DOSSIÊ
RECONHECIMENTO ÉTNICO
O artigo trata do embate travado entre os Índios Pataxó e o Estado brasileiro pela posse do
Parque Nacional do Monte Pascoal, para o que são utilizados a noção de eventos críticos e o
modelo de conflito que atribui o surgimento e o curso das lutas sociais às experiências morais
dos grupos sociais em face da denegação do reconhecimento. O objetivo é, mediante a apresen-
tação das várias etapas do embate, demonstrar que os eventos críticos relacionados à criação do
PNMP ao tempo em que ensejam graves contradições para os Pataxó, colaboram para a gênese
de uma nova comunidade político-moral. O foco incide, pois, na interface demografia e antro-
pologia, buscando relacionar as condições de vida, o deslocamento espacial e os direitos de um
povo indígena.
PALAVRAS-CHAVE: Pataxó, nação, reconhecimento, luta, monumento.
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O MONTE PASCOAL, OS ÍNDIOS PATAXÓ E A LUTA ...
Através do seu Art.134, a Carta Magna atri- Pataxó, que a esquadrilha do descobrimento, lide-
buía à Nação, Estados e Municípios a proteção e rada pelo almirante Gago Coutinho, havia registra-
os cuidados especiais com os monumentos histó- do e divulgado, em 1940, portanto em época mui-
ricos, artísticos e naturais, paisagens ou locais par-to recente à da criação do PNMP (Castro, 1940). A
ticularmente dotados pela natureza. inexistência de referência não decorreria, portan-
Em janeiro de 1938, Vargas deu início às to, de desconhecimento ou de qualquer dificulda-
consultas para a escolha do interventor federal na de de localização, mas de um deliberado não-reco-
Bahia, que deveria ser baiano e civil. Após exami- nhecimento, que eu suponho relacionado ao pro-
nar vários nomes, ele se fixou no do engenheiro jeto de constituição da identidade nacional do
agrônomo e zootécnico Landulfo Alves de Almeida, Estado Novo, cuja valorização incidia sobre o na-
que foi interventor durante quatro anos e sete me- cional, em detrimento das expressões étnicas, de
ses (Tavares, 2001). O extremo-sul baiano, região autóctones, ou de imigrantes.
de estabelecimento dos Pataxó, será alvo da aten- Os Pataxó, é importante observar, têm a sua
ção do seu governo através da construção de um presença registrada entre o Rio de Porto Seguro e a
porto, cuja fonte de recursos provinha, em grande margem norte do São Mateus, no atual estado do
parte, da cobrança de impostos sobre madeiras Espírito Santo, desde o século XVII (Vasconcelos,
(Manuscritos - Ms(1)) e da criação do Parque Naci- 1864), ao passo que o seu estabelecimento no en-
onal do Monte Pascoal, cujo decreto previa torno do Monte Pascoal é referido por Luis dos
Santos Vilhena, na segunda metade do século XVIII,
o completo levantamento topográfico do Monte ao assinalar a necessidade de conservação e au-
Pascoal, sua exata situação geográfica, bem como
traçados que mais diretamente o [ligassem] às mento da Vila do Prado
cidades de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália
(Bahia, 1941).
não só pela produção de seu fertilíssimo terreno,
como por poder servir de barreira, e obstáculo a
A primeira medida oficial com vistas à sua 12 aldeias de índios bravos, que na distancia de
implantação foi a constituição de uma comissão 12 léguas dela, se acham situadas em uma alta
serra conhecida por todos pelo Monte Pascoal,
de levantamento topográfico, através do mesmo que segundo as notícias, e informações, é o cen-
tro da habitação destes bárbaros, que infestam
decreto (Ms(2)). toda a grande comarca de Porto Seguro (Vilhena,
O Diário Oficial do Estado da Bahia de 19 1969, p.535).
de abril de 1943 publica o Decreto-Lei nº12.729
CADERNO CRH, Salvador, v. 22, n. 57, p. 507-521, Set./Dez. 2009
que cria o Parque Nacional do Monte Pascoal Essa descoberta é atribuída ao capitão-mor
(PNMP), com prerrogativa de monumento nacio- João Domingos Monteiro.
nal, com os objetivos precípuos de rememorar o Vilhena será complementado pelo padre je-
fato histórico do descobrimento do Brasil, preser- suíta Cypriano Lobato Mendes, que atuou em uma
var a flora e fauna típicas da região, segundo nor- das Missões de Índios, não-identificada, da comarca
mas científicas, conservar as belezas naturais e de Porto Seguro, e enviou, em julho de 1788, uma
promover a organização de serviços e atrativos que representação a D. Pedro II, na qual reclama maior
possam desenvolver o turismo. De acordo com o atenção para a comarca, que, ao seu juízo, deveria
seu Art.3, ficava reservada, para a constituição do ser “a menina dos olhos dos monarcas portugue-
PNMP, uma área delimitada em relação ao Monte ses”, sendo a terra mais fértil e mais rica das que
Pascoal, enquanto o Art. 4º autorizava o governo ele conhece no Brasil, um tesouro onde se encon-
do Estado a desapropriar, quando necessário, as travam as madeiras mais preciosas do país, em
terras e benfeitorias pertencentes a terceiros, in- abundância (Ms(3)). O seu testemunho é tanto mais
cluídas na área demarcada (Bahia, 1943). relevante por afirmar serem Pataxó os Índios ante-
Não há, ao longo dos trâmites, qualquer re- riormente referidos por Vilhena, dos quais ele
ferência à presença, na área delimitada, de Índios ouviu referências à existência de ouro e, particu-
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Maria Rosário de Carvalho
larmente, a uma celebrada Lagoa Dourada, “nas ça. De todo modo, trata-se de evento que suscita o
visinhanças do monte Paschoal, [em cujas] fraldas confronto entre a racionalidade burocrática e os
he que dizem está situado nas suas aldêas o gentio valores e percepções das comunidades atingidas
Pathaxó, que saem muitas vezes à praia à pescaria de (Das, 1995).
tartarugas (...)” (Ms(3)). A lagoa mencionada continua Tais eventos são caracterizados como críti-
constituindo ponto de referência importante para os cos porque compelem os atores a desenvolverem
Pataxó, que costumam, orgulhosamente, apontá-la novas formas de ação, a ressemantizarem os senti-
aos visitantes. dos nativos da política e a transformarem as iden-
Mais importante, contudo, é o próprio Mon- tidades sociais, sob uma situação de violência que,
te Pascoal, ponto por excelência de referência e todavia, tem um sentido vivificador justamente
guia principal dos pescadores e viajantes, tanto porque, ao ser compelido ao relacionamento com
para orientação quanto para indicação do vento. A os aparatos burocrático e jurídico do Estado, o gru-
partir do Monte são emitidos sinais que eles inter- po afetado é deslocado do mundo privado e res-
pretam, com muita segurança, como me ensina- surge como comunidade política, moral, detentora
ram, há muitos anos: de direitos (1995).
Entre os Pataxó, o evento crítico referido, ao
Os sinais é porque a gente vê [...] no monte forma tempo em que buscou destituí-los dos seus direi-
uma nuvem. Então se vê aquela nuvem na cabeça
do monte puxando pela parte do sul, sabemo que o tos históricos de habitantes tradicionais do entor-
vento é norte, ou lenordeste, ou norte puro, vem do no do Monte Pascoal, despertou-os, quase literal-
norte. E se aquela nuvem tiver jogada pro lado do
norte, então sabemos que o vento vem do sul [...] mente, para a consciência de que constituíam uma
pequena parte de uma totalidade maior. Nesse sen-
Foi para mim bastante compreensível a exas- tido, esse evento equivale à sua própria gênese
perada reação de velhos pataxós, em uma reunião como comunidade política, fomentadora de uma
em que foi cogitada a sua retirada do local, ao pro- identidade exclusiva e detentora do direito resul-
porem a divisão do Monte Pascoal ao meio, de tante da sua préexistência no território, à criação
forma que “uma metade ficasse para o Brasil e ou- do PNMP.
tra para os Pataxó”. O que, para os estranhos pre- Complementarmente, as tensões e os confli-
sentes, pode ter sido entendido como mero jogo tos decorrentes do evento crítico serão examinados
retórico, para mim se apresentou como uma sínte- de acordo com o modelo de conflito que atribui o
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O MONTE PASCOAL, OS ÍNDIOS PATAXÓ E A LUTA ...
quando realizava o meu primeiro trabalho de cam- tação da Terra Indígena Corumbauzinho (respecti-
po individual na Aldeia de Barra Velha. Ouvia-a vamente Portarias nº.685 de 18.08.99 e 1.262/
do então cacique Rufino Vicente Ferreira, mais PRES/2000), ouvi de diferentes informantes cons-
conhecido como Tururim, que afirmou: tantes menções à medição, persistindo um núcleo
narrativo básico, invariável, e pequenos detalhes e
O Dr. Barros (do Rio de Janeiro) disse que ia fazer datas que variavam conforme o narrador. Chico
essa medição pro índio, que a gente tinha direito
de ficar na terra. Eles fizeram a medição e depois Cunha, por exemplo, um octogenário, lembrava,
dela feita foram indenizar o pessoal. [...] e lá foi o com impressionante riqueza de detalhes para um
pessoal civilizado tirando, inté saiu no conheci-
mento nosso aí também. garoto de 13 ou 14 anos, à época, que um indiví-
duo chamado Zé Francisco acompanhava o Dr. Bar-
A declaração de Tururim ressalta dois pon- ros e transportava “o aparelho” (provavelmente um
tos que serão sistematicamente reiterados por to- instrumento equivalente a uma luneta estadimétrica),
dos os Pataxó que vivenciaram ou ouviram sobre descrito como uma espécie de espelho.
o fato, ou seja, que o Dr. Barros, provavelmente
para obter a sua cooperação nos trabalhos de me- Eu tava, nesse tempo, na praia, em Corumbau,
eu via Caraíva na ponta do Corumbau. É, pelo
dição, afirmou que a medição reverteria em benefí- espelho via tudo. Tanto os daqui via os de lá, quan-
cio dos índios, e que o evento os retirou do isola- to os de lá via os daqui. Fachiava assim! Dr.
Barros, Aurelino Costa Barros, dizia que ia fazer
mento em que viviam (“saiu no conhecimento”). a medição por ordem do governo. Abarraquemos
Além de Barra Velha, havia, à época, as al- lá mesmo, até que terminaram os trabalhos. Os
marcos foram feitos lá em cima. No final, dançou
deias de Águas Belas, Pé-da-Pedra (ou Pé-do-Mon- baile na Barra Velha, aquela dança que chamava
te), Imbiriba e Comuruxatiba. Mediante meticulo- swing.2
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Maria Rosário de Carvalho
chamado Bidu, e que o capitão dos Pataxó era, à pe. O GPS registra, do portão da sua propriedade,
época, Honório Borges. Para ele, quem relata me- S 16º 48.217’ W39º 08.994’ BRG 35º DIS 372 TRK
lhor esta história é Manuel de Suia, que se jactaria 160º GS 0.0/0.2. Retornamos, em busca, agora, do
de conhecer marco por marco. Marco ZeBedeu, na Aldeia de Barra Velha. No lo-
Na tarde do dia cinco de maio de 2001, em cal onde ele foi fixado e mais recentemente avista-
companhia de dois outros componentes da equi- do por Suia, quebrado, só há um dendezeiro (S
pe do Grupo de Trabalho acima referido, isto é, o 16º 51.340’ W39º 09.033’ BRG 29o DIS 7.28 TRK
engenheiro agrimensor Hélcio Batista, da FUNAI, 23º GS 01/05). O próximo marco é Cadinho, do
e o indigenista Eduardo Almeida, comprovei que outro lado do rio Caraíva. Devido ao avançado da
Manuel de Suia era suficientemente capaz não hora, interrompemos os trabalhos.
apenas de rememorar os eventos relacionados à Afinal, não restava dúvida de que a memó-
medição, mas de reatualizá-los, no terreno, com ria oral pataxó havia resistido à verificação empírica,
precisão e convicção. O teste empírico teve início como a situação descrita bem o demonstrou.3
em Caraíva, a partir das 13h 02min, sob forte sol.
Suia lançou mão de uma espécie de estratégia
mnemônica, isto é, rememorou oralmente os fa- Consequências da medição do Doutor Barros
tos, segundo a ordem da sua ocorrência:
A finalização dos trabalhos de medição deve
Começamos em Caraíva. Botamos o marco em ter causado crescente inquietação à medida que os
Caraíva e vimos botando outro marco, aqui em-
baixo, perto de Barra Velha. O marco de Barra vários índios recrutados relatavam o que haviam
Velha ele botou por fora, mediu por fora, pelo visto, ouvido e feito, com os inevitáveis acrésci-
mar. Depois seguiu pro Farol de Corumbau. Do
Farol pra Bunda da Nega, outro marco. Serra do mos, interpretações e conjecturas que terminavam
Gaturama. Corta o rumo pro Montinho. Do
Gaturama botou um marco num pé de quebra- por granjear ao narrador certa notoriedade,
pote. Em Caraíva, no Cadinho, na Fazenda, do notadamente em face dos não-participantes ou não-
outro lado, e outro marco na Corrida. A Corrida
fica na estrada que vai pra Monte Pascoal, acima testemunhas. Eu suponho que esse evento crítico
de um morador por nome Nenê Batista. Outro ocorreu em determinado período da década de
marco na boca do Guaxuma, do outro lado do rio
Guaxuma. O rio grande de Caraíva está aqui, e quarenta do século vinte, talvez 1944, como o afir-
aqui é o Guaxuma, nós entrou aqui, pegou o rio ma Manuel Santana.
do Cemitério. Aí nós subiu, foi fazer canto no
Montinho. A inquietação teria dado lugar à necessida-
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O MONTE PASCOAL, OS ÍNDIOS PATAXÓ E A LUTA ...
alguém deve tê-lo conduzido para Niterói e redigi- cesso da campanha O Petróleo é Nosso”, em curso
do, em português claudicante, um dramático pe- em todo o país, desde 1948 (Tavares, 2001, p.67).
dido de auxílio, com data de 1º de setembro: “Do Ao longo de todo esse ano, a polarização
capitão Onoro para [sic] os pobres Chefe da ardea causada pelo decreto de criação da Petrobras, que
de indio de Belo Jardim Monte pasqual. Manda Vargas enviara à Câmara Federal, assim como,
pedir roupa para minhas crianças e pesso feramenta notadamente, a campanha contra o envio de sol-
para o meu trabalho faso um pedido que não dei- dados brasileiros para a guerra na Coréia, suscita-
xe de atender. Peso o favor de não deixar o pessoal ram um clima favorável à identificação da ideolo-
da India tomar minhas terras5 eles tan tando para gia comunista em setores do seu governo, princi-
panhar, Ardea dos Indios de Belo Jardim Monte palmente no Ministério do Trabalho, cujo titular,
Pascual que fica acima de porto Seguro na Bahia” João Goulart, cobrava novos direitos para os traba-
(SPI, 1949, ênfases adicionadas). lhadores e reajuste do salário mínimo, contrarian-
A carta do capitão é objeto de uma tramitação do, assim, amplo espectro formado por políticos,
estranhamente errática e longa. Protocolada, ela é setores comercial e industrial, banqueiros e milita-
encaminhada, em 5 de setembro de 1949, por res, que, afinal, obtiveram a sua destituição e a
Modesto Donatini, Diretor do SPI, ao Inspetor Es- anuência de Vargas, que buscava se compor com
pecializado Alísio de Carvalho, sediado em Teófilo os militares, para a instalação de inquéritos polici-
Otoni, Minas Gerais, e igualmente dirigida à Ins- ais militares (IPMs) que identificassem infiltração
petoria Regional 4, cuja sede era Recife, onde é comunista nas Forças Armadas (Cf. Tavares, 2001).
também protocolada e encaminhada ao Inspetor No período 1950-1954, será a vez do SPI,
Sílvio dos Santos. Em 6 de julho de 1951, portan- após sérios reveses, buscar superar a imagem ne-
to um ano e dez meses depois, o processo SPI gativa que havia construído, malgrado o esforço
nº4073/49 é encaminhado ao agente Manoel Moreira de muitos, através da ação enérgica de José Maria
Araujo “para esclarecer tendo em vista a última da Gama Malcher. Ele substituiu os agentes recru-
informação”. No dia 6 do mesmo mês e ano, Ara- tados sem as necessárias qualificações por
ujo se dirige ao diretor Malcher, informando que etnólogos e indigenistas, aos quais atribuiu as prin-
“A aldeia dos índios de que faz parte o “capitão” cipais divisões do órgão, procurando, desse modo,
Onório Borges, situada em Belo Jardim, no Muni- imprimir-lhe uma feição moderna, o que, de fato,
cípio de Porto Seguro, Estado da Bahia, foi consegue até 1955, quando o órgão é utilizado, à
CADERNO CRH, Salvador, v. 22, n. 57, p. 507-521, Set./Dez. 2009
destroçada pela polícia de Ilhéus, sob o comando semelhança do que ocorreu com outros, como bar-
do major Arsênio Alves, encontrando-se o dito ganha política para os partidos políticos vitorio-
“capitão” preso incomunicável, em Ilhéus, tendo sos nas eleições de 1955.
vindo escoltado de Salvador Em maio de 1951, a pequena aldeia de Bom
Desde outubro de 1950, Getúlio Vargas ha- Jardim, agora mais correntemente denominada
via sido eleito Presidente da República, tomando Barra Velha, se tornaria assunto jornalístico, devi-
posse em janeiro de 1951, sob fortes boatos de gol- do a um movimento de sublevação, ainda hoje
pe contra a posse, dissipados por declarações dos cercado de obscuridade, no qual foram envolvi-
comandantes do exército, marinha e aeronáutica, dos os Pataxó. O motim, desencadeado no vizi-
uma correlação de forças que historiadores, a exem- nho povoado de Corumbau, suscitou uma des-
plo de L. H. Dias Tavares, afirmam expressar o “su- proporcional reação policial, que, além de danos
5
físicos e emocionais, provocou a desorganização
A expressão “pessoal da Índia” constitui eloquente de-
monstrativo do isolamento sociocultural em que viviam da população aí estabelecida. A “revolta dos cabo-
os Pataxó até essa época, limitados, em grande parte, à
posição de receptores das informações oriundas de Caraíva. clos de Porto Seguro” (A Tarde, 30/05/1951) reve-
Ao tentar colher o significado de “pessoal da Índia”, li o lou a existência de pessoas em “lastimável estado
trecho para o pajé Albino Braz Pataxó, em 1999, que o
glosou como “pessoal de um país estrangeiro”. de miséria, todos passando fome e alguns doen-
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Maria Rosário de Carvalho
tes” (30/05/1951), que teriam sido insuflados por eles. Naquele tempo era mata, entrava nessa re-
gião aqui e ia sair em Maxakali.
dois indivíduos que o capitão da época conhecera
no Rio de Janeiro, e que lhe teriam prometido diri- Absolutamente improvável é a suposição de
gir-se à aldeia para realizar a medição de suas ter- que o capitão Honório houvesse “previamente or-
ras. Os dois, identificados como “engenheiro” e ganizado o traiçoeiro ataque, estando apenas à es-
“tenente” (A Tarde, 08/06/1951), pretextando ser pera de dois elementos do Rio de Janeiro confor-
isso necessário para a consecução de seus objeti- me depõem alguns caboclos que se acham prisio-
vos, indispuseram os índios contra a população neiros” (A Tarde, 01/06/1951). O próprio
não-índia dos arredores, notadamente a de municiamento do grupo para a revolta – “espin-
Corumbau, onde teve lugar um assalto a um co- gardas de carregar pela boca, facas e facões” – ou
merciante. Da dura repressão resultou a morte dos seja, seus instrumentos de trabalho, demonstra a
dois líderes não-índios, a prisão do “capitão” e de ausência de um plano sistemático de ação, pelo
mais dez índios, homens e mulheres, e a disper- menos da parte dos índios. A declaração do “capi-
são dos demais, sob completo desespero. Quase tão” de que consentira aos “índios e seus parentes
que simultaneamente, noticiava-se uma tentativa de seguirem a orientação dos dois atacantes estranhos
rebelião em Umburanas, Minas Gerais, para onde em virtude de acreditar que os mesmos procediam
teria tentado deslocar-se “um grupo de 4 indivídu- como agentes do governo” (A Tarde, 07/06/1951)
os” de Barra Velha (A Tarde, 28/05/1951), caracteri- atesta que os índios foram envolvidos possivel-
zando a imprensa os dois movimentos como idên- mente com promessas de demarcação de terras, e
ticos e sugerindo uma ligação entre eles. As evidên- que sua participação não se lhes afigurara ilegal.
cias autorizam supor que não havia nenhum movi- Quanto à motivação dos dois insufladores – indi-
mento em Umburanas, mas tão somente que para lá víduos que se apresentavam com falsa identidade
apelou o capitão Honório, tal como sugere a sua e seriam ligados ao Partido Comunista,7 um deles
declaração de que mandara “cinco índios pedir au- tendo sido identificado pelo comandante da ope-
xílio aos cabocos do aldeiamento de Emburanas”, ração policial, major Arsênio Alves, como Ari
ou seja, os amigos Maxakali6 (28/05/1951). Bhering – ainda hoje não está esclarecida. Há tam-
Essa suposição foi fortemente apoiada, mui- bém quem os identifique como funcionários do
tos anos depois do “fogo de 1951” – como é referi- SPI. Pouco provável, por outro lado, é que fossem
do pelos Pataxó o fato ocorrido em 1951 –, pelo simples aventureiros, arriscando-se à deflagração
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O MONTE PASCOAL, OS ÍNDIOS PATAXÓ E A LUTA ...
Curiosamente, no mesmo ano de 1951, na dio e como capitão do Serviço de Proteção aos Ín-
área dos Xacriabá, município de São João das Mis- dios e cacique dos Índios de várias tribos”, e foi,
sões, norte de Minas Gerais, ocorrem fatos, igual- em seguida, reconduzido, triunfalmente, a Manga
mente obscuros, que podem ter conexão com aque- (1997, p.63).
les sucedidos entre os Pataxó. Ademais, a história Ao tomarem conhecimento da sua prisão e
da relação dos dois povos com instâncias do Esta- do filho, os índios ficaram amedrontados e alguns
do brasileiro guarda certa similaridade, uma vez até fugiram (p.65). Santos observa ainda que os
que a primeira intervenção de um órgão federal na índios Xacriabá se referiram, em uma das cinco
área Xakriabá resultou de uma segunda viagem dos conversas em que o tema foi comentado, a reuni-
índios “em algum momento entre 1930 e 1950” ões que Valle organizou.
(Santos, 1997, p.60), tendo resultado na presença Uma conexão entre o “fogo de 1951” e os
de um suposto antigo funcionário do SPI, Lyrio acontecimentos de São João das Missões é
do Valle, que se autoconclamava “Cacique dos Ín- estabelecida pelo Jornal A Tarde, ao chamar a aten-
dios de São João das Missões”, título que lhe teria ção do leitor para “idêntica rebelião [que] acaba de
sido outorgado por Rondon. Valle declarava haver se verificar no interior de Minas Gerais)” (A Tarde,
sido enviado, em 1950, para São João das Mis- 29/05/1951).
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Maria Rosário de Carvalho
A Luta pelo reconhecimento do índio com outra nação” –, era encarada muito
negativamente pelos mais velhos, para quem “mistu-
O destino de Honório após 1951 não é muito rando vai acabando a nação”. De acordo com a sua
preciso. As poucas evidências levam a supor que percepção, nenhuma mudança repercutia tão des-
ele foi submetido ao ostracismo. O atual pajé da favoravelmente sobre a nação Pataxó quanto a mis-
aldeia de Boca da Mata, o já referido Manuel tura, que ameaçava a sua persistência. “E não tendo
Santana, por exemplo, indagado sobre o seu para- mistura, a nação tem que conseguir”, era a sua con-
deiro, respondeu, evasivamente, que ele “sumiu, clusão axiomática.
foi embora, desapareceu”, referindo-se, na A dispersão resultante dos distúrbios igual-
sequência, ao novo capitão, Epifânio Ferreira, “que mente ensejou, em decorrência do abandono pro-
resolveu o problema pra gente”. Epifânio e dois visório da Aldeia de Barra Velha, a reocupação de
dos seus filhos viajaram para Brasília, “de onde porções do território tradicional e a ocupação de
trouxe o direito da gente viver aqui dentro da al- novas, a exemplo de Corumbauzinho; de Mata
deia”, direito que teria sido concedido pelo presi- Medonha, implantada em 1951 por uma família
dente João Goulart, o que permite deduzir que a de refugiados de Barra Velha, à qual se acrescenta-
viagem transcorreu entre o final de 1961 e o início riam outras, nos anos oitenta; de Águas Belas, con-
de 1964. Com o retorno de Epifânio, sinal positi- solidada, também na década de oitenta por
vo foi emitido para os pataxós que estavam ainda migrantes de Barra Velha não-retornados; do mes-
dispersos, e que foram encorajados pelo novo ca- mo modo que a velha Aldeia de Imbiriba, que teve
pitão a abrir novas roças na capoeira, “pra não ofen- a sua população incrementada após 1951. Coroa
der a mata virgem”, segundo o que recomendara o Vermelha foi igualmente produto da grande
presidente Goulart. diáspora Pataxó. Cada aldeia, vale notar, reporta-
A administração do PNMP resistia, medi- se a uma família extensa, considerada desbrava-
ante o exercício da violência, física e simbólica, ao dora do local.8 Costuma-se fazer referência aos
estabelecimento de roças, em face do que muitos Braz como estabelecidos nos arredores de Barra
conflitos ocorreram. As pequenas roças eram Velha – “Anjo”, “Onça” e “Boa Vista” – oriundos
complementadas com a pesca nos arrecifes, a cole- que seriam de Belmonte, do mesmo modo que o
ta no mangue e a extração de piaçava às escondi- “pessoal de Nazaro”. Já os Valério são referidos
das, nas primeiras horas do dia, para ser transpor- como vivendo, tradicionalmente, parte em Caraíva
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O MONTE PASCOAL, OS ÍNDIOS PATAXÓ E A LUTA ...
Palmares, ao sul, dos Pires, que são constantemente sença de Sampaio atrairia grande número dos
referidos, e muito respeitados, por nunca terem se dispersos, que, reunidos, queixaram-se “de estar
retirado do local. privados de trabalhar e de sofrerem outros aborreci-
Em 1963, o SPI tenta sensibilizar a direção mentos por parte dos guardas florestais, que os im-
do PNMP para que os Pataxó permaneçam em suas pedem de viver agrupados como desejam.” (Ms(5)).
terras. Um telegrama, procedente do Ministério da Siquara estava ausente, o que impediu que
Agricultura, Serviço de Proteção aos Índios, cujo Sampaio lhe fizesse pessoalmente a entrega do car-
signatário é Francisco Sampaio, Chefe de Serviço tão encaminhado por Costa. Na viagem de volta, o
de Índios, é dirigido ao Diretor do Parque Nacio- inspetor adquire, em Porto Seguro, ferramentas,
nal em Porto Seguro-BA, com o seguinte teor: inseticidas, anzóis, cobertores, tecidos e medica-
mentos, encarregando o subdelegado de distribuí-
Informado pelo Sr. Prefeito dessa cidade esta- los entre os Pataxó. Previdente, detém-se, mais uma
rem os Índios Pataxó impossibilitados lavrarem
suas terras absorvidas pelo Parque Nacional sob vez, em Salvador, para participar a Costa as provi-
vossa direção, venho apelar para vosso espírito dências tomadas, reiterar-lhe o direito, por parte
de justiça, permitindo que os Índios continuem
cultivando a área que for necessária à sua subsis- dos Pataxó, ao trabalho e permanência “nas terras
tência. Este apelo tem por fim evitar que venham
sofrer privações por falta das terras que de seus ancestrais”, e apresentar-lhe já uma pro-
inapelavelmente lhes pertenciam e por coinci- posta mínima de terras a ser reservada para os ín-
dência no ponto exato em que se deu o nosso
descobrimento. Confiado no vosso patriotismo dios, ou seja, “um quadrilátero de 900 hectares”
espero ser atendido” (Ms(4)). 10
( Ms(5)).
A visita de Francisco Sampaio causou forte
Em 25 de março de 1964, Sampaio estabele- impressão aos Pataxó e, mais uma vez, constitui
ceu contato direto, em Salvador, com Aurélio Cos- demonstração da sua poderosa memória. Desde
ta, o Doutor Barros, Chefe da 4ª. Inspetoria do 1976 ouço referências a Sampaio, apontado como
Serviço Florestal da Bahia, à qual estava subordi- “o primeiro [provavelmente agente governamen-
nado o PNMP, apresentando-lhe a denúncia de tal] que andou aqui”. A sua visita é diretamente
que os Pataxó se encontravam “perseguidos e pri- relacionada à viagem de Epifânio Ferreira a Brasília,
vados de trabalhar nas terras em que nasceram, e não guarda conexão, entre os índios, com os fa-
pelos funcionários do Parque (Ms(5)), ênfases adi- tos relacionados à viagem de Honório Borges ao
cionadas). Costa elaborou um cartão, dirigido a Rio de Janeiro, em 1949. Resoluto, Sampaio pro-
CADERNO CRH, Salvador, v. 22, n. 57, p. 507-521, Set./Dez. 2009
Miravaldo de Jesus Siquara, chefe-provisório do duziu, em sua curta estadia, uma imagem muito
Parque Nacional, autorizando-o a combinar com positiva de provedor e de assegurador do direito
Sampaio “uma fórmula que permitisse aos Índios dos Pataxó ao trabalho, cujo efeito foi o início do
o direito de trabalhar no cultivo das terras” (Ms(5)). retorno dos dispersos.
De Salvador, Sampaio seguiu para Porto Em junho de 2004, tomei a iniciativa, após
Seguro, onde fez contato com o prefeito local, após várias tentativas para localizar Miravaldo Siquara,
o que alcançou Caraíva, e, na sequência, a Aldeia de visitá-lo e entrevistá-lo em Alcobaça, extremo-
de Barra Velha, por essa época reduzida a duas sul baiano, onde reside. Muito loquaz e receptivo,
casas e uma igrejinha, pois “o resto da população recebeu-me muito calorosamente. Aposentado e
indígena vive esparsa” (Ms(5)). A notícia da pre- levando uma vida pacata, aparentemente muito
diferente daquela vivenciada como chefe do PNMP,
entre os Pataxó do extremo-sul, ao passo que outros, da
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mesma aldeia, teriam se dirigido para o sul da Bahia, A área reservada em 1965 foi muito menor do que aque-
onde Curt Nimuendaju os encontrou em 1938 (Carva- la reivindicada por Sampaio, ou seja, apenas 210 ha em
lho, 2005). A composição étnica das aldeias dos Pataxó torno de Barra Velha (IBDF, 1979). Igualmente foi aco-
do extremo-sul (que os etnólogos convencionaram de- lhida a sua recomendação de criação de um Posto Indíge-
signar Pataxó meridionais), do mesmo modo que a dos na, implantado em 1968. Ao longo desse período, os
Pataxó do sul (Pataxó setentionais), constitui tema fas- Pataxó enfrentaram, com determinação e coragem, os
cinante, que já está sendo objeto da minha atenção. guardas do Parque.
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ele deve ter ficado lisonjeado com o meu interesse temente acompanhado e corroborado, por parte dos
em entrevistá-lo. Ele se reportou a 1956, ano da Pataxó, apenas pelo cacique e vice-cacique à época,
criação da Polícia Florestal, quando participou de (respectivamente, Rufino Vicente Ferreira e Alfredo
um curso preparatório para inspetor, após o que Braz) – foi celebrado em 1980. O IBDF admitiu que o
foi designado inspetor da região do extremo-sul correspondente à metade norte da área, identificada
baiano. Em 1960, foi convocado por Aurélio Cos- como território de ocupação tradicional Pataxó, pre-
ta para acompanhar a comissão composta pelo pró- dominantemente composta por brejos arenosos jun-
prio Costa e mais dois membros, designada para to ao estuário do Caraíva, passasse ao seu usufruto,
proceder à recriação do PNMP, uma vez que o pri- permanecendo, porém, os manguezais junto ao es-
meiro decreto caducara sem que o governo federal tuário do rio Corumbau – fonte de proteína animal
tomasse as medidas efetivas para a sua especialmente relevante para a sua dieta – sob con-
implementação, em face do que as terras doadas trole do PNMP (Sampaio, 1996).
pelo Estado da Bahia reverteram ao seu controle. Em que pese o caráter lesivo e sem consulta
O seu relato autoriza concluir que ele foi, com exa- ampla aos Pataxó, aos antropólogos e indigenistas
gerado rigor, o verdadeiro artífice da desocupação que vinham se dedicando à questão (Carvalho,
da população indígena que habitava nos limites 1987), a área resultante da combinação FUNAI/IBDF
compreendidos pelo PNMP e da população não- – 8.627 hectares – foi submetida à apreciação do
indígena, genericamente referida como capixaba, Grupo de Trabalho Interministerial criado pelo
que, crescentemente, forçava a entrada. Recebia as Decreto 94.945/87 que, em sua Resolução 02, de
ordens de desocupação, provenientes de Barros, e 20 de julho de 1988, resolveu “reconhecer” a área
as executava com excessivo zelo. Os seus esforços como “de posse imemorial indígena”, recomendan-
resultaram no decreto nº 242 de 29 de novembro do sua regularização com a designação “Colônia
de 1961, que criou o Parque Nacional do Monte Indígena Barra Velha”. Por fim, ela foi homologada
Pascoal com a área de 22.500 hectares.11 pelo Decreto 396 (24/12/91) da Presidência da Re-
Ao ser finalizado, sob a liderança de pública (FUNAI, 1991; Sampaio, 1996).
Siquara, o levantamento realizado abruptamente, O descontentamento e a frustração causa-
para efeito das indenizações, todas as atividades dos pela demarcação de 1980 foram muito gran-
produtivas foram terminantemente proibidas des entre os Pataxó. Testemunhei muitas queixas
(“Ninguém caçava, ninguém fazia mais nada. e lamentos, expressos sob intenso sofrimento. Eu
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que nos dê um apoio sobre esse assunto da terra, vez pedimos o apoio de toda a sociedade brasi-
leira (Carta do Povo Pataxó, 1999).
nós somos uma comunidade de mais de 1.000 Visitei o Parque poucos dias depois da reto-
pessoas e essa terra, mal medida como foi, não dá mada e testemunhei o ânimo e a disposição favorá-
pra nós e nossos filhos. Dessa forma, dentro de veis por parte de vários caciques e seus liderados.
pouco tempo não haverá mais a nação Pataxó, nós Ao mesmo tempo, registrei várias referências ao fa-
índios morremos de desgosto e de fome (ANAI, lecido capitão Epifânio Ferreira, concernentes ao
1980). Paulo Baraúna faleceu em 1987. mesmo tema, isto é, o da sua intercessão pelo direi-
Transcorre um longo intervalo, no decorrer to ao território Pataxó: “ele sempre diz para o pesso-
do qual os Pataxó se mobilizaram, de diversos al dele que está no pé do governo, cobrando os di-
modos, sempre tendo em vista a reconquista da reitos da terra, os direitos dos parentes, os direitos
área do PNMP. Avanços significativos no âmbito de nós. Ele encosta12 nos parentes e fala, em sonho.
da sua organização social e política foram produ- Está na luta da terra ainda!”
zidos, para o que muito concorreram as assembléi- Comentar-se-ia, tempos depois, que, na pri-
as indígenas, internas e externas, a formação de meira festa ocorrida no chamado Pé-do-Monte, lo-
novos líderes, com maior domínio do aparelho cal do antigo posto, Epifânio “encostou” na filha
burocrático, um processo crescente de Josefa e declarou que “só descansaria quando ga-
escolarização e a criação da Articulação dos Povos nhasse a terra toda, da beira da praia à Serra da
e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Ge- Gaturama”. Em uma das inúmeras vezes em que o
rais e Espírito Santo (APOINME). Sob o estímulo fato foi comentado em minha presença, uma pataxó,
da APOINME, surge o Conselho de Caciques do completou, firmemente: “tá perto dele descansar”.
Sul e Extremo-Sul da Bahia, que passa a articular A recuperação do Parque havia recobrado a
e planejar o movimento regional, em progressiva autoestima e a confiança dos Pataxó, e os impeliria
conexão com o movimento indígena suprarregional. a realizar sucessivas retomadas de porções do ter-
No período compreendido entre 16 e 19 de ritório, de onde foram, em distintos períodos his-
agosto de 1999, representantes das aldeias Pataxó, tóricos, expelidos.
reunidos em uma assembléia do Conselho de Ca- O sentimento de injustiça por eles
ciques, confirmaram a necessidade de ampliação e vivenciado parece haver funcionado como um
recuperação do território tradicional, e, em Carta impulsionador de ações coletivas que produziram
às autoridades brasileiras, afirmaram que: expectativas de reconhecimento, crescentemente
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Seção Republicana Cx. 2083 e 2084. Maço 2466. Bahia, CARTA do Povo Pataxó às autoridades brasileiras. Aldeia
23.10.1940. Lafaiete Ponde, secretario de Interior e Justi- de Monte Pascoal/Porto Seguro 19 de agosto de 1999.
ça, encaminha telegrama ao Prefeito de Porto Seguro re- COLEÇÃO La Correspondencia Sudamericana – Órgão
novando recomendações sobre cobrança impostos ma- Oficial do Secretariado Sul-Americano da Internacional
deiras. (Ms(1)) Comunista – 1929-1930.
Secção Republicana /Secretaria de Governo. Cx. 2090 – DAS, Veena. Critical events: an anthropological perspective
Maço 2481 Em 04.05.41, a Delegacia Regional (Bahia) de on contemporary India. New Delhi: Oxford University
Recenseamento, através do Delegado Regional Ruben Press, 1995.
Gueiros, envia congratulações pela assinatura decreto
11.892 constituindo comissão levantamento topográfico DENNIS, Ferdinand. Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; S.
Monte Pascoal, publicado Diário Oficial de hoje (Ms(2)) Paulo: EDUSP, [1838]1980.
CONSELHO ULTRAMARINO BRASIL – Bahia. Represen- FERREIRA, John Kennedy. I Conferência dos Partidos
tação do padre Cypriano Lobato Mendes dirigida a D. Pedro Comunistas da América Latina: a questão indígena for-
III, sobre a situação econômica da Capitania da Bahia, em mulada por José Carlos Mariátegui. Revista Espaço Aca-
que se contêm noticias muito interessantes. Bahia, 31 de dêmico, Maringá,PR, v.8, n.92, jan., 2009. Disponível em:
julho de 1788. (Ms(3)) REA 092 On-Line. Acesso em: 28 maio 2009.
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FUNAI. Decreto nº396/91 Homologa a demarcação admi- SANTOS, Ana Flávia Moreira. Do terreno dos caboclos do
nistrativa da Área Indígena Barra Velha, no Estado da Sr. São João à Terra Indígena Xakriabá: as circunstâncias
Bahia. (Fernando Collor /Jarbas Passarinho). 24 dez., 1991. da formação de um povo. Um estudo sobre a construção
social de fronteiras. 1997. 350 f. Dissertação (Mestrado
IBAMA-BA. Plano de Ação Emergencial para o Parque em Antropologia) - Programa de Pós-Graduação em An-
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HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática TAVARES, Luís H. Dias. História da Bahia. São Paulo: Ed.
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os ideais cantados do Estado Novo. Travessias, dentes curiosas e necessárias das cousas daquelle Estado
Cascavel,PR, n.2, p.1-16, 2007. pelo padre Simão de Vasconcelos. 2.ª edição, accrescentada
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Maria Rosário de Carvalho
MONTE PASCOAL, THE PATAXÓ INDIANS MONTE PASCOAL, LES INDIENS PATAXÓ ET
AND THE FIGHT FOR ETHNIC LA LUTTE POUR UNE RECONNAISSANCE
RECOGNITION ETHNIQUE
Maria Rosário de Carvalho - Doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP).
Professora Associada I do Departamento de Antropologia e Etnologia e Professora Permanente do Progra-
ma de Pós-Graduação em Antropologia e do Programa Multidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos
da UFBA. Publicou Os Kanamari da Amazônia Ocidental História, Mitologia, Ritual e Xamanismo.
Salvador, BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 2002, organizou Identidade Étnica, Mobilização política
e Cidadania. Salvador, BA: Empresa Gráfica da Bahia, 1990, e produziu um conjunto de artigos e
capítulos de livros. Coordena o Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro e é
Bolsista PQ do CNPq.
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