Venicius Lorenzini
Porto Alegre
2017
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Venicius Lorenzini
Porto Alegre
2017
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AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho a minha família, especialmente aos meus pais Pedro Lorenzini e
Silvana Giacomolli Lorenzini, e aos meus irmãos Cristiano e Gabrieli Lorenzini, sem o apoio
de vocês a concretização deste sonho não teria sido possível.
Agradeço ao meu orientador José Antônio Colvara de Oliveira, por aceitar este
desafio, e auxiliar e dedicar seu tempo para a possível realização deste trabalho.
A minha companheira, Zuriñe-Iztaru Goicoechea Urrutia, que mesmo a distância me
apoiou, principalmente nos momentos mais duros.
A Amanda Wajnberg Fadel, por dar a luz para a escolha do tema deste trabalho, e pelo
auxilio sempre que necessário.
Ao Fernando Mainardi Fan, por todas as horas dispensadas para responder minhas
dúvidas e pela sua dedicação, para que este trabalho se concretizasse.
Ao Luciano Brasileiro Cardone, pelo auxílio na execução deste trabalho.
A Prefeitura Municipal de Encantado, pela disponibilização do material utilizado neste
estudo, e acompanhamento da visita a campo, em especial ao Gustavo Giacomolli Pitol.
Ao John Fernando de Farias Würdig, professor e coordenador do curso, e acima de
tudo amigo, pelo empenho e contribuição para a minha formação pessoal e profissional.
A Eloisa, do GRID/UFRGS, pela disponibilização do material utilizado neste trabalho.
A minha chefe Rejane Beatriz de Abreu e Silva, por depositar sua confiança em mim,
e me dar a oportunidade de estagiar na Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, e principalmente por entender minha ausência na reta final desta etapa.
Aos colegas da Divisão de Outorgas, principalmente a Francielle Niewinski, e a Ellen
Beneduzzi, por ouvirem meus desabafos e angústias.
Aos meus amigos e colegas da universidade, em especial a futura colega de profissão
Glenda Fauth, e ao Vicente Fiametti Lutz, que acompanharam de perto o desenvolvimento
deste trabalho, e estiveram presentes nos momentos mais difíceis.
A minha “família Porto - Alegrense”, especialmente a Javi Escrivá, Dylan Boyle,
Carolina Sigüenza e Álvaro Machado, por me acolherem e compartilhar bons momentos no
período que estive em Porto Alegre.
A todos que participaram e contribuíram de alguma forma, para realização deste
trabalho, assim como para meu crescimento pessoal e profissional, deixo expresso aqui o meu
muito obrigado. Sem vocês a conclusão deste trabalho não teria sido possível.
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RESUMO
Desde os tempos remotos o homem buscou aproximar-se aos cursos dá água, visando
obter proveito dos mesmos, através da captação de água, navegação e disposição de dejetos. O
crescimento urbano desordenado acaba por forçar a ocupação pela população mais carente, de
áreas suscetíveis a desastres naturais, como inundações, movimentos de massa, colocando
esta mesma população em risco. O município de Encantado, no Rio Grande do Sul,
localizado na parte baixa da Bacia Taquari-Antas, que se desenvolveu próximo ao rio Taquari
e ao arroio Jacaré, sofre constantemente com o fenômeno de inundações graduais, devido a
sua localização geográfica, caracterizada por vales abertos, com áreas características de
terraços fluviais e áreas de planícies, e ainda, associada às baixas declividades do rio Taquari.
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi realizar uma análise quanto à suscetibilidade das
áreas de inundação para o município de Encantado quanto aos diferentes tempos de retorno
(TR), visando propor um zoneamento quanto às Faixas de Perigo de Inundação, além destes,
buscou-se verificar a existência de edificações construídas abaixo das cotas mínimas de
construção estipuladas pelo Plano Diretor. Foram desenvolvidos diversos procedimentos,
desde o cálculo de vazões máximas para cada TR através da Distribuição Estatística de
Gumbel e Regionalização de Vazões, até a Modelagem Hidráulica, visando verificar o
comportamento da água para os diferentes TR, associados a vazão máxima, fazendo-se uso
dos softwares ArcGIS e HEC-RAS. As três Faixas de Inundação consideradas neste estudo
correspondem para o mapa de zoneamento sugestivo correspondem a: zona de passagem de
cheias, zona com restrições e zona de baixo perigo, sendo associadas aos TR de, menor ou
igual a 5 anos, entre 5 e 25 anos, e entre 50 e 100 anos respectivamente. O TR de 25 anos, que
pode ser considerado um tempo de retorno médio, ressalta que o principal bairro afetado pelas
inundações é o Navegantes. Este trabalho enfatiza, que compreender a dinâmica do
escoamento das águas, frente a eventos hidrológicos extremos, é de fundamental importância
para uma futura gestão de riscos e desastres naturais. Sendo, o zoneamento da suscetibilidade
as inundações, uma ferramenta imprescindível para melhor atuação dos órgãos responsáveis
frente aos desastres naturais.
LISTA DE FIGURAS
Figura 9 - Estrutura de drenagem do bairro Navegantes, com detalhe para uma das estruturas
de drenagem .............................................................................................................................. 35
Figura 11- Esquema das seções transversais traçadas no HEC-GeoRAS com detalhe para a
seção 2.502,42 m ...................................................................................................................... 44
Figura 16- Mapa das Manchas de Inundações para o Município de Encantado ...................... 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Cotas de altitude e coordenadas planas das pontes sobre o Arroio Jacaré .............. 34
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 10
2.6 DELINEAMENTO............................................................................................................. 15
4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 28
4.3.4 Cálculo das áreas de drenagem das sub-bacias contribuintes ao arroio Jacaré...... 40
4.5.2 Análise das Edificações conforme as cotas altimétricas estabelecidas pelo Plano
Diretor................ ..................................................................................................................... 51
5 RESULTADOS .................................................................................................................... 54
5.2.2 Análise das Edificações conforme as cotas altimétricas estabelecidas pelo Plano
Diretor................ ..................................................................................................................... 61
6 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 69
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 71
APÊNDICES ........................................................................................................................... 75
ANEXOS ................................................................................................................................. 84
10
1 INTRODUÇÃO
Desde os tempos remotos o homem buscou se instalar próximo aos rios e cursos de
água com intenção de obter benefícios, como: deslocamento, disposição de dejetos e obtenção
de água para consumo. Outrora o homem se adaptava ao ciclo hidrológico facilmente, fato
que não ocorre na atualidade, onde a urbanização e o crescimento populacional tendem a
alocar as populações em áreas suscetíveis a desastres naturais, dentre elas movimentos de
massa e inundações, sem que o devido planejamento seja executado na mesma velocidade.
O avanço da urbanização nos países subdesenvolvidos ocorre geralmente sem
planejamento. A população busca se instalar próximo aos centros urbanos, tentando melhores
oportunidades de vida. A população mais carente, por não possuir condições financeiras, na
maior parte das vezes acabam ocupando áreas de risco, como encostas e áreas suscetíveis a
inundações. Estas últimas geralmente localizadas no leito maior dos rios. Nos períodos
chuvosos, os rios:
[...] saem do seu leito menor e ocupam o leito maior, dentro de um processo natural.
Como isso ocorre de forma irregular ao longo do tempo, a população tende a ocupar
o leito maior, ficando sujeita ao impacto das inundações. (TUCCI, 2005, p.22).
O crescimento urbano:
[...] tem se caracterizado pela expansão irregular da periferia, com pouca obediência
da regulamentação urbana relacionada com o Plano Diretor e normas específicas de
lotes, além da ocupação irregular das áreas públicas pela população de baixa renda.
Este processo dificulta o ordenamento das ações não estruturais do controle
ambiental urbano. 1 (TUCCI; BERTONI, 2003, p. 13, tradução nossa).
Conforme OFDA/CRED (2009 apud Tominaga, 2009, p. 18) de acordo com dados do
EM-DAT, o Brasil está entre os países do mundo mais atingidos por inundações e enchentes,
tendo registrado 94 desastres cadastrados no período de 1960 a 2008, com 5.720 mortes e
mais de 15 milhões de pessoas afetadas entre desabrigados e desalojados. Considerando
somente os desastres hidrológicos que englobam inundações, enchentes e movimentos de
massa, em 2008 o Brasil esteve em 10º lugar entre os países do mundo em número de vítimas
de desastres naturais, com 1,8 milhões de pessoas afetadas.
1 “[...] ha sido caracterizado por la expansión irregular de la periferia, con poca obediencia de la reglamentación
urbana relacionada con el Plano Director y normas específicas de loteos, además de la ocupación irregular de las
áreas públicas por población de baja renta. Este proceso dificulta el ordenamiento de las acciones no
estructurales del control ambiental urbano”. (TUCCI ; BERTONI, 2003, p.13)
11
Grande do Sul para o projeto de Mapeamento de Riscos. Dentre os 821 municípios brasileiros
selecionados como prioritários, no Estado do Rio Grande do Sul foram identificados 31
municípios, sendo selecionados apenas 8 para a primeira fase de ampliação de diagnóstico,
onde Encantado foi um deles. (GRID, [2012-2017]).
O município está localizado entre regiões caracterizadas por vales encaixados e
planícies de inundação, sendo alvo constante de inundações, devido a fenômenos de
precipitações intensas nas partes mais altas da bacia hidrográfica Taquari-Anta. As regiões
próximas à cabeceira são caracterizadas por vales encaixados, associados a altas declividades,
consequentemente o volume de água ao chegar às partes mais baixas da bacia, caracterizadas
como áreas de planície resultam em inundações lentas ou graduais. As inundações lentas ou
graduais, segundo Brasil (2003), se relacionam com períodos demorados de chuvas contínuas,
ocorrendo em grandes bacias ou áreas de planície, sendo o fenômeno caracterizado por sua
abrangência e grande extensão.
Deste modo a identificação antecipada das possíveis áreas sujeitas à ocorrência destes
fenômenos é de fundamental importância, dado que a previsão antes da ocorrência pode
diminuir o risco de perda de vidas humanas e de danos materiais.
Segundo Bombassaro e Robaina (2010, p. 85), a partir das características de relevo e
das precipitações, as inundações que afetam a bacia do Taquari apresentam os maiores
prejuízos econômicos a partir da cidade de Encantado.
O zoneamento, conforme Tucci (2012, p. 642), é a definição de um conjunto de regras
para a ocupação das áreas de maior risco de inundação, visando à minimização de futuras
perdas materiais e humanas em face das grandes cheias.
Dada à importância da implementação de medidas não estruturais em municípios
sujeitos a inundações e enchentes, onde as mesmas são caracterizadas por atacar as causas do
problema antes de sua ocorrência, este trabalho buscará mapear áreas suscetíveis as
inundações, visando contribuir com os estudos realizados até o momento pela CPRM e pelo
CEPED, na área urbana do município de Encantado/RS.
13
2 DIRETRIZES DE PESQUISA
Em vista do que foi anteriormente descrito e tendo como princípio fundamental que a
Engenharia Ambiental e Sanitária tem como função precípua a prevenção, antes da
remediação, das áreas que são ocupadas pela ação humana, este trabalho tem como
questionamento determinar: O Plano Diretor de Encantado está de acordo com os padrões de
inundação da cidade?
2.3 JUSTIFICATIVA
2.4 DELIMITAÇÕES
Inundações, realizado pelo CEPED”. Para este estudo, foi desconsiderado parcialmente o
bairro Jacarezinho, localizado no setor de risco 9, e o bairro Lajeadinho, localizado no setor
de risco 1, ainda, foi desconsiderado totalmente o bairro Palmas, localizado na zona rural do
município. Buscou-se realizar um zoneamento sugestivo para o município, quanto ao perigo,
realizando uma conexão com o Plano Diretor, conforme Lei 1.566/91, além de uma análise
para determinar as edificações construídas abaixo da cota mínima de construção estabelecidas
pelo PPDU.
Foram utilizados dados fluviométricos das estações coletoras de código 86720000 e
86700000. Foi calculada a vazão da bacia contribuinte ao arroio Jacaré através da
Regionalização de Vazões, utilizando o método da Interpolação Linear. Ainda, como
mecanismo de tratamento dos dados, fez-se uso do software HEC-RAS 5.0.3, para trabalhar
com o segmento hidráulico da situação a ser gerada. Outro software utilizado foi o ArcGIS
10.5, e a extensão HEC-GeoRAS para serem trabalhadas as imagens de satélite e o modelo
digital de elevação (MDE) necessários para a consecução do presente objetivo.
2.5 LIMITAÇÕES
2.6 DELINEAMENTO
uma visita a campo com o objetivo de coletar dados referentes às duas pontes sobre arroio
Jacaré, e para verificar a existência de diques na região.
Na terceira etapa foram executados cálculos das vazões máximas para os tempos de
retorno estabelecidos através da Distribuição Estatística de Gumbel, e utilizada a
Regionalização de Vazões, através do método baseado na Interpolação Linear para obter as
vazões máximas do arroio Jacaré, assim como, do rio Taquari.
Na quarta etapa foram utilizados os softwares ArcGIS 10.5 e HEC-RAS 5.0.3, e
extensão HEC-GeoRAS para tratar dados referentes ao MDE, Imagem de Satélite, bem como
os dados das vazões, para simular o extravasamento do rio Taquari, no município de
Encantado/RS.
Na quinta etapa foi realizada a análise dos resultados no HEC-RAS 5.0.3, e a partir
destes confeccionados os mapas de manchas de inundações e de zoneamento sugestivo das
áreas suscetíveis a inundações, fazendo-se uso do programa ArcGIS 10.5.
Na sétima etapa se deu a conclusão do estudo, colocando a importância do
zoneamento das áreas suscetíveis à inundação do município.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo buscou explanar os principais conceitos que serão abordados neste trabalho e
está dividido em 5 eixos de pesquisa: Inundações; Perigo, Vulnerabilidade, Risco e
Suscetibilidade a inundações; Modelagem Hidrológica e Hidrodinâmica; Geoprocessamento
Aplicado e Zoneamento.
3.1 INUNDAÇÕES
As inundações podem ser caracterizadas segundo Julião et al. (2009, p. 54), como um
fenômeno hidrológico extremo, de frequência variável, natural ou induzido pela ação humana,
que consiste na submersão de terrenos usualmente emersos. As inundações englobam as
cheias (transbordo de um curso de água relativamente ao seu leito ordinário, que podem ser
rápidas ou lentas), a subida do lençol freático acima da superfície topográfica e as devidas à
sobrecarga dos sistemas de drenagem artificiais dos aglomerados urbanos. As inundações são
devidas a precipitações abundantes ao longo de vários dias ou semanas (cheias lentas e subida
do lençol freático) e a precipitações intensas durante várias horas ou minutos (cheias rápidas e
sobrecarga dos sistemas de drenagem artificiais).
Segundo Tucci (2012) “quando a precipitação é intensa a quantidade de água que
chega simultaneamente ao rio pode ser superior à sua capacidade de drenagem, ou seja, a da
sua calha normal, resultando na inundação das áreas ribeirinhas. Os problemas resultantes da
inundação dependem do grau de ocupação da várzea pela população e da frequência com a
qual ocorrem as inundações.” (TUCCI, 2012, p. 621).
As inundações podem ser intensificadas pela urbanização através da
impermeabilização do solo. Os resultados da urbanização sobre o escoamento, conforme
Tucci (2012, p. 623), são: aumento da vazão máxima e do escoamento superficial, redução do
tempo de pico e diminuição do tempo de base. Conforme representado na Figura 4.
19
Conforme Julião et al. (2009, p. 20), a suscetibilidade pode ser caracterizada como a
incidência espacial de um evento perigoso, em tempo indeterminado, sendo avaliada através
dos fatores de predisposição para a ocorrência dos processos ou ações, não contemplando o
seu período de retorno ou a probabilidade de ocorrência.
Toro et al. (2013), cita que a vulnerabilidade se relaciona a condições preexistentes
que fazem com que a infraestrutura, os processos, os serviços, a produtividade, e as vidas
humanas sejam mais propensos a serem afetados por um perigo externo.
Para Julião et al. (2009, p. 21), a vulnerabilidade pode ser conceituada como grau de
perda de um elemento ou conjunto de elementos expostos, em resultado da ocorrência de um
processo (ou ação) natural, tecnológico ou misto de determinada severidade, expressa numa
escala de 0 (considerado sem perda) a 1 (perda total).
A vulnerabilidade tem ligação com a parte social decorrente dos eventos, podendo ser
descrita como:
O perigo pode ser caracterizado como a ocorrência de um evento que pode vir a causar
consequências negativas. Segundo Julião et al. (2009, p. 20), o perigo pode ser definido como
sendo um processo natural, tecnológico ou misto suscetível a produzir perdas e danos
identificados.
De acordo com UN-ISDR e representado pelo Quadro 1, o entendimento dos perigos
ambientais:
PERIGO (HAZARD)
Um evento, fenômeno ou atividade humana potencialmente danoso, o qual pode causar perda de vidas ou
ferimentos a pessoa, danos à propriedades, rupturas sócio econômicos ou degradação ambiental.
indiretos. O risco pode ser expresso através da EQUAÇÃO: Risco = Probabilidade do Perigo
x Consequência.
Dois elementos são essenciais na formulação do risco segundo Tominaga (2009, p.
150):
O risco de uma vazão ou precipitação, na visão de Tucci (2005, p. 47), pode ser
entendido como a probabilidade (p) de ocorrência de um valor igual ou superior a Qp (vazão
ou nível) num ano qualquer. O tempo de retorno (T) é o inverso da probabilidade p, e
representa o tempo, em média, que esse evento tem chance de se repetir. A relação pode ser
demonstrada através da seguinte fórmula: T= 1/P
Na visão de Trentin, Robaina e Silveira (2013, p.166) “o risco é o produto da relação
do perigo com a vulnerabilidade. Para melhor esclarecimento, tem-se a definição dada pelo
Instituto Geológico de São Paulo que compreende o risco como sendo a expressão: R (risco)
= P (perigo) x V (vulnerabilidade) x D (dano)”.
[...] têm sua origem na necessidade do homem de prever o comportamento dos rios,
principalmente em eventos extremos, como chuvas torrenciais, para assim buscar
minimizar os possíveis prejuízos decorrentes de eventuais alagamentos. Atualmente,
existe uma vasta gama de modelos de escoamento, cada um com suas vantagens e
limitações, decorrentes das hipóteses simplificadoras adotadas no desenvolvimento
do modelo. (SOUSA, 2010, p. vii).
[...] uma multiplicidade de fatores, como tipos de escoamentos possíveis, o perfil das
seções transversais, o número de seções transversais, entre outros, são determinantes
na complexidade da análise e, portanto, na escolha do programa computacional
adequado. Programas, como o HEC-RAS, que avaliam escoamento permanente,
gradualmente variado, são largamente empregados e são apropriados para a maioria
das aplicações de modelagem hidráulica. (TAVARES, 2005, p. 62).
2
(Centro de Engenharia Hidrológica), pacote de software
3
(Sistema de Análise de Rios), módulo do pacote de software HEC
4
(Sistema de Modelagem Hidrológica), módulo do pacote de software HEC
24
através do software Hidro 1.0.8 associada à SIGs para determinar áreas inundáveis na bacia
hidrográfica do rio Caí.
Conforme Cabral et. al (2016, p. 91) “a integração entre modelos hidrológicos e/ou
hidráulicos a Sistema de Informação Geográfica vem crescendo significativamente nos
últimos anos, principalmente em mapeamentos de áreas de inundação, seja ela em áreas
urbanas ou rurais, em virtude principalmente do potencial que essa ferramenta apresenta na
integração de dados de tipos e formatos diferentes”.
A modelagem integra os procedimentos metodológicos de quantificação do
escoamento na bacia a partir da precipitação máxima, associada a uma probabilidade de
ocorrência e dialoga com o SIG na estimativa do nível de cheia, uma vez que utiliza dados
espaciais da bacia no cálculo da vazão de cheia. Assim, uma vez determinado o nível de
enchente, os resultados da modelagem realimentam o SIG, o que possibilita a determinação da
área inundada em planta a partir do mapa topográfico. (RIGHETTO; MOREIRA; SALES,
2009, p. 56).
3.5 ZONEAMENTO
Figura 6 - Mapeamento das inundações considerando proposta de diques de proteção na cidade de Lajeado
4 METODOLOGIA
A área de estudo foi dividida em dois itens, sendo a caracterização a nível Bacia
Hidrográfica, e Município, conforme apresentado a seguir.
município de Lajeado a declividade média passa a ser de 0,2 m/km, fazendo com que o rio
Taquari passe a portar-se como rio de planície, com várzeas planas e baixas declividades.
A bacia hidrográfica Taquari-Antas possui uma área de 26.145 km², abrangendo total
ou parcialmente o território de 120 municípios. Quanto ao quesito ocorrência de inundações, a
bacia hidrográfica na qual o município de Encantado encontra-se, é a segunda com mais
registros, totalizando 27,8% para inundações bruscas, e 39,1% para as inundações graduais.
(CEPED, 2015).
necessárias para a redução dos prejuízos pessoais e materiais causados pelas inundações
possam ser tomadas (CPRM, [2011-2017?]).
Ainda, a UFRGS, através do Grupo de Pesquisa em Hidrologia de Grande Escala do IPH-
UFRGS, desenvolveu um sistema de previsão de vazão do rio Taquari, através do projeto
Desenvolvimento e Apoio à Implantação de uma Estratégia Integrada de Prevenção de Riscos
Associados a Regimes Hidrológicos na Bacia do Taquari-Antas – RS, coordenado pelo
CEPED/UFRGS. O sistema em desenvolvimento é baseado no modelo hidrológico MGB-
IPH, que simula processos físicos desde a precipitação até a propagação de vazão na bacia
Taquari-Antas, através de dados coletados em tempo real. (UFRGS,[2012-2017?])
As vazões médias mensais para os meses mais chuvosos, considerando para o arroio
Jacaré é de 15,7 m³/s, e para o rio Taquari 547,6 m³/s, e para a seção correspondente a jusante
do rio Taquari 563,3 m³/s (KICH, MELATI, MARCUZZO, 2015). Já as vazões aproximadas
de cheia, ficam em torno de 5.000 m³/s.
32
Fonte: Diagnóstico do Plano Local de Habitação de Interesse Social, p. 23, 2009, apud CEPED, 2015. Adaptado
pelo autor.
Encantado, de forma geral, não conta com medidas estruturais, como diques ou
barragens a montante do município. Segundo a Prefeitura Municipal, projetos de diques foram
realizados para o bairro São José, entre o distrito industrial e a Rodovia Estadual RS 129 e
outro para as proximidades do bairro Santa Clara, porém nunca foram executados devido ao
alto custo. As medidas estruturais poderiam ser utilizadas para resolver o problema das
inundações em curto prazo, entretanto, poderiam alterar a dinâmica do escoamento dos cursos
da água, afetando outras áreas. Isto ocorre, principalmente, quando se trata de barragens,
devido a ocorrer um represamento dos rios a montante das mesmas. Segundo a Certel Energia
(2017), a construção de três barragens para aproveitamento hidrelétricos foram aprovadas,
sendo o primeiro ponto entre Arroio do Meio e Colinas, o segundo, entre Encantado e Roca
Sales, e o terceiro, entre Muçum e Encantado.
No contexto dos órgãos associados à Defesa Civil, segundo CEPED (2015), o
munícipio conta com Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil, que busca atuar
33
Tabela 1 - Cotas de altitude e coordenadas planas das pontes sobre o Arroio Jacaré
Coordenadas planas
Localização da Longitude
Cota (m) Latitude (m)
ponte (m)
59,25 6.769.551,92 412.111,43
56,84 6.769.551,92 412.114,60
55,40 6.769.536,47 412.115,66
55,88 6.769.537,11 412.111,00
Bairro Jacarezinho
52,28 6.769.520,60 412.111,22
53,48 6.769.521,44 412.115,87
54,44 6.769.511,92 412.116,93
57,80 6.769.511,07 412.110,79
65,50 6.768.097,27 413.917,13
59,73 6.768.070,28 413.901,26
58,77 6.768.038,00 413.885,38
Rodovia Estadual
RS 129 (entre os 57,32 6.768.038,53 413.879,56
bairros São José e 59,49 6.768.076,10 413.894,38
Barra do Jacaré)
61,17 6.768.102,56 413.908,67
60,69 6.768.139,60 413.928,25
59,25 6.768.135,90 413.937,77
Fonte: Elaborado pelo autor
35
Figura 9 - Estrutura de drenagem do bairro Navegantes, com detalhe para uma das estruturas de drenagem
Fonte: Autor
A vazão máxima de um rio conforme Tucci (2012) é entendida como sendo o valor
associado a um risco de ser igualado ou ultrapassado, podendo ser utilizada na previsão de
enchentes e no projeto de obras hidráulicas. Quando se trata de eventos hidrológicos como as
inundações, um termo muito empregado é o Tempo de Retorno (TR), que expressa à
probabilidade de uma vazão ser ultrapassada em um ano qualquer.
A vazão máxima, conforme o mesmo autor, pode ser estimada através de: ajuste de
uma distribuição estatística, regionalização de vazões e na precipitação. Portanto, quando
existirem dados históricos da vazão e as condições da bacia hidrográfica não se modificarem
pode ser utilizada uma distribuição estatística. Dentre as distribuições estatísticas mais
utilizadas tem-se: Distribuição de Gumbel, Distribuição de Log – Pearson III, Limites de
Confiança, e Ajuste de Distribuições considerando marcas históricas.
36
onde:
x = valor da vazão máxima desejada
x = média das vazões máximas anuais
s = desvio padrão das vazões máximas anuais
TR = tempo de retorno em anos
= (2)
Onde:
Qz = vazão na seção de interesse, m³/s;
Qm = vazão no posto de montante, m³/s;
Az = área de drenagem na seção de interesse, km²;
Am = área de drenagem do posto de montante, km²;
38
As vazões do curso de água contribuinte ao arroio Jacaré, que neste estudo de caso
foram denominadas por Qz, foram somadas as vazões do posto fluviométrico (Qm) localizado
a montante. Temos então que a vazão total do arroio Jacaré é dada por:
! " + (3)
Onde:
QT = Vazão total do arroio Jacaré, m³/s
Qz = vazão na seção de interesse, m³/s;
Qm = vazão no posto de montante, m³/s;
Assim, se considerou que o local onde ocorreram as vazões totais (QT) do arroio
Jacaré, estão localizados a jusante do encontro desse arroio com o curso de água
correspondente a área de drenagem da seção de interesse, neste trabalho tratada como Az.
Para a aplicação desta equação são necessários dados das áreas de drenagem na seção
de interesse (Az) e do posto de montante (Am). Para a determinação das áreas de drenagem foi
utilizada a delimitação automática das sub-bacias do Arroio Jacaré através do software
ArcGIS, apresentado na sequência, e posteriormente realizado o cálculo das áreas de
drenagem.
Alguns dos arroios que cortam a cidade, e o arroio Augusta a leste do rio Taquari
foram desconsiderados neste estudo, pois possuem vazões relativamente pequenas, não
contribuindo de forma significativa para a vazão do Rio Taquari. A tendência é de que
ocorrerá um efeito de represamento nestes cursos de água em eventos de altos volumes de
precipitação devido ao aumento do nível do rio Taquari.
Para obtenção das áreas de contribuição da bacia hidrográfica do arroio Jacaré foi
utilizada a metodologia descrita em Amanajás e Funi (2015), assim como em Cândido e
Santos (2011), para a delimitação automática de sub-bacias hidrográficas utilizando o
software ArcGis. É importante salientar que as metodologias foram adaptadas à realidade do
estudo. Para esta etapa foram utilizados 4 MDEs da missão SRTM com resolução espacial de
30 metros e o software ArcGIS 10.5, conforme metodologia apresentada a seguir:
39
4. Foi utilizada a ferramenta Acumulação de Fluxo, que tem como objetivo determinar o
número de pixels a montante que contribuem para cada pixel que está localizado a
jusante desta posição. De acordo com MENDES & CIRILO (2001, apud Alves
Sobrinho et.al, 2010), o fluxo acumulado representa a rede hidrográfica, sendo que
nesta etapa cada pixel recebe um valor correspondente ao número de pixels que
contribuem para que a água chegue até ele;
5. Em seguida, foi determinada a rede de drenagem através da ferramenta Raster
Calculator, utilizando a função Condicional. Neste passo, segundo Amanajás e Funi
(2015), “com esta condição, todas as células do raster com valor superior a 500 serão
consideradas durante a criação de um novo mapa raster, sendo que as demais células
serão transformadas em NODATA.” (AMANAJÁS, FUNI, 2015, p. 14).
40
4.3.4 Cálculo das áreas de drenagem das sub-bacias contribuintes ao arroio Jacaré
Nesta etapa foi utilizado o software ArcGIS para executar o cálculo das áreas das sub-
bacias de interesse.
Utilizou-se a ferramenta Juntar no menu Geoprocessamento, visando juntar as
pequenas sub-bacias do passo anterior em duas sub-bacias que correspondem as áreas de
drenagem da seção de interesse (Az) e do posto fluviométrico de montante (Am), e em seguida
fez-se uso da ferramenta Calcular Geometria, obtendo como resultado as áreas de drenagem
das duas sub-bacias.
4.4.2 HEC-GeoRAS
1. Como dados de entrada foram utilizados o MDE final e a imagem de satélite tratada;
2. A partir da imagem de satélite e do MDE final foi criada a geometria necessária,
sendo: o canal principal do rio (river), as margens (banks), o limite da mancha de
inundação (flowpaths) e as seções transversais (XS Cut Lines). Para a criação do shape
flowpaths considerou-se a cota do MDE em 90 metros.
3. Para criar a geometria através da extensão HEC-GeoRAS é necessário traçar a mesma de
montante para jusante e da direita para a esquerda, para que a mesma não ocasione
problemas de reconhecimento no software,
A geometria citada acima foi criada conforme o fluxograma apresentado Figura 12,
apresentada na sequencia. Para o rio Taquari, optou-se pelo método que traça as seções
transversais automaticamente, realizando-se em seguida um ajuste, visto que as mesmas não
devem cruzar-se umas com as outras, em cada curso de água. Para o arroio Jacaré as seções
transversais foram traçadas manualmente, devido a este curso de água ser curvilíneo, adotando-se
uma distância de em média 50 metros para cada seção nas regiões curvilíneas, e 100 metros para
as regiões mais retilíneas. Na Figura 11 apresentada abaixo está apresentada as seções transversais
traçadas correspondentes à etapa do HEC-GeoRas.
44
Figura 11- Esquema das seções transversais traçadas no HEC-GeoRAS com detalhe para a seção 2.502,42 m
4.4.3 HEC-RAS
[...] possibilita calcular os perfis de nível ao longo do curso d’água, para vazões
constantes ou gradualmente variadas, considerando que o processamento
computacional baseia-se na conservação de energia (avaliando a perda de energia de
cada subtrecho pelos coeficientes de Manning e de contração/expansão), com a
solução da equação de Bernoulli. (BRUNNER, 2010, apud FADEL, 2015, p. 38).
Onde:
1 e 2 = índice das seções consecutivas
Z = cota do fundo do canal
Y = profundidade da água
α = coeficiente de ponderação da velocidade
V = velocidade média
g = aceleração gravitacional
h = perda de energia
, ,
+ − / = 0 (5)
,- ,.
01 , ,
+, +3 +5 =0 (6)
02 . ,4
Onde
A = área da seção
Q = vazão
t = tempo
x = distância
q = aporte de vazão lateral
V= velocidade
z = elevação da superfície d’água
S = declividade da linha de energia
As equações (5) e (6), conforme Fadel (2015), são as de Saint-Venant, resolvidas pelo
Método de Preissmann - incondicionalmente estável, considerando que, a solução geralmente
converge para quaisquer intervalos de tempo e distância entre seções escolhidas inicialmente.
Para isso, são consideradas três hipóteses:
1. O escoamento é unidimensional
2. A pressão é apenas hidroestática
3. A massa específica não varia no tempo e no espaço (hipótese dos fluidos
incompressíveis)
48
Após essa breve conceituação sobre o tema, deu-se prosseguimento para a última
etapa da simulação hidráulica, que, consistiu em afinar a geometria gerada na etapa HEC-
GeoRAS, e inserir dados de entrada necessários para rodar o modelo hidráulico, visando obter
as manchas de inundação associados aos tempos de retorno de 2, 5, 10, 20, 50, 100 e 200
anos. Foi considerado o escoamento permanente para este trabalho.
Os passos realizados nesta etapa estão descritos a seguir:
do rio Taquari e do arroio Jacaré, e calculadas as áreas de cada mancha de inundação. Ainda,
se realizou uma relação entre vazões máximas dos cursos de água e as áreas das manchas de
inundações geradas através da simulação hidráulica.
Também foi gerado um mapa de suscetibilidade a inundações para o município de
Encantado, associando as manchas de inundação aos TR de 2, 5, 10, 25, 50 e 100 anos, sendo
desconsiderados os TR de 20 e 200 anos, devido às manchas de inundação destes TR
apresentarem pouca diferença dos TR de 25 e 100 anos, respectivamente, e para melhor
visualização em um todo.
4.5.2 Análise das Edificações conforme as cotas altimétricas estabelecidas pelo Plano
Diretor
Cabe ressaltar aqui, que este trabalho consistiu em avaliar o perigo, ou suscetibilidade
quanto às inundações, porém tomando como base recomendações de WRC 1971 que coloca a
relação das faixas de inundação quanto ao risco.
Além das três faixas de inundação, conforme recomendado por WRC 1971, expresso
acima na Figura 15, foi levado em consideração uma faixa adicional. A recomendação
proposta pelo mesmo órgão coloca que para a Faixa 2, deve-se levar em consideração o tempo
de retorno de 5 a 25 anos, e que, para a Faixa 3, o tempo de retorno de 50 a 100 anos. Assim,
observou-se que ocorre uma lacuna entre essas duas faixas, não sendo exposto como deve-se
tratar as áreas afetadas pelo TR de 25 a 50 anos. Isto posto, optou-se por representar no mapa
de Zoneamento de Inundações, essa lacuna, como Zona de Transição, sendo recomendado
que, para as áreas afetadas pelas inundações nesta zona, os usos do solo deveriam ser de um
ponto intermediário entre as Faixas 2 e 3.
Ainda, realizou-se uma análise para verificar, em qual cota de altitude finaliza cada
Faixa de Inundação exposta no Mapa de Zoneamento de Inundações, confeccionado neste
53
5 RESULTADOS
Nesta etapa serão apresentados os resultados das vazões máximas obtidas através da
Distribuição Estatística de Gumbel e Regionalização de Vazões.
TR (anos) Q (m³/s)
200 15.511
100 14.097
50 12.678
25 11.249
20 10.785
10 9.322
5 7.797
2 5.494
Fonte: elaborado pelo autor
No Quadro 3 estão expressos os resultados das vazões da seção de interesse (Qz), para
cada TR associado as vazões máximas. Para este cálculo foi considerada a vazão máxima
associada em todos os TR da área de drenagem do arroio Jacaré, apresentados no Quadro 2.
Para os dados de área foram considerados Am = 436 km² e para Az = 88,72 km². Conforme
expresso anteriormente, foi utilizada a Regionalização de Vazões, através do Método da
Interpolação Linear, fazendo-se uso da Equação 2, apresentada na metodologia deste trabalho.
Os resultados obtidos estão representados abaixo na Tabela 5.
56
Após a obtenção da vazão de interesse (Qz) associada a cada TR, expressas na Tabela
5, foram recalculadas as vazões para o trecho do arroio Jacaré através da Equação 3, expressa
na metodologia deste trabalho. Os resultados obtidos estão expressos na Tabela 6.
TR (anos) Q (m³/s)
200 1.094
100 987
50 880
25 772
20 737
10 627
5 512
2 339
Fonte: elaborado pelo autor
59
60
Após analisar as inundações foi gerado o Quadro 3, que indica a partir de qual TR
cada bairro é afetado.
5.2.2 Análise das Edificações conforme as cotas altimétricas estabelecidas pelo Plano
Diretor
Figura 17- Zoneamento de Inundações no Município de Encantado com destaque para as cotas das ZOCs
63
Através da Figura 17 e do Quadro 4, pode-se concluir que o bairro que menos cumpre
com as exigências com as cotas mínimas de construção do Plano Diretor foi o bairro
Navegantes, com em torno de 112 edificações construídas abaixo da cota de 46 metros.
Seguido pelo bairro Centro com 47 edificações localizadas abaixo da mesma cota, e bairro
São José com em torno de 37 edificações abaixo da cota de 49 metros.
Verificou-se ainda que o Plano Diretor não estabelece uma cota mínima de construção
para o bairro Nossa Senhora Aparecida.
(BRASIL, 2001). Trata-se, pelo que se pode ver, de importante instrumento quanto ao
planejamento urbano nos municípios.
Partindo desta justificativa, se buscou representar a relação entre as atuais cotas
mínimas de construção do PDDU e a cota de altitude das Faixas de Inundação do Mapa de
Zoneamento, através do Quadro 5, que poderão como uma base para a atualização do Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano de Encantado, quanto às áreas suscetíveis a inundações.
65
Quadro 5 - Resultados da análise entre cotas mínimas de construção do PDDU e Faixas de Inundação do Mapa de Zoneamento
66
67
São José baixassem, Amazonas e Barra do Jacaré baixassem para 46 m. Para os bairros Vila
Moça, e Centro (noroeste), que a cota mínima de construção baixasse de 46 para 45 m. Para
os bairros Centro (sul) e Santa Clara, que, baixassem para 42 m. E, para os bairro Navegantes,
que a cota mínima aumentasse de 46 para 47 m.
Recomenda-se ainda, que para o final da Faixa 2 (zona com restrições), sejam
observadas as seguintes cotas: para o bairro Jacarezinho, 52 m, São José, cota de 49 m, para
os bairro Amazonas, 49 m. Quanto aos bairros Vila Moça, Porto Quinze, Navegantes e Centro
(noroeste), cota de 47 metros. Para o bairro Santa Clara e Centro (sul), 44 e 45 m
respectivamente.
Com relação a Faixa 3, considerada de baixo perigo, associada a tempos de retorno de
50 a 100 anos, não seria necessária nenhuma restrição. Para a Zona de Transição, entre os TR
de 25 e 50 anos, os usos de ocupação do solo poderiam ser mais restritos que a Faixa 3 e
menos restritos que a Faixa 2.
69
6 CONCLUSÕES
Quanto às áreas mais afetadas, através da análise das edificações conforme as cotas
altimétricas estabelecidas pelo Plano Diretor o bairro que mais apresentou edificações abaixo
da cota mínima de construção foi o Navegantes, com 119 edificações, seguido do bairro
Centro, com 47 edificações.
Em relação à Proposta de Zoneamento para o Município, pode-se concluir que o único
bairro que necessita aumentar a cota mínima de construção é o Navegantes, passando de 46
para 47 metros. Para os demais bairros, a cota mínima de construção do Plano Diretor
poderiam ser reduzidas conforme resultados apresentados neste trabalho.
O rio Taquari, devido à elevação do nível de suas águas, associado à precipitação e ao
aumento de vazão em períodos chuvosos, influencia na inundação das áreas do arroio Jacaré,
assim como os demais cursos de água no município, que sofrem um efeito de represamento de
suas águas, causando desta forma a inundação destes cursos de água a montante de seu
encontro com o rio Taquari.
Referente à proposta de zoneamento quanto ao perigo, das áreas suscetíveis a
inundações no município de Encantado, recomenda-se uma revisão no Plano Diretor, quanto
às cotas mínimas de construção para as Zonas de Ocupação Condicionada, conforme expresso
nas discussões deste trabalho, levando em consideração as recomendações de WRC (1971),
quanto as faixas de inundação. A revisão do Plano Diretor deve ser efetuada, devido a estar
desatualizado, com data de 1991, não cumprindo com as diretrizes do Estatuto da Cidade,
conforme Lei 10.257, de 10 de julho de 2001.
Devido ao crescimento urbano e a especulação imobiliária, a população de baixa renda
acaba por ficar sem opção, ocupando de maneira desordenada áreas com maior suscetibilidade
a desastres naturais, como inundações, sendo o caso das ocupações dadas inicialmente nos
bairros Navegantes e Nossa Senhora Aparecida, que após foram regularizadas. Todavia, após
a regularização, essa população permanece em áreas de risco, devendo-se buscar opções para
o realocamento das mesmas em áreas que não estejam sujeitas a desastres naturais, ou, uma
reestruturação das edificações dos bairros afetados, conforme expresso no mapa de
zoneamento das inundações conforme as faixas de cheias, confeccionados neste trabalho.
Salientando a importância das medidas não estruturais para controle de inundações,
considerando que, estas, necessitam um menor investimento que as medidas estruturais, e, que
as mesmas devem ser idealizadas objetivando resultados em longo prazo, a identificação das
áreas suscetíveis a inundações é um importante instrumento e deve ser um dos primeiros
passos a serem executados para a gestão de riscos e desastres de um município.
71
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APÊNDICES
APÊNDICE A - Croqui de localização das pontes, estações fluviométricas, e sub-bacia do arroio Jacaré
75
76
ANEXOS