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reiras tipicamente masculinas e de maior remuneração, co-

mo engenharia e tecnologia, e cheguem com mais frequên-


cia a postos de comando. “Em cargos executivos, por exem-
plo, as mulheres são mais presentes na área de Recursos Hu-
manos que finanças, que tem média salarial mais elevada”.

Disciplina: “Técnicas de Redação e Interpretação” (Folha de S. Paulo, “Mercado”, 02.03.2015)


Turma: 3ª. Série do Ensino Médio
Responsável: Prof. Adriano Tarra Betassa Tovani Cardeal
Tema redacional 06: Mulheres e mercado laboral no Brasil
contemporâneo: diferenças salariais feminil-masculinas hão
por (des)razões preconceituais ou por tinos meritocráticos?

Diferença de salário entre gêneros é menor


nas micro e pequenas empresas

Filipe Oliveira

A diferença do salário médio entre homens e mulhe-


res é menor nas micro e pequenas empresas do que nas com-
panhias de maior porte. Enquanto, nas menores, os homens
ganham 23% a mais que as mulheres (R$226,00), nas maio-
res empresas a diferença chega a 44,5% (R$ 739,00). Obser-
vando o período de 2002 a 2012, as diferenças salariais por
gênero seguiram trajetória inversa nos dois grupos de com-
panhias. Enquanto nos negócios menores houve redução de
três pontos percentuais (de 26% para 23%), nas grandes e
médias empresas a diferença foi de 42,8% para 44,5%. As
conclusões fazem parte do Anuário das mulheres empreen-
dedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas de
2014, produzido pelo Sebrae Nacional e pelo Dieese (De-
partamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco-
nômicos) que será divulgado neste mês. Uma das razões pa-
ra a maior aproximação do salário nas micro e pequenas em-
presas é que nelas há poucos profissionais em cargos de che-
fia, diz Luiz Testa, diretor de pesquisas do portal Catho. Em
cargos com remuneração de mais de dez salários mínimos,
por exemplo, 62% são homens e 38%, mulheres. Mas, pro-
fissionais com esse tipo de remuneração representam ape-
nas 2% nas empresas com até cem funcionários, aponta Tes-
ta, e chegam a 8,5% naquelas com mais de mil empregados.
Outro fator que pode justificar essa diferença, segundo Cle-
mente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, é o fato de que
nas pequenas e médias empresas, em geral, há menos varie-
dade não só de cargos, como de atividade exercida. Os em-
pregados têm ainda uma relação mais próxima do que cole-
gas de grandes empresas. Nesse cenário fica mais difícil jus-
tificar salários diferentes para eles. O presidente do Sebrae
Nacional, Luiz Barretto, diz que outro fator é que as mulhe-
res da classe C tiveram maior acesso à formação superior na
última década. Segundo censo educacional do Inep (Institu-
to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), em 2012,
491 mil mulheres se graduaram, ante 338 mil homens. Essas
formadas encontram mais oportunidades nas pequenas em-
presas, pois, nas maiores, já existe um contingente alto de
mulheres com ensino superior. Ruy Shiozawa, diretor de re-
lações empresariais da ABRH Brasil (Associação Brasileira
de Recursos Humanos) classifica as diferenças salariais co-
mo um tabu. “Se você pegar duas pessoas exercendo a mes-
ma função, no mesmo cargo e na mesma empresa, a diferen-
ça de salário só poderá ser explicada pela discriminação”.
Por outro lado, Testa, da Catho, diz acreditar que a diferença
salarial ocorre pois homens e mulheres tendem a se destacar
em cargos diferentes. Segundo ele a tendência é de que a di-
ferença diminua à medida que mais mulheres optem por car-

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Incluir as mulheres no desenvolvimento sustentável a produção, nos países em desenvolvimento, tem se feito em
tandem com a feminização do trabalho remunerado. Ressal-
Roberto Stuckert Filho tando a difícil comparabilidade internacional dos dados de
emprego, o rápido crescimento econômico dos BRICS (Bra-
Incluir os direitos das mulheres no conceito e nas po- sil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no período recente
líticas de desenvolvimento sustentável não é obviedade nem se traduziu na criação de milhões de novos postos de traba-
tarefa fácil. Os debates nesse sentido que têm considerado a lho (da ordem de 22 milhões em 2007). Essa expansão foi
incorporação da justiça social e da problemática ambiental mais de cinco vezes superior à verificada em toda a área da
– ambas questões fundamentais – pouco têm incorporado a OCDE no mesmo período. A vinculação crescente da mão
perspectiva das mulheres e suas necessidades e demandas de obra feminina na fabricação de mercancias, especialmen-
específicas. Entretanto, é fácil perceber que sem contemplar te destinadas à exportação, é uma constatação na produção
as mulheres, o desenvolvimento, e, muito menos, a sustenta- globalizada realizada pelas “fábricas do mercado mundial”,
bilidade, não serão, realmente, alcançados. Sabemos que o sustentadas na presença de mulheres contratadas por salári-
papel das mulheres, no mundo, e, em particular, nos países os muito baixos e em condições precárias. É importante sali-
do chamado “Sul Global”, tem mudado de forma significati- entar que, de fato, todas as grandes performances produtivas
va nas últimas décadas, especialmente em relação à sua in- realizadas nas últimas décadas no mundo globalizado foram
serção crescente no mundo do trabalho e nos espaços de po- feitas com incorporação maciça de mulheres ao mercado de
der. O avanço da industrialização, em particular com a glo- trabalho, o que ajudou a diminuir de modo geral as taxas sa-
balização, transformou a estrutura produtiva e deu continui- lariais globais nas últimas décadas. Dentro dessa perspecti-
dade ao processo de urbanização, algo que, junto à queda de va, e justamente por sua condição desigual nas sociedades,
taxas de fecundidade que chegou a muitos dos países menos as mulheres pobres têm enfrentado com enormes dificulda-
desenvolvidos, proporcionou um aumento das possibilida- des os processos de globalização e liberalização econômica
des de as mulheres encontrarem postos de trabalho na socie- e, por isso, em muitos países, entre os quais, os BRICS, elas
dade. A sociedade urbano-industrial provocou uma mudan- estão entre os principais “perdedores”, sendo possível afir-
ça em todas as classes sociais no mundo todo. Entretanto, as mar que as desigualdades que marcam a relação entre ho-
mulheres em sua maioria não quebraram a interdependência mens e mulheres foram um fator importante e funcional para
entre vida familiar e vida do trabalho, e, assim, a invisibili- possibilitar essa queda salarial. Outro importante elemento
dade do trabalho feminino doméstico se mantém, qual tam- de constatação das desigualdades de gênero das nossas soci-
bém as desigualdades que qualificam sua inserção produti- edades se encontra nas brechas salariais entre homens e mu-
va. Toda uma problemática comum que acompanha as mu- lheres ainda presentes em todos os países dos BRICS, com
lheres no mundo inteiro, que encontra também inúmeros de- taxas em torno de 60% a 70%, com uma ênfase maior no ca-
nominadores comuns, como a violência doméstica e sexual, so da Índia e do Brasil – países com forte peso da participa-
a falta de garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, as de- ção feminina no setor informal. Desse modo, a inserção pro-
sigualdades na remuneração de homens e mulheres, a maior dutiva das mulheres nos países menos desenvolvidos e, em
presença feminina na informalidade, dentre outras formas particular, nos países dos BRICS, continua mostrando pro-
que assumem as desigualdades e, em particular, as discrimi- fundas desigualdades de gênero que precisam ser encaradas
nações de gênero. Logo, no mercado de trabalho olhado glo- na ocasião de debater a sustentabilidade do desenvolvimen-
balmente, estudos relacionando o emprego de mulheres nos to socioeconômico. Porém, não é só esse aspecto econômico
setores exportadores, em especial o industrial, embora tam- de participação feminina no mercado de trabalho o único e-
bém na agricultura e nos serviços, têm apoiado a tese de que lemento de desigualdade a ser considerado na hora de refle-

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tir e definir o que é o desenvolvimento sustentável aos paí-
ses dos BRICS. Os temas populacionais, ligados com a re-
produção biológica e social de nossas sociedades, e a rela-
ção entre os sistemas econômicos e a vida cotidiana das po-
pulações que, na privacidade dos lares, enfrentam a prepara-
ção de seres humanos para o funcionamento do mercado, ou
melhor, para a própria vida, nos enfrentam com a necessida-
de de refletir sobre a complexidade dos processos de desen-
volvimento. Muitas das desigualdades se produzem na dis-
tribuição dos cuidados e, assim, políticas públicas com pers-
pectiva de gênero podem ser estratégias de equidade social,
já que elas têm possibilidades de regular as ofertas de opor-
tunidades para os cidadãos. Também, e finalmente, neste rá-
pido resumo de elementos a serem considerados no debate
sobre incorporação das mulheres ao desenvolvimento com
justiça e equidade, é preciso considerar aspectos políticos,
culturais e outros, incluindo o papel de um Estado democrá-
tico e laico em torno do aprofundamento da cidadania, a au-
todeterminação reprodutiva das mulheres, a proteção social
etc., em soma de garantia de cumprimento dos direitos hu-
manos. O Banco dos BRICS surgido da Cúpula de Fortaleza
deve atentar para estes aspectos de uma infraestrutura social
para o desenvolvimento sustentável que priorize o acesso à
água potável, o saneamento básico, a saúde preventiva, a e-
ducação pré-escolar etc. Enfim, as políticas do cuidado que
deve ser assumido socialmente, superando-se a atual divisão
sexual do trabalho e a superexploração do trabalho das mu-
lheres que daquela decorre. Parece tão longe, mas é simples
assim. Consideramos que o âmbito dos BRICS – países fun-
damentais para a determinação dos rumos do desenvolvi-
mento do Sul Global – nos oferece uma oportunidade para
desenvolver esses debates, ao mesmo tempo em que a dis-
puta pelos rumos políticos e econômicos do bloco nos per-
mita fortalecer a sociedade civil de tais países, em particular
os movimentos de mulheres e feministas, para o enfrenta-
mento de mazelas sociais. Justamente por ocasião da VI Cú-
pula dos BRICS, realizada em Fortaleza, e no marco do En-
contro “Diálogos sobre desenvolvimento na perspectiva dos
povos”, essa participação das mulheres e a crítica ao atual
modelo de desenvolvimento que assumem os países BRICS
foram o foco de debates do “I Fórum de Mulheres dos países
BRICS”.

(Carta Capital, “Economia”, 25.07.2014)

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Mulheres ganham mais espaço no mercado de trabalho enquanto 61,3% dos trabalhadores homens são sem instru-
ção ou terminaram apenas o Ensino Fundamental. Apesar
Pollyane Lima e Silva dos avanços, a histórica desvantagem para as mulheres em
relação aos salários pagos persiste. Dois fatores influenciam
O tempo em que a Amélia cantada por Mário Lago essa diferença: a quantidade de horas trabalhadas e os seto-
era a “mulher de verdade” ficou para trás desde que, nos a- res em que predominam trabalhadores e trabalhado-ras. “O
nos 1970, filhas e esposas de famílias brasileiras trocaram o confronto das distribuições dos dois sexos por horas traba-
“fogão” por “trabalhar fora”. A dona de casa tradicional, se lhadas mostrou ainda que a parcela das pessoas que traba-
mantida a tendência identificada pelo IBGE no Censo 2010, lhavam menos de 40 horas semanais foi maior no contin-
é um modo de vida em extinção no Brasil. O capítulo gente feminino, e esse diferencial ocorreu em todas as faixas
“Trabalho e rendimento” do estudo, divulgado nesta quarta- de idade”, resume o estudo do IBGE. No geral, 80,4% dos
-feira, mostra que o período entre 2000 e 2010 foi decisivo homens trabalham mais de 40 horas por semana. Já entre as
para a transformação do mercado de trabalho em favor do mulheres, 78,2% não passam de 39 horas semanais. Há mai-
sexo feminino. O crescimento da participação das mulheres or concentração feminina nos setores de remuneração mais
na população ocupada – ou seja, que trabalha e produz renda baixa. A participação das mulheres é maior nos setores de
– é quase sete vezes maior que o dos homens. A diferença serviços domésticos, que recebe 92,7% das empregadas
entre os sexos, no nível de ocupação da população, é um dos nessa categoria, seguida de educação (75,8%) e saúde hu-
destaques da amostra apresentada nesta manhã. Do levanta- mana ou serviços sociais (74,2%). Já entre os homens, a pre-
mento anterior, de 2000, até o atual, o nível de ocupação de dominância é no mercado de construção, em que eles repre-
pessoas com 10 anos de idade ou mais cresceu 11,3%. A po- sentam 96,5% dos trabalhadores. “Mesmo a pequena pro-
pulação ocupada passou de 47,9% para 53,3%. E o ingresso porção masculina ocupada na área de serviços domésticos,
no mercado foi maior entre as mulheres. As brasileiras ocu- por exemplo, consegue trabalhar como motorista. Ou seja,
padas eram 35,4% em 2000, e, em 2010, passaram a 43,9%. ambos estão no mesmo mercado, mas ele recebe mais que
O aumento na proporção de trabalhadoras foi de 24%. Eles uma faxineira”, compara Vandeli. Por isso, enquanto os ho-
ainda são maioria entre os brasileiros ocupados, represen- mens têm rendimento médio mensal de R$1451, o das mu-
tando 63,3% da força de trabalho. Mas, o acréscimo de pes- lheres fica em R$1070 reais. Ainda assim, no geral, o valor
soas do sexo masculino no mercado foi de apenas 3,5%. En- pago por todos os trabalhos teve aumento de 5,5% de 2000
tre as regiões, a maior presença das mulheres foi observada para 2010, e um ganho real de 15,8%. Nesse caso, as mulhe-
no Norte, onde a ocupação delas no período subiu 28,3%, e, res também têm forte representatividade, puxando para bai-
no Centro-Oeste, 28%. No Nordeste, constatou-se o aumen- xo o rendimento médio geral dos trabalhadores com 15 anos
to mais tímido, de 20,9%. “O nível de ocupação feminina de idade ou mais: 65,6% dessas pessoas ocupadas recebem
vem em uma tendência forte de crescimento. Isso também é menos de dois salários mínimos por mês. Esse valor equiva-
resultado do grau de instrução, que é mais alto entre as mu- le a 1022 reais, de acordo com o salário mínimo de 510 reais
lheres” destaca Vandeli Guerra, técnica do IBGE. A partici- utilizado pela pesquisa. Com o salário mínimo atual de 622
pação delas no mercado de trabalho aumenta à medida que reais, essa quantia gira em torno de 1244 reais.
avançam no estudo, movimento que se mostrou inverso nos
homens. Entre as mulheres ocupadas, com 25 anos de idade (Veja, “Economia”, 19.12.2012)
ou mais, 50,1% têm Ensino Médio ou Superior completo,

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Diploma atrai diploma – principalmente para mulheres

Pollyane Lima e Silva

A constatação de que mulheres são mais exigentes


que homens não é uma surpresa. O Censo de 2010 do IBGE,
no entanto, consegue estabelecer graduações mais claras no
quanto o público feminino cresce em parâmetros de exigên-
cia de acordo com o seu grau de instrução. O estudo constata
que, segundo elas, a escolaridade é determinante, e diploma
atrai diploma. Mais da metade (51,2%) das mulheres com
Ensino Superior completo buscam homens com mesmo ní-
vel de instrução, enquanto eles não são tão rigorosos – 53%
aceitam companheiras com menos estudo. Nos grupos com
Ensino Fundamental e Médio completo ou equivalente, uma
maior parte aceita um parceiro com escolaridade mais bai-
xa. No que se refere a etnia, tanto homens quanto mulheres
ainda preferem se relacionar com quem pertence ao mesmo
grupo: 69,3% das pessoas com 10 anos ou mais, informa o
Censo. Essa tendência de manter casamentos entre pessoas
de etnia semelhante já foi maior. Na década de 1960, chega-
va a 88% a proporção de casamentos dentro de mesmos gru-
pos étnicos. Quase 75% das mulheres e dos homens bran-
cos, por exemplo, se unem a outros da mesma cor. Entre os
pretos, esse índice fica em 45,1%, e, entre pardos e indíge-
nas, passa de 65%. Quanto à idade, a média geral segue a
mesma, com homens se unindo três anos mais tarde do que
mulheres. “Isso pode ser explicado também pela tendência
das mulheres de optar por homens mais velhos para se ca-
sar”, destaca a gerente de Coordenação de População e Indi-
cadores Sociais do IBGE, Ana Lucia Saboia. Muitas das
transformações constatadas pelo IBGE passam também pe-
lo poder de decisão das mulheres. De uma década para ou-
tra, por exemplo, a proporção de famílias nas quais aquelas
são as únicas responsáveis cresceu de 22,2% para 37,3% en-
quanto do homem caiu de 77,8% para 62,7%. “O ingresso
maciço no mercado de trabalho e o aumento da escolaridade
em nível superior combinados com a redução da fecundida-
de são fatores que podem explicar esse reconhecimento da
mulher como responsável pela família”, destaca o IBGE. E,
mesmo quando ela não é a única a pagar o sustento da casa,
sua participação é significativa. Pela primeira vez, o índice
de famílias nas quais tanto o homem quanto a mulher têm
rendimentos é maioria: 62,7% do total – em 2000, 41,4%. E
cabe a elas, no geral, escolher quando terão filhos – essa de-
cisão tem ocorrido cada vez com menos frequência e mais
tarde. A taxa de fecundidade do país, que hoje é de 1,9 filho
por mulher, fica abaixo do nível de reposição (que garante
a substituição de geração), de 2,1 filhos. E esse índice pode
cair ainda mais à medida que aumenta o nível de instrução
e o rendimento, podendo chegar a 1,14 entre as que possuem
Ensino Superior completo, e a impressionantes 0,97 entre as
que ganham mais de cinco salários mínimos. Esses também
são dois fatores determinantes para definir quando essas cri-
anças irão nascer. A idade média de fecundidade do país é
de 26,8 anos, mas passa dos 30 anos entre as mais instruídas.
“O aumento da renda e da escolaridade tende a trazer de vol-
ta um padrão de fecundidade tardia observado no país entre
os anos 1950 e 1960”, enfatiza o gerente do IBGE Fernando
Albuquerque.

(Veja, “Brasil”, 17.10.2012)

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O “lado B” do emprego no país supera em duas vezes a taxa média. “Nosso país ainda é pro-
fundamente marcado por desigualdades que produzem efei-
Flávia Oliveira; Igor Santos tos perversos sobre a distribuição dos possíveis ganhos com
o desenvolvimento. Nem todos os brasileiros podem se be-
neficiar igualmente dos resultados positivos do crescimento
econômico. Há grupos que experimentam maior grau de ex-
clusão, em razão de uma estrutura de oportunidades extre-
mamente desigual. Estão neles as mulheres, os negros, os
jovens”, diz Celi Scalon, professora titular da UFRJ e coor-
denadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e
Antropologia do IFCS-UFRJ. Com a lupa nos desemprega-
dos, a Pnad 2011 escancarou essa desigualdade. Ao mesmo
tempo, iluminou o caminho para a sua desconstrução. Está
claro que iniciativas, públicas ou privadas, de estímulo à di-
versidade de gênero, cor e faixa etária no mercado de traba-
lho ajudarão a minimizar o cenário de escassez de pessoal,
que incomoda os patrões tanto pelas limitações ao cresci-
mento das empresas quanto pela elevação constante dos sa-
lários. Investimento em qualificação profissional, progra-
mas de estágio e ações contra a evasão escolar igualmente
ajudariam a absorver o contingente que quer trabalhar, mas
não consegue ocupação por falta de experiência ou forma-
ção. “O mercado claramente barra aqueles que não têm qua-
lificação”, confirma Cimar Azeredo, gerente de Integração
Pnad-PME no IBGE. Em maior ou menor escala, há proje-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tos em andamento país afora. Não é de hoje que o setor de
pôs na rua, sexta-feira passada, os resultados da edição 2011 construção civil passou a incluir mulheres em cursos profis-
da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad). Hi- sionalizantes. Elas são treinadas e assumem funções relacio-
permercado de informações para economistas, pesquisado- nadas ao acabamento, como pintoras e ladrilheiras, em vez
res e especialistas em políticas públicas, a Pnad é ferramenta da força física nas obras. Segundo a Relação Anual de Infor-
obrigatória aos que desejam compreender as transformações mações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, a cons-
socioeconômicas do Brasil. No relatório sobre o primeiro a- trução civil empregava apenas 83 mil mulheres em 2000, u-
no da segunda década do século XXI, os técnicos do IBGE ma proporção de 7,5%. Em 2008, eram 138 mil. Hoje, pelas
dedicaram um trecho ao perfil dos desempregados. O país estimativas do Sindicato das Indústria da Construção Civil
tinha, no ano passado, 6,627 milhões de desocupados, termo do Rio de Janeiro (Sinduscom-RJ), esse número triplicou e
que, na Pnad, designa os brasileiros com 15 anos ou mais de chegou a mais de 250 mil no país, de um total de 3,2 milhões
idade que estão sem trabalho, mas buscam ocupação. O con- de trabalhadores nesse setor. O programa “Mão na Massa”
tingente foi reduzido em 1,6 milhão de pessoas, cerca de um (instituído em 2007), que visa à capacitação de mulheres de
quinto do total de desocupados estimado na edição 2009. A 18 a 45 anos para as atividades de pedreiras, carpinteiras,
massa de desocupados encolheu um quinto entre uma pes- pintoras e eletricistas em canteiro de obras, já formou 470
quisa e outra, mas ainda é superior a toda a força de trabalho alunas. O diretor-executivo do Sinduscon, Antônio Carlos
de Portugal (5,543 milhões em 2011, segundo o CIA World Mendes Gomes, diz que a presença delas dá vantagens: em-
Factbook) e está pouco abaixo do estoque de mão de obra bora ainda incipiente, a experiência (de inserção maior de
do Chile (8,099 milhões). É gente que busca ocupação e não mulheres) tem se revelado muito válida. Elas têm agregado
consegue, embora a escassez de profissionais, junto com a mais cuidado, organização e qualidade aos serviços que de-
carga tributária estratosférica e a infraestrutura sofrível, seja senvolvem. A indústria do petróleo, em franca expansão no
top five na lista do empresariado sobre as mazelas que atra- Brasil, é outra que, crescentemente, se feminiza. O grande
vancam o crescimento nacional. No perfil que a Pnad esbo- símbolo do avanço feminino na indústria petroleira no país
çou – e o ilustrador André Mello traduziu na charge que i- está justamente no cargo de maior importância no país: Ma-
lustra este texto – sobre o desempregado brasileiro, saltam ria das Graças Foster assumiu a presidência da Petrobras em
aos olhos características que cabem nos dedos de uma mão. janeiro deste ano e se tornou a primeira mulher no mundo a
Os desocupados são, predominantemente, mulheres (59%). presidir uma companhia do setor. Graça entrou na empresa
São pretos ou pardos (57,6%). Malformados, 53,6% com- como estagiária, aos 24 anos, em 1977. Para absorver esta-
pletaram o Ensino Médio. São inexperientes: 35,1% jamais giários e recém-formados, programas de estágio e de trainee
trabalharam. São jovens. Um terço (33,9%) tinha entre 18 e ganham escala. Cada vez mais, empresas fazem processos
24 anos de idade. “Foi traçado um perfil dos desocupados seletivos de grande porte, com adesão maciça de candidatos.
com intuito de mostrar que, apesar da queda expressiva nos Empresas qual AmBev, TIM, Citi, EBX, L’Oréal, Oi, Bras-
indicadores de desocupação, ainda persiste, para alguns gru- kem, Kraft Foods, Lojas Americanas e Unilever investiram
pos, uma dificuldade maior de inserção no mercado de tra- em programas para atrair jovens para fazerem carreira desde
balho”, escreveu o IBGE nos comentários da Síntese de In- cedo. Os salários são outro chamariz: a média dos venci-
dicadores da Pnad 2011. Portanto, um caminho óbvio para mentos de trainees gira em torno de R$3 mil a R$4 mil, mas
ampliar as fileiras dos 92,466 milhões de ocupados é des- há casos em que a remuneração chega a R$5.200.
montar as barreiras, ainda postas, de entrada no mercado de
trabalho. A taxa de desemprego das mulheres (9,1%) é qua- (O Globo, “Economia”, 26.09.2012)
se o dobro da masculina (4,9%). Índice entre jovens (13,8%)

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