1. Introdução
Estados Unidos da América durante quase
Marbury vs. Madison é certamente a 35 anos (1801-1835).2
decisão mais citada nos estudos de controle O leitor dos manuais pátrios de Direito
de constitucionalidade, mesmo na doutrina Constitucional passa a saber que a famosa
constitucional brasileira. Contudo, é talvez decisão, brotada, como que por geração
uma das menos lidas e, em geral, é apenas espontânea da mente de Marshall, inaugura
parcialmente citada,1 sem maiores explica- o controle de constitucionalidade judicial,
ções quanto ao seu contexto histórico. Para difuso e concreto, o qual esquematicamen-
o novel estudante de Direito (e quiçá para te será contraposto ao chamado controle de
inúmeros profissionais experimentados), o constitucionalidade político, concentrado e
controle judicial de constitucionalidade (o abstrato, de origem européia. O surpreso
judicial review do Direito norte-americano) estudante é, então, informado de que o
surge misteriosamente em uma decisão Brasil adota as duas modalidades de con-
proferida há exatos duzentos anos por um trole, conforme previsto na Constituição
enigmático e desconhecido Juiz Marshall, Federal de 1988 (para não irmos mais
mais precisamente o Chief Justice John longe no passado, posto que desnecessário
Marshall, Presidente da Suprema Corte dos aos objetivos do presente trabalho). Da
256 PAULO KLAUTAU FILHO
dúvida influenciaram o projeto político e caberia ao Poder Judiciário. Tal idéia seria
constitucional dos Pais Fundadores ameri- inconcebível, como ainda o é, no sistema
canos. A idéia básica de que o governo parlamentarista inglês, no qual a última
federal deveria dividir seu poder em termos instância recursal, quanto a violações da
de um Poder Executivo, um Poder Legis- common law, está na Câmara dos Lordes
lativo e um Poder Judiciário também havia (House of Lords) e não em qualquer órgão
sido sugerida da própria leitura dos Fun- do Poder Judiciário. Daí que as implicações
dadores sobre a experiência política ingle- políticas de tal inovação no Federalismo,
sa, tanto louvada pelo francês Montesquieu no mecanismo de freios e contrapesos da
no seu Espírito das leis. Acrescente-se, na separação de Poderes e no significado da
separação e distribuição de poderes geradas democracia republicana são de elevada
pela Constituição americana, a criação do monta, e não por outra razão estão presen-
Presidencialismo, com sua necessária alter- tes até hoje. Marshall sabia que estava
nância no poder, como mais um dos me- mexendo em vespeiro, ainda que não de-
canismos visando assegurar direitos funda- monstrasse isso expressamente, como se
mentais e evitar abusos autoritários perpe- verá.
trados pelo Estado contra seus cidadãos. É importante ressaltar que o texto da
Não é à toa que os três primeiros artigos Constituição americana não afirma em
da Constituição de 1787 tratam direta e momento algum o princípio do judicial
respectivamente do Poder Legislativo, do review. Trata-se de uma construção juris-
Poder Executivo e do Poder Judiciário. prudencial iniciada na famosa decisão sob
Por sua vez, o controle judicial da nosso foco. Aqui vale citar os dispositivos
constitucionalidade (judicial review) tem da Constituição de 1787 mais relevantes
uma originalidade histórica ímpar ante as para a discussão, para que cada um possa
duas inovações constitucionais anterior- tirar suas conclusões. Tais dispositivos te-
mente consideradas. O poder exercido por rão acentuado destaque em Marbury vs.
meio do judicial review não era uma idéia Madison:
historicamente familiar. Muito mais do que
um órgão judicial independente exercendo “Artigo III
sua função técnica de aplicação da lei, Seção I. O Poder Judicial dos
trata-se do Judiciário exercendo o poder de Estados Unidos será composto por
afirmar que o Legislativo (o órgão demo- uma Suprema Corte, e por tantas
craticamente representativo da tradição Cortes inferiores quantas o Congresso
Parlamentar Britânica e da concepção possa de tempos em tempos dispor e
madisoniana) desrespeitou a Constituição estabelecer. Os Juízes, tanto da Corte
ao editar determinada lei, devendo, por tal Suprema como das Cortes inferiores,
razão, excluir-se do ordenamento jurídico deverão manter seus Cargos enquanto
o diploma legal sob exame (under review). atuarem com bom Comportamento, e
Trata-se, além do controle judicial de cons- deverão, periodicamente, receber por
titucionalidade, da supremacia judicial (ju- seus Serviços, uma Compensação, a
dicial supremacy) com relação aos demais qual não deverá ser reduzida durante
poderes na interpretação da Constituição. sua permanência no cargo.
Em outros termos, a última palavra sobre Seção II. [1] O Poder judicial
a constitucionalidade de determinada lei deverá se estender a todos os casos,
mento antes de adotá-lo) foi discutida nos pequeno órgão sem representatividade
debates da Convenção de Filadélfia (na popular (no caso, a Suprema Corte) não
qual foi elaborada e votada a Constituição poderia jamais dizer ao povo democrata
norte-americana). Ali, houve freqüente dos Estados Unidos que as leis feitas por
defesa, particularmente por James Madi- seus representantes eram inválidas. Ele não
son, da necessidade de existência de um acreditava que os cidadãos republicanos
Poder Constitucional que pudesse invalidar concordariam algum dia em conceder tal
leis Estaduais inconsistentes com a Cons- poder para o Judiciário. Também não con-
tituição (sempre o temor das facções ma- fiava no Judiciário. Ele queria um “órgão
joritárias). Em primeiro lugar, Madison político”.9
sugeriu a idéia da chamada Negativa Con- Portanto, além das questões históricas,
gressual (Congress Negative), segundo a desde sempre houve um arraigado debate
qual o Congresso Nacional deveria ter o político acerca da legitimidade do judicial
poder de invalidar leis estaduais inconsti- review. Além disso, quando Marshall pro-
tucionais. Em segundo lugar, deveria haver feriu sua decisão em Marbury, o País vivia
algum mecanismo que assegurasse a cons- uma crise política que deve ser considerada.
titucionalidade dos atos normativos do
O sistema partidário norte-americano
Congresso. Para tanto, Madison propôs o
surgiu na década de 1790. Inicialmente,
Conselho de Revisão (Council of Revision),
logo após a Constituição de 1787, pratica-
o qual consistiria em um ramo independen-
mente todos os Fundadores estavam no
te do governo, formado por alguns juízes
Partido Federalista, sob a liderança do
e por alguns políticos. A aprovação de sua
Presidente George Washington, o qual
constitucionalidade, por esse Conselho, seria
governou de 1789 a 1797. Assim, estavam
condição de validade para qualquer lei
no gabinete do primeiro Presidente norte-
congressual.
americano políticos do porte de Alexander
Portanto, Madison concordava com a Hamilton, como Secretário do Tesouro
necessidade de um mecanismo de controle (Secretary of Treasure); e de Thomas Je-
de constitucionalidade, mas para ele tal fferson, como Secretário de Estado (Secre-
mecanismo deveria ser eminentemente tary of State), assessorado juridicamente
político. Contudo, nenhum dos dois meca- por James Madison.
nismos sugeridos por Madison foi aceito na Porém, após poucos anos, houve um
Convenção. Talvez essa tenha sido a pílula racha político, supostamente motivado por
mais amarga que ele tenha tido que engolir discordâncias acerca de política econômica
ao longo dos trabalhos constituintes. Vários e de relações internacionais. Hamilton
representantes que compareceram à Con- defendia a criação de um Banco Nacional
venção Constituinte teriam entendido que com a função de fomentar o desenvolvi-
talvez fosse melhor deixar esse controle a mento econômico e comercial nos diversos
cargo do Judiciário (esse é um argumento Estados e nos mais distantes rincões da
histórico em favor da decisão posterior de Federação. Jefferson defendia um Libera-
Marshall em Marbury). lismo mais extremado, sustentando que o
Madison discordava radicalmente que Estado não deveria interferir nesse domí-
um “corpo técnico” como o Judiciário nio, nem investir dinheiro público em
estivesse à altura de tarefa de tamanha questões que deveriam ser deixadas ao livre
relevância política. Ele pensava que um desenvolvimento do mercado. Além disso,
cionariedade são políticas. Dizem respeito recusa a lhe conferir tal posse, a qual é uma
à Nação, e não a direitos individuais, e clara violação de seu direito, deverá encon-
sendo tais questões políticas confiadas ao trar remédio nas leis de seu País.
Executivo, a decisão do Executivo é con- Resta investigar se ele tem direito ao
clusiva. Pode-se exemplificar tal observa- específico remédio que pleiteia. Isso de-
ção com a lei do Congresso que estabelece pende: 1. Da natureza do mandado (writ)
o departamento de relações exteriores (de- pleiteado; e 2. Do poder dessa Corte.
partment of foreign affairs). Os atos do 1. A natureza do writ. Esse writ, se
titular desse departamento, tal como defi- concedido, seria dirigido a um oficial do
nido pela lei que o criou, deverão se dar governo, e a ordem a ele seria, para usar
de conformidade com a vontade do presi- as palavras de Blackstone, “fazer uma coisa
dente. Ele (o ministro de relações exterio- particular ali especificada, a qual diz res-
res) é um mero órgão pelo qual a vontade peito ao seu cargo e função, a qual a Corte
presidencial é expressa. Os atos de tal previamente havia determinado, ou pelo
servidor, no exercício de funções relativas menos supõe seja consonante ao direito e
ao cargo, não podem nunca ser examinados à justiça”. Ou nas palavras de Lord Mans-
pelas Cortes. Mas quando a legislatura field, o peticionário, nesse caso, tem o
impõe sobre o mesmo oficial outras obri- direito de exercer um cargo público e é
gações; quando ele é dirigido peremptori- mantido afastado do gozo de tal direito.
amente pela lei para praticar determinados Tais circunstâncias, certamente, estão pre-
atos; quando os direitos de indivíduos sentes nesse caso.
dependem destes atos; ele torna-se então o
Ainda assim, para admitir que o man-
oficial da lei; ele é responsável perante as
damus é o remédio adequado, a autoridade
leis por sua conduta; e não pode discricio-
a quem ele deve se dirigir, deve ser uma
nariamente desconsiderar direitos consoli-
dados de outros. a qual, dentro dos princípios legais, esse
mandamus possa ser dirigido; e a pessoa
A conclusão desse raciocínio é de que, pleiteando o writ não deve ter qualquer
quando os ministros (heads of depart- outro remédio legal específico.
ments) são agentes políticos ou de confi- Primeiramente, quanto à autoridade a
ança do Executivo, simplesmente para quem o mandado deve ser dirigido. A íntima
executar a vontade do presidente, ou me- relação política, existente entre o Presidente
lhor, para atuar em casos nos quais o dos Estados Unidos e os ministros (heads
Executivo possui discricionariedade cons- of departments), necessariamente torna
titucional ou legal, nada pode ser mais qualquer investigação legal dos atos de um
claro do que seus atos poderem apenas ser desses altos oficiais peculiarmente incômo-
politicamente avaliados. Mas quando uma da, assim como delicada; além de provocar
obrigação específica é determinada por lei, alguma hesitação com respeito à proprieda-
e direitos individuais dependem do cumpri- de de entrar em tal investigação. As impres-
mento de tal obrigação, parece igualmente sões são freqüentemente recebidas sem muita
claro que o indivíduo que se considera reflexão ou exame, e não é bom, que em um
prejudicado tem o direito de socorrer-se de caso como o presente, a assertiva, por um
um remédio previsto pelas leis de seu País. indivíduo, de suas demandas legais em uma
Assim, é opinião da Corte de que Corte de Justiça, clamando que é obrigação
Marbury tem o direito a tomar posse; a da Corte atendê-las, possa à primeira vista
ser considerada por alguns, como uma ten- posse do demandante; e só resta saber se
tativa (da Corte) de invadir o gabinete esta Corte é o órgão competente para
ministerial, imiscuindo-se nas prerrogativas expedir o writ.
do Executivo. A lei (act) que estabelece as Cortes
A Suprema Corte raramente necessita judiciais dos Estados Unidos autorizam a
negar as pretensões relativas à sua jurisdi- Suprema Corte “a expedir ordens manda-
ção. Uma extravagância, tão absurda e mentais (writs of mandamus) em casos
excessiva, não poderia ser considerada por garantidos pelos princípios e costumes de
um momento sequer. O âmbito de atuação Direito, a qualquer Corte oficial, ou a
da Corte é tão-somente decidir a respeito pessoas no exercício de cargos, sob a
dos direitos individuais, e não indagar autoridade dos Estados Unidos”.15
sobre como o Executivo, ou os oficiais do Sendo o Secretário de Estado (Secretary
Executivo, cumprem suas obrigações na of State) uma pessoa exercendo um cargo
esfera do que lhes é discricionário. As sob a autoridade dos Estados Unidos, ele
questões de natureza política, ou submeti- está precisamente dentro da descrição do
das pela constituição e pelas leis ao Exe- texto legal; a se esta Corte não estiver
cutivo, não podem ser trazidas a esta Corte. autorizada a emitir um mandado contra tal
Mas, se a questão não é esta; se longe oficial, só poderá ser por que a lei (Judi-
de implicar numa intrusão nos segredos do ciary Act) é inconstitucional e, portanto,
gabinete, ela diz respeito a um documento, absolutamente incapaz de conferir a auto-
o qual, na forma legal, encontra-se nos ridade e as obrigações que seus termos
arquivos públicos, e a lei assegura o direito buscam conferir e determinar.
a uma cópia do referido documento, me- A Constituição atribui o poder judicial
diante o pagamento de dez centavos; se não dos Estados Unidos a uma Suprema Corte
há interferência em matéria discricionária; e a tantas Cortes inferiores quantas o
o que pode haver no elevado cargo do Congresso, de tempos em tempos, decidir
oficial, que justifique negar a um cidadão estabelecer. Esse poder é expressamente
a busca de seus direitos perante uma Corte estendido a todos os casos surgidos sob as
de Justiça, ou que justifique a negativa da leis dos Estados Unidos;16 e, conseqüente-
Corte em ouvir a sua reclamação; ou ainda mente, de alguma forma, talvez seja exer-
de deixar de emitir uma ordem judicial, cido no presente caso; porque o direito
determinando o cumprimento de uma obri- pleiteado é dado por uma lei dos Estados
gação, a qual independe de discricionari- Unidos.
edade do Executivo, mas que está baseada Na distribuição desse poder, é declarado
em leis específicas do Congresso e nos que “a Suprema Corte deverá ter jurisdição
princípios gerais do direito? originária em todos os casos envolvendo
Quando um ministro é obrigado pela lei embaixadores, outros ministros públicos e
a praticar um determinado ato que afete cônsules, e naqueles nos quais um Estado
direitos individuais absolutos, não há fun- deverá ser parte. Em todos os demais casos
damentos para justificar que as Cortes do antes mencionados, a Suprema Corte deve-
País não devam exercer sua obrigação de rá ter jurisdição recursal (appellate juris-
julgar a causa. diction)”.17
Este é, portanto, um claro caso de Foi sustentado oralmente que, como a
cabimento do mandamus para garantir a atribuição original de jurisdição, à Supre-
aquelas vítimas a quem a Constituição por ele inspecionada? Se esse for o real
tenta preservar? estado das coisas, será nada mais do que
“Nenhuma pessoa”, diz a Constituição, uma pilhéria solene. Prescrever esse jura-
“será condenada por traição à pátria, salvo mento, ou prestá-lo, será em ambos os
mediante o depoimento de duas testemu- casos um crime.
nhas com relação a esse ato notório, ou Não é, também, inteiramente indigno de
mediante sua confissão em sessão aberta no observação, que, ao declarar qual será a lei
tribunal”. Aqui, a linguagem da Constitui- suprema do País, a própria Constituição é
ção é endereçada especialmente às Cortes. mencionada em primeiro lugar; e não as
Prescreve diretamente para elas uma regra leis dos Estados Unidos, em geral, mas
de evidência que não deve ser ultrapassada. somente aquelas apenas que forem feitas
Se o Legislativo pudesse mudar esta norma, em obediência à Constituição, gozarão
e declarar uma testemunha ou confissão daquele status. Portanto, a fraseologia
fora do tribunal, suficientes para convicção, particular da Constituição dos Estados
deve o princípio constitucional ceder ao ato Unidos confirma e fortalece o princípio,
legislativo? considerado essencial a todas as Constitui-
Desta e de muitas outras seleções que ções escritas, de que uma lei em choque
podiam ser feitas, é evidente que os autores com a Constituição é nula e que os tribu-
da Constituição contemplaram aquele ins- nais, assim como outros departamentos,
trumento como uma norma para o governo são limitados por aquele instrumento.
das Cortes, assim como da legislatura. A norma deve ser anulada (The rule
Por que, por outro lado, devem os juízes must be discharged).
jurar defendê-la? Esse juramento certamen-
te aplica-se, de certo modo, à sua conduta 4. Interpretando o caso
em seu caráter oficial. Quão imoral impor-
lhes o juramento, se fossem usados como Reiteramos que a interpretação do Di-
instrumentos, e instrumentos conscientes, reito deve levar em conta pelo menos texto
da violação do que eles juraram defender! legal, a história, as regras de hermenêutica
O juramento do cargo, também imposto e a teoria política e moral.
pela legislatura, demonstra completamente No caso em questão procure considerar
a opinião legislativa sobre o assunto. Ei-lo: esses aspectos ao responder as questões
“Juro solenemente que administrarei a sugeridas. A tarefa de interpretar é sua.
justiça igualmente entre as pessoas, e farei Pode ser realizada individualmente, ou em
justiça igual ao pobre e ao rico; e que grupo ou na sala de aula sob a orientação
cumprirei, fiel e imparcialmente, todos os do professor, mas o importante é que o
deveres a mim atribuídos..., conforme o exercício seja realizado pelo aluno. Por
melhor de minha capacidade e compreen- isso, optamos por não apresentar nesse
são, de acordo com a Constituição e as leis artigo nossa própria interpretação sobre o
dos Estados Unidos”. caso. É certo que as questões sugeridas dão
Para que um juiz jura cumprir suas algumas “dicas” sobre nossa visão, mas o
obrigações conforme a Constituição dos trabalho interpretativo agora é do leitor.
Estados Unidos, se essa Constituição não
caracteriza regra alguma para seu governo? 1. O que Marshall decidiu sobre o
Se está fechada sobre ele, e não pode ser pedido de Marbury? Sua decisão
Roberto Barroso, da Universidade do Estado do Section 2.[1] The judicial Power shall extend
Rio de Janeiro (UERJ) (Interpretação e aplica- to all Cases, in Law and Equity, arising under this
ção da Constituição) e Eros Roberto Grau, da Constitution, the Laws of the United States, and
Universidade de São Paulo (USP) (Direito, Treaties made, which shall be made, under their
conceitos e normas jurídicas e O direito posto Authority; – to all Cases affecting Ambassadors,
e o direito pressuposto). other public Ministers and Consuls; – to all Cases
6. Cabe esclarecer que para a elaboração do of admiralty and maritime Jurisdiction;-to Con-
histórico aqui apresentado utilizamo-nos sobre- troversies to which the United States shall be a
tudo das seguintes obras: o casebook Constitu- Party; – to Controversies between two or more
tional Law, dos Professores da Stanford Law States; – between a State and Citizens of another
School, Katheleen M. Sullivan e Gerald Gunther State; – between Citizens of different States; –
(2001); o clássico manual de Direito Constitu- between Citizens of the same State claiming
cional americano American constitutional law, Lands under Grants of different States, and be-
doPprofessor da Harverd Law School, Lawren- tween a State, or the citizens thereof, and foreign
ce Tribe; de uma compilação de artigos sobre States, Citizens or Subjects.
Direito americano, Fundamentals of American [2] In all Cases affecting Ambassadors, other
law, escrita por professores da Law School da public Ministers and Consuls, and those in
New York University e organizada pelo Profes- which a State shall be Party, the supreme Court
sor Alan Morrison; e do esclarecedor livro shall have original Jurisdiction. In all the other
Foundations of American constitutionalism, do Cases before mentioned, the supreme Court
Professor de Direito Constitucional da Law shall have appellate Jurisdiction, both as to Law
School da New York University, David Richards. and Fact, with such Exceptions, and under such
As indicações completas encontram-se nas regulations as the Congress shall make”.
Referências Bibliográficas. Por não se tratar (...)
exatamente de um artigo sobre história dos “Artigo VI
Estados dispensamos o rigor da consulta a (...)
fontes primárias e apresentamos uma interpre-
[2] This Constitution, and all the Laws of
tação pessoal daquele momento, fundamentada
the United States which shall be made in
nos respeitados trabalhos já referidos. Esse
Pursuance thereof; and all Treaties made, or
esclarecimento visa também evitar o excesso de
which shall be made, under the Authority of the
notas explicativas, uma vez que nosso principal
United States, shall be bound thereby, any
objetivo é chegar na leitura da decisão de
Thing in the Constitution or Laws of any State
Marshall.
to the contrary notwithstanding.
7. Os Federalist Papers são a compilação de
uma série de artigos escritos por James Madi- [3] The Senators and Representatives before
son, Alexander Hamilton e John Jay e publica- mentioned, and the Members of several State
dos em jornais do Estado de Nova York, nos Legislatures, and all executive and judicial
debates públicos que antecederam à Convenção Officers, both of the United States and of the
de Filadélfia, reunida para elaborar a Constitui- several States, shall be bound by Oath or
ção Americana. Affirmation, to support this Constitution; but no
religious Test shall ever be required as a
8. Tradução do autor. Segue o texto original:
Qualification to any Office or public Trust under
“Article III Section I. The judicial Power of the
the United States.”
United States, shall be vested in one supreme
Court, and in such inferior Courts as the 9. Cf. Richards (1989), p. 105-130.
Congress may from time to time ordain and 10. Tradução do autor. Segue o texto original:
establish. The Judges, both of the supreme and “Amendment I (1791). Congress shall make no
inferior Courts, shall hold their Offices during law respecting an establishment of religion or
good Behavior, and shall, at stated Times, prohibiting the free exercise thereof; or abrid-
receive for their services, Compensation, which ging the freedom of speech, or of de press;...”
shall not be diminished during their Continu- 11. Segundo o Black’s Law Dictionary, o
ance in Office. oath of office é: “Um juramento feito por uma
pessoa prestes a assumir os deveres de um cargo states, in the cases herein after specially provi-
público, pelo qual a pessoa promete cumprir ded for; and shall have power to issue writs of
obrigações do cargo de boa fé” (Tradução do prohibition to the district courts, when proce-
autor). eding as courts of admiralty and maritime
12. Baseamos a reconstituição do contexto jurisdiction, and writs of mandamus, in cases
das nomeações judiciais nas notas de Sullivan warranted by the principles and usages of law,
e Gunther (2001), p. 3-13. to any courts appointed, or persons holding
13. A tradução do julgado é do autor do office, under the authority of the United States”
presente artigo, com base no texto integralmente (destacamos o trecho traduzido – Nota do
reproduzido no casebook: SULLIVAN, Kathle- Tradutor).
en M. e GUNTHER, Gerald. Constitutional 16. Ver Artigo III, Seções I e II, previamente
Law. New York: Foundation Press, 14ª ed., citado e traduzido (Nota do Tradutor).
2001. 17. Artigo III, Seção II [2] (Nota do Tradu-
14. Cranch foi o primeiro volume dedicado tor).
integralmente a registrar e publicar as decisões da 18. Bill of Attainder era uma espécie de ato
Suprema Corte Americana (à esquerda ia indica- legislativo, usada pelo Parlamento britânico,
do o volume e à direita, a página). Contudo, só através do qual a pena de morte era imposta a
foi publicado em 1804. Os casos da década de alguém sem julgamento. Eram usados também
1790 foram reunidos e publicados pela iniciativa para punir, sempre sem julgamento, determina-
de A. J. Dallas em volumes que também incluíam da pessoa ou grupo, privando-lhes de seus
decisões da Corte Estadual da Pennsylvania. direitos civis e, muitas vezes, estendendo a
Somente em 1816, o Congresso decidiu criar punição para os descendentes dos condenados
uma publicação oficial reunindo as decisões da (daí a tradução, sugerida por alguns autores,
Suprema Corte. Em 1884, a Corte decidiu que pelo termo “decreto de proscrição”). A Cons-
suas decisões seriam citadas somente pelo núme- tituição americana proíbe expressamente que o
ro da publicação oficial. Daí, a forma entre parên- Congresso edite bills of attainder (Art. I,
tesis: (5 U. S.). (Nota do Tradutor). Parágrafo 9.º, Cláusula 3; Art. I, Parágrafo 10.º,
15. Conforme dispositivo da Seção 13 do Cláusula 1), desde então considerados como
Judiciary Act de 1789, no original: “The Supre- gravemente violadores dos direitos fundamen-
me Court shall also have appellate jurisdiction tais. Na Grã-Bretanha, há muito também que já
from de circuit courts and courts of the several foram excluídos do ordenamento jurídico.