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Almeida Garrett

Pescador da barca bela,


Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela


No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,


Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,


Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,

Ó pescador!
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!

Almeida Garrett
(que bem pode ser um coro à boa maneira
clássica da tragédia grega -não prenuncia o
coro, por regra, a catástrofe? - e que
acontecerá ao pescador se não resistir à
tentação - leia-se sedução- , apesar dos
avisos?)
O poema sintetiza um conflito dramático
representado por três personagens:

o pescador,

a sereia

e alguém que é o dono da voz que se dirige


ao pescador
O sujeito poético suplica ao pescador que não
vá pescar, pois conhece os perigos fatais que
o esperam; a repetição da apóstrofe (Ó
pescador!) exprime o seu sofrimento cada vez
mais intenso porque vê o pescador cair nos
laços fatais da sereia
1ª estrofe - um aviso, um conselho:

Pescador da barca bela,


Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Que é como quem diz:

«Se vais, ficas sem ela e,


perdendo-se a barca,
perdes-te tu!»
Todo o poema contém os pré-requisitos
de um texto argumentativo cuja tese
pode muito bem ser: «Barco que vá para
o mar arrisca-se a lá ficar.»
(principalmente se as condições forem
adversas: vv 5/6; v 10; vv 13/14);

Não vês que a última estrela


No céu nublado se vela?

Que a sereia canta bela...

Não se enrede a rede nela,


Que perdido é remo e vela
Assim, a lógica da argumentação assenta na enumeração das
adversidades que aumentam, gradativamente, o perigo que
representa o próprio mar:

-se o mar (deve ser entendido como uma metáfora), em si


mesmo, já representa perigo para a barca bela, esta ficará
envolvida em maior perigo se perder a sua orientação

(«Não vês que a última estrela / No céu nublado se vela?» (vv


5/6) - a ausência de luz retira a clarividência ao pescador,
facilitando a perigosidade);

por isso: «Colhe a vela, / Ó pescador!»


mas, se o não fizeres, se não tiveres a força, a coragem para o
fazer, para resistir, «Deita o lanço com cautela...»
se o perigo é mesmo iminente para uma barca à deriva (sem
orientação), é-o ainda mais se se deixar seduzir pelo
canto da sereia como aconteceu no episódio de Ulisses;

enredando-se a rede nela, ficará perdidamente enredado o


próprio pescador (será o momento oportuno de lembrar
um ditado popular: «Ir à lã e vir tosquiado.»
ou, se se preferir a adaptação: «Ir à pesca e ser pescado.»)

curiosidade: o termo pescar, conotativamente, é muito


utilizado no jogo da sedução!; por isso: enquanto é
tempo, «Foge dela, / Foge dela, / Ó pescador!»,
isto é, se não queres ficar sem a barca bela, não vás pescar
com ela;
 Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

 Não vês que a última estrela


No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

 Deita o lanço com cautela,


Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

 Não se enrede a rede nela,


Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador!

 Pescador da barca bela,


Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!
Rima: monótona: ela/ela/ela e or.
A monotonia da rima sugere que o canto da sereia tem a
capacidade de adormecer as resistências do pescador.

Aliteração: barca bela.

A beleza da barca é o primeiro elemento de perdição. "Não


vês… se vela?/Colhe a vela".
Sugestão da força do aviso e do pedido do sujeito poético.
"Deita o laço com cautela! Que… canta bela".
Sugestão do cuidado que o pescador devia ter. "Não se
enrede a rede nela… remo…"
Sugestão do enredo do pescador nas malhas da rede da
sereia, tecida pelo seu canto
 apóstrofe (vv 1, 4. 8. 12, 16, 20);
 adjectivação (bela, última);
 pergunta de retórica (vv 1/4; vv 5/6;
 exclamação retórica (vv 7/8; 11/12; 15/16; 19/20);
 diáfora (vv 6/7 (repetição de uma mesma palavra,
mas com sentido diferente: vela (verbo) / vela
(nome));
 assonância (contida na rima);
 aliteração do L;

 Nota: todo o poema é uma alegoria, pelo que quase


todos os seus elementos devem ser lidos no plano
metafórico: o que está em causa é o irresistível poder
de sedução da mulher fatal;
Metáforas e símbolos:

"barca bela", "sereia", "pescador" são palavras de


valor metafórico e simbólico.
Assim, a "barca bela" navega num mar que pode
ser metáfora de existência humana; ela própria é
metáfora e símbolo de sedução e dos perigos
que o homem corre na sua existência; tudo o que
é belo é perigoso.

Poder-se-á lembrar o famoso poema de Camões


"Descalça vai pera a fonte", onde a beleza de
Lianor pode correr perigo neste mundo
imperfeito. A "sereia" é tradicionalmente um
elemento provocador dos navegantes (ver As
Sereias, p.139).
Metáforas e símbolos:

É também neste poema metáfora e símbolo da


sedução e dos perigos que todo o ser humano
corre durante a sua existência. O "pescador" é
metáfora e símbolo de todo o ser humano que
tem de "navegar" no mar da vida, rodeado de
perigos.

Se se interpretar o poema no contexto onde está


inserido, como se deve fazer, então teremos
ainda novos sentidos. O pescador é o homem e a
sereia é a mulher; esta exerce uma atracção
irresistível sobre aquele. Estamos face a um tema
querido dos românticos: a mulher como anjo ou
como demónio, mas sempre um ser superior, a
que o homem se submete.
Metáforas e símbolos:

É também neste poema metáfora e símbolo da


sedução e dos perigos que todo o ser humano
corre durante a sua existência. O "pescador" é
metáfora e símbolo de todo o ser humano que
tem de "navegar" no mar da vida, rodeado de
perigos.

Se se interpretar o poema no contexto onde está


inserido, como se deve fazer, então teremos
ainda novos sentidos. O pescador é o homem e a
sereia é a mulher; esta exerce uma atracção
irresistível sobre aquele. Estamos face a um tema
querido dos românticos: a mulher como anjo ou
como demónio, mas sempre um ser superior, a
que o homem se submete.

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