DOMÉSTICA
Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu
patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade,
como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, o bom nome
etc., como se infere dos arts. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição
Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e
humilhação.
Nesse mesmo entendimento, Gagliano e Pamplona Filho (2014, p. 73)
lecionam que o dano moral “é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa
(seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida
privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente”.
Compreende-se, portanto, que o dano moral atinge o íntimo daquela
pessoa que sofre a agressão, causando-lhe profunda dor, sofrimento e angústia,
lesões estas que afetam seus próprios direitos de personalidade e sua própria
dignidade enquanto ser humano.
Sob esse enfoque, Maria Berenice Dias (2015) destaca que o
desdobramento dos direitos de personalidade faz aumentar as hipóteses de ofensa
a esses direitos, ampliando as oportunidades para o reconhecimento da existência
de danos. Segundo a doutrinadora, pode-se perceber o abalo moral diante de
qualquer fato que possa gerar algum desconforto, aflição, apreensão ou dissabor.
Esta tendência acabou se alastrando às relações familiares, na tentativa de migrar a
responsabilidade decorrente da manifestação de vontade para o âmbito dos vínculos
afetivos.
A partir de sua promulgação, a Lei nº 11.719/2008, conhecida como Lei
Maria da Penha, foi alterado o inciso IV no art. 387 do Código de Processo Penal,
que passou a prever a fixação de valor mínimo de reparação de danos por ocasião
da sentença condenatória. No entanto, esse dispositivo não delimitou a natureza do
dano e também não impôs restrições à sua fixação, deixando ao intérprete a análise
sobre o seu alcance, o que permitiu a possibilidade de fixação da indenização por
dado moral na sentença penal condenatória de violência doméstica.
Nessa perspectiva, mesmo que se trate do ambiente doméstico, que é o
espaço reservado à intimidade, não pode um sujeito violar a dignidade do outro sob
a alegação de que estão dentro do seu lar. Conforme Pita e Oliveira (2012, p. 191),
“não há em nenhuma relação jurídica uma redoma impermeável à eficácia irradiante
dos Direitos Fundamentais, cabendo ao Estado social Democrático de Direito a
extirpação de qualquer mácula”, vez que Constituição Federal de 1988 não perde
sua força normativa dentro dos lares.