacinas podem causar autis- mente porque alguns pais não vacinam, o que é um proble-
mo. Influenciada por Wakefield, uma celebridade de “miolo ma grave”, disse à BBC Brasil Jarbas Barbosa, secretário de
mole”, Jenny McCarthy, cujas grandes “credenciais científi- Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Ele cita casos
cas” incluem ser ex-namorada de Jim Carrey e ex-coelhinha de sarampo que surgiram, em 2011, na Vila Madalena (Zona
da Playboy, atribui o autismo de seu filho às vacinas e vai, Oeste de São Paulo), que começaram com uma criança não
frequentemente, à televisão convencer os pais a não vacina- vacinada por escolha da família e atingiram bebês menores
rem seus filhos. O resultado da nefasta dupla ainda pode ser de um ano, já que somente após essa idade é indicada a vaci-
sentido em dois continentes. De acordo com o Centro Euro- na. “É preciso pensar-se na imunidade coletiva, ou doenças
peu para Prevenção e Controle de Doenças, em 2011, foram já erradicas podem voltar”, diz Barbosa. “A criança bem nu-
registrados 30567 casos de sarampo em 29 países da Euro- trida pode não sofrer com a doença, mas, sim, ser a ponte
pa. Em 2009, foram 7175. Nos Estados Unidos, o estado de para que o filho da doméstica ou do porteiro sofracom ela”.
Indiana registrou 14 casos de sarampo, em fevereiro, depois A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) vê como “irres-
que duas pessoas contaminadas foram assistir aos jogos do ponsável” essa decisão de não dar as doses às crianças, se-
Super Bowl. Dos contaminados, 13 não haviam sido imuni- gundo um de seus membros, o infectologista e pediatra A-
zados. No Brasil, surtos do gênero ainda são pequenos. No rondo Prohmann de Carvalho. “Orientados de maneira erro-
estado de São Paulo, foram registrados, em 2011, 26 casos nea, esses pais põem em risco não apenas a própria criança,
de sarampo. Desses, 60% ocorreram em pessoas não vacina- mas toda a população”, diz, lembrando que, mesmo doenças
das – sete em crianças menores de um ano, cinco em indiví- consideradas simples, como catapora e sarampo, podem ter
duos não vacinados por opção, e quatro casos sem a vacina consequências graves em crianças que já sofrem com pro-
documentada. Já na capital paulista, foram 13 casos, com 10 blemas como doenças pulmonares. No entanto, para o pedi-
tendo ocorrido pela falta de vacina. O surto teve início em atra e neonatologista Carlos Eduardo Corrêa, “é preciso não
uma creche no bairro do Butantã, em seis bebês menores de tornar o consultório uma questão de saúde pública”. “As-
um ano (idade indicada para a primeira dose), tendo passado rampo, em criança bem nutrida, não fica grave. Há o pacto
para quatro crianças com idades entre cinco e dez anos (que social, mas isso é um elemento a mais na discussão, não nos
não haviam sido imunizadas). “Esses surtos costumam a- obriga a dar todas as vacinas”, diz o médico, que defende
contecer em bolsões pequenos, porque essas crianças não que sejam dadas as vacinas do calendário do governo. Para
vacinadas frequentam as mesmas escolas. Mas há sempre o a terapeuta floral V., que tem dois filhos, a decisão de apli-
risco porque o vírus continua em circulação”, diz Jarbas car ou não as injeções, pende à que fica longe das vacinas.
Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério “Meus filhos só tomaram as primeiras doses; depois, decidi-
da Saúde. A garantia da vacinação está, porém, instituciona- mos não dar mais”, conta. “Já fui muito criticada, principal-
lizada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Está mente quando eles eram menores, mas ignoro. Nem conto à
no artigo quarto que é dever da família assegurar a efetiva- minha família. Acredito que, com tantas vacinas, estamos
ção dos direitos à saúde. Não há, no entanto, nenhuma fisca- criando gerações de imunidade cada vez pior, criando um
lização que obrigue os pais a vacinar corretamente os filhos. sistema imunológico burro”. Segundo a terapeuta, a decisão
Mas, de acordo com Ricardo Cabezón, presidente da Co- vai na linha do princípio de vida da família. “Eu e meu mari-

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do temos como princípio não ter medo de doença. Acredita- em Sichuan. A vítima fatal registrada na segunda-feira esta-
mos que, ao termos a alimentação adequada, hábitos mais va na cidade de Meishan, em Sichuan. Ela morreu após ter
saudáveis, estamos promovendo a saúde, que é o contrário recebido vacina fabricada por outra companhia, a Tiantan
da doença”. “E nunca tivemos provas do contrário. Meus fi- Biological Products. O uso das vacinas da Biokangtai foi
lhos são saudáveis e lidam, tranquilamente, com as gripes e suspenso. A empresa disse que realizou todas as checagens
viroses eventuais”. Ela diz não ser contra a vacina, mas, sim, de segurança e atribuiu as mortes a outras doenças. Muitos
contra a obrigatoriedade de se vacinar, e critica o que chama chineses estão céticos sobre as garantias dadas pelo governo
de “pressão mercantil”, que faz que pais deem cada vez mais devido a numerosos casos passados nos quais as autoridades
vacinas e reforços nos filhos. A profissional do turismo P., abafaram notícias sobre grandes epidemias. A hepatite B é
de São Paulo, diz que mudou de opinião sobre as vacinas à uma infecção crônica no fígado que é transmitida por meio
medida que a segunda filha foi crescendo e que foi obtendo do sangue e de fluídos corporais. Ela pode causar inflama-
mais informações sobre o tema, especialmente na internet. ção do fígado e icterícia.
“Comecei a questionar tantas vacinas quando a pediatra dis-
se para eu não dar a vacina de rotavírus, porque ela era um (BBC Brasil, “Internacional”, 24.12.2013)
medicamento muito recente, que ainda não havia sido muito
estudado”. Ela defende pesquisar sobre vacinação ao invés Justiça obriga pais a vacinar os
de apenas acatar determinações dos órgãos de saúde públi- filhos no interior de São Paulo
ca. “É preciso pesquisar os elementos das vacinas, esclare-
cer os prós e contras. O bom de viver na nossa época é justa- Juliana Vines
mente encontrar bastante informação disponível”, conta P.,
que deu as vacinas obrigatórias iniciais nas filhas, mas que O Ministério Público de São Paulo obteve uma limi-
não dá mais os reforços, a de gripe (influenza) e não preten- nar, na terça-feira passada, obrigando os pais de duas crian-
de dar na filha a vacina de HPV, de que o governo faz cam- ças (de cinco e nove anos) a vacinar seus filhos. Segundo a
panha atualmente. A opção de não dar as vacinas que não Promotoria da Infância e Juventude de Jacareí, interior de
são obrigatórias pelo calendário do governo – caso da vari- São Paulo, onde aconteceu o caso, as crianças são tratadas
cela (catapora) e da gripe, encontra respaldo na visão de al- com homeopatia e nunca foram vacinadas. Os pais, cujos
guns pediatras. “Creio que o programa de vacinação da Se- nomes não foram revelados, disseram à promotoria não a-
cretaria da Saúde é correto e suficiente. Mas tenho restrições creditar na eficácia da imunização. O caso teve início há um
contra as vacinas fora do calendário”, diz o pediatra e gene- ano, de acordo com Renata Oliveira Rivitti, promotora de
ticista Jordão Corrêa. “Tenho horror à vacina da gripe; vejo Justiça da Infância e Juventude de Jacareí. “A escola consta-
muita pneumonia após pacientes serem vacinados. Também tou que a criança não tinha carteira de vacinação e comuni-
acho um problema a da catapora, que pode dar reação, pro- cou o Conselho Tutelar”, afirma. A vacinação é obrigatória
duzindo a mesma bolha da doença, mas com menos intensi- no Brasil – está no ECA (Estatuto da Criança e do Adoles-
dade”. O pediatra, que recomenda que seus pacientes sejam cente). Agora, depois de serem intimados, os pais terão cin-
vacinados com as doses obrigatórias, conta que já teve paci- co dias para vacinar os filhos voluntariamente. Do quinto ao
entes contrários a todos os tipos de vacinas. “Não concordo. décimo dia, eles estarão sujeitos a uma multa diária no valor
Acho que essas pessoas deveriam, por exemplo, ver os paci- de um salário mínimo mais uma multa por infração adminis-
entes de poliomielite internados. É uma doença horrível”. trativa determinada pelo ECA. A partir do décimo dia, pode
No entanto, ele vê problemas na concentração de muitas va- ser expedido um mandado de busca e apreensão para vaci-
cinas nos três primeiros meses da criança. “É muita vacina nação obrigatória. “Eles ainda podem recorrer. São crianças
para um bebê. São muitos elementos agressores de uma vez muito bem cuidadas, os pais não têm nenhum histórico de
só. Prefiro espaçar um pouco essas doses ao longo dos me- negligência”, diz Renata. É o primeiro caso desse tipo com
ses. Se for criança saudável, sem doença crônica, não tem o qual ela se deparou. “Já encontrei casos de não vacinação
problema. É só não ficar indo a shopping, supermercado, por motivação religiosa, mas, assim, em que os pais se apoi-
igreja lotada”. am em argumentos científicos, não encontrei precedentes”.
A promotora chamou a família para conversar. Segundo ela,
(BBC Brasil, “Brasil”, 21.02.2014) a mãe argumentou que um irmão dela morreu aos quatro a-
nos após ter tomado vacina contra sarampo. Disse ainda que
China investiga morte de oito bebês após vacinação o tratamento homeopático é suficiente para garantir a saúde
dos filhos sem colocá-los em risco. De acordo com Renata,
Um bebê recém-nascido morreu na segunda-feira em os pais afirmaram que a decisão era amparada por três médi-
um hospital na província de Sichuan (Centro-Sul) depois de cos que cuidam dos filhos – pediatra, homeopata e pneumo-
ter recebido uma vacina na tarde de domingo. Especialistas logista. Os especialistas foram consultados pela promotoria
de saúde chineses estão investigando as mortes de diversos e negaram que já tivessem dado tal recomendação. “A mi-
bebês que receberam o medicamento em programa de imu- nha preocupação foi com a coletividade. Essas crianças po-
nização do governo. Investigadores foram mandados para a dem ser o vetor de alguma doença. Quantas têm as mesmas
empresa que produz as vacinas, a Biokangtai, com sede na condições e são tão bem tratadas como elas?”, diz a promo-
cidade de Shenzhen (Sul do país). No total, quatro mortes tora. A Associação Médica Homeopática Brasileira reco-
foram registradas na província de Guangdong, onde fica menda que o calendário de vacinação do Ministério da Saú-
Shenzhen. Mas ainda há dúvidas sobre as causas relaciona- de seja cumprido. “Volta e meia surge alguém perguntando
das a uma delas. Nesse caso, a vítima pode ter morrido em isso. Nossa posição está no nosso site; queremos tirar essa
decorrência de uma pneumonia, segundo a agência de notí- ideia de que homeopata não vacina”, diz Ariovaldo Ribeiro
cias Associated Press. A Comissão Nacional de Saúde e Pla- Filho, presidente da entidade. Segundo ele, há homeopatas
nejamento Familiar afirmou que dois bebês morreram de que são contra a vacinação, “mas aí é a posição do profissio-
forma similar na província de Hunan (Sul do país) e outro nal, não é uma recomendação oficial da Homeopatia e, se

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isso ocorre, é uma minoria”. Nesses casos, se houver algum momento, não havia um risco maior de minha filha adquirir
problema, o homeopata poderá ser responsabilizado. a doença do que antes. A única novidade era um novo lote
da vacina contra meningites A, C, W e Y nas clínicas. Não
(Folha de S. Paulo, “Equilíbrio e Saúde”, 01.10.2013) é por ser contra as vacinas. Sempre demos todas as do calen-
dário básico. Não é também pelo dinheiro. O que lamento é
Vacina da meningite deixa pais ver gente entrando em filas, mexendo nos sistemas imuno-
confusos e R$1200 mais pobres lógicos das crianças, gastando dinheiro que poderiam apli-
car em alimentos mais saudáveis, por exemplo, sem saber,
Gabriela Malta exatamente, por quê, por medo de epidemia que não existe.
Mas, claro, não podemos ser radicais. Conheço uma pessoa
Uma vacina nova – e bastante cara– está deixando os que, assim que soube, foi vacinar o filho. Eu não pensei:
pais brasileiros que levam os filhos a clínicas particulares “nossa, que exagerada”; entendi: o primo dessa pessoa tinha
confusos. Ela protege contra a meningite B, está disponível morrido de meningite”.
desde abril e cada uma das suas duas doses custam até R$
600. Os pediatras dizem que a vacina não é absolutamente “O sobrinho da empregada morreu
necessária, pois não há surto da doença no país. Mas e a cul- após ter tido meningite”
pa dos pais se alguma coisa vier a ocorrer? De fato, trata-se
de uma doença séria. Para a pediatra Natasha Slhessarenko, A administradora Karla Lepetitgaland, 38, vacinou o
entre 20% e 30% dos pacientes que têm infecção bacteriana filho de três anos e, agora, pretende vacinar o mais novo, de
morrem, e é elevado o número de sobreviventes com seque- um ano. “Quando ouvi falar da vacina, fui correndo pergun-
las, como surdez ou dificuldades motoras. Por outro lado, a- tar para a pediatra. Meu filho mais novo, de um ano, tem do-
lém da situação controlada da doença no Brasil, o sorogrupo ença crônica de pulmão, já foi internado. Como ele vai mui-
B não é o mais importante. Cerca de 70% dos casos de me- to ao hospital, eu fico com muito medo de que ele saia de lá
ningite se devem ao sorogrupo C, que tem vacina disponível infectado com outras doenças. A pediatra me disse para es-
no SUS. Segundo dados do Ministério da Saúde, das 2740 perar, pois se tratava de uma vacina nova. Busquei outras
pessoas que tiveram meningite bacteriana no Brasil no ano fontes de informação, com pediatras amigas minhas, que co-
passado, 146 (5,3%) foram vítimas da meningite B – ao fim, nhecem infectologistas, e elas me disseram que a meningite
foram 23 mortes no ano. Existe ainda a forma viral da doen- é uma doença muito séria, que pode ser transmitida até por
ça, mas ela é mais branda. Desde 2010 a rede pública vacina pessoas que não estejam doentes [portadores em quem a do-
as crianças de menos de dois anos contra a meningite C, po- ença não evolui]. Não vacinei o mais novo ainda, mas, como
rém, incidência do sorogrupo B passou a ser o principal vi- o mais velho já tinha tomado a vacina conjugada para as
lão no caso específico dessa faixa etária. “A vacina é boa e meningites A, C, W e Y, resolvi dar a vacina para a B tam-
recomendada. Mas não existe um cenário que justifique cor- bém. Paguei R$560 na primeira dose e, em agosto ele irá to-
reria para as clínicas”, diz José Paulo Ferreira, médico da mar a outra. Fico meio desesperada, pois o sobrinho da mi-
Sociedade Brasileira de Pediatria. A demanda dos pais, po- nha empregada morreu de meningite. A doença mata muito
rém, tem causado falta do produto em algumas clínicas – a rápido, e eu tenho medo, mas as clínicas também se aprovei-
farmacêutica GSK informa que está trabalhando para regu- tam disso. O preço é um absurdo”.
larizar os estoques. Não há previsão da entrada da nova va-
cina no Calendário Nacional de Vacinação. “Quando as so- (Folha de S. Paulo, “Equilíbrio e Saúde”, 03.08.2015)
ciedades médicas recomendam dar a vacina, elas pensam na
saúde individual, em tudo que possa ser feito para evitar a Por que as pessoas que não vacinam os filhos e usam
doença. O SUS tem que pensar na saúde pública, medir im- errado os antibióticos podem nos matar no futuro?
pacto, por exemplo”, diz a pediatra Flávia Bravo, da Socie-
dade Brasileira de Imunizações. Não foram identificadas re- Guga Chacra
ações à vacina. Segundo a GSK, ela funciona contra 80%
das bactérias vinculadas à meningite B que ocorrem no Bra- Hoje, enfrentamos dois problemas de saúde pública
sil. Tais números ficarão mais claros conforme surgirem re- que seriam simples de resolver – o uso errado de antibióti-
sultados dos testes clínicos – é possível testar uma vacina de cos e os pais que não vacinam os filhos. Primeiro, começa-
duas formas: pela eficácia imunogênica, que testa o nível de mos pela vacina. Alguns pais, nos EUA e em outros países,
produção de anticorpos, e com testes clínicos, que verificam como o Brasil, decidem não vacinar os filhos temendo que
a queda da incidência da doença na população. “São testes fiquem autistas. Isso se deve a desinformação, não má inten-
que levam tempo porque a população tem de ser vacinada”, ção. Seus filhos não ficarão autistas se forem vacinados, e,
diz o infectologista Artur Timerman. se não o forem, correm o risco de contrair sarampo, paralisia
infantil e outras doenças. Os pais que equivocadamente não
“Pessoas estão com medo de epidemia que não existe” vacinam os filhos levam em consideração o aumento dos ca-
sos de autismo nos anos 1990, quando se intensificou o uso
A tradutora Cássia Zanon, 41, decidiu não vacinar a de vacinas. Na verdade, o que aumentou foi o número de
filha de três anos. “Quando o pessoal começou a alertar so- pessoas diagnosticadas com autismo devido a avanços nos
bre a vacina da meningite B, foi como um déjà vu: lembrei diagnósticos, não ao uso de vacinas contra outras doenças.
o final do ano passado, quando começaram a falar, aqui em Seria como dizer que, como explicou médico da Johns Hop-
Porto Alegre, de vários casos de meningite que estava ma- kins University à Al Jazeera America, “veteranos da Segun-
tando muitas crianças nos hospitais. A história vinha sempre da Guerra começaram a morrer mais depois do advento do
de uma prima de uma amiga que era pediatra e trabalhava celular. Mas, obviamente, eles morrem porque estão ficando
em algum hospital e dizia que a mídia vinha escondendo os velhos, passando dos 80, 90 anos. E o diagnóstico de autis-
casos. Liguei para o pediatra e ele me disse que, naquele mo não tem relação com as vacinas”. Além, claro, de não

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ser o fim do mundo uma pessoa ser autista. Em segundo lu- SBIm e autor do livro Recusas de vacinas: causas e conse-
gar, de acordo com estudo da Organização Mundial de Saú- quências. “Boa parte dos casos ocorre dentro da comunida-
de em 114 países, muitas doenças, como a tuberculose, e in- de Amish (grupo com costumes conservadores), que não va-
fecções, começam a ser resistentes a antibióticos. Mais gra- cina seus filhos por razões religiosas”. Em outubro de 2011,
ve, não há novas alternativas de antibióticos sendo desen- a OMS informou que a circulação do vírus do sarampo man-
volvidas. Os principais responsáveis são usos equivocado e tinha-se ativa na Europa e na África. Naquele ano, o estado
exagerado de antibióticos – pessoas chegam a tomar apenas de São Paulo contabilizou 26 casos da doença. “Com isso,
para curar um resfriado, o que é um erro, ou interrompem o fica evidente o risco que grupos não vacinados podem cau-
tratamento antes do fim do ciclo do antibiótico. Isto é, a pes- sar para a saúde pública”, reforça Levi. Em países como A-
soa pressiona o médico ou o próprio médico decide prescre- feganistão, Nigéria e Paquistão, fundamentalistas religiosos
ver um antibiótico quando, na verdade, o tratamento seria incentivam a população a não vacinar os filhos por medo de
outro, e o uso de antibiótico, desnecessário. Também grave vacinas conterem o vírus da AIDS ou causarem impotência.
é a interrupção do uso antes do fim do ciclo do antibiótico – “Quando essas pessoas saem do país, acabam propagando a
não é porque você melhorou depois de três dias que deva in- doença. Inclusive, o vírus da poliomielite foi encontrado, re-
terromper antes do fim da semana, por exemplo. Por último, centemente, no esgoto de Israel”, alerta o infectologista. Por
o uso em animais é outro responsável pelo problema do au- aqui, ainda não há problemas sérios com os antivacinas. Se-
mento da resistência aos antibióticos. Corremos o risco de gundo a Dra. Ballalai, mesmo a recente campanha de vaci-
voltar ao começo do século XX e ver as crianças morrendo nação contra o HPV, a qual foi motivo de tantas críticas por
porque cortaram o pé e não tinham tratamento para a infec- parte de alguns médicos e religiosos, conseguiu vacinar
ção. E, além disso, sem as vacinas, veremos novos casos de mais de 80% do público-alvo. “No Brasil, as pessoas ainda
paralisia infantil, doença que erradicada na maior parte do aceitam muito bem a imunização”, diz a médica. Mesmo as-
mundo. Em Nova Iorque, tivemos surto de sarampo em cri- sim, é importante observar. O número de crianças com co-
anças não vacinadas pelos pais. queluche no Brasil, por exemplo, vem chamando atenção de
especialistas. No ano 2012, houve 5295 registros da enfer-
(O Estado de S. Paulo, 01.05.2014) midade: 135% a mais que em 2011. “Se você for procurar
quem não se vacina, são, na maioria das vezes, indivíduos
Por que alguns grupos optam de classe mais alta do ponto de vista socioeconômico. A po-
por não vacinar seus filhos? pulação de classe mais baixa está muito bem vacinada e par-
ticipa de todas as campanhas, faça chuva ou sol”, completa
Juliana Conte Levi. O livro do Dr. Guido explica que existe uma corrente
influente que fala sobre sobrecarga imunológica mediante a
Doenças infecciosas que poderiam ter sido elimina- administração combinada ou simultânea de vacinas, agrava-
das do planeta, como o sarampo e a própria poliomielite, a- da pelo excesso de alumínio, albumina purificada de sangue
inda são males da saúde pública de alguns países que, atual- humano e timerosal. Com isso, as crianças seriam incapazes
mente, enfrentam o surgimento de um novo grupo que pode de responder com segurança e eficácia ao número de vaci-
dificultar a batalha: os “antivacinas”. O movimento ganhou nas administradas, já que, até os dois anos, elas receberiam
força, principalmente, após a publicação de artigo científico 21 injeções contendo 33 vacinas. Daí o conselho de certos
na revista Lancet (um dos mais importantes periódicos so- grupos para adiar o início das vacinações para quando o sis-
bre saúde do mundo), no ano 1998, no qual o médico inglês tema imunológico do bebê estiver mais “maduro”. Entretan-
Andrew Wakefield associou o aumento do número de crian- to, “os neonatos desenvolvem a capacidade de responder a
ças autistas à vacina tríplice viral, que protege contra saram- antígenos estranhos a seu organismo mesmo antes do nasci-
po, rubéola e caxumba. Isso foi suficiente para que pais as- mento”, explica Guido. Estimando a quantidade de vacinas
sustados deixassem de vacinar os filhos. Entretanto, alguns às quais uma criança seria capaz de responder num determi-
anos depois, descobriu-se que o médico, na verdade, recebia nado momento, chegaríamos ao número próximo de 10 mil.
pagamentos de advogados em processos por compensação “Isso significa que, se 11 vacinas fossem aplicadas simulta-
de danos vacinais. A própria revista Lancet foi obrigada a neamente, somente 0,1% do sistema imune seria utilizado”,
se retratar, mas o estrago já estava feito. “Esse trabalho foi explica o médico.
investigado, pois passou a ser problema de saúde pública, e
foi constatado que os dados eram falsos. Mas mesmo depois (drauziovarella.com.br, “Prevenção”, 18.06.2014)
de isso ter ficado claro, consertar é muito complicado. O es-
tudo gerou uma sequela terrível, pois muita gente, inclusive
profissionais da saúde, ainda o citam”, conta Isabella Balla-
lai, presidente da Comissão de Revisão de Calendários e
Consensos da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Para se ter uma ideia de como esse movimento afetou a saú-
de pública, há 14 anos o sarampo foi oficialmente declarado
erradicado dos Estados Unidos. Contudo, em 2013, segundo
o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), foram
registrados no país 189 casos. Até abril deste ano, foram
confirmados 115 casos. “O problema é que, nos Estados U-
nidos, existe certa ambiguidade em relação à vacinação. E-
les seguem um calendário de imunizações. Entretanto, qua-
se todos os estados americanos permitem isenção da vacina
por motivos religiosos. São exceção a Virgínia Ocidental e
o Mississippi”, esclarece Guido Levi, vice-presidente da

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O que pode acontecer se você ra gestantes. O exemplo mais recente da ausência de vacina-
deixar de vacinar seu filho? ção foi na 36ª Campanha Nacional de Vacinação contra po-
liomielite, finalizada em agosto, voltada às crianças de seis
Camila Neumam meses a menos de cinco anos. A meta de vacinar 12 milhões
de crianças dessa faixa etária não foi atingida no tempo da
Você já parou para pensar nas consequências de não campanha. Por isso, muitos estados tiveram de prorrogá-la.
vacinar seu filho? Além de deixar o pequeno exposto a al- A poliomielite é causada por contaminação pelo poliovírus,
guns vírus que causam sérios problemas à saúde, a falta de transmitido por ingestão de água e alimentos contaminados.
vacinação pode trazer de volta doenças erradicadas no país É considerada doença grave, que afeta o sistema nervoso e
a duras penas, após anos de campanhas de vacinação. Os re- pode causar fraqueza muscular permanente e perda irrever-
centes surtos de sarampo e coqueluche, no Brasil, por exem- sível dos movimentos nos membros inferiores. Apesar de a
plo, são o reflexo das escapadelas na hora de tomar a vacina. paralisia infantil estar erradicada, no Brasil, desde 1990, a
Não levar o filho para tomar doses de reforço contra polio- forma selvagem do vírus (poliovírus selvagem) ainda circu-
mielite também pode implicar em problemas futuros, segun- la em países africanos, asiáticos e na Ucrânia. “Temos visto
do os especialistas consultados pelo UOL. Embora tais do- a circulação da poliomielite em países que têm livre acesso
enças não sejam mais endêmicas no país há anos, seus vírus ao Brasil por nossos portos e aeroportos. Essas pessoas po-
continuam circulando por aqui, reforçados pela vinda de tu- dem estar vindo ao país, deixando o vírus no esgoto e conta-
ristas norte-americanos, europeus e de outros países que vi- minando pessoas. Daí, a necessidade dos cuidados das auto-
vem surtos das doenças. O brasileiro que deixa de tomar al- ridades sanitárias do Brasil de fazer a campanha de reforço
guma dose, portanto, se torna presa fácil desses e de outros e de os pais levarem os filhos para tomar esse reforço da va-
vírus. No Brasil, as campanhas periódicas de vacinação têm cina”, afirma Nardi. Apesar da disponibilidade das vacinas,
o papel de lembrar às famílias sobre a necessidade de as cri- acesso a elas nem sempre é o mesmo nas cinco regiões bra-
anças tomarem as vacinas, embora doses de rotina continu- sileiras, o que dificulta ampliação da cobertura no país. “E-
em sendo fornecidas nos postos de saúde. Apesar disso, não pidemiologicamente falando, temos a obrigação sanitária de
é de hoje que as campanhas nacionais não chegam à meta zelar pela permanência da erradicação da pólio no Brasil. E
de vacinação pela baixa adesão das famílias. O Ceará vive estamos atingindo uma cobertura vacinal nacional de 95%
surto de sarampo desde 2014, quando 694 pessoas tiveram de adesão, mas ainda há estados que não chegaram a 75%
a doença no estado. Neste ano, 916 casos da doença foram porque o Brasil tem diversas realidades e dificuldades de a-
confirmados em 38 municípios. Apenas em 24 de setembro, cesso, especialmente no Norte e Nordeste”, afirma Nardi.
o Ministério da Saúde confirmou o fim do surto no estado. As três doses da vacina contra a poliomielite devem ser to-
Pernambuco apresentou casos de sarampo em 2013 (200) e madas até os seis meses, no segundo e no quinto anos de vi-
2014 (27), e conseguiu se livrar do surto este ano. Em ambos da, mas é comum a cobertura vacinal diminuir à medida que
os estados uma campanha pontual de vacinação capitaneada a criança cresce, qual explica a infectologista Isabella Balla-
pelo Ministério da Saúde focou em parentes e pessoas próxi- lai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. “Es-
mas das que foram infectadas para evitar-se que a doença se tudos de prevalência da vacinação no Brasil têm mostrado
espalhasse. “Ceará e Pernambuco são áreas onde o turismo que há cobertura de mais de 95% na primeira dose, mas, na
é altíssimo e onde a circulação de estrangeiros pode ter tra- terceira, ela diminui. A família entende que a criança está
zido o vírus. Por lá, ainda se encontram crianças que não to- vacinada, mas existe a falha vacinal que, porventura, pode
maram a segunda dose da vacina porque os pais não as leva- atingir as que não foram vacinadas integralmente. A estraté-
ram a tomar”, disse Antonio Nardi, secretário de Vigilância gia da campanha serve, justamente, para garantir essa cober-
em Saúde do Ministério da Saúde. Entre 2013 e 2014, o Bra- tura”, diz Ballalai. Apesar de as crianças serem foco da pre-
sil confirmou 947 casos de sarampo, distribuídos em nove venção, a poliomielite também causa estragos quando con-
estados, sendo 694 no Ceará, 224 em Pernambuco, 12 em traída em adultos, o que já vem acontecendo nos países onde
São Paulo, 09 na Paraíba, 03 no Rio de Janeiro, 01 no Dis- o vírus é endêmico, alerta a infectologista Ana Lívia Moraes
trito Federal, 01 no Espírito Santo e 01 em Santa Catari- Pimentel, da Sociedade Brasileira de Imunizações. Sem sin-
na. Em 2015, além do Ceará, um caso foi confirmado em tomas aparentes, os adultos portadores do vírus podem es-
Roraima. O sarampo é uma doença contagiosa considerada palhá-los fora de seus países de origem, o que reforça a ne-
grave, principalmente em crianças menores de um ano. Co- cessidade de se manter uma alta cobertura para evitar a dis-
mo causa uma série de complicações, e não tem tratamento seminação do vírus. “Hoje, há mudança na idade de quem
específico, é uma das principais causas de mortalidade entre tem pólio porque, em países da Ásia e da África, adolescen-
crianças de até cinco anos em países com cobertura vacinal tes jovens e adultos estão contraindo a doença. Mesmo sem
menor do que 95%. A criança fica protegida ao tomar a pri- sintomas, ela pode causar sequelas, como a perda de anticor-
meira vacina aos 12 meses e outra aos 15 meses. Em 2014, pos e causar a paralisia”, diz. Embora haja essas possibilida-
casos de coqueluche se espalharam pelo Distrito Federal des, Isabela Ballalai não vê perigo iminente do retorno de
(301), Bahia (159), Piauí (176) e São Paulo (31), mas graças doenças graves como a pólio ao Brasil, por causa da cober-
à mesma estratégia adotada para conter o sarampo, nenhum tura da vacinação de rotina ainda ser alta no país. “Como a
caso foi notificado nesses estados até setembro de 2015. De pólio está erradicada, a população não a valoriza, a doença
2011 a 2013, houve progressão de casos no país, de 2248, deixa de ser uma preocupação, e a prevenção deixa de ser
em 2011, para 5443, em 2012, e em 6368 casos em 2013. A prioridade. Mas é fundamental continuar tendo uma cober-
coqueluche é transmitida por uma bactéria que compromete tura para garantir que mais de 95% da população seja vaci-
o sistema respiratório e pode ser transmitida pelo simples nada, como é hoje no Brasil. Assim, vamos manter a pólio
contato com secreções da tosse da pessoa infectada. Em cri- erradicada, mesmo havendo outros países com a doença”.
anças até seis meses, a doença costuma ser mais grave; por
isso, a vacina é indicada até os 7 anos. No ano passado, o (UOL, “Ciência e Saúde”, 28.09.2015)
Ministério da Saúde passou a oferecer a vacina também pa-

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Distúrbio do sono incurável afeta cerca de 800 crianças
que tomaram vacina contra H1N1 na Europa
Rubéola é erradicada no continente americano
Cerca de 800 crianças europeias desenvolveram nar-
A Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) in-
colepsia – uma doença incurável que causa crises de sono
formou, nesta quarta-feira, que o continente americano está
incontroláveis durante o dia – após terem recebido a vacina
totalmente livre da transmissão endêmica da rubéola, já que
Pandemrix, contra vírus da gripe H1N1 (“gripe suína”), pro-
novos casos da doença não são registrados desde 2009. “É
duzida pela GlaxoSmithKline. A jovem Emelie Olsson, de
um privilégio e uma alegria anunciar que as Américas foram
14 anos, é uma delas. Ela tem dificuldade de se manter acor-
as primeiras do mundo a serem declaradas livres da doen-
dada durante o dia e perde aulas com frequência por causa
ça”, comemorou Carissa Etienne, diretora da OPAS, em co-
do problema. Ao acordar, ela às vezes fica paralisada, com
letiva de imprensa realizada Washington, nos Estados Uni-
falta de ar e sem conseguir pedir ajuda. Além disso, ela tem
dos. A rubéola é uma doença viral contagiosa que acomete
pesadelos e alucinações. Países, como a Finlândia, Noruega,
mais frequentemente crianças. O vírus é transmitido através
Irlanda e França, também registraram aumento nos casos de
das vias aéreas. Os sintomas são febre baixa, náuseas e
narcolepsia em crianças após a implementação da vacina.
manchas avermelhadas na pele. Os sinais da rubéola apare-
Por causa disso, a agência reguladora de remédios europeia
cem entre 2 a 3 semanas após a exposição ao vírus. Mulhe-
decidiu restringir o uso da vacina em jovens abaixo dos 20
res infectadas durante a gravidez podem ter bebês com de-
anos. Os cientistas ainda estão pesquisando o que, na vaci-
feitos congênitos graves, como más-formações, problemas
na, pode deflagrar a doença. Alguns sugerem que é o adju-
de visão e surdez. Para a diretora da OPAS, essa “conquista
vante, chamado AS03. Outros, que é o próprio vírus H1N1
histórica” é resultado de 15 anos de esforços em campanhas
o responsável por causar narcolepsia em pessoas genetica-
de imunização. “O continente americano foi a primeira regi-
mente predispostas. Mas especialistas concordam que é pre-
ão a erradicar a varíola, a primeira a eliminar a pólio, e agora
ciso cautela para não gerar pânico na população. “Ninguém
é o primeiro a eliminar a rubéola”, afirmou Carissa. O Brasil
quer ser o próximo Wakefield”, disse Mignot à Reuters, re-
não registra casos da doença desde 2009 e foi o último país
ferindo-se ao médico britânico Andrew Wakefield, que per-
da região a erradicar a doença. No resto do mundo, a rubéola
deu seu registro após ter associado a vacina contra sarampo,
não deve ser erradicada antes de 2020.
caxumba e rubéola ao autismo. Equipes independentes de
pesquisadores publicaram estudos revisados por outros es-
(Veja, “Saúde”, 29.04.2015)
pecialistas na Suécia, Finlândia e Islândia. Todos eles mos-
traram que o risco de narcolepsia aumentou de sete a treze
vezes entre as crianças que tomaram a vacina, em compara-
ção às que não tomaram. O médico especializado em saúde
pública Goran Stiernstedt, da Suécia, questiona se valeu a
pena imunizar a população – ele ajudou a coordenar a cam-
panha no país. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a pandemia de gripe H1N1, de 2009 e 2010, causou
18500 mortes, embora um estudo publicado no ano passado
conclua que o número foi 15 vezes maior. Stiernstedt estima
que a vacinação evitou a morte de 30 a 60 pessoas por gripe.
Mas pode ter deflagrado 200 casos de narcolepsia, uma do-
ença incapacitante. Para ele, trata-se de uma “tragédia médi-
ca”. Já o diretor de imunizações do governo britânico, David
Salisbury, acredita que, diante de uma pandemia, o risco de
morte é bem mais grave que o risco de narcolepsia. Para ele,
caso pesquisadores tivessem dedicado mais tempo a pesqui-
sas com a vacina, muito mais gente teria morrido.

(UOL, “Ciência e Saúde”, 22.01.2013)

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