FICHAMENTO I
JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 749-
768; 864-888.
“Todavia, a tese do reinado dos filósofos, que parecia apenas começar por se estabelecer
como premissa para a realização destas exigências, volta a conduzir-nos por si própria
ao problema da educação dos ‘governantes’, uma vez que a ‘salvação do temperamento
filosófico’ manifesta-se essencialmente como o problema da sua educação adequada.”
(p. 864)
“A norma suprema ou a ‘imagem modelo’, à luz da qual delineia a paidéia dos
‘guardiões’, ele a denomina a maior lição (...), por ser o conhecimento mais difícil de
compreender e ao mesmo tempo a mais importante aquisição do governante do Estado.”
(p. 865)
“Na passagem da República em que fundamenta a necessidade de dar uma educação
especial aos governantes, recorda ele que, ao tratar atrás do problema das quatro
virtudes, ao qual vai dar a educação dos ‘guardiões’, encarou aquele estudo como
puramente esquemático e provisório, declarando que para chegar a um conhecimento
completo da coisa seria preciso fazer um desvio mais amplo.” (p. 866)
“Mas ao abordar a educação verdadeiramente filosófica volta a ele e exige que os futuros
‘governantes’ façam agora este desvio, já que sem ele não chegariam nunca ao
conhecimento ‘da maior lição’”. (p. 866)
“Esta meta, que até agora só tinha sido mencionada em termos genéricos como a maior
lição, não é senão a ideia do Bem, isto é, aquilo em virtude de que tudo o que é justo,
belo, etc., é proveitoso e salutar.” (p. 867)
“Mas para marcar a importância que a ideia do bem tem para a cultura dos governantes,
não precisamos determinar previamente a sua essência. Basta atentarmos para a
característica mais geral do Bem, da qual todos têm consciência (...) para
compreendermos que não poderíamos entregar a direção do Estado a um guardião que
ignorasse a solução deste problema dos problemas.” (p. 868)
“Na República, a ideia do Bem é a norma absoluta que serve de base à noção da Filosofia
como suprema ‘arte da medida’, a qual aparece desde muito cedo no pensamento
platônico e nele se mantém até o final.” (p. 876)
“O Bem absoluto, considerado a base existencial de todos os tipos de arete do mundo,
tem de participar também na eudaimonia ou, antes, ser a sua fonte última.” (p. 877)
“Em lugar dos modelos de arete em forma mortal que a antiga paidéia contida nas obras
dos poetas oferecia aos homens, é o Bem divino como paradigma por antonomásia que
a nova paidéia filosófica de Platão apresenta na República.” (p. 877)
“Uma antologia que culmina na ideia do Bem: eis a metafísica da paidéia. O ser de que
Platão fala não está desligado do Homem e da sua vontade. A ideia do bem, que enche
de sentido e de valor o mundo das ideias de Platão, surge como a meta natural de todas
as aspirações e o seu conhecimento exige do Homem e dos seus atos uma atitude
adequada.” (p. 879)
“O conhecimento do verdadeiro Ser representa ainda a passagem do temporal ao eterno.
A última coisa que na região do conhecimento puro a alma aprende a ver, ‘com esforço’,
é a ideia do Bem. Mas, uma vez, que aprende a vê-la, tem necessariamente de chegar à
conclusão de que esta ideia é a causa de tudo o que no mundo existe de belo e justo, e
de que forçosamente deve tê-la contemplado quem quiser agir racionalmente tanto na
vida privada como na pública.” (p. 885-886)
“(...) Platão aponta-a expressamente como uma alegoria da paidéia. Para falar mais
exatamente, apresenta-a [a alegoria da caverna] como uma alegoria da natureza humana
e da sua atitude perante a cultura e a incultura, a paidéia e a apaideusia.” (p. 887)
“Faz-nos viver pelo sentimento a dinâmica deste pathos e põe em relevo, na
metamorfose operada na alma, a obra de libertação de conhecimento, que ele chama
paidéia, no mais alto sentido da palavra.” (p. 887-888)