028
6. BIBLIOGRAFIA
2_BETUMES, LIGANTES E MISTURAS BETUMINOSAS
030
1. INTRODUÇÃO por vezes muito distintas, pelo que devem ser escolhidos em função
de critérios técnicos e económicos (Figura 1). Estes materiais são
Em geral, os pavimentos rodoviários são constituídos por cama-
predominantemente aplicados nas camadas de desgaste, regulari-
das sobrepostas, construídas com materiais cujas propriedades
zação e base dos pavimentos, classificados como pavimentos flexí-
devem assegurar uma superfície do pavimento que permita ao
veis ou semi-rígidos, no caso de também existirem outras camadas
tráfego (de peões ou veículos) circular com condições de resis-
com ligantes hidráulicos. Tratam-se de materiais muito utilizados
tência, segurança, comodidade, eficiência e economia, para um
na pavimentação de estradas e auto-estradas, vias urbanas, par-
certo período de vida. A estrutura tipo de um pavimento é cons-
ques de estacionamento e outros caminhos viários, devido à faci-
tituída por camadas de desgaste, regularização ou ligação, base
lidade de fabrico e colocação em obra, na fase quer de construção
e sub-base.
quer de manutenção, e às características de conforto e segurança
Os materiais de origem betuminosa utilizados na pavimentação são conferidas à circulação dos peões e veículos, face a outros tipos de
de natureza muito diversa e, consequentemente, com propriedades materiais (Figura 2).
TABELA 1 – Betumes de pavimentação. Propriedades, métodos de ensaio, tipos de betumes e correspondentes exigências de conformidade [3]
Variação de
massa - Máx. 0,5 0,5 0,5 0,5 0,8 0,8 1,0 1,0
(%, ±)
Penetração
RTFOT: ASTM D 5
(% p.o.) ( 3 )
ASTM D 2872 (prEN Mín. 60 55 53 50 46 43 37 35
[25ºC, 100 g,
Resistência ao (prEN 12607-1) 1426)
5 s]
endurecimento ou
(2) Temperatura TFOT: ASTM D 36
de amoleci- ASTM D 1754 (prEN Mín. 65 57 52 48 45 41 37 32
mento (ºC) (prEN 12607-2) 12627)
Aumento da
temperatura
(4) Máx. 8 10 11 11 11 12 12 12
de amoleci-
mento (ºC)
Os betumes puros tradicionais apresentam propriedades que po- As emulsões betuminosas são classificadas segundo a sua nature-
dem limitar a sua utilização em certas aplicações. No entanto, za iónica, o teor em betume e a velocidade de rotura.
a incorporação de certas substâncias – agentes modificantes
– pode originar reacções de natureza química que modificam as Quanto à natureza iónica do emulsionante, as emulsões classifi-
propriedades iniciais do betume, tornando-o adequado para de- cam-se em catiónicas e aniónicas, também designadas por ácidas
terminado aplicação. Obtém-se, assim, os betumes modificados e básicas, respectivamente. Uma emulsão é de natureza catiónica
que são classificados em três tipos principais: ligantes modifi- quando as partículas de betume ficam carregadas positivamente.
cados, ligantes betuminosos com aditivos e betumes especiais As emulsões aniónicas são aquelas em que o emulsionante confe-
[1, 2]. re carga negativa às partículas de betume.
2.2. Betumes Puros A rotura de uma emulsão consiste na separação irreversível das
fases constituintes que são o betume e a água. Consoante a velo-
Os betumes puros são os betumes tradicionais utilizados na pa- cidade de rotura, as emulsões, quer catiónicas quer aniónicas, são
vimentação que resultam directamente da destilação do petróleo classificadas em emulsões de rotura rápida, média e lenta. A ve-
puro, sem serem modificados ou sujeitos a processo destinado a locidade de rotura depende do tipo de emulsionante, da superfície
alterar qualquer propriedade de origem. específica dos agregados e da sua natureza mineralógica.
A penetração de um betume é uma propriedade importante utilizada As especificações LNEC E 128-1984 [4] e E 354-1984 [5], relativas
na identificação e classificação dos betumes asfálticos puros, pois às emulsões betuminosas aniónicas e catiónicas, respectivamen-
está relacionada com a consistência do betume. Esta propriedade te, classificam as emulsões segundo a sua velocidade de rotura e,
mede-se em ensaio que consiste em fazer penetrar uma agulha nor- dentro de cada tipo, estabelecem ainda a diferenciação baseada
malizada, sujeita a carga fixa de 100 g durante 5 segundos, num na viscosidade da emulsão e na dureza do betume. As siglas que
provete de betume à temperatura de 25ºC. A penetração é a medida identificam o tipo de emulsão são EC para as emulsões catiónicas
em décimas de milímetro da profundidade penetrada pela agulha e EA para as emulsões aniónicas, seguidas da letra R, M ou L, con-
no provete. Outras propriedades são também importantes na ca- soante a rotura seja rápida, média ou lenta. O subgrupo é atribu-
racterização dos betumes, como a temperatura de amolecimento, a ído por algarismo e letra adicionais que figuram a seguir à sigla.
viscosidade cinemática, a solubilidade em tolueno ou xileno, a tem- As características das emulsões betuminosas especificadas são
peratura de inflamação e a resistência ao esmagamento. determinadas com base nos ensaios de determinação da viscosi-
dade Saybolt-Furol, sedimentação, peneiração, desemulsibilidade,
Segundo a especificação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil adesividade, carga eléctrica das partículas, rotura com cimento,
(LNEC) E 80-1997 [3], os betumes de pavimentação são classifica- destilação, penetração, ductilidade e solubilidade.
dos por tipos definidos pelos limites inferior e superior da penetra-
ção. A tabela 1 reproduz o quadro apresentado nessa especificação, As emulsões betuminosas clássicas podem ser aplicadas em regas
que contém não só a classificação dos betumes de pavimentação de impregnação, regas de colagem, regas anti-pó, regas de cura,
na gama de penetração, mas também as propriedades, os corres- revestimentos superficiais e misturas a frio ou a quente [4, 5].
pondentes métodos de ensaio e as exigências de conformidade para
cada tipo de betume. Os betumes fluidificados são classificados em betumes de presa
lenta, de presa média e de presa rápida, consoante o grau de volati-
Os betumes puros têm grande utilização no fabrico dos diversos lidade do fluidificante empregado. Os betumes fluidificados de pre-
tipos de misturas betuminosas aplicadas em obras rodoviárias. sa lenta são fabricados por fluidificação do betume com gasóleo, ou
MATERIAISDECONSTRUÇÃO GUIA DE UTILIZAÇÃO
035
directamente durante o processo de destilação por aproveitamento minosa ou do revestimento superficial. Por oposição aos ligantes
dos resíduos numa fase anterior à da produção do betume. Os be- modificados, o efeito do aditivo no ligante betuminoso só pode ser
tumes fluidificados de presa média são obtidos por fluidificação do avaliado directamente na mistura betuminosa ou no revestimento
betume com petróleo comercial. Os betumes fluidificados de presa superficial já fabricado.
rápida resultam da fluidificação do betume com gasolina.
Os betumes especiais são resultantes de processo de refinamento
De acordo com a especificação LNEC E 98-1980 [6], as siglas que especial do petróleo bruto, fabricados para dar resposta a aplica-
identificam o tipo de betume fluidificante são a letra C antecedida ções rodoviárias muito específicas, por vezes ainda não contem-
da letra S, M ou R, consoante se trata de um betume fluidificante pladas em normas ou especificações.
de presa lenta, média ou rápida. Dentro de cada um destes tipos,
estabelece-se ainda diferenciação baseada no valor da viscosidade A caracterização e consequente classificação dos betumes modifi-
cinemática determinada em condições normalizadas. cados é mais complexa e nem sempre pode ser feita pelos indicado-
res tradicionais utilizados nos betumes puros convencionais. Não
Na especificação LNEC E 98-1980 [6] são apresentadas as caracte- existe ainda normalização portuguesa relativamente aos betumes
rísticas de cada um dos tipos de betumes fluidificados, com base nos modificados. Segundo a Associação Portuguesa de Fabricantes de
ensaios de viscosidade (cinemática e dinâmica), ponto de inflamação Misturas Betuminosas (APORBET), as especificações deste tipo de
(vaso aberto de Cleveland ou vaso aberto de Tag), destilação, resíduo betumes baseiam-se nos ensaios de penetração, temperatura de
com penetração 100, ductilidade, solubilidade e teor em água. amolecimento, ponto de fragilidade de Fraass (avaliação da sen-
sibilidade do betume modificado a temperaturas baixas), interva-
Utilizados em regas de impregnação de bases granulares, os betu- lo de plasticidade, viscosidade, estabilidade ao armazenamento e
mes fluidificados são menos utilizados hoje em dia por questões recuperação elástica (avaliação da elasticidade do betume modi-
ambientais e de segurança, tendo sido praticamente substituídos ficado) [7]. No entanto, estão em desenvolvimento normas a nível
pelas emulsões betuminosas. europeu.
2.3. Betumes Modificados Os agentes químicos mais utilizados nos ligantes modificados são
os polímeros, o látex e a borracha.
Conforme já referido anteriormente, os betumes modificados são
classificados em ligantes modificados, ligantes betuminosos com Apesar da ampla gama de polímeros procedentes da indústria pe-
aditivos e betumes especiais. troquímica, nem todos são suficientemente compatíveis com o be-
tume. Entre todos eles, podem-se distinguir duas grandes famílias
Os ligantes modificados resultam da utilização de um agente quí- passíveis de utilização: os plastómeros ou polímeros termoplásti-
mico que, introduzido no betume puro, modifica a sua estrutura cos, obtendo-se neste caso um betume modificado com plastóme-
química e/ou as suas propriedades físicas e mecânicas. Tratam-se ros; os elastómeros, obtendo-se então um betume modificado com
de ligantes fabricados antes da aplicação em obra, quer em central elastómeros.
quer em unidade móvel especial. O efeito do agente modificador
pode, portanto, ser avaliado antes da sua aplicação na mistura be- As propriedades do ligante modificado final estão associadas às
tuminosa ou revestimento superficial. características do polímero utilizado, assim como às interacções
e compatibilidade desenvolvidas entre o betume e o polímero. Em
Os ligantes betuminosos com aditivos são obtidos pela incorpora- geral, a junção do polímero ao betume dá lugar a um aumento da
ção de aditivos no próprio momento da fabricação da mistura betu- viscosidade e do ponto de amolecimento e a uma diminuição do
2_BETUMES, LIGANTES E MISTURAS BETUMINOSAS
036
ponto de fragilidade Fraas, em relação ao betume original. Tem-se, Os betumes especiais mais utilizados na pavimentação rodoviária
assim, um betume modificado menos susceptível à temperatura e são os betumes duros, caracterizados por penetração inferior a 25
com características de coesão melhorada. décimos de milímetro, os betumes e ligantes pigmentados, e as
emulsões especiais.
Comparando os efeitos da utilização de plastómeros ou de elas-
tómeros na modificação dos betumes, constata-se que o betume De um modo geral, os betumes modificados são utilizados no fabri-
modificado por adição de plastómeros apresenta maior viscosida- co de misturas betuminosas aplicadas em obras quer de constru-
de à temperatura ambiente, pelo que é um betume mais duro e com ção quer de manutenção, que não são possíveis de cumprir com
temperatura de amolecimento maior que o betume modificado com os betumes tradicionais. É o caso da utilização de betumes modifi-
elastómeros. Por isso, este betume confere uma menor trabalha- cados e de emulsões betuminosas modificadas em revestimentos
bilidade nas suas aplicações. O betume modificado por adição de superficiais, microaglomerados betuminosos a frio, misturas betu-
elastómeros confere melhor flexibilidade e ductilidade às misturas minosas de alto módulo, argamassas betuminosas, betões betu-
onde é aplicado, quer a altas quer a baixas temperaturas. minosos drenantes e microbetões e betões betuminosos rugosos.
A qualidade do agregado é importante nas propriedades da mistura O filer é um material adicionado com a finalidade de aumentar a
betuminosa. As rochas podem ter diversas proveniências geoló- fracção fina da mistura que não é proporcionada pelo agregado. O
gicas, mas devem dar origem sempre a agregados limpos, duros, pó de calcário, cimentos, cal hidráulica apagada e cinzas volantes
pouco alteráveis sob a acção do clima, com adequada adesividade são exemplos de filer correntemente utilizados. Estes produtos de-
ao betume, de qualidade uniforme e isentos de materiais decom- verão obedecer a requisitos de limpeza, humidade, granulometria e
postos, de matéria orgânica ou outras substâncias prejudiciais. Os homogeneidade, definidos nos cadernos de encargos.
agregados aplicados numa mesma obra devem ser homogéneos
relativamente às suas propriedades. 3.2. Propriedades
Os cadernos de encargos fixam as características dos agregados As propriedades das misturas betuminosas devem satisfazer requisitos
ao nível da sua composição granulométrica através da definição de natureza estrutural e funcional, definidos nos cadernos de encargos
do fuso granulométrico, resistência ao desgaste, quantidade e consoante as aplicações do material nos pavimentos. Do ponto de vista
qualidade de elementos finos, e absorção de água. Embora a re- estrutural, os principais requisitos a satisfazer são a trabalhabilidade
2_BETUMES, LIGANTES E MISTURAS BETUMINOSAS
038
(durante a construção), impermeabilidade, durabilidade, resistência e influência preponderante. Os resultados do ensaio de compressão
flexibilidade. Para misturas betuminosas aplicadas em camada de des- diametral representados na Figura 5, para uma mistura betumino-
gaste, devem ser exigidos também requisitos de natureza funcional, sa, mostram a influência típica da temperatura na rigidez da mistu-
como por exemplo aderência, ruído e regularidade. A Figura 4 permite ra, expressa em termos do módulo de rigidez.
comparar o aspecto da superfície do pavimento dado por duas cama-
das de desgaste em misturas betuminosas de características distintas A porosidade é a percentagem de volume total da mistura não ocu-
do ponto de vista da sua funcionalidade: à esquerda, tem-se um betão pado pelo agregado revestido de betume, com alguns dos seus po-
betuminoso rugoso concebido com betumes modificados com polí- ros preenchidos eventualmente por este ligante. Trata-se de uma
meros; à direita, apresenta-se um betão betuminoso tradicional com das propriedades intrínsecas das misturas com muita importância
betume puro. no desempenho estrutural e funcional das misturas nas camadas
do pavimento. Esta propriedade é influenciada essencialmente pela
A proporção e as propriedades dos vários componentes e a forma granulometria e tipo de agregado, pela dosagem e tipo de betume,
como interagem, quer do ponto de vista físico-químico quer mecâ- e pela energia e temperatura de compactação. Tradicionalmente, a
nico, influenciam as propriedades das misturas betuminosas. De composição das misturas betuminosas é definida, para além de
um modo geral, as principais variáveis com influência nas proprie- outros critérios, de forma a garantir a menor porosidade possível,
dades das misturas são a granulometria, tipo e textura do agre- mas não inferior a determinado valor mínimo que garanta a dura-
gado, tipo e dosagem de betume, adesividade entre o betume e o bilidade das misturas quando em serviço. A utilização de betumes
agregado, grau de compactação. A definição das propriedades de modificados e de outros aditivos permite conceber misturas betu-
cada componente e a dosagem de cada um deles é, portanto, um minosas não tradicionais caracterizadas por porosidade elevada,
importante objectivo a conhecer previamente. sem que a sua estabilidade às deformações e resistência às car-
gas sejam comprometidas. Consoante a sua porosidade, assim as
Tal como o betume, também as misturas betuminosas apresentam misturas betuminosas podem ser classificadas em misturas den-
um comportamento reológico caracterizado essencialmente pela sas, semidensas e abertas.
sua viscosidade, na qual a temperatura e o tempo de carga têm
Figura 4 – Camadas de desgaste com características de superfície distintas Figura 5 – Influência da temperatura na rigidez de uma mistura betuminosa
MATERIAISDECONSTRUÇÃO GUIA DE UTILIZAÇÃO
039
As propriedades iniciais das misturas betuminosas evoluem ao longo cadernos de encargos têm-se baseado predominantemente neste
do tempo. O endurecimento do betume é um dos fenómenos que se método de ensaio.
reflecte na alteração das propriedades das misturas betuminosas,
com mais significado durante a mistura do betume com o agregado As limitações que têm vindo a ser reconhecidas ao estudo Mar-
e durante a compactação (na fase de construção) do que em serviço shall, nomeadamente na aplicação a misturas betuminosas ditas
(após a construção). Nas fases de mistura e compactação, o endu- não tradicionais, têm permitido o desenvolvimento de outras me-
recimento depende essencialmente da temperatura. Posteriormente, todologias de abordagem à formulação destes materiais, basea-
quando o pavimento está em serviço, o endurecimento do betume das em ensaios de avaliação do desempenho que reproduzam
apresenta maior complexidade pela multiplicidade de factores inter- de forma mais realista as solicitações do tráfego e os processos
venientes, como por exemplo a porosidade da mistura, a posição da construtivos. Estes ensaios, realizados quer em laboratório quer
camada na estrutura do pavimento e as condições climáticas. As em obra, permitem uma caracterização racional do comportamen-
alterações sofridas pelo betume são atenuadas quando as misturas to mecânico das misturas betuminosas sujeitas à fadiga e às de-
são densas e/ou quando estão localizadas em camadas inferiores formações permanentes. Como exemplo, refere-se o equipamento
do pavimento, pois estão protegidas da agressividade das condições desenvolvido na Universidade de Nottingham (NAT) que permite a
climáticas. realização em laboratório de ensaios de caracterização do com-
portamento de materiais à fadiga e deformações permanentes
Em termos genéricos e consoante a aplicação, as principais pro- (Figura 7).
priedades a exigir às misturas betuminosas, segundo os cadernos
de encargos [7], são relativas a parâmetros físicos, como por 4. PRODUTOS E APLICAÇÕES
exemplo a composição volumétrica da qual a porosidade é uma
característica fundamental, e a parâmetros de resistência e de- A combinação dos vários componentes das misturas betuminosas,
formabilidade. Por sua vez, a mistura de agregados que compõe a implicando por vezes processos construtivos distintos, resulta em
mistura deve ter uma composição granulométrica dentro de limi- diferentes tipos de produtos com a possibilidade de satisfazer, hoje
tes especificados, com características de resistência ao desgaste, em dia, múltiplas aplicações na construção e manutenção dos pa-
qualidade de finos, absorção de água e forma das partículas con- vimentos.
troladas por valores especificados.
4.1. Regas Betuminosas
O estudo da composição das misturas betuminosas mais correntes
tem-se baseado tradicionalmente no ensaio Marshall. Trata-se de A utilização simples do ligante betuminoso, sem a conjugação do
um ensaio laboratorial que fornece indicações sobre a resistência agregado, dá origem a produtos que podem ser aplicados com di-
à deformação plástica de provetes cilíndricos da mistura betumino- ferentes finalidades, designados genericamente por regas betumi-
sas, quer fabricados de acordo com o mesmo método quer obtidos nosas, como por exemplo rega anti-pó, rega de aderência, rega de
por carotagem de pavimentos ou preparados por outros métodos. impregnação e rega de cura.
Este ensaio consiste, genericamente em submeter provetes, previa-
mente aquecidos em condições especificadas, à compressão lateral Nas regas betuminosas são utilizadas, em geral, emulsões betu-
numa prensa por meio de um estabilómetro até atingirem a rotura minosas. No caso das regas de aderência, é corrente actualmente
(Figura 6). Desde a norma NP 142 (1968), que estabeleceu inicial- a utilização de emulsões betuminosas modificadas. Nas regas de
mente este ensaio em Portugal, que o método de ensaio tem vindo impregnação podem ser utilizados betumes fluidificados. As super-
a ser actualizado por sucessivas revisões quer nacionais quer in- fícies de aplicação das regas devem ser regulares e estar livres de
ternacionais, nomeadamente a nível da normalização europeia. Os material solto, sujidades, detritos e poeiras.
2_BETUMES, LIGANTES E MISTURAS BETUMINOSAS
040
Estas misturas betuminosas são utilizadas na construção e manu- 4.3.6. Mistura Betuminosa de Alto Módulo
tenção de camadas de desgaste de pavimentos em que se exijam
qualidades de segurança e conforto conferidas pela aderência, di- As misturas betuminosas de alto módulo são misturas fabricadas
minuição de projecção de água e baixo nível de ruído que propor- a quente caracterizadas por terem excelentes qualidades mecâni-
ciona ao tráfego, mesmo a elevadas velocidade. Devem ser tidas cas, nomeadamente módulo de rigidez e resistência à fadiga e às
MATERIAISDECONSTRUÇÃO GUIA DE UTILIZAÇÃO
043
deformações permanentes superiores às misturas betuminosas geneidade na distribuição do ligante, a maior impermeabilidade em
tradicionais. virtude da sua elevada compacidade, a boa aderência às camadas
de suporte, o maior conforto e segurança, o baixo nível de ruído e
A mistura de agregados é obtida a partir das fracções 0/4, 4/10 e os menores custos. Esta técnica é uma boa alternativa aos reves-
10/20 (camada de base) ou 0/4, 4/10 e 10/14 (camadas de regu- timentos superficiais tradicionais.
larização e de desgaste). As propriedades destas misturas são de-
vidas principalmente ao facto de serem constituídas por betumes 4.3.8. Lama Betuminosa
especiais bastante mais duros que os tradicionais, em geral, do tipo
10/20 (consultar a Tabela 1) [7]. A lama betuminosa consiste num tratamento superficial seme-
lhante ao microaglomerado betuminoso fabricado a frio mas cons-
A mistura betuminosa de alto módulo tem sido utilizada na cons- tituída por agregado de menores dimensões, originando camadas
trução e manutenção de camadas de pavimentos que se pretende muito delgadas.
que tenham capacidade de carga elevada, normalmente sujeitos a
tráfego bastante elevado e pesado, e susceptibilidade térmica sig- A mistura de agregados é obtida a partir das fracções 0/4 e/ou 0/6,
nificativamente baixa. consoante se trate de tratamentos simples ou duplos.
4.3.7. Microaglomerado Betuminoso Na sua composição são utilizadas emulsões betuminosas, puras
ou modificadas, especialmente formuladas tendo em conta os
Os microaglomerados betuminosos são materiais especiais fabri- agregados a utilizar [7].
cadas a quente ou a frio, que constituem uma técnica de tratamen-
to superficial com o principal objectivo de conferir características Trata-se de uma técnica indicada na conservação e reabilitação de
essencialmente funcionais às camadas de desgaste. As camadas camadas de desgaste de pavimentos, nomeadamente no tratamen-
são de reduzida espessura: cerca de 1,5 a 3,0 cm, em misturas fa- to prévio de pavimentos fendilhados. Embora actualmente pouco
bricadas a quente; cerca de 1,0 cm, em misturas fabricadas a frio. utilizada face a outras opções, trata-se de uma técnica com bom
rendimento de execução. As camadas apresentam macrotextura e
A mistura de agregados é obtida a partir das fracções 0/4, no caso microtextura muito lisa, o que diminui muito a aderência em situ-
de aplicações simples, e 0/4 e 4/8, para aplicações duplas. São uti- ações de piso molhado, para velocidades de tráfego médias a ele-
lizados ligantes modificados com polímeros, em geral elastómeros vadas.
[7].
4.3.9. Argamassa Betuminosa
Este tipo de material é recomendado na conservação e reabilitação
de camadas de desgaste de pavimentos, nomeadamente de vias A argamassa betuminosa é uma mistura betuminosa fabricada a
urbanas, com tráfego predominante de veículos ligeiros e de baixa quente, recomendada na reabilitação das características super-
velocidade, em que haja necessidade de renovar as características ficiais de camadas de desgaste. A mistura de agregados é obtida
superficiais das camadas de desgaste antigas (textura, imperme- a partir da fracção 0/4 ou, em alternativa, da fracção 0/6. Podem
abilização, deformações), dificuldades de elevar as cotas do pavi- ser utilizados betumes puros ou modificados [7]. No caso de serem
mento e problemas na obtenção de agregados de boa qualidade. As utilizados betumes modificados, a elevada deformabilidade destas
principais vantagens da utilização dos microaglomerados betumi- misturas torna-as também especialmente indicadas para a cons-
nosos em pavimentos são os elevados rendimentos de execução, trução de camadas de interface para retardar a propagação de fen-
a eliminação dos riscos de desprendimento de gravilhas, a homo- das para as novas camadas.
2_BETUMES, LIGANTES E MISTURAS BETUMINOSAS
044
A mistura de agregados é obtida a partir das fracções 0/4, 4/10 e Percentagem de material
- - -
britado (%)
10/20, ou em alternativa 0/6, 6/10 e 10/20. O ligante utilizado é, na
Percentagem de filer
maioria das aplicações, uma emulsão betuminosa de rotura lenta, - - -
comercial, mínima (%)
quer do tipo catiónico quer do tipo aniónico [7].
(a) Em camada de base
Utilizado na conservação e reabilitação de camadas de desgaste, (b) Em camada de regularização
regularização e de base de pavimentos, este tipo de mistura não (c) Em camada de desgaste
é recomendável em aplicações de grande espessura e a tempera-
(1) sem adição de filer.
turas baixas. (2) betão betuminoso subjacente a camadas de desgaste drenante ou delgada.
(3) caso se utilize como filer a cal hidráulica, limite reduzido para 1%.
Na Tabela 2 apresenta-se as características dos agregados e (4) 26% em granitos.
(5) caso se utilize como filer a cal hidráulica, limite reduzido para 2%.
mistura de agregados das misturas betuminosas descritas an- (6) caso de betão betuminoso rugoso.
teriormente. A Tabela 3 contém as características das mesmas (7) 30% em granitos.
misturas betuminosas, utilizando o Método Marshall. (8) com adição de filer.
(9) granulometria A.
MATERIAISDECONSTRUÇÃO GUIA DE UTILIZAÇÃO
045
Agregado britado
Microbetão
Betão Mistura de granulometria Mistura
Betão ou betão Microaglomerado Lama Argamassa
betuminoso betuminosa de extensa tratado betuminosa
betuminoso betuminoso betuminoso betuminosa betuminosa
drenante alto módulo com emulsão aberta a frio
rugoso
de betume
40 (a)(9)
35 (b)(2) 35 (b) 40 (a)(9)
20 (c)(4) 20 (c)(4) 35 (b) 20 (c)(7) 20 (c)(7) 35 (a)(b)
20 (c) 20 (c)(7) 40 (b)(9)
20 (c)(7)
2 (b)(2)
2 (c) 2 (c) 3 (a)(b) - - 2 (c) 3 (a)(b) 3 (a)(b)
2 (c)
0,8 (b)(2)
0,8 (c) 0,8 (c) 0,8 (a)(b)(c) 0,8 (c) 0,8 (c) 0,8 (b)(c) - -
0,8 (c)
0,50 (c) 0,50 (c) 0,50 (c) 0,50 (c) 0,50 (c) 0,50 (c) 0,50 (c) - -
100 (c) 100 (c) 100 (c) - 100 (c) 100 (c) - - -
- 2 (c)(3) 3 (c)(5) - - - - -
- fendilhamento provocado pela passagem repetida dos veículos, 8000 a 15000 (a)(1) 8000 a 15000 (
Força de rotura (N) 8000 a 15000 (b)
8000 a 15000 (b) 8000 a 15000
associado ao fenómeno de fadiga;
- fendilhamento devido a variações térmicas; Deformação, máxima 4 (a)(1) 4 (b)(2)
4 (b)
(mm) 4 (b) 4 (c)
- fendilhamento resultante da propagação de fendas de camadas
inferiores; VMA, mínimo 13 (a)(1) 14 (b)(2)
13 (b)
(%) 13 (b) 14 (c)
- deformações permanentes resultantes da aplicação repetida de car-
gas devidas ao tráfego, designadas correntemente por rodeiras; Porosidade 4 a 6 (a)(1) 3 a 6 (b)(2
3 a 6 (b)
(%) 4 a 6 (b) 4 a 6 (c)
- desagregações devidas a várias causas, entre as quais o enve-
Relação ponderal 1,1 a 1,5 (a)(1) 1,1 a 1,5 (b)
lhecimento do betume. 1,1 a 1,5 (b)
filer/betume 1,1 a 1,5 (b) 1,1 a 1,5 (c
(1) fuso A.
(2) betão betuminoso subjacente a camadas de desgaste drenante ou delgada.
(3) caso de betão betuminoso rugoso.
5 (c)
4 (c) 5,3 (a)(b)(c) - 3 (a)(b) 3,5 (a)(b)
5 (c)(3)
) 50 (c)
50 (c) 75 (a)(b)(c) 50 (b)(c) - -
75 (c)(3)
(b)(2)
- ≥ 8000 (c)(3) ≥ 16000 (a)(b)(c) ≥ 6000 (b) (c) ≥ 5000 (a)(b) -
0 (c)
) 13 (a)
- 14 (c)(3) 15 (b)(c) - -
14 (b)(c)
2) 3 a 6 (c) 3 a 6 (b)
22 a 30 (c) 2 a 6 (a)(b)(c) - -
3 a 5 (c)(3) 5 a 7 (c)
)(2)
- - 1,3 a 1,5 (a)(b)(c) - - -
c)
2_BETUMES, LIGANTES E MISTURAS BETUMINOSAS
048
ta da evolução das fendas ramificadas, constitui uma fase muito A reciclagem a frio pode ser realizada em central betuminosa (fixa
avançada de degradação do pavimento. ou móvel) ou “in situ”. São utilizadas predominantemente emul-
sões betuminosas. Os materiais obtidos pela reciclagem “in situ”
As deformações podem ter origem na deficiente compacidade das com emulsão de betume têm comportamento intermédio relati-
camadas do pavimento, condições de drenagem e capacidade de vamente ao das misturas betuminosas tradicionais fabricadas a
suporte da fundação. quente e ao dos materiais de granulometria extensa estabilizados
com emulsão. No entanto, outras técnicas têm surgido mais re-
As desagregações da camada de desgaste têm normalmente ori- centemente, como por exemplo a utilização da técnica de espuma
gem no envelhecimento do betume e na deficiente ligação que os em que o betume é disperso em vapor de água. A reciclagem a
diferentes componentes da mistura betuminosa passam a apre- frio tem sido muito utilizada na reabilitação de camadas de pavi-
sentar. Os ninhos ou covas são a expressão mais avançada deste mentos, quer delgadas quer espessas, com as vantagens gerais
tipo de degradação. inerentes às técnicas de produção de misturas betuminosas a
frio. O período de cura necessário, até ser possível a colocação
Nas acções de conservação e reabilitação das camadas dos pavi- da camada de desgaste, é uma das principais condicionantes da
mentos são utilizados alguns dos produtos já referidos anterior- aplicação desta técnica.
mente: revestimentos superficiais, microaglomerado betuminoso
a frio, lama asfáltica, argamassa betuminosa, betão e microbetão A reciclagem a quente é realizada em central, quer em centrais
betuminoso rugoso, betão betuminoso drenante, macadame betu- fixas quer em centrais móveis, contínuas ou descontínuas, utili-
minoso, betão betuminoso de alto módulo. zando-se o betume como ligante. Esta técnica aplica-se em reabi-
litações de pavimentos com problemas de interfaces de camadas
A reciclagem consiste em obter novas misturas betuminosas e com fendilhamento, mesmo em vias de tráfego elevado. Relati-
com a utilização de material retirado das misturas antigas, atra- vamente à reciclagem a frio, esta técnica apresenta maior homo-
vés de novos materiais (ligante, agregados ou mistura betumi- geneidade, sem limitações de espessura das camadas, e recorre
nosa). A reciclagem pode ter em vista não só a recuperação das ao equipamento convencional de produção de misturas betumi-
características estruturais, mas também das características nosas.
funcionais.
Outra técnica possível é a reciclagem semiquente do material be-
A vantagem ambiental da reciclagem de pavimentos em misturas tuminoso do antigo pavimento. O material é aquecido no tambor
betuminosas é de grande importância, pois a reutilização das mis- de uma central de produção a quente, contínua ou descontínua,
turas minimiza o impacte ambiental relacionado com a produção para posteriormente ser misturado com emulsão betuminosa
e eliminação de resíduos provenientes das misturas betuminosas adequada. O aquecimento a que o material é submetido inicial-
retiradas dos pavimentos. mente permite que a abertura ao tráfego seja imediata, não sendo
necessário, portanto, o período de cura característico da recicla-
De um modo geral, a reciclagem de pavimentos consiste em frag- gem a frio.
mentar o pavimento existente com equipamento apropriado e reuti-
lizar esse material como agregado para fabricar uma nova mistura A escolha da técnica e dos materiais a utilizar em cada caso deve
betuminosa. A reciclagem de misturas betuminosas pode ser reali- basear-se no conhecimento adequado da constituição e do estado
zada mediante técnicas a frio ou a quente [8]. de degradação do pavimento a reciclar.
MATERIAISDECONSTRUÇÃO GUIA DE UTILIZAÇÃO
049
6. BIBLIOGRAFIA
[1] EN 12 597 (2000). “Petroleum products, Bitumens and bituminous binders – Terminology.”
European Standard.
[2] PIARC (1999). “Use of modified binders, binders with additives and special bitumens in
road pavements.” World Road Association, Routes and Roads, n.º 303, July, ISSN 0004-556
X, p. 9-179.
[3] E 80-1997. Betumes e ligantes betuminosos. Betumes de pavimentação. Classificação, pro-
priedades e exigências de conformidade. Especificação LNEC. MEPAT, Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, Portugal.
[4] E 128-1997. Emulsões betuminosas aniónicas para pavimentação. Características e recep-
ção. Especificação LNEC. MEPAT, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Portugal.
[5] E 354-1997. Emulsões betuminosas catiónicas para pavimentação. Características e re-
cepção. Especificação LNEC. MEPAT, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Portugal.
[6] E 98-1997. Betumes fluidificados para pavimentação. Características e recepção. Especifi-
cação LNEC. MEPAT, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Portugal.
[7] APORBET (1998). Misturas betuminosas. Contribuição para a normalização do fabrico e da
aplicação. Associação Portuguesa de Fabricantes de Misturas Betuminosas. Portugal.
[8] Pereira, P. e Miranda, V. (1999). Gestão da conservação dos pavimentos rodoviários. ISBN
972-8533-04-7.