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Kant e o utilitarismo

Kant rejeita o utilitarismo. Afirma que, ao basear os direitos num cálculo acerca de qual irá produzir a maior
felicidade, o utilitarismo coloca os direitos numa posição vulnerável. Há igualmente um problema mais profundo:
tentar inferir princípios morais dos desejos que, por acaso, temos é uma maneira errada de abordar a
moralidade. Lá porque algo dá prazer a muitas pessoas, isso não significa que esteja certo. O simples facto de a
maioria, por grande que seja, ser a favor de determinada lei, independentemente da intensidade com que o são,
não faz com que a lei seja justa.
Kant afirma que a moralidade não pode ser baseada em considerações meramente empíricas, como os
interesses, as necessidades, os desejos e as preferências que as pessoas têm em determinado momento. Estes
fatores são variáveis e contingentes, refere ele, pelo que dificilmente poderiam servir de base a princípios morais
universais - como os direitos humanos universais. Mas a ideia mais fundamental de Kant é que basear os
princípios morais em preferências e desejos - incluindo o desejo de felicidade - é fazer uma interpretação errada
da moralidade. O princípio utilitarista da felicidade «não contribui em nada para a definição de moralidade, uma
vez que tomar um homem feliz é muito diferente de o tomar bom, e prudente ou astuto na procura de benefício
muito diferente de o tomar virtuoso.» Basear a moralidade em interesses e preferências é destruir a sua
dignidade. Não nos ensina a distinguir o certo do errado, mas «apenas a tomarmo-nos melhores a fazer o
cálculo.»
Se as nossas necessidades e desejos não podem servir de base à moralidade, o que é que resta? (…) [Kant]
afirma que podemos chegar ao princípio supremo da moralidade através do exercício daquilo a que chama «razão
prática pura». Para ver como, segundo Kant, podemos inferir a lei moral, analisemos agora a relação íntima,
como Kant a considera, entre a nossa capacidade de raciocínio e a nossa capacidade de liberdade.
Kant afirma que todas as pessoas são dignas de respeito, não porque sejamos donos de nós, mas
porque somos seres racionais, capazes de raciocinar; somos igualmente seres autónomos capazes de
agir e escolher livremente.
Kant não quer com isso dizer que somos sempre bem-sucedidos a agir de forma racional ou a escolher de forma
autónoma. Umas vezes sim, outras vezes não. Quer dizer apenas que temos a capacidade de raciocínio, e de
liberdade, e que esta capacidade é comum aos seres humanos como tal.
Kant reconhece prontamente que a nossa capacidade de raciocínio não é a única capacidade que possuímos.
Também temos a capacidade de sentir prazer e dor. Ele reconhece que somos simultaneamente criaturas
sensíveis e racionais. Por «sensível» Kant quer dizer que reagimos aos nossos sentidos, às nossas emoções.
Então Bentham tinha razão — mas só em parte. Tinha razão quando dizia que gostamos do prazer e não
gostamos da dor. Mas não tinha razão em insistir que eles são os «nossos mestres soberanos». Kant afirma que
a razão pode ser soberana, pelo menos durante algum tempo. Quando a razão rege a nossa vontade, não somos
motivados pelo desejo de procurar o prazer e evitar a dor.
A nossa capacidade de raciocínio está ligada à nossa capacidade de liberdade. Em conjunto, estas capacidades
tornam-nos únicos e diferenciam-nos da mera existência animal. Fazem de nós mais que meras criaturas com
apetites.

M. J. Sandel, Justiça – fazemos o que devemos?, Presença, 2011, pp. 115-117.

1. Apresente o princípio de maior felicidade da ética utilitarista.

2. Partindo do texto, explique as razões que levam Kant a defender que não se pode inferir a
moralidade do desejo.

3. Comente a frase destacada no texto dando ênfase ao papel que desempenha a razão na ética
kantinana.

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