RESUMO: Este trabalho busca trazer um estudo do solo de Cuiabá, correlacionando com a
Legislação Vigente, com o intuito de obter resultados atualizados do coeficiente de
permeabilidade. Para isso foi realizado um estudo da geologia, coleta de dados de precipitação,
ensaio de solo pelo Método Matsuo e explanação da Lei de Uso e Ocupação do Solo. Com os
resultados obtidos, conclui-se que o coeficiente de permeabilidade (k) destes solos apresenta-se
muito baixos. Com os dados obtidos de precipitação pelo INMET (Instituto Nacional de
Metrologia), observa –se, a existência de praticamente 1 semestre chuvoso (novembro a abril) e
1 semestre seco (maio a outubro). De uma forma geral, pode-se concluir que o solo residual
saprolítico de filito da Baixada Cuiabana, por suas propriedades físicas, tem pouca capacidade de
armazenamento de água pluvial e baixa velocidade de percolação e que há uma discrepância com
o que de fato a Legislação exige, referente ao coeficiente de permeabilidade do solo do Município.
1 INTRODUÇÃO
Cuiabá, capital de Mato Grosso, nas últimas mineralógica, possui característica de baixa
décadas, passou por grandes transformações, permeabilidade; foi realizado este estudo, com
devido sua explosão populacional, o objetivo de obter uma estimativa da
ocasionando profundas mudanças, capacidade que o solo consegue absorver,
principalmente nos seus aspectos relacionados diante da ocorrência de uma elevada
ao uso e ocupação do solo. Este elevado índice precipitação e correlacionar com o que a Lei de
habitacional, fez com que a capital aumentasse Uso e Ocupação do Solo do Município exige
suas construções, tanto residenciais, quanto de coeficiente de permeabilidade de
comerciais, fazendo com que áreas antes determinadas áreas da região.
permeáveis, se reduzissem a coberturas de
concreto e asfalto.
Na cidade de Cuiabá, predomina-se o solo 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
do tipo saprolítico de filito, sua composição
2.1 Características Geotécnicas de Cuiabá quantidade dessa permeabilidade expressa pelo
´´coeficiente de permeabilidade``.
A posição geográfica e geomorfológica de Através do movimento da água no solo,
Cuiabá, se encontram sobre litologias pode-se estabelecer seu coeficiente de
deformadas, pertencentes ao grupo Cuiabá, permeabilidade, que é a constante que indica a
constituídos por rochas de baixo grau de quantidade de água que passa em uma seção
metamorfismo, como os filitos, metarenitos e
em um determinado número de tempo.
metarcósos, possuindo xistosidades bem
desenvolvidas e intensamente dobrada e
fraturada durante os vários ciclos tectônicos de 2.2.1 Ensaio de Permeabilidade em Solos
idade pré-cambriana, RIBEIRO (2011).
Para identificação de um conceito preciso do
coeficiente de permeabilidade ``k``, utiliza-se
de ensaios de permeabilidade de campo ou
laboratório, o ensaio utilizado no presente
trabalho, foi o ensaio em cava prismática pelo
Método Matsuo.
De acordo com a Associação Brasileira de
Geologia de Engenharia (1996), o ensaio deve
ocorrer com as seguintes especificações: a área
deverá ser preparada devidamente, o local do
ensaio é escavado até o horizonte desejado, as
dimensões da cava devem ser drenadas
Figura 1 – Geologia do perímetro urbano da cidade de superficialmente, durante a execução do
Cuiabá. Fonte: IBGE (2010). ensaio, deve ser monitorado em paralelo a taxa
No perímetro urbano da capital, pode-se de água evaporada. A primeira etapa, consiste
encontrar, diversos tipos de solos, dentre eles, no enchimento da cava, utilizando uma
o solo do tipo saprolítico de filito, que são solos mangueira acoplada a um hidrômetro, até os
residuais, pertencentes ainda ao local de sua pontos demarcados, a água deverá atingir o
origem, porém já com fraturas relíquiares e nível do ensaio e ser mantido constante. No
xistosidades. decorrer do ensaio é acompanhado, utilizando-
se de um gráfico, a vazão ou volume
2.2 Ciclo Hidrológico acumulados X tempo, o término desta etapa, se
realiza quando a vazão for mantida
Freire e Farias (2005), relaciona o conceito de consideravelmente constante. A segunda etapa,
ciclo hidrológico, como uma equação realiza-se com a cava já seca, e deve-se ampliar
a mesma, seguindo os mesmos cuidados
hidrológica, onde o resultado desta equação é a
anteriores, a execução procede de acordo com
quantificação de água em cada ciclo, em um
a primeira etapa.
determinado tempo e, esse processo recebe o
nome de Balanço Hídrico.
A Precipitação é a maior responsável pela
alimentação do ciclo hidrológico, é causada
pelo vapor d`água presente na atmosfera, e
apresenta-se no seu estado líquido ou sólido,
nas formas de chuva, neve, granizo, entre
outros.
Caputo (2013), define permeabilidade,
como a capacidade que o solo tem de permitir
que a água escoa através dele, sendo a
Expansão Urbana – (ZEX) e Zonas Urbanas
Especiais. Estas zonas são divididas com o
intuito de determinar seus diferentes tipos de
uso.
O quadro de Índices Urbanísticos, presente
no Art. 146 da Lei Complementar N°389,
define os conceitos para cada zona de
Ocupação do solo, nele é estabelecido a
porcentagem de área permeável que se deve
deixar em cada respectiva zona. De acordo
com a Lei é computado como coeficiente de
permeabilidade, a relação da somatória entre o
coeficiente de cobertura vegetal arbórea e o
coeficiente de cobertura vegetal paisagística
com a área do próprio lote; sendo a cobertura
vegetal paisagística, a área que deverá ser
Figura 2 – Esquemas para ensaios em cavas. Fonte:
mantida permeável com trabalhos paisagísticos
ABGE (1996).
e a cobertura vegetal arbórea, a área que deverá
ser preservada com maciço de vegetação
arbórea e arbustiva.
2.3 Legislação Urbana de Cuiabá
4 CONCLUSÃO
A pouco mais de uma década, Cuiabá começou distantes na ordem de uma dezena, ou seja, a
a se preocupar um pouco mais com seu permeabilidade do aterro é 10 vezes maior que
crescimento, e assim, aprovou o atual Plano do solo residual saprolítico de filito,
Diretor do Município, onde é dividido por predominante na Depressão Cuiabana.
regiões de atuação sócio econômica e introduz Além disso, os resultados do coeficiente de
coeficientes de área permeável a cada uma permeabilidade (k) indicam resultados muito
delas. Estes coeficientes de permeabilidade são baixos, podendo ser classificados como solos
obrigatórios em obras construídas a partir de de baixíssima permeabilidade, ou seja, a
sua aprovação, e buscam em sua concepção, o capacidade do fluído de água passar pelos
retorno da água a natureza, proporcionando um poros do solo é baixa.
maior equilíbrio ambiental. A concepção do De uma forma geral, pode-se concluir que o
projeto para Cuiabá é muito boa, porém solo residual saprolítico de filito da Baixada
estabelecer coeficientes de permeabilidade por Cuiabana, por suas propriedades físicas, tem
região classificatória, é simplesmente ignorar o pouca capacidade de armazenamento de água
material absorvente, o solo e suas propriedades pluvial e uma baixa velocidade de percolação.
e capacidades de absorção desta água. Já em chuvas torrenciais, o solo atuará de
Com os dados obtidos pelo INMET, nota-se forma praticamente impermeável,
claramente do balanço hídrico da região, proporcionando um volume alto de
mostrando a existência de praticamente 1 escoamento superficial, fazendo com que mais
semestre chuvoso (novembro a abril) e 1 de 95% da água precipitada chegue ao Rio
semestre seco (maio a outubro). Este fato leva Cuiabá.
a observar que da metade para o final da Em suma, os resultados apontam uma total
estação chuvosa, o solo está com sua discrepância entre o que de fato acontece no
capacidade de campo e armazenamento cheios, solo e seu balanço hídrico, com a legislação
levando ao excedente hídrico. Na segunda atual do Plano Diretor do Município de Cuiabá
metade do semestre de estiagem, acontece o e seu uso e ocupação do solo, mostrando a
inverso, onde o solo se encontra com sua necessidade urgente de planejar o uso e
capacidade de campo vazia e projeta uma ocupação do solo não somente com a realidade
deficiência hídrica. socioeconômica de cada região do Município,
Os dados do INMET também mostram a mas sobretudo, com o elemento absorvente de
existência de chuvas torrenciais, onde a todo esse balanço hídrico na região, o solo.
precipitação é muito intensa num intervalo
curto de tempo. Neste caso, acontece mais a
corrida de água pela superfície do solo do que AGRADECIMENTOS
a infiltração, pois a velocidade de entrada de
água, depende da demanda e do coeficiente de A todos que contribuíram para a realização
permeabilidade do solo e da sua capacidade de deste trabalho.
armazenamento. A média pluviométrica varia
de 40 mm a 80 mm, onde encontra-se o maior
equilíbrio das precipitações diárias anuais, REFERÊNCIAS
levando a um maior equilíbrio entre a massa
que entra e a massa infiltrante. CAPUTO, Homero Pinto.1923-1990. Mecânica dos
Os ensaios de permeabilidade “in situ” solos e suas aplicações, volume 1: fundamentos. 6.
indicam uma maior capacidade na camada de ed.,rev. e ampl. – [reimpr]. Rio de Janeiro: LTC,2014.
aterro compactada, que na camada de solo
CUIABÁ, Prefeitura Municipal de Cuiabá/ Legislação
saprolítico, onde seu índice de vazios é Urbana de Cuiabá. / IPDU – Instituto de Pesquisa e
extremamente baixo, na ordem de 0,35, Desenvolvimento Urbano. -- . Cuiabá. Entrelinhas,
proporcionando uma pequena absorção 2004. 644p. Disponível em:
acumulada no solo residual. Mesmo com a http://www.cuiaba.mt.gov.br/. Acesso em: 17 out 2016.
absorção diferenciada entre os solos, a vazão e
ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM SOLOS –
sobretudo, o coeficiente de permeabilidade são Orientações para sua execução/ Boletim n.4.
Coordenação Antônio Manoel dos Santos Oliveira e
Diogo Corrêa Filho – Associação Brasileira de Geologia
de Engenharia, São Paulo, 1996.