Os argumentos principais de Durkheim podem ser melhor apreendidos pela leitura inversa do
texto, pois autor passa os capítulos 2 e 3 inteiros com uma argumentação indutiva circular de
estudo dos ramos do direito para chegar à dedução desses dois modelos de solidariedade ao
final do terceiro capítulo, entre as páginas 107 e 109.
No capítulo 3, o autor passa à digressão sobre outra modalidade de regulação jurídica das
relações sociais, de Funcionamento Restitutivo. Esse sistema caracteriza quase todos os
demais ramos do Direito (exceto o Direito Penal) e dispõem, segundo o autor, sobre ramos dos
valores e relações sociais mais fracos ou apenas parcialmente compartilhados na sociedade,
uma vez que se distribuem em usos particulares das relações. É o caso dos Direitos de
Sucessão, Contratos (direitos obrigacionais) e Propriedade (direitos reais), Administrativo,
Processual..., configuram ramos do direitos cuja especialização funcional regulam atividades
sociais específicas e se caracterizam por sanções e operações restitutivas, cuja integração se dá
por vias menos drásticas e mais funcionais, sem que para isso seja em geral necessário o
recurso à violência e à repressão.
É dessas duas tipologias analíticas funcionais acerca do direito que Durkheim deduz a noção de
solidariedade mecânica e orgânica. Para o autor, a solidariedade mecânica seria típica do
efeito coercivo do social sobre os indivíduos na sociedade, condicionando a ação dos
indivíduos às necessidades de afirmação dos valores da comunidade, cuja indistinção –
análoga ao arranjo molecular das células dos compostos inorgânicos – o autor resolveu
caracterizar como de solidariedade mecânica.
De outro lado, as regulações jurídicas do segundo tipo analisado pelo autor no capítulo 3
foram assimiladas à solidariedade chamada por Durkheim de orgânica, em função da
diferenciação permitida aos indivíduos na dinâmica social dessa modalidade de relações. Para
ele, tais processos estariam relacionados à emergência da divisão social do trabalho, que teria
permitido o arrefecimento das forças de coesão social para permitir o desenvolvimento da
personalidade dos indivíduo e sua diferenciação funcional interna no desempenho das
atividades sociais. Tal dinâmica para Durkheim é particular de sociedades mais complexas, de
onde provêm também a analogia biologizante com a diferenciação funcional das moléculas nas
células, daí o nome solidariedade orgânica.