Para ele uma força irracional e poderosa dominava o Eu e o mundo. Essa força era a vontade,
a vontade irracional de viver e persistir custe o que custar. O Eu e a razão são marionetes da
vontade. O mundo não é apenas representação (os fenômenos), mas vontade e
representação. A relação conflituosa de Schopenhauer com esses “anos selvagens” é a
linha mestra dessa obra de Safranski.
Nesses anos selvagens e ingênuos, somente Schopenhauer percebeu a verdadeira força que
move do mundo. A razão, tão venerada pelos filósofos desse período, para Schopenhauer
não passava de um “livro caixa” que registra entradas e saídas de dados. Ela tinha utilidade,
mas era superestimada, como é até hoje apesar de Nietzsche e Freud. A razão funda a
ciência, cura as doenças, constrói cidades e máquinas maravilhosas. Mas a vontade lança
as bombas, declara as guerras, domina, destrói e mata. É vontade de poder (e de viver) que
disfarça-se no discurso político e religioso e direciona a irracionalidade da razão. A vontade
não é apenas a energia que impulsiona o poder, o ódio e o egoísmo, mas também
comanda os sublimes atos de amor e entrega. Em tudo a vontade é força motriz. Tomado
de maravilhamento filosófico, Schopenhauer afirmou a fragilidade da razão. Ela nunca
esteve no controle. A razão é venerada pelos que pouco amaram ou pouco odiaram, pelos
que nunca desejaram ardentemente. A vontade irracional é o que nos agarra à vida.
Para ele, o ser humano seria essencialmente vontade, o que o levaria a desejar sempre mais,
resultando em uma insatisfação constante. Essa vontade, que se expressa nas ações humanas,
seria parte de uma vontade que anima todas as coisas da natureza. E, se a essência do ser
humano e do mundo é essa vontade insaciável, Schopenhauer identifica aí a origem das lutas
entre os indivíduos, da dor e do sofrimento.
A história é, para esse filósofo, a história de lutas, em que a infelicidade é a norma. Temos,
portanto, a recusa da concepção racionalista de história elaborada por Hegel, segundo a qual
ela possui um sentido e progride em direção a uma liberdade maior.
Para Schopenhauer, apenas pela arte e ascese – ou seja, o abandono de si – pode o ser
humano libertar-se da dor.
Sendo assim, o que o homem efetivamente conhece? As coisas como elas são em
si mesmas ou como lhe aparecem? À luz de Kant, vemos que o homem, em
razão de sua própria estrutura cognitiva (que já traz consigo as formas
essenciais constituintes dos objetos), só pode conhecer os fenômenos, isto é,
aquilo que do objeto lhe aparece, e não o objeto tal como é em si mesmo, isto é,
a coisa-em-si.
1 / O que somos:
Saúde é a condição sine qua non da felicidade. Ser é o que mais importa e
“acompanha-nos ao longo da vida” (ao contrário de riqueza ou reputação que
podem mudar).
– Para o homem normal, a vida é para passar o tempo para aumentar sua riqueza
externa. No entanto, é efêmera, já que sua vida é uma eterna insatisfação. Incide
sobre as forças reprodutivas (comer, sexo) e os prazeres da irritabilidade (viagens,
guerra). Em outras palavras, o homem normal foge, ele vive fora de si mesmo.
– Para o homem intelectual, a vida é solidão escolhida que enriquece o interior, ele
é “autossuficiente” e não tem nada a esperar dos outros. Suas atividades são as
de sensibilidade: pensar e contemplar, que são “centro de gravidade que cai
dentro de si mesmo”
2 / O que temos:
O homem normal baseia sua vida na acumulação, o trabalho que lhe permite
aliviar o tédio
Em outras palavras, o homem sábio deve viver sozinho, no orgulho de seu próprio
valor.