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ASMA PEDIÁTRICA

Responsabilidade
médica sobre a
conscientização dos
pais e pacientes (1)

33333333333333
Sociedade Brasileira de Pediatria
Núcleo Gerencial do Departamento Científico de Pneumologia da SBP
Maria de Fátima B. Pombo March (RJ)
Paulo Augusto M. Camargos (MG)
Helena Mocelin (RS)
Sérgio Luís Amantéa (RS)
Joaquim Carlos Rodrigues (SP)
José Rubim de Moura (MG)
Neiva Damasceno (SP)
Regina Terse Ramos (BA)
Clemax Couto Sant’Anna (RJ)

ASMA PEDIÁTRICA
Responsabilidade médica
sobre a conscientização
dos pais e pacientes (1)
Marilene Augusta R. Crispino Santos
Médica do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro – IASERJ
Membro do Comitê de Doenças do Aparelho Respiratório da Sociedade de Pediatria do
Estado do Rio de Janeiro – SOPERJ

Clemax Couto Sant’Anna


Professor Adjunto Doutor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Presidente do Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
Membro do Núcleo Gerencial do Departamento Científico de Pneumologia da SBP

Endereço para correspondência:


Rua Gurindiba, 76 – cj. 303, Tijuca
20530-580 – Rio de Janeiro, RJ
E-mail: marilenecs@terra.com.br
A P R E S E N TA Ç Ã O
ASMA PEDIÁTRICA
O papel do médico e da equipe de saúde no controle da asma
A asma, dadas as proporções de doença de interesse sanitário na maioria dos países,
é vista, hoje em dia, não mais como uma doença individual. O controle da asma passa a
ser uma tarefa que o Poder Público procura cumprir, pois as repercussões em absenteísmo
ao trabalho e à escola, o gasto em internações, entre outros aspectos, configuram-se em
desafio que demanda uma ação coletiva de impacto. Em dezembro de 1999, o Ministério
da Saúde do Brasil e várias sociedades médicas, entre elas a Sociedade Brasileira de Pediatria,
estabeleceram as bases do Programa Nacional de Controle da Asma. Sua implantação foi
problemática no período imediatamente depois, e, em 2002, o III Congresso Brasileiro
de Asma, em Salvador, exprimia sua inquietação por medidas mais efetivas.
Neste fascículo discute-se uma das vertentes mais complexas do problema: o papel
do médico diante do controle da asma na infância. É o aspecto individual que irá repercutir
no coletivo. Ainda hoje é a relação médico–paciente e, por extensão, a relação equipe de
saúde–paciente, o ponto inicial de um atendimento de qualidade, eficaz e humanizado.
O ensino médico vem sendo objeto de reflexão e de reformas, por meio do
Programa de Incentivo à Mudança Curricular para as Escolas Médicas, o Promed, lançado
pelos Ministérios da Saúde e da Educação, e com participação da Organização Pan-
Americana da Saúde. Os aspectos éticos e a vinculação à realidade local são aspectos
destacados do Promed. O aluno bem preparado, saindo da graduação, atuará com mais
consciência diante dos problemas de saúde do nosso meio.
Aqui também se discute o papel do paciente e de sua família perante a asma.
As limitações culturais e econômicas são grandes barreiras, ainda mais se considerarmos
que a criança com asma depende da cooperação de sua família ou de seus responsáveis.
A adesão ao tratamento da asma é um problema em todo o mundo, e mesmo nos países
desenvolvidos há dificuldades: os profissionais de saúde não estão familiarizados com as
novas drogas disponíveis, e os pacientes sofrem limitações socioeconômicas para sua
utilização.
No presente fascículo, registramos a valiosa colaboração da Dra. Marilene A. R. C.
Santos, do Comitê de Doenças do Aparelho Respiratório da Sociedade de Pediatria do
Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ).
Há muito o que refletir no texto que vamos ler e há muito o que fazer para o melhor
controle da asma na infância.
Clemax Couto Sant’Anna
4 ASMA PEDIÁTRICA

Responsabilidade médica
sobre a conscientização
dos pais e pacientes (1)

1. ASPECTOS resultava em 7,3 milhões de dias


AÇÕES QUE FOCALIZEM,
EPIDEMIOLÓGICOS DA ASMA restritos ao leito e em 10,1 milhões
de dias ausentes à escola. Cada vez PRIMARIAMENTE , O
A asma, doença que se mais o controle da asma assume im-
caracteriza por inflamação das vias portância como medida de interesse PACIENTE, O PROGRAMA
aéreas, hiper-reatividade brônquica sanitário e econômico. Calcula-se
e hiper-secreção de muco, é a que, na faixa etária de 5 a 14 anos, a DE EDUCAÇÃO E A
doença crônica mais comum da asma seja responsável por mais de
infância e motivo de grande preo- 2 milhões de consultas anuais e por
CONTINUIDADE DOS
cupação clínica não só no Brasil cerca de 37 mil atendimentos em CUIDADOS DE SAÚDE
como em várias partes do mundo setor de emergência, incluindo
(SBAI, SBP & SBPT, 2002). Trata- hospitalizações (Bratton e cols., 2002; CARREGAM A PREMISSA
se de uma enfermidade de baixa Gerald e cols., 2002; Von Mutius,
letalidade, mas de elevado custo 2000). A limitação nas atividades BÁSICA DE CONQUISTAR
social. Além do sofrimento habituais da infância provocada por
individual e familiar, há os custos uma doença crônica aumentou de A PREVENÇÃO E O
indiretos do absenteísmo ao traba- 2,6% nos pacientes não-hospita- CONTROLE DA ASMA
lho e à escola, com a utilização do lizados, menores de 18 anos, em
sistema de saúde, incluindo serviços 1969, para 6,3% em 1995. A asma
de emergência, ambulatórios e/ou é isoladamente a causa mais preva-
internações e gastos com as medi- lente de incapacidade na infância,
cações. Um inquérito realizado nos respondendo pela maior parte do
Estados Unidos mostrou que o im- recente aumento observado nas
pacto anual provocado pelos 2,7 últimas quatro décadas (Newacheck
milhões de crianças asmáticas & Halfon, 2000).
Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
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No Brasil, são escassos os da- constituem em um problema inflamação, por meio dos media-
dos existentes sobre o custo da doen- relevante de saúde pública. dores liberados, causam lesões e
ça. Em 1996, a asma foi a quinta causa O objetivo deste fascículo, por- alterações na integridade epitelial,
de internação em todo o país, tanto, será apresentar e discutir anormalidades no controle neural
representando 4% do total das aspectos relacionados à doença e ao autonômico (substância P, neu-
internações pagas e 18% de todas as tratamento, com enfoque na adesão rocinina A) e no tônus da via aérea,
hospitalizações por doenças respi- e na participação do médico ante a alterações na permeabilidade
ratórias. Em relação à idade do pa- pacientes asmáticos. vascular, hipersecreção de muco,
ciente asmático e ao número de mudanças na função ciliar e aumento
hospitalizações, verificou-se que a 2. A DOENÇA da reatividade do músculo liso da
predominância ocorreu entre 1 e 19 via aérea. Esses mediadores podem,
anos, identificando-se uma maior A asma é uma doença que se ainda, atingir o epitélio ciliar, cau-
proporção de casos na faixa etária manisfesta por limitação variável ao sando dano e ruptura. A conse-
de 1 a 4 anos, segundo os dados do fluxo aéreo, reversível espontanea- qüência é a proliferação de células
Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse mente ou com o tratamento, mani- epiteliais e miofibroblastos, presen-
ano, o SUS pagou US$ 76.380.115,93 festando-se por episódios recorren- tes abaixo do epitélio, e o depósito
pelas hospitalizações por asma, cada tes de sibilância, dispnéia, descon- intersticial de colágeno na lâmina
uma com valor médio de US$ forto torácico e tosse, especialmente reticular da membrana basal, o que
215,42 (tempo médio de 4 dias), o noturnos (SBAI, SBP & SBPT, explicaria o aparente espessamento
que corresponde a 2,8% do total 2002). dessa membrana e as lesões irreversí-
anual gasto (Naspitz, 2001). O processo inflamatório, prin- veis encontradas em alguns asmáti-
Noronha e Campos (2002), cipal fator fisiopatogênico, inicia-se cos (SBAI, SBP & SBPT, 2002;
estudando os óbitos por asma nos precocemente, e alterações estrutu- Rizzo, 2001; Jeffery, 1998). A figura 1
hospitais do SUS, encontraram, rais podem ser encontradas, mesmo resume as principais reações que
entre outros resultados, falhas na nos casos mais leves e estáveis, nos ocorrem após exposição a um
interpretação da gravidade da crise quais já existe espessamento da alérgeno.
tanto por parte dos pacientes e seus membrana basal e fragilidade da Na asma ocorre, independen-
familiares como pelos profissionais superfície epitelial. A exposição a temente da gravidade, um processo
de saúde, além de escolha inadequa- alérgenos, em muitos pacientes de cicatrização com início precoce,
da da terapia. asmáticos, induz a uma reação levando à reparação e à substituição
Medidas simplificadas, como alérgica na qual há degranulação de de células mortas ou lesadas por
um plano terapêutico apropriado e mastócitos com liberação de media- células viáveis. Assim, pode-se
um programa de educação direcio- dores, infiltração de eosinófilos, definir o processo de remodelagem
nado ao paciente e à sua família, com lesão intersticial das paredes das vias brônquica como uma alteração
instruções e esclarecimentos básicos aéreas e ativação de linfócitos T, que estrutural conseqüente a um influxo
sobre a doença, seriam capazes de produzem citocinas e colaboram na de células inflamatórias e seus
atenuar os dados de morbimorta- perpetuação da reação inflamatória. produtos, que inclui um ciclo de
lidade, que atualmente ainda se As inúmeras células envolvidas na lesão e de reparação das paredes das
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2002; Boulet, 1999; Warner e cols.,


Eosinófilos Linfócitos 1998). Embora exista alguma
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diferença entre eles, os princípios
básicos são similares. O importante,
Proteína básica principal (MBP) no entanto, é que os objetivos da
Proteína eosinofílica catiônica (ECP) Citocinas terapia estejam claramente definidos
Leucotrienos (Quadro 1).
O reconhecimento da asma
como uma doença crônica pro-
Produção de IgE porcionou o uso mais intensivo de
Dano tecidual associado com Quimiotaxia de eosinófilos medicamentos antiinflamatórios. A
reações crônicas Aumento do no de mastócitos prescrição de teofilina e de beta 2
na mucosa agonistas de curta duração, tão
comum na década de 80, se
Fonte: AAAAI, 2002 (modificado)1
modificou nos anos 90 com o em-
Figura 1. Mediadores de células inflamatórias podem prolongar a reação alérgica em prego cada vez maior de corticos-
cascata teróides por via inalatória. Hoje,
esses medicamentos são conside-
rados o eixo principal para se obter
vias aéreas. A remodelação é suficientes para que se estabeleça uma o controle da asma persistente,
resultante de ciclos repetidos de lesão relação causal direta entre remodela- mesmo nas crianças mais novas
aguda, seguida por reparação mento e gravidade (Rizzo, 2001). (Wood, 2002).
envolvendo a maior parte dos A asma é uma doença com- Dessa forma, o arsenal tera-
componentes das paredes das plexa, envolvendo fatores genéticos, pêutico utilizado no tratamento da
pequenas e grandes vias aéreas (Rizzo, ambientais e outros fatores especí- asma é bastante variado, com-
2001). ficos que levam ao desenvolvimento preendendo drogas que irão atuar
O aumento do remodelamen- e à persistência dos sintomas. Seu no alívio dos sintomas e aquelas
to das vias aéreas pode contribuir de manejo de forma adequada é um ditas de prevenção ou de manu-
modo significativo para a obstrução grande desafio a ser enfrentado pelo tenção, capazes de diminuir ou
do fluxo aéreo obser vado nos médico. eliminar o processo inflamatório
pacientes. Não se sabe se o espessa- crônico.
mento das paredes é ou não rever- 3. CLASSIFICAÇÃO DA O III Consenso Brasileiro
sível. A fibrose subepitelial parece ser GRAVIDADE E TRATAMENTO sobre o Manejo da Asma (SBAI,
reversível se forem afastados os fato- DE MANUTENÇÃO SBP & SBPT, 2002), idealizado
res causais ou se forem administrados para caracterizar a gravidade da
corticosteróides inalatórios por Nos últimos anos, vários pro- doença, baseado nos sintomas e na
determinado período de tempo. tocolos para o tratamento da asma na função pulmonar, utiliza esses parâ-
Também não se dispõe de dados criança foram publicados (NHLBI, metros tanto para definir a inten-
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que se consiga o controle deseja- A estratégia AIDPI, embora


Quadro 1
Objetivos do tratamento do. Embora a asma na criança seja classifique a doença considerando
da asma uma doença inflamatória crônica, somente três critérios clínicos de
1. Controlar os sintomas a terapia não é um procedimento gravidade (asma grave, asma
2. Possibilitar atividades normais na estático e, por isso mesmo, precisa moderada e asma leve), indica o
escola e no lazer ser reajustado constantemente. uso de corticosteróides inalatórios
3. Manter função pulmonar normal Desde que possível, esse reajuste para as crianças que têm sinais de
ou a melhor possível pode ser feito tomando-se como asma grave e moderada e simplifica
4. Evitar episódios agudos, base os resultados das avaliações as recomendações sugeridas pelo III
atendimentos em emergências e periódicas da função pulmonar, Consenso Brasileiro (Quadro 3).
hospitalizações obtidos durante as consultas
5. Reduzir a necessidade de uso de subseqüentes de acompanhamento 4. P LANO TERAPÊUTICO:
broncodilatador para alívio dos (Wood, 2002). CORTICÓIDE INALATÓRIO,
sintomas Por outro lado, nas crianças DOSAGEM E DURAÇÃO DO
6. Minimizar efeitos adversos da menores de 5 anos, é muitas vezes TRATAMENTO
medicação difícil estabelecer o diagnóstico de
7. Atender às expectativas do paciente asma, classificar a gravidade da doen- As evidências mostram que pode
e da família com o tratamento ça e, conseqüentemente, delinear o ocorrer perda permanente da função
8. Evitar a morte plano terapêutico mais apropriado. pulmonar já nos primeiros cinco anos
Fonte: Wood, 2002 A estratégia de Atenção Integrada às de vida e que o tratamento com antiin-
Doenças Prevalentes da Infância flamatórios poderá trazer um enorme
(AIDPI), que vem sendo preconi- benefício quando iniciado preco-
sidade da gravidade como para zada nos últimos cinco anos pelo cemente no curso da doença. Esses
traçar o plano terapêutico corres- Ministério da Saúde (MS), em con- estudos sugerem que algum grau de
pondente (Quadro 2). sonância com as recomendações da dano irreversível acontece prema-
O III Consenso (SBAI, SBP & Organização Pan-Americana da turamente na vida da criança com
SBPT, 2002) recomenda que Saúde (OPAS), contém um módulo asma, provavelmente secundário a
qualquer paciente com asma persis- direcionado para o atendimento de uma inflamação das vias aéreas, não
tente deverá receber uma medicação pacientes de 2 meses até 4 anos de percebida (Wood, 2002).
antiinflamatória de manutenção, e as idade que apresentem possíveis Os corticosteróides são os fár-
alterações da sintomatologia, obser- quadros bronco-obstrutivos, in- macos que oferecem melhor relação
vadas durante o período de acom- cluindo a asma (MS/OPAS, 2003). custo–risco–benefício para o con-
panhamento, possibilitarão reclassi- Mediante um programa teórico- trole da asma. A terapia inalatória só
ficar o paciente. Há evidências de prático de treinamento dos pro- foi possível com a introdução de
que é mais efetivo iniciar-se o trata- fissionais de saúde, baseado em um agentes que reuniram máxima
mento imediatamente e reduzir-se protocolo simplificado de ações, potência tópica e mínima biodisponi-
a terapia à medida que o paciente pode-se auxiliar o pediatra no bilidade sistêmica (SBAI, SBP &
melhora, em vez de aumentar-se até manejo desses casos. SBPT, 2002).
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Quadro 2
Classificação de gravidade da asma segundo o III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma
Intermitente Persistente leve Persistente moderada Persistente grave

Sintomas:
Falta de ar, ≥ 1 vez/ semana Diários Diários
aperto no ≤ 1 vez/ e < 1 vez/dia mas não contínuos contínuos
peito, chiado e semana
tosse

Limitação para Prejudicadas Limitação diária


Em geral grandes Algumas faltas ao Falta freqüente
Atividades normais esforços trabalho e à escola. ao trabalho e à
Falta ocasional Faltas Sintomas com escola. Sintomas
ao trabalho ou ocasionais ao exercícios com exercícios leves
à escola trabalho ou à moderados (andar no plano)
escola (subir escadas)

Ocasionais Infreqüentes Freqüentes Freqüentes


(leves) Algumas Algumas com ida à graves
Crises* Controladas requerendo uso emergência, uso de Necessidade de
com BD sem de corticosteróide corticosteróides corticosteróides
ida à 1a sistêmicos ou sistêmicos,
emergência internação internação ou
risco de vida

Sintomas Raros Ocasionais Comuns Quase diários


noturnos** ≤ 2 vezes/mês > 2 vezes/mês e > 1 vez/semana 2 vezes por
≤ 1 vez/semana semana

BD para ≤ 1 vez/ ≤ 2 vezes/ < 2 vezes/ e < 2 ≥ 2 vezes/dia


alívio semana semana vezes/dia/semana

PFE ou Pré-BD > Pré-BD ≥ 80% Pré-BD entre 60% e Pré-BD raros
VEF 1 nas consultas 80% previsto previsto 80% previsto < 60% previsto
* Pacientes com crises infreqüentes, mas que coloquem em risco a vida do paciente, devem ser classificados como tendo asma persistente grave
** Despertar noturno regular com chiado ou tosse é sintoma grave
VEF1 = volume de ar expirado no primeiro segundo da manobra de capacidade vital forçada (SBPT, 2002)
PFE = pico de fluxo expiratório e representa o fluxo máximo de ar expirado durante a manobra de capacidade vital forçada (SBPT, 2002)
BD = broncodilatador
Fonte: SBAI, SBP & SBPT, 2002
Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
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Quadro 3
Classificação da gravidade da asma e tratamento segundo
a estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI)
Avaliar Classificar Tratar
•Crise* diária ou − Referir ao especialista para avaliação e tratamento
contínua, ou – Na impossibilidade de referir:
•Sintomas noturnos: • Administrar corticosteróide por via inalatória
a criança acorda quase Asma • Orientar os pais quanto ao que fazer na crise e quando retornar
todas as noites (> 2 vezes/ grave imediatamente
semana) com tosse ou • Fazer o seguimento em 2 meses
dispnéia, ou • Controle ambiental
•História de
internação por crise de
sibilância nos últimos 12
meses
•Crises* ≥ 1 vez/ – Administrar corticosteróide VI
semana (mas não Asma – Encaminhar os menores de 1 ano ao especialista
contínuas), ou moderada – Orientar os pais quanto ao que fazer na crise e quando retornar
•Sintomas noturnos: 1 a 2 imediatamente
vezes/semana – Fazer o seguimento em 2 meses
– Controle ambiental
• Crises* ou sintomas – Orientar os pais quanto ao que fazer na crise e quando retornar
noturnos: < 1 vez/ Asma imediatamente
semana e até 3 vezes/ leve – Controle ambiental
mês

* Refere-se a um ou mais sintomas, tais como: dispnéia, cansaço, dificuldade para respirar, falta de ar, aperto no peito ou sibilância

Fonte: MS/OPAS, 2003

Existem diferenças de potência de mercado. A fluticasona tem a aquelas acima de 800 µg (MS/
clínica quando as doses nominais potência tópica mais alta, com OPAS, 2003). São usualmente
das diversas preparações são índice terapêutico mais potente utilizados duas vezes ao dia. Em pa-
comparadas (Quadro 4). (Rozov, 2002). Consideram-se doses cientes graves ou durante exacer-
O dipropionato de beclo- baixas de corticosteróides inalatórios bações, há a possibilidade de
metasona e a budesonida têm sido para crianças até 400 µg/dia de aumento de freqüência. Reco-
usados há vários anos; são as dipropionato de beclometasona; menda-se a prescrição de dipropio-
drogas consideradas de referência doses médias estão situadas entre nato de beclometasona por via
para novos produtos inalatórios 400 µg a 800 µg e doses altas são inalatória ou o corticosteróide
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controle completo dos sintomas.


Quadro 4
Comparação da potência tópica entre os corticosteróides Não se atingindo os objetivos espe-
Droga Potência tópica rados em cada uma das consultas
Fluticasona 1.200 de seguimento, deve-se encaminhar
Budesonida 980 o asmático para avaliação especia-
Beclometasona 600 lizada, baseado, sempre, em critérios
Flunisolida 330 clínicos.
Triancinolona 330 Apesar das recomendações
para o uso precoce de corticos-
Fonte: SBAI/SBP/SBPT, 2002
teróides, é necessário ser cau-
teloso quando se tratar de crianças
inalatório disponível no local onde feito periodicamente de 2 em 2 com idade abaixo de 3 anos.
se fizer o atendimento de pacientes meses, salvo condições clínicas que Nesse grupo, é preciso diferen-
asmáticos. O esquema recomen- determinem um agendamento mais ciar os verdadeiros asmáticos
dado é iniciar-se com 500 µg/dia, curto. O paciente, então, após cada daqueles que têm sibilância
durante dois meses, para qualquer reavaliação subseqüente, poderá ter transitória pelo fato de possuírem
paciente classificado como tendo a dose reduzida à metade, passando pequenas vias aéreas, apro-
uma asma grave ou moderada a receber 250 µg/dia de beclo- ximadamente 80% do total; da-
(Quadro 5). metasona e, de acordo com a apre- queles que sibilam durante
Durante as consultas de acom- sentação do produto escolhido, infecções virais; daqueles que
panhamento, dependendo da evolu- poderá corresponder a uma única têm outra doença de base, como,
ção clínica do paciente, reajusta-se a tomada diária. por exemplo, fibrose cística ou
dose do corticosteróide. O acompa- O acompanhamento em geral mesmo refluxo gastroesofágico
nhamento da criança asmática será alcança no máximo 8 meses para o (Rozov, 2002).

Quadro 5
Corticosteróide inalatório recomendado para crianças maiores de 2 meses e menores de 5 anos:
esquema inicial e de manutenção para crianças com asma grave ou moderada
Corticosteróide Apresentação* em forma de spray Dose total diária Dose individualizada
para maiores de 2 meses
e menores de 5 anos
Fluticasona 50 e 250 µg 100 a 200 µg/dia 2 jatos de 50 µg 2x/dia
Budesonida 50 e 200 µg 100 a 200 µg/dia 2 jatos de 50 µg 2x/dia
Beclometasona 50 e 250 µg 100 a 500 µg/dia 1 jato de 250 µg 2x/dia

* Alguns dos medicamentos apresentados estão disponíveis também em apresentações de pó inalatório e de solução para nebulização

Fonte: MS/OPAS, 2003


Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
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No grupo etário pediátrico, medicamentos de resgate, ou seja, de- dose terapêutica é muito próxima
o corticosteróide inalatório na vem ser utilizados, quando necessá- da tóxica. Possuem certo efeito
forma de aerossol dosimetrado rio, para o alívio dos sintomas presen- antiinflamatório e por isso, em
deve ser obrigatoriamente aplica- tes. É mais efetivo empregá-los dessa determinadas situações de asma
do através de espaçador. Existem maneira do que de forma regular e persistente moderada e grave,
no comércio modelos desenha- diária. Quando administrados 10 a 30 podem ser medicamentos auxi-
dos para vários grupos etários, minutos antes de atividades físicas, po- liares (Gan & Gruchalla, 2000).
podendo-se também adaptá-los dem prevenir o broncoespasmo indu- O brometo de ipratrópio tem
de garrafas de refrigerantes, zido por exercícios. Por via oral, os efeito broncodilatador menos poten-
copos de plástico ou até mesmo beta2 agonistas têm um início de ação te que os beta2 agonistas. O III Con-
de frascos de soro. Os pacientes mais lento do que os beta2 inalatórios senso Brasileiro (SBAI, SBP & SBPT)
com idade superior a 3 ou 4 anos e não deveriam ser usados como recomenda o seu uso associado ao
podem utilizar o corticosteróide opção no tratamento da exacerbação beta2 agonista de curta ação no
sob forma de pó (Rozov, 2002). aguda (Gan & Gruchalla, 2000). tratamento, em emergências, do
Os beta2 agonistas de longa episódio agudo grave em crianças
5. MEDICAMENTOS duração, como o salmeterol e o for- (Rozov, 2002).
DISPONÍVEIS PARA O moterol, são medicamentos indicados
na terapêutica de manutenção. O 5.2. Cromonas
TRATAMENTO DA ASMA
salmeterol tem pico de ação em torno São considerados drogas antiin-
de 2 a 3 horas e seu efeito bron- flamatórias. São muito seguros, o que
5.1. Broncodilatadores: codilatador chega a ser de 12 a 18 torna vantajoso o seu uso em crian-
beta2 agonistas, xantinas e horas. É uma droga útil na redução ças, principalmente em lactentes. No
anticolinérgicos da hiper-reatividade, na bron- entanto, estudo de revisão sistemá-
As medicações broncodila- codilatação, para controle dos sinto- tica mostrou pequeno efeito terapêu-
tadoras não têm ação antiinfla- mas, e, particularmente, na prevenção tico da droga, com insuficientes evi-
matória, reservando-se seu uso dos sintomas noturnos e no broncoes- dências de benefício de sua indicação
para situações de resgate, de alí- pasmo induzido por exercício. Tem no tratamento de manutenção da
vio dos sintomas, para prevenir efeito benéfico quando associado a asma em crianças (Rozov, 2002).
a obstrução e em associação com corticosteróides inalatórios, todavia
não deve ser usado como monotera- 5.3. Antagonistas dos
a medicação tópica na asma de
pia nem como substituto da terapêuti-
leucotrienos (montelucaste e
difícil controle.
ca antiinflamatória no manejo de ma- zafirlucaste)
Os beta2 agonistas de curta du-
ração são os broncodilatadores mais nutenção da asma persistente (Graham, Possuem efeitos antiinflama-
efetivos e seguros. O início de ação é 2002; Gan & Gruchalla, 2000). tórios, são administrados por via
rápido e potente, já sendo observado A teofilina e a aminofilina oral e podem reduzir a hiper-res-
a partir de 5 a 10 minutos após a admi- têm ação broncodilatadora fraca, ponsividade brônquica. As princi-
nistração e com uma duração de efei- com elevado risco de efeitos pais indicações de seu uso seriam aos
to de 4 a 6 horas. São considerados colaterais, tendo em vista que a pacientes que não conseguem utilizar
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a via inalatória, nos casos de bron- – as ações preventivas de saúde No Brasil, lamentavelmente,
coespasmo induzido por exercícios, são menos dispendiosas que o poucos pacientes têm acesso ao tra-
como medicação alternativa na asma cuidado hospitalar; tamento continuado, sendo atendi-
persistente leve e como suplementar – o tratamento realizado na emer- dos, na maior parte das vezes, ape-
na asma persistente grave não gência sai mais caro que o pre- nas durante as agudizações de seus
controlada (ação poupadora de ventivo; sintomas. Com exceção de alguns
corticosteróides) (Rozov, 2002). – o peso financeiro do tratamen- centros, são escassos os serviços que
to da asma pode ser excessivo dispõem de atendimento ambula-
5.4. Corticosteróides para as famílias. torial específico para os asmáticos.
sistêmicos Vários estudos na Inglaterra têm Por essa razão, grande parte das insti-
São fundamentais nas exacerba- aprofundado as questões rela- tuições e organizações (Organização
ções quando não há resposta ade- cionadas ao cuidado clínico e suas Mundial da Saúde, Organização Pan-
quada aos broncodilatadores ou à implicações econômicas. Verificou-se Americana da Saúde, Ministério da
medicação de manutenção basal. O que a integração entre os cuidados Saúde, por exemplo) relacionadas à
plano terapêutico usualmente indi- primários e secundários apresentava asma vem propondo não só normas
cado é: prednisona ou prednisolona, uma boa relação custo–efetividade. de atendimento, mas também o
na dose de 1 a 2 mg/kg/dia, sendo a Outra investigação encontrou que as planejamento e a dispensação gratuita
dosagem máxima em torno de 40 mg intervenções orientadas pela enfer- de medicação básica inalatória para
por até 5 a 7 dias, sem necessidade de magem, com a finalidade de melho- todos os pacientes.
redução gradual (Rozov, 2002). rar o diagnóstico e o tratamento da O Ministério da Saúde, por
criança asmática em unidades primá- meio da Coordenação Nacional de
6. CUSTOS COM A DOENÇA , rias, resultaram na redução dos custos Pneumologia Sanitária, sensível ao
DISPONIBILIZAÇÃO DA referentes aos cuidados hospitalares problema, instituiu o Dia Nacional
TERAPÊUTICA E O PLANO prestados. Contudo, é preciso lembrar da Asma (21 de junho) e, em 9 de
NACIONAL DE CONTROLE que todos esses desfechos positivos dezembro de 1999, com o apoio das
tendem a diminuir com o passar do sociedades brasileiras de especia-
DA ASMA (PNCA)
tempo, exigindo ações que sejam lidades (Pneumologia e Tisiologia;
O custo do tratamento da capazes de sustentar a intensidade das Pediatria; Alergia e Imunopatologia;
asma pode representar uma pro- intervenções iniciadas. O cuidado da Clínica Médica), estabeleceu um
porção significativa do orçamento asma, prestado por profissionais plano nacional de ação preventiva
familiar. Nos Estados Unidos, esti- treinados, poderá estar associado a contra a asma (Plano Nacional de
ma-se que o custo oscile entre 5,5% desfechos mais favoráveis da doença Controle da Asma/PNCA), incluin-
e 14,5% da renda familiar. Na Índia, e também à possibilidade de redução do instruções aos pacientes e seus
gasta-se o equivalente a 9% da renda de custos nos serviços de saúde, pois familiares para conduzir o tratamento
per capita anual (NHLBI, 2002). o gasto dispendido com o tratamento em casa e na escola (MS/Portaria
Comparações do custo da preventivo é muito menor quando no 1394/MS, 1999).
asma em diferentes regiões possibili- comparado com a do episódio Algumas medidas fundamentais
taram algumas conclusões: agudo (NHLBI, 2002). são propostas pelo PNCA, como o
Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
13

treinamento de profissionais de saúde, sólidas, recursos eficazes e com a originando-se do paciente asmático
criação de sistema de referência e melhor “relação custo–risco– (Figura 2) (Clark & Partridge, 2002).
contra-referência, padronização tera- benefício” (Silva e cols., 2001). Cada um desses círculos repre-
pêutica e disponibilidade de medi- sentaria pessoas, organizações, pro-
camentos inalatórios e insumos. Os 7. EDUCAÇÃO VERSUS gramas e instrumentos políticos, com
objetivos a serem atingidos a partir da CONTROLE DA DOENÇA funções definidas para a obtenção
implantação do PNCA seriam a redu- do efeito terapêutico pleno. Esses
ção do atendimento de emergência, O objetivo principal da abor- círculos teriam a capacidade de se
de hospitalização, do consumo de oxi- dagem da asma deve ser o controle relacionar uns com os outros, de tal
gênio, do uso de equipamentos de da evolução da doença e a prevenção forma que o resultado final pudesse
nebulização, dos custos de medica- dos sintomas e dos episódios agudos, ser um desfecho mais favorável da
mentos e do absenteísmo escolar e no condições essas que, por sua vez, estão doença, como, por exemplo, a
trabalho (Camargos & Profeta, 2002). submetidas às mais variadas influências. conquista de pouca sintomatologia
Belo Horizonte e também Isto pode ser mais bem entendido se ativa e, conseqüentemente, menor
algumas cidades que compõem a imaginarmos círculos concêntricos uso do sistema de saúde.
Região Metropolitana de Porto
Alegre, Brasília, Campo Grande, Rio
de Janeiro e Curitiba têm programas
de asma em andamento. Esses
projetos encontram-se em diferentes
fases de implantação, desde 1997
(Camargos & Profeta, 2002).
Dados referentes aos resulta-
dos encontrados em Belo Horizonte
mostram uma redução de 85% no Manejo da asma
número de atendimentos em ser- pelo paciente
viços de emergência, e de 76% em
internações registradas (Fischer & Envolvimento familiar
Camargos, 2002).
A atitude mais viável para o Experiência clínica
momento é concretizar as regras
básicas de manejo para o maior Participação da comunidade
número possível de pacientes, em
ambulatórios, unidades assistenciais,
serviços e demais setores pertinentes,
e conduzir os casos individuais mais Figura 2. Círculos que influenciam o
difíceis por meio de protocolos. E controle da asma (modificado de Clark
tudo isto planejado com bases & Partridge, 2002)
14 ASMA PEDIÁTRICA

Mais próximo do paciente se um estudante venha a tomar um rísticas de personalidade, motivação,


posiciona o círculo que é conside- medicamento. Apesar dessa cons- medos, experiências prévias e tantos
rado o de maior importância para tatação, praticamente não existem, outros atributos psicossociais. Dessa
ele, principalmente ao se tratar de hoje em dia, programas de atendi- maneira, médico e paciente podem
uma criança. Este círculo tem a mento aos escolares asmáticos. A ter uma ótica completamente dife-
representação central na figura da meta deveria ser priorizar a trans- rente em relação ao que consideram
família ou de outras pessoas que missão de conhecimento ao profes- como controle da doença. Enquanto
possam ser responsáveis pelos cui- sor para que ele se sinta seguro o para o primeiro é essencial o parâ-
dados de saúde. Assim, intervenções suficiente para prestar cuidados metro clínico, por exemplo uma
direcionadas aos membros da àqueles sob sua responsabilidade melhora do VEF1, para o outro será
família têm se mostrado eficazes em (Clark & Partridge, 2002; Bevis, vital a conquista de um ganho
melhorar não só a habilidade para 1990) pessoal, como a possibilidade de
ajudar o paciente no manejo da participação em eventos sociais, em
doença como também no relacio- 8. B ARREIRAS DETECTADAS jogos de futebol etc.
namento interpessoal. VERSUS DIFICULDADES NO Supõe-se que os fatores inter-
O controle satisfatório da asma CONTROLE EFETIVO DA nos e externos possam influenciar o
requer o uso correto dos medica- DOENÇA comportamento. Como cada indiví-
mentos prescritos e a garantia de duo tem a sua própria personali-
uma parceria contínua entre o clínico Os estudos realizados sugerem dade, sua experiência pregressa e
e o paciente, de modo que se asse- que a habilidade do paciente no ambição, uma abordagem plausível
gurem ajustes necessários do regime controle de uma doença crônica poderia ser a de tentar modificar as
terapêutico durante o período de como a asma depende de seu nível características intrapessoais. O pro-
acompanhamento. O médico tem de auto-regulação. A teoria de auto- cesso para a mudança de compor-
o papel primordial de ajudar o regulação afirma que o grau pelo tamento, no entanto, envolveria um
paciente a entender como proceder qual os pacientes adquirem habi- esforço considerável, exigiria um
para prevenir o aparecimento de lidade depende de vários fatores tempo prolongado e um profundo
sintomas. externos e internos. Esses fatores se conhecimento e perícia em psicolo-
A escola pode ser considerada constituem muitas vezes em bar- gia. Portanto, a solução mais prática
um local de grande utilidade para reiras impeditivas de um controle e viável para essa questão é centralizar
divulgação de informações. As adequado da doença. São enten- a atenção em melhorar o comporta-
crianças e adolescentes passam um didos como intrapessoais, exclusivos mento do paciente por meio do au-
número significativo de horas nos de um indivíduo e desconhecidos mento da habilidade de auto-regu-
estabelecimentos de ensino onde a aos profissionais envolvidos no aten- lação, que pode ser observado e por
asma é a principal razão para que dimento clínico. Incluem caracte- isso mesmo monitorado e facil-

1
Fluxo expiratório forçado máximo (FEFmax): representa o fluxo máximo de ar durante a manobra de capacidade vital forçada. Essa
grandeza é denominada PICO DE FLUXO EXPIRATÓRIO (PFE) e é expressa em litros por segundo utilizando-se equipamento
especializado denominado peak flow (SBPT, 2002).
Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
15

mente conseguido e ampliado. Mais de 90% referiram que não haviam – dar ao paciente indicações de
do que focalizar na informação so- recebido nenhum plano de ação que o plano terapêutico de su-
bre a asma, a educação do paciente ou qualquer medicamento. Cerca cesso inclui, por exemplo, dor-
precisa oferecer diferentes e melho- de 50% afirmaram não terem mir a noite toda ou fazer exer-
res maneiras de auto-regulação. Isto sido instruídos em como reco- cícios sem apresentar sintomas.
inclui a possibilidade de que os pa- nhecer o início de um episódio Isto pode aprimorar o seu jul-
cientes estejam aptos a analisar os agudo ou em como proceder du- gamento e tornar mais apro-
dados coletados a partir dos sinto- rante a crise. priado o uso de medicamentos;
mas apresentados e do monitora- Há diversas técnicas que os – dar mensagens de confiança
mento do pico de fluxo expiratório, clínicos podem usar para encorajar sobre a habilidade do paciente
e a aprender como utilizar critérios a auto-regulação de seus pacientes, em controlar a doença e ver-
específicos para avaliar a efetividade tais como: balmente reforçar os relatos do
dos medicamentos empregados e – auto-avaliação, ou seja, meios paciente de ações consideradas
julgar o efeito real da exposição aos pelos quais o paciente seja ca- como positivas no manejo da
aeroalérgenos ou agentes irritantes paz de aprender como obser- asma, servindo para promo-
no aparecimento dos sintomas var a ele próprio e a sua doença, ver auto-confiança (Clark &
respiratórios. Esse processo de por exemplo: monitoramento Partridge, 2002).
educação dá ao paciente capacidade do peak flow ou uso de uma
de fazer um uso mais adequado e caderneta para anotação diária 9. EDUCAÇÃO E
racional das orientações recebidas, dos sintomas; ACONSELHAMENTO: O
de desenvolver sua própria estra- – encorajar os pacientes a obser- MÉDICO ESTÁ PREPARADO
tégia de controle da doença dentro var se as recomendações, como PARA OFERECÊ-LOS AO
do que lhe foi transmitido. A maior o uso adequado dos medica- PACIENTE ASMÁTICO?
parte dos programas de educação mentos ou o afastamento de
não parece oferecer ao paciente um determinado agente desen- O manejo das doenças crônicas
essas habilidades, preocupando-se cadeante, realmente são capazes requer uma parceria entre o médico
simplesmente em oferecer orien- de reduzir os sintomas; e o paciente com o objetivo prin-
tações e informações de como uti- – ajudar o paciente a conseguir cipal de melhorar o nível de auto-
lizar o plano de ação estabelecido ações e resultados, isto é, torná- regulação. É essencial que essa par-
e o peak flow. Lamentavelmente, lo capaz de ter expectativas ceria e a compreensão das responsa-
mesmo esses esforços não pare- apropriadas de desfecho; bilidades, tanto por um como pelo
cem ocorrer com muita freqüên- – dar instruções por escrito que outro, já sejam estabelecidas antes
cia. Na Inglaterra, um estudo feito reforcem o uso diferenciado dos mesmo que se faça um plano
com 2.400 pacientes mostrou que medicamentos quando os sin- terapêutico por escrito (Ponte, 1999).
menos de 50% deles alegaram que tomas se modificam, permi- A maioria das intervenções ofe-
não haviam recebido informações tindo que o paciente tome recidas aos pacientes pelos médicos
sobre a asma na época em que o decisões cada vez mais cons- envolve a prescrição de medica-
diagnóstico havia sido feito. Mais cientes; mentos. Para indicar um determi-
16 ASMA PEDIÁTRICA

nado produto farmacêutico, o mé- variando de 40% a 70% (Bender Pelo exposto pode-se concluir
dico precisa saber a quem admi- 2002; Urquhart, 1996). Entre que o bloco básico de construção
nistrar tal tratamento, qual é a dosa- crianças asmáticas, as taxas de não- para uma subseqüente adesão será,
gem recomendada e estar atento ao adesão estão freqüentemente portanto, sugerir que todos os
acompanhamento da doença e aos abaixo de 50% nos países de- pacientes e seus responsáveis sejam
efeitos terapêuticos. senvolvidos (Bender, 2002). Os submetidos a um programa de
Dessa forma, responder às médicos têm as mesmas chances educação e que aqueles sob um
mesmas perguntas e seguir um que o acaso para predizer quais os risco mais elevado devam se
protocolo preestabelecido em rela- pacientes que seguirão as instruções constituir num alvo prioritário e
ção à educação em asma poderia terapêuticas. Em geral, a adesão e diferenciado (Clark & Partridge,
ser um modo de torná-la mais o controle efetivo da doença não 2002).
aceitável aos clínicos e é uma forma se correlacionam bem com qualquer
de abordagem que está baseada em característica atribuída ao paciente, 9.2. Conseqüências da
evidências já disponíveis (Clark & como idade, sexo, raça, renda fa- não-adesão
Partridge, 2002). miliar ou escolaridade. A adesão A não-adesão às orientações
Os profissionais de saúde pode ser intensificada em algumas médicas se apresenta sob várias for-
devem alcançar o conhecimento e circunstâncias, principalmente quan- mas: não-aquisição dos medica-
os requisitos básicos exigidos para do o paciente ou seu responsável mentos prescritos, dosagens ou
o manejo de pacientes asmáticos. É for capaz de: intervalos de administração incor-
essencial, também, que estejam aptos – fazer uma correta avaliação do retos e descontinuação prematura do
a avaliar as necessidades individuais risco–benefício de suas ações; tratamento. Os pacientes, também,
e a eficácia do programa de educa- – estiver apto a compreender podem não realizar medidas roti-
ção. Alguns países já dispõem de que qualquer risco, como, por neiras de pico de fluxo expiratório,
um programa de educação voltado exemplo, de hospitalização ou não seguir as recomendações para
para os próprios educadores e de morte, aplica-se inclusive a
um controle ambiental adequado ou,
disponibilizam certificados na- ele e não exclusivamente aos
mesmo, não alcançar uma técnica
cionais com a finalidade de destacar outros;
os já capacitados. Com isso, torna- inalatória eficiente.
– sentir-se seguro em utilizar o
se possível padronizar a informa- A não-adesão reduz, ainda, a
medicamento prescrito após
ção e, concomitantemente, melho- efetividade dos regimes tera-
ter resolvido as preocupações,
rar a qualidade da atenção prestada dúvidas e os medos anterior- pêuticos porque as drogas podem
(Boulet, 1999). mente existentes sobre seu uso; não atingir seu completo potencial
– sentir-se no controle da situa- terapêutico e econômico, a menos
9.1. Não-adesão que sejam administradas dentro
ção e manter uma boa relação
do paciente asmático de limites toleráveis (Milgrome
de comunicação com o pro-
As taxas de não-adesão à tera- fissional de saúde, respon- e cols., 2001).
pêutica, em todas as doenças in- sável pelo seu acompanha- Cerca de 50% de 1,8 bilhão de
cluindo a asma, são muito elevadas, mento. prescrições, anualmente emitidas
Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
17

nos EUA, são seguidas de forma pediatras analisados não prescreviam modificar ou mesmo superar as
inadequada. A estimativa é de que espaçadores, rotineiramente, como ações da prática clínica a que estão
30% a 50% de todos os receituários coadjuvante da terapia inalatória e habituados, fazendo com que os
não consigam atingir os efeitos 84% deles não foram capazes de usar protocolos não sejam seguidos como
terapêuticos esperados (Mellins a classificação de gravidade recomen- o proposto (Milgrom e cols., 2001;
e cols., 2000). dada pelo Consenso Brasileiro (SBAI, Cabana e cols., 1999).
O sistema americano de saúde SBP & SBPT, 2002).
9.4. Programa de educação em
tem gastos anuais que ultrapassam Outra investigação (Doerschug
asma: qual o modelo a seguir?
os 100 bilhões de dólares, conse- e cols., 1999) apontou um aumento
de 25,7%, em 1999, no uso de me- O programa de educação pre
qüentes à não-adesão.
dicamentos profiláticos prescritos cisa variar, ajustando-se a cada
9.3. Aceitação dos protocolos por pediatras, comparado com os paciente. Se o foco for, como se su-
pelos médicos 64,6% prescritos por alergistas e os põe, ajudar o paciente a conseguir
63,3% por pneumologistas. maior auto-regulação, o desafio edu-
O médico tem a responsabili-
O resultado de um inquérito cacional será o quanto de observação
dade de estar atualizado com o co-
(Flores e cols., 2000) também e habilidade individual poderão ser
nhecimento vigente de modo que
realizado entre pediatras apontou ampliados e não somente o quanto
assegure que todos os seus pacientes
cinco questões, classificadas por esses de informação deverá ser trans-
recebam tratamento apropriado. mitida. Ao se constatar que o paciente
profissionais como relevantes para o
Todavia, muitos profissionais não tem características de um elevado
seguimento das determinações
estão familiarizados com os nível de auto-regulação, então o
sugeridas pelos consensos:
consensos vigentes. Um inquérito processo educacional deverá ser o
– simplicidade de conteúdo;
realizado em um hospital universi- mais simplificado possível, for-
– factibilidade/praticidade para
tário americano mostrou que os necendo critérios para avaliar os
aplicação rotineira;
docentes e os residentes apresenta- – conceitos e aplicações baseados efeitos do plano terapêutico forne-
ram um percentual médio de acertos em evidências disponíveis; cido pelo médico. Esse tipo de pa-
de 60% ± 2%, num teste de múltipla – evidência de levar a melhora ciente ou de seu responsável será be-
escolha voltado para a asma. De clínica; neficiado ao provê-lo com meios
maneira geral, os especialistas tiveram – coerência com as ações pro- apropriados de monitorização da
uma pontuação maior, ainda que postas. asma e com orientações direciona-
também não fossem integralmente É preciso ponderar que os con- das para outras fontes de informa-
capazes de avaliar corretamente a sensos que estabelecem planos de ção sobre a doença. Ao contrário,
gravidade da doença (Blessin- tratamento baseados, essencialmente, para aqueles em que a auto-regulação
Moore, 1996). na opinião de especialistas nem estiver num nível baixo, uma
Entre nós é limitado o conheci- sempre refletem as opções terapêu- educação intensiva será necessária e
mento sobra a asma. Um estudo con- ticas escolhidas pelos clínicos. Além deverá estar baseada em estratégia de
duzido no Rio de Janeiro (Cunha disso, os médicos podem ter mo- ensino progressivo para que o
e cols., 2003) verificou que 70% dos tivações insuficientes para conseguir paciente consiga ter, enfim, a opor-
18 ASMA PEDIÁTRICA

tunidade de aprender como moni- Caso estejamos diante de uma não- necessários para garantir o uso
torar e avaliar seus sintomas. É claro adesão ao tratamento, o aconse- adequado desses dispositivos.
que, em ambos os níveis de auto- lhamento aos responsáveis ou ao No programa de educação, o
regulação, medidas de suporte próprio paciente torna-se impres- clínico deverá utilizar técnicas
deverão estar presentes e de modo cindível. Será que a auto-monito- específicas de comunicação que
que não conflitem com a cultura do rização dos sintomas está sendo tornem o paciente capaz de obter o
paciente, seus hábitos, atitudes e a sua realizada de maneira adequada? O máximo dessa interação. As técnicas,
preferência lingüística. A questão que essas observações sugerem ao embora de fácil execução, não são
aqui é que o alvo da educação pre- paciente sobre o porquê dos sinto- muito empregadas. Elas visam:
cisa se mover. O enfoque de dar mas estarem ocorrendo? Que estra- – demonstrar interesse (de forma
informações baseadas em suposições tégias poderiam levar a um controle não-verbalizada);
sobre quais seriam as razões capazes mais adequado, como, por exemplo, – encorajar (de forma não-verba-
de fazer uma pessoa a aceitar as reco- proporcionar intervalos diferentes lizada);
mendações clínicas deve voltar-se para de dosagem? Rever as situações em – elogiar, verbalmente, as ações
o que é preciso fazer para que o que o uso de medicamentos preven- adequadamente executadas;
paciente adquira habilidades especí- tivos estaria indicado? Alterar as – manter uma conversação inte-
ficas. Isso o permitiria realizar estra- medidas para evitar agentes desen- rativa;
tégias de manejo da doença que cadeantes? Se houver uma grande – descobrir possíveis preocupa-
fossem as mais adequadas para o seu preocupação sobre a intensidade ções e aborrecimentos existentes;
quadro e as mais próximas ao ideal- dos sintomas, um reforço do pro- – tranqüilizar com informações
mente proposto pelo médico (Clark grama educacional deverá ser apli- específicas;
& Partridge, 2002). cado. Uma situação bastante co- – ajustar esquemas de medicação
mum na prática diária se refere ao a rotina do paciente e da família;
9.5. Acompanhamento do uso de beta 2-agonista sob aerossol – obter a concordância do pa-
paciente asmático dosimetrado. Sabe-se que a habi- ciente sobre qual é o objetivo a
Alguns sinais são indicativos ao lidade do uso desses dispositivos ser atingido a curto prazo;
médico de que o processo edu- inalatórios parece se deteriorar com – rever juntamente com o pa-
cacional deverá continuar. Uma crise o passar do tempo, já se iniciando ciente o plano terapêutico a ser
de sibilância, por exemplo, sugere cerca de 2 semanas após serem em empregado a longo prazo;
que tanto o regime terapêutico dadas as instruções iniciais. Menos – ajudar o paciente a usar critérios
instituído não está sendo eficaz da metade dos pacientes que para a tomada de decisão re-
como também que o paciente não recebem prescrições indicando a ferente ao manejo da asma
está seguindo as orientações confor- utilização da via inalatória cumpre (Clark & Partridge, 2002).
me o determinado. É preciso rever adequadamente as determinações
como o paciente está utilizando a recebidas (Clark & Partridge, 2002). 9.6. O papel da equipe de saúde
medicação para que se possa fazer Atenção contínua e demonstração Em geral, o envolvimento dos
a distinção entre uma e outra causa pelo médico a cada consulta de profissionais de saúde na educação
de resposta clínica insatisfatória. acompanhamento são requisitos de condições crônicas, como a asma,
Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
19

difere enormemente. A meta a ser de negociação estabelecido entre Ação 1 – Inicialmente, temos
atingida varia de acordo com a o paciente e o médico (Clark & de nos assegurar de que o programa
situação clínica, socioeconômica e Partridge, 2002). de educação em asma está de
cultural do paciente e da doença em O médico, na maioria dos acordo com o Consenso Nacional
questão. O desafio será colocar os sistemas de saúde, continua a ser o vigente. Inúmeros estudos têm
pacientes de for ma coordenada profissional que prescreve os mostrado que, na prática diária, os
dentro dos vários círculos (Figura 1) medicamentos, porém, enfermeiros, médicos não seguem os protocolos
e proceder de maneira a prestar assis- fisioterapeutas e outros profissionais estabelecidos por várias razões:
tência aos pacientes, para que eles, de saúde podem colaborar, orien- – falta de percepção da impor-
então, possam controlar a doença efe- tando, intensificando e reforçando as tância;
tivamente. A educação do paciente mensagens-chave de um modo – falta de familiaridade;
feita pelo médico parece ser uma das coeso e sistemático. As ações coor- – não-concordância com os pro-
formas mais produtivas de assis- denadas, principalmente aquelas tocolos estabelecidos;
tência. Resumidamente, poderíamos voltadas para a aquisição da habilidade – baixo nível de auto-confiança
dizer que o papel do profissional de do paciente para a auto-regulação, po- para usar os protocolos;
saúde na educação é vital para a assis- dem conseguir o controle da doença – pouca confiança nos protoco-
tência dos pacientes com asma. de forma significativa. Estudos têm los para conseguir os resultados
Em sistemas de saúde com de- mostrado a importância de uma desejados;
manda elevada, nos quais nem sem- equipe multiprofissional de saúde que – pouca motivação para a mu-
pre é o mesmo profissional que atue de forma conjunta e com os dança da prática médica;
atende ao paciente ao longo do mesmos objetivos. – dificuldade de seguir as orienta-
período de acompanhamento, fica O profissional de saúde é capaz ções propostas;
comprometida a tarefa de educar. de coordenar o tratamento e a – falta de ações políticas que re-
Se os profissionais fornecem men- educação do paciente apenas com forcem e estimulem a aplicação
sagens ou orientações educacionais cinco ações básicas (Quadro 6). dos protocolos.
diferentes entre si, isto acaba resul-
tando em confusão. Estudos su-
gerem que é o médico quem deve Quadro 6
estar à frente do programa educa- Ações que possibilitam tornar eficiente a
cional por duas razões principais: educação do paciente
– sob a perspectiva do paciente, 1. Garantir que o programa de educação esteja de acordo com o Consenso Nacional
o médico continua a ser o pro- 2. Centralizar o programa de educação na aquisição ou no desenvolvimento da
vedor de maior credibilidade auto-regulação
das orientações terapêuticas; 3. Criar um plano institucional abrangente para o tratamento e para a educação
– os regimes terapêuticos mais 4. Encorajar o uso clínico de comprovadas técnicas educacionais e de comunicação
bem-sucedidos, isto é, os mais 5. Trabalhar com profissionais fora da área de saúde, de modo a coordenar
facilmente cumpridos, são aque- esforços comunitários mais amplos
les resultantes de um processo Fonte: Clark & Partridge, 2002
20 ASMA PEDIÁTRICA

Intervenções direcionadas para oportunidade de um programa de ciente. Começa estabelecendo-se


essas situações poderiam aumentar educação complementar mais abran- uma parceria baseada em com-
o grau de concordância entre a prá- gente. A participação da comunidade, preensão e na comunicação aberta.
tica médica diária e as recomenda- por meio de escolas e creches, deverá Paciente e médico precisam ter os
ções preconizadas pelos especialistas. ser sempre incentivada. mesmos objetivos, e o programa de
Ação 2 – Outra questão de Ação 4 – Os profissionais de educação deve estar totalmente
relevância é não “bombardear” o saúde devem desenvolver habilida- integrado à prática clínica diária.
paciente com uma quantidade enor- des de aconselhamento e de orien- Conseguir um equilíbrio entre a
me de informações. tação aos pacientes e a seus familia- segurança e a eficácia terapêutica, na
Aprendendo como observar, res, usando técnicas de educação e de asma pediátrica, requer um programa
avaliar e experimentar novos caminhos comunicação associadas às caracterís- de educação e um plano terapêutico
para controlar os sintomas respirató- ticas positivas do comportamento do bem fundamentados, e é o grande
rios com a ajuda do médico, os pa- paciente e à melhora do desfecho que desafio que devemos enfrentar.
cientes provavelmente elaborarão estra- será conseguido a longo prazo. Os medicamentos para controle
tégias mais efetivas, que estarão Ação 5 – Os médicos podem da asma, quando utilizados adequa-
motivados a continuar a usar. Além auxiliar os pacientes asmáticos fora do damente, possibilitam um equilíbrio
disso, quando a estratégia não for mais ambiente hospitalar, com participações satisfatório entre segurança e eficácia
efetiva, o paciente saberá como elaborar no planejamento ou na execução de para a maioria dos pacientes. Nas
uma nova, mais eficaz, e novamente programas governamentais ou de crianças, todavia, a habilidade de se
em parceria com o seu médico. organizações voluntárias. É preciso conseguir o uso apropriado das me-
Ação 3 – No consultório, no coordenar e assegurar a concretização dicações e a adesão do paciente ao
ambulatório ou no hospital, é preci- de esforços voltados para o benefício regime prescrito se constitui em uma
so desenvolver um plano amplo de da comunidade, em que os pacientes barreira efetiva ao tratamento. Um
tratamento e de educação do pa- asmáticos se encontram inseridos. tratamento adequado, no cenário
ciente asmático. O segredo de tal É importante integrar o pro- pediátrico, requer uma estrutura de
plano é a utilização do conhecimen- grama de educação com a rotina suporte que inclua não somente o
to e do tempo disponível de cada médica. A equipe de saúde deverá médico e outros profissionais de saú-
um dos profissionais de saúde en- estar atualizada com o conheci- de mas também um envolvimento
volvidos no atendimento. As men- mento vigente. Há evidências de que, da comunidade, em determinadas
sagens-chave são inicialmente intro- mesmo com tempo de consulta populações.
duzidas ao paciente pelo médico, e mais reduzido, é possível manter Os médicos precisam elaborar
ampliadas e reforçadas pelos outros uma boa relação médico–paciente um plano medicamentoso, preferen-
membros da equipe, de um modo cialmente por escrito, em parceria
sinérgico e coordenado. É bem-vin- 10. CONCLUSÃO com o paciente, que deverá ser enco-
da a integração de grupos volun- rajado a desenvolver suficiente habi-
tários ou até mesmo de empresas A educação do paciente asmá- lidade de auto-regulação para que
patrocinadoras, como indústrias far- tico ocorre a cada consulta médica obtenha o sucesso terapêutico dese-
macêuticas, que possibilitarão a mediante a interação médico–pa- jado. Além do mais, estabelecer e pro-
Responsabilidade médica sobre a conscientização dos pais e pacientes (1)
21

gramar consultas de acompanha- sempre é conseguido por várias imperioso que haja um amplo envol-
mento possibilitam aumentar a pro- razões, dentre elas a própria organi- vimento da comunidade na qual
babilidade de manter um contato zação do sistema de saúde. estão inseridas. Escolas e creches,
contínuo com o paciente e, assim, Algumas populações pediá- por exemplo, poderiam ser envolvi-
garantir uma evolução clínica tricas, particularmente aquelas mais das, participando mediante monito-
favorável. carentes e com idade inferior a 5 ramento dos sintomas de asma e
Nas visitas subseqüentes, o plano anos, exigem um suporte social mais administração da medicação pres-
de ação deverá ser reforçado e a ade- abrangente. Intensificar o reconhe- crita, melhorando, assim, não só a
são terapêutica, monitorada. O ideal cimento e o diagnóstico da doença adesão, mas também a evolução da
seria que o clínico conseguisse estar nesses grupos pode ser de grande doença.
disponível para o paciente, de tal benefício. Tão logo se faça o diag- Em última análise, qualquer
forma que pudesse esclarecer qual- nóstico de asma, um plano terapêu- ação que focalize, primariamente, o
quer dúvida surgida, bem como tico deve ser desenvolvido e imple- paciente, o programa de educação
fornecer orientações para as eventuais mentado rapidamente; porém, para e a continuidade dos cuidados de
exacerbações ou outras emergências assegurar uma adesão consistente saúde carrega a premissa básica de
ocorridas devido à asma, o que nem em tais populações especiais, é conquistar a prevenção e o controle.
22 ASMA PEDIÁTRICA

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