Moral
Maiêutica A ética de Sócrates reside no
conhecimento e na felicidade. Como assim
O indíviduo é induzido por seu próprion
conhecimento? Aquele que comete o mal crê
raciocínio, ao conhecimento ou à solucão de sua praticar algo que o leve à felicidade, por ter seu
dúvida. Surge então, um novo conhecimento, um juízo enganado por meros "achismos". Por isso é
aprofundamento que não chega ao preciso, antes, conhecer a si mesmo. Depois de
conhecimento absoluto. O seu sentido de humor dotado de conhecimento, aí, sim, valorar acerca
confundia os seus interlocutores, que acabavam do bem e do mal. A felicidade, para ele, não se
por confessar a sua ignorância, da qual Sócrates resumia a bens materiais, riquezas, conforto
ou status perante os demais homens. Conforme
extraía sabedoria.
Bittar e Almeida (p. 101): "O cultivo da
verdadeira virtude, consistente no controle
Ironia efetivo das paixões e na condução das forças
Se confunde o conhecimento sensível e o humanas para a realização do saber, é o que
dogmático. Sócrates costumava iniciar uma conduz o homem à felicidade." Sua ética é,
conversação fazendo perguntas e obtendo dessa portanto, teleológica, ou seja, tem como fim da
ação a felicidade.
forma opiniões do interlocutor, opiniões que ele
aparentemente aceitava. Depois, por meio de
Para Sócrates o coletivo tinha
um interrogatório hábil, desenvolvia as opiniões
primazia sobre o individual, mas se opunha à
originais do tal interlocutor, mostrando a tolice concepção de que Direito é a expressão dos mais
e os absurdos das suas opiniões superficiais, fortes, sendo melhor sofrer uma injustiça do que
através das consequências contraditórias ou cometê-la. A filosofia, de acordo com Sócrates, é
absurdas destas mesmas opiniões e a confessar buscar a maior perfeição possível seja na vida,
o seu erro ou a sua incapacidade para alcançar quanto na morte. "Para ele, a cidade e suas leis
são necessárias e respondem às exigências da
uma conclusão satisfatória.
natureza humana. A obediência às leis da cidade
é um dever sempre e para todos. Por isso
Conhece-te a i mesmo Sócrates submete-se à condenação da cidade,
O "EU" socrático tem como ponto de partida ainda que reconhecendo a injustiça de que é
para o conhecer a frase " conhece-te a ti vítima", disserta Leite (p. 24-25).
mesmo". Sócrates fez da filosofia Complementam Bittar e Almeida (p. 102): "E
isso porque a ética socrática não se aferra uma lei positiva (externa), mas somente criticá-
somente à lei e ao respeito dos deveres la, sem desobedecê-la, evitando, assim, o caos
humanos em si e por si. Transcende a isso tudo: por levar outras pessoas a desobedecê-la. Dizem
inscreve-se como uma ética que se atrela ao Bittar e Almeida (p. 108): "Em outras palavras,
porvir (post mortem). (...) Isso ainda significa para Sócrates, com base num juízo moral, não se
dizer que a verdade e a justiça devem ser podem derrogar leis positivas. O foro interior e
buscadas com vista em um fim maior, o bem individual deveria submeter-se ao exterior e
viver post mortem. E não há outra razão pela geral em benefício da coletividade." Prossegue
qual se deseje filosofar senão a de preparar-se Leite (p. 25): "Efetivamente, a justiça, para
para a morte." Sócrates, consiste no conhecimento e, portanto,
na observância das verdadeiras leis que regem
Embora tivesse conhecimento de que as relações entre os homens, tanto das leis da
a lei humana (nomos) – artifício humano e não cidade como das leis não-escritas. Segundo
da natureza – poderia ser justa ou injusta, Sócrates, que propugna pela obediência
Sócrates pregava a irrestrita obediência à lei. O incondicional às leis da cidade, o justo não se
Direito – conjunto de leis, em termos simplistas esgota no legal, posto que acima da justiça
– seria um instrumento de coesão social que humana existe uma justiça natural e divina."
levaria à realização do bem comum, entendido
como o "desenvolvimento integral de todas as Bittar e Almeida (p. 109) enumeram
potencialidades humanas, alcançadas por meio os motivos que levaram Sócrates a optar pelo
do cultivo das virtudes", ensinam Bittar e suicídio: "concatenação da lei moral com a
Almeida (p. 104). A lei seria elemento de ordem legislação cívica; o respeito às normas e
no todo da cidade (pólis) e, por isso, não deveria à religião que governavam a comunidade, no
ser contrariada, mesmo que se voltasse contra si sentido do sacrifício da parte pela subsistência
mesmo, sob pena de se instalar a desordem do todo; a importância e imperatividade da lei
social. "O homem integrado enquanto integrado em favor da coletividade e da ordem do todo; a
ao modo político de vida deve zelar pelo substituição do princípio da reciprocidade,
respeito absoluto, mesmo em detrimento da segundo o qual se respondia ao injusto com
própria vida, às leis comuns a todos, às normas injustiça, pelo princípio da anulação de um mal
políticas (nómos póleos)", completam Bittar e com o seu contrário, assim, da injustiça com um
Almeida (p. 106-107). ato de justiça; o reconhecimento da
sobrevivência da alma, para um julgamento
O indivíduo nas suas elucubrações definitivo pelos deuses, responsável pelo
poderia questionar os critérios de justiça de verdadeiro veredito dos atos humanos."