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Contrôle da natalidade
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MERCEDES ARZÚ WILSON


CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação
Câmara Brasileira do Livro, SP

Wilson, Mercedez Arzú.


W72c Controle da natalidade pelo método da ovulação / Merce-
dez Arzú Wilson; [tradução de Chafi Savaya; revisão de José
Joaquim Sobral]. - São Paulo: Edições Paulinas, 1982.
(Coleção planejamento familiar)
Bibliografia.
1. Planejamento familiar natural - Método da ovulação.
I. Título.
17. CDD-613 . 943
18. -613.9434
82-1678 NLM-WP 630

fndices para catálogo sistemático:


1. Método da ovulação: Controle da natalidade
613. 943 (17.) 613. 9434 (18.)

LIVROS SOBRE O MÉTODO DA OVULAÇÃO


(Edições Paulinas)

* Novo método ... Atlas - Dr. Billings-M. Catarinich


* O método da ovulação (Roteiro para instrutores) - G.
Gibbons
* Amar de corpo e alma - Dr. Billings
* Planejamento natural da família - Dr. Billings
* Como planejar sua família naturalmente (folheto)
* Planejamento familiar com o método da ovulação
G. Gibbons-D. Santamaria ~
* Integridade na transmissão da vida - G. Gibbons-D.
Santamaria
* Generosidade e criatividade no amor (Conferências do
Primeiro Congresso Internacional para a Família das
Américas, Guatemala)
* O pobre e sua família - CNBB-Norte li
* O método Billings - Dr~ Evelyn Billings
* Controle da natalidade pelo método da ovulação -
Mercedes Arzu Wilson
Título original
The Ovulation Method of Birth · Regulation
The Latest Advances for Achieving or Postponing Pregnancy - Naturally
© Van Nostrand Reinhold Company

Tradução
Chafi Savaya

Revisão
José Joaquim Sobral

Revisão científica
Ir. Maria José Torres

© Edições Paulinas, São Paulo


Reservam-se todos os direitos de reprodução
Mercedes Arzú Wilson

Controle da natalidade
pelo método
daovulacão
-
AS ÚLTIMAS CONQUISTAS
PARA A OBTENÇÃO OU ADIAMENTO
DE UMA GRA V/DEZ
POR MEIOS NATURAIS

Edições Paulinas
Para todos os membros de minha família,
que me deram seu incansável apoio e encorajamento,
e a todos os cientistas e mestres
que voluntariamente deram seu tempo
e seu esforço para aperfeiçoar este método
e para divulgar este conhecimento
para toda mulher no mundo.

/
PREFÁCIO

De 1968 a 1970, por causa do envolvimento de meu marido com


a exploração do petróleo, minha família e eu vivemos em Melbourne,
Austrália. Foi lá, em 1969, que ouvi pela primeira vez a respeito do
Método da Ovulação para o Planejamento Natural da Família - de
um pequeno artigo nas últimas páginas do The Age, jornal de Mel-
bourne. O artigo descrevia um novo método natural de controle da
natalidade desenvolvido por uma equipe de marido e mulher, de
Melbourne, os Drs. John Billings e Evelyn Billings, e falava sobre as
aulas que foram dadas sobre o assunto. Meu marido e eu fomos a
umas destas aulas e o que aprendemos revolucionou nossas idéias e
nosso modo de vida.
Em quarenta e cinco minutos de aula, a Dr~. Evelyn Billings
delineou o Método da Ovulação, explicando que está baseado no fato
de que durante os dias em que uma mulher está apta a conceber, ela
sempre tem uma secreção mucosa particular das glândulas do colo
do útero que ela é capaz de reconhecer. Uma vez que a secreção do
muco anuncia a aproximação da ovulação, o casal, segundo seu pró-
prio critério, tem relações ou se abstém delas durante o período fér-
til para conseguir ou protelar uma gestação, sem ter que usar anti-
concepcionais orais ou mecânicos de nenhuma espécie.
Nas semanas que se seguiram àquele encontro, meu interesse
pelo método aumentou, por razões pessoais e porque eu via que o
método seria de grande valor para o povo em meu país de origem,
a Guatemala, bem como em outros países em desenvolvimento.
No fim de 1970, enquanto aguardávamos o visto de residência
para os Estados Unidos, para onde meu marido tinha sido transfe-
rido, passamos alguns meses na Guatemala, onde comecei a ensinar
o Método da Ovulação, para minhas amigas e parentes. Fiz também
uma apresentação formal do Método num encontro do Movimento Fa-

13
miliar Cristão, na Cidade de Guatemala. Foi o maior encontro da
organização, um fato que me assegurou do grande interesse que o
povo tinha pelos métodos naturais de planejamento familiar.
Logo depois, fui convidada para ensinar em várias partes da
Guatemala. Concordei, decidindo concentrar-me nas paróquias mais
pobres da periferia da Cidade de Guatemala. No começo estava, prin-
cipalmente, interessada na promoção do Método da Ovulação entre
os pobres, mas depois interessei-me em difundir a informação sobre
o Método da Ovulação a todos aqueles que eu podia alcançar. ·
A resposta às aulas que dei foi entusiástica. Uma das mais vi-
vas recordações é a de um padre de paróquia que retirou o altar
para transformar sua igreja em sala de palestras. Ele tinha reunido
cerca de 100 pessoas, a maioria mulheres, algumas crianças e alguns
homens. Falamos àquelas pessoas como um grupo e então os dividi-
mos em pequenos grupos para facilitar a formulação de perguntas
mais confidenciais. Ficamos felizes por descobrir pelas perguntas e
comentárivs que o povo entendeu o método facilmente.
Da experiência daquelas aulas e de outras, foram elaborados mé-
todos efetivos para ensinar pessoas de pouca cultura e sem sofistica-
ção. Desenvolvi um método simples de registrar os dados do ciclo
menstrual (vide pág. 69), Fig. 4-1) que poderia ser usado por pes-
soas incapazes de ler ou escrever, ou seja grande porcentagem da po-
pulação do mundo.
Em 1970, conseguiu-se que os Billings falassem na Guatemala
para o público em geral, e também alertassem os médicos para este
novo método de planejamento familiar. Os Billings ensinaram larga-
mente na Guatemala, em outros países da América Central e no Mé-
xico. O interesse por essas palestras foi notável. As pessoas vinham
às centenas e algumas vezes aos milhares - para ouvi-las.
Depois da excursão pela América Central, os Billings vieram a
Washington, a convite da "Aid For International Development and
The Human Life Foundation", para se encontrarem pessoalmente e
por conversas telefônicas com vários membros da comunidade cien-
tífica que estavam interessados em promover vários métodos de con-
trole da natalidade. Assim o Método da Ovulação despertou a aten-
ção de uma mais ampla comunidade científica. Durante esta visita aos
Estados Unidos, os Billings também derctm palestras a um grupo de
médicos de Los Angeles, patrocinados pela Arquidiocese. Em 1972,
eles deram palestras nos Estados Unidos e em 1973 voltaram a Wash-
ington para assistir a uma conferência promovida pela "Human Life
Foundation ".
Em 1971, minha família e eu mudamos para Covington, Loui-
siana, um subúrbio de Nova Orleans, onde ainda moramos. Logo após

14
a mudança, retomei meu trabalho com o Método da Ovulação, dando
aulas bimensais e treinamento de instrutores. As palestras com pes-
soas de Louisiana incluíam casais, mulheres solteiras e médicos de
outros Estados que voltavam para seus municípios e cidades para
ensinar por toda parte nos Estados Unidos, Canadá e América La-
tina. Para melhor usar meu tempo, finalmente vi-me forçada a limitar
meu trabalho a cursos de treinamento de instrutores mais do que a
aulas, que despertavam interesse, mas não forneciam uma continui-
dade ao meu trabalho.
A 27 de janeiro de 1977, foi inaugurada a Organização Mundial
do Método da Ovulação - Billings (WOOMB) num encontro, em
Los Angeles, por um grupo de instrutores do Método da Ovulação,
da Austrália, Canadá, Estados Unidos, América Latina e do Extremo
Oriente. O objetivo principal da WOOMB foi propagar no mundo
a informação precisa a respeito do Método da Ovulação para cada
mulher em idade de procriação.
Em junho de 1977, foi estabelecido o setor americano da orga-
nização. O setor dos Estados Unidos foi dividido em regiões, e esta-
beleceu-se que, trimestralmente, cursos intensivos para instrutores se-
riam ministrados em cada região e que os cursos seriam ampla-
mente anunciados em jornais e outros meios de comunicação.
Até o presente momento, o Método da Ovulação se tem propa-
gado em 100 países no mundo e há várias centenas de ins-
trutores treinados no Método da Ovulação nos Estados Unidos. No
momento, é indeterminado o número de mulheres que foram instruí··
das no Método da Ovulação, mas há planos para reunir e avaliar
estatísticas de todas as partes dos Estados Unidos (L. A. Study "Time
Magazine") .
A organização da WOOMB num corpo internacional com filial
nos Estados Unidos tem possibilitado aos promotores do Método da
Ovulação apresentar sua filosofia e objetivos cuidadosamente e tem
encorajado a uniformidade do ensino. Com representação nacional e
internacional, a WOOMB espera habilitar-se a fundos do governo dos
Estados Unidos e de organizações internacionais que ajudariam a for-
necer instrutores voluntários com a literatura e equipamento audio-
visual necessários ao ensino eficiente do método.
Este é o presente estado do Método da Ovulação. É meu ar-
dente desejo que este livro leve as boas novas de um método natu-
ral, simples, inócuo e eficaz de planejamento familiar, que pode ser
usado por todas as mulheres.

MERCEDES ARZú WILSON, Presidente, WOOMB


Covington, Louisiana

15
INTRODUÇÃO

O Método da Ovulação foi desenvolvido por causa da necessi-


dade premente de melhorar os métodos do Ritmo (calendário) e da
Temperatura de Planejamento Natural da Família. O Dr. John Bil-
lings e o Padre Maurice Catarinich, trabalhando em Melbourne nos
anos 50, tinham avaliado exaustivamente estes dois métodos mais
antigos com particular ênfase na investigação meticulosa de gesta-
ções não planejadas . Esta avaliação incluiu o exame de todas as mo-
dificações e combinações possíveis dos dois métodos e a formulação
de regras ideais para sua aplicação. Estes pesquisadores concluíram
que o método do Ritmo, embora aplicável durante longos períodos
de tempo pelas mulheres que têm ciclos menstruais regulares, estava
sujeito eventualmente a falhar, particularmente durante os períodos
de estresse ou no começo da irregularidade antes da menopausa.
O método da Temperatura tinha o mérito de identificar o mo-
mento da ovulação em cada ciclo e era, portanto, independente da
chance de variações no comprimento do ciclo. Todavia, esta infor-
mação era fornecida em retrospecto, de modo que apenas os últimos
dias seguros da fase lútea foram identificados e nenhuma informação
se dava sobre os muitos dias de infertilidade que precediam a ovu-
lação. Esta deficiência era particularmente séria, em mulheres com
ciclos longos, irregulares, em mulheres amamentando e em mulhe-
res próximas da menopausa.
Quando, pela primeira vez, encontrei o Dr. Billings e o Pe. Ca-
tarinich, em 1963, e vi seus dados, fiquei muito impressionado pela
extensão e precisão com que tinham sido avaliados. Eles tinham cen-
tenas de registros de temperatura, mostrando cada tipo de ciclo mens-
trual normal ou anormal, que tinham sido documentados apenas re-
centemente por dosagens hormonais laboriosas em algumas mulheres.
Há anos vinham mantendo registros de mulheres que se aproxima-
17
,vam da menopausa, numa tentativa de identificar modificações sutis
que pudessem inçlicar retomada de atividade ovariana depois de me-
ses de amenorréia. Tinham testado cada método possível para deter-
minar a mudança de temperatura e tinham testado toda regra pos-
sível para determinar quando poderia haver a relação sexual, num
esforço para diminuir as incidências de falhas .
Em 1963, concluíram que nem o método do Ritmo nem o mé-
todo da Temperatura, nem uma combinação dos dois poderia pro-
porcionar um grau aceitável de segurança para compensar as restri-
ções impostas. Os métodos eram grosseiros, porque não identificavam
a maioria dos dias de infertilidade que o casal poderia ter para re-
lações . Conseqüentemente, eles começaram a investigar o possível uso
do muco cervical como indicador dos dias de fertilidade e de infer-
tilidade . Este sintoma era já bem conhecido dos ginecologistas e dos
endocrinologistas, mas a questão era se poderia ser identificado com
segurança pelas próprias mulheres .
Foi nesta etapa que a Dr~ Lyn Billings se tornou membro es-
sencial da equipe. Ela com suas colegas verificaram que poderiam
descrever nos mínimos detalhes as modificações cíclicas nas secre-
ções mucosas e nas sensações que sentiam na área vaginal e verifica-
ram que estas modificações eram muito relacionadas com a atividade
ovariana subjacente. Daí por diante o Método da Ovulação se tornou
exclusivamente uma tarefa feminina e os homens foram relegados à
posição de observadores, uma mudança de papéis muito importante,
e muitas vezes melindrosa, se comparada com a maioria das outras
formas de contracepção.
Primeiro, as mulheres relacionaram seus sintomas mucosos com
sua experiência prévia ganha dos cálculos do ritmo e dos registros
da temperatura. Todavia, logo se verificou que o novo Método era
provavelmente muito superior aos outros e que era necessário usar
marcadores mais precisos para a comparação. Conseqüentemente, o
Dr. Henry Burger e eu fomos convidados a testar a precisão dos sin-
tomas do muco contra marcadores hormonais disponíveis da ovula-
ção, principalmente os picos do meio do ciclo de LH, FSH e estró-
geno do soro sangüíneo e da urina e a subida da produção de proges-
terona. Estes marcadores de hormônio foram então relacionados com
o momento exato da ovulação, como se determinou pela visualização
direta dos ovários por laparoscopia ou laparotomia. Com esta base
segura, as mulheres eram então capazes de aprimorar ainda mais as
descrições dos sintomas mucosos, os quais estavam associados às fa-
ses fértil e infértil do ciclo, e com a ovulação. Estes sintomas muco-
sos não eram idênticos em todas as mulheres e, no começo, pensou-
-se que apenas cerca de 70 por cento das mulheres seriam capazes

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de reconhecê-los. Entretanto, com a experiência e a segurança forne-
cidas pelas dosagens hormonais, demonstrou-se que todas as mulhe-
res férteis têm sintomas reconhecíveis. Uma ausência assinalada dos
sintomas é devida ou à inexperiência ou a um estado de infertilidade.
Estes estudos produziram enorme quantidade de dados sobre os va-
lores hormonais, os sintomas mucosos e o registro da temperatura
em todas as condições possíveis da atividade ovariana normal ou
anormal. Este é provavelmente o maior estudo hormonal da reprodu-
ção jamais feito na mulher. Os dados foram tão extensos que esgo-
taratn as possibilidades de publicação dos dois laboratórios e conse-
qüentemente apenas uma parcela chegou às revistas científicas. Alguns
destes dados são apresentados neste livro por Mercedes Wilson.
Os gráficos e as estatísticas exigidas pela comunidade científica
parecem irrelevantes e sem importância. A seguinte história ilustra
o problema.
Em 1976, a análise dos valores hormonais e dos sintomas mu-
cosos de 104 ciclos menstruais normais fora completada e estávamos
discutindo o progresso, depois do jantar. Os Drs. John e Lyn Billings,
Pe. Catarinich, Pat Harrisson e eu estávamos presentes. A Dr~ Lyn
Billings expôs então seu último conceito relativo ao padrão básico
de muco infértil, que persiste dia após dia e significa infertilidade
contínua.
Foi um brilhante enunciado porque mudou a importância do
reconhecimento dos dias férteis para o dos mais numerosos dias
inférteis. Além disso, uma vez estabelecido, era verdade óbvia, porque
a fertilidade e a ovulação dependem de acontecimentos cíclicos, e um
estado estável deve ser necessariamente infértil. O conceito exigiu
verificação por dosagens hormonais. Assim concordamos que 25 vo-
luntárias treinadas contribuíssem diariamente com amostras para um
ciclo completo, durante o qual elas registrariam seus sintomas mu-
cosos. O objetivo era correlacionar a primeira modificação do padrão
mucoso pós-menstrual com a primeira subida da excreção de estró-
geno. Ao mesmo tempo o estudo forneceria os melhores dados pos-
síveis, relacionando o último dia do muco tipo fértil (dia do pico)
com o dia da ovulação, usando os últimos aperfeiçoamentos do Mé-
todo da Ovulação.
As mulheres partiram para o trabalho com entusiasmo para re-
crutar voluntárias. Menos de uma semana depois, a Dr~ Meg Smith,
que dirige o laboratório, veio ao meu consultório para verificar de-
talhes. Vinte e cinco mulheres tinham concordado, mais do que 30 j4
estavam coletando e ainda havia mais para chegar!
Duas semanas depois ela avisou que duas das voluntárias re-
gressaram da Europa e estavam apresentando os padrões mucosos
19
r

mais complicados que elas jamais tinham registrado; uma outra se


alistara por causa dos padrões mucosos difíceis e estava tendo um
ciclo não-ovulatório e, finalmente, cinco outras estavam participando
porque apresentavam dificuldade de engravidar e queriam que os va-
lores hormonais as ajudassem. ótimo para nossos planos para um
estudo perfeito!
Durante os primeiros dias do Método da Ovulação, as mulheres
foram preparadas para usar os sintomas mucosos em conjunção com
os registros de temperatura e os cálculos do ritmo.
O problema inevitável - em quem acreditar - como em quem
surgiu quando ocorriam discrepâncias entre as diferentes observa-
ções. A Dr'!- Lyn Billings partiu para uma etapa perigosa ao afirmar
que os sintomas mucosos eram os mais corretos e como o registro
da temperatura e os cálculos do calendário estavam confundindo o
quadro, deveriam ser totalmente abandonados, exceto em casos espe-
ciais. Assim passou a existir o Método da Ovulação em sua forma
presente. As investigações de laboratório tinham até então demons-
trado que o sintoma Pico (último dia do muco tipo fértil) era tão pre-
ciso na determinação da ovulação como qualquer marcador de hor-
mônio e que a mudança da temperatura era o menos preciso dos ín-
dices usados neste estudo.
Além disso, os estudos hormonais confirmaram que o muco tipo
fértil era provocado pelos altos valores de estrógeno pré-ovulatório,
e demonstraram também que a súbita mudança para muco tipo in-
fértil, que seguia o dia do Pico, era causada pela subida na secreção
da progesterona, nesse momento, mais do que pela queda da produ-
ção de estrógeno. Assim o fenômeno do dia do Pico era causado pela
mesma subida da progesterona, que provocava alterações de tempe-
ratura, e era um indicador mais sensível deste acontecimento.
A decisão de dispensar o termômetro e os cálculos do ritmo pro-
vocou uma divisão amarga entre os planejadores naturais da família,
tanto que hoje são empregados dois métodos principais: o Método
Sintotérmico e o Método da Ovulação (Billings) que constitui o as-
sunto deste livro.
Ante a procura mundial de melhorar os métodos naturais de
planejamento familiar, o Método da Ovulação, introduzido na Aus-
trália nos anos 50 difundiu-se e foi logo aceito em outros países,
Atraiu alguns brilhantes seguidores, inclusive Mercedes Wilson, que
introduziu o sistema de registro com selos que se tornaram quase os
símbolos do Método da Ovulação. Outros, em países em desenvolvi-
mento, têm introduzido novos meios de ensino para pessoas analfa-
betas. Entretanto, as tentativas para melhorar o método continuam e
é-necessário que o processo que leva ao desenvolvimento do Método

20
da Ovulação, principalmente a avaliação detalhada de todas as gesta-
ções não planejadas, continue. Este processo de constante modifica-
Ção das regras, tanto pelos criadores como por outros através do
mundo numa tentativa de eliminar inteiramente as gestações não
planejadas, tem levado a muita confusão. Assim é necessária a atua-
lização contínua do Atlas do Método da Ovulação publicado em Mel-
bourne.
O propósito principal do presente livro é apresentar o Método
da Ovulação, como a autora o vê nos últimos anos setenta e oitenta;
com isso ela presta um serviço de inestimável valor.
O livro é profusamente ilustrado e contém a coleção mais ampla
de registros com gráficos compilados por mulheres de muitos países,
ilustrando a aplicação universal do Método da Ovulação. Constam
nele capítulos sobre os processos básicos envolvidos na reprodução
e sobre os achados científicos que relacionam estes processos com os
sintomas do muco. Apresenta também uma avaliação da eficácia do
uso do Método da Ovulação e dos métodos de planejamento familiar
em geral.
A disseminação mundial do Método da Ovulação vem progre-
dindo graças às facilidades para a publicação da base científica do
Método. Isto tem provocado crítica de que o método é promovido
mais pelo zelo religioso do que pelo mérito científico. Desejamos que
esta crítica se desfaça quando todos os estudos hormonais forem, fi-
nalmente, publicados nas revistas científicas. Todavia, dados seguros
sobre o uso-eficácia do Método tal como foi praticado em 1978, ain-
da devem ser obtidos. É óbvio que os métodos naturais de planeja-
mento familiar são, em relação aos demais, os mais abertos para o
fracasso das usuárias, devido à necessidade de abstinência sexual
completa durante o período fértil. É por esta razão que as Natural
Family Planning Associations (Associações do Planejamento Natural
da Família) são, principalmente, de base religiosa e comprometidas
na orientação conjugal.
Deve-se entender que a cooperação e o entendimento entre os
parceiros, que são essenciais para a aplicação dos métodos naturais,
são benéficos para o casamento como um todo. Deve-se assinalar que
qualquer tentativa, no ato sexual, de uso de contracepção por retrai-
mento ou mecânica durante a fase fértil distorce os sintomas muco-
sos, causando erros de interpretação no momento crítico. Além disso,
os nossos estudos hormonais sugerem que a relação durante o período
fértil pode antecipar a ovulação e assim encurtar o período de segu-
rança autorizado pelas regras.
Dados precisos sobre o grau de segurança do método são de
total importância para o casal, se as regras forem cumpridas.
21
Mercedes Wilson tenta responder a isto, mas concorda que são
necessários estudos mais extensos. Há uma tendência para que pes-
quisas se façam em cada gestação não planejada. Contudo, todos os
métodos de contracepção têm incidência de falhas e a real questão
é se estas são aceitáveis em face das vantagens ganhas.
Mercedes Wilson no capítulo sobre o uso-eficácia mostra que
assim como para os outros método de planejamento familiar, a mo-
tivação do casal é muito importante. A incidência de insucesso do
método da ovulação é muito mais alta para aqueles que estão espa-
çando seus filhos do que para aqueles cujas famílias já estão com-
pletas.
A OMS está conduzindo pesquisas sobre a eficácia do Método
da Ovulação em vários países. Os resultados são esperados com muito
interesse. Os resultados preliminares indicam que a maioria dos fra- .
cassos tem ocorrido durante os primeiros meses de experiência e que
depois a performance do Método é notavelmente boa com incidências
de fracassos perfeitamente aceitáveis. Ainda não se determinou se
esta tendência é devida à eliminação precoce dos casais mais alta-
mente férteis ou pelo aumento da experiência no reconhecimento dos
sintomas mucosos.
Nossos resultados baseiam-se em 70 ciclos completos de 54 mu-
lheres ovulando normalmente, estudadas diariamente com dosagem
de hormônio (LH do soro/urina, o estrógeno urinário e o pregnane-
diol urinário) com registros dos sintomas mucosos e da temperatura.
Também estudamos 43 mulheres no pós-parto, e durante o período
de amamentação estas foram estudadas por análises urinárias em
base semanal e junto com sintomas mucosos, num total de 390 meses
(média de 9 meses por pessoa). Foram estudadas oitenta e três mu-
lheres pré-menopausadas diária ou semanalmente com sintomas mu-
cosos durante um mês. Duas pré-menopausadas foram estudadas se-
manalmente com intervalos de 5 a 7 anos; um total de 63 meses fo-
ram dedicados a estas duas pacientes. Foram estudadas duas meni-
nas, assim que elas passaram a menarca e a primeira ovulação, de 11
a 16 anos de idade - estas eram principalmente estudadas semanal-
mente, num total de 60 meses.
Foram determinados dados completos em mulheres ovulando
normalmente, em 66 ciclos nos quais o último dia de muco fértil era
capaz de ser correlacionado com o Pico LH, que se considera ocorrer
aproximadamente 17 horas antes da ovulação. Em 56 ciclos (85 % )
o 'Último dia de muco fértil (sintoma Pico) ocorreu dentro de + 1
dia do Pico LH; entretanto, quando se considera nossa determi-
nação do tempo da ovulação pelo pico LH, deve-se lembrar que isto
pode conter um erro de um dia em aproximadamente 20% dos ciclos.

22
Este livro de Mercedes Wilson é uma contribuição de inestimá-
vel valor para a literatura sobre o Método da Ovulação. Deve-se fa-
zer muito para educar as usuárias potenciais na aplicação corrente
do Método e dar-lhes a necessária confiança na aplicação dele. Ela
ficará reconhecida pelo dedicado esforço.
JAMES B. BROWN, D. Se., PH. D.,
Professor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia
da Universidade de Melbourne, Auetrália;
Professor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do
Royal Women's Hospital, Melbourne, Austrália.

23
1
Uma visão global

O propósito deste livro é tornar as mulheres mais informadas


quanto a sua própria fertilidade, aprendendo a reconhecer e usar
para seu próprio proveito os sinais de fertilidade e. as fases fértil e
infértil de seus ciclos menstruais. Este conhecimento as habilita a
controlar sua fertilidade para conceber ou para evitar a concepção.
O conhecimento resultante de amplo uso do método natural do con-
trole da natalidade possibilitou oferecer uma alternativa para o uso
dos métodos artificiais.
Os resultados dos estudos a respeito da segurança deste método
natural, com sua ilimitada eficácia sugerem um modo efetivo, único,
para as mulheres de todas convicções para controlar a fertilidade sem
riscos para a saúde, variando desde as que preferem · os meios natu-
rais até as que se orientam por princípios religiosos. Além da -preo-
cupação com os efeitos colaterais e com as conseqüências futuras
desconhecidas, o maior dano resultante do uso de contraceptivos e
dispositivos intra-uterinos pode consistir no adiamento da exploração
de métodos alternativos mais inócuos, baseados no crescente desen-
volvimento científico a respeito da reprodução humana.
O Método da Ovulação do Planejamento natural da família foi
desenvolvido pelo Dr. John Billings, de Melbourne, Austrália. Sua
pesquisa sobre o planejamento natural da família começou há vinte
e cinco anos, e no decurso destes anos desenvolveu-se o Método da
Ovulação, que é o mais promissor método natural encontrado no
mundo hoje. Não deve ser confundido com o método do Ritmo nem
com o método da Temperatura. É baseado simplesmente no reconhe-
cimento pela mulher das modificações em seu próprio muco cervical,
secretado poucos dias antes e durante o tempo da ovulação. Esta ca-
pacidade de determinar o período da fertilidade dá ao casal a liber-
dade de conseguir ou de retardar uma gestação sem a intromissão de
drogas ou dispositivos mecânicos de qualquer espécie.
25
O uso do Método da Ovulação tem grande potencial, pois uma
mulher pode usá-lo diligentemente, com a segurança de que "ela está
lidando com a natureza" , ao invés de usar drogas ou outros disposi-
tivos para interferir num relógio biológico excessivamente complexo
e delicado.
Os homens e as mulheres não devem fraquejar ante o desafio de
controlar sua fertilidade natural por meios naturais. (A capacidade
de reproduzir-se, uma capacidade maravilhosa para ser guardada,
deve ser também dirigida e regulada). Devemos aceitar as responsa-
bilidades que acompanham nossa liberdade de escolha para selecionar
os métodos mais efetivos e menos danosos da regulação da nata-
lidade.
Em 1945, houve crescente conhecimento e grande publicidade
acerca da explosão populacional, particularmente nos países em de-
senvolvimento. Nos Estados Unidos e outros países tecnologicamente
avançados houve "o surto de bebês" depois da Segunda Guerra
Mundial.
Devido ao crescimento alarmante da população mundial, hou-
ve crescente urgência política, cultural e econômica por se desenvol-
ver um método contraceptivo simples, seguro e econômico a ser usa-
do tanto nos países tecnologicamente avançados como nos países em
desenvolvimento.
Em 1950, os cientistas concluíram que os hormônios poderiam
evitar a ovulação em animais . De 1950 a 1960, muita pesquisa foi
feita na bioquímica dos hormônios esteróides, particularmente nos
hormônios sexuais. Em 1960, foi aprovado um composto constituído
pela combinação de progesterona sintética e de estrógeno como um
contraceptivo oral, nos Estados Unidos. Logo ficou conhecido no
mundo como a Pílula. Desde 1960, os proponentes da pílula torna-
ram-na atraente para as mulheres afirmando que ela é o contracep-
tivo mais efetivo, conveniente e reversível que jamais foi encontrado.
Atribuiu-se à pílula um declínio na incidência cios nascimentos e
grandes variações das modificações e melhorias sociais, particular-
mente no status das mulheres.
Embora a pílula seja ainda um dos contraceptivos mais popu-
lares, um crescente número de estudos clínicos noticiou vários efeitos
colaterais adversos e contra-indicações. Os cientistas descobriram que
os hormônios são alguns dos mais potentes modificadores da bioquí-
mica e fisiologia do corpo. Como resultado, persistiu grande ceticismo
quanto ao critério de administração dos potentes compostos hormo-
nais, que a pílula contém, para mulheres sadias durante período
longo, quando são desconhecidos os efeitos remotos sobre a saúde
das mulheres.

26
Os hormônios afetam virtualmente o metabolismo de cada cé-
lula do corpo. Há considerável evidência de que a pílula elimina não
apenas o ciclo fértil nas mulheres, mas que altera o metabolismo
normal, e pode ter vários efeitos colaterais bem como provocar al-
guns distúrbios sérios, particularmente quando administrada durante
longos períodos . Em vista dos efeitos indeterminados dos hormônios
da gónada e dos esteróides contraceptivos sobre o metabolismo,
tornou-se evidente que nenhum dos contraceptivos orais corrente-
mente usados são tão inócuos e eficientes quanto foi originalmente
esperado (Seaman e Seaman, 1977) .
O espetacular avanço da ciência tem despertado maior confiança
no uso de um número cada vez maior de drogas, inclusive aquelas
para o controle da natalidade. O Governo dos Estados Unidos gasta
366 milhões de dólares, cada ano, em todas as formas de contracep-
tivos no mundo inteiro, porém, menos do que 1 milhão com os mé-
todos naturais de planejamento familiar (Kane, 1977). O povo re-
correu primeiro ao que fosse prontamente utilizável e muito pro-
movido pelo governo e pela indústria - os contraceptivos artificiais.
Com o aumento do número de publicações contrárias relativas aos
efeitos colaterais e riscos desconhecidos decorrentes do uso prolon-
gado da pílula, muitas mulheres estão assumindo maior responsabi-
lidade pela sua própria saúde.
A despeito da falta de fundos por parte do governo, o Método
da Ovulação espalhou-se em mais de 80 países em menos de uma
década. O ensino é realizado por voluntários e mantido por donati-
vos de particulares.

27
2
O sistema reprodutivo feminino
a ovulação, a secreção
do muco cervical

Uma vez que o Método da Ovulação exige que a mulher saiba


reconhecer as modificações internas de seu corpo relacionadas com
seu potencial procriativo, a usuária deste método, geralmente, tem
mais do que um vago interesse no que estas modificações internas
representam e como elas se sucedem.
A reprodução sexuada, a união do espermatozóide do homem
com o óvulo da mulher, assegura a sobrevivência biológica do ho-
mem como uma espécie. Porém, esta união do óvulo e do esperma-
tozóide pode ocorrer apenas durante uns poucos dias críticos do ci-
clo ovulatório normal. A duração média do ciclo ovulatório da mu-
lher sadia é aproximadamente de 28 dias. Entretanto, a duração do
ciclo pode variar consideravelmente de mulher para mulher, e numa
mesma mulher pode variar largamente. Além disso, depois do co-
meço da menstruação (menarca) e também quando uma mulher está
se aproximando da menopausa, os ciclos, muitas vezes, são irregu-
lares e não-ovulatórios. A existência de um ciclo, entretanto, é um
pré-requisito necessário para um sistema reprodutor funcionante e
para a fertilidade.
O tópico deste capítulo trata da interação complexa das secre-
ções internas que determinam o ciclo ovulatório na mulher. Os órgãos
mais importantes da secreção são: (1) o cérebro, que é ligado por
meio de nervos e canais vasculares a uma glândula; (2) a glândula
pituitária ou hipófise que controla os órgãos sexuais; (3) os ovários.
O relacionamento anatômico destes órgãos é ilustrado na Figura 2-1.
Como se vê na Figura 2-1, o cérebro interage com a hipófise
através do hipotálamo. Embora decisi~a no controle de funções cor-

28
Gonadotropinas H
F H

~
Figura 2-1. Anatomia e fisiologia do sistema reprodutor feminino adulto.

póreas essenciais, tais como comer, beber e dormir esta pequena


área, na face ventral do cérebro, é particularmente importante no
controle do ciclo sexual da mulher.
Nas mulheres o hipotálamo sente o estado corrente do ciclo es-
pecialmente através dos níveis circulantes dos dois hormônios ova-
rianos, estradiol e progesterona, e controla a hipófise por meio de
um hormônio, liberador de gonadotropina (Gn. RH), que é freqüen-
temente chamado hormônio liberador de hormônio luteinizante (LH.
RH). Este hormônio liberador hipotalâmico é sintetizado nos neurô-
nios e transfere a informação de dentro do sistema nervoso para o sis-
tema reprodutor. Nçi junção do cérebro com a hipófise, os impulsos
do cérebro são traduzidos em sinais acionando os órgãos reproduto-
res ou desligando-os. Embora não haja conexões nervosas entre o hi-
29
potálamo e a hipófise anterior, há numerosas pontes vasculares. Na
base do cérebro estes vasos sangüíneos especializados estão em ín-
timo contato com as células nervosas, e o hormônio hipotalâmico é
liberado no sangue pelas células nervosas. Os vasos se agregam e dre-
nam na hipófise anterior ou porção frontal da hipófise onde o hor-
mônio hipotalâmico agora entra em contato com as células da hipó-
fise, produtoras de gonadotropinas. Desta maneira o cérebro mo-
difica a atividade da hipófise anterior.
Em resposta aos sinais hormonais do hipotálamo, a hipóf~se an-
terior liberta quantidades variáveis de hormônio - gonadotropi-
nas - que controlam o ciclo feminino.
A primeira das gonadotropinas, o hormônio folículo-estimulante
(FSH), leva estruturas do ovário a crescerem em órgãos que contêm
o óvulo, chamados folículos. Enquanto sob influência do FSH e en-
quanto cresce rapidamente, o folículo libera um hormônio chamado
estrógeno, que produz muitas modificações nos órgãos accessórios
da reprodução, por exemplo, o muco cervical, sobre o qual diremos
muito mais depois.
O segundo hormônio hipofisário, hormônio luteinizante (LH)
desempenha sua mais importante função depois que o folículo, no
ovário, tenha amadurecido seu óvulo.
O processo de foliculogênese requer um período de elevada se-
creção de FSH pela hipófise, o qual leva o folículo ovariano a cres-
cer e amadurecer, migrar para a superfície do ovário e finalmente,
sÓb a influência do LH, romper-se (ovulação), liberando o óvulo numa
abertura semelhante a um funil, na extremidade das trompas de
Falópio, chamada fímbria (vide Figura 2-1). O óvulo é recolhido
pelas trompas de Falópio, por delicadas projeções semelhantes a pê-
los no interior da fímbria e é propelido na trompa de Falópio até
chegar ao útero. Enquanto isso, o segundo hormônio hipofisário, o
LH, que atinge o ápice no momento da ovulação e provoca a libera-
ção do óvulo, produz uma transmutação do folículo vazio que se
desenvolve em corpo lúteo, ou "corpo amarelo", que segrega, além
do estradiol, um outro hormônio, a progesterona.
A progesterona é necessária para a sobrevivência do embrião
no útero, se o óvulo tiver sido fertilizado por um espermatozóide.
A progesterona também provoca modificações abruptas do muco fér-
til para muco infértil, visto imediatamente após a . ovulação. A com-
binação de altos níveis de progesterona e estrógeno suprime a secre-
ção do FSH e impede o ulterior desenvolvimento de novos folículos
e assim impede o amadurecimento do próximo óvulo.
Tipicamente, apenas um folículo, o dominante, deverá ovular
durante um ciclo. Os outros folículos aproximando-se da maturação
30
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Dia do ciclo

Figura 2-2. Esquema dos acontecimentos endometriais e ovarianos num clico


menstrual normal (com permissão de Scientific American).
durante um ciclo particular ajudam, segregando pequenas quantidades
de estrógeno, porém quando ocorre a ovulação do folículo domi-
nante, aqueles folículos menores tornam-se atrésicos e regridem.
Na discussão das modificações cíclicas é costume datar estes
acontecimentos a partir do primeiro dia em que ocorre o sangra-
mento. A primeira metade de um ciclo menstrual é chamada fase fo-
licular ou proliferativa, uma vez que envolve o desenvolvimento do
folículo primitivo em resposta à secreção de gonadotropina hipofi-
sária, o FSH; e, à medida que o folículo cresce, segrega estrógeno
que provoca as modificações proliferativas no útero e na vagina.
Depois do pico do estrógeno e da onda de LH produzirem a ovula-
ção, a segunda metade do ciclo é chamada fase lútea ou fase secre-
tória, pois o corpo lúteo segrega progesterona, que leva o revesti-
mento endometrial do útero a desenvolver muitas glândulas secre-
toras de forma serrilhada.
Se não ocorrer a fertilização e a implantação do ovo, o corpo
lúteo degenera + no 26Q dia de um ciclo de 28 dias, e cessa a secreção
de progesterona. Com a queda do estrógeno e da progesterona, o re-
vestimento endometrial do útero e o revestimento vaginal espessado
diminui de espessura, os vasos sangüíneos são bloqueados e os teci-
dos desprovidos de oxigênio degeneram e são eliminados na mens-
truação. A superfície sangrante é reparada assim que o estrógeno
dos novos folículos começa a ser segregado pelo ovário, devido à li-
beração do FSH pela hipófise, em resposta ao sinal do hipotálamo.
Assim, começa um outro ciclo ovulatório.
Se o óvulo for fertilizado, o embrião em desenvolvimento se-
grega novo hormônio, a gonadotropina coriônica (HCG), que tem
muitas das propriedades do LH hipofisário. Isto leva o corpo lúteo
a crescer durante vários meses e segregar a progesterona necessária
para a manutenção da gravidez. Assim, o revestimento uterino não
é descamado e não começa um novo ciclo ovulatório. Estas seqüên-
cias dos acontecimentos uterino, ovariano e hipofisário, durante um
ciclo normal, são apresentadas da Figura 2-2.
A descrição acima apresenta os componentes principais do con-
trole cíclico da ovulação, da fertilidade e da menstruação. Mas as
complexas inter-relações hormonais, os sistemas feedbacks e o con-
trole neural deste intricado processo ainda não são completamente
conhecidos e são assunto de muita pesquisa, hoje em dia.
Um debate sobre um dos mais óbvios aspectos do controle hor-
monal do sistema reprodutor feminino, a pílula, encontra-se no Ca-
pítulo 8. No presente contexto, é necessário mencionar apenas que
em geral os contraceptivos orais agem inibindo a ovulação. Isto se
consegue provocando altos níveis de estrógeno e progesterona du-

32
rante a fase lútea do ciclo menstrual então descrito. Como será de-
monstrado posteriormente, a progesterona tem poderoso efeito ini-
bitório sobre a produção de muco cervical do tipo fértil. Este muco
do tipo fértil é necessário para que os espermatozóides depositados
na vagina, na relação sexual, migrem através da cervix a fim de al-
cançarem o óvulo.
Normalmente, a produção de progesterona é muito baixa no
período pré-ovulatório. Todavia, a progesterona fornecida pelos con-
traceptivos orais dados precocemente no ciclo produz um estado anor-
mal em que o muco do tipo fértil é impedido de se formar. Esta é
uma ação contraceptiva potente.
Estão presentes nos ovários da mulher, na ocasião do seu nas-
cimento, aproximadamente, 500. 000 folículos potenciais. Destes fo-
lículos potenciais, apenas 300 a 400 ovularão durante a vida fértil da
mulher.
A mulher em nossa sociedade, geralmente, torna-se sexualmente
madura e capaz de conceber aos 14 anos de idade, embora a matu- .
ridade sexual possa ocorrer antes. Os óvulos são liberados periodi-
camente, durante anos, até que finalmente, a ciclagem cesse, na me-
nopausa. A etapa da vida durante a qual uma mulher pode conce-
ber varia de 14 a 50 anos aproximadamente, nos Estados Unidos.
Durante o período da vida, os ciclos rítmicos de modificação
interna nos ovários são acompanhados de modificações externas que
podem ser notadas pela mulher que aprendeu a reconhecê-las. Os sin-
tomas externos da atividade ovariana que uma mulher pode reco-
nhecer durante um ciclo normal de 28 dias, não terminado em gra-
videz, são 3 a 7 dias de sangramento ou menstruação durante os dias
1 a 7, descarga de muco cervical do tipo · fértil, desde os dias 1O
a 15, seguida por súbita mudança para muco tipo infértil que per-
siste desde o 169 ao 25'1 dia, e depois alguns sintomas de intumesci-
me,nto pré-menstrual, tensão ou sensibilidade dolorosa mamária.
Nos primeiros 2 a 3 dias da menstruação, os dois terços supe-
riores do endométrio são descamados. Nos 2 a 3 dias após a mens-
truação, a superfície sangrante é reparada. Pelo 12'1 dia, o folículo
está chegando à maturação e um óvulo é liberado no 149 dia em
resposta à estimulação hipofisária. Se o óvulo não for fertilizado du-
rante os dias 13, 14 ou 15, o corpo lúteo degenera em torno do
26'1 dia.
O mais óbvio sinal externo da atividade ovariana é, certamente,
a menstruação. Entretanto, a ovulação é o mais importante aconte-
cimento no ciclo reprodutivo e, como demonstra a seqüência acima,
ocorre, aproximadamente, 10 a 14 dias antes do sangramento mens-
trual. É necessário, por~anto, reconhecer os sinais e os sintomas da

33
2 - O controle da natalidade
ovulação, se o controle deve ser conseguido no processo reprodutivo.
O mais importante destes sinais é a modificação na consistên-
cia do muco produzida pelo pico do estrógeno, liberado pelo folí-
culo durante sua rápida fase de crescimento antes da ovulação, se-
guida pela elevação da progesterona que ocorre imediatamente de-
pois da ovulação.
A cervix mede aproximadamente 2 a 4 cm de comprimento e
é continuação da parte inferior do útero. O epitélio do canal endo-
cervical é caracterizado por células secretoras colunares altas. _O ta-
manho das células e a quantidade da secreção das células endocer-
vicais são cíclicas. Variam segundo a estimulação do estrógeno
ovariano.
O tamanho das células é maior na ocasião da ovulação, quan-
do a concentração do estrógeno circulante está mais alta. O muco
cervical é mais abundante e a viscosidade diminui nitidamente, du-
rante um ou dois dias imediatamente antes da ovulação. Em nítido
contraste, durante a fase pós-menstrual intermediária e durante a
fase luteínica a quantidade de muco é menor e a viscosidade é
diferente.
A modificação das características das secreções do muco cer-
vical desde o 109 dia pré-ovulatório até a ovulação no 14Q dia e nos
15 dias pós-ovulatórios até o 28 9 dia serão descritos e ilustrados com
fotografias, no capítulo 3.
Os filamentos de glicoproteína nas secreções do muco cervical
são arranjados de tal modo que o espaço entre as traves de filamen-
tos medem aproximadamente 2 a 5 mícrons, enquanto sob a in-
fluência do estrógeno. Durante a fase luteínica, sob a influência da
progesterona, os espaços entre as traves são reduzidos de aproxima-
damente 2 mícrons para 0,5 mícrons. Uma vez que o tamanho das
malhas de filamentos é maior na época da ovulação, os espermato-
zóides podem passar livremente através das malhas de filamentos e
através do canal endocervical para alcançar o óvulo.
Os cientistas têm relacionado a penetração dos espermatozói-
des nos filamentos com a quantidade, a secura e outras caracterís-
ticas das secreções de muco. Estas relações junto com as variações
na temperatura basal do corpo, que ocorrem durante um ciclo tí-
pico de 28 dias são apresentadas na Fig. 2-3.
Não é incomum romper-se o ciclo "médio'', acima descrito,
como conseqüência de acontecimentos ambientais ou psicológicos.
Os estímulos originados de acontecimentos externos são percebidos
pelo cérebro e podem influenciar a ciclicidade sexual via hipotálamo.
É através deste mecanismo que momentos de severo estresse fí.
sico ou emocional, ou de doença, podem influenciar a periodicidade

34
Penetração dos espermatozóides
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36.8
98.2
36.7
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Dia do ciclo

Figura 2-3. Correlação da penetração dos espermatozóides, quantidade e conteúdo


seco de secreção de muco e temperatura basal do corpo em relação ao ciclo re-
produtivo médio de 28 dias. (Permissão de Bishop, D. N., em Young, N. C.,
editor: Sex and Internai Secretion , vol. 2, 39 ed., Baltimore, 1961, Williams
& Wilkins Co.).

de uma mulher. Estas ocorrências serão descritas com detalhes no


Capítulo 7.
Em relação ao presente capítulo, entretanto, deve-se conside-
rar o que acontece,. por exemplo, se o padrão da seqüência do feed-
back de FSH-Estrógeno-LH não for "normal". A maior variabili-
dade no ciclo de uma mulher ocorre na fase pré-ovulatória do ciclo.
35
A ovulação pode ser retardada, se a secreção de FSH, por qualquer
motivo, não subir rapidamente a níveis bastante altos para produ-
zir crescimento folicular completo.
Os sintomas mucosos da mulher devem alertá-la para este ciclo
interrompido. Desde que a ovulação ocorra, o restante do ciclo se-
gue com pequena variação entre os ciclos e entre as mulheres, no
que diz respeito ao sangramento que ocorre 10 a 16 dias depois.
Foi estudada exaustivamente a relação entre os padrões da se-
creção do muco cervical e as quantidades de estrógeno e progeste-
rona segregadas pelos ovários quando medidas pela excreção de es-
trógeno e pregnanediol na urina (Brown, 1978). Suas conclusões
são baseadas em mais de 700 ciclos de mais de 50 mulheres dife-
rentes com ciclos menstruais regulares e fertilidade provada, em mais

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Figura 2-4. Valores âo estrógeno urinário e de pregnanediol, sintoniàs 111ticósôs


e temperatura basal durante três ciclos em pessoa normal (Brown, J. B., 1978,
cf. Ref. Bibliográficas). Reproduzido com permissão.

36
de 40 mulheres amamentando e em mais de 80 mulheres em pré-
-menopausa.
Nas Figuras 2-4 a 2-13 são apresentados exemplos representa-
tivos da variação cíclica no estrógeno e progesterona em uma varie-
dade de diferentes ciclos menstruais.
Foi demonstrada estrita correlação em todas as condições entre
os valores hormonais e os sintomas mucosos. O começo do período
de possível fertilidade foi identificado pelo primeiro aparecimento
do muco e isto estava intimamente correlato com a primeira subida
dos estrógenos urinários.
A Figura 2-4 mostra os valores diários de estrógeno e pregna-
nediol urinário durante 3 ciclos ovulatórios normais consecutivos
de uma pessoa. O muco foi avaliado segundo uma escala de - 1
(seco) até + 9 (fertilidade máxima). Qualquer valor 5 ou mais cor-
respondeu à categoria de muco tipo fértil. Os valores do estrógeno
sobem acentuadamente antes da ovulação, à medida que o folículo
amadurece sob a influência da secreção de FSH. Os sintomas má-
ximos do muco e os valores mais altos do estrógeno coincidiram pra-
ticamente durante cada um dos três ciclos. O dia do pico da secre-
ção do muco é definido como o último dia do muco tipo fértil.
Note-se que o declínio nos valores do estrógeno depois do pico
foi relativamente rápido. Entretanto, a rápida modificação no sin-
toma mucoso nesta ocasião era mais o resultado da subida da pro-
dução de progesterona que anula o efeito do estrógeno. Depois do
pico nos valores do estrógeno e nos sintomas mucosos, os níveis de
progesterona como os indicados pelos valores de pregnanediol uri-
nário sobem devido à atividade secretória do corpo lúteo. Os níveis
de pregnanediol continuaram elevados durante vários dias antes de
começar o sangramento.
Quando a secreção de progesterona é elevada o muco é tipi-
camente do tipo não-fértil. A temperatura basal do corpo fornece
um outro índice de ovulação e subseqüente secreção de progesterona
e é mostrada no alto da Figura 2-4. A progesterona é termogênica
e a temperatura do corpo se eleva conforme sobem os valores de
pregnanediol, e fornece um marcador independente de que ocorreu
a ovulação.
Entretanto, em todos estes estudos, ficou evidente que houve
menos consistência na relação entre a subida da temperatura e a su-
bida da progesterona do que foi observado entre os sintomas muco-
sos, o pico de estrógeno e a subseqüente subida dos valores de preg-
nanediol. Como se demonstrou na Figura 2-4, os valores de estró-
geno caem depois do pico pré-ovulatório e então sobem de novo
para um segundo máximo, que ocorre na ocasião dos máximos va-

37
lores de pregnanediol. Depois disso, ambos os valores de estrógeno
e pregnanediol caem e segue-se a menstruação. Durante o segundo
máximo de estrógeno, os sintomas mucosos são suprimidos pelos ele-
vados valores da progesterona nesta ocasião.
Um desvio deste padrão é demonstrado na Figura 2-5. Note-
-se que neste ciclo, o primeiro pico de estrógeno foi seguido por
apenas urna pequena subida na excreção de pregnanediol, mostran-
do assim que a ovulação não ocorreu nessa ocasião. Um segundo
pico de estrógeno ocorreu 5 dias depois e foi seguido por um? su-
bida pós-ovulatória na excreção de pregnanediol e na temperatura
basal. Os picos do muco coincidiram com ambos os picos de estró-
geno neste caso, e a ovulação seguiu-se ao segundo pico da excre-
ção de estrógeno.
Neste caso particular, ocorreu urna infecção severa (note-se a
alta temperatura na ocasião do primeiro pico de estrógeno, quando

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OUTUBRO OUTUBRO
Figura 2-5. Valores de estrógeno e pregnanediol urinários, sintomas mucosos e
temperatura basal num ciclo com duplo pico estrogênico no meio do ciclo (Brown,
J. B., 1978, cf. Ref. Bibliográficas). Reproduzido com permissão.
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JUNHO 1955 JULHO
a ovulação deveria ter ocorrido) no tempo da ovulação esperada.
A ovulação foi retardada e o muco voltou. O segundo pico no es-
trógeno e no muco ocorreu 4 a 5 dias depois, seguido pela ovulação
e subseqüente subida do pregnanediol.
Este exemplo é ilustrativo da precisão do registro dos sintomas
mucosos para determinar a fertilidade. A ovulação pode ser retar-
dada especialmente quando uma infecção ou doença se fizer pre-
sente. O muco alerta a mulher para este fato .
A Figura 2-6 ilustra um tipo de ciclo não-ovulatório no . qual
há um pico estrogênico, porém sem subseqüente aumento na excre-
ção de pregnanediol e de estrógeno, mostrando que a ovulação não
ocorreu. Os valores de estrógeno foram separados em três estróge-
nos: o estriol, a estrona e o estradiol.
Durante tais ciclos, porções de muco tipo fértil são observadas
correspondendo aos elevados valores estrogênicos, porém, não há
parada aguda porque não houve subida na produção de progeste-
rona e se observou muco do tipo fértil quase no momento do san-
gramento menstrual. A falta de sintoma de um dia do pico definido
indica a falta de ovulação exatamente como a ausência de proges-
terona reflete a falta de ovulação.
Na Figura 2-7 é apresentado um segundo tipo de ciclo não-
·ovulatório. Aqui os níveis de estrógeno permaneceram elevados e
relativamente constantes entre os primeiros dois episódios de san-
gramento. Ocorreu o segundo sangramento como fenômeno de in-
terrupção. Esta situação é produzida quando os níveis de FSH não
são suficientemente altos para levar um folículo a uma resposta ovu-
latória. Quando o estrógeno agiu bastante para produzir suficiente
crescimento endometrial no útero , ocorrem interrupção do sangra-
mento ou manchas. O segundo episódio de sangramento mostrado
foi seguido de um pico -na excreção estrogênica, à qual seguiu-se a
ovulação. Isto é causa comum de sangramento no meio do ciclo.
A Figura 2-8 ilustra um outro ciclo ovulatório que terminou
em sangramento interrompido. Não foi encontrado muco do tipo
fértil senão quando os valores de estrógeno excederam 10 ug/24h,
o limite superior de estrógenos derivados das glândulas supra-renais,
que não é suficiente para estimular a produção de muco. Neste tipo
de ciclo não-ovulatório ocorrem manchas de muco cervical do tipo
fértil a -intervalos irregulares e imprevisíveis. É interessante que uma
secreção contínua de muco raramente é encontrada como se poderia
esperar de valores estrogênicos continuadamente altos na presença
de valores baixos . de pregnanediol. Parece que a produção cervical
de muco ocorre em surtos imprevisíveis e assim se parece funcional-
mente com muitos outros órgãos endócrinos.
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Figura 2-8. Valores do estrógeno e pregnanediol urinários, sintomas mucosos e


temperatura basal num ciclo não-ovulatório que terminou em sangramento in-
terrompido (Brown, 1978).

A Figura . 2-9 mostra um ciclo com fase folicular prolongada,


durando 28 dias. Novamente não foi observado muco do tipo fértil
até que os níveis de estrógeno excedessem 10ug/ 24h e o evento da
ovulação no 21 {/ dia de outubro fosse verificado pela subseqüente
elevação na excreção de pregnanediol. Brown sugere que tais fases
foliculares prolongadas são devidas a uma demora na subida do
FSH. Ele afirma que num ciclo normal a secreção hipofisária de
FSH "busca" atingir o valor limiar necessário para levar ao cresci-
mento folicular.
Quando os valores de FSH excedem este limiar, os folículos
começam a crescer, porém demoram vários dias até que estejam se-
gregando o estrógeno em concentrações suficientes para .estimular
41
o hipotálamo a inibir a ulterior secreção de FSH da hipófise. Os va-
lores de FSH sobem até exceder um valor intermediário antes de
levar o folículo dominante a uma resposta ovulatória. A falha em
exceder o limiar leva a uma inatividade ovariana, e a falha em ex-
ceder o nível intermediário leva ao desenvolvimento de um grupo de
folículos que segregam estrógeno em quantidades constantes como
ocorre no estrógeno constante típico do ciclo não-ovulatório.

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Figura 2-9. Valores de estrógeno e pregnanediol urinários, sintomas mucosos e


temperatura basal num ciclo com fase folicular prolongada (Brown, 1978).

O atraso na subida do FSH pode provocar um ou ambos os


fenômenos e assim levar a fases foliculares prolongadas como se vê
nas figuras 2-7 e 2.:8 e aparecimento irregular de muco do tipo fértil.
Na Figura 2-7, os valores de FSH, finalmente, excedem o nível in-
termediário e segue-se a ovulação.
42
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DIAS APÓS O PARTO DIA DO CICLO
A Figura 2-1 O mostra os valores de estrógeno e de pregnanediol
numa mulher imediatamente após o parto e durante a lactação. Mais
uma vez, os valores de estrógeno foram separados em três estrógenos:
o estriol, a estrona e o estradiol. Durante a lactação os baixos níveis
de estrógeno refletiram um ovário quiescente e a ausência de ovu-
lação. Cerca de um mês depois que a lactação cessou, os níveis de
estrógeno começaram a subir de maneira cíclica e alcançaram even-
tualmente um pico pré-ovulatório 102 dias depois do parto. O ciclo
que levou ao primeiro sangramento era ovulatório, a julgar pelos
valores de pregnanediol, porém, a fase luteínica foi anormalmente
curta (7 dias). O segundo ciclo foi ovulatório com curta fase lútea,
de 9 dias de duração, e o terceiro ciclo foi o primeiro em que a
fase lútea teve duração normal e foi assim potencialmente fértil.

U.O. Amamentando 18 meses


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44
São consideradas comuns as fases lúteas curtas em ciclos ovu-
latórios que ocorrem durante a lactação dentro de 6 a 9 meses de-
pois do parto.
A Figura 2-11 mostra os resultados de um estudo começado
18 meses depois do parto enquanto a pessoa ainda amamentava.
A atividade ovariana esporádica era evidente nesta ocasião a julgar
pelos aumentos esporádicos na excreção de estrógeno acima do nível
de 10ug/24h correspondendo os dias de estrógeno elevado estrita-
mente ao aparecimento de muco do tipo fértil. Os valores de preg-
nanediol continuavam uniformemente baixos mostrando que não es-
tava ocorrendo ovulação.
Durante janeiro a pessoa observou muco do tipo ovulatório que
era, sem dúvida, como aquele visto antes da gravidez e por isso re-
começou a coletar a urina e a registrar a temperatura basal; seu
primeiro sangramento, após a gravidez, ocorreu 12 dias depois. Um
ciclo ovulatório com características completamente normais foi de-
mostrado pelos valores de estrógeno e pregnanediol, pelos sintomas
do muco e pelo registro da temperatura basal.
A Figura 2-12 demonstra os valores de estrógeno e pregnanediol
numa mulher pré-menopausada durante um período de 13 meses. As
dosagens hormonais foram feitas semanalmente e os sintomas do
muco foram registrados diariamente. Os ciclos foram muito irregu-
lares, com ciclos ovulatórios entremeados de ciclos não-ovulatórios.
O estudo começou durante um período de três meses de amenor-
réia; este terminou em ovulação como mostra o aumento nos valores
de estrógeno e do pregnanediol.
Os dois ciclos seguintes foram ovulatórios. O ciclo de fevereiro
foi não-ovulatório, do tipo de estrógeno flutuante. O seguinte foi um ci-
clo ovulatório com fase folicular prolongada. A ovulação também ocor-
reu durante o ciclo de maio a junho. O ciclo seguinte foi não-ovulatório
do tipo de estrógeno flutuante, o ciclo de julho foi não-ovulatório
do tipo de estrógeno constante. O ciclo seguinte foi prolongado e ter-
minou em ovulação, porém um sangramento interrompido pré-ovula-
tório ocorreu em 22 de setembro. Os dois ciclos seguintes foram ovu-
latórios. A pessoa registrou muco do tipo fértil com sintomas de pico
na ocasião da ovulação em todos os ciclos ovulatórios, exceto no últi-
mo, e conseqüentemente era capaz de reconhecer os momentos de
fertilidade possível. Um aspecto surpreendente foi que durante os ciclos
não-ovulatórios os sintomas de muco não refletiram alguns dos va-
lores estrogênicos extremamente altos encontrados, como seria de es-
perar, na presença de valores baixos associados ao pregnanediol. A au-
sência de muco do ;tipo fértil, no último ciclo ovulatório registrado
em dezembro, é explicada por elevados valores de pregnanediol que
45
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Sangramento ID ID •
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Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Junho Jul. Ag. Set. Out. Nov. Dez.

Figura 2-12. Valores de estrógeno e pregnanediol urinários, sintomas mucosos e temperatura basal em pessoa pré-meno-
pausada. Notam-se dias de sangramento e de relações (Brown, 1978).
foram vistos durante a fase pré-ovulatória deste ciclo. Tais valores
elevados de pregnanediol pré-ovulatório são vistos em algumas pa-
cientes com infertilidade, e é pouco provável que ocorresse gravidez
dúrante esse ciclo mesmo que houvesse relações sexuais na época da
o\rulação.
Assim, a despeito de sua extrema irregularidade, esta pessoa foi
capaz de identificar, com considerável segurança, seus momentos de
possível fertilidade, pelos sintomas do muco. Praticamente, todos os
tipos de atividade ovariana normal ou anormal foram documentqdos
durante o período de 13 meses.
O pico do estrógeno urinário durante um ciclo, como os exem-
plos acima ilustram, corresponde inteiramente ao dia do pico de se-
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Figura 2-13 . A relação entre estrógeno e pregnanediol urinários, valores de


LH e FSH, plasma e FSH, sintomas mucosos e temperatura basal num ciclo
normal (Brown, 1978).

47
ereção de muco. Este pico de estrógeno ocorre dentro de 24 horas
antes da onda de LH, e na maioria das mulheres ocorre a ovulação
de 24 a 48 horas depois da onda de LH. Billings e colaboradores
publicaram ( 1972) que o tempo médio entre o dia do pico do muco
e o dia da ovulação é de 0,9 dia. Assim, a determinação da ovula-
ção faz-se retrospectivamente por um exame da modificação do
muco. Depois da ovulação o muco mudará abruptamente de consis-
tência e de cor. Esta modificação no muco é devida ao aumento da
progesterona ovariana como conseqüência da atividade do corpo lúteo.
A figura 2-13 apresenta a relação entre a onda de LH, o pico
de FSH, o pico do estrógeno e os níveis de pregnanediol (excreção
de progesterona) como são detectados pela análise da urina e dosa-
gens sangüíneas. Note-se que se admite ocorrer o FSH, o LH e o pico
de estrógeno, na época da ovulação. A progesterona, excretada como
pregnanediol na urina, continua em níveis baixos antes da ovulação,
porém sobe dramaticamente depois da ovulação.
Vários laboratórios, por exemplo Flyn e Linch (1976), Casey
(1977), Hilgers, Abraham e Cavanaugh (1978), usando análise do
plasma sangüíneo de esteróides e gonadotropinas, verificaram estrita
correlação entre os sintomas do muco e os acompanhamentos hor-
monais da ovulação durante um ciclo fértil normal. As Figuras 2-14
e 2-15 (de Casey, 1977) apresentam os níveis séricos de estradiol,
progesterona e gonadotropinas com os correspondentes registros do
muco superimpostos.
O sangue era colhido com intervalos de 12 horas e o tempo da
ovulação foi deduzido das modificações hormonais. Considerou-se
que a fase folicular ou pré-ovulatória foi concluída no dia em que
o LH atingiu seu pico, e a fase lútea ou pós-ovulatória começou no
dia em que o nível de progesterona excedeu 1O µmol/ 1. É evidente
um padrão notavelmente estrito de correspondência entre estes da-
dos hormonais e o registro do muco. O estradiol, o FSH e o LH
aumentam consideravelmente e atingem o pico na época da ovula-
ção. A Figura 2-14 é um exemplo em que a ovulação ocorreu 1 dia
após o dia do pico do muco. Este foi o caso de 7 em 10 mulheres
estudadas. A Figura 2-15 ilustra um caso em que coincidiram o dia
da ovulação e o pico do sintoma mucoso. Isto ocorreu em 3 de 10
mulheres. Estes dados são significativos porque mostram a estrita
relação entre a ovulação e o dia do pico do muco. Desde que o
óvulo humano continua viável durante, aproximadamente, 12 ho-
ras, o tempo de fertilidade potencial é muito -curto, todavia parece
que pode ser reconhecido com facilidade e exatidão usando os sin-
tomas mucosos.

48
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Legenda

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---
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FSH
LH
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Registro do muco

Figura 2-14. O estradiol, a progesterona, o LH, o FSH do plasma e os sinto-


mas mucosos numa mulher cujo dia do sintoma do pico precedeu o dia da
ovulação. Consideram-se arbitrariamente que a fase folicular se conclui com o dia
em que o nível de LH alcança seu pico. Considera-se que a fase lútea começa
no dia em que a progesterona excede 10 µmol/Z. O LH e o FSB foram me-
didos em ug/l do L ER907 padrão hipofisário (Casey, 1977).

Na Figura 2-16 (de Hilgers e outros, 1978), que mostra a mé-


dia de progesterona sérica, o LH, o estradiol, a temperatura basal
do corpo e o dia do sintoma do pico, o tempo considerado médio
da ovulação em 65 ciclos ovulatórios normais aconteceu em média
0,31 dia antes do sintoma do pico. Neste estudo, o tempo da ovula-
ção foi deduzido do nível de progesterona. Em 95,4% dos ciclos,
a ovulação foi calculada como tendo ocorrido 2 dias antes a 2
49
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Dia do ciclo

--- ...
legenda

-- Progesterona
FSH
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.

~
.....• LH
E2
Registro do muco
Figura 2-15. Respostas hormonais numa mulher em que o dia do sintoma Pico
coincidiu com o dia da ovulação. As fases folicular e lútea foram definidas na
legenda da Figura 2-14 (Casey, 1977).

dias depois do sintoma pico, e o começo do sintoma do muco pre-


cedeu o tempo calculado da ovulação em média de 5,9 dias.
As ilustrações acima das correlações hormonais da fertilidade
indicam que quando os valores de estrógeno começam a subir, as-
sinalam a aproximação da ovulação com uma média de um período
de advertência de 6 dias, e quando a progesterona sobe indica que
a ovulação ocorreu. Estes eventos ovarianos são controlados pelos
níveis de FSH e LH segregados pela hipófise e são refletidos pelas
modificações observáveis nas secreções mucosas.
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DIA DO CICLO

Figura 2-16. A média dos valores de progesterona, do plasma, LH, estradiol,


e temperatura basal (TBC) de 65 ciclos ovulatórios mostrando o tempo calcu-
lado da ovulação (TCO) como a linha vertical interrompida e o sintoma pico
(Peak Sx) como a linha contínua vertical. A barra horizontal rasurada refere-se
à variação periovulatória da progesterona (Hilgers, T. W.; Abraham, G. E. e
Cavanaugh, D., 1978).

51
Considerando todos os dados hormonais da ovulação possíveis,
principalmente o LH sérico e urinário, o FSH, os estrógenos uriná-
rios e o pregnanediol e o estradiol do plasma e a progesterona,
Brown (1978) concluiu que qualquer um destes exames de hormô-
nios, inclusive o pico de LH no soro, poderia ter um erro de + 1
dia e que, comparadas com isto, a maioria das mulheres poderiam
determinar, com precisão, o dia da ovulação, por meio de sua pró-
pria observação dos sintomas do muco.
Além disso, neste estudo ele fez uma comparação estatística
entre o começo do muco fértil e a primeira subida nos valores do
estrógeno precedendo o pico de estrógeno; o coeficiente de corre-
lação entre o começo dos dois fenômenos foi 0,91 o qual era alta-
mente significativo. Adicionalmente, em 778 observações feitas por
42 mulheres amamentando, observações dos sintomas do muco va-
riaram na escala de - 1 (seco) para + 9 (fértil), a correlação entre
o nível de estrógeno urinário medido na mesma ocasião e os sinto-
mas do muco foi 0,71, que também era altamente significativa.
A discussão da segurança estatística do uso efetivo do Método da
Ovulação é considerada em detalhe no Capítulo 11.

Sumário

:É claro que as modificações cíclicas, que ocorrem durante o


período de vida fértil da mulher, estão sob a influência dos hormô-
nios segregados pelo cérebro, hipófise e ovários. Os hormônios ova-
rianos produzem modificações identificáveis nas secreções do muco
cervical que uma mulher pode aprender a reconhecer. A exigência
mais importante para seu próprio reconhecimento do dia da ovula-
ção é a identificação do último dia de secreção de muco do tipo
fértil (o dia do Pico); a maioria das mulheres acham que esta iden-
tificação é relativamente fácil. Foi demonstrado que as modifica-
ções auto-observadas do muco das fases pré-ovulatória e pós-ovula-
tória do ciclo refletem estritamente os acontecimentos hormonais
subjacentes determinando a fertilidade. Esta conclusão é baseada
na comparação dos sintomas do muco com as dosagens dos estróge-
nos urinário e plasmático, da progesterona, do LH e do FSH, que
são métodos cientificamente aceitos de determinação da atividade
ovariana e do tempo da ovulação.

52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Billings, E. L.; Billings, J. J.; Brown, J. B. e Burger, H., "Symptoms and Hor-
monal Changes Accompanying Ovulation", Lancet, 1972, 282-284.
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and the Re-establishment of Menstruation", Lancet, 1956, 1, 704.
Brown, J. B., "Hormonal Correlations of the Ovulation Method'', palestra apre-
sentada na International Conference on the Ovulation Method, Melbourne,
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Brown, J. B. e Matthew, G. D., "The Application of Urinary Estrogen Measure-
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Casey, John H., "Midcycle Hormonal Profiles, Cervical Mucus and Ovulation",
(Abstract). Mott Center Symposium, Wayne State University, Human Ovu-
lation, abril, 1977.
Flynn, A. M. e Lynch, S. S., "Cervical Mucus and Indentification of the Fertile
Phase of the Menstrual Cycle", British ]ournal of Obstetrics and Gyneco-
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Hilgers, Thomas W.; Abraham, Guy E. e Cavanaugh, Denis, "Natural Family
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Obstetrics and Gynecology, novembro, 1978.
Hume, K., "Anatomia, Fisiologia e Correlação Hormonal da Ovulação" (con-
ferência pronunciada no Congresso pela Família das Américas, Guatemala,
julho de 1980), no livro Generosidade e criatividade no amor (G. Gib-
bons), Edições Paulinas, São Paulo, 1981, pp. 53ss.

53
3
Observações sobre o muco
cervical: relações entre muco
e fertilidade; regras para
as relações sexuais

Como se debateu no Capítulo 2, num certo ponto da fase pré-


-ovulatória do ciclo menstrual, as glândulas do colo do útero produ-
zem e segregam uma espécie particular de muco que muda nitida-
mente nas horas que precedem a ovulação. O Método da Ovulação
do Planejamento Natural da Família baseia-se no fato de que as mu-
lheres de todas as idades, culturas e quaisquer níveis educacionais
podem aprender a observar e interpretar estas modificações e usar
a informação para determinar o número e o espaçamento de seus
filhos. Um casal que deseja evitar gravidez abstém-se de relações
sexuais quando o muco indicar que pode ocorrer concepção ao pas-
so que um casal que deseja conseguir uma gravidez mantém rela-
ções sexuais quando o muco indicar que é mais provável oçorrer a
concepção.
O capítulo 3 discute os tipos de muco que podem ocorrer du-
rante o ciclo menstrual e o significado de cada tipo em relação à
fertilidade e às relações sexuais. Por clareza e simplicidade, o assunto
é primeiro apresentado por meio de um exame de fotografias das
secreções do muco nas várias etapas da fase ovulatória do ciclo.
Durante o dia, a secreção do muco pode ser observada (ou a
sua ausência) quando a vulva foi limpa com um lenço de papel, de-
pois de urinar. Não é necessário um exame interno, como o revelam
as últimas descobertas segundo as quais as observações do muco

54
pela mulher na abertura da vagina conferem muito bem com os acon-
tecimentos que ocorrem ao nível da endocervix (Hilgers e Prebil,
1979).
Os itens a serem observados são a consistência, a cor e qual-
quer sensação de umidade ou lubrificação.
As Figuras 3-1 a 3-14 são fotografias dos diferentes tipos de
secreção mucosa de uma mulher durante um ciclo menstrual. Quan-
do o leitor estudar as fotografias, deve se lembrar de que aquilo
que é apresentado é o padrão mucoso de uma mulher, não de todas
as mulheres. A quantidade de muco e o número de dias em que
cada tipo de muco é segregado varia de ciclo para ciclo na mesma
mulher. Todavia, as fotografias são úteis pois o padrão é semelhante
em todas as mulheres.
A Figura 3-1 mostra o muco no seu primeiro aparecimento.
A secreção era escassa, cremosa, turva e não elástica. A primeira se-
creção alertou a mulher para o fato de que a ovulação estava para
ocorrer numa questão de dias.
A secreção mucosa pode começar logo nos primeiros dias da
menstruação, porém, em circunstâncias especiais (por exemplo, na
amamentação), pode não começar durante meses (vide pp. 117, 121,
122-123). Na mulher examinada nestas fotografias, a secreção do
muco começou em diferentes ocasiões em quase todos os ciclos -
uma variação que é perfeitamente normal. No ciclo apresentado, o
muco começou 4 dias depois que cessou a menstruação.
A Figura 3-2 mostra a secreção mucosa no segundo dia. A se-
creção era pegajosa, cremosa e inelástica. Ainda estava turva. Quan-
do o muco do segundo dia foi esticado uma polegada ou mais, rom-
peu-se (Figura 3-3).
A Figura 3-4 mostra o muco como aparece no terceiro dia.
Ainda era cremoso. Note-se que havia mais muco no terceiro dia
do que no primeiro e no segundo dias. Muitas, mas nem todas as
mulheres notam tal aumento na quantidade, porém é a qualidade
do muco que é importante, não a quantidade. Quando o muco era
apanhado entre os dedos de uma das mãos (Figura 3-5), verificou-
-se estar mais elástico do que no primeiro e segundo dias. Era ainda
cremoso e turvo, porém, era mais aquoso e um tanto encaroçado.
Ao anoitecer do terceiro dia, o muco modificou-se nitidamente
(Figura 3-6). Tornou-se quase claro, parecendo a clara de ovo cru.
A modificação era o mais importante, pois indicou o começo do
período de maior fertilidade.
Na manhã do- quarto dia de secreção, o muco aumentou em
quantidade enquanto continuava claro (Figura 3-7). O muco do quarto
dia podia ser esticado várias polegadas sem se romper (Figura 3-8).
55
Figura 3-1 . O muco no seu primeiro aparecimento.

Figura 3-2. O muco como aparece no segundo dia.

Figura 3-3. O muco do segundo dia quebra quando esticado.


Figura 3-4. O muco como se observa no papel no terceiro dia.

Figura 3-5. O muco recolhido do papel mostrando aumento da elasticidade no


terceiro dia.
Figura 3-6. O muco quando se modificou na tarde do 3'? dia.

Figura 3-7. O muco como se ~presenta na manhã do 4? dia.


' Figura 3-8. O muco mostrando sua transparência na manhã do 49 dia.

Figura 3-9. O muco mostrando sua elasticidade na manhã do 49 dia.


Figura 3-10. O muco como se apresenta na tarde do 49 dia.

O muco como se apresenta no S? dia.


Figura 3-12. O muco como aparece no 6'? dia.

Figura 3-13 . O muco como se apresenta no sétimo dia.

Figura 3-14. A volta da secura quase total no oitavo dia.


A elasticidade é uma característica das maiS significativas do muco
fértil. A Figura 3-9, além disso, ilustra a limpidez e a elasticidade do
muco do quarto dia.
Pelas duas horas da tarde do quarto dia, a secreção do muco
tornou-se amarelo-escura, opaca e pegajosa (Figura 3-1 O). A mu-
dança de muco claro, elástico daquela manhã, indicou que ocorreu
a ovulação ou ocorreria, dentro de poucas horas (Brown, 1978, Ca-
sey, 1978).
Como se vê na Figura 3-11, o muco na manhã do quinto dia
era pegajoso, gelatinoso, turvo com alguns traços de muco claro
(no alto e à direita). A subida da progesterona depois da ovulação
faz com que o muco adquira esta modificação característica.
No sexto dia, o muco tipo gelatinoso diminui, em quantidade
(Figura 3-12).
No sétimo dia, estava presente um muco espesso, pegajoso, lei-
toso e em quantidade menor (Figura 3-13).
No oitavo dia, não houve secreção mucosa observável (Figura
3-14). Tal dia é referido como dia seco. A mulher em apreço teve
dias secos até o final do ciclo.

A RELAÇÃO DO MUCO COM A FERTILIDADE

O muco segregado pelas glândulas da cervix está relacionado


com a fertilidade do seguinte modo:
1. Fornece a lubrificação para a relação sexual.
2. O muco pegajoso, turvo (referido, muitas vezes, como muco
infértil) impede a marcha do espermatozóide em direção ao óvulo,
enquanto o muco claro, elástico (muitas vezes, referido como muco
fértil) favorece o transporte do espermatozóide (vide também as pp.
56-61).
3. O muco claro, elástico protege o espermatozóide do am-
biente ácido da vagina.
4. O muco claro, elástico oferece algumas das necessidades
energéticas do espermatozóide.
5. Teori,camente, aquele muco claro, elástico, pode ajudar a
"capacitar" as células espermáticas. A capacitação é o processo pelo
qual um espermatozóide se torna apto para fertilizar um óvulo.
Acredita-se que o espermatozóide deve ficar algumas horas no corpo
da mulher até se tornar capaz de penetrar e assim fertilizar o óvulo.

62
OVULAÇÃO

Embora a ovulação tenha sido detalhada no Capítulo 2, aqui


são pertinentes alguns comentários sobre o processo.
A ovulação pode ocorrer apenas um dia no ciclo. Se não hou-
ver gravidez num determinado ciclo, segue-se a menstruação, cerca
de duas semanas depois da ovulação. O intervalo entre a ovulação
e o período menstrual seguinte varia de 11 a 16 dias. O tempo desde
o começo do ciclo até a ovulação, entretanto, pode variar bastante-.
a ovulação pode ocorrer durante o próprio período menstrual (p.
83), ou pode não ocorrer senão semanas, ou mesmo meses depois
que um período menstrual tenha terminado (pp. 88 e 89). Assim
um ciclo pode ser longo ou curto, dependendo sua duração de quan-
do ocorre a ovulação. A duração do ciclo varia de mulher para mu-
lher e de mês para mês na mesma mulher.
Ao contrário da crença popular, uma mulher não pode ovular
várias vezes por mês em intervalos largamente espaçados. Se for
liberado mais do que um óvulo (como acontece no caso de gêmeos
fraternos) a evidência parece indicar que o segundo óvulo é liberado
simultaneamente com o primeiro (Brown, 1977). Certos fatores po-
dem retardar a ovulação conforme explicado na p. 104s, mas uma
ovulação que possa resultar em gravidez é geralmente precedida pe-
los sinais de advertência do muco (pp. 56 a 61) .

As modificações que assinalam a iminência da ovulação

As seguintes modificações na secreção do muco indicam que


a ovulação terá lugar em questão de horas.
1. As modificações na consistência do muco - de muco pe-
gajoso, opaco (Figura 3-1) para muco claro, elástico (Figura 3-8).
2. A mulher sente uma sensação de lubrificação ou umidade
\ na vulva. A sensação é causada pela modificação na quantidade de
'
'AI água do muco (o muco tem cerca de 92% de água nos primeiros
dias de seu aparecimento; conforme a ovulação se aproxima, o con-
teúdo de água do muco aumenta até cerca de 98 % ) . A sensação lu-
brificante pode demorar um ou mais dias, e é óbvia para a mulher
conforme ela segue sua atividade diária.
A sensação lubrificante e a elasticidade são os mais seguros
sinais de ovufação naquelas ocasiões quando o muco segregado logo
antes da ovulação for tinto de sangue, e de tonalidade marrom e de
aspecto turvo (p. 93).

63
O último dia de muco claro, elástico é referido como o dia do
pico, assim chamado porque aquele dia é considerado como o dia
do pico da fertilidade, bem como o momento mais estrit'!mente rela-
cionado com os níveis dos hormônios ovarianos (p. 28). O dia do
Pico só pode ser reconhecido como tal em retrospecto - pela obser-
vação da mulher no dia seguinte da secura ou de volta do muco
espesso e turvo. A precisão na detecção do dia do Pico pode ser de-
terminada relacionando o dia do Pico com o primeiro dia do período
menstrual seguinte, que normalmente ocorre cerca de duas semanas
depois.

Regras dos primeiros dias para a fase pré-ovulatória

Deve-se entender que as regras se aplicam não apenas às rela-


ções sexuais, mas a qualquer tipo de contato entre os órgãos sexuais,
inclusive o coito interrompido, o coito protegido por contraceptivos
de qualquer espécie e mesmo o contato genital simples. A excitação
sexual do homem - mesmo que ele não ejacule - pode produzir
secreções que podem conter espermatozóides, os quais podem ser
transportados pelo muco fértil de fora da vagina, assim podendo
ocorrer a concepção.

Regras para os primeiros dias da fase pré-ovulatória

1. Não se deve ter relações durante a menstruação ou em qual-


quer outro dia de sangramento. Desde que a secreção de muco possa
começar durante (e pode ser mascarada por ela) a menstruação, é
possível que a ovulação ocorra durante a menstruação ou imediata-
mente após (Figura 5-3 A, B, C, D, E).
2. Pode-se ter relações desde o fim do período menstrual até
o primeiro dia de secreção de muco pegajoso, turvo. Os dias desde
o fim do período menstrual até o aparecimento de muco pegajoso
turvo, são normalmente dias secos. Às vezes, são considerados como
os primeiros dias seguros.
Até que a mulher tenha experiência para distinguir o líquido
seminal do muco 1, é mais seguro evitar relações sexuais no dia se-
guinte à relação e restringi-las para as noites.

1 O líquido seminal espuma - e pode mesmo esticar um pouco - quando apànhado


entre os dedos, porém logo se quebra e desaparece como a água,

64
Em alguns ciclos longos, pode haver uma sucessão de três ou
mais dias nos quais está presente o muco. O muco pode parar por
alguns dias, depois começa de novo._A.té que a mulher esteja treinada
em distinguir o muco fértil do infértil, é mais seguro evitar relações
em qualquer dia em que houver muco e mesmo à noite do quarto
dia depois que estas "manchas" de muco desapareçam como se ela
ainda estivesse na fase pré-ovulatória de seu ciclo e aplicar as re-
gras dos primeiros dias.

Regras para a fase pós-ovulatória

1. Não devem ter relações desde o primeiro dia de apareci-


mento de muco até o quarto dia depois do dia do Pico. (0 dia do
Pico é contado como zero). A regra é, às vezes, chamada a regra
do Pico. Embora o muco pegajoso e turvo que aparece primeiro
seja considerado com propriedades contraceptivas (vide p. 63), a
regra de abstinência protege de qualquer erro humano na observa-
ção da mulher do momento do primeiro aparecimento do muco . Se
a mulher não tiver notado com precisão o primeiro aparecimento do
muco seu cálculo de quando deveria ocorrer a ovulação seria inútil
e poderia resultar uma gravidez se ela tivesse relações muito pró-
ximas da ovulação.
A regra do Pico leva em conta a estrita relação-tempo do dia
do Pico com o da ovulação - dá tempo para ocorrer ovulação e
morrer o óvulo.
2. Pode-se ter relações desde o quarto dia após o pico até o
primeiro dia do período menstrual seguinte. Se a mulher tiver dias
secos ou secreção de muco infértil (p. 111), observa-se a regra por-
que o óvulo que vive cerca de 12h apenas depois da ovulação, de-
sintegra-se e a mulher se torna infértil.
3. Não se deve ter relações em qualquer dia de sangramento
entre os períodos menstruais até o quarto dia depois da cessação de
tal sangramento.
4. Se acontecer qualquer recorrência de muco nos dias entre
o dia do Pico e o período menstrual seguinte, deve-se verificar as
características do muco. Se o muco for elástico ou se produz uma
sensação lubrificante, não se deve ter relações em qualquer dia de
muco até quatro dias depois.
Para simplificar, as regras para a relação dadas aqui apenas
cobrem circunstâncias comuns. As regras concernentes a relações du-
rante circunstâncias especiais tais como na lactação, na menopausa,
65
3 - O controle da natalidade
em manchas de muco e corrimento contínuo de muco são dadas nos
Capítulos 7 e 8, no ponto em que se debate o tópico particular.
As regras para relações que se aplicam quando o casal deseja
ter filho são dadas no Capítulo 6.

REFER~NCIAS BIBLIOGRÃFICAS

Brown, J. B., 1977. Comunicação pessoal.


Brown, J. B., "Hormonal Correlations of the Ovulation Method", conferência
pronunciada na International Conference on the Ovulation Method, Mel-
bourne, Austrália, 1978.
Casey, John H., "Midcycle Hormonal Profiles, Cervical Mucus and Ovulation",
(Abstract). Mott Center Symposium, Wayne State University, Human Ovu-
lation, abril, 1977.
Hilgers, Thomas W.; Abraham, Guy E. e Cavanaugh, Denis, "Natural Family
Planning - 1. The Peak Sympton and Estimated Time of Ovulation".
Obstetrics and Gynecology, novembro, 1978.
Hilgers, Thomas W. e Prebil, Ann M., The Ovulation Method-Vulvar Observa-
tions as an Index of Fertility/lnfertility, "Obstetrics Gynecology", 12-22,
1979. .

66
4
Registro da informação
a respeito do ciclo menstrual

O capítulo 4 dá orientação para o registro das observações que


a mulher faz sobre suas secreções de muco e de outros aspectos de
seu ciclo menstrual.
Em 1970, foi preparado um gráfico simples para ser usado por
pessoas de comunidades de analfabetos. O gráfico revelou-se tão
eficiente que agora é usado por pessoas de todos os níveis Je edu-
cação no mundo. Como se mostra na Figura 4-1, o gráfico é feito
de folhas quadriculadas sobre as quais a mulher coloca um tipo es-
pecial de selo no fim de cada dia para significar o que ela observou
no seu ciclo menstrual naquele dia.
É muito recomendável que uma mulher que está começando a
aprender o Método da Ovulação abstenha-se de relações durante um
ciclo inteiro até que possa observar o padrão normal do ciclo. Deste
modo ela terá oportunidade de aprender a observar seu padrão nor-
mal de fertilidade e infertilidade sem risco de gravidez no seu pri-
meiro ciclo de aprendizado. Em geral, usam-se três tipos de selos:
vermelho, verde e branco com bebê (Figura 4-1).
Os selos vermelhos são usados para indicar os dias de sangra-
mento menstrual e qualquer outro tipo de sangramento pela vagina
que não seja acompanhado de secreção de muco observável. Os ca-
sais que desejam evitar gravidez não devem ter relações nos dias
marcados com selos vermelhos pois estes dias são possivelmente
férteis (vide pp. 83 e 84).
Os selos verdes são usados para indicar ( 1) os dias secos entre
a menstruação e a ovulação; e (2) todos os dias desde o quarto dia
depois do dia do Pico até o primeiro dia do período menstrual se-
67
guinte. Os casais que quiserem evitar gravidez devem limitar as re-
lações sexuais aos dias marcados com selos verdes.
Os selos brancos com bebê são usados para indicar ( 1) os dias
entre a menstruação e a ovulação durante os quais há secreção de
muco; (2) os três dias que seguem ao dia do Pico, que são dias de
fertilidade possível; (3) os dias de sangramento em que se observa
secreção de muco; e (4) o dia depois da relação, a não ser que a
mulher tenha experiência em distinguir o fluido seminal da secreção
mucosa (p. 70).
Marca-se com X sobre o selo branco com bebê para ind1car o
dia do Pico que, como se explicou na p. 70, apenas pode ser re-
conhecido em retrospecto.
Uma vez que se considera que o ciclo menstrual começa com
o período menstrual, o gráfico deve começar com o primeiro dia
da menstruação. Não obstante, as mulheres são convidadas a come-
çar o gráfico no dia em que elas foram ensinadas independente-
mente da fase do ciclo em que se encontram e para começar uma
nova linha, quando começar a menstruação. A data do primeiro dia
da menstruação é anotada na margem esquerda e cada noite é colo-
cado no quadrado um selo apropriado para aquele dia. É importante
que o registro seja feito cada dia (a mulher não deve confiar na sua
memória) e no fim do dia (assim todas as alterações que ocorreram
durante o dia, podem ser anotadas).
É importante que seja guardada aquela informação sobre vá-
rios aspectos do ciclo menstrual, especialmente pela mulher que
aprendeu o método há pouco. A informação a respeito do que acon-
teceu em determinado dia deve ser anotada sobre o próprio selo ·ou
escrita sobre a folha logo abaixo do selo e a anotação do ciclo mens-
trual seguinte pode começar uma linha abaixo daquela (Figura 4-2).
A Figura 4-2 é uma fotografia composta cujas partes foram
pintadas para ilustrar certas relações no ciclo menstrual. a) é um

Figura 4-1. O gráfico mostra o emprego de selos vermelhos, verdes e brancos.


Esse tipo de registro, a princípio criado para comunidades analfabetas, mos-
trou-se tão prático que hoje é empregado por gente de todos os níveis de educação.
Figura 4-2. a) Registro de um ciclo menstrual. b) Efeito da secreção do muco
sobre a motilidade dos espermatozóides. c) Descrição da secreção de muco. d)
Características do muco.
Figura 4-3. Registro de oito anos. Os ciclos são consistentemente regulares na
fase pós-ovulatória.
Figura 4-4. O registro circular da ovulação, um dispositivo que resume infor-
mações a respeito da fertiíidade das várias fases de um ciclo.
Figura 4-5. Padrão infértil básico da mulher, apresentando dias secos ou dias
de secreção contínua de muco infértil.

68
Figura 4-1

10 11 12 28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA : C Coito

Figura 4-4

Uma sensação de secura na vagina. Ao terminar a sensação de secura,


O número destes dias pode variar em começa o fluxo vaginal. Se não ocor-
cada ciclo. Pode ser que sejam muitos rerem dias secos depois da menstrua-
num ciclo longo, poucos ou nenhum ção, o fluxo já começou.
em um ciclo curto.

(O muco prolonga a vida dos esper·


matozóides. A fecundação pode ocorrer
se houver contato sexual durante os
dias de fluxo vaginal antes da ovu-
lação).

O ponto máximo de fertil idade é indi-


cado por uma sensação lubrificante,
causada pelo muco. O último dia desta
sensação é considerado o A.pice.

A OVULAÇÃO SEGUE O ÁPICE

Os dias 1, 2 e 3 depois do ápice


não são seguros.

Há mais ou menos catorze dias entre


o ápice de fluxo vaginal e a próxima
menstruação. Os últimos dias seguros
começam no dia 4 depois do ápice
Se houver sensação de fluxo mucoso
durante os dias seguintes, o fluxo será
turvo.

Figura 4-5
2
7 ~1 ~
••• ••• • •••••••
1 3 4 5 6 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

l li m
Figura 4-2

CICLO NORMAL DE 28 DIAS. Pastoso, Espesso, Viscoso. Elasticidade Lubrificante Sensação Mudança mais espesso,
Estecic\o mostra cinco dias de sangramento dentro de 24 horas do Pico. E necessár!a uma opaco. mais aumentada , sensação de umidade, nltida, espesso. pegajoso
menstrual indicados com selos verme lhos abstinência de 24 h do pico. A abstinílncia é tico, pouca ela~tico levemente de umidade mais leitoso.
seguidosde3selosverdessimplespararegistrar necessária nostrêsdlasseguintesaosintoma quebra- elasti- maisclaro, muito aquaso pegajoso. aspecto
os dias em que houverasensaçllodesecura pico. Depois do pico, observa-se uma mudança se se cidade sensação claro transparente pastoso. pegajoso
conhecida como Padrão bibico de infertilidade. Os definitiva. Não se observa mais sensação de esticado de umidade como amarelado
diassecos(verdessimples)sAoinférieis,a menos umidade e omuootorna-seopaco e pegajoso clara
que sejam precedidos de muco. Os se!os com {selobrancocombebíl)eumasensaçãodesecura de ovo
bebêsllousadosquandoseobservaoprimeirodia observada(se\overdecombebê).Então:osse/os
de secreção de muco no PBPilL Aqueles que brsncoscombebésãousadosseestiverpresente
querem protelara gravidez devem abster-sede um muco ptigajoso. opaco, e selos verdes com
relaçõessexuaisdesdeestediaaté3diasdepois bl.'béseomucopsrar11houverumasensaçiod11
do pico ou dia da ovulaçfo. A medida que a
ovulação se aproxima o muco muda, geralmente A esterilidade volta no 49 dia depois do pico.
se torna maisclaroeeléstico. semquebrar, como dandoliberdadepararelaçõessexuaisàquefesque
aclaradeovocru:aquantidad11podaaumentarou desejam evitar gravidez.
diminuire.êsvezes,tintodesangue.O ú!timodia Para aqueles que desejam gravidez é
de. muco deslizante e lubrificante é o "'sintoma recomendado relações nos dias em que se
Pico"" . Isto é assinalado com X.A ovulação ocorre observar muco clame elástico

Ciclos curtos

CICLOS CURTOS
O processo da ovulação pode começai antes que
o período menstrua l tenha terminado, como se viu
acima. A secreção mucosa ocorre precocemente
nesseciclotornandoposslvelqueosdiasde
sangramentomarcaremooomeçodopadrãolértil.
Por esta razão, é necessário evitar relações
sexuaisduranteamenstruaçãosenãosedeseja
gravidez.

Ciclos longos

CICLOS LONGOS
Osdclos longos podem ter muitos dias secos longo com menstruação segundo 12 a 16 dias
!padrão de fen ilidade básicolou. como se viu depoisdo sinromapico.exatamentecomoocorre
acima,os dia s secospodemserinterrompldospor num ciclo brew. ou normal. Manchas
manchasdemuco. Asiel ações se xuais devemser intermitentes de muco na fase pr6-ovulatória
evitadaspor3diasapõsqualquersecreçãoaté muitas ~ezes ucorrem em mães amam entando.
depois de ter ocorrido a ovulacão. O padrão de mulheres pre-menopausadase particularment e
lertilidadesimplesmenteocorredepoisnum ciclo naquelas que largaram a p!lula
CR!T~R lO . PARA OS SELOS
1 ITJJilJ

ADllERT~NCIA :

Nlo tente usar o método sem a Instrução por professor credenciado.


Para outrasinformaçóes.porfavorescreva para:
Organiuç.llo Mundial do Método da Ovulação - Billings. U.S.A. 1nc.
Figura 4-3
A.

NOTA: C = Coito

B.

NOTA: C = Coito

e.

NOTA: C = Coito
Figura 4-3 (continuação)
D.

E.

NOTA: C = Coito

F.

NOTA: C = Coito
Figura 4-3 (continuação)
G.

11 12 13

NOTA: C = Coito

H.

NOTA: C = Coito

registro de um ciclo menstrual. b) mostra a descrição detalhada que


a mulher fez da secreção mucosa; c) mostra como o muco pegajoso,
turvo (viscoso), retarda a motilidade do espermatozóide e que o muco
claro, elástico (menos viscoso) ajuda a motilidade do espermatozói-
de; d) mostra quanto muco poderia estar presente. (A quantidade
pode variar de mulher para mulher e de ciclo para ciclo na mesma
mulher). A quantidade de muco não é tão significativa quanto as
suas outras características, como se explicou na p. 55. A figura 4-2
também mostra as modificações no muco em vários pontos do ciclo
desde ( 1) o muco pegajoso e turvo do começo da secreção até (2) o
muco claro, elástico quando a ovulação está muito próxima; (3) muco
pegajoso turvo depois da ovulação. As modificações do muco refle-
tem as alterações nos níveis do estrógeno e da progesterona.
74
É possível guardar um registro de ciclos menstruais de um ano
inteiro numa folha de papel (Figura 4-1), facilmente utilizável para
análise pela própria mulher ou por seu instrutor no Método da Ovu-
lação, ou por seu médico.
A Figura 4-3 mostra um registro de 8 anos de uma mulher de
38 anos. Seus ciclos mostram grande regularidade, interrompida,
apenas no primeiro ciclo, quando a ovulação se atrasou. A mulher
em questão assinalou que o momento daquele ciclo foi de grande
tensão que sucedeu pouco antes do começo da ovulação. A obser-
vação confirma a descoberta de que o estresse pode resultar em atraso
na ovulação (pp. 102 e 103).
Note-se na Figura 4-3 que nos últimos três anos de registro a
mulher usou selos amarelos. Os selos amarelos foram introduzidos
em 1974, para ajudar as mulheres a distinguir o muco fértil do muco
infértil. Os selos amarelos podem ser usados nas seguintes circuns-
tâncias:
1. Na fase lútea do ciclo para registrar qualquer aparecimento
de muco desde o quarto dia depois do pico até· o começo do ciclo
menstrual seguinte.
2. Para registrar um fluxo contínuo de muco que pode ser um
padrão infértil básico da mulher. Uma secreção de muco infértil bá-
sica da mulher - muco que não mostra qualquer modificação na
quantidade, na cor ou em qualquer outra característica - a Figura
4-5 mostra como são registrados ambos os tipos de padrão infértil
básico (vide Figura 4-5).
Registros cuidadosamente conservados são documentos fascinan-
tes que ajudam a mulher - e seu médico - a aprender mais ares-
peito de seu corpo, e a capacitam a controlar sua própria vida re-
produtiva.

Sumário

O dispositivo gráfico apresentado na Figura 4-2 é excelente re·


sumo da informação apresentada nos capítulos 3 e 4.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

Billings, E. L.; Billings, J. J. e Catarinich, Maurice, Novo Método para o Con·


trote da Natalidade: Método da Ovulação ~ ATLAS, 2~ ed., Edições
Paulinas, São Paulo, 1980.

75
5
Registro de ciclos normal,
irregular e não-ovulatório

O Capítulo 5 debate os ciclos normais, ciclos irregulares e ciclos


possivelmente não-ovulatórios. Usam-se registros de mulheres de todo
o mundo para ilustrar que (1) as características das secreções mu-
cosas são comuns às mulheres de todos os países .e culturas; e (2) as
mulheres de todos os lugares são capazes de registrar com precisão
suas observações das secreções mucosas e assim conseguir uma gra-
videz ou evitá-la.

Registro de ciclos normais

Os registros de mulheres dos Estados Unidos, Ilhas Gilbert e


Ellice, Índia, Porto Rico, Guatemala e Nigéria (Figura 5-1) mostram
que a fase ovulatória do ciclo menstrual (selos brancos com bebê)
apareceu regularmente. Como seria de se esperar a duração da fase
lútea (isto é, da ovulação até a menstruação) era relativamente cons-
tante - 11 a 16 dias - enquanto a duração da fase folicular (isto
é, desde a menstruação até a ovulação) era mais variada.
As mulheres cujos registros são apresentados na figura 5-1, usa-
ram, além dos selos descritos no Capítulo 4, selos amarelos com bebê
e selos verdes com bebê. Os selos amarelos com bebê foram usados
para indicar qualquer muco pegajoso, turvo nos três dias após o
Figura 5-1. A fase ovulatória do ciclo apareceu regularmente. Note as variações
na duração da fase folicular. A fase lútea foi relativamente constante.

Figura 5-2. Até as mulheres que não sabem ler ou escrever são capazes de man-
ter registros precisos e de seguir as regras do Método da Ovulação.

76
Figura 5-1
A. Estados Unidos

NOTA: C = Coito

B. Ilhas Gilbert e Ellice

-6 -6 -6 -6 -6 ~ ,{1 2-6 3{1


{j {j {j -6 {j ! ,{j 2{1 3{l
{l {l -IJ {l ~ 1{l 2-6 3{l
{l
{j
{j
{l {j {j {j
{l {l {j {l
*l 1-6 2-6
,{j 2-{j 3{j
3{l
{j {l {l -6 {l l ,{l 2-6 3.fj

NOTA: C = Coito

e. lndia

NOTA: C = Coito
Figura 5-1 (continuação)
D. Porto Rico

NOTA: C = Coito

E. Guatemala

NOTA : C = Coito

F. Nigéria

29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito
Figura 5-2

NOTA: C = Coito

B. Nigéria

29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito
Figura 5-2 (continuação)
C. Coréia

NOTA: c = Coito

D. Fiji

NOTA: C = Coito

E. Pápua Nova Guiné

29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito
dia do Pico. Quando não havia secreção nos três dias depois do dia
do Pico, foram usados selos verdes com bebê para indicar secura,
porém fertilidade possível. Como se explicou no Captíulo 4, os selos
amarelos foram usados para indicar muco turvo, pegajoso.
Ocasionalmente, ocorre uma secreção turva, pegajosa no meio
da fase lútea (Figura 5-1 C). Quando o caso for assim - e se é para
evitar-se gravidez - deve ser observada a regra seguinte para as
relações:
Se a mulher tiver mesmo um dia de muco fértil, ela deve abster-
-se naquele dia e mais pelos três dias seguintes. Esta regra se aplica
tanto para as fases pré-ovulatória como pós-ovulatória do ciclo. De-
pois que a mulher ganhar experiência para distinguir o muco fértil
do infértil apíicam-se as seguintes regras:
1. Se um ou dois dias de muco pegajoso e turvo forem seguidos
por um dia seco, pode-se ter relações com segurança no dia seco.
2. Se se apresentam três dias de muco pegajoso, turvo, as rela-
ções não serão seguras nesses dias e nos três dias seguintes.
Estas regras são baseadas em grande experiência de ensino (vide
pp. 64 e 65).
A Figura 5-2 mostra registros de mulheres da Guatemala, Ni-
géria, Coréia, Fiji e Papua - Nova Guiné. As mulheres não liam
nem escreviam. (As referências ao analfabetismo são feitas aqui e
em outros capítulos apenas para sublinhar o importante fato de que
· mulheres de todos os níveis de educação e tipos de culturas são ca-
pazes de entender e usar o Método da Ovulação).
O registro de 18 meses de uma mulher da Guatemala, de fer-
tilidade provada (Figura 5-2A) mostra ciclos regulares de duração
normal (27 e 33 dias).
As figuras 5-2B e 5-2E mostram os registros de mulheres da
Nigéria e Papua - Nova Guiné. As mulheres eram de 35 e 25 anos
de idade respectivamente e elas eram tidas como férteis. Elas tinham
menos dias de secreção de muco do que as mulheres de outros paí-
ses representados no registro . Este fenômeno pode ser devido ao fato
de que ambas as mulheres eram de pequenas aldeias (nas quais a
alimentação era provavelmente pobre) e assim tinham possivelmente
deficiências nutricionais.
A Figura 5-2C mostra o registro de uma mulher da Coréia. Os
ciclos eram regulares até o 59 • Naquele ciclo a fase ovulatória foi
interrompida por doença. Voltou três dias depois (vide também a
Figura 7-2). A Figura 5-2D mostra o registro de uma mulher de Fiji.
No começo as mulheres foram ensinadas a colocarem um selo bran-
co com bebê desde o primeiro dia em que se observasse muco.
A maioria das mulheres, geralmente, no começo é muito cautelosa

81
e assim coloca grande número de selos brancos com bebê. Confor-
me adquirem experiência elas aprendem a distinguir os dois tipos
de muco, o que logo implicava o uso dos selos amarelos regularmente.
A instrutora do Método da Ovulação em Fiji achou mais fácil
chamàr os tipos de muco simplesmente de muco tipo 1 (muco pe-
gajoso e turvo) e muco tipo 2 (muco claro, elástico). Note-se (Fi-
gura 5-2D) que desde o segundo ciclo até o final do registro, o muco
tipo 1 (selos amarelos) era seguido por muco tipo 2 (selos brancos
com bebê) e depois por muco tipo 1 (selos amarelos com bebê).
Note-se também que conforme a mulher adquiria experiência para
distinguir os dois tipos de muco, o número de dias de abstinência
fio reduzido consideravelmente.

REGISTRO DE CICLOS CURTOS

Os registros da Figura 5-3 são os de mulheres do Canadá, Es-


tados Unidos, Guatemala, México e Nova Guiné que tinham ciclos
curtos. Note-se que, na maioria dos ciclos, a menstruação e o começo
da secreção de muco superpuseram-se, como se pode verificar pelo
uso precoce de selos brancos com bebê nos ciclos. Uma vez que as
secreções de muco começam cedo nas mulheres que têm ciclos curtos,
a abstinência de relações durante a menstruação é obrigatória se a
gravidez deve ser evitada.
A Figura 5-3D mostra um registro particularmente interessante.
A mulher era mexicana, 25 anos de idade e analfabeta. Casou aos
15 anos e tinha oito filhos na época de seu ingresso no Método da
Ovulação. Ela disse à instrutora que costumava restringir as relações
aos períodos menstruais porque pensava que os dias de menstrua-
ção fossem os únicos inférteis. Para seu desânimo, ela engravidou
repetidamente. Agora, depois de alguma experiência com o registro,
esta mulher compreende que sua fase ovulatória e a menstruação se
superpõem. Ela tem usado desde então o Método da Ovulação com
sucesso para evhar gravidez. Os selos brancos com bebê no final
dos ciclos na Figura 5-3D marcam a secreção de muco que está,
muitas vezes, presente logo antes da menstruação. Geralmente, o

Figura 5-3. A fase ovulatória pode começar também durante a menstruação,


como mostra o primeiro selo bqmco com bebê indicado no ciclo. D. Antes de
aprender o Método da Ovulação, a mulher teve relações durante a menstruação,
pensando que os dias menstruais eram inférteis. Ela engravidou seguidamente.
F. Muco com tonalidade marrom que freqüentemente aparece antes do fluxo
menstrual.

82
Figura 5-3
A. Canada

NOTA: C = Coito

B. Estados Unidos

29 30 31 32 33 34 35
{j {j {j J: 11J
{j {j {j {j {j ~ 11J
{j {j {j {j {j ~ ,{j {j

NOTA: C = Coito

C. Guatemala

29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito
Figura 5-3 (continuação)
D. México

29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito

C. Pépua Nova Guiné

29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito
Figura 5-4
A. Canadé

B. Canadé

C. Coréia

NOTA: C = Coito

D. Fiji

NOTA: c = Coito
muco é cremoso ou de cor amarelo-escura, logo antes da menstrua-
ção (Figura 5-3F) . A secreção de muco provavelmente é um resul-
tado da desintegração do revestimento do útero e indica o começo
da menstruação, pela qual o revestimento é descamado e renovado.
Algumas mulheres têm secreção clara e elástica logo antes do san-
gramento. Tal secreção naquela ocasião pode indicar que o ciclo foi
não-ovulatório (Brown, 1978) .

REGISTRO DE CICLOS LONGOS, IRREGULARES

Os registros das Figuras 5-4 mostram ciclos longos, irregulares


em mulheres do Canadá, Coréia e Fiji. Mesmo as mulheres com tais
irregularidades são capazes de reconhecer suas fases férteis, porque
o muco dá notícia antecipada da ovulação.
A figura 5-4A mostra um padrão irregular numa canadense.
Nos seis ciclos apresentados, a mulher aparentemente ovulou ape-
nas uma vez (ciclo 1). A filha da mulher (Figura 5-4B) apresentou
a mesma irregularidade, provavelmente por causa de razões heredi-
tárias ou porque as duas poderiam ter as mesmas deficiências nu-
tricionais. Como sua mãe, a filha era capaz de evitar a gravidez com
sucesso, usando o Método da Ovulação.
Os registros das Figuras 5-4C e 5-4D mostram ciclos longos -
de 3 7 a 51 dias.
Nos ciclos longos há talvez alterações na atividade hormonal
que resulta em "manchas de muco", uma sucessão de dias de se-
creção mucosa que interrompe o padrão infértil básico tanto dos
dias secos ou de secreção contínua de muco. Se se está evitando
gravidez, não se deve ter relações sexuais em tais dias porque não
se pode garantir a infertilidade.
REGISTRO DE CICLOS NÃO-OVULATóRIOS

A Figura 5-5 mostra ciclos possivelmente não-ovulatórios em


mulheres da Austrália, Estados Unidos, 1ndia e Coréia. "B. possível
que uma mulher tenha um ou mais ciclos aparentemente não-ovu-
latórios por ano (vide Figura 5-5A - ciclos 1 e 2; Figura 5-5B -
todos os ciclos; Figura 5-5C - ciclos 1 e 2; 5-5D - ciclo 3; Figura
5-5E - ciclo 2, linha 4; Figura 5-5 F - ciclos 4 e 6, linhas 4 e 7).
Geralmente ocorre a gravidez, se houver relações próximas do
tempo da ovulação. Se não houver muco, entretanto, as relações
muito perto do tempo da ovulação não resultam necessariamente em
Figura 5-4. Também mulheres com ciclos longos, irregulares, podem identificar
seus dias férteis pela observação dos sinais de muco.

86
gravidez. Foram publicados dois casos em que ocorreu relação muito
próxima do tempo da ovulação, porém não resultou gravidez (p.
130). Os níveis hormonais indicam que ocorreu ovulação, mas os si-
nais mucosos não. Em ambos os casos, a ausência de muco poderia
explicar porque não ocorreu a fertilização (p. 128). As mulheres em
estudo eram uma pré-menopausada (p. 128) e uma jovem que estava
tentando engravidar (Hilgers, 1977).
O registro apresentado na Figura 5-5A é o de uma mulher aus-
traliana. Teve sangramento de modo regular nos ciclos 1 e 2. O m\lCO
apareceu um dia em cada um dos ciclos 1 e 2 (daí os selos brancos
com bebê) porém, a mulher não teve dia do Pico em nenhum ciclo.
A breve duração da secreção mucosa poderia ter sido o resultado
dos níveis de estrógeno na ovulação que foram muito baixos para
alcançar um Pico. No terceiro ciclo a mulher teve um padrão nor-
mal de fertilidade e a menstruação ocorreu duas semanas depois.
A Figura 5-5B mostra um registro de uma jovem enfermeira,
solteira, dos Estados Unidos. A mãe dela lhe havia ensinado a distin-
guir o muco pegajoso, turvo, do muco claro, elástico. Durante o ano
apresentado, a enfermeira observou manchas de muco pegajoso, tur-
vo, porém, nunca muco claro e elástico. Muitas enfermeiras relatam
ciclos irregulares ou aparentemente não-ovulatórios. Tais ciclos po-
dem ser causados pela variação do programa de trabalho e alimen-
tação que muitas enfermeiras têm. Nos ciclos deste tipo, os níveis
de estrógeno sobem e caem como acontece na ovulação durante os
ciclos normais, porém não há fase lútea ou a fase lútea é muito curta
e ocorre o sangramento como um fenômeno de supressão de estró-
geno (sangramento interrompido). Aqui o intervalo entre o dia do
Pico e a menstruação foi curto. Os ciclos 2, 3 e 4 (particularmente
o 3) no registro apresentado na Figura 5-5B são excelentes exemplos
daquele tipo de ciclo.
Sem conhecer os níveis hormonais, os ciclos como estes ora dis-
cutidos não podem ser considerados absolutamente não-ovulatórios.
Podem ocorrer manchas de muco claro, elástico, esporadicamente,
num ciclo aparentemente não-ovulatório com níveis de estrógeno
constantemente altos que levam a sangramento interrompido.
Se houver alguma dúvida sobre se o ciclo é ou não verdadeira-
mente não-ovulatório, devem ser observadas as regras para as relações
durante o aparecimento de muco (p. 64).

Figura 5-5. A. Ciclos talvez não-ovulatórios. Somente através de estudos dos hor-
mônios pode-se determinar se ocorreu ou não a ovulação. B. A mulher registrou
só muco infértil. C. Sangramento interrompido. E. A fase folicular durou 66 dias.
P. Nutrição pobre pode ter causado a redução do número de dias de muco.

87
Figura 5-5
A . Austrália

28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito

B . Estados Unidos

NOTA : C = Coito

e. lndia

NOTA: C = Coito
Figura 5-5 (continuação)
D. Coréia

NOTA: C = Coito

E. Estados Unidos

NOTA : C = Coito

F. Coréia

NOTA: c = Coito
Muitas vezes, as mulheres muito jovens têm ciclos irregulares.
Suspeita-se que muitas vezes, suas irregularidades menstruais sejam
devidas a deficiências nutricionais uma vez que elas estão de regime.
Muitas vezes, são vistas irregularidades acentuadas e ciclos aparen-
temente não-ovt\latórios nos registros de mulheres de comunidades
nas quais a nutrição é conhecida como pobre. Estes mesmos regis-
tros mostram além disso que as mulheres têm relativamente poucos
dias de secreção mucosa fértil. Mais estudos devem ser realizados
sobre a possível relação entre a nutrição e a ovulação.
Ciclos irregulares e aparentemente não-ovulatórios são comuns
em jovens também porque os órgãos reprodutores e suas interações
com o cérebro continuam a amadurecer durante a puberdade.
Assim é importante que as meninas novas não tomem especial-
mente a pílula que poderia alterar permanentemente o processo da
maturação.
O registro apresentado na Figura 5-5F é o de uma coreana de
43 anos, graduada em curso secundário, com três filhos. Ela tinha
usado o Método do Ritmo com o objetivo de controlar o número e
o espaçamento de suas crianças, mas engravidou 5 vezes e teve cinco
abortamentos não programados. Note-se a pequena quantidade de
muco comparada com a quantidade de muco mostrada nos registros
de mulheres de países desenvolvidos. Embora no seu quarto ciclo a
mulher não tivesse um segundo (tardio) aparecimento de muco, não
menstruou senão 26 dias cle.pcis- do primeiro aparecimento de muco.
Provavelmente, não houve produção suficiente de hormônios para
promover a produção de muco, e o ciclo era possivelmente não-ovu-
latório. A mulher ficava tensa enquanto aguardava a menstruação
e foi difícil convencê-la de que não estava grávida. Felizmente, ela
aceitou a sugestão de sua instrutora para continuar usando dias se-
cos alternativos para as relações até que ocorressem outros sinais
de gravidez. Ficou aliviada quando, finalmente, começou seu período
menstrual.
A Figura 5-5E mostra o registro de uma mulher dos Estados
Unidos que teve um ciclo muito longo - a ovulação ocorreu no 72 9
dia. Em tal ciclo, o Método do Ritmo teria falhado. Se a mulher ti-
vesse tido relações próximas ao 72'! dia, o tempo da ovulação, quan-
do muitas mulheres dizem experimentar um aumento na libido, pro-
vavelmente ela teria engravidado.
Um lado benéfico do Método da Ovulação é que no caso de
gravidez, pode-se usá-lo para indicar a data da concepção. Assim
mesmo rio caso de um ciclo longo, uma gestante e seu médico pode-
riam calcular a data do parto (a partir da data da última ovulação)
com maior precisão do que poderiam calculando a partir do primei-

90
ro dia do último período menstrual. Tal precisão reduz as chances
de que o trabalho de parto seja induzido para nascer um bebê apenas
aparentemente pós-maduro.

REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Billings, E. L.; Billings, J. J. e Catarinich, M., Novo Método para o Controle da


Natalidade: Método da Ovulação - ATLAS - padrões de muco na fer-
tilidade. Edições Paulinas, 2~ ed., São Paulo, 1980.
Hilgers, Thomas W., "Natural Family Planning", Advocate, julho-agosto de
1977, voL 2, n. 4.

91
6
Uso do método da ovulação
para conseguir gravidez

A aplicação do Método da Ovulação para ajudar os casais a


conseguirem uma gravidez é o mais recente e importante avanço no
tratamento da infertilidade (Billings, 1977).
Os casais que estiverem tentando, de 18 a 24 meses, uma gra-
videz são considerados inférteis. A investigação das causas de sua
infertilidade é feita sistematicamente, e inclui a tomada de história
e exames físicos de ambos, marido e mulher e os exames de labora-
tório tal como a determinação da permeabilidade das trompas de
Falópio e para verificar a quantidade e a qualidade dos espermato-
zóides. São feitos estudos dos hormônios e outros estudos, para de-
terminar se uma mulher está ovulando ou não.
O Método da Ovulação é facilmente . aplicado aos problemas de
infertilidade. Os casais que desejam ter filhos têm relações quando
os sinais do muco mostrarem que a mulher está em seu tempo mais
fértil.

Figura 6-1 . Relação sexual próxima do dia do Pico resultou em gravidez.


Figura 6-2. A. No ciclo 3 a mulher teve produção normal de muco. Resultou
gravidez da relação mantida nesse ciclo. B. A mulher teve relação quando o muco
era alcalino - para aumentar as chances de conceber um menino em vez de
uma menina (ver o texto). C. Estudos hormonais mostraram que ocorreu a ovu-
lação, mas a mulher não conseguiu engravidar, talvez porque não houvesse muco
fértil. D. De relação no primeiro dia de muco fértil resultou gravidez. E. Muco
fértil pode não ser identificado durante o sangramento. Relação mantida em dia
de sangramento resultou em gravidez. F. Estudo de hormônios mostrou que a
ovulação ocorreu, mas a mulher não engravidou, talvez porque não teve muco
fértil.

92
Figura 6-1

NOTA: C = Coito

e.

NOTA: C = Coito

e.

'

NOTA: C = Coito
Figura 6-1 (continuação)
D.

NOTA: C = Coito

E.

NOTA: C = Coito

F.

fj . fj !S fj *
• fj fj fj* lfj
fj fj fj fj fj fj ~ ,fj 2 3

NOTA: C = Coito
Figura 6-2
A. lndia

NOTA: C = Coito

B. Coréia

Engravidou

NOTA : C = Coito

C . Austrália

16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito

Figura 6-2 (continuação)
D. Austrália

NOTA: C = Coito

E. Coréia

Engravidou

NOTA: C = Coito

F. Austrália

NOTA: C = Coito
r
Os registros deste capítulo são os de mulheres dos Estados Uni-
dos, Austrália, Coréia e índia que estavam tentando ter filhos. Al-
gumas das mulheres eram alfabetizadas, algumas, não. Como em
todas as aplicações do Método da Ovulação, saber ler e escrever
não é necessário para o êxito. A maioria dos registros são os de mu-
lheres que engravidaram aplicando o Método da Ovulação. Os re-
gistros das mulheres que não engravidaram mostram que o Método
da Ovulação pode indicar possíveis causas da infertilidade.
A Figura 6-1 A mostra o registro de uma americana que dese-
java engravidar e conseguiu duas vezes em dois anos (a primeira
gestação não chegou ao termo). Foi orientada pelo Método da Ovu-
lação depois de ter tomado a pílula durante cinco anos. Quatro me-
ses depois de registrar ela tentou conceber. Ela concebeu (Figura
6-lA, linha 5), mas abortou. O abortamento pode ter ocorrido por-
que a sua gestação era a primeira ou porque o útero ainda não tinha
I" voltado ao normal depois de longa exposição aos esteróides contra-
ceptivos.
A mulher planejou de novo a gravidez e de fato conseguiu en·
gravidar - no último ciclo do segundo ano de registro (Figura 6- lB,
linha 12, Coluna 15). Nasceu uma menina sadia, nove meses de:
pois. A mulher não amamentou e ovulou no terceiro ciclo depois
do parto (Figura 6-lC, linha 3). (Para informação mais detalhada
a respeito do rápido retorno da fertilidade depois do parto, quando
a mulher não amamenta, vide as pp. 114-117).
Note-se na Figura 6-lB a aparente ausência de muco fértil nos
ciclos 2, 3 e 4 do segundo ano. Os ciclos aparentemente não-ovula-
tórios coincidiram com a ingestão de antibióticos para tratar de uma
diarréia. A mesma ausência de muco fértil foi registrada no quarto
ano, Figura 6-lD, ciclos 7 e 8 e no seu quinto ano, Figura 6-lE, ci-
clos 4 e 8 quando uma gripe e/ou a ingestão de remédio podem ter
sido responsáveis pela possível não-ovulação. (Para melhor informa-
ção dos efeitos da doença e da medicação sobre a ovulação, vide
Figura 7-2, p. 117).
As mulheres que não foram capazes de conceber - e aquelas
que no exame físico não apresentaram anormalidades - geralmente
monstram falta ou escassez do muco fértil. A condição pode ser
corrigida, às vezes, estabelecendo-se boa nutrição e o uso de vi-
taminas suplementares (p. 81). Se forem seguidas estas medidas, o
muco fértil pode tornar-se evidente - e em quantidades normais.
A Figura 6-2A mostra o registro de uma mulher da 1ndia que
desejava engravidar. Também tinha secreção mucosa escassa no pri-
meiro ciclo depois de começar o Método da Ovulação. Teve relações
durante os dias de muco fértil (sem formação de muco antes dos
97
4 - O controle da natalidade
dias férteis). Embora tenha tido relações durante os dias de muco
fértil não engravidou. No segundo ciclo, ela teve formação normal ·
de muco, teve relações no dia do Pico e engravidou.
Figura 6-2B mostra como uma mulher (da Coréia) que tinha
duas filhas usava o Método da Ovulação para conceber um filho ao
invés de uma filha.
Se os espermatozóides contendo cromossoma X se unissem a
um óvulo, seria concebida uma menina, contudo se um espermato-
zóide contendo cromossoma Y se unisse ao óvulo seria concebido
um menino. Uma vez que (isto é teoria) os espermatozóides conten-
do X são mais fortes e sobrevivem mais do que os espermatozóides
contendo Y, os casais que desejarem ter uma menina deveriam ter
relações quando o muco estivesse levemente ácido, na ocasião da
transição do muco infértil para fértil. O ambiente ácido destrói mais
espermatozóides contendo Y do que espermatozóides contendo X e
assim aumentaria a possibilidade que a mulher teria para conceber
uma menina. Se o casal desejasse um menino, deveria ter relações
quando o muco estivesse alcalino, isto é, no Pico, no último dia do
muco claro-elástico. Pois o muco alcalino promove a sobrevivência
de todos os espermatozóides e como os espermatozóides contendo Y
aparentemente se movem mais rapidamente, é provável que os es-
permatozóides contendo o cromossoma Y alcancem o óvulo primeiro.
Como mostra o registro da Figura 6-2B, a relação sexual con-
sumou-se logo antes e logo após o Pico no sexto ciclo. A mulher
concebeu e teve um filho. Nos ciclos 4 e 5, provavelmente muito
ansiosa para conseguir, a mulher teve relações depois do dia do Pico
e não concebeu. Como se referiu alhures, se o espermatozóide esti-
ver presente algumas horas antes da ovulação, as chances da mulher
engravidar são aumentadas.
A Figura 6-2C mostra o registro de uma mulher de 30 anos
da Austrália, que durante anos havia tentado engravidar. Tentou
mesmo uma inseminação artificial. Os estudos hormonais, cobrindo
dois ciclos mostraram que tinha ocorrido ovulação. Todavia, a mu-
lher afirmou que as secreções de muco eram sempre do tipo infér-
til. Tinha também uma erosão do colo do útero, retroversão uterina
e cistos em ambos os ovários. Os cistos foram removidos. Cerca de
um ano depois a mulher notou muco fértil em dois ciclos, dando-lhe
esperança de que poderia engravidar.
A Figura 6-2D mostra o traçado de uma australiana. Foi obser··
vado muco fértil escasso somente um par de horas, de manhã, como
mostra o ciclo 2, coluna 17. A relação durante as horas férteis re-
sultou em gravidez. Note-se que apenas muco infértil apareceu no
ciclo 1 e que falharam repetidas tentativas para engravidar. Deve-se

98
lembrar que os espermatozóides sobrevivem no trato reprodutor,
após algumas horas conforme se deslocam em direção ao óvulo. Uma
vez que o muco fértil ajuda no transporte e na sobrevivência dos
espermatozóides para se tornarem totalmente eficientes em conseguir
uma gravidez, a relação deve ser logo antes da ovulação. Se este
casal esperasse até o anoitecer para ter relações, as chances são de
que não ocorreria gravidez, pois a elevação da progesterona naquela
noite teria mudado as características do muco para tipo infértil, im-
pedindo a penetração dos espermatozóides. -
A Figura 6-2E mostra o registro de uma coreana de 30 anos
(era analfabeta). Quando foi iniciada no Método da Ovulação, ela
referiu que nunca tinha observado muco fértil. Depois de usar o
Método da Ovulação sucessivamente durante seis meses, ela come-
çou a se perguntar se estava ovulando. No sexto ciclo, coluna
15 ela teve relações no segundo dia em que se apresentavam algu-
mas manchas e engravidou.
O fato de que a secreção do muco da mulher era escassa pode
refletir seu regime alimentar. Ela nunca comia carnes ou ovos; ra-
ramente comia peixe, talvez uma vez cada dois meses . Sua alimen-
tação principal era arroz com vegetais em conserva, que ela comia
três vezes ao dia. Nutrição pobre e condições de vida pobres, pare-
cem ter efeitos adversos sobre as secreções de muco (pp. 87, 88, 89).
A Figura 6-2F mostra o registro de uma mulher da Austrália
que tentava gravidez há oito anos. Os estudos hormonais provaram
que ocorreu ovulação nos ciclos 4, 5 e 6. A mulher afirmava que
não tinha tido muco claro, elástico durante vários anos. Ela tam-
bém teve cistos removidos de ambos os ovários. Talvez a ausência
,\ de muco fértil ou os cistos (ou ambos) causaram a infertilidade.

1 REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Billings, E. L.; Billings, J. J. e Catarinich, M., Novo Método para o Controle


da Natalidade: O Método da Ovulação - ATLAS - padrões de muco
na fertilidade e na infertilidade, 2~ ed., Edições Paulinas, São Paulo, 1980.
Billings, Evelyn, "A Infertilidade e o Método da Ovulação", no livro Genero-
sidade e criatividade no amor, op. cit., pp. 66ss, também artigo da pp.
167ss.

99
7
Estados emocionais e físicos
que afetam a secreção do muco
(tensão, doença, medicação,
. ,.., ,..,
partur1çao, amamentaçao,
menopausa)

O Capítulo 7 discute as alterações da secreção do muco que


estão associadas a vários estados emocionais e físicos - alterações
associadas com estresse físico e mental, doença, medicação, parturição
(tanto na mulher que amamenta como naquela que não amamenta)
e durante os anos da menopausa.
Uma vez que a ovulação envolve o funcionamento síncrono de
vários órgãos - o cérebro, a hipófise e os ovários - não é supresa
que o processo da ovulação possa se alterar temporariamente pelo uso
de drogas ou pela doença em si. As perturbações psicológicas e as mo-
dificações dramáticas no estilo de vida podem também quebrar a sin-
cronia dos acontecimentos que levam à ovulação. Além disso, regis-
trou-se a suspensão permanente da ovulação como resultado do uso
prolongado da pílula (vide pp. 133-134).

EFEITO DA TENSÃO SOBRE A OVULAÇÃO

Na Figura 7-1 os registros de ovulação de mulheres, nos Estados


Unidos e Austrália, demonstraram que a ovulação se atrasou de um
a três meses durante os períodos de tensão e inquietação psicológica.
A Figura 7-lA mostra o registro de uma mulher jovem, cujos
padrões de ovulação eram normais durante os quatro primeiros ci-

100
elos. No quinto ciclo a formação de muco e a ovulação foram inter-
rompidos por um acontecimento traumático. Seu noivo voltou do
Vietnam e surgiram divergências de opinião, naquela ocasião, resul-
tando em ruptura do noivado. A julgar pela ausência de muco fértil,
presumiu-se que esta condição traumática continuou a influenciar sua
irregularidade indefinidamente nos ciclos seguintes.
A Figura 7-B mostra ·o registro de uma adolescente americana.
Registrando cuidadosamente durante dois anos, ela vinha ensinando
o Método da Ovulação para outras adolescentes. Quando passou
para o College (durante o ciclo 3), seu padrão ovulatório normal foi
interrompido, de forma que apenas notava muco pegajoso, turvo, e
não claro e elástico. À medida que a jovem se ajustava à sua nova
vida, os ciclos voltaram ao normal. A irregularidade dos ciclos é
muito comum nas jovens quando deixam o lar para o "College" ou
para se dedicarem a outro tipo de vida. A irregularidade é geral-
mente temporária e os ciclos voltam ao normal em poucos meses.
A Figura 7-1 C mostra o registro de uma americana, mãe de uma
criança. Ela começou a registrar assim que largou a pílula, que to-
mava havia seis meses. Note-se o período prolongado de secreção de
muco. A despeito da secreção do muco, ela soube distinguir o muco
pegajoso e turvo do muco claro e elástico, determinando, assim
quando ocorreu a ovulação. Tal prorrogação da secreção freqüente-
mente ocorre depois da suspensão da pílula (pp. 133 a 136). Os ci-
clos seguintes da mulher foram pouco irregulares, como indicou o
reconhecimento dos dias do Pico.
Durante o quinto ciclo, o casal teve problemas conjugais. Esta
situação se agravou quando o marido perdeu o emprego. Imediata-
mente após isso, a mulher notou, principalmente, muco pegajoso,
turvo durante os 78 dias seguintes ao seu período menstrual. Ao ter-
minar este período difícil, quando finalmente o marido encontrou

Figura 7-1. A. Ruptura de noivado (ciclo 5). B. Alteração brusca no modo de


vida da garota que foi para o "College". C. Problemas conjugais e de desemprego
(ciclo 5). D . Estresse em mulher pré-menopausada. Estudo hormonal mostrou que
a ovulação não ocorreu, não obstante a elevada temperatura basal do corpo.

Figura 7-2. A. Tensão e/ou medicação podem retardar a produção normal de


muco. B. Ovulação retardada por doença. A mulher não seguiu as regras e en-
gravidou. C. Sarampo pode ter retardado a produção normal de muco no ciclo
2. D. Uma úlcera cervical, que fora cauterizada, pode ter provocado a redução
do número de dias de muco fértil (ciclos 3, 4 e 5) . E. Uma infecção vaginal -
ou a medicação para curá-la - teria causado a ausência de muco fértil. F. Um
cisto no ovário teria causado distúrbios no padrão de muco.

101
Figura 7-1
A. Estados Unidos - ciclos em dissolução de noivado

NOTA: C = Coito

B. Estados Unidos - adaptação ao "College"

NOTA: C = Coito
Figura 7-1 (continuação)
C. Estados Unidos - Problemas conjugais e desemprego

NOTA: C = Coito

D. Estresse em anos de pré-menopausa

~ Estrôgeno q..Lg/24h) 29.3 37.2 37.0 38.6 27.0 16.4


8. Pregnad;o1 (mg/24h) 0.6 0.6 0.6 0.6 0.6 0.3 0.8
37.0 8
o
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36.8 ~
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36.6
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E
36.4 ~

36.2

36 0
· 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

Dia do Ciclo
um trabalho seguro e suas relações se normalizaram, o muco quase
imediatamente se tornou claro, elástico (linha 7) e acompanhado por
manchas.
Como aconteceu no caso que acabamos de descrever, em que a
ovulação se atrasou, um leve sangramento pode acompanhar o apa-
recimento de muco claro, elástico, depois de longo período de infer-
tilidade. Por essa razão, as mulheres estejam atentas quando o muco
for observado - mesmo que tenha ocorrido sangramento - porque
a ovulação provavelmente ocorreu e um verdadeiro período .mens-
trual pode seguir-se duas semanas depois. Este foi o caso da mulher
cujo registro é apresentado na Figura 7-lC. Ocorreu a menstruação
cerca de 14 dias depois do aparecimento de muco claro, elástico.
A estabilidade de sua vida pessoal refletiu-se em ciclos regulares
que se seguiram no ano e meio apresentados no registro.
O registro da Figura 7-lD é de uma australiana de 45 anos de
idade pré-menopausada e mostra como o estresse de diferentes causas
afetou seus ciclos. Os estudos hormonais confirmaram que a ovula-
ção não ocorreu. É mãe de cinco crianças e está com o Método da
Ovulação há seis anos. Teve sempre ciclos regulares. Nesta ocasião,
participava de um projeto de estudo sobre a eficiência do Método
da Ovulação em mulheres pré-menopausadas e lhe pediram que re-
gistrasse sua temperatura. Ela tinha um muco contínuo que descre-
veu como um "corrimento branco". Esse era o seu padrão infértil
básico com o qual estava familiarizada.
Neste ciclo particular ocorreram vários eventos traumáticos. Um
parente faleceu no 39 dia de seu ciclo. A família teve gripe e na
terceira semana ela viajou. Na <;egunda semana o muco mudou de
seu padrão infértil básico nos dias 9 e 10. No dia 21 encontrou um
pouco de muco fértil, mas ao mesmo tempo ela contraiu gripe. Cinco
dias depois voltou ao padrão infértil básico habitual sem um pico
definido. O ciclo terminou sem ovulação, como o confirmaram sub-
seqüentemente as dosagens hormonais.
Ocorreu elevação da temperatura enquanto ela estava gripada e
continuou elevada mesmo depois que sarou e a despeito do fato de
a ovulação não ter ocorrido naquele ciclo particular.

EFEITO DE MEDICAÇAO E DE DOENÇA SOBRE A OVULAÇÃO

A evidência parece mostrar que doença ou medicação (ou am-


bas) podem retardar a ovulação por alguns dias ou por vários ciclos.
Aprendendo o Método da Ovulação, as mulheres prestem atenção a
essa possibilidade, mesmo porque a medicação nem sempre retarda
104
a ovulação e porque a reação ao medicamento é individual. Os exem-
plos apresentados na Figura 7-2 indicam ( 1) o efeito que a medica-
ção teve sobre algumas mulheres; e (2) que aquelas mulheres ainda
sabiam reconhecer seu período fértil.
A Figura 7-2A mostra o registro de uma australiana que usava
o Método da Ovulação com sucesso para evitar gravidez. No seu ter-
ceiro ciclo, a ovulação foi retardada, talvez por causa de tensão ou
de medicação (ou ambas). A fase ovulatória começara normalmente.
Então o filho dela teve uma crise asmática pela primeira vez, um
parente faleceu e a mulher tomou medicamento contra a febre do
feno. Segundo as regras, a mulher evitou relações durante três dias
depois do primeiro aparecimento do muco . Sua instrutora avisou-a
de que, não tendo notado muco claro e elástico, ela devfa esperar a
possível volta do muco. Cinco dias depois, o muco voltou com dois
dias de muco claro, elástico. Provavelmente, a ovulação ocorreu na-
quela ocasião, pois o seu período menstrual seguinte deu-se duas
semanas depois.
Os selos com bebê na fase pré-ovulatória dos ciclos 1, 3, 4 e 5
não significam necessariamente que estava presente um muco claro,
elástico. O líquido seminal, depositado na vagina durante a relação,
é, muitas vezes, descarregado na manhã seguinte e parece muco claro,
elástico. Todavia, com experiência, a maioria das mulheres pode dis-
tinguir o fluido seminal da secreção mucosa; aquelas que não conse-
guem devem evitar relações até um dia depois do muco (p. 64), nota
do rodapé).
No registro apresentado na Figura 7-2B, da Austrália, mostra-
-se a ovulação também retardada em conseqüência de doença (ciclo
2) com muco claro, elástico, aparecendo tardiamente no mesmo ci-
clo. Embora avisada para evitar relações se o muco fértil viesse a
aparecer atrasado no ciclo após a doença ou a medicação, ela não se-
guiu as regras, teve relações quando havia o muco fértil acompa-
nhado de leve sangramento e engravidou.
As mulheres, que adoecem ou que tomam remédio no começo
. da fase ovulatória do ciclo, devem seguir as regras para as relações
nos tempos de secreção de muco ou de sangramento. A ovulação
retardada pode ocorrer atrasada no ciclo. Cada ciclo deve ser con-
siderado separadamente e sem referência ao anterior.
A Figura 7-2C mostra o registro de uma americana de 18 anos.
A brevidade de suas fases lúteas deixou sua instrutora curiosa sobre
se ela realmente estava ovulando. Entretanto, o padrão normal de
suas secreções mucosas mostra a possível ocorrência da ovulação.
O segundo ciclo da jovem foi anormalmente longo e no quadragési~
mo segundo dia daquele ciclo ela informou o aparecimento de saram-

105
po. Note-se que não ocorreu o muco fértil senão depois que a doença
terminou. O período de incubação do sarampo é de cerca de três
semanas . Assim, pode-se admitir que neste caso a secreção de muco
e/ou a ovulação foram suspensas. desde o começo do período de in-
cubação até o fim da doença.
O registro de uma mexicana (analfabeta) apresentado na Figu-
ra 7-2D ilustra como a doença pode afetar a ovulação. Depois de
apresentar dois ciclos normais, a mulher teve uma úlcera que foi
cauterizada. A infertilidade coincidiu com o período de doença, hos-
pitalização e medicação (ciclos 3, 4 e 5). Os ciclos sucessivos foram
normais.
O registro da coreana (Figura 7-2E) mostra um fluxo contiínuo de
muco pegajoso, turvo, associado a uma infecção vaginal, ou ao remé-
dio usado para curar a infecção, ou a ambos. Em tais casos, a mulher
deve determinar qual é seu padrão infértil básico (pp. 68-69) . Se ob-
servar qualquer modificação na quantidade ou na qualidade da secre-
ção do muco, evite relações desde o dia da mudança até o quarto dia
após o retorno ao padrão infértil básico. Entretanto, em cinco de nove
ciclos, possivelmente não ocorreu a ovulação. A alimentação pobre
pode ter contribuído para a irregularidade. O regime da mulher con-
sistia de arroz, de qualidade pobre, e vegetais. Raramente comia peixe
e nunca comia carne.
Um dos pontos mais importantes a mencionar sobre as vanta-
gens do Método da Ovulação é a habilidade da mulher para perce-
ber alguns distúrbios ginecológicos. As anormalidades anotadas nos
registros indicam obviamente que alguma coisa está errada. Isso pode
ser infecção vaginal ou uterina, tumores, endometriose, erosão do
colo do útero ou câncer uterino, para citar algumas. As anormalida-
des em seu padrão normal alertam-na para procurar tratamento
médico. A Figura 7-2F pertence a uma jovem mulher que era casada
há cerca de dois anos e seguia o Método da Ovulação para evitar
gravidez, até que resolveu ter filhos. Revelou um modelo estranho
no seu padrão mucoso normal, que depois se verificou ter sido cau-
sado por um cisto de ovário. No segundo ciclo tentaram conseguir

Figura 7-3. A. Medicação ou enfermidade nem sempre afetam o padrão de muco,


como mostra esse registro de 3 anos. C. Desenvolveu hipertensão (ciclo 9). D.
Fibromas uterinos.

Figura 7-4. Mulheres com corrimentos também podem saber quando são férteis:
A, C, D. As mulheres podem reconhecer a mudança para muco fértil. B. As mu-
lheres podem reconhecer o dia do Pico. E. O corrimento de muco infértil, fre-
qüentemente observado na fase pós-ovulatória do ciclo, e o corrimento crônico
não-infeccioso são semelhantes na aparência.

106
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Figura 7-2
A. Austrália

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28 29 30 31 32 33 34 35
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NOTA: C = Coito
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B. Austrália

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NOTA: C = Coito

C. Estados Unidos

NOTA: C = Coito
Figura 7-2 (continuação)
D. México

NOTA: C = Coito

E. Coréia

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA : c = Coito

F. Austrália

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27. 28 29 30 31 32 33 34 35

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NOTA : C = Coito
Figura 7-3
A.

123456

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NOTA: C = Coito

B.

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NOTA: C = Coito
Figura 7-3 (continuação)
e.

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•••••
NOTA: C = Coito

D. Fibroma uterino .pode não afetar sua regularidade

NOTA: C = Coito
Figura 7-4
A . Estados Unidos

NOTA: C = Coito

B. México

NOTA: C = Coito
-Figura 7-4 (continuação)
C. Estados Unidos

NOTA: C = Coito

D . República Dominicana

NOTA: C = Coito
uma gravidez e, quando não veio a menstruação, a mulher procurou
o médico para um teste de gravidez. O teste foi negativo. Várias se-
manas depois, como se pode ver claramente no seu registro, assinalou
um padrão mucoso perturbado e um sangramento irregular. Foi ao
ginecologista, que encontrou um cisto de ovário e o removeu. Depois
de removido o cisto, o sangramento continuou, bem como manchas
de muco sem um pico definido. No último ciclo, o casal teve relações
no dia do Pico, mas não conseguiu gravidez.
Recentemente foi relatado à autora um acontecimento desta .na-
tureza, mais dramático. Uma mãe de cinco filhos, com quarenta anos,
que durante nove anos vinha tomando a pílula, e que se iniciara no
Método da Ovulação há cerca de seis anos, verificou que algo estava
errado devido ao aparecimento de muco não habitual e sangramento.
Um esfregaço de Papanicolau não revelou qualquer anormalidade. De
fato, ela tivera um Papanicolau negativo dois meses antes. O obstetra-
-ginecologista fez uma biópsia exatamente para desfazer sua apreen-
são e ficou surpreso ao achar uma condição de pré-câncer no útero.
Subseqüentemente ela submeteu-se a uma histerectomia vaginal.
A Figura 7-3 mostra que a medicação e/ou a doença nem sem-
pre afetam a ovulação. O registro é o de uma americana. No segundo
ano de registro, ela revelou-se hipertensa, mas essa condição não afe-
tou a regularidade de seus ciclos. Fibromas uterinos encontrados no
meio de seu terceiro ano de registro também não afetaram seus ciclos.
Essa mulher submeteu-se a uma histerectomia parcial. Desde a ope-
ração, ela não tem secreção mucosa clara, elástica (Figura 7-3), so-
mente um muco pegajoso, turvo, escasso.

CORRIMENTOS NAO-INFECCIOSOS CRÔNICOS;


CORRIMENTOS INFECCIOSOS AGUDOS

A Figura 7-4 mostra os registros de quatro mulheres com corri-


mento não-infeccioso crônico ou corrimento infeccioso agudo (Fi-
gura 7-4E). Uma mulher que tenha algum tipo de corrimento é capaz,
entretanto, de distinguir o muco claro, elástico, do corrimento, uma
·capacidade da qual, muitas vezes, os médicos duvidam.
A Figura 7-4A mostra o registro de uma americana com um
corrimento crônico não-infeccioso que era semelhante em quantidade
todos os dias até o início da fase ovulatória, quando a quantidade de
muco aumentava e a sua consistência mudava. Estas mudanças indi-
cavam que a ovulação estava começando e que as relações deveriam
ser evitadas desde o dia das modificações até o quarto dia depois da
volta ao padrão infértil básico (vide p. 68). Informações de mulhe-

113
res de diferentes culturas, com corrimentos semelhantes, confirmam
que elas também podem dizer quando começa a fase ovulatória, por-
que aumenta a quantidade de muco. A secreção mucosa normal e o
corrimento são diferentes na cor e na elasticidade - o corrimento
crônico ou infeccioso não estica, enquanto a secreção mucosa, sim.
Portanto, a presença de um corrimento não cria problema para indi-
car, com precisão, a fase fértil do ciclo. Os selos verdes assinalados
com letra M indicam que, embora houvesse um corrimento, era in-
fértil e o dia era livre (infértil).
A Figura 7-4B mostra o registro de uma mexicana (analfabeta)
com um corrimento infeccioso na ocasião em que começou o regis-
tro. Mas sabia distinguir o muco claro, elástico, do corrimento infec-
cioso já no primeiro ciclo. Quando a mulher foi medicada, o corri-
mento infeccioso diminuiu. A mulher era também capaz de indicar
a época da ovulação. Seus ciclos voltaram ao normal e o corrimento
foi consideravelmente reduzido depois do desaparecimento da infec-
ção (ciclo 4).
O registro da Figura 7-4C, que é parecido com o da figura 7-4A,
mostra que a mulher distinguia sua fase fértil, sem qualquer dúvida,
de seu corrimento crônico não-infeccioso.
O registro mostrado na Figura 7-4D é o de uma mulher da Re-
pública Dominicana que começou a registrar aos 40 anos de idade.
Era mãe de sete filhos (tivera um abortamento). Embora com um
corrimento não infeccioso, crônico, em cada ciclo ela conseguia per-
ceber a mudança para muco claro, elástico, e depois a volta para seu
padrão infértil básico.
A Figura 7-4E mostra o muco de um corrimento não-infeccioso
crônico. É de aspecto semelhante ao muco infértil, muitas vezes obser-
vado na fase pós-ovulatória do ciclo.

RELAÇÕES DURANTE OS PRIMEIROS DIAS INFÉRTEIS

Depois de usarem o Método da Ovulação durante uns tempos,


alguns casais resolvem querer mais um filho. Tais casais são capazes
de investigar a fase pré-ovulatória do ciclo, para determinar quão
próximo do pico poderiam ter relações sem haver gravidez. A infor-

Figura 7-5. A. Relação no segundo dia da secreção de muco não resultou em


gravidez. B. Relação tida no dia do Pico levou a engravidar. C. Relação no se-
gundo dia da secreção de muco não resultou em gravidez.

114
Figura 7-5
A. Estados Unidos

NOTA : C = Coito

B . Estados Unidos

NOTA: C = Coito

C. Canadá

33 34 35

NOTA: C = Coito
mação será útil, depois, para reduzir possivelmente o número de dias
de abstinência.
Como se vê no registro da Figura 7-SA, relações no segundo
dia da secreção mucosa nos ciclos 5 e 6 não resultam em gravidez.
No ciclo seguinte, não apresentado, ocorreu um relação nos últimos
dias de secreção mucosa, quando o muco havia mudado de turvo,
pegajoso para claro, elástico, resultando uma gravidez.
A Figura 7-SB mostra o registro de uma americana. O casal em
apreço estava ansioso por um filho e eles também queriam te_star o
Método da Ovulação nos primeiros ciclos, de tal modo que, no fu-
turo, soubessem aproximadamente quantos dias de muco pegajoso,
turvo, poderiam usar, depois, para ter relações sem o risco de uma
gravidez. No primeiro ciclo, a relação foi no terceiro e quarto dias da
secreção mucosa, justamente dois dias antes do dia do Pico. No ter-
ceiro ciclo a relação teve lugar no primeiro dia de secreção mucosa,
dois dias antes do dia do Pico. No quarto ciclo houve uma produção
mínima de muco, sem dia de Pico talvez (o ciclo foi não-ovulatório).
No último ciclo tiveram relações no dia do Pico, e a mulher en-
gravidou.
O traçado da Figura 7-SC mostra que da relação do segundo
dia de secreção de muco não resultou gravidez 1• Todavia, isto não
é uma conduta recomendável para os casais que desejam retardar
uma gestação, temporária ou permanentemente.

OVULAÇÃO DEPOIS DO PARTO

Ovulação na mulher que não está amamentando o filho

As mulheres que não amamentam voltam aos padrões ovulató-


rios normais dentro de um ou dois ciclos depois do parto.
A ovulação geralmente ocorre antes do primeiro fluxo menstrual
depois do parto. Se a mulher foi bem orientada, ela pode detectar
não só a época da ovulação, mas também a data aproximada do seu
ciclo menstrual (duas semanas mais tarde). Às vezes, o ciclo que su-
cede ao primeiro ciclo fértil é irregular ou não-ovulatório.

Figura 7-6. As mulheres observaram o primeiro aparecimento do muco fértil e


foram capazes üe prever quando voltaria a menstruação.
1 Estes exemplos ilustram o fato de que, para induzir a uma gravidez com sucesso,
a relação deverá ocorrer pr6xima da época em que se presume que ocorra a ovulação.

116
Figura 7-6
A. Canadá

23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito

B. Estados Unidos

1 2 3 4 5 6 1J8 J s 110 11 12 13 14 15 16 11 J18 119 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

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NOTA: C = Coito

C. México

NOTA: C = Coito
Os três registros apresentados na figura 7-6 são os de mulheres
do Canadá, Estados Unidos e México que começaram a registrar de-
pois que terminou a loquiação (loquiação é o fluxo vaginal que ocorre
normalmente nas semanas que seguem o parto). A secreção mucosa
apareceu logo depois. O dia do Pico foi reconhecido e o período
menstrual começou duas semanas depois.
O registro apresentado na Figura 7-6B mostra que ocorreu um
ciclo aparentemente não-ovulatório no ciclo seguinte ao primeiro ciclo
fértil pós-parto.

Ovulação na mulher que amamenta

O Método da Ovulação é particularmente indicado para a mu-


lher que amamenta, porque a habilita a reconhecer a infertilidade
enquanto não está ovulando. Geralmente, não há necessidade de des-
mamar o bebê para que a ovulação se restaure.
Podem passar muitos meses até que ocorra a primeira menstrua·
ção. As datas exatas para o retorno da ovulação e da menstruação
não são previsíveis. As datas de retorno dependem do estado geral
da mulher e de se ela amamenta completamente o bebê ou não (o ter-
mo completamente, quer dizer que a criança não recebe nenhum
outro alimento além do leite materno) . Quando um bebê está sendo
amamentado completamente é incomum o retorno da fertilidade antes
de três meses.
Terminada a loquiação, há geralmente um período de secura.
Nesta ocasião a mulher começa a registrar.
O registro apresentado na Figura 7-7 A é o de uma americana de
23 anos de idade que amamentava seu segundo filho. O bebê ali-
mentou-se somente de leite materno, durante seis meses, e depois co-
meçou a receber alimentos sólidos (linha 4). As primeiras secreções
mucosas apareceram ao mesmo tempo . Quando um bebê começa a
ingerir sólidos, seu apetite diminui e, como resultado, diminui a esti-
mulação que a sucção produz na hipófise da mãe. O primeiro ciclo
fértil aparente da mulher ocorreu quando o bebê estava com 17 me-
ses (linha 15). O bebê mamou ainda até o 2!9 mês; mesmo assim,
os períodos menstruais da mulher tinham voltado. O dia do pico foi
indicado por um X sobre o selo branco com bebê.
Não é necessária a abstinência se houver secura continuadamente
durante o período da amamentação. As regras para as relações du-
rante o período de desmame são as mesmas para a mãe que ama-
menta, que ainda não ovulou, como para qualquer outra mulher atra-
118
vessando a fase pré-ovulatória. Se for observado um dia de muco
turvo, pegajoso, devem-se evitar relações nesse dia e nos três dias
seguintes, restringindo as relações às noites durante o período de
amamentação (dia seco, noite livre). Depois que se observou a ovula-
ção, como no caso de 7-7 A, aplicam-se as regras pós-ovulatórias, isto
é, se for observado um dia de muco pegajoso, turvo, evitam-se rela-
ções nesse dia. Se o dia seguinte for seco pode-se ter relações. Se fo-
rem observados dois dias de muco pegajoso, turvo, aplica-se a mesma
regra. Entretanto, se forem observados três dias deste tipo de mqco,
é aconselhável abster-se três dias secos extras antes de relações . Oca-
sionalmente, as mães que amamentam têm apenas um dia de muco
claro, elástico, e depois secura. Tais mulheres devem evitar relações
naquele dia mais três dias de secura. Algumas mães que amamentam
também notam sensação continuada de umidade. Ainda o cuidado é
aconselhável, evitando-se esses dias mais três dias extras.
A figura 7-7B mostra o registro de uma americana que ama-
mentava seu quarto filho. Começou a registrar depois que nasceu o
filho . Os selos vermelhos indicam os lóquios. Os dois selos com bebê
da primeira linha indicam o aparecimento de muco pegajoso que coin-
cidiu com o tempo em que o bebê teve uma infecção do ouvido e
mamou menos . Como se explicou, a estimulação proveniente da suc-
ção de bebê pensa-se ser inibitória da ovulação. Note-se como o muco
apareceu rapidamente quando a amamentação diminuiu . Uma situa-
ção semelhante foi encontrada quando o bebê começou a comer só-
lidos (linha 7) . A linha 8 mostra um padrão ovulatório normal à me-
dida que a amamentação continuava a diminuir. A fase lútea foi mais
longa do que a normal, uma ocorrência comum nas mães que ama-
mentam. No último ciclo a mulher não teve muco fértil, provavel·
mente porque ela teve uma infecção por vírus, contra a qual teve
que tomar remédio.
O registro apresentado na Figura 7-7 C é o de uma mulher de
26 anos de Papua - Nova Guiné que tinha três filhos. Dieta boa e
ela razoavelmente sadia. No período de amamentação, apresentou se-
cura completa e, assim que o desmame começou, ma·nchas de muco
apareceram e um padrão normal estabeleceu-se muito rapidamente.
O registro apresentado na Figura 7-7D é o de uma mulher me-
xicana, analfabeta, mãe de nove filhos. Começou o registro quando
iniciou a desmamar o bebê. Apareceram manchas de muco infértil,
então ela estava apta para indicar seu primeiro ciclo fértil (linha 2) .
Seus períodos menstruais foram completamente normais depois disso.
O registro apresentado na Figura 7-7E é o de uma nigeriana de
22 anos, analfabeta, que tinha um bebê de três meses. k dieta da mu-
lher era boa. Os longos períodos de secura e as pequenas manchas

119
ocasionais de muco infértil nos primeiros dois meses de amamentação
são típicos de mães amamentando.
O registro apresentado na Figura 7-7F é o de uma australiana
que começou o registro 11 meses depois do parto. A loquiação de-
morou cel'c:-t de 31 dias, depois da qual a mulher ficou seca durante
sete meses. Ela amamentou completamente seu filho durante cinco
meses e meio. Depois foram acrescentados ao regime do bebê ali-
mentos sólidos, mas nenhum suplemento líquido além de água. Gra-
dualmente a secreção de muco da mulher voltou. Este registro- é da
ocasião em que o bebê tinha 12 meses, a mulher voltou à amamen-
tação total quando a família estava de férias. Durante aqueles 17
dias a secreção de muco ficou suspensa (vide a flecha nas linhas
1 e 2).
Os estudos de laboratório mostraram que o aparecimento de
muco claro, elástico, coincidiu com um aumento significativo nos ní-
veis de estrógeno sangüíneo da mulher (os dias de níveis mais altos
são indicados no registro por linhas fortes) . A mulher previu corre-
tamente a volta da menstruação baseada na data de sua primeira
ovulação depois do parto, como indicou no registro (linha 11, co-
luna 1).
Note-se que um selo branco com bebê foi usado sempre que o
muco mudou de padrão infértil básico (selo amarelo), um padrão que
ocorreu sem qualquer modificação durante vários dias. O selo branco
com bebê indicou que a relação devia ser evitada enquanto aguar-
dava qualquer modificação possível no muco. As relações devem ser

Figura 7-7. A. Enquanto só amamentava seu filhinho, a mulher não teve secre-
ção de muco. A secreção de muco voltou quando começou o desmame do bebê.
B. O aparecimento de muco ocorreu no primeiro mês quando o bebê esteve
adoentado e ficou sem apetite, e tfuando o bebê começou a receber alimentação
sólida (linha 7). O primeiro aparecimento do muco fértil deu-se no sétimo mês
(linha 9). Uma infecção por ' vírus e/ou medicação retardou o aparecimento do
muco fértil no último ciclo; C. Enquanto o bebê só mamava, a mulher não teve
secreção de muco. A secreção de muco recomeçou duas semanas antes do pri-
meiro período menstrual. D. As primeiras placas de muco deram-se quando a
mulher começou a desmamar o bebê. O seu período menstrual logo se normalizou.
E. Longo período de secura interrompido por ocasionais placas de muco. F. Um
estudo de hormônios mostrou que o muco claro e elástico coincidiu com um
aumento _do estrógeno nos níveis sangüíneos da mulher (linhas assinaladas). G.
Placas de muco ocorreram enquanto a mulher amamentava o filhinho. H. Estudo
hormonal confirmou que a ovulação coincidiu com o aparecimento do muco
. _fértil quando a mulher amamentava o seu bebê. /. Várias mudanças que ocorre-
. raro numa mulher que amamentou seu filhinho durante dois anos. ]. Volta da
fertilidade seis semanas depois do parto, não obstante a mulher nutrisse seu bebê
apenas no peito. K. Corrimento leitoso freqüente nas mães que amamentam.

120
Figura 7-7
A. Estados Unidos

NOTA: C = Coito

B. Estados Unidos

NOTA: C = Coito
Figura 7-7 (continuação)
C. Pãpua Nova Guiné

NOTA: c = Coito

D. México

NOTA: c = Coito
Figura 7-7 (continuação)
F. Austrália

1 2 3

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••••••• ••••• •
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NOTA: C = Coito
1•

G. lndia

NOTA: C = Coito

H. Austrália

32 33 34 35

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...
0.3

NOTA: C = Coito
Figura 7-7 (continuação)
1. Coréia

NOTA: C = Coito

J. Estados Unidos

NOTA: c = Coito
evitadas durante a presença de qualquer muco claro, elástico, até o
quarto dia depois do desaparecimento ou modificação do muco.
No registro da mulher indiana (Figura 7-7G), note-se que as
manchas de muco eram semelhantes durante as etapas de desmame e
depois voltaram gradualmente ao normal quando se completou o
desmame.
O registro apresentado na Figura 7-7H é o de uma australiana
que começou a registrar 3 meses e meio depois do parto. Ela e seu
marido queriam evitar gravidez e abstiveram-se de relações de~de
o parto.
Ela não seguia o Método da Ovulação antes. Do seu registro
pode-se ver que ela tinha um padrão infértil básico de secura e um
de muco um pouco pegajoso. O casal foi convidado a seguir a regra
dos primeiros dias e colocar um selo branco com bebê no dia após a
relação caso o líquido seminal e o constante fluxo de muco infértil
mascarasse o aparecimento do começo da fase ovulatória. Observe-se
que na quinta linha foi registrado algum sangramento, acompanhado
de muco tipo fértil. Isto coincidiu com o momento em que tinha suas
crianças doentes no hospital e estava cansada e ansiosa. Conforme o
número de mamadas diminuiu e mais sólidos foram introduzidos, o
muco do tipo fértil apareceu levando à ovulação. As dosagens hor-
monais confirmaram que houvera ovulação (linhas 9 e 11).
O traçado apresentado na Figura 7-7I é o de uma coreana de
33 anos de idade, mãe de dois filhos. Seu filhinho de dois anos ainda
mamava. Embora a mãe tivesse observado muco turvo, pegajoso, só
começou a registrar quando o bebê tinha 1 ano, quando apareceu
muco claro, elástico. Num ponto (linha 5), teve um corrimento in-
feccioso contínuo curado com medicamento. Note-se que, pela pri-
meira vez em dois anos, ela observou muco elástico, claro (linha 5).
Depois disso, a fase lútea antes de sua primeira menstruação foi bas-
tante curta. Talvez aquele ciclo foi não-ovulatório, pois os níveis hor-
monais estavam suficientemente elevados para produzir sinais muco-
sos de ovulação, mas não bastante elevados para produzir a própria
ovulação (Brown, 1978).
O tempo que vai desde o nascimento até a volta da ovulação é
variável nas diferentes mulheres. Às vezes a ovulação volta, mesmo
na mulher que amamenta completamente. Apenas raramente volta nos
três primeiros meses depois do parto. O registro apresentado na Fi-
gura 7-7J é o de uma americana que, embora amamentasse comple-
tamente, menstruou seis semanas depois do parto. Treinada no Mé-
todo da Ovulação, descobriu que a fertilidade voltou mesmo, embora
estivesse amamentando um bebê grande e faminto. Evitou relações
durante os dias em que o muco esteve presente. A irregularidade na

125
duração de seus ciclos pode ter sido devida ao fato de ela ainda
estar amamentando completamente.
Uma outra condição incomum, que se apresenta durante a ama-
mentação, consiste na secreção prolongada de muco claro, elástico.
Instrutoras do Método da Ovulação provam que a secreção pode ser
modificada pelo ajustamento da estimulação resultante da sucção. Se
a sucção for aumentada pelo aumento do aleitamento, a secreção elás-
tica clara se reduz ou pode desaparecer totalmente dentro de poucos
dias . Se a sucção diminui, resulta ovulação.
O muco, que anuncia a primeira ovulação depois do parto, pode
não ser tão obviamente fértil ou infértil como acontece em outras
ocasiões, talvez porque a ovulação na mulher que amamenta ocorra
sob níveis estrogênicos relativamente baixos (Brown, 1978). Se hou-
ver qualquer indicação de que a fertilidade pode estar voltando, as
relações sexuais devem ser evitadas se se deseja evitar gravidez.
O tempo, desde a primeira ovulação até o período menstrual
seguinte, pode ser relativamente curto. O primeiro fluxo menstrual
pode ser mais prolongado e mais profuso e os primeiros ciclos talvez
irregulares . Algumas mulheres · têm fluxo mucoso leitoso contínuo,
que é o seu padrão infértil básico, enquanto amamentam. Às vezes, é
profuso e leitoso (Figura 7-7K). Quando os ciclos se normalizam, o
padrão mucoso muda. A mulher pode ter dias secos depois da mens-
truação, depois muco pegajoso turvo, a seguir, leitoso, muco desli-
zante que se parece com o muco segregado enquanto ela amamentava.
Mulheres dos países em desenvolvimento, mesmo as das comu-
·nidades mais pobres e mais primitivas, espaçam suas crianças ama-
mentando durante longos períodos. Os elementos protetores do leite
materno capacitam a criança a sobreviver às condições nas quais
vivem muitas pessoas desses países. As mulheres nesses países ama-
mentam os filhos mais freqüentemente do que as mulheres das socie-
dades mais ricas, que, por conveniência ou por outras razões, aumen-
tam os intervalos entre as mamadas. As mulheres dos países em de-
senvolvimento, que precisam cuidar continuamente de seus filhos, car-
regam-nos nas costas e os amamentam freqüentemente à vontade.
A estimulação continuada provocada pelo amamentar constante atra-
sa o retorno da mulher à fertilidade pelo bloqueio das mensagens hor-
monais que desencadeiam a ovulação.

OVULAÇÃO NA MULHER PRÊ-NENOPAUSADA

A fase em que a mulher experimenta um progressivo declínio


em sua fertilidade (geralmente, quando está com 45 a 55 anos) é
referida nesta discussão como a de pré-menopausa.
126
Durante a pré-menopausa, os períodos menstruais podem parar
abruptamente e começar de novo ou podem tornar-se irregulares, al-
gumas vezes com sangramento profuso. A ovulação pode ocorrer às
vezes, pode cessar de vez, como pode acontecer durante a menstrua-
ção. Em tal caso, a mulher pode continuar air,da fértil. O muco fértil
pode declinar ou desaparecer, caso em que mesmo uma mulher que
está ovulando seria infértil (Figura 7-8F). Finalmente, a fase lútea
do ciclo pode tornar-se muito mais curta do que o comum de duas
semanas.
Além das modificações acima mencionadas, a mulher pode ex-
perimentar jatos quentes, nos quais uma sensação de calor banha o
corpo, e se enrubescem a face e o pescoço. Os jatos quentes são refle-
xos de baixos níveis de estrógeno (Billings, 1976). (Pode servir de
algum consolo para a mulher saber que nos dias que sente jatos
quentes, ela é infértil). As mulheres menopausadas muitas vezes sen-
tem-se deprimidas, talvez por causa de modificações físicas ou por
razões psicológicas, ou por ambas.
A mulher pré-menopausada tem mudanças em seu padrão mu-
coso. Pode ter muitas semanas de dias secos ou de secreção contínua
de muco pegajoso ou flocoso. O muco contínuo na mulher pré-me-
nopausada é composto de células vaginais, glóbulos sangüíneos e leu-
cócitos, o que é reflexo de baixos níveis estrogênicos (Billings, 1976).
Os casos da Figura 7-8, para ilustrar registro durante a pré-me-
nopausa, são ainda os de mulheres de diferentes países e culturas,
que ·demonstram que em toda parte as mulheres têm os mesmos pro-
blemas e são capazes de resolvê-los usando o Método- da Ovulação.
O registro apresentado na Figura 7c8A é de uma americana de
45 anos de idade que tivera sete filhos. Durante os anos de repro-
dutividade, seus ciclos variavam de 19 a 27 dias de duração. O ciclo
6 durou 34 dias, pela primeira vez em sua vida, e o aumento poderia
significar que o estágio de menopausa da mulher estava começando.
O registro apresentado na Figura 7-8B é o de uma mulher de
45 anos de idade, americana, cujos ciclos variavam de duração de
19 a 28 dias no primeiro ano apresentado. Em seis dos ciclos pode
não ter havido ovulação, pois não observou muco claro, elástico. Os
selos amarelos, introduzidos algum tempo depois de feito o registro
aqui apresentado, poderiam agora ser usados ao invés de selos bran-
cos com bebê para os ciclos aparentemente não-ovulatórios. No se-
gundo ano, os ciclos da mulher tornaram-se mais irregulares. Os d.-
elos longos de muco turvo, pegajoso, eram seguidos de sangramento
intermitente com muco (linhas 4 e 6). A análise dos dias de relações
no segundo ano mostra que o casal não observou a regra de evitar re-
lações durante qualquer dia de sangramento (vide p. 129). A letra

127
"M" anotada sobre alguns dos selos vermelhos indicou que o muco
acompanhava sangramento. No penúltimo ciclo, a mulher teve re-
lações no último dia de sangramento, embora muco e sangramento
estivessem presentes, e ela engravidou. Deve-se lembrar que as mu-
lheres pré-menopausadas tendem a ter irregularidades na concentração
de hormônios, o que provoca irregularidade na duração dos ciclos e
também sangramentos intermitentes. Daí, as regras estritas para evi-
tar relações durante os dias de sangramento com muco mais os três
dias seguintes.
O registro da Figura 7-8C, o de uma australiana, mostra muitas
das variações encontradas nas mulheres pré-menopausadas: (1) ciclos
férteis curtos - ciclo 1, linha 1; (2) ciclos longos com sangramentos
intermitentes - ciclo 2, linhas 2 e 3; (3) ciclos não-ovulatórios -
ciclo 3, linhas 4 e 5; (4) sangramento prolongado - ciclo 4, linha
6; (5) ciclos férteis longos - ciclo 5, linhas 7 e 8; e (6) ciclos in-
férteis, curtos, apenas com muco flocoso seco - ciclo 6, linha 9.
A despeito das variações, a mulher, cujo registro é apresentado, evi-
tava gravidez seguindo as regras.
São também encontradas variações semelhantes nos registros de
mulheres de países desenvolvidos e de diferentes culturas. Vide Fi-
guras 7-8D, de Fiji e 7-8E, da fndia. Note-se no registro da Figura
7-8E a preponderância de ciclos irregulares aparentemente não-ovula-
tórios. De acordo com o médico e sua instrutora do Método da Ovu-
lação, a mulher de 39 anos, indiana, tinha sangramento excessivo e
coágulos. Tal sangramento excessivo não é incomum durante a pré-
-menopausa. Embora fosse analfabeta, ela era capaz de evitar gravidez
seguindo as regras. A Figura 7-8F é de uma mãe australiana pré-me-
'nopausada. f: excelente exemplo para informar de que nem sempre
é possível saber se aconteceu a ovulação num ciclo individual. Mas
é possível identificar a infertilidade pelas características do tipo de
muco. O fato de uma mulher ovular não significa que é capaz de

Figura 7-8. A. Ciclos irregulares numa mulher de 40 anos de idade. Pode indi-
car o começo da pré-menopausa. B: Ciclos irregulares e extenso sangramento in-
termitente com muco. A mulher não observou as regras e engravidou. C. Irregu-
laridades semelhantes às encontradas em B; mas a mulher observou as regras e
evitou gravidez. D. Ciclos irregulares e a ausência de secreção mucosa fértil pode
significar que a mulher está na pré-menopausa. E. Não são raros sangramentos
abundantes e coágulos durante o estádio pré-menopausal. Embora analfabeta, a
mulher era capaz de seguir as regras e assim evitar gestação. F. Mesmo que
ocorresse ovulação, não haveria concepção sem o tipo certo de muco necessário
à sobrevivência do espermatozóide. Os números abaixo dos selos referem-se às
correlações hormonais. O = estrógeno (Oestrogen) urinário total (em microgra-
mas/24h); P = pregnanediol urinário (em miligramas/24h).

128
~ Figura 7-8
A . Estados Unidos

29 30 31 32 33 34 35

NOTA: c = Coito

B. Canadé

NOTA: C = Coito

5 - O controle da natalidade
e. Austrália Figura 7-8 (continuação)
26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

D. Fiji

E. lndia

29 30 31 32 33 34 35

••• •.,
F. Austrália

1 12 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

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3-9 4-4

•• • • •
0-6 0-8

------ --

NOTA: C = Coito
conceber, a menos que o tipo certo de muco necessário para o esper-
matozóide sobreviver esteja presente no corpo da mulher. No pri-
meiro ciclo os valores hormonais pareciam indicar que a ovulação
tinha ocorrido provavelmente no 89 dia. Este dia era seco é a relação
não resultou em concepção. Os selos brancos com bebê colocados nos
dias seguintes ao de relações indicam a presença de fluido seminal
no dia após a relação. No segundo ciclo, o muco com característica
de fertilidade foi identificado n:o quadragésimo quinto dia do ciclo,
linha 3. Foi colocado um X depois, porque ocorreu sangramento du-
rante nove dias: seguiram-se três dias secos de abstinência, uma pre-
caução segura em mulheres aproximando-se da menopausa, pois o
sangramento e uma secreção prolongada de muco são comuns durante
a idade crítica. As dosagens hormonais indicaram que a ovulação
provavelmente ocorreu no último dia de sangramento. O apareci-
mento de muco com alguns característicos de fertilidade logo antes
do surto de sangramento no quadragésimo quinto dia, refletia a su-
bida dos níveis estrogênicos ovarianos que alertaram a mulher de
possível aproximação de fertilidade.
Portanto, as mulheres que estão vivendo a pré-menopausa de-
vem se lembrar que o sangramento e um período prolongado de fluxo
mucoso são bastante comuns nesta fase da vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1

Billings, E. L., The Regulation of Births by the Ovulation Method at the Clima-
f' cteric (Change of Life)_. Natural Family Planning Council of Victoria (Aus-
trália), junho de 1976.
Ayd, Frank, "Aspectos Psicológicos do Controle Natural de Natalidade'', no li-
vro Generosidade e criatividade no amor, op. cit., pp. 80ss; também artigo
seguinte, pp. 83ss.
Brown, J. B., "Hormonal Correlations of the Ovulation Method". Trabalho apre-
sentado à Conferência Internacional sobre o Método da Ovulação, Mel-
bourne, Austrália, 1978.

131
8
Registro da secreção do muco
depois da interrupção da pílula
e de outros contraceptivos
artificiais

O Capítulo 8 discute a pílula, os dispositivos intra-uterinos e


os contraceptivos injetáveis. O debate limita-se a estes contraceptivos
em particular, porque são os mais comumente usados e porque muitas
mulheres, que estão aprendendo o Método da Ovulação, podem ainda
recentemente ter seguido algum destes métodos. Assim é importante
que os instrutores do Método da Ovulação, os usuários atuais e as
possíveis usuárias do Método da Ovulação entendam como os méto-
dos artificiais de contracepção agem e que efeitos colaterais acarre-
tam, particularmente aqueles efeitos colaterais prejudiciais à saúde
e à fertilidade da mulher.

A PÍLULA

Os diferentes tipos de contraceptivos orais (todos referidos neste


livro como a pílula) são compostos de várias combinações de esterói-
des sintéticos e naturais que inibem a ovulação e/ ou a implantação
do óvulo fertilizado (Aiyd, 1964). Tornam também a secreção mu-
cosa densa de tal modo que os espermatozóides não são capazes de
penetrar e alcançar o óvulo (Hilgers, 1978, Hume, 1978). Hume e
outros pensam que a pílula, às vezes, atua como um abortivo, provo-
cando a destruição de um óvulo fertilizado, tornando o revestimento
uterino impróprio para manter a implantação de um óvulo fertilizado.

132
EFEITOS COLATERAIS DA PfLULA

Os efeitos colaterais da pílula, do DIU e do contraceptivo inje-


tável estão sendo investigados - e discute-se muito a respeito disso.
Os efeitos colaterais discutidos aqui e em outras partes do capítulo,
variam desde os conhecidos, que muitos consideram estudos defini-
tivos, até aqueles que estão sendo objeto de pesquisas ainda não com-
pletas. Qualquer que seja a fase da pesquisa, convém que as mulheres
que estão escolhendo um método de evitar gravidez sejam informa-
das da existência de um método efetivo que não apresenta quaisquer
riscos para a sua saúde física (o Método da Ovulação), bem como
outros métodos que implicam um número enorme de efeitos colate-
rais perigosos.
A lista de possíveis efeitos secundários da pílula, dada em Phisi-
cian's Desk Reference e também colocadas na bula da pílula, é longa.
A lista inclui edema, surtos hemorrágicos, depressão mental, diminui-
ção da tolerância à glicose, diabete, tromboflebite, embolismo pulmo-
nar, anomalias vasculares cerebrais, hepatomas e outras disfunções
do fígado (vide também Seaman e Seaman, 1977). Também há es-
peculação entre alguns cientistas sobre se o uso prolongado da pílula
poderá perturbar o funcionamento do cérebro, da hipófise, dos ová-
rios, das glândulas supra-renais, do fígado e do útero (British Medical
fournal, 1977).
A pílula induz uma condição de pseudogravidez, que alguns con-
sideram um estado patológico em que as modificações que ocorrem,
embora próprias da gravidez, são irrelevantes para o estado de não-
-gravidez e podem assim favorecer o desenvolvimento de condições
perigosas, tal como trombose e tromboembolismo (FDA, 1978). No
Reino Unido, um estudo de mulheres que tomaram a pílula mostrou
que a mortalidade varia devido a uma porção de causas e foi, aproxi-
madamente, cinco vezes maior que a daquelas que nunca tomaram a
pílula ("Royal College of General Practioners' Oral Contraception
Study'', The Lancet, 1977).
A amenorréia, um efeito colateral comum da pílula, pode, às
vezes, prolongar-se bastante. Embora a amenorréia seja raramente
permanente, a perspectiva de sucesso em gravidez é menos favorável
(British Medical fournal, 1976). Algumas mulheres que abandona-
ram a pílula porque queriam engravidar, podem ter mais problemas
do que previam, uma vez que elas não estão menstruando.
O uso da pílula durante a gravidez pode aumentar as chances
de o bebê nascer com algum defeito, tal como desenvolvimento anor-
mal dos membros ou anomalias da coluna vertebral, do coração, da

133
traquéia, do esófago ou dos genitais (Hume, 1978; Seaman e Seaman,
1977).
Mulheres que tomam a pílula podem ter deficiências de vitamina
B bem como outros tipos de deficiências nutricionais (Rose, 1966;
Martinez e Roe, 1977). Seaman e Seaman também acham que o uso
da pílula pode estar relacionado com distúrbios no desenvolvimento
dos olhos, pressão sangüínea alta, diabete, disfunções da vesícula bi-
liar, diminuição da resistência às infecções por vírus, e mesmo câncer.
Em 1977, Stern e seus colaboradores noticiaram a possibilidade de ·
um aumento de incidência de câncer do colo uterino em certas mu-
lheres que tomaram pílula. Eles basearam seu levantamento em es-
tudo, durante cinco anos, de mulheres que apresentavam anormali-
dade no revestimento da cervix, conhecida como displasia. Embora a
incidência do câncer do colo uterino nas usuárias da pílula seja as-
sunto controvertido, a evidência de Stern indica que o uso prolongado
da pílula aumenta o risco de câncer em mulheres com displasia.
A pílula é uma droga extraordinariamente potente que afeta gran-
de número de processos do corpo.

Registro da secreção do muco


depois da interrupção da pílula

As mulheres que começam a registrar, depois de interromperem


a pílula parecem apresentar irregularidades em seus ciclos, por isso,
elas são alertadas pela instrutora do Método da Ovulação de que de-
vem esperar pelo menos três meses antes de tentarem engravidar.
Os registros apresentados nas páginas seguintes ilustram as vá-
rias reações que mulheres do mundo inteiro relataram, depois que
interromperam o uso da pílula.
O registro apresentado na Figura 8-lA é de uma americana que

Figura 8-1. Após a interrupção da pílula. A. Longas manchas de muco, às vezes


fértil, são muitas vezes observadas. B. Ocasionalmente uma mulher não tem se-
creção mucosa. A mulher queria conceber, mas teve de aguardar 18 meses até
que a fertilidade voltasse. C. Embora houvesse tomado a pílula durante um mês
apenas (ciclo 7), o padrão mucoso da mulher apresentou perturbações em cinco
ciclos. Conseguiu engravidar no último ciclo. D. Resultado típico de uso prolon-
gado da pílula. Períodos longos de secreção mucosa infértil e outras irregulari-
dades. E. Curta exposição à pílula muitas vezes acarreta efeitos prolongados, es-
pecialmente nos países em desenvolvimento. F. Pressão sanguínea alta é efeito
colateral da pílula. A mulher tomou a pílula durante oito anos. Estudos hormo-
nais iridicaram que dois anos após a interrupção da pílula, ela ainda estava
infértil.

134
Figura 8-1
A. Estados Unidos

NOTA: C = Coito

B . Estados Unidos

C. Austrália

•••
NOTA: C = Coito
Figura 8-1 (continuação)
D. Canadá

NOTA : C = Coito

E. República Dominicana

NOTA : C = Coito
Figura 8-1 (continuação)
F. Austrália

8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito •
deixou o uso da pílula, depois de a tomar durante quase um ano.
O sangramento inicial que se seguiu foi escasso, não uma verdadeira
menstruação (p. 133). Depois do sangramento inicial, a mulher teve
corrimento mucoso prolongado. Tal corrimento é comum quando uma
· mulher toma pílula durante longo período. Como se explicou na p.
29, a ovulação ocorre somente quando os hormônios alcançam certo
nível. Manchas de muco infértil ocorrem quando os níveis não são
bastante altos.
Note-se (na Figura 8-lA) que, desde o segundo ciclo, os ciclos
eram normais e pareciam férteis. A letra "M" nos últimos selos ver-
des, alguns dias antes do período menstrual, indica o muco levemente
escuro que muitas mulheres têm antes da menstruação (p. 86). Como
a mulher tomava a pílula há pouco tempo, não teve perturbações
seguindo o Método da Ovulação. Mas os registros de mulheres que
interromperam a pílula, depois de a tomarem durante muitos anos,
são, muitas vezes, mais complicados.
O registro apresentado na Figura 8-lB é o de uma jovem ame-
ricana. Tendo tomado a pílula apenas durante oito meses, decidiu in-
terrompê-la porque teve uma infecção nos olhos. (Também resolveu
engravidar). Depois de registrar durante alguns meses, ela não obser-
vou nenhum muco, exceto algumas manchas de muco turvo, pegajoso.
Demorou um ano e meio para engravidar. (Muitos outros casos de
secura prolongada e infertilidade depois da interrupção da pílula fo-
ram relatados em diferentes partes do mundo).
O registro apresentado na Figura 8-1 C é o de uma jovem austra-
liana. Depois de registrar durante alguns meses, ela foi aconselhada
por seu médico a tomar a pílula, porque apresentava sangramentos
menstruais graves e esperava menstruar na época de seu casamento.
Ela tomou duas cartelas de 21 dias de pílulas, começando no quinto
dia do sétimo ciclo, logo depois de seu período menstrual. Depois
desta · pequena exposição à pílula, verificou que já não era capaz de
reconhecer o dia do Pico, porque seu corrimento mucoso mudara con-
sideravelmente. Tinha corrimentos intermitentes de muco frouxo, elás-
tico, filiforme. Embora seus primeiros dias livres não fossem comple-
tamente secos, era capaz de identificá-los pelo caráter contínuo e imu-
tável do muco. Passaram-se 6 ciclos antes que ela voltasse ao normal,
embora tivesse tomado apenas duas cartelas de 21 pílulas cada uma.
No primeiro ciclo normal, marcado depois da tomada da pílula
naquele mesmo registro, linha 13, o casal teve relações no dia 11 de
um ciclo de 27 dias (a fase lútea inteira era 13 dias), sem engravidar.
No último ciclo, teve relações no dia 10 (16 foi o dia do pico) e no
dia 20 e engravidou. No começo parecia que o método falhara (ela
não planejara engravidar), mas depois ela e o marido disseram que
138
mantiveram contato genital íntimo por_volta do dia do Pico, pensan-
do que daí não resultaria gravidez (p., 64).
O registro apresentado na Figura -s~D é de uma canadense que
tomava pílula há muitos anos. Ela tinha sangramento intermitente en-
tre os ciclos, bem como corrimento mucoso em diferentes ocasiões do
ciclo. Desejosa de engravidar, teve relações nos dias de possível fer-
tilidade, sem sucesso. Ela foi avisada, entretanto, pé,ira esperar que
seu corpo voltasse ao estado pré-pílula, antes de tentar engravidar,
em vista da remota possibilidade de malformações infantis. Além
disso, mulheres que engravidam, logo depois que deixaram a pílula,
muitas vezes abortam.
O registro apresentado na Figura 8-1 E é o de uma mulher da
República Dominicana que teve reação grave após curta exposição
à pílula. Tal reação grave não é incomum em mulheres de países em
desenvolvimento porque muitas vezes, sua alimentação é pobre e as
condições de vida, difíceis. A mulher tomava a pílula apenas há
poucos meses. Quando suspendeu a medicação e começou o registro,
notou um aumento do muco turvo e pegajoso no primeiro ciclo, e
apenas muco turvo, pegajoso, nos ciclos seguintes. Embora o muco
ocorresse na época em que poderia ser esperada a ovulação, houve
pouca formação de muco e não claro, elástico. Assim a mulher pa-
recia não estar ovulando normalmente. Claramente fértil antes de
usar a pílula (era mãe de sete filhos), parecia temporariamente in-
fértil, após somente alguns meses de pílula.
O registro apresentado na Figura 8-1 F é de uma australiana
que começou a tomar pílula quando estava com seus trinta e pou-
cos anos. Tomou-a durante oito anos, e manifestou-se nela pressão
sangüínea alta. Depois de deixar a pílula, passou a seguir o Método
da Ovulação. Note-se que ela apresentava um corrimento mucoso in-
fértil contínuo, como indicou pelos selos amarelos. Também em-
pregou selos amarelos com bebê, no registro para indicar a presença
de líquido seminal nos dias seguintes aos de relações. Os estudos
hormonais, continuados no segundo ano, verificaram que ela ainda
não tinha começado a ovular.

Sumário

Os registros ora discutidos confirmam, o que se sabe pelas pes-


quisas, que a pílula pode continuar a afetar a secreção mucosa e
a ovulação da mulher durante meses depois que parou de tomá-la.
Em algumas mulheres, tomar a pílula apenas por um mês levou a
fases aparentemente não-ovulatórias durante cerca de oito meses. Ou-

139
tras reações à pílula incluem uma secreção mucosa contínua, talvez
provocada por infecção vaginal e sangramentos entre os ciclos.
Brown (1978) verificou níveis baixos de estrógeno urinário em
mulheres sofrendo amenorréia de várias causas. Tais níveis baixos
de estrógeno indicam uma disfunção ovariana. As usuárias da pí-
lula esperam ter sinais de supressão de ovulação, mas muitas delas
ficam surpresas e desanimam, ao descobrir que os sinais de supres-
são podem continuar durante semanas ou meses depois da interrup-
ção da pílula.
Em algumas mulheres aparentemente não-ovulatórias, os níveis
de estrógeno podem subir ou continuar altos sem aumento do preg-
nanediol. Entretanto, o sangramento pode ocorrer por causa da di-
minuição do estrógeno (Brown, 1978). Assim o aumento e a dimi-
nuição normais no estrógeno e na progesterona são ambos perturba-
dos, enquanto a mulher tomava a pílula mesmo após a interrupção.

DISPOSITIVOS INTRA-UTERINOS

Ao contrário da pílula, os vanos tipos de dispositivos intra-


-terinos (DIU) não suprimem a ovulação. Embora não se saiba exa-
tamente como o DIU age, sabe-se que atua na fase pós-ovulatória do
ciclo e que sua atividade concentra-se sobre distúrbios de implan-
tação do óvulo fertilizado. Um DIU afeta apenas o útero tornando-o
incapaz de receber e/ou sustentar um óvulo fertilizado (Man· n e
Brown, 1973). Assim o DIU parece agir como abortivo (Hilgers,
197 4). Em muitas mulheres a fase lútea do ciclo é encurtada depois
da inserção de um DIU.
Um DIU altera o revestimento do útero e a camada de mús-
culo subjacente. Nas mulheres que não usam o DIU, a atividade
muscular no útero normalmente diminui depois da ovulação; porém,
nas mulheres que têm DIU aplicado, as contrações uterinas, que
foram comparadas com as dos primeiros estágios de trabalho de
parto, começam quatro ou cinco dias depois da ovulação (Bengtsson
e Moawad, 1967). A atividade muscular aumentada ocorre na oca-
sião em que a implantação de um óvulo fertilizado ocorreria se a
mulher tivesse ficado grávida.

Efeitos colaterais do DIU

Muitas pessoas não sabem que o uso de um DIU oferece peti·


gos. O DIU pode causar dano enquanto está sendo inserido, en·
140
quanto fica no lugar, e quando está sendo removido. Comunicados
de países em desenvolvimento afirmam que o útero, muitas vezes,
é perfurado durante a remoção, porque a pessoa paramédica que o
remove é ineficientemente treinada e inexperiente. A perfuração do
útero durante a remoção de um DIU ocorre também nos países al-
tamente desenvolvidos (Seaman e Seaman, 1977). Alguns DIUs são
desenhados de tal modo que são mais fáceis de colocar do que
de remover. O útero, num esforço para rejeitar o corpo estranho,
mantém uma irritação contínua que, muitas vezes, é acompanhada
de infecção.
De acordo com Seaman e Seaman, "os patologistas, que estu-
daram as modificações causadas pelo DIU no útero, geralmente o
condenam e advertem insistentemente contra seu uso. Muitos plane-
jadores de família não estão informados sobre estes estudos ou lhes
são indiferentes".

Registro depois da remoção de um DIU

A Figura 8-2 mostra_ os registros de mulheres que começaram a


usar o Método da Ovulação depois da remoção do DIU. Os regis-
tros apresentam as várias condições que podem resultar do uso do
DIU. Se não houver um corrimento infeccioso quando o DIU for
removido, o padrão mucoso é normal, como se pode ver na Figura
8-2A (ciclos 1 a 4). A mulher queria engravidar. No quinto ciclo,
ela teve relações durante os dias férteis e concebeu.
O registro apresentado na Figura 8-2B é o de uma mexicana,
mãe de cinco filhos. Ela começou a registrar enquanto ainda tinha
o DIU, porque queria observar qualquer fluxo mucoso. Com o DIU,
teve muito mais dias de secreção mucosa do que quando não usava
DIU. O estado constante de inflamação, induzido pelo DIU, prova-
velmente provocou o aumento do muco. No ciclo imediato ao da
remoção do DIU, a mulher não teve um dia de Pico (linha 4). Man~
teve relações no décimo quinto dia daquele ciclo, pouco antes da
formação de um pouco de muco flocoso, turvo, pegajoso. Os ciclos
subseqüentes foram perfeitamente normais.
O registro apresentado na Figura 8-2C é de uma americana
que tinha um corrimento quase contínuo depois da remoção do DIU.
Ela ainda identificava com precisão sua fase fértil. Por causa da per-
sistência do corrimento, o médico tratou a cervicite, cauterizando
o colo do útero. Depois teve um corrimento aumentado de muco
pegajoso, turvo, mas era capaz de distingui-lo do muco claro, elás-
tico. A mulher comentou que os dois tipos de corrimento continua-

l
141
vam separados, como óleo e água, um fenômeno que lhe permitia
distingui-los facilmente.
Depois da remoção do DIU, as mulheres podem esperar em
média de um a três meses de intervalo antes da volta de ciclos nor-
mais, a menos que haja uma infecção grave. Assim o DIU, como a
pílula pode quebrar a cíclicidade depois da remoção, porém seus
efeitos parecem menos graves neste particular do que os da pílula.

CONTRACEPTIVOS INJETÁVEIS

Depo-Provera (Acetato de depomedroxiprogesterona) é o mais


popular dos contraceptivos injetáveis (Publicações populares, 1975).
Em 1975, o Depo-Provera (D-P) encontrava-se em mais de 64 paí-
ses. Calcula-se que mais de um milhão de mulheres, atualmente, usam
progesteronas injetáveis com fins ·contraceptivos. Algumas das van-
tagens citadas para o D-P são: alta eficácia na prevenção da gravidez,
comparado com os contraceptivos orais; fácil de administrar e de
ação prolongada (uma injeção demora de três a seis meses); difun-
dido nos países em desenvolvimento, as injeções são associadas a
técnicas médicas modernas e é seguro administrá-lo a mães que ama-
mentam.
O último ponto é discutível, pois o D-P e/ou seus subprodutos
metabólicos podem ser encontrados no leite de peito da mulher que
tomou o D-P. Ainda não se procedeu a estudos de longo alcance nas
crianças. As desvantagens do D-P são que ele perturba os padrões
menstruais enquanto está sendo usado; pode encurtar ou alongar o
ciclo, e muitas vezes, provoca amenorréia; não pode ser retirado se
surgirem problemas; e depois de uso prolongado verificou-se que a
volta da fertilidade e da cíclicidade podem demorar. Depois de dois
anos de uso de D-P, 40 % das mulheres podem ficar amenorréicas.

Figura 8-2. A. Após cinco ciclos em que havia secreções mucosas normais, a
mulher teve uma relação perto do dia do pico, e engravidou. B. Foi removido
um DIU durante o terceiro ciclo da mulher. Depois de ciclo sem muco fértil,
ela teve ciclos normais. C. Depois da remoção do DIU, a mulher teve corrimento
mucoso contínuo. Embora cauterizado o colo uterino, no segundo ciclo ela foi
capaz de distinguir o muco fértil do muco infértil.

Figura 8-3. A. Depois de interromper as aplicações de Depo-Provera, a mulher


teve forte sangramento. Voltou ao normal em quatro meses. B. Depois da inter-
rupção da Depo-Provéra, a mulher continuou a sangrar. C. Irregularidade depois
de uma única injeção de três meses. A mulher era irregular e, provavelmente,
não ovulara. O muco fértil não aparece senão no ciclo 7 (linha 10).

142
Figura 8-2
A. Estados Unidos

NOTA: C = Coito

B. México

11 12 13 14 15 16
{j {j {j {j {j {j {j {j {j {j {j {j {j
{j {j {j {j {j {j {j {j {j {j {j {j

NOTA: C = Coito

C. Estados Unidos

NOTA: C = Coito

l
Figura 8-3

26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

C. Fiji

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito

D. Fiji

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35
O tempo médio para o retorno da fertilidade é de 13 meses e pode
ir a três anos.
O D-P tem longa história de uso e/ou abuso. Por causa do
medo dos efeitos de ação prolongada do D-P, especialmente do pe-
rigo de infertilidade permanente, o Food and Drug Administration
não aprovou seu uso como contraceptivo . Correntemente, o único
uso aprovado do D-P nos Estados Unidos é para o tratamento de
câncer endometrial avançado. Os padrões de sangramento irregula-
res e excessivos, ~presentados pelas usuárias de D-P são, muitas _ve-
zes, tratados com ingestão de estrógenos por via oral. Isto, de fato ,
elimina uma das vantagens do D-P em que o tratamento diário tor-
na-o semelhante aos contraceptivos orais. Outros problemas que
ocorrem como efeitos colaterais nas usuárias de D-P são o ganho de
peso, aumento dos níveis da glicose sangüínea, náuseas, tonturas,
dores de cabeça, acne, nervosismo e menstruação dolorosa. Também
há discussão sobre os riscos de câncer nas usuárias de D-P. Algumas
estatísticas sugerem que o carcinoma do colo uterino ocorre mais
freqüentemente nas usuárias de D-P . Além disso, a pesquisa em ani-
mais atribuiu ao D-P a produção de nódulos mamários; os estudos
em seres humanos, entretanto, não referem correlação entre D-P e
nódulos das mamas.
O D-P, como outros contraceptivos hormonais, tal como a pí-
lula, agem inibindo a ovulação, modificando o revestimento endo-
metrial uterino, e alterando a viscosidade do muco cervical. Na es-
sência, elimina a fertilidade em cada estágio possível. Bloqueia a ovu-
lação, porém se a ovulação estivesse para ocorrer a implantação se-
ria improvável. Finalmente, o D-P modifica o muco de tal modo que
se torna impenetrável para o espermatozóide.

Registro da secreção de muco


depois da interrupção da Cepo-Provera

A Figura 8-3 mostra os registros de mulheres do México e de


Fiji que estavam usando a injeção contraceptiva. Depois da interrup~
ção, elas tiveram hemorragias graves que teriam agravado qualquer
anemia que as mulheres com regimes alimentares pobres possível·
mente tivessem.
A Figura 8-3A pertence a uma mexicana, analfabeta de 35 anos
de idade, mãe de cinco filhos, que usava a injeção há um ano. Efei·
tos colaterais graves obrigaram-na a parar e ocorreu hemorragia in·
tensa nos três meses seguintes, vide linhas 1, 2 e 3.
145

l
A Figura 8-3B mostra o registro de uma mexicana de 30 anos
de idade, mãe de seis filhos. Ela usava a injeção contraceptiva há
um ano e meio. Depois que a interrompeu, ainda teve sangramento
contínuo durante longo período.
O traçado apresentado na Figura 8-3C é o de uma mulher de
39 anos de idade, de Fiji, mãe de quatro filhos. Ela tomou uma única
injeção, seis semanas depois do nascimento de seu último filho.
A grande irregularidade dos ciclos pode ter sido causada por seu re-
gime alimentar pobre, bem como pela injeção. Tjnha sangramento
intermitente entre os ciclos, hemorragia profusa durante os períodos
menstruais e um corrimento mucoso quase contínuo. Introduzidos os
selos amarelos quando começou a registrar, mostrou-se capaz de dis-
tinguir o corrimento infértil de seu muco fértil. Assim ela usou o
Método da Ovulação sem dificuldade. Seu último ciclo indicou pos-
sível retorno à normalidade.
O registro apresentado na Figura 8-3D é de uma mulher de 28
anos de idade, de Fiji, mãe de quatro filhos. Tomara a primeira in-
jeção contraceptiva quando seu bebê mais novo tinha seis semanas
e a última injeção quando o bebê tinha 10 meses. Ao todo ela rece-
beu quatro injeções. Seus hábitos alimentares eram bons, consistindo
de fruta-pão, tapioca, carne e vegetais. Seus primeiros seis ciclos fo-
ram, aparentemente não-ovulatórios e de duração variável. No séti-
mo ciclo (linha 10), teve muco claro, elástico, pela primeira vez des-
de que interrompeu a injeção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Hilgers, Thomas, "The Pill and the IUD, Contraceptive or Abortifacient?",
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146
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ceptive Use and Cervical Dysplasia: lncreased Risk of Progression", Science
196: 1.460-1.462. 1977.

147
9
O ensino do método da ovulação
para adolescentes
e adultas jovens

Os comentários deste Capítulo dirigem-se a todas as pessoas que


desempenham algum papel na educação de jovens em relação à se-
xualidade - pais, professores, conselheiros e administradores dos vá-
rios programas de educação sexual. Uma vez que a anatomia e a fisio-
logia básicas da reprodução foram estudadas noutra parte (cap. 2),
este Capítulo destina-se a outras considerações sobre educação sexual,
inclusive atitudes em relação à sexualidade e à responsabilidade dos
seres humanos na salvaguarda de seus poderes procriativos.
Os pais são os primeiros e mais importantes mestres de sexua-
lidade, uma vez que através de exposição aos pais a criança desen-
volve suas idéias inconscientes a respeito da sexualidade e de si pró-
pria como pessoa sexuada. Idealmente, os pais são também os mais
aptos para instruir a criança na educação sexual, visto que estão em
posição de sentir as necessidades individuais de seus filhos. Infeliz-
mente, muitos pais, por uma ou por outra razão, relutam em assumir
a educação sexual das crianças e delegam o encargo a outrem.
Se a instrução sexual for dada no lar ou na escola, a informação
científica será dada em conjunção com as atitudes concernentes à re-
produção. Pessoas de todas as idades são capazes de agir madura e
responsavelmente tanto em suas atividades sexuais como em outros
aspectos de sua vida. Os jovens determinam-se e se disciplinam para
trabalhar em objetivos muito diferentes. Não há razão para pensar
que o jovem não seja capaz de usar suas energias sexuais responsa-
velmente. Os adultos que induzem o jovem à prática de atividades
sexuais baseados em que os impulsos sexuais são irresistíveis estão
tratando o jovem com condescendência.
Nos últimos anos, pessoas de todas as idades vêm procurando
intensamente instruir-se a respeito do corpo e de como conservá-lo em

148
boas condições físicas. E é natural que haja um interesse especialmente
profundo a respeito das capacidades reprodutoras, visto que a inte-
gridade física da espécie humana depende de seu funcionamento.
O sistema reprodutor é, enfim, tão complicado como qualquer outro
sistema do corpo. Os jovens (e outros) ficam fascinados ao descobrir
que o cérebro controla o funcionamento dos órgãos reprodutores. De-
pois de ter discutido este fato, o instrutor pode seguir para explicar
as complexas interações do cérebro, da hipófise e dos ovários que re-
sultam na ovulação (pp. 28-34). Um debate sobre o funcionamento
harmônico dos órgãos reprodutores muitas vezes estimula o jovem
a perguntar a respeito dos mecanismos químicos e físicos envolvidos
no uso de contraceptivos artificiais. Depois de se estar certo de que
o jovem entende os fundamentos da interação dos órgãos reproduti-
vos, ele é convidado a visualizar seus órgãos trabalhando juntos como
fazem as partes de um mecanismo finamente regulado. Em cada ciclo
menstrual normal, todos os órgãos trabalham juntos de modo apro-
priado e no momento oportuno preparam um meio de incubação no
útero que possa sustentar e nutrir um bebê em desenvolvimento. Se
a fertilização e a implantação não ocorrerem, o corpo é dirigido a
descarregar o revestimento nutridor do útero e ocorre a menstruação.
O instrutor então explica como os diferentes dispositivos arti-
ficiais de controle da natalidade interferem na sincronicidade dos
acontecimentos e nas funções de cada órgão. As pílulas contracepti-
vas do comércio agem inibindo a ovulação ou, como se suspeita ago-
ra, a pílula de baixa dosagem pode afetar a implantação de um óvulo
fertilizado (Hilgers, 1977; Ratner, 1978). Pode ocorrer um aborto
funcional, e além de seus efeitos contraceptivos e/ou abortivos, a pí-
lula afeta cada órgão controlador da reprodução, bem como outros
órgãos (pp. 132-139) .
A pessoa jovem fica atônita ao saber que um produto com tantos
resultados altamente questionáveis seja tão largamente usado . Surpre-
endem-se por a ciência não ser mais precisa e responsável nos desvios
de uma função corpórea normal. Ainda mais alarmante é a adver-
tência da FDA (1978) de que o uso da pílula, durante a adolescência,
pode alterar temporária ou permanentemente os sistemas biológicos
envolvidos na reprodução (p. 133).
Outros métodos, tais como o dispositivo intra-uterino (DIU),
não são desacompanhados de alguns efeitos colaterais perigosos (ver
o Capítulo 8). Um DIU no lugar deixa para fora um fio de nylon na
parte superior da vagina. O fio é um trajeto conveniente pelo qual as
bactérias podem penetrar na cavidade uterina, particularmente du-
rante a ovulação e a menstruação, quando o colo uterino se abre. As
usuárias do DIU relatam menstruações abundantes e gravidez não

149
programada. Enfermeiras descrevem casos de bebês que nasceram
com um DIU aderido ao corpo.
O aborto é usado como último recurso para o controle da na-
talidade, mesmo para as moças novas e sem consentimento paterno.
Calcula-se que se pratique um milhão de abortos por ano nos Estados
Unidos.
Em geral, os adolescentes assistiram aos argumentos pró e con-
tra o aborto, e o instrutor provavelmente não precisa revê-los. O fil-
me "Aborto - Uma decisão da Mulher" (Acta Films, Chicago, 111.)
informa sobre o aborto nos vários estágios da gravidez, o que é no-
vidade para a maioria dos espectadores. Rapazes bem como moças têm
o direito de saber todos os fatos a respeito do aborto. Muitas vezes
se faz vista grossa sobre os direitos e as responsabilidades do homem
quando o assunto em questão é o aborto. A incidência de doenças
sexualmente transmissíveis (doenças venéreas) aumentou sensivelmen-
te durante a década passada. A gonorréia é particularmente traiçoeira
para as mulheres porque, geralmente, não apresenta sintomas até que
as complicações se tornem visíveis. Nessa ocasião, as trompas de Fa-
lópio podem ter-se infectado ou ter-se bloqueado com tecido cicatri-
cial que implica esterilidade permanente.
Ao se ensinar educação sexual a pessoas jovens (e pessoas mais
velhas), não se deve supor que aqueles que estão sendo instruídos
saibam o básico da reprodução. Certos fatos parecem vir sempre coino
uma surpresa - que uma menina, ao nascer, já traz em seus ovários
o número total de óvulos que ela terá para toda a sua vida reprodu-
tiva, e que um rapaz produz espermatozóides continuamente desde
a puberdade. Também, geralmente, desconhecem que as meninas or-
dinariamente só começam a ovular cerca de dois anos depois da
primeira menstruação (Brown, 1978).
Deve-se instruir sobre outros aspectos da reproduçao - parto,
amamentação, planejamento natural da família, menopausa e assim
por diante. Muito da ansiedade e incerteza ligadas à parturição pode-
ria ser reduzido através de maior conhecimento. Por exemplo, muitas
mulheres ao tentar decidir se amamentam ou não seus bebês, não
sabem que a amamentação traz benefícios físicos e emocionais para
a mãe bem como para a criança. Os dados indicam que as mulheres
que recebem instrução e apoio adequados (como através de La Leche
League, por exemplo), geralmente resolvem amamentar sus filhos
(p. 126).
Talvez as lições aprendidas pelas adolescentes que tiveram faci-
lidade de acesso à contracepção e liberdade sexual ilimitada realizem
uma contramarcha no sentido de comportamento sexual responsável.

150
Uma votação foi feita em 1977, entre 24. 000 juniors * e se-
niors * * escolhidos para constar em Quem é Quem entre os estudan-
tes americanos de High School. Embora sete em 1O estudantes dis-
sessem que não condenam os casais não casados, que vivem juntos,
apenas dois dos sete disseram que eles aceitariam tais relacionamentos
para si.
Setenta por cento dos estudantes de High School interrogados
disseram que nunca tinham tido relações sexuais. Cinqüenta e seis
por cento afirmaram preferir que seu marido ou sua esposa fosse yir-
gem na ocasião do casamento . A moralidade, não a pressão paterna
ou a falta de oportunidade, foi dada como a principal razão. Uma
votação, alguns anos antes, indicou uma incidência muito maior de
promiscuidade.
Gostaria de citar trechos de uma carta do Dr. John Brennan para
o Secretário da Saúde, Educação e Bem-estar, a qual, acho, resume
os pontos mais importantes, no tocante à educação sexual responsá-
vel para o jovem.
"De maior importância para a saúde de nossos jovens seria seu
papel de liderança, num programa nacional, visando proteger seus
órgãos reprodutores mais internos pela forma mai~ eficiente e menos
dispendiosa de controle da natalidade, a abstinência sexual.
"Ao lado dos direitos de liberdade reprodutiva vem a responsa-
bilidade, e com a responsabilidade vem a recompensa.
1. Livrar-se de gravidez indesejada.
2. Livrar-se de complicações da pílula e do DIU.
3. Livrar-se de doenças venéreas.
4. Livrar-se de esterilização precoce, tanto por causa de doen-
ça venérea como de gravidez indesejada.
5. Livrar-se de complicações por aborto.
6. Livrar-se de formas de câncer genital.
7. Livrar-se de estigma e tristeza que acontecem a uma famí-
lia com uma filha solteira grávida.
8. Liberdade para explorar a sexualidade cerebrocêntrica mais
do que a genitocêntrica.
"A necessidade para autodisciplina na sexualidade não é dife-
rente da necessidade para o traço de qualquer outro aspecto de nossas
vidas diárias.
"O Dr. John Billings, da Austrália, deu ênfase à ovulação. Os jo-
vens devem ser informados de que os milhares de pequenos óvulos
profundos nos ovários das adolescentes são dádivas de vida para se-
* Alunos que freqüentam o 1? ano de um curso (N .T .) .
** Alunos que freqüentam o último ano de um curso (N.T.).

151
rem protegidos até que o ambiente adequado se apresente para pro-
duzir crianças.
"A natureza determinou que pessoas jovens são fisicamente ca-
pazes de reproduzir, tão logo elas se tornem adolescentes. Deve-se-
-lhes ensinar que inteligência e autocontrole são essenciais. Os pa-
drões sociais, econômicos e educacionais ditam-lhes que devem espe-
rar para seu benefício, algum tempo, talvez 10 anos para reproduzir.
O sucesso total de evitar gravidez indesejada, abortos, doenças vené-
reas, complicações da pílula e do DIU não depende de maior avanço
da tecnologia, mas de um vigoroso programa nacional pondo em relevo
as vantagens da disciplina.
"Seria uma sociedade estranha de fato se o governo afirmasse
que cigarro, álcool, drogas são perniciosas, bem como a mentira, o
roubo e todas as formas de violência, mas que não há malefícios no
sexo. É tarefa dos pais e dos educadores conscientizar os jovens de
que eles são capazes de levar vidas sexuais ordenadas e responsáveis,
nunca se admitindo o contrário. Cada um tem uma responsabilidade
para com seu próprio corpo, pelo bem-estar daqueles que ama e pelos
quais é responsável e pela sociedade em geral inclusive as gerações
por vir".

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Hilgers, Thomas, St. John's Conference, 1977.
Kane, Lawrence, J., Comunicação pessoal, 1977.
Ratner, H., Comunicação pessoal, 1978.

152
10
O ensino do método da ovulação
nos países em desenvolvimento

O Método da Ovulação tem sido ensinado com sucesso nos pa1-


ses em desenvolvimento. Este Capítulo descreve algumas das aborda-
gens usadas nesses países, bem como alguns dos problemas ligados
à educr.ção.
Qualquer que seja a cultura, o instrutor deve ser cuidadoso ao
abordar as pessoas sobre seu modo de vida e, inclusive, suas práticas
religiosas. Os instrutores sabem por experiência que cada mulher in-
dicada para aprender o Método pode aprendê-lo e, assim, o instrutor
encoraja a aprendiz a esperar sucesso.

DIFERENÇAS CULTURAIS

Num centro da Guatemala, a primeira aula destina-se a um de-


bate sobre como é difícil aos guatemaltecos falarem de sexo. O debate
que se segue é, geralmente, longo, com as pessoa& finalmente concor-
dando que precisam aprender. O instrutor também lembra, com tato,
às pessoas de que como seus filhos, às vezes, estão alcançando níveis
de educação mais altos do que os pais, eles se tornaram mais sofisti-
cados a respeito do assunto de sexo, mas têm receio de discutir sexo
em seus lares porque o costumbre (costume) o proíbe.
Em Papua - Nova Guiné, é fácil ensinar e aprender o Método
da Ovulação, porque as mulheres têm apenas dois ou três dias de
muco e, finalmente, apenas dias secos até a menstruação seguinte.
Numa aldeia realmente primitiva, onde a nutrição é pobre, uma mu-
lher pode ter apenas um dia de muco com características férteis.
Cada área geográfica em Papua - Nova Guiné tem uma expres-
são para muco e parece que só as mulheres conhecem a palavra.
153
Quando a mulher muda para uma área urbana, onde a nutrição pode
ser melhor, o número de dias de secreção mucosa pode muito bem
aumentar (vide p. 87).
Em Moresby, muitas mulheres estão apredendo o Método da
Ovulação, de forma que possam engravidar. Os registros destas mu-
lheres mostram dias verdes (secos) todo o tempo. Curiosamente, se se
dá vitamina E a essas mulheres, muitas vezes começa a secreção de
muco. A associação de aumento de muco e da vitamina E foi obser-
vada apenas recentemente (Adrian, 1978), e somente o tempo e _a pes-
quisa provarão se o tratamento com vitamina E pode ou não ajudar
a melhorar a fertilidade aumentando a quantidade de muco fértil.
Os instrutores do Método da Ovulação em El Salvador, América
Central, informam que as pessoas, lentamente, vão compreendendo
que é importante alguma forma de planejamento familiar. Durante
muito tempo, parecia haver uma resistência inata ao planejamento
familiar. As grandes famílias eram o ideal e, nos dias em que a terra
e o trabalho eram abundantes, as crianças eram consideradas uma
bênção. Os homens provavam sua virilidade gerando tantos filhos
quanto possível - às vezes, com duas ou mais mulheres. As mulhe-
res, mesmo as solteiras, desejavam uma família como uma segurança
para a velhice.

MÉTODOS DE ENSINO

Os instrutores do Método da Ovulação em El Salvador (Figu-


ra 10-1), adaptaram a apresentação do Método para que o povo en-
tendesse a fertilidade na natureza. As pessoas são informadas de que
o mesmo Deus que fez tempos férteis e tempos inférteis na Mãe Na-
tureza fez o mesmo na mãe humana. E que tal como o sucesso numa
fazenda depende de plantar-se na estação apropriada, assim o su-
cesso no planejamento familiar depende do reconhecimento apro-
priado dos tempos férteis e inférteis da mulher (Figura 10-1).
A comparação da Mãç Natureza com a mulher foi desenvolvida
mesmo depois, como se vê na Figura 10-1. Primeiro, a mulher tem
um tempo preparatório, seco, e depois de algum tempo sente uma

Figura 10-1. Em El Salvador ensinam o Método da Ovulação associando a fer-


tilidade da terra, quando úmida, à fertilidade de uma mulher, quando ela se
encontra úmida, resuitando num bebê se a semente for plantada em seu corpo
no tempo fértil. * Também no Brasil está-se adotando este método de ensino, so-
bretudo através de opúsculos e do folheto popular orgenizado pelo Dr. G. Gib-
bons, cf. Referências Bibliográficas no fim deste capítulo.

154
Figura 10-1

O MÉTODO É TÃO NATURAL COMO A MÃE TERRA

~/ 1'

MÃE MULHER
Infértil

--
--

1
-~-

Período Período Começo Período das secas Menstruação


das secas das águas das
Úmido, secas Infértil
Infértil fértil
Fértil

PER(ODOFÉRTIL NA MULHER

,1/
-a-
, 1

_,,"/y,,~~--------~c.-,,---
-.'-,,
__ ,I

O período fértil: Menstrução


fluxo mucoso,
mais dois dias
sensação de umidade. Esta sensação e o fluxo mucoso, estã demons-
trado, que se relacionam com a fertilidade, exatamente como a chu-
va é necessária para colheitas férteis.
Logo o muco e a -umidade desaparecem, e a secura, geralmente,
reaparece e continua até ocorrer a menstruação - aproximadamente,
duas semanas depois. Note-se que os instrutores, em El Salvador.
colocam a menstruação por último em suas explicações. Fazem isso
por muitas razões, mas principalmente, dizem, porque no entender
deles a menstruação é a última fase do ciclo, sendo provocadi:i. pelo
hormônio atuante quando a gravidez não ocorreu naquele ciclo.
A menstruação é descrita como a limpeza de uma casa saudável,
que remove células não usadas e tecidos e deixa o útero novo e pre-
parado para possível ocupação no ciclo seguinte.
A maioria dos Centros de Ovulação usa gráficos sobre os quais
se colocam selos coloridos para indicar as várias fases do ciclo.
O tempo provou o valor de tais registros na maioria dos países, mas
há partes do mundo onde as linguagens locais não têm palavras
distintas para algumas cores (por exemplo, verde e amarelo). Por
esta e outras razões, os professores da Nigéria usam canetas esfero-
gráficas vermelhas e azuis, que se encontram à vontade no comércio
local. Os crayons vermelho e azul são usados apenas para desenhar
sinais simples. O vermelho indica fertilidade possível; o azul signi-
fica infertilidade, com qualificações.
Qualquer que seja o país, a cooperação entre marido e mulher
é essencial para o sucesso do Método da Ovulação. Na Nigéria os
instrutores enfatizam o seguinte:
1. O registro e as canetas devem ser guardados sempre num
saco de plástico e no mesmo lugar, facilmente acessível para o ma-
rido e para a mulher. Não é o registro dele ou dela, mas o registro
de ambos (Figura 10-2).
2. O Método da Ovulação pode ajudar a crescer o amor entre
marido e mulher. O respeito de um para com o outro aumenta e o
bebê pode desenvolver-se melhor mental e fisicamente por causa da
paz e da segurança no lar.
Uma instrutora na Nigéria salienta que não está falando de
fertilidade da mulher auenas, mas da fertilidade combinada de ma-
rido e mulher. O maridÔ é convidado a assistir às · entrevistas iniciais
e a retornar com sua esposa. Ele é levado a sentir-se envolvido e
não meramente um espectador.
O marido também deve ter bom conhecimento do método. Mui-
tos maridos chegam a reconhecer quando suas esposas estão pró-
ximas da ovulação; eles podem notar tanto um aumento na energia
física da mulher quanto alguma outra modificação menos tangível
156
Figura 10-2
no comportamento. Como o registro é mantido facilmente acessível,
o marido entende quando é necessária a abstinência. Os maridos das
instrutoras podem também ajudar as pessoas contando como eles
próprios se sentem em relação ao Método da Ovulação.
Em Fiji, um registro especial foi elaborado para ser usado pelas
solteiras, especialmente as moças de High School. O registro é usado
apenas para ensinar as meninas a respeito de seu corpo e como fun-
ciona, e o único dado de registro efetivo é verificar a habilidade da
moça para predizer a próxima menstruação, que deve ocorrer . apro-
ximadamente duas semanas depois que reconhecer seu pico.

TERMINOLOGIA

Na Nigéria os estudantes que não estão familiarizados com a


palavra muco são informados de que o muco é como a saliva que
ocorre na boca. Há dois tipos de muco de ovulação. O primeiro tipo
de muco aparece depois dos primeiros dias secos e é pegajoso e turvo.
De fato, parece-se muito com o alimento chamado papa ou mingau
(ou como o fubá). Assim para simplificar, o muco é referido como
papa. O segundo tipo de muco a aparecer é elástico, lubrificante e
claro (ou quase claro). Parece-se com a clara de ovo cru. Dá a sen-
sação de ser lubrificante. O muco como clara de ovo é fértil. Em-
bora a papa seja infértil, aqueles que querem evitar gravidez são
fortemente advertidos para evitar relações quando a papa está pre-
sente, porque a papa, muitas vezes, contém um pouco de clara de
ovo, o bastante para indicar que pode ocorrer gravidez.
O último dia de clara de ovo e de sensação lubrificante é o
dia mais importante de todos. Dá-se-lhe um nome especial, o Pico.
A mulher não pode saber que aquele dia é o Pico até que ela des-
cubra que o· dia seguinte está seca ou tem uma secreção mucosa pe-
gajosa, turva. É o mesmo com o último dia da estação de chuva. Só
depois é que se pode saber que era o último dia - quando ela nota
que os dias seguintes foram secos. O Pico é importante por causa da
ovulação geralmente ocorrer dentro de 18 horas após o Pico. No re-
gistro com caneta esferográfica o Pico é indicado como Pari, que é
uma palavra local para significar fim, o fim da clara de ovo.
A mulher deve usar o teste da elasticidade para verificar o
muco. Para tanto, ela deve apenas se limpar como de costume depois
de urinar. Depois ela tenta esticar qualquer muco que tenha acumu-
lado . Depois ela será capaz de distinguir facilmente se o muco é papa
ou clara de ovo ou se ela está seca. O teste da elasticidade deve ser
158
feito todos os dias e depois de cada urinação. (Vide também as pp.
55-61. Figuras 3-1 até 3-14).
Os sinais de muco a, b, c (a - papa, b - clara de ovo, c - se-
cura), dão suficiente segurança da proximidade da ovulação. O casal
qtie deseja evitar gravidez é instruído a abster-se de relações durante
os dias vermelho-aguado e durante os três dias vermelho-zero que se-
guem. A abstinência deve durar três dias e três noites inteiros. O ca-
sal pode ter relações sem conseqüências cada dia seco que seguir os
três dias vermelho-zero, mas eles sempre devem observar as regras
para a clara de ovo: toda vez que se encontrar clara de ovo, evitar
relações aquele dia e os três dias seguintes (vide também pp. 64-65
e 116).
Os sinais de maior fertilidade têm prioridade sobre o sinal de
infertilidade: isto é, se uma mulher nota clara de ovo logo no co-
meço do dia e o resto do dia for seco, ela registra o sinal de clara de
ovo. Igualmente, a papa tem prioridade sobre a secura e a clara de
ovo tem prioridade sobre a papa.
A linha do registro marcando o dia do ciclo não deve ser con-
fundida com a data do mês (Nigéria, Figura 10-2). O primeiro dia do
ciclo refere-se ao primeiro dia da menstruação. A cada nova mens-
truação, é usada uma nova linha. Nos exemplos do registro (Figura
10-2), os dias em que houve relações inconseqüentes são indicados
pelo sinal.
São usados, em Fiji, os seguintes termos e sugestões, no ensino .
do Método da Ovulacão.
• Muco tipo grÍpe (isto é, muco que parece o fluxo nasal quan-
do se está resfriado) pode ser descrito como espesso, pegajoso, turvo,
cremoso ou encaroçado. O número de dias em que esse tipo de muco
aparece pode variar em cada mulher e em diferentes ciclos da mesma
mulher.
• Muco fértil pode ser descrito como clara de ovo crua, agua-
da, clara, deslizante, elástica, lubrificante. Pode durar de um a qua-
tro dias, com o último dia descrito como o Pico.
Depois do Pico, a mulher pode ficar seca ou pode ter ainda um
muco tipo gripe. Se ela estiver seca, coloca um selo verde com bebê
no seu registro. Se estiver úmida ou seca, deve esperar até o quarto
dia depois do Pico para ter relações. O dia do Pico é marcado com
Figura. 10-3.A. Na Guatemala, nas áreas rurais, estão usando selos marrom para
os dias secos, associando a cor seca do solo à cor marrom dos selos. B. A fotogra-
fia da mãe, ainda amamentando seu filho de dois anos de idade, pertence a uma
mãe que é analfabeta e ensina o Método da Ovulação com seu marido. C. Seu
registro de um ano. D. No México - instrutora com uma família aprendendo
o método.
159
Figura 10-3
A . Estados Unidos

••
1

ii
= i

• •
2

IL:J

i i {j {j
6 7
1

{j
8

{j
9 10 11 12 13
{j {j {j {j {j

* ,{j ·;::11 3{;] ]


14 15 16

t
17 18 19
,{j 12'.tl 3~

] '
1

1
20 21 22 23 24 25
J J J J 1

J ] J J
26 27 28
] [i,1.il lll
29 30 31 32 33 34 35

= ==
i i {j {j ~ 11 {j ~ {j {j {j {j {j t ~ ~~ ;:a J J J _J ] ]

11 ~ {j {j {j tK ,~ 2{j 3{j l ~J ,,,,, ] 1 1 1 l ]

NOTA: C = Coito

C. Canadé

26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

NOTA: C = Coito
um X se o muco for abundante ou escasso e se foi notado durante
todo o dia ou durante apenas uma parte do dia.
DIFICULDADES NO PLANEJAMENTO FAMILIAR

A embriaguez é, muitas vezes, dada como exemplo de problemas


que perturbam o sucesso do Método da Ovulação. A experiência de
vários instrutores mostrou que um casal alcoólatra é capaz de aceitar
a abstinência sexual como meio de resolver seus problemas de plane-
jamento familiar, sendo que, muitas vezes, o amor e o respeito · de
um para com o outro crescem, levando-os a procurar soluções até
para suas dificuldades básicas.
Uma instrutora de Fiji informa que uma das dificuldades que
encontrou é que várias de suas clientes não conseguiam seguir o Mé-
todo da Ovulação nos três primeiros meses porque estavam tomando
a pílula, que provoca mudanças corporais que persistem muito tem-
po depois da interrupção da pílula.
CUSTO E OUTROS FATORES

Uma outra instrutora de Fiji calculou o custo do programa do


Método da Ovulação em seu centro. Ela acha que o custo por pes-
soa, para uma população de 1.701 pessoas treinadas, foi de 16 dóla-
res. Para 1.059 dessas pessoas, registradas como estabilizadas (isto
é, usando o Método da Ovulação firmemente e com sucesso), o custo
chegou a 26 dólares por pessoa - quase ao custo não subsidiado
do fornecimento de certas marcas de pílulas por um ano: as usuá-
rias do Método da Ovulação - e muitas outras que ainda não fo-
ram registradas como tal - são agora capazes de espaçar ou limitar
suas famílias sem outras despesas.
Análise de duas áreas geográficas de Fiji, que contavam cada
uma com sua instrutora em tempo integral, mostra que o arranjo
ideal consiste em instrutora bem preparada e que conta com trans-
porte adequado. Ambas as condições são igualmente importantes. Uma
instrutora que dependa de transporte público para áreas de popula-
ção muito espalhada pode gastar um dia inteiro tentando acertar e
errando o caminho para encontrar uma única aprendiz. Um carro
possibilita a uma instrutora visitar aprendizes em várias aldeias.
OUTROS INSTRUMENTOS ÚTEIS DE ENSINO E DE ABORDAGEM

Os recursos audiovisuais podem ser usados para fazer qualquer


pessoa entender mais facilmente: "eu escuto - eu esqueço; eu vejo -
eu lembro; eu faço eu entendo" (conforme Milross).
161
6 • O controle da natalidade
Os recursos audiovisuais ajudam:
• a estimular um debate. Depois de compartilhar da experiên-
cia, quando a instrutora e os estudantes assistem a um filme
juntos, há maior comunicação;
• a estimular e manter o interesse, de tal modo que o tempo
disponível seja bem aproveitado;
• a esclarecer pontos de possível confusão;
• a aprofundar o conhecimento pela apresentação visual de
uma idéia;
• a ensinar pelo exemplo.
Deve ser lembrado, entretanto, que os meios visuais são apenas
auxiliares e eles não substituem formas mais pessoais de ensino.
O restante deste Capítulo dá esquemas de apresentação do Mé-
todo da Ovulação como é feito num centro da Guatemala e num
centro de Fiji. Aprender algumas das técnicas e dos termos usados
nestes centros pode ajudar as instrutoras de outras partes do mundo,
particularmente nos países em desenvolvimento, a trabalharem mais
efetivamente com seus próprios grupos.

Guatemala

Na segunda aula no centro da Guatemala (a primeira aula foi


descrita na p. 153, são debatidos desenhos dos órgãos sexuais femi-
ninos. A aula termina com outra discussão sobre o sentido sagrado
do sexo e a dificuldade que, todavia, algumas pessoas enfrentam
para falar de sexo.
Na terceira aula, ainda usando os "dibujos" (desenhos), a ins-
trutora explica a menstruação e debate a respeito dos órgãos sexuais
masculinos.
Na quarta aula, é apresentado um filme em quadrinhos sobre
o Método da Ovulação. O filme compara a mulher a um pássaro
fazendo um ninho. Recortes de diferentes cores de feltro são usados
para explicar o ciclo menstrual, um instrumento manual de ensino
para as áreas rurais sem eletricidade.
Na quarta aula, apresentam-se as fotografias de diferentes tipos
de secreções mucosas e as mulheres são convidadas a registrar. Os
homens e as mulheres são então separados em diferentes classes. Ve-
rificou-se que as mulheres falam mais livremente sobre assuntos ín-
timos quando os maridos não estão presentes. Na classe de mulhe-
res, uma instrutora explica como registrar (Figura 10-3). Um ins-
Figura 10-4. A. Na 1ndia ensinam a fertilidade feminina e masculina. B. Para
adiar gravidez. C. Para conseguir gravidez. D. Para a escolha do sexo do bebê.

162
Figura 10-4
lndia A.

B.
Figura 10-4
Índia e.

D.
trutor explica o registro na classe dos homens, destacando também
a necessidade do marido respeitar sua esposa.
Na sexta aula, e aula final, os modos de registro são revistos
e apresentado um filme de Walt Disney "O Corpo Humano" . O fil-
me que foi primeiro apresentado em espanhol e depois em Quiché
(um dialeto nativo), dá às pessoas que não estão familiarizadas com
seus corpos informações concretas sobre anatomia e fisiologia. Mos-
tra que cada órgão tem sua função e papel. A aula termina com
outra discussão sobre o sentido sagrado do sexo e a dificuldade .que
algumas pessoas têm de falar a respeito disso.

Fiji

Num centro de Fiji usa-se a seguinte apresentação:


1. Através de um registro auxiliar visual, a instrutora discute
os órgãos de reprodução femininos usando analogia. A mulher pre-
para um "farnel de bebê" cada mês - uma cama, alimento e uma
casa quente. Como cama: o útero se torna fofo e esponjoso à medi-
da que o revestimento se espessa. Como alimento: na ovulação au-
menta a quantidade de açúcar no corpo da mulher. Para o aqueci-
- mento: a temperatura basal do corpo da mulher sobe alguns décimos
de graus, na ovulação.
A fertilidade da mulher é o tópico seguinte •. O muco vem de
delicadas glândulas do colo do útero, a cervix. Age como lubrifi-
cante, para ajudar no transporte dos espermatozóides em direção ao
óvulo, e nutre os espermatozóides. Desde que um espermatozóide
entre no corpo de uma mulher, gasta várias horas para completar
sua jornada em direção ao óvulo. Um espermatozóide não é capaz
de fertilizar o óvulo, a menos que ele ganhe a capacidade necessária
(p. 63).
Mensalmente, um óvulo é lio~rado (durante a ovulação), e a
menstruação ocorre aproximadamente duas semanas depois, não obs-
tante a duração do ciclo.
O homem é fértil todo o tempo - e em qualquer fase do ciclo
da mulher. O homem pode produzir espermatozóides indefinida-
mente. Alguns homens são férteis em idade avançada (vide Figura
10-4A).
Se não houver gravidez: ocorre a menstruação, aproximada-
mente duas semanas depois da ovulação. O leito do bebê não é mais
necessário e é eliminado durante a menstruação. A temperatura do
corpo cai e a casa do bebê é refrigerada de novo. O excesso de açú-
165
Figura 10-5
A.

e.

Figura 10-5. A. Diagrama Circular. B. Este é um selo para registro na China


com cores convencionais.
car no sangue da mulher, não mais necessário, é eliminado através
dos rins.
Se houver gravidez: não ocorre a menstruação porque o bebê
está em seu leito fofo e esponjoso. A temperatura do corpo continua
elevada durante a gravidez. O açúcar está presente durante a ges-
tação porque o bebê precisa ser alimentado.
No nascimento: o leito é desfeito, a temperatura corpórea da
mulher cai e o alimento agora é o leite da mãe, que substitui o
açúcar.

índia

A esclarecida orientação da Soror Dr'!- Catherine Bernard e seus


esforços na área de Tamil Nadu são grandemente apreciados pela
sua gente. O Arcebispo V. S. Selvanather nos disse que por causa
de sua popularidade, seu livro Programa de Treinamento do Método
da Ovulação é um "best-seller". A engenhosidade de seus registros
de ensino é apresentada nas Figuras 10-4A, B, C e D.
Os registros de ensino usados em Formosa são apresentados
nas Figuras 10-SA e B.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Adrian, C., Comunicação pessoal.


Bernard, C., Manual for Teachers of the Ovulation Method, India, Mission
Press, Pondicherry.
Byrne, D., Comunicação pessoal.
Gibbons, G. e Santamaría, D., Planejamento familiar com o método da ovula-
ção, 4~ ed., Edições Paulinas, São Paulo, 1982.
Gibbons, G., Como planejar sua família naturalmente com sucesso (folheto a
cores), Edições Paulinas, 1981.
Gibbons, G., Método da ovulação (Billings) - Roteiro para instrutores (car-
tazes), Edições Paulinas, São Paulo, 1981.
Jaramillo, S., Comunicação pessoal.
Levasseur, L., Comunicação pessoal.
McHugh, M., Comun~cação pessoal.
McShane, S., Comunicação pessoal.
McSweeney, P. L., Birth Contrai O. M., lbadan (Nigéria), Claverianum Press.
Pitman, M., Comunicação pessoal.
Kearns, F., "Como Ensinar o M. O. às Amamentantes nas Áreas Rurais", no
livro Generosidade e criatividade no amor, Edições Paulinas, S. Paulo, 1981.
CNBB REGIONAL NORTE II, O pobre e sua família - A solução é ter menos
filhos? (Sete encontros para reflexão em comunidades populares), Edições
Paulinas, São Paulo, 1981.

167
11

Avaliação estatística
das técnicas contraceptivas

W. /ay Hansche, Ph. D.


Professor Assistente de Psicologia
Universidade de Tulane, N. Orleans, La.

Utiliza-se, hoje, grande variedade de métodos contraceptivos,


condutas e dispositivos de controle da fertilidade. Embora alguns
destes métodos estejam em uso há centenas de anos (Falópio é citado
por Bernstein [ 197 4] , por ter descrito o capuz peniano, em 1564),
muita pesquisa foi feita desde o início da década de sessenta para
o aperfeiçoamento de contraceptivos com base hormonal (CO) e dis-
positivos intra-uterinos (DIU).
Embora os métodos tradicionais ainda estejam em uso, tanto as
usuárias de contraceptivos como os elementos das instituições de
planejamento familiar parecem ter enveredado, em grandes propor-
ções, para métodos mais novos.
A Tabela 11-1 apresenta informação do N ational Fertility Stu-
dies, sobre a escolha de contraceptivo, de 1955 e 1965, bem como
as escolhas de mais de 27 .000 novas pacientes da instituição de pla-
nejamento familiar de Los Angeles County, no ano de 1972. Os da-
dos de 1955 mostram que 75% das usuárias escolheram o método
do condom, do diafragma ou do ritmo. Em 1965, com a introdução
dos contraceptivos orais (COs), cerca de 40% escolheram o con-
dom, o diafragma ou o ritmo, com 27 % para os contraceptivos orais.
Em 1972 mais de 85% das usuárias escolheram CO ou DIU, en-
quanto que menos de 5 % das usuárias empregavam o condom, o
diafragma ou o ritmo. Os métodos mais antigos são ainda ocasional-
mente usados, mas o CO e o DIU são as escolhas predominantes,
hoje.

168
TABELA 11-1. Métodos contraceptivos escolhidos (%)
Mil.TODO 1955 1965 1970 1972
co o 27 34 64
DIU o o 7 23
Condom 27 18 14 1
Diafragma 25 10 6 3
Ritmo 22 13 1 1

OBJETIVOS

Todas as condutas de controle da fertilidade, desde a esterili-


zação cirúrgica até a abstinência têm como objetivo evitar ou pro-
telar uma gravidez. Com esta motivação muita pesquisa foi feita nos
últimos vinte anos para determinar a inocuidade e a eficácia de vá-
rias condutas e dispositivos contraceptivos.
Além de seu efeito contraceptivo primário, a -maioria destas
condutas tem efeitos colaterais, efeitos sobre o corpo humano, sobre
o comportamento ou sobre as emoções além de evitar ou retardar
a gravidez. Estes efeitos variam de gravidade desde a dificuldade
(ou impossibilidade) de reversão da esterilização cirúrgica até alguns
efeitos psicologicamente destrutivos que acompanham a inserção de
espuma no último instante ou de diafragma. Um aspecto da avalia-
ção das técnicas contraceptivas é determinar e avaliar estes efeitos
colaterais. A gravidade dos efeitos colaterais é muitas vezes refle-
tida na proporção das usuárias que persistem ou deixam de persis-
tir no uso de uma técnica particular durante significdtivo período
de tempo.

METODOLOGIA DA AVALIAÇÃO

As pessoas ou as organizações, interessadas em projetos de pes-


quisa destinados a avaliar as técnicas contraceptivas, tipicamente co-
meçam por. definir uma população relevante (quase sempre de mu-
lheres) 1, para as quais o método é apropriado. Um grupo de mulhe-
res, dentro desta população, é selecionado para o projeto de pes-
quisa. As participantes férteis, não gestantes e voluntárias estão dis-
postas, são cooperativas e estão motivadas em diferentes graus. Os
investigadores descrevem suas .amostras de pesquisa em termos de
idade, estado conjugal, número de filhos e, muitas vezes, em termos
1 Com a recente exceção da vasectomia e de contraceptivos químicos para homens,
que agora estão sendo testados, tais como Danazol, Phenytorin e 5-lhto-dextro-glucose,
a afirmação de Bernstein (1976) a respeito do condom ainda s4bsiste, " . . . este dispositivo
de 400 anos é ainda o único contraceptivo masculino disponível".

169
de educação, raça e status socioeconom1co também. A maioria dos
projetos de pesquisa determina um mínimo de duração do estudo,
um período de tempo fixo durante o qual todas as participantes
devem ser observadas. É óbvio que um mês é um intervalo muito
curto, e é também óbvio que os programas prolongados aumentam
as necessidades do tempo de pesquisa e os custos bem como a coope-
ração das participantes. Muitos projetos recentes têm uma duração
de 2 ou de três anos e os resultados publicados se baseiam em pe-
ríodos de 12 a 24 meses.

ENCERRAMENTOS

No trabalho final de Tietze (1971) sobre a avaliação dos mé-


todos contraceptivos, ele enumera as razões, além da gravidez aci-
dental, para o desligamento de participantes destas pesquisas. Algu-
mas destas razões aplicam-se igualmente bem à maioria dos métodos
contraceptivos, por exemplo, "planejamento de gravidez" 2 e "perda
do retorno", da mulher que não encontra suas anotações clínicas e
cujos pesquisadores se vêem incapazes de manter contacto por carta
ou telefone. Em quase todos os estudos algumas mulheres são tam-
bém desligadas por "razões pessoais".
Outras participantes são desligadas por motivos relacionados com
o método específico em avaliação, tal como "expulsão do DIU". Al-
guns pesquisadores classificam as várias categorias de desligamento
como "relativas ao uso" e "não relativas", enquanto outros descre-
vem "falhas das usuárias", "falhas do método", "falhas biológicas"
e "falhas pessoais".

DADOS COLETADOS

As participantes dos estudos de avaliação de práticas contra·


ceptivas são observadas periodicamente pelos investigadores e elas·
sificadas como continuantes no estudo ou desligadas. Os encerra·
mentas são determinados por gestações acidentais e outras razões.
Esta informação deve ser recolhida mensalmente, mas os resultados
são, muitas vezes, apresentados em intervalos 'de 6, 12, 18, 24 me·
ses e mais.
Na análise e na apresentação dos resultados, Ôs desligamentos
são classificados por causa ou por grupo de causas e pela duràçãô
'1. Na maioria dos estudos a percentagem das usuárias desligadas deles por "gravidez
planejada" é muito menor do que por "gravidez acidental".

170
do método. A duração do método é apresentada de várias maneiras,
de mulheres/meses de uso, incidências de desligamento mensal e,
mais comumente, incidência de desligamento cumulativo, isto é, a
porcentagem de gravidezes acidentais por ano. As incidências de
continuação, a proporção ou a porcentagem de mulheres ainda em-
pregando o método são, muitas vezes, apresentadas e ocasionalmente
aplica-se a fórmula (Jay) de Pearl, o número de gravidezes por 100
mulheres-anos (estatística mais antiga).

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Em suas "Avaliações estatísticas dos métodos contraceptivos"


(1971), Tietze descreve vários níveis para avaliação dos métodos
contraceptivos.
1. "Eficácia teórica ou sua capacidade de reduzir o risco de
gravidez acidental em condições de laboratório, levando em conta
as respostas anatômicas e fisiológicas, mas não os fatores psicológicos.
2. "Uso-eficácia ou seu desempenho nas condições de vida real.
Incluir qualquer gravidez acidental durante o uso regular ou irregu-
lar do método em estudo, mas excluindo gestações seguidas a inter-
rupção de contracepção ou adoção de outro método.
3. "Uso-eficácia prolongado, incluindo todas as gravidezes aci-
dentais ocorridas depois da interrupção do método em estudo, en-
quanto a mulher ainda se encontra em risco".
Eficácia teórica como tal é difícil ou impossível de atingir di-
retamente e pode ser considerada como eficácia biológica e fisioló-
gica do método na ausência de todo erro humano. Calcula-se a efi-
cácia teórica pela avaliação dos resultados de grupos de usuárias
sob condições ordinárias de erro no preenchimento da vida fami..:
liar, e isto se constitui como que um limite superior de uso-eficácia.
O uso-eficácia é a avaliação prática da técnica efetuada na presença
de erro humano com a contribuição em quantidades variadas e des-
conhecidas das mulheres, dos seus parceiros e, possivelmente, tam-
bém dos pesquisadores.

RESULTADOS TíPICOS PARA OS DIFERENTES MÉTODOS

Em 1974, Ogra e colaboradores publicaram suas análises de


uso-eficácia de CO num grupo de 2. 000 mulheres, no período de
1962-1968. Esse grupo foi descrito como tendo uma idade média
de 24,9 anos e uma paridade média de 2,5 crianças. O grupo foi
171
também descrito como representando 54,2% de classe baixa, 36,3%
de classe média-baixa e 9,5% de classe média. As incidências de
gravidez acidental são apresentadas como taxas de encerramento
cumulativo de 1, 2 e 3 anos, na Tabela 11-2. As mais altas incidên-
cias de gravidez acidental foram encontradas no grupo de mulheres
mais jovens (menos de 20 anos). Estas taxas de gravidez aci-
dental representam quase todas menos do que 5 % , no período de
três anos, e diminuíram bastante com o aumento da idade da usuária.

TABELA 11-2. Terminação cumulativa e taxas de continuação


GRAVIDEZES ACIDENTAIS (%)
CUMULATIVAS TAXA DE CONTINUAÇÃO
TAXAS DE TERMINAÇÃO CUMULATIVA (%)
IDADE 2 3 3 (ANOS)
15-19 2.3 4.2 5.3 75,6 38.3
20-24 1.4 2.0 2.3 81.8 48 .9
25-29 1.3 1.3 1.8 83.7 61.9
30 - 34 0.8 0.8 0.8 88.0 68.5
35+ o.o o.o * 75.6 •
• Amostras muito pequenas para se continuar.

As mulheres de 35 anos ou mais têm gravidezes acidentais.


A análise de Ogra não revelou qualquer relação sistemática entre o
número de crianças prévias e gravidezes acidentais. As duas últimas
colunas da Tabela 2 apresentam as incidências de continuação cumu-
lativa, isto é, a proporção de mulheres que continuam o uso de Cüs
depois de 1 e 3 anos de uso. As incidências de continuação de 12
meses variam de 75 a 90% , enquanto que as incidências de 3 anos
de continuação variam de menos de 40 % para o grupo de menos
de 20 anos para uma alta porcentagem de 88 % de incidências de
continuação para 9 grupo de 30 a 34 anos. Em conclusão, este estudo
sugere que COs tiveram incidência de uso-eficácia muito alta e que
as mulheres mais idosas tendem a persistir no uso de COs por mais
tempo do que aquelas que têm menos do que 25 anos.

TABELA 11-3. Taxas cumulativas de doze meses (%)


GRAVIDEZES TERMINAÇÃO
TOTAL
IDADE DIU co DIU co
Abaixo de 20 9.1 15.1 27.4 50.0
20 - 24 6.7 4.6 29.5 30.9
25-29 3.6 8.3 19.6 31.6
30+ 0.5 . 6.4 9.9 44.6

172
Tietze e Lewit publicaram uma comparação do uso-eficácia do
DIU e do CO, em 1971. Foram incluídas , no estudo, cerca de 2.900
mulheres cíe três localidades, Atlanta, Brooklyn e Buffalo, sendo que
aproximadamente 1.200 começaram com o DIU e as restantes 1.700
com COs.
A Tabela 11-3 apresenta as incidências de desligamento cumu-
lativo de 12 meses para as gestações acidentais com DIU e COs e
também as taxas totais de desligamento, isto é, todas as mulheres
desligadas por alguma razão, desde a seleção inicial de contraçep-
tivos por um período de 12 meses. Comparando os resultados de
COs com os de Ogra, constata-se imediatamente que as incidências
de gravidez acidental em 12 meses são consideravelmente mais altas
do que as do estudo prévio. De fato, as taxas de gravidez de 12
meses deste estudo são mais altas do que as taxas de gestação em
36 meses do trabalho anterior. Como no estudo de Ogra, Tietze tam-
bém encontrou as mais altas incidências de gestação acidental no
seu grupo de usuárias mais jovens, e este achado era concordante
com as usuárias de DIU bem como com o grupo de CO. Em geral,
o grupo DIU parece apresentar índice de gravidez acidental signifi-
cativamente menor do que o grupo que emprega CO. Tietze e Lewit
concluíram que as mulheres que escolheram o DIU, como método
contraceptivo, eram mais velhas e mais persistentes no uso de con-
traceptivos do que aquelas que selecionaram COs.
Em 1974, Jain apresentou uma análise dos resultados obtidos
com: cerca de 16. 000 usuárias americanas do DIU TCu-200. A Ta-
bela 11-4 apresenta as taxas de terminação cumulativa de 12 meses
de seu grupo bem como de grupos adicionais de usuárias de DIU,
da Finlândia e da Coréia. As taxas de terminação total são quebra-
das pelo tipo de gravidez acidental, expulsão do DIU e remoção
do DIU bem como a porcentagem de retenção e de continuação com
o DIU. A taxa de gravidez acidental para os três grupos foi muito
baixa variando de pouco mais de 1 % para pouco menos de 3 % ,
durante o período de 12 meses, envolvendo aproximadamente 20.000
usuárias.

TABELA 11-4. Incidências cumulativas de doze meses de


DIU TCu-200 ( % )
TIPOS DE TERMINAÇÃO EE.UU. FINLANDIA CORl?.IA
Total 25.5 10.9 31.3
Gravidez 2.6 1.6 1.1
Expulsão 7.3 2.2 6.0
Remoção 15.6 7.1 24.3
Retenção 74.4 89.l 68.7
Inserção 16,345 2,689 1.050

173
A incidência mais alta de gravidez acidental (2 ,6 % ) do grupo
EUA pode ser atribuída ao fato de que se tratava de grupo mais jo-
vem, com idade média aproximada de 25 anos, enquanto o grupo
coreano tinha a menor incidência de gestação acidental ( 1, 1 % ) com
uma média de idade de aproximadamente 33 anos. Deve-se assina-
lar que todas as incidências de gestação acidental foram muito bai-
xas. Os resultados de Jain, de 24 meses para o grupo EUA, revelam
que o grupo de 20 a 25 anos apresentou taxa de gestação acidental
mais alta, de 5, 7 % ; o grupo de 15-19 um pouco mais baixa, 5.,3 % ;
enquanto as mulheres de mais de 30 anos tiveram taxa de gestações
acidentais, em dois anos, de menos de 3 % . Todos os três grupos
mantiveram proporções significativas (7-24 % ) de DIU s removidos
durante o primeiro ano. Estas remoções foram o maior fator isolado
de encerramento e foram realizadas por uma variedade de razões,
inclusive sangramento persistente e/ou dor, gravidez desejada e ou-
tras razões médicas ou pessoais. No primeiro período de 12 meses
1,9 % foram removidos devido a "gradivez desejada".
Lane, Arceo e Sobrero, em 1976, publicaram um estudo do uso
do método do diafragma e da geléia contraceptiva em grupo de mais
de 2.000 usuárias. O grupo caracterizou-se como jovem (mais de
50% das mulheres tinham menos de 25 anos de idade), solteiras
(71 %), nunca engravidaram (72%) e 92% brancas.
A Tabela 11-5 apresenta as taxas de encerramento cumulativo
de 12 meses por gravidez acidental e encerramento por "razões pes-
soais". As incidências de terminação cumulativa são apresentadas
para os vários grupos etários. A incidência do uso-eficácia de 12 me-
ses, de todas as idades combinadas, foi de 1,9% de gravidezes aci-
dentais.
Lane e colaboradores apresentam dados de sete outros estudos
do método do diafragma, cada um envolvendo mais de 500 usuárias,
e nestes estudos as taxas de gestação acidental variam de menos que
2,4% a mais de 25%, para um intervalo de estudo de 12 meses.
Estes investigadores acham que se um programa contraceptivo é ad-
ministrado rotineiramente com "ligeiro cuidado" e supervisão mí-
nima podem-se esperar taxas mais altas de gravidez acidental.
Acham que seu próprio sucesso com este método foi devido,
pelo menos em parte, "ao nível de instrução que apoiou a autocon-
fiança das pacientes, e a um mecanismo de supervisão contínua.
A participação de pessoal, que acreditava no método e que tinha a
habilidade e a paciência para ensinar, foi decisiva". Estes investiga-
dores também acham que os fatores da qualidade da instrução e a
motivação das usuárias podem contribuir para o fato de que seu es-
174
tudo não mostra incidência mais alta de gravidez acidental das usuá-
rias jovens - o que é típico nas outras investigações.

TABELA 11-5. Taxas de terminação do diafragma (%)


GRAVIDEZES RAZÕES
IDADE ACIDENTAIS PESSOAIS*

13-17 1.9 29.7


18-20 2.3 17.l
21-24 2.0 12.3
25-29 2.9 13.5
30-34 3.0 9.1
35+ o.o 6.0

* Razões pessoais, inclusive rejeição do diafragma como incômodo, difícil de inserir, por
causa da objeção do parceiro ou escolha de outro método.

No estudo de Bernstein ( 197 4), do uso-eficácia do condom, do


diafragma e da espuma ele afirma que o risco no uso do condom
depende primariamente do cuidado da usuária e da motivação (o
que é verdade com a maioria dos métodos) e que o risco devido a
um dispositivo defeituoso é muito menor do que 1 % . As taxas de
gravidez de vários estudos são citadas como variando desde 4-36 / 100
mulheres-anos de exposição. Tietze calcula que a eficácia teórica
do condom é provavelmente equivalente à do DIU, e ele também
acentua o papel da motivação do usuário. Bernstein também descreve
um estudo de cerca de 3 .000 usuárias de espuma vaginal que resul-
tou numa taxa de gestação acidental de 4,3/100 mulheres-ano de
exposição.
E m1970, Tietze publicou Escala dõs Métodos Contraceptivos
por Níveis de Eficácia. Todos os métodos contraceptivos largamente
usados foram avaliados quanto à eficácia teórica calculada a partir
de numerosos estudos. Os métodos foram divididos em quatro gru-
pos: Técnicas mais eficazes, altamente Eficazes, pouco Eficazes e
menos Eficazes.
Os métodos classificados como os mais eficazes incluíram este-
rilização trompal, vasectomia, COs combinados e seqüenciais e o
método do ritmo da temperatura. Este método RT envolve a deter-
minação da ovulação pela medida e registro da temperatura basal
do corpo e requer restrições de coitos à fase pós-ovulatória do ciclo.
O coito deve ser evitado não apenas antes da ovulação, mas também
na fase pós-ovulatória se a temperatura indicadora da ovulação for
duvidosa. Tietze menciona um estudo nestas condições que publicou
uma única falha do método em 17.500 ciclos. É interessante notar
que também constatou 34 gestações ocorridas num grupo de cerca

175
de 20.000 mulheres esterilizadas e 15 gestações envolvendo 3.330
homens vasectomizados.
Os métodos classificados como Métodos altamente Eficazes,
são o diafragma, o DIU e o Condom. Tietze calcula que todos têm
uma eficácia teórica de 1 a 3 % de falhas do método por ano.
Os contraceptivos químicos, as espumas, as geléias, os cremes,
os tabletes e os supositórios, ritmo do calendário e "coitus interrup-
tus" são classificados como menos eficazes. Do coito interrompido
Tietze diz que, "sua eficácia não deve ser desacreditada, pois ·foi o
método principalmente responsável pelo primeiro declínio histórico
da incidência de nascimentos entre os povos do norte e do ocidente
da Europa". A categoria menos eficaz inclui a ducha e a persistên-
cia da amamentação. A Tabela 11-6, apresenta os métodos e os
cálculos da eficácia teórica das duas maiores categorias.

TABELA 11-6. Quotização dos métodos contraceptivos


MUODO EFICÁCIA TEÓRICA
MAIS EFICAZ
Esterilização trompal 0.08
Vasectomia 0.15
CO (tipo combinado) 0.07
CO (tipo seqüencial) 0.34
Ritmo de temperatura 1.2

ALTAMENTE EFICAZ
DIU 1.5-3.0
Diafragma 1.5-3.0
Condom 1.5-3.0
CO (contínuo) "minipílula" 2.3

Um estudo de Ryder (1973) aborda o tópico de uso-eficácia de


contraceptivo sob o ponto de vista da satisfação da usuária, ou in-
satisfação, que se constitui uma abordagem completamente diferente
dos outros trabalhos aqui discutidos. Ryder trabalhou com dados
coletados do Estudo de Fertilidade Nacional de 1970, entrevistas di-
rigidas, com uma amostragem nacional de 6.752 mulheres não casa-
das. Interrogou-se às participantes desta pesquisa, quanto a seu com-
portamento contraceptivo, se usavam contraceptivos ou não, que méto-
do ou métodos seguiam e se a intenção era de adiar ou evitar gra-
videz. Foram interrogadas se obtiveram sucesso ou não em suas in-
tenções contraceptivas num período de 12 meses. Os dados foram
analfoados com relação ao tipo do método contraceptivo, intenção,
idade, raça, religião e outras variáveis. A Figura 11-1 apresenta as
taxas de falha global do método específico por intenção.
176
50

45
-Adiamento

40
D Prevenção

35

30

E
~
.
:ie 26
~o
..
20

16

101--- --

o
Pflula DIU Condom Diafragma Espuma Ritmo Ducha

Figura 11-1. Falhas dos contraceptivos nos primeiros 12 meses de uso pelo mé-
todo e intenção de contracepção. '
Estes resultados indicam que as mulheres que tentaram evitar
gravidez são mais bem sucedidas que aquelas que quiseram adiar e
que os métodos contraceptivos mais modernos (CO e DIU) são con-
sideravelmente mais eficazes do que todos os outros, enquanto a
ducha, a espuma e o ritmo são os menos eficazes. Ryder nota que
suas taxas de falhas são maiores do que seria de esperar de uma
avaliação da eficácia teórica dos métodos e descreve uma das razões:
"suponha, por exemplo, que uma mulher começou a usar a pílula,
porém abandonou-a por causa de efeitos colaterais. Se ela não usar
um outro método prontamente, a probabilidade é de que engravide.
Esta gravidez seria registrada em nossa conduta como uma falha da
pílula". Este é um exemplo de Tietze em "Eficácia do uso prolon-
gad9". Ryder insiste em salientar uma conclusão de outros inves-
. tigadores de contracepção: "Parece-nos mais importante reconhecer
a extensão em que o resultado do uso é conseqüência da junção das
características do Método e das características das usuárias".
As variáveis consideradas relacionadas a incidências de falha
neste estudo incluíram:
177
1. Intenção. A mulher que usa contraceptivos com a intenção
de protelar mais do que evitar gestação tem incidência de falhas sig-
nificativamente mais altas.
2. Idade. As mulheres mais jovens têm incidências de falhas
consideravelmente mais altas.
3. História no passado de falha contraceptiva. História no pas-
sado de falha contraceptiva associa-se à probabilidade crescente de
falha futura.
Comparando este estudo com os National Fertility Studie~, du-
rante um período de 15 anos, Ryder concluiu que a incidência de
falha contraceptiva foi reduzida pelo menos de 50% no mesmo pe-
ríodo, e atribui o aumento do sucesso contraceptivo quase inteira-
mente ao grande aumento de mulheres que usam CO.
Este grande aumento na eficácia contraceptiva não se deu sem
ônus, todavia. Conforme cresce o número de usuárias de COs, e à
medida que a proporção de usuários de COs por longo prazo au-
menta, encontramos mais e mais estudos dedicados aos efeitos cola-
terais destas perturbações difusas e persistentes do sistema endócrino.
Numa pesquisa feita por Hume (1978), os efeitos colaterais varia-
ram desde o aumento das taxas de mortalidade entre as usuárias de
COs, especialmente, mas não exclusivamente, devidas a tromboem-
bolismo e infartes do miocárdio, aumento de tumores de fígado, au-
mento da incidência de hipertensão, pressão sangüínea elevada, au-
mento na incidência de doenças venéreas, perda de interesse pelo
sexo, prejuízo dos mecanismos normais de competição e infertilidade
depois da interrupção de COs. O concernente aos efeitos colaterais
de longo prazo de COs é tal que deu origem a um editorial de
Lancei, a prestigiosa publicação médica britânica: "A Mortalidade
Associada à Pílula" . À medida que cresce o número de usuárias a
longo-prazo, parece que mais achados de perturbações vão emergir.
Numa das mais antigas avaliações do Método da Ovulação
(MO), Weisman, Foliaki e Billings (1972) descrevem a instrução e
a aplicação do MO com um grupo de ilhas do Pacífico da comuni-
dade de Tonga. De 395 mulheres instruídas sobre o MO, 331 ca-
sais decidiram continuar no seu uso . Como o MO é sempre descrito
como um método de controle da fertilidade que pode aumentar a
probabilidade de gravidez bem como diminuí-la, certo número de
mulheres ( 18) incluídas estavam tentando conseguir gravidez. Como
aconteceu com outros métodos, os investigadores registraram nume-
rosas ocasiões de uso irregular do MO ou "descuido deliberado"
das usuárias. As gravidezes acidentais foram classificadas como "bio-
lógicas" ou "falhas do método" se o casal era capaz de entender
e usar o método adequadamente, ou como "falha da usuária ou

178
pessoal" se era capaz de sentir que a gravidez resultou do entendi-
mento incorreto do método por parte do casal. Dos 50 casos em
que a mulher era impulsiva, ou elá e seu parceiro tiveram relações
durante seu período fértil, as gravidezes foram classificadas como
"indicação ignorada de possível fertilidade". O grupo de 282 mu-
lheres, que seguiram o MO num total de 2.503 meses , registrou dois
casos de "falhas das usuárias" e um caso de "falha do método".
Em 1976, Ball publicou um estudo do MO com 124 mulheres
da zona rural de Vitória, Austrália. As mulheres tinham de 20 a-39
anos de idade; 75% do grupo tinha 30 anos ou mais. Ball publica
um total de 21 gestações acidentais, com 4 gestações devidas a "fa-
lha biológica ou do método". O índice de Pearl para a "falha do
método " era 2,9/100 mulheres-ano enquanto o índice de Pearl para-
º total de 21 gestações acidentais foi de 15,5/100 mulheres-ano.
Em 1978, na International Conference on the Ovulation Me-
thod australiana, foram apresentadas algumas publicações prelimi-
nares sobre continuação das aplicações do Método da Ovulação. Da
Coréia, Stewart publicou que cerca de 8.000 mulheres, que segui-
ram o Método da Ovulação, apresentaram um índice de falhas inex-
plicadas de 3%. Kearns, de El Salvador, anunciou que 20% de seus
700 casais, que segufam o Método da Ovulação, engravidaram em
conseqüência de terem "aproveitado a chance", mas confirmou ape-
nas uma falha do método . Bernard, estudando 3.000 usuárias do
MO, na fndia, acusou sete falhas das usuárias e nenhuma do método.
Estas publicações são fragmentárias e incompletas; no entanto,
quando tais pesquisas forem completadas e seus resultados analisa-
dos, poderão fornecer grande quantidade de informações adicionais
necessárias sobre o uso-eficácia do MO.
Em recente publicação de um estudo-piloto sobre o uso-eficá-
cia do Método da Ovulação, Klaus (1977) seguiu estritamente as
condutas planejadas por Tietze e Lewit ( 1971), em termos de coleta
-de dado~ , e de apresentação. De 630 mulheres instruídas no MO, 135
concordaram em empregar o método. Este grupo apresentava média
de idade de cerca de 30 anos e se constituía principalmente de resi-
dentes urbanas de High School ou de níveis educacionais mais altos .
Quando ocorria uma gravidez acidental, perguntava-se às usuárias
se estavam ou não seguindo conscientemente o método, e, depen-
dendo de suas respostas, as falhas foram classificadas como "bioló-
gicas" ou como "pessoais".
A Tabela 11-7 apresenta a taxa de Klaus, relativa a gestações
acidentais em 12 e em 24 meses, para falhas biológicas e totais. As
taxas de falhas biológicas (do método) em 12 e em 24 meses são de

179
0,072 % e 0,517 % . As taxas de falha pessoal foram de 1,23 % e
1,38% em 12 e em 24 meses.
A conduta-·padrão da maioria dos investigadores consiste em
somar falhas biológicas a falhas pessoais para determinar a taxa
total de gravidez acidental. Lane (1976) relatou que 22 de suas 37
gestantes acidentais empregaram o diafragma de "forma ilógica ou
quase". Klaus seguiu uma combinação por aproximação e sua taxa
total de gravidez acidental em 12 meses, foi 1,30% e em 24 meses,
1,896%. Todas estas taxas são muito baixas, em confronto com as
mais baixas taxas de 12 e 24 meses de gravidez acidental relatadas
para outros métodos. O trabalho de Klaus supõe que o MO poderia
ser incluído na categoria "Mais Eficaz", de Tietze; entretanto, de-
vido ao pequeno número de participantes, este estudo sugere a ur-
gência de pesquisa adicional continuada na avaliação do MO:

TABELA 11-7. Taxas de terminação do MO


TERMINAÇÃO POR TAXA CUMULA TIVA (%)
12 MESES 24 MESES
Falha biológica 0.072 0.517
Falha pessoal 1.231 1.379
Total 1.303 1.896

Com o fim de avaliar se as mulheres de diferentes países e dife-


rentes níveis culturais são capazes de detectar os sinais e sintomas
associados à ovulação, em 1975, a Organização Mundial da Saúde
iniciou uma avaliação clínica multicentrada do Método da Ovulacão,
na fndia, nas Filipinas, na Nova Zelândia, na Irlanda e em El Sal-
vador. O segundo propósito da avaliação clínica foi o de determinar
o uso-eficácia e a eficácia teórica do Método da Ovulacão em mu-
lheres que sejam capazes de detectar modificações do mu'co cervical.
No fim de 1978, os resultados preliminares deste estudo indicaram
que, desde o primeiro mês de instrução, 93 % das pessoas confirma-
ram sua capacidade de reconhecer seu padrão de muco fértil. Oito-
centas (870) mulheres contribuíram com 2.685 ciclos de exposição e
ocorreram 40 gravidezes, isto é, 19 ,4 gestações por 100 mulheres-
-ano. No entanto, apenas três d~s gestações ocorreram enquanto o
método parecia ser usado corretamente. Assim, a eficácia teórica do
Método da Ovulação é 98,5 % eficaz, neste estudo. Estes dados con-
cordam com os achados de outros estudos do Método da Ovulação.
Para informação complementar vide o Apêndice 1.
180
Em resumo, pela evidência, fica claro que as mulheres de hoje
e as famílias de hoje têm acesso a uma variedade de Métodos contra-
ceptivos altamente efetivos. Também é óbvio que a maioria destes mé-
todos, se não todos, é acompanhada de um ou mais efeitos colaterais
com vários graus de desconforto ou perigos fisiológicos e/ou psicoló-
gicos. Os efeitos colaterais podem variar desde morte por trombo-
embolismo causado por contraceptivos orais, à perfuração do útero
que ocasionalmente acompanha a inserção de um DIU, através de
sangramento exagerado e dor física, . até desconforto psicológico que
pode acompanhar periodicamente sendo necessário abster-se de certos
tipos de atividades sexuais. Estes são os fatos nos quais as mulheres
e as famílias de hoje devem basear suas decisões contraceptivas
pessoais.

REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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World Health Organization Seventh Annual Report, novembro de 1978 (do-
cumento inédito).

182
12
Aspectos psicológicos
do controle da natalidade:
liberdade de escolha
para a mulher

As tentativas para limitar a concepção ou para controlar e es-


paçar os nascimentos desempenham papel importante na sexualidade
humana. A busca de métodos práticos de planejamento familiar co-
meçou há séculos e está documentada alhures com muitos detalhes
(Williams, 1977; Seaman e Seaman, 1977). Muitos métodos pro-
postos, e usados mesmo recentemente, têm levado a mulher, forçada
a contrariar a ordem natural das relações heterossexuais, a cicatrizes
dolorosas e experiências humilhantes. É irônico acreditar, no meio
de tanto esforço para controlar uma função natural do corpo da mu-
lher - a gestação - , que as mulheres tenham desempenhado um
papel tão passivo.
Em 1956, a progesterona sintética e compostos de estrógeno fo-
ram testados como contraceptivos em mulheres de Porto Rico e
Haiti. Os resultados a curto-prazo foram encorajadores e a regula-
ção química do ciclo reprodutivo tornou-se logo um negócio de um
bilhão de dólares. O Captíulo 8 expõe com detalhes a ação destas
pílulas contraceptivas e alguns dos efeitos transtornantes do delicado
equilíbrio entre o sistema endócrino e o cérebro. Como sempre,
quaisquer conseqüências adversas dos métodos de controle da nata-
lidade foram geradas pelas mulheres. Os últimos "benefícios" da
ciência, a Pílula e o DIU, estão produzindo um sem-número de con-
dições patológicas e efeitos psicológicos . debilitantes. Os efeitos a
longo prazo das formas mais modernas de controle da natalidade
são ainda desconhecidos, contudo é óbvia a necessidade de controle
efetivo dos nascimentos. De forma crescente as mulheres são enga-
183
jadas em duplos papéis. A contribuição das mulheres para a socie-
dade deixou de ser a de um instrumento de procriação para se tor-
nar um membro produtivo atuante na sociedade. As estruturas so-
ciais estão mudando de tal modo que as mulheres estão se engajando
nos sistemas legais, políticos e econômicos de maneira não vista,
antes. Um dos mais importantes fatores que contribuem para esta
nova liberdade é o controle da fertilidade. Os meios não apenas se
tornaram mais acessíveis, como as mulhers estão tendo agora voz
mais ativa no uso de tais métodos. "Infelizmente, as mulheres em
toda parte estão saindo das clínicas e dos consultórios médicos com
métodos de controle da natalidade que elas realmente não analisaram
ou não escolheram claramente, e não estão seguras de como usá-los"
(Boston Women's Health Book Collective, 1976, p. 182). Calcula-se
que 12 a 15 milhões de mulheres no mundo tomam a pílula. Há
uma tremenda necessidade de as mulheres participarem mais ativa-
mente da seleção e do controle de qualquer dos métodos de controle
da natalidade que elas usam.
Os métodos de controle da natalidade correntemente disponí-
veis e os vários efeitos colaterais associados a cada um foram dis-
cutidos no Capítulo 8. O método que uma mulher escolher é uma
função de sua eficácia em resolver as suas necessidades tanto fisio-
lógica como psicologicamente. Os efeitos psicológicos sobre as usuá-
rias de qualquer método de controle da natalidade são uma função
(1) da eficácia; (2) do uso conveniente e estético; (3) de efeitos do
uso na saúde da mulher; (4) de aspectos religiosos, éticos, morais e
culturais de ambos os parceiros no relacionamento. A ordem de im-
portância destes fatores obviamente diferirá de casal para casal.
Os métodos mecânicos, tais como o DIU, agora estão sendo vistos
com ceticismo por causa dos perigos físicos e efeitos psicológicos ocultos
devido a sua provável ação abortiva. Outros métodos de barreira
(diafragma, condom, espermicidas) são considerados por algumas
como sendo inestéticos, inibindo a espontaneidade da relação sexual,
um tanto incômodos e não totalmente erradicantes do medo de
gravidez.
A esterilização, tanto por razão médica como por escolha pes-
soal, envolve modificações físicas e psicológicas nos homens e nas
mulheres que não são completamente entendidas. As reações físicas
aos contraceptivos ora.is estão inquestionavelmente ligadas aos níveis
mais altos e constantes de estrógeno e progesterona do que os nor-
malmente produzidos pelo corpo. Conseqüentemente, uma reação
de pânico se desencadeou contra o uso dos contraceptivos orais.
Contribuindo para esta reação está o debate sobre contracepti-
vos e contrac~pção divulgado nos jornais, revistas, rádio e TV e em
184
conversas. Não é surpresa que a reação das usuárias seja influencia-
da pelos meios populares de tratamento do fato e da notícia. Nos
centros do MO mulheres afirmam que seus maridos não querem
que elas tomem a pílula por causa das reportagens sobre seus efei-
tos mórbidos conhecidos. Esta atitude é muito lisonjeira para a es-
posa cujo marido não quer que ela arrisque sua saúde, especialmente
quando ele está concordando com um período de abstinência no
meio do ciclo por causa de seu bem-estar físico e emocional.
O número dos efeitos colaterais associados aos meios usados
no controle da natalidade tem levado a um interesse cada vez maior
por meios mais naturais de controle dos nascimentos - " ... um que
não implique substâncias químicas, nada a ser usado em nossa va-
gina ou no útero, não acarrete efeitos colaterais, seja partilhado igual-
mente, e seja perfeitamente eficaz" (Boston Women's Health Book
Collective, 1976, página 207). Estes métodos dependem do reconhe-
cimento pela mulher dos sinais de seu próprio corpo. Tudo se ba-
seia no reconhecimento de que há períodos férteis e períodos infér-
teis rio ciclo. Embora os efeitos colaterais fisiológicos dos métodos
naturais sejam negligenciáveis, resta ainda uma possibilidade men-
surável de gestação. As mulheres que optam pelo uso do Método da
Ovulação ou outros métodos naturais envolvendo abstinência perió-
dica devem estar informadas a respeito da eficácia do método na pre-
venção de gravidez, comparada com métodos químicos e de bar-
reira, como se provou no Capítulo 11. Desse modo, elas podem es-
colher com base racional qual o método preferível, que riscos estão
aceitando para seu corpo, ou que benefícios são mais importantes.
O planejamento natural da família está sendo ensinado em cursos
formais praticamente no mundo inteiro, nos cursos de segundo grau,
profissionalizantes e universitários, nos seminários e para grupos in-
formais. Alguns cursos são promoção da Igreja e alguns não. Nas
situações de ensino de adultos, a interação do planejamento familiar
e casamento é, certamente, de profunda importância.
Seguindo um método natural, tanto o homem como a mulher
aprendem que a mulher é fértil apenas cerca de 100 horas cada mês.
Não surpreende que uma mulher se ressinta tendo que tomar medica-
ção poderosa diariamente ou tendo que usar um dispositivo me-
cânico durante anos, quando ela precisa evitar gravidez apenas du-
rante uns poucos dias em cada ciclo? O conhecimento de que o ho-
mem é sempre fértil e a mulher apenas ocasionalmente fértil serve
para tirar o fardo da responsabilidade da mulher e dividi-lo pelos
dois. Esta responsabilidade mútua serve para remover o fardo que
recaíra sobre a mulher durante muitas gerações.
185
O Método da Ovulação é um desafio. Não apenas obriga o ca-
sal a aprender como seus corpos funcionam, como também eles têm
de estudar o padrão das secreções mucosas e de praticar a restrição
durante os períodos férteis. Isto requer algum sacrifício. Entretanto
a maioria das pessoas está aceitando e se preparando para enfrentar
este desafio.
As usuárias e os defensores do planejamento natural da família
vêm de uma diversidade de culturas, nações e raças. Os aspectos re-
ligioso, ético e moral certamente são fatores importantes em qual-
quer reação expressa ao controle da natalidade. Ê digno de registro
que os métodos naturais de planejamento familiar foram logo en-
dossados como não contrários à doutrina católica e, em conseqüên-
cia, o ensino dos métodos naturais tem a possibilidade de patrocí-
nio da Igreja. O Método da Ovulação, em particular, é uma revela-
ção dos Drs. Billings, católicos. O primeiro ensino difundido foi
feito pelas missionárias católicas. Hoje, o método está começando a
atingir muitas áreas. Recente publicação (McKay, 1978) indicou o
sucesso de uma Clínica de Planejamento da Paternidade no ensino
do Método da Ovulação. Em contraste com a maioria dos dados forne-
cidos sobre o Método da Ovulação, onde a população é primaria-
mente católica com um tamanho médio de família de quatro, a po-
pulação de Paternidade Planejada incluiu mais do que 50% de sol-
teiras e independentes com 75 % sem filhos por escolha. O apelo
por um método efetivo natural é assim evidenciado com grande di-
versidade de mulheres.
Muito está sendo escrito hoje a respeito das reações de mulhe-
res que usam o Método da Ovulação, ou outros métodos naturais,
como meio de controle da fertilidade (Jackson; Christenson, 1977).
As publicações são unânimes em atestar o atrativo psicológico e a
satisfação intelectual experimentados pelas mulheres dos países de-
senvolvidos e em desenvolvimento. É muito interessante, de fato,
ver publicações que parecem tão semelhantes de países desenvolvi-
dos e em desenvolvimento. Uma missionária falou a respeito de um
casal muito pobre e humilde que aprendia o Método e que durante
a fase fértil disse que se tratavam entre si como costumavam fazer
durante o noivado. Nos países desenvolvidos, os casais também ad-
mitem que a abstinência não é necessariamente fácil, mas quando
estavam noivos também não era.
Um resultado muitas vezes citado do uso do Método da Ovu-
lação é uma mais significativa relação e o aperfeiçoamento da co-
municação entre marido e mulher. A partilha do conhecimento ín-
timo do ciclo menstrual da mulher abre a porta para melhor comu-
nicação em outras áreas. Muitos casais estão, agora, enviando seus
186
filhos mais velhos para aprenderem o planejamento natural da fa-
mília, não apenas por educação biológica e fisiológica , mas porque
prevêem as vantagens deste conhecimento quando seus filhos chega-
rem ao casamento. As gerações futuras serão capazes de planejar
suas famílias de forma natural sem os riscos que seus pais experi-
mentaram. Dá-lhes também uma oportunidade de aprender antes do
casamento a respeito da fertilidade cíclica, sem a urgência de se
adaptarem à nova vida conjugal. ·
Um observador, na América Central, contou que assim como
os métodos artificiais têm efeitos perigosos secundários, os métodos
naturais têm efeitos secundários benéficos, de tal modo que o espa-
çamento dos filhos se torna um efeito secundário. O efeito primário
que ele notara é como o método une o casal. Um homem e uma
mulher têm relações sexuais por muitas razões, das quais duas são
o amor mútuo e a procriação de filhos. Quando um casal tem o
número de filhos que pode criar, as relações sexuais, particularmente
sob o ponto de vista da mulher, muitas vezes se tornam uma expe-
riência preocupante e amedrontadora que ela não mais usufrui pelo
medo à gestação. Quando o marido quer ela reage nervosamente ou
diz que está cansada, e como conseqüência não proporciona muito
prazer nem a ele nem a ela. No entanto, desde que o casal entenda
sua fertilidade, eles não apenas têm relações mais vezes, mas com
maior prazer, o que é obviamente o caminhó para uma melhor vida
conjugal. As crianças, por sua vez, se beneficiam grandemente desta
harmonia no lar. A maioria das pessoas que usam este método na
Missão, na América Central, não são casadas; porém, depois de
introduzidas no Método da Ovulação e de serem informadas a res-
peito de seu poder de fertilidade , vêm às missionárias dizendo: "Nós
estamos indo bem agora, não há mais nenhuma razão para não ca-
sarmos". Outra surpreendente revelação resultante do conhecimento
da fertilidade é que não apenas a mulher não recusa mais relações
sexuais durante a fase infértil, mas naquela cultura o inesperado
ocorre, ela se torna mais afetuosa, a iniciadora das relações sexuais.

Ocorrência de gravidez com o método da ovulação

Como se descreveu com detalhes no Capítulo 11 , usa-se, hoje,


grande variedade de métodos, condutas e dispositivos contracepti-
vos. O sucesso ou o fracasso de cada um destes métodos está inti-
mamente ligado não apenas à segurança do método, mas também
em grande parte à confiança da usuária. Isto é, não importa qual
é a segurança de um método; ele não pode ter sucesso a menos que

187
algumas regras sejam seguidas rigidamente. Por esta razão, e im-
portante distinguir entre falha do método e falha da usuária. As ra-
zões para falha do método foram discutidas no Capítulo 11. Em
vista da usuária falhar com o MO, o Dr. Billings recomenda que a
equipe de instrutores discuta possíveis gravidezes com cada casal
desde o começo, de tal modo que possam compreender como vão
lidar com uma gravidez inesperada resultante da não-observância
das regras do MO.
Em muitos casos envolvendo casais, não há ressentimento sério
quando ocorre uma gestação não planejada. Uma razão para isso
pode ser que o casal soubesse que se estava arriscando tendo relações
sexuais durante um período fértil. "Na próxima vez, seremos mais
atentos", ou "sabíamos que estávamos arriscando", são seus comen-
tários habituais. É espantoso como muitos casais voltam para o Mé-
todo da Ovulação (MO), depois do nascimento de um "bebê não
planejado". Muitas vezes, a causa da gestação é que ou o marido ou
a mulher realmente desejava um outro filho, mas não admitiram
abertamente que desejavam. Outros casais descuidam da observân-
cia de registros, achando que estão bastante preparados no método
e não precisam mais observar diariamente tais registros cuidadosos.
As vezes existe algum problema conjugal e a falta de comunicação
e cooperação resulta numa gestação.
Das mulheres encontradas nos centros de MO, bem como das
histórias relatadas em todo o mundo, os resultados indicam viva-
mente que o Método da Ovulação tem trazido considerável satisfa-
ção para as usuárias, principalmente segurança, simplicidade, satis-
fação estética e compatibilidade com os conceitos religiosos, morais
e éticos sc9re os quais estão edificados seus sistemas de valores.
Provavelmente, a maior razão que leva ao crescente uso do Método
, da Ovulação é que conta com a expansão científica do conhecimento
a respeito da reprodução humana, em contraste com o recurso do
uso de contraceptivos químicos e DIUs, que há muito já vêm atra~
palhando a exploração de métodos alternativos mais seguros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Boston Women's Health Book Collective, Our Bodies, Ourselves, New York:
Simon and Schuster, 1976.
Christenson, Nordis, The Christian Couple, Minnesota: Bethany Fellowship, 1977.
Jackson, Leah, Comunicação pessoal.
McKay, Marsha, "The Ovulation Method and Planneâ Parenthood", Planned Pa-
renthood News, vol. 1, junho-setembro de 1978, Program in Focus, 4, 1978.
Santamaria, D., Comunicação pessoal.

188
Seaman, B. e Seaman, G., Women and the Crisis in Sex Hormones, New York:
Rawson Associates Publishers, 1977.
Williams, J. H ., Psychology of Women: Behavior in a Biassociai Context, New
York: W. W. Norton and Company, 1977.
Gibbons, G. (Ed.), Generosidade e criatividade no amor (Seleção de conferên-
cias pronunciadas no Congresso pela Família das Américas, Guatemala, ju-
lho de 1980), Edições P1n1linas, São P11ulo, 1981.

189
Posfácio

Nos últimos cinco anos tive o privilégio de conhecer Mercedes


Wilson e com ela ensinar centenas de casais. Posso dizer agora que
aprendi mais a respeito do ciclo da mulher normal da Sr~ Wilson
do que jamais aprendi dos livros.
· Resumindo o encontro do Estado de Wayne sobre a Ovulação,
em abril de 1977, um médico europeu disse, "Parece-me que os no-
vos métodos tornaram-se agora velhos e que o velho método se tor-
nou novo".
A tecnologia não atingirá jamais a cada mulher no mundo com
urna pílula ou urna espiral, ou mesmo um termômetro. Porém, nos
próximos dez anos atingiremos cada mulher no mundo com um
conceito, "quando você estiver seca o espermatozóide morrerá; quan-
do você estiver úrnida, você pode conseguir um bebê".
A Sr"' Mercedes Wilson tornou-se a primeira instrutora do Método
da Ovulação nos Estados Unidos. Ela é presidente da Organização
Mundial do Método da Ovulação de Billings. A Universidade de Porto
Rico conferiu-lhe grau de doutora honorária. Sua maior contribui-
ção foi a introdução dos selos coloridos no registro do ciclo mens-
trual. Estes selos têm o mesmo significado em todas as línguas, em
todos os cem países em que o método é ensinado agora. "Se ela
mancha, se ela sangra, coloca um selo que seja vermelho". "Nada
sentido e nada visto, colocar um selo que seja verde". "Se houver
muco, úrnido e claro, aí coloque um selo branco com bebê".
Este método é que está libertando as mulheres do mundo. Cer-
tamente as pílulas e as espirais são perigosas e degradantes para as
mulheres. Em cada dez mulheres hospitalizadas por causa da espi-
ral, apenas urna é hospitalizada por causa da pílula. Entretanto, para
cada mulher que morre por causa da espiral há dez que morrem
por causa da pílula. Em obstetrícia a última palavra tornou-se a se-
gurança. No planejamento familiar a última palavra deve-se tornar
segurança.

190
Que marido e mulher amorosos desejam proteger-se com con-
dons e diafragmas antes de participar de uma "doação total"?
Este é o método que põe a mulher no assento do motorista,
mas um casal não irá longe a menos que o marido tenha um mapa
da estrada.
Todos os casais estão ou tentando obter uma gravidez ou ten-
tando evitar gestação. Este método se presta para ambos. O conhe-
cimento da fertilidade deveria ser ensinado em cada colégio. Deveria
haver um Centro de Planejamento Natural da Família em cada cidqde
e uma Clínica de Planejamento Natural da Família em cada hospital.
Deveria haver um exemplar deste livro em cada lar.

John f. Brennan

Dr. John J. Brennan, Professor Assistente Clínico (OB-Gyn) de Marquette


Medical School; Diplomate American Board of Obstetrics and Gynaecology; Fel-
low of American College of Obstretics and Gynaecology; Teaching staff of Mil-
waukee County General Hospital; President, National Federation of Catholic
Physicians' Guilds, 1974; Chairman, National Comission for Human Life, Repro-
ducction, and Rhythm, 1973-1974; Medical Director, Human Life Foundation
Project, U. S. Department of Health, Education and Welfare, 1974-1975; Legis-
lative Comittee, Milwaukee County Medical Society, 1974; Board of Directors,
National Federation of Natural Family Planning, 1974-1976i Merit Award, Mar-
quette University, 1973.

191
Apêndice 1

Texto extraído, em parte, da Organização Mundial da Saúde - Programa


Especial de Pesquisa, Desenvolvimento e Treinamento de Pesquisa em Reprodu-
ção Humana. Sétimo relatório anual, novembro de 1978. (Documento não pu-
blicado). Reproduzido com permissão.

PESQUISA

Reconhecimento do Método da Ovulação do planejamento natural


da família

Há dois problemas básicos relacionados com o uso do PNF, isto


é, a identificação precisa dos dias férteis do ciclo menstrual e rigorosa
abstinência nestes dias. Além disso, debate-se se todas as mulheres são
capazes ou não de distinguir os sinais e sintomas associados com a
ovulação. Considerando estes pontos e o fato de que muito poucos
dados objetivos estão disponíveis para verificação da ovulação, em
197 5 o Programa iniciou avaliação clínica multicentrada do Método
da Ovulação.
Os objetivos específicos do estudo do método da ovulação con-
sistem em: determinar a porcentagem de mulheres que são capazes de
reconhecer as modificações no muco cervical durante o ciclo mens-
trual; relacionar estas mudanças à um parâmetro objetivo da ovu-
lação, a saber, os níveis de progesterona (ou pregnanediol) em um
número selecionado de ciclos; relacionar a capacidade das mulheres
de observar as modificações do muco cervical nos seus dados sociais
e médicos; e determinar o uso-eficácia e a eficácia teórica do mé-
todo em mulheres que sejam capazes de distinguir modificações no
muco cervical.
Foram convidados para participar os centros com experiências
precedente com o Método da Ovulação e com instrutores qualifica-

192
dos. Os cinco centros são: Auckland (Nova Zelândia), Bangalore
(Índia), Dublin (Irlanda), Manila (Filipinas) e São Miguel (El Sal-
vador). Foram recrutadas, por centro, cento e cinqüenta a duzentas
pessoas que não usaram anteriormente o Método do muco cervical
e que eram de fertilidade comprovada. Apenas mulheres ovulantes
com história de ciclos menstruais regulares, que terminaram, com
sucesso, um período de 3-6 meses de treinamento, entraram para o
estudo da eficácia (13 ciclos).
Foram recrutàdas para o estudo 870 mulheres. As católicas cons-
tituíam 83 % do total. A maior porcentagem de pessoas de outras
religiões foi 33% hindus em Bngalore e 12% de protestantes em
Auckland.
Cerca de 40% das mulheres nunca tinham usado antes qual-
quer método de regulação da fertilidade, 40% tinham experimentado
a abstinência periódica, 17 % coito interrompido, 17 % o condom
e apenas 19% e 5% contraceptivos orais e DIUs respectiva-
mente. Entretanto, houve grande variação, entre os centros, na fre-
qüência de· casais que haviam antes usado métodos reguladores da
fertilidade. 49 % dos casais indicaram "razões religiosas" como prin-
cipal motivação para o uso do Método da Ovulação. "Desconten-
tamento com outros métodos" e "recomendação de usuária do Mé-
todo da Ovulação" foi a primordial motivação em 28% e 16% das
pessoas respectivamente.
Estes resultados são demasiado preliminares e podem ser vá-
lidos apenas como amostra da população que participou do estudo.
No primeiro ciclo após a instrução, uma média de 93 % das pessoas
apresentaram um padrão mucoso interpretável, isto é, o .padrão mu-
coso registrado convenceu o instrutor a concluir que a pessoa estava
identificando seus "sintomas" corretamente. Os resultados do se-
gundo e do terceiro ciclos de ensino foram semelhantes. O conhe-
cimento do método pelas pessoas que estavam seguindo o primeiro
ciclo completo, na fase de instrução, foi considerado pelo instrutor
como "excelente" ou "bom" em 91 % das pessoas e "fraco" em
9 % . Estes dados subiram a 95 % e 97 % para o conhecimento do
método considerado "excelente" ou "bom " e diminuíram para 5%
e 3 % o considerado "fraco", no segundo e no terceiro ciclos, res-
pectivamente.
Embora se pretendesse empregar o método de tabelas vitais de
análise, para publicar a taxa de gestação quando o estudo estivesse
completo, obtiveram-se as taxas seguintes pela aplicação da fórmula
modificada de Pearl. A partir de l9 de outubro de 1978, durante a
fase de ensino do estudo, aproximadamente 870 mulheres contri-
buíram com 2.685 ciclos de exposição e ocorreram 40 gestações,

193
7 - O controle da natalidade
isto é, 19,4 gestações para 100 mulheres-anos (23,5 Auckland, 12,5
Bangalore, 10,4 Dublin, 24,7 Manila, 33,7 São . Miguel). Contudo,
apenas três gravidezes ocorreram sob circunstâncias onde o método
parece que foi usado corretamente. Assim, a eficácia teórica do mé-
todo é de 98,5 % . Esses dados estão de acordo com as conclusões de
outros estudos.
A maioria das gestações ocorridas parece ser o resultado do
casal ter arriscado "aproveitar a chance" durante a fase fértil, a des-
peito do fato de que durante cada entrevista de retorno, elas -decla-
ravam seu contínuo interesse em participar do estudo e em usar o
método durante o ciclo seguinte para evitar gravidez. Parece que
quase todas as mulheres que entraram para o estudo poderiam apren-
der a identificar os sintomas do muco ligados à ovulação, que o Mé-
todo da Ovulação habilita as mulheres a reconhecerem dias férteis
do ciclo menstrual e que quando se adota a abstinência durante a
fase fértil o método parece ser muito eficiente na prevenção de
gravidez.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

World Health Organization - Special Programme of Research, Development


and Research Training in Human Reproduction - Seventh Annual Report
November 1978 (documento inédito).

f 94
Apêndice 2
O muco cervical
e a identificação da fase
fértil do ciclo menstrual

Anna M. Flynn
University Department of Obstetrics and Gyneacology
The Maternity Hospital, Queen Elizabeth Medical Center
Birmingham 15

e
S. S. Lynch
Department of Clinical Endocrinology
The Birmingham and Midland Hospital for Women
Sparkhill, Birmingham 11

Sumário

Foram estudadas durante 29 ciclos menstruais, nove mulheres


férteis sadias. Um sistema de classificação do muco cervical, verifi-
cado pela paciente e usado em conjunção com a temperatura basal
do corpo, foi relacionado com os níveis plasmáticos de hormônio lu-
teinizante (HL), estradiol e progesterona plasmática. Os resultados
mostram que uma paciente pode ser ensinada a predizer o tempo de
ovulação pela observação das modificações no muco cervical.
Numa publicação anterior (Flynn e Bertrand, 1973), foi demons-
trado que uma avaliação do muco cervical do ciclo, baseada no es-
core cervical de Insler e outros (1970), era um meio de confiança e
relativamente simples de uma avaliação objetiva da função ovariana.
* Flynn, A. M. e Lynch, S. S., "Cervical Mucus and Identif. of the Fertile Phase
of the Menstrual Cycle". British fournal of Obstetrics and Gynaec., 83, 656-659 (1976).
Reproduzido com permissão.

195
Exige, entretanto, exame diário por pessoa especializada (medical
worker) . Para ser útil na prática, um método de avaliação do muco,
deve ser simples, conveniente, e capaz de interpretação pela própria
paciente. Esta publicação procura determinar a habilidade da mulher
fértil em reconhece!' e interpretar as modificações cíclicas de seu muco
cervical.

MÉTODOS

Pacientes. O estudo efetuou-se em nove mulheres sadias, volun-


tárias, cujas idades variavam entre 26 e 44 anos e a parturição entre
3 e 6 filhos. Seu "status" social variou entre grau I e IV. Todas obser-
varam, em alguma ocasião, um fluxo mucoso durante o ciclo mens-
trual, porém nunca o tinham quantificado e registrado. Foram estu-
dados três ciclos em cada uma das sete pacientes e quatro ciclos nas
duas restantes.
Dosagens hormonais. Todas as dosagens hormonais foram deter-
minadas no soro. Foram colhidos vinte ml de sangue de veia do braço
e deixados coagular em temperatura ambiente. Após centrifugação foi
separado o soro e guardado a 20º C até ser analisado. As amostras de
qualquer ciclo foram avaliadas na mesma dosagem. Uma amostra-
-base de hormônio luteinizante (HL), estradiol e progesterona foi co-
lhida entre o 49 e o 99 dia. Depois amostras para HL e estradiol fo-
ram colhidas consecutivamente do dia em que a paciente primeiro
notou o muco cervical até quando ela julgou que não mais tinha
muco do tipo fértil. O número de amostras colhidas até aquele mo-
mento, foi em média sete por ciclo e variou entre o 69 e o 25" dia.
Uma amostra de sangue posterior, para dosar progesterona, foi
colhida aproximadamente sete dias depois do grau máximo de muco
(GMM). O HL foi tratado por uma dupla dosagem radioimunológica
de anticorpos usando os reagentes descritos por Lynch e Shirley (1975).
O padrão MRC 69/104 foi fornecido pela Divisão de Padrões Bio-
lógicos, Londres. Os hormônios esteróides foram dosados pelas téc-
nicas radioimunológicas usando-se para a precipitação o sulfato de
amônia para separar as frações livres ou ligadas. O soro antiestra-
diol foi preparado contra o derivado de 6-oxime conforme descrito
por Dean e outros ( 1971) e a progesterona sérica usada foi segundo
a descrição de Furr (1973).
Estimativas clínicas. A temperatura basal do corpo (TBC) foi
medida durante o ciclo, ou pelo menos, durante número suficiente
de dias para mostrar um padrão bifásico. As pacientes foram orien-
tadas para limpar a vulva com papel higiênico antes e depois da uri-
196
nação e anotar a presença de muco. Ensinou-se-lhes a classificar o
muco cervical de acordo com o sistema de graduação do muco cer-
vical esquematizado por Brown (1973) (vide Tabela 1). O dia em
que a paciente tinha a maior quantidade de muco claro foi conside-
rado como o dia de grau máximo de muco (GMM) e, segundo sua
interpretação, dia da ovulação. Quando registros iguais ocorriam em
dois dias, o segundo destes foi .considerado como o máximo. A fase
da ovulação ou fértil do cic~o foi definida como o dia em que o grau
de muco era de 5 ou mais. Os resultados foram registrados nos grá-
ficos de temperatura.

RESULTADOS

Todas as pacientes completaram três ciclos e duas completaram


um quarto ciclo, perfazendo um total de 29 ciclos estudados. Não
ocorreram gestações planejadas ou nãocplanejadas. Em todos os ci-
clos o dia da ovulação foi considerado como o dia do pico de HL.
TBC. A TBC apresentou um padrão bifásico em 26 ciclos. Uma
paciente deixou de medir a temperatura durante dois ciclos, e numa
outra paciente o número de medições foi considerado insuficiente
para permitir interpretação. Houve um aumento significativo da ·
progesterona nestes três ciclos.

TABELA 1. Graduação do muco cervical


TIPO GRADUAÇÃO DESCRIÇÃO

-1 Sensação de secura
Modificação nítida
1 Não-secura, nada visto
Infértil 2 Amarelo ou branco, mínimo
3 Amarelo ou branco, pegajoso
Possivelmente fértil 4 Turvo, ficando mais claro, pegajoso
Modificação nítida
5 Mais fino, mais elástico
Fértil 7 Elástico, lubrificante, claro (pode ser
turvo)
9 úmido, deslizante, quantidade variável

Dosagens hormonais. Um pico de HL foi observado em todos


os vinte e nove ciclos, variando de 10 a 59 U/l. Estes valores foram
3 a 36 vezes a média dos níveis de HL folicular. Em todos os 29
ciclos, os níveis basais de progesterona foram menos do que 9 nmol/l.
Em 23 dos ciclos os níveis luteínicos foram maiores do que 14 nmol/ l
e variaram de 15 a 72 nmol/l. Dos seis ciclos restantes, a progeste-
rona não foi dosada em cinco deles senão entre os dias 25 e 28 do
197
ciclo e o nível variou de 2 a 11 nmol/ l, e num ciclo a amostra foi
perdida. Todavia houve um padrão bifásico do TBC nestes seis ci-
clos. O nível basal de estrógeno variou de 40 a 762 pmol/l, e em
todos os ciclos apareceu um pico pré-ovulatório, com níveis varian-
do de 541 a 2.917 pmol//. O pico estrogênico ou precedia ou coin-
cidia com o pico HL. Numa paciente um segundo pico estrogênico,
mais alto do que .aquele considerado pico da ovulação, ocorreu
quatro dias depois do primeiro pico estrogêníco e três dias depois
do pico HL. Este segundo pico estrogênico coincidiu com um nível
progesterônico sérico de 27 nmol/ l e não se refletiu no muco cer-
vical que foi considerado como 2.
Muco cervical. Todas as pacientes identificaram o muco cervi-
cal em todos os ciclos, porém a classificação se tornou mais fácil
com a observação continuada. A presença de fluido seminal depois
do coito causou alguma confusão durante os primeiros ciclos. Uma
paciente teve uma infecção por monília, na vagina, na segunda me-
tade do ciclo a infecção foi tratada com sucesso e ela registrou seu
muco cervical corretamente nas fases pré-ovulatórias. A relação entre
o dia de GMM e os picos de estrógeno ou HL é apresentada na Ta-
bela 2. Os intervalos entre o primeiro· e o último dia em que foi
notado um muco tipo fértil (de 5 a 9) e sua relação com outros
acontecimentos do ciclo menstrual são apresentados na Tabela 3, en-
quanto a Tabela 4 mostra a mesma informação a respeito de "qual-
quer" tipo de muco.

TABELA 2. Relação entre GMM e picos de estrógeno ou de HL


TEMPO RELATIVO DE GMM AO

N? DE DIAS PICO ESTROG~NICO PICO HL

2 dias antes o 3
1 dia antes 4 10
Mesmo dia 11 13
1 dia depois 12 3
2 dias depois 2 o
Valor médio (dias) +0,41 -0,45

Exceto na última linha da tabela, todos os dados indicam o número de pacientes em cada grupo.

DISCUSSÃO

Nossas pacientes se saíram bem na identificação da fase fértil


do ciclo menstrual distinguindo a cor, a consistência e a quantidade
do muco cervical presente, e dando uma classificação (Tabela 1).

198
Um método tão simples, capaz de determinação e interpretação pre-
cisas pela paciente, habilita uma mulher infértil a reconhecer se está
ou não ovulando e, se estiver ovulando, a planejar as relações se·
xuais no tempo de máxima fertilidade. Isto poderia evitar os demo-
rados, os inconvenientes e os dispendiosos estudos do perfil hormonal.

TABELA 3. Relação entre o primeiro e o último dia de muco


fértil (contagem de 5 ou mais) e outros acontecimentos
do ciclo menstrual
INTERVALO ENTRE INTERVALO ENTRE
PICO HL E GMM E
PRIMEIRO úLTIMO PRIMEIRO úLTIMO
DIA DE DIA DE DIA DE DIA DE
MUCO MUCO MUCO MUCO
N~ DE DIAS FÉRTIL FÉRTIL FÉRTIL FÉRTIL
5 5 o 1 o
4 12 o 7 1
3 4 o 13 o
2 8 4 8 7
1 o 13 o 16
o o 12 o 5
Valor médio (dias) 3.5 0.7 3.0 1.2

Exceto na última linha da tabela, todos os dados indicam o número de pacientes em cada grupo.

Um método de planejamento natural da família deve ser capaz


de detectar a ovulação iminente pelo menos 72 horas antes e, conse-
qüentemente, identificar o acontecimento ovulatório. Em 8 dos 29
ciclos estudados (cinco pacientes) houve apenas uma fase de muco
fértil pré-ovulatório de dois dias. Entretanto, o aparecimento de qual-
quer muco ocorreu em média 5-2 dias antes do Pico HL, o que con-
corda exatamente com as conclusões de Billings e outros (1972).
Também apareceu pelo menos três dias antes do Pico HL e do GMM
e isto, portanto, poderia servir como método de determinação dos
momentos do ciclo durante os quais a abstinência sexual deve ser
observada com o objetivo de evitar uma gestação. Verificamos que
o status social não teve grande importância no preparo de uma mu-
lher para reconhecer e registrar o muco cervical. De fato, as de mais
baixo nível social pareciam relativamente mais observadoras e apren-
diam mais facilmente.

199
TABELA 4. Relação entre o primeiro e o último dia de "qualquer"
muco e outros acontecimentos no ciclo mentrual
INTERVALO ENTRE INTERVALO ENTRE
PICO HL E GMM E
PRIMEIRO úLTIMO PRIMEIRO ÚLTIMO
DIA DE DIA DE DIA DE DIA DE
"QUALQUER" "QUALQUER" "QUALQUER" "QUALQUER"
N? DE DIAS MUCO MUCO MUCO MUCO
8-12 2 6 1 7
7 3 2 2 1
6 4 1 5 3
5 11 4 6 o
4 7 2 12 9
3 2 5 3 5
2 o 9 o 4
Valor médio (dias) 5.2 4.8 4.8 5.2

Exceto na última linha da tabela, todos os dados indicam o número de pacientes em cada grupo.

AGRADECIMENTOS

Somos gratos aos Catholic Marriage Advisory Council, da In-


glaterra e País de Gales, através dos quais recrutamos nossas volun-
tárias e que contribuíram financeiramente por meio de seus Family
Research Fund. Agradecemos ao Professor W.R. Butt por suas adver-
tências e estímulos durante o curso deste trabalho, e ao pessoal
do Departamento de Endocrinologia Clínica. Agradecemos ao Bir-
mingham and Midland Hospital for Women, que realizou as dosa-
gens h0rmonais. Finalmente, nossos sinceros agradecimentos às pa-
cientes voluntárias deste estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Billings, E. L.; Billings, J. J.; Brown, J. B. e Binger, H. G. (1972): Lancet. 1,


282.
Brown, J. B. (1973): Ovulation Method Workshop. Responsible Parenthood
Association, Sydney, New South Wales, p. 18.
Dean, P. D. G.; Exley, D. e Johnson, M. W. (1971): Steroids. 18, 593.
Flynn, A. M. e Bertrand, P. V. (1973): journal of Obstetrics and Gyneacology
of the British Commonwealth. 80, 152.
Furr, B. J. A. (1973): Actu endocrinologica. 72, 89.
Insler, V.; Melmed, H .; Eden, E.; Serr, D. e Lunenfeld, B. (1970): Clinicai
Application of Human Gonadotrophins. Proceedings of a Workshop Con-
ference, Hamburg 1970. Ed. por G. Bettendorf e V. Insler. Georg Thieme
Verlag, Suttgart, p . 87.
Lynch, S. S. e Shirley, A. (1975): journal of Endocrinology, 65, 127.

200
Apêndice 3
Método da ovulação
e população rural
de Vitória (Austrália)

Este ensaio é evidência do uso-eficácia do Método da Ovulação num gru-


po de casais altamente motivados. Cada mulher foi preparada por uma instruto-
ra treinada e mostrava-se bastante habilitada a identificar seus próprios sintomas
de ovulação, mesmo antes de entrar para a pesquisa.

SUMÁRIO

124 casais foram recrutados, entre maio de 197 3 e julho de


1974, para um estudo prospectivo da eficácia da observação do
muco cervical (o "Método da Ovulação") como meio de evitar con-
cepção. Dois casais não voltaram; os demais contribuíram com 1.626
ciclos de observação e tiveram 21 gestações não planejadas. Isto dá
um índice global de gestações não planejadas de 15,5 por 100 mu-
lheres-ano.

INTRODUÇAO

Há muito se sabia que as modificações hormonais ligadas à


ovulação muitas vezes provocavam sintomas. Os sintomas mais comu-
mente notados são dor, leve sangramento vaginal e modificações na
quantidade e na aparência do muco cervical, dentre os quais o últi-
mo recebeu mais atenção. Num ciclo de 28 dias, os dias seguintes ao
término da menstruação são marcadas por ausência de muco, acom-
panhado por sensação de "secura". Esses são seguidos por um nú-
mero variável de dias nos quais o muco, que pr1me1ro é turvo e pe-
* Ball, Maureen, "A Prospective Field Triai of the 'Ovulation Method' of Avoiding
Conception''. European /ournal of Obstetrics, Gyn. and Repr. Biology, 612, 63-66 (1976).
Reproduzido com permissão.

201
gajoso, aparece. A medida que o tempo da ovulação se aproxima, o
muco se torna elástico e lubrificante, acompanhado por sensação de
"umidade". Depois da ovulação o muco cessa ou muda para tipo
pegajoso e a sensação de umidade já não está presente. O último
dia de observação de qualquer umidade é considerado como o Pico.
Billings, Billings, Brown e Burger demonstraram que a modificação
do muco do pico relaciona-se intimamente com o momento da ovu-
lação como se determinou pela dosagem do hormônio luteinizante
do plasma e de estrógeno e pregnanediol urinários; o muco do_pico
não ocorreu antes de três dias e também não nos dois dias após o
dia da ovulação em 22 mulheres que eles estudaram.
Vários autores têm recomendado que a modificação no muco
seja usada para determinar o dra da ovulação com o objetivo de evi-
tar relações no tempo fértil se se visa controlar os nascimentos. Bil-
lings 1' 2 *,em particular, tem recomendado intensamente este método.
O primeiro campo prospectivo de experiência do método, todavia,
não foi publicado senão em 1972 3 • Este método incluiu 282 casais
na ilha de Tonga que usaram o método durante 2.593 ciclos. Os au-
tores calcularam uma taxa de fracasso de 3 gestações não planeja-
das, excluindo 50 outras em que os casais afirmaram que tinham
"arriscado" uma relação sexual, quando eles sabiam que o muco
estava presente. Aplicada a fórmula de Pearl a estas três gestações
é 1,4 por 100 mulheres-ano; aplicada às 53 gestações é de 25 por
100 mulheres-ano.
O presente estudo inclui como não planejadas as gestações re-
sultantes de "arriscando", porém os coloca em tabela separado para
tornar mais fácil a comparação com outros estudos.

METO DO

O estudo envolve 124 mulheres, de 20 a 39 anos inclusive, que


contribuíram com 1.635 ciclos. Todas tinham levado pelo menos
uma gravidez até o fim; tinham observado, pelo menos, um ciclo
ovulatório, desde o último parto. As participantes foram recrutadas
no Natural Family Planning Centres, da Austrália, onde tinham re-
cebido instrução pessoal de instrutoras treinadas e das quais recebe-
ram registros e selos coloridos para marcar as diferentes fases do
ciclo menstrual. Os dias de observação dos sintomas do muco foram
marcados no gráfico com selos brancos e a figura de um bebê, pro-
duzindo assim uma ajuda visual para o reconhecimento da fertili-

* 1, 2 etc. remetem às Referências bibliográficas no fim deste Apêndice.

202
dade. No ensino do método foi muito salientada a necessidade de
boa comunicação entre o marido e mulher.
As clientes enviavam seus registros, no fim de cada ciclo, para
o centro de estudo. Se, após dois ciclos, não era recebido um registro
enviava-se um lembrete e se necessário mais outros. Nessa ocasião
apenas duas mulheres não voltaram mais, ficando 122 que contri-
buíram com um total de 1.626 ciclos. A regra manda que as rela-
ções na fase pré-ovulatória só tenham lugar se a mulher observar
uma sensação de secura, sem a presença de muco de qualquer es-
pécie; estes dias eram registrados com selo verde simplesmente. Por
causa da presença de fluido seminal no dia seguinte ao de uma re-
lação dificultar a observação, a regra era que o dia seguinte ao de
uma relação devia sempre ser considerado dia "não seco".
Fora permitido relações na fase pós-ovulatória quando a cliente
tivesse registrado quatro dias consecutivos a partir do sintoma pico;
o pico foi descrito como o último dia de muco "tipo fértil" ou de
sensação de umidade.
Depois que o estudo começou, alguns centros começaram a per-
mitir às clientes usarem dias da fase pré-ovulatória quando se en-
contrava presente "um muco pegajoso, turvo" 4 • Várias das pacien-
tes estudadas tiraram partido disto a despeito da regra. Os dias de
"muco pegajoso, turvo" não mutável foram registrados com selos
amarelos simples.

RESULTADOS

A distribuição das clientes por idade foi: 20-24 anos, 3; 25-29


anos, 29; 30-34 anos , 65; 35-39 anos 27. A paridade foi: 3 tinham
1 filho; 16 tinham 2; 35 tinham 3; 34 tinham 4; 19 tinham 5;
9 tinham 6; 3 tinham 7; 3 tinham 8; 2 tinham 9. O resultado é apre-
sentado na Tabela 1.

TA BELA 1. Resultados
RETIROU-SE PORQUE N~ DE CLIENTES

Planeja um bebê 5
Gravidez não-planejada 21
Contracepção não mais necessária 4
Mudou para outro método 8
Contracepção abandonada embora necessária 2
Mudou 2
Não retornou 2

Total 124

203
Em 21 gestações, quatro clientes, pelo que se pôde apurar, se-
guiram as instruções dadas no protocolo; em 8 casos elas não o fi-
zeram e em 9 usaram os dias da fase pré-ovulatória quando ."o muco
turvo e pegajoso" se encontrava presente, o que não era permitido
pelo protocolo, mas foi introduzido subseqüentemente em alguns
centros. A taxa total de gestações não planejadas por 100 mulheres-
-ano, de acordo com a fórmula de Pearl, é 15,5. As proporções atri-
buíveis às usuárias que arriscaram e ao uso dos dias pré-ovulatórios
em que estava presente o muco turvo e pegajoso são apresentados
na Tabela 2. ·

TA BELA 2. Incidência de gravidez não planejada


em vários grupos
A usuária teve consciência de risco 6.7
Usava os dias pré-ovulatórios com "muco pegajoso e espesso" 5.9
Relações nos "dias secos" apenas 2.9
Taxa total de gravidez não planejada 15.5

DISCUSSÃO

Foi determinado o registro para estudar a eficácia do uso das


fases pré e pós-ovulatórias do ciclo segundo a determinação do sin-
toma muco-cervical como um meio de evitar-se a concepção. O es-
tudo demonstrou incidência de gestação não planejada global de
15,5 por 100 mulheres-ano . Ocorreram apenas quatro gestações com
casais que limitaram as relações aos dias secos pré-ovulatórios e aos
dias pós-ovulatórios a partir do quarto dia depois do sintoma pico
dando uma incidência de falha biológica de 2 ,9 gestações por 100
mulheres-ano.
Os casais que usaram os dias de muco pré-ovulatório "turvo,
pegajoso", bem como os dias secos pré-ovulatórios e os dias que se
seguiram· ao quarto dia depois do sintoma pico tiveram nove gesta-
ções. A introdução da informação de qµe os dias pré-ovulatórios em
que o muco "turvo, pegajoso" estivesse presente poderiam ser assi-
nalados com selo amarelo e usados para relações, criou dificuldades
pois esta instrução não foi considerada quando foi planejado o re-
gistro para o estudo. A literatura publicada com a introdução do
selo amarelo propôs o uso do muco "turvo, pegajoso" pré-ovulató-
rio, apenas em certas circunstâncias. Decidiu-se que qualquer par-
ticipante do estudo que estivesse seguindo esta instrução deveria
ser conservada no estudo, mas passaria a ser assunto de uma catego-
ria distinta. Os casais que aceitaram um risco consciente tiveram 8
gestações; em cada caso a mulher registrara o dia usado como fér-
til e registrara com a ajuda visual de um "selo com bebê".
Os resultados deste estudo podem ser comparados com os ob-
tidos nos estudos prospectivos de outros métodos naturais de con-
trole da concepção.
A publicação de Marshall de um estudo do método combinado
calendário/temperatura para casais que usavam ambas as fases pré-
-ovulatória e pós ovulatória do ciclo mostrou a incidência global de
gestação de 19 ,3 por 100 mulheres-ano. O "Método da Ovulação"
alcançou melhor índice de eficácia do que o método calendário/ tem-
peratura desde que as relações na fase pré-ovulatória fossem limita-
das apenas aos dias secos.
Num estudo.do Método da temperatura onde as relações foram
restritas apenas à fase pós-ovulatória, Marshall 5 verificou uma in-
cidência de gestação de 6,6 gestações por 100 mulheres-ano. Não
se pode fazer uma comparação válida entre este resultado e o "Mé-
todo da Ovulação", como se fez no presente estudo, porque não era
um grupo em que os casais se limitaram a relações na fase pós-ovu-
latória do ciclo.

AGRADECIMENTOS

Desejo agradecer às clientes e aos instrutores pela sua coope-


ração, à Sr~ Nola Burns pela assistência de secretária, ao Professor
John Marshall pela orientação do critério do ensaio e ao Family Re-
search Trust, pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Billings, E. L.; Billings, J. J.; Brown, J. B. e Burger, H. G., Lancet, 1972,


1, 282.
2. Billings, J. J., Novo Método da Ovulação, 7~ ed., Edições Paulinas, São
Paulo, 1980. ·
3. Weissman, M. C.; Foliaki, F.; Billings, E. L. e Billings, J. J., Lancet, 1972,
2, 813.
4. Billings, E. L.; Billings, J. J. e Catarinich, M., Novo método para o Con-
trole da Natalidade - O Método da Ovulação - ATLAS, 2~ ed., Edições
Paulinas, São Paulo, 1980.
5. Marshall, J., Lancet, 1968, 2, 8.

205
Apêndice 4
Os sintomas e as variações
hormonais que acompanham
a ovulação

E. L. Billings
/. /. Billings
. /. B. Brown
H. G. Burger

Medical Research Centre, Prince Henry's Hospital, Melbourne: Melbourne


Universitiy, Departament of Obstetrics and Gynaecology, Royal Women's
Hospital, Melbourne; and Catholic Family Planning Centre, Melbourne,
Victoria, Austrália.

SUMÁRIO

Para determinar se as mulheres normais poderiam predizer e


identificar sintomaticamente a ocorrência de ovulação, vinte e duas
voluntárias foram instruídas a respeito de um padrão de "sintomas
do muco" vaginal que fora estabelecido previamente .. Foram medi-
dos o hormônio luteinizante do plasma, os estrógenos e o pregna-
nediol urinários para fornecer uma "estimativa hormonal" do dia
da ovulação. Um rnuco "lubrificante" característico, identificado por
todas as mulheres, ocorreu no dia da ovulação em cinco, 1 dia antes
em nove e 2 dias antes em quatro. O começo dos sintomas do muco
ocorreu 6,2 dias (média) antes da ovulação. Conclui-se que o tem-
po da ovulação pode ser identificado clinicamente, sem recurso à
mensuração da temperatura ou testes mais especializados.
INTRODUÇÃO

A capacidade de uma mulher predizer e identificar o momento


da ovulação, por meio de seus próprios sintomas, teria aplicações
• E. L. Billings et ai. Lancet, vol. 1, n. 5, fev. 5, 1972, pp. 282-284. Reproduzido com
permissão. ·

206
óbvias no controle da fertilidade e no manejo da infertilidade. Os
métodos "naturais" de planejamento familiar baseiam-se, geralmente,
em registros de calendário 1• 2 de ciclos menstruais passados (o "Mé-
todo do Ritmo"), a partir dos quais pode ser calculado o tempo fér-
til do ciclo, ou pelo registro 3' 4 da temperatura basal do corpo (TBC),
a partir do qual a ocorrência de ovulação pode ser julgada retros-
pectivamente, ou uma combinação dos dois. O método do ·ritmo é
restritivo, pelo que se deve levar em conta os ciclos registrados mais
longos e mais curtos da mulher; falta especificidade ao método da
TBC e não identifica prospectivamente a ovulação.

TA BELA 1. Análise dos índices hormonal e sintomático


da ovulação

1 30 16 15 16 17 10 18
2 28 14 14 14 15 11 16
3 35 .. 24 .. 23 25 16 24
4 25 14 13 15 16 15 11 4
5 27 12 11 13 11 13 6 13
6 25 13 13 16 12 14 9 14
7 25 13' 13 16 12 14 7 14
8 28 13 12 18 13 14 6 15
9 27 15 15 18 13 16 8 ?16*
10 33 .. 19 20 17 20 11 23
11 22 10 9 12 11 11 8 12
12 29 14 14 16 14 15 11 16
13 26 14 12 12 11 12(15) 9 14
14 27 11 10 12 12 12 9 14
15 26 11 10 12 12 12 7 13
16 25 12 12 13 12 13 7 16
17 27 13 13 13 13 14 5 15
18 28 15 14 16 14 16 7 17
19 31 17 17 17 18 18 10 19
20 25 11 11 13 12 12 6 14
21 27 11 10 13 14 12 9 13
22 33 19 20 20 19 20 10 22
. . Amostra coletada em parte imprópria do ciclo.
• Registro não satisfatório da TBC.

• 1, 2 etc. remetem às Referências bibiográficas do fim deste Apêndice.

207
Verificamos que as mulheres podem aprender a reconhecer um
padrão de muco vaginal que ocorre na época da ovulação que . há
estrita correlação entre aqueles sintomas e o dia da ovulação, como
se calculou pelos padrões de excreção do hormônio, e que a ovula-
ção iminente pode ser predita para um período bastante longo para
ter uso prático no controle da fertilidade. A aplicação clínica da
combinação dos sintomas e modificações na TBC foi descrita pre-
viamente 5 como o "Método da Ovulação".

MÉTODOS

Sintomas de ovulação

Nos últimos quinze anos dois de nós (E. L. Billings e J. J. Bil-


lings) entrevistaram várias centenas de mulheres para definir o pa-
drão do corrimento mucoso que ocorre no período pré-ovulatório do
ciclo menstrual. Os aspectos mais evidentes destes sintomas são os
seguintes:
(a) O sangramento menstrual é seguido por um número variá-
vel de dias em que não há nenhuma perda vaginal ("dias secos").
(b) O começo dos "sintomas mucosos" é caracterizado pelo apa-
recimento de quantidade crescente de secreção "turva" ou "pega-
josa"; a duração desta fase é variável (vide a seguir).
(c) Isto é seguido pela ocorrência de muco claro, deslizante,
lubrificante, tendo as características físicas da clara de ovo cru (fi-
lamentoso); isto foi chamado o "sintoma pico". Caracteristicamente,
dura de 1 a 2 dias, e o último dia de sua ocorrência é considerado
como o dia do sintoma pico nos resultados apresentados.
(d) O "sintoma pico" é seguido pela presença de muco espes-
so, "pegajoso", opaco, cuja duração é variável.

Mulheres estudadas

Vinte e duas mulheres freqüentadoras do Centro Católico de


Planejamento Familiar, Melbourne, foram escolhidas para o estudo
tão-somente porque desejavam cooperar, e porque a série estudada
é consecutiva. Várias não se convenceram, depois da instrução ini-
cial, de que elas poderiam facilmente identificar os sintomas muco-
sos, porém todas foram bem motivadas para colaborar na investiga-
ção. Todas eram casadas, a idade variou de 25 a 42 anos, e eram de
208
fertilidade comprovada (1-7 filhos, número modal 2). A duração do
ciclo menstrual variou de 22 a 35 dias, média 27 ,6. Recomendou-se
a cada mulher que registrasse diariamente seus sintomas mucosos e
medisse a TBC vaginal, antes de levantar pela manhã. Foram cole-
tadas diariamente amostras seriadas de sangue, de 9 a 10 dias con-
secutivos em torno da ocasião esperada do meio do ciclo, e foi co-
letada a urina (de 24 horas) durante o ciclo em todas, exceto as
primeiras seis mulheres, que coletaram apenas no meio do ciclo.
O sangue foi colhido por punção venosa, por uma enfermeira a _do-
micílio. As mulheres eram, portanto, donas de casa normais, volun"
tárias, de fertilidade provada, estudadas em seus próprios lares.

Mensurações hormonais

Mediu-se o hormônio luteinizante (HL) por uma fase sólida ra-


dioimunológica semelhante à que se descreveu 6 previamente para o
hormônio dà crescimento humano, usando-se HL humano radioiodado
(doado pelo Dr. A. Stockell Hartree), e anti-soro anti-HL. Os resul-
tados forain expressos como m. I.U. por ml., usando um padrão
laboratorial de gonadotropina hipofisária que tinha sido caracteri-
zada biologicamente em termos da segunda referência de preparação
internacional das gonadotropinas menopausais humanas (Atividade
de HL 7 , 144 I. U., por mg.,). Foram medidos os estrógenos uriná-
rios 8 totais e o pregnanediol 9 pelos métodos previamente publicados.

Previsão hormonal do dia da ovulação

O pico do meio do ciclo de HL plasmático ocorre cerca de


16 horas antes da ovulação, como se afere pela biópsia do corpo
lúteo 10 , e o pico do meio do ciclo da excreção urinária de estrógeno
geralmente ocorre no dia anterior ao pico do HL plasmático ou no
mesmo dia 11 • A excreção de pregnanediol urinário sobe com o esta-
belecimento da função lútea.
Definimos o dia da ovulação como o dia seguinte ao do pico
do HL plasmático do meio do ciclo; isto geralmente, correspondeu
ao dia em que a excreção de pregnanediol urinário alcançou um
valor maior do que duas vezes o nível médio da fase folicular. Com
uma exceção, o pico de excreção do estrógeno urinário ocorreu 0-2
dia antes do dia calculado para a ovulação. Em duas mulheres (n.
3 e 1O), ficou claro que as amostras de sangue não foram obtidas
no meio do ciclo (a duração dos ciclos de 35 e 33 dias, respectiva-
209
mente), e admitiu-se que o dia da vvulação foi o dia posterior ao
do pico de estrógeno total, confirmado por uma subida de pregnane-
diol na pessoa n. 10. · ·

ELEVAÇÃO DA T.B.C.

Para cada mulher foi traçada uma linha sobre o registro de TBC
("Linha marginal") 5 abaixo da qual encontram-se as temperaturas
da fase folicular avançada e acima da qual a temperatura alcànçou
os níveis da fase lútea. O primeiro dia em que a temperatura ficou
acima da linha marginal foi chamado de dia da subida na TBC.

PBG
99 .0

F 98.0

97.0 Sintomas
-----j
r
f 1 1
p
TT SS
MM Mfl' MMM MMM
t 1 1 1

20
mlU/ mi lO

~
6

4
mg/ 24h
: (preg.J

1 4 7 1o 13 16 19 22 25 27
Dies do Cic lo

Pessoas 18: TBC, sintomas do muco, LH do plasma e estrógenos urinários é


pregnadiol.
Os sintomas são caracterizados como muco (M), muco pegajoso (TM), muco
deslizante ou lubrificante (SM), e P (dor). M indica quantidade máxima de
muco; o dia do sintoma pico foi considerado como o segundo dia marcado SM.
A linha interrompida vertical indica o dia da ovulação calculada hormonalmente.
A linha interrompida horizontal sobre a TBC registrada é a "linha marginal".

RESULTADOS

Os resultados são resumidos nas Tabelas 1 e 2 e um ciclo típico


é apresentado na figura. Na pessoa n. 9, o pico de excreção de preg-

210
nanediol na fase lútea alcançou apenas, 1,1 mg por 24 horas, suge-
rindo que não se estabeleceu um corpo lúteo em pleno funciona-
mento; houve, todavia, um pico claro na excreção do estrógeno uri-
nário e no HL plasmático (23,5 mIU por mi). Na pessoa n. 13 houve
inconsistência nas dosagens hormonais; assim embora houvesse um
pico no HL plasmático (10,6 mIU por mi) no dia 14, o pregnane-
diol urinário tinha aumentado significativamente no dia 12; o dia
da ovulação nesta pessoa foi considerado o dia 12 ou, possivelmente,
dia 15 (embora no dia 15 o pregnanediol fosse já 5,6 mg por _24
horas).
A Tabela 2 demonstra que a ovulação, como se determinou
hormonalmente, ocorreu 0,9 dias (média) depois da ocorrência do
sintoma pico, com uma variação de 3 dias depois a dois dias antes
(numa pessoa). Além disso, o intervalo médio, desde o início do
sintoma mucoso até a ovulação, foi 6,2 dias, com uma variação de
3 a 10 dias. A subida da TBC geralmente ocorreu 1-2 dias depois
da ovulação.

TABELA 2. Correspondência entre o dia da ovulação conforme


o cálculo a partir dos sintomas e desagens hormonais:
intervalo entre o início dos sintomas e a ovulação
INTERVALO: PRIMEIRO
INTERVALO: SINTOMA PICO SINTOMA REGISTRADO
Arn O DIA AT~ O DIA
CASO DA OVULAÇÃO (DIAS) DA OVULAÇÃO (DIAS
1 1 7
2 1 4
3 2 9
4 -1 4
5 2 7
6 1 4
7 2 7
8 1 8
9 3 8
10 3 9
11 o 3
12 1 4
13 1(4) 3(6)
14 o 3
15 o 5
16 1 6
17 1 9
18 2 9
19 o 8
20 o 6
21 -2 3
22 1 10
Média 0.9 6.2

211
DISCUSSÃO

Verificamos que as vinte e duas donas de casa normais, sele-


cionadas apenas porque queriam participar do estudo, poderiam
aprender a reconhecer um padrão de secreção vaginal durante o ci-
clo menstrual e a distinguir a ocorrência de um sistema particular -
isto é, o muco claro lubrificante. Este "sintoma pico" foi estrita-
mente relacionado ao dia da ovulação, como se calculou pelas me-
didas do HL plasmático e estrógenos totais urinários e do pregna-
nediol urinário. Além disso, os sintomas mucosos começam, em
média 6 a 2 dias antes da ocorrência provável da ovulação, forne-
cendo assim indicação útil de ovulação iminente. O sintoma pico
foi estritamente ligado ao pico da excreção estrogênica na urina, que
é concordante com os efeitos do estrógeno sobre as glândulas muco-
sas cervicais.
Estas observações fornecem base a um método de regulação da
natalidade que depende tão-somente de observações que podem ser
feitas pela maioria das mulheres normais, e por evitar relações
sexuais desde o momento do começo destes sintomas até depois da
ocorrência do sintoma pico. Tal método (o "Método da Ovulação")
está agora sendo estudado; as mulheres são instruídas para abster-se
de relações no início dos sintomas mucosos, e a atividade sexual
pode ser retomada no quarto dia depois do "sintoma pico". Além
disso, um casal que está tendo dificuldade em conceber pode ser ins-
truído para concentrar seus esforços sobre os dias do "sintoma pico".
A ampla aplicação de tal método requer a evidepte confirma-
ção de sua segurança na prática; além disso, exige que as mulheres
sejam instruídas para reconhecer seus sintomas; por isso deve ser
demonstrada sua aplicabilidade a todas as classes da sociedade. Tais
estudos estão em progresso.
Nossos achados têm provado também a utilidade nos estudos
de fisiologia dos eventos hormonais que cercam a ovulação. Uma
lista 12 da Organização Mundial da Saúde, sobre a necessidade de
pesquisas no controle da fertilidade pela abstinência periódica, in-
cluía "uma fórmula que possa dar uma estimativa do momento da
ovulação mais precisa do que as fórmulas correntes" e "testes sim-
ples para a predição acurada da ovulação". Nossos resultados suge-
rem que esta necessidade pode ser superada por meios clínicos
simples.
Este estudo foi sustentado por três doações anônimas através
do Hospital de São Vicente, Melbourne, e por doações do Nationa]
Health and Medical Research Council. A cooperação do Rev. F.
Richards e do corpo médico do Catholic Family Planning Centre é
212
grandemente reconhecida. A Irmã McLennan coletou as amostras de
sangue; a assistência técnica foi fornecida pela Sr~ M. Wajnstok,
Sr~ C. Heichman, Sr~ L. Parker, Srt~ G. de Haan, Srt~ J. McLaughlin,
e Srt~ J. Sedgman. A Srt" C. Freestone desenhou a figura e Srl). J. Volfs-
bergs datilografou o manuscrito.

REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Ogino, K., Zbl. Gynak, 1930, 54, 464.


2. Knaus, H., ibid., 1929, 53, 2.192.
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Paulo, 1980.
6. Catt, K. J., Tregear, G. W., Burger, H. G., Skermer, C., Clinica chim. Acta,
1970, 27, 267 .
7. Parlow, A. F., in Human Pituitary Gonadotrophins: A Workshop Confe-
rence (ed. por A. Albert), p. 301. Springfield, Illinois, 1971.
8. Brown, J. B., MacLeod, S. C., Macnaughton, C. Smith, M. A., Smyth, B.,
F. Endocr., 1968, 42, 5.
9. Barret, S. A.; Brawn, J. B., ibid., 1970, 47, 471.
10. Yussman, M. A.; Taymor, M. L., F. clin. Endocr. Metab., 1970, 30, 396.
11. Burger, H. G.; Catt, K. J.; Brown, J. B., ibid., 1968, 28, 1.508.
12. Wld. Hlth. Org. tech. Rep. Ser., 1967, n. 360. '

213
Apêndice 5
Uso-eficácia e análise
dos níveis de satisfação
com o método da ovulação
Billings:
estudo piloto de dois anos

Hanna Klaus, M.D. 1


Joan Goebel, M.D. 2
Ralph E. Woods, M.D. 3
Mary Castles, Ph.D. 4
George Zimny, Ph.D. 5

Department of Gynecology and Obstetrics and Department of Human Behavior,


School of Medicine, and Department of Research Methodology, School
of Nursing and Allied Health, St. Louis University,
St. Louis, Missouri, 63104

Publica-se estudo de dois anos, de 135 mulheres que usam o Método da Ovula-
ção de Billings como seu método de planejamento familiar. Consta de 1.381 ci-
clos durante o primeiro ano e de 580 durante o segundo. Os índices totais de
concepção foram de 1,303 no primeiro ano e 1,896 no segundo ano. Se se sub-
traírem destes índices as falhas das usuárias, as incidências por falhas biológicas
são de 0,072 para o primeiro ano e de 0,517 para o segundo ano. A taxa de
continuação é de 51,8%. Uma análise dos níveis de satisfação é apresentada
com discussão dos possíveis fatores emocionais subjacentes.

* Recebido em 30-1-1976; revisado em 22-4-1977 e em 6-6-1977; aceito em 7-6-1977.


* Projeto realizado a expensas dos autores, sem qualquer financiamento da St. Louis
University. Parte deste estudo foi apresentado ao VIII Congresso Mundial de Obstetrícia
e Ginecologia, a 19-10-1976, na Cidade do México. Com revisão de H. Klaus e outros.
em Fertility and Sterility, 28, 10 (1927), 1038-1943. Reproduzido com permissão
1 Department of Gynecology and Obsbtetrics, School of Medicine. Endereço atual e
endereço para pedidos de reimpressão: Hanna Klaus, M.D., Diretora do Department of
Obstetrics and Gynecology, St. Francis Hospital, 929 North St. Francis, Wichita, Kan.
67214.
2 Clinicai Faculty. Atualmente afastado.
3 Departament of Gynecology and Obstetrics, School of Medicine.
4 Department of Research Methodology, School of Nursing and Allied Health. Ende-
reço atual: Wayne State University, Detroit, Mich.
s Departmente of Human Behavior, School of Medicine.

214
INTRODUÇÃO

Esta é a publicação de um projeto-piloto baseado em 135 mu-


lheres que usaram o Método da Ovulação * 1 de Billings durante o
período de estudo, de 19 de setembro de 1973 a 31 de agosto de 1975.
Parte deste estudo foi publicada como projeto-piloto do primeiro
ano 2 •
O Método da Ovulação de Billings é a mais recente descoberta
na área do planejamento natural da família. É um método profético
que se baseia no desenvolvimento de uma modificação no sintoma
mucoso.
Provou-se que o aparecimento do muco se relaciona com a su-
bida do nível de estrógeno gerado pelo desenvolvimento do folículo.
O muco alcança um pico de umidade que foi provado relacionar-se
com o pico do hormônio luteinizante. A ovulação acredita-se ocorrer
de 9 horas antes a 48 horas depois do "sintoma pico". Logo, todos
os dias de muco que precedem o "sintoma pico" mais as 72 horas
seguintes presume-se sejam os dias férteis da mulher 1• 3 •
Na ocasião em que este estudo começou, os estudos do uso-efi-
cácia eram esparsos, por isso a validade da hipótese parecia impor-
tante. Esta publicação maior abrange as mulheres do grupo do pri-
meiro ano e acrescenta as mulheres que tinham começado a usar o
método antes que o primeiro ano de estudo terminasse (31 de agosto,
1974) , mas cujos registros não estavam prontos para inclusão. Com
o objetivo de adaptar o método de tabelas vitais de uso-eficácia 4 , a
amostra de 2 anos inteiros foi reestudada estatisticamente e distri-
buída em meses ordinais; por isso os números do projeto-piloto do
primeiro ano não correspondem necessariamente ao estudo presente.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os grupos de voluntárias auto-selecionadas foram instruídas na


interpretação de seus sinais mucosos de acordo com os critérios de
Billings e outros 1 e no registro destes sinais em gráficos preparados.
Também registraram atos de relações sexuais e indicaram os dias em
que ocorreram. Todas as participantes foram avaliadas no retorno pelo
menos uma vez, e tinham produzido um registro que pôde ser inter-
pretado pelos autores. Definiu-se como participantes aquelas que se
comprometeram a usar o método para o controle da fertilidade e for-
necer informações para o estudo.
* 1, 2 etc., remetem às Referências Bibliográficas do final deste Apêndice.

215
De 630 pessoas instruídas 135 concordaram em se tomar parti
cipantes. A idade e o histórico de reprodutividade e contraceptivos
foram registrados, bem como os ciclos menstruais e mucos, relações
sexuais e qualquer observação oferecida pela pessoa.
Para demonstrar que o espectro das pessoas oferecia variação ra-
zoavelmente grande de fertilidade potencial, como se definiu na Ta-
bela lA, o status fecundável foi registrado para cada mulher' no mo-
mento de entrar para o estudo (Tabela 2A). A classificação pelo sta-
tus como se definiu na Tabela lB foi registrada para cada pessoa no
fim (Tabela 2B).
Esta aproximação segue a metodologia de registro conforme su-
e
geriu Tietze e Lewit 4 , foi adotada porque éramos incapazes de for-
necer estudo combinado e grupos de controle. As tabelas 2 e 3 mos-
tram as características sociais do grupo. A Tabela 4 relaciona os mé-
todos concorrentes e prévios de contracepção.

TA BELA 1. Definição de status fecundável e terminal


A: STATUS FECUNDÁVEL B: STATUS DE TERMINAÇÃO
(COMEÇO) (ENCERRAMENTO)
Fecundável, não exposto O Usando o método (protegida 'pelo método)
Fecundável, 1? intervalo 1 Perdeu o retorno (se não respondeu à
(exposição à 1! concepção) carta ou à chamada telefônica)
Fecundável, 2? intervalo 2 Descontinuidade - incapaz de identificar
(livre para 2~ concepção) o ciclo do muco
Fecundável, 3? intervalo 3 Descontinuidade - incapaz de usar , o
método (pessoal)
(intervalos) 4 Descontinuidade - inábil no uso do mé-
todo (médico)
Fecundável, pós-parto (3 meses se 5 Descontinuidade - já não precisa de pro-
não aleitando - 6 meses se teção
aleitando) 6 Descontinuidade - continuou exposta à
concepção
Fecundável, pós-aborto (6 7 Descontinuidade - troca de método
semanas após o fato)
Amamentando> 6 meses 8 Descontinuidade - não quer proteção
(planeja engravidar)
9 Descontinuidade - gravidez acidental, fa.
lha biológica
10 Descontinuidade - engravida, mas pre-
tende continuar o método após a gra-
videz
11 Descontinuidade - gravidez acidental, fa.
lha pessoal

216
TABELA 2. Status fecundável e terminal de participantes*
por grupo de idade
A: STATUS FECUNDAVEL (COMEÇOS)

IDADE N~ % 2 3 4 5 6 7 8 9
18 o 0.000 o o o o o o o. o o
18-24 23 17.037 19 1 o 1 1 1 o o o
25-29 35 25.925 9 4 11 5 2 1 2 o 1
30-34 40 .29.629 1 3 4 7 8 10 6 1 o
35-39 22 16.296 o 1 4 6 3 8 o o o
40-44 14 10.370 o o 2 1 1 10 o o o
>45 1 0.740 o o o o o 1 o o o
Total 135 29 9 21 20 15 31 8

B: STATUS TERMINAL (FINS)


00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11

o o o o o o o o o o o o
11 5 o 1 o 1 o o 3 o -1 o
5 6 1 4 o 1 o 2 11 1 4 o
25 3 o 5 o o 1 3 1 1 1 o
16 o o 1 o o o 1 3 o 1 o
12 o o 1 o o o o o o 1 o
1 o o o o o o o o o o o
70 14 12 o 2 7 18 2 8 o
* No início do estudo todas as participantes estavam no status terminal 00, tanto que
aqueles totais correspondem à idade crítica regular.

TABELA 3. Características residenciais e educacionais


dos participantes
EDUCAÇÃO
RESID~N- PRIMÁ· SECUNDA- SECUNDA· PROFIS- SEM
CIA RIA RIA RIA* SIONAL RESPOSTA TOTAL
Rural o 1 3 o o 4
Urbana o 37 59 26 3 125
Sem resposta o o o o 6 6
Total 38 62 26 9 135

Quando os registros foram revistos no retorno, por ocasião da


conclusão do segundo ano de estudo, perguntou-se a todas as partici-
pantes, pessoalmente, por telefone ou por carta, se estavam ainda
usando o método, se o estavam usando para evitar ou para conseguir
gravidez e se se sentiam satisfeitas com o uso do método. Suas respos-
tas foram registradas, palavra por palavra, e se atribuiu um valor de
1 (baixo) a 5 (alto) ao nível de satisfação. Também se perguntou se
ainda registravam em gráficos preparados ou, caso contrário, como
é que registravam.
217
TABELA 4. Métodos concorrentes e anteriores de contracepção
MeTODO CONCORREN~E MeTODO PRev10
N~ DE N~ DE
CONTRACEPTIVO MULHERES CONTRACEPTIVO MULHERES
Condom 10 Condom 15
Retirada (c. interruptus?) 1 Retirada 10
Temperatura - ritmo 16 Temperatura - ritmo 53
Calendário - ritmo 1 Calendário - ritmo 48
Hormôniosª 3 Hormônios 57
Gelatina ou espuma 2 Hormonios anteriormente
por > 6 meses b 40
Gelatina ou espuma 12
Diafragma 5
Dispositivo intra-uterino 7
Nenhum 20
Total

a) Concede-se estrógeno ou progesterona para regulação do ciclo menstrual.


b) Como o ciclo às vezes requer 6 meses para voltar ao normal após a interrupção do
hormônio contraceptivo, é feita ~ distinção. ·
c) Tantas informações quantos métodos prévios.

RESULTADOS

A entrada de pessoas, a saída, e os status de fecundável e ter-


minal foram analisados pelo método de tabelas vitais 4 • Os resultados
constam na Tabela 5. Dezoito casais tinham usado o método para
tentar conseguir uma gravidez. No encerramento do estudo, quatro
casais tinham tido sucesso.

TABELA 5. Gravidezes não planejadas resultantes de falha


pessoal (T-11) e biológica (T-9)
N~ DE
GRAVIDEZES TAXA DE CONCEPÇÃO
DURAÇÃO DE
N~
DO USO EXPOSIÇÕES T·l1 T·9 T-11 T-9
meses
6 760 7 o 0.921 1.231 0.000 0.072
12 621 10 1 1.610 0.161
18 413 6 1 1.453 0,242
24 156 2 2 1.282 1.379 1.292 0.517
21 11 o o 0.000 0.000

A Tabela 6 é um histograma que compara graficamente as fa-


lhas pessoais (grupo 2, T-11) e biológicas (Grupo 1, T-9). O grupo
2 compreendeu 25 pessoas enquanto o grupo 1 enumerou 4. Uma
218
comparação do grupo 1 (falha biológica) com o grupo 2 (falha pessoal)
pelo método "log-rank" de Azen e outros 5 , deu os seguintes resul-
tados (N = 29 pessoas):
Nc DE GESTAÇÕES GESTAÇÕES
GRUPO PACIENTES OBSERVADAS (0) ESPERADAS (E) O/E
1 4 1 2.99 0.33
2 25 18 16.01 1.12
Sobretudo xi = 1.78 sobre 1 DF:P = 0.1816

O X2 vale 1,78 e o valor de P que é de 0,1816 indicam que a


estatística tende a ser não significativa.
A análise dos níveis de satisfação revelou os valores 3 ,8 para o
grupo 2 e 2 ,2 para o grupo 1. O nível de satisfação comparável para
55 T-0 pessoas (usando o método para evitar gestação) = 4;4, en-
quanto o nível para as 18 mulheres que estavam planejando gestação
(T-8) = 4,6. As restantes 19 mulheres em categorias de interrupção
foram classificadas como segue: T-3 (razões pessoais) = 12, nível
de satisfação 2 ,3; as outras sete foram distribuídas nas categorias de
interrupção remanescentes (vide Tabela 1B). Certo número de mulhe-
res tinha interrompido o Uso do gráfico preparado e estava registran-
do no seu calendário de cozinha.
Do nosso grupo de estudo de 135 mulheres, 69 sujeitaram-se
aos gráficos, 44 usaram calendários, e 22 confiavam em sua memó-
ria. Embora o registro fosse subjetivo, o estudo indica exame pélvico
preventivo, que poderia oferecer uma corroboração objetiva. O regis-
tro das relações é necessariamente subjetivo e depende da cooperação
das pessoas.
Na Tabela 7 é apresentada uma comparação dos resultados com
os de outros métodos de planejamento familiar.

DISCUSSÃO

Os números deste projeto-piloto não são ainda significativos por-


que o N é incompleto.
O presente Método de Ovulação de Billings indica o começo do
tempo fértil de uma mulher como a ocasião do primeiro aparecimento
de qualquer muco vaginal; o período fértil continua por mais de 72
horas depois do "sintoma pico". O método, enquanto não for apri-
morado, não é completamente natural.

219
TA BELA 6. Comparação histográfica dos grupos 1 e 2 *

Probabilidade Probabilidade da ocorrência de gravidez não planejada

1.000- ••••••••• J 11111111111111111111111111111111111111fJ111111111111111111


2
222222222
2
2
2222 222 2222222222 2222222222
2
2
2
2
0.800- 2
2
222222222 llllllllllllllllllllllllllllllllll
2
2
2
2
2
2
2
0.600- 1 222222222
1 2
1 222222222222222222
2
2
2
2
222222222
2
2
0.400- 222222222222222222
2
2

0.200-

o.o - 1 - -- -- -- --- ------ - - -- --- -- ---- ---- ·----- - - -- - --- - -- - -- -- - --- --- -- - - -- - - - - ---- --- -- ----- ----- -- -- --
!

* Grupo 1, gravidez acidental - falha biológica; grupo 2, gravidez acidental - falha


pessoal.

220
TA BELA 7. Comparação do Uso-eficácia e taxa de continuação no Método de Tabelas Vitais
e Fórmula de Pearl
USO·EFICACIA
M~TODO DE TABELAS VITAIS FôRMULA DE PEARL a
GESTAÇÕES GESTAÇÕES 1NDICES DE
REFER.eNCIA ANTICONCEPCIONAL DURAÇÃO DO USO 100 MULHERES-ANO 100 MULHERES-ANO CONTINUAÇÃO
meses o/o
Tietze e Lewit 6 Oral 6 3.9 75.50
12 8.03 60.73
18 13.9 49.70
Tietze e Lewit 6 Dispositivo intra-uterino 6 2.36 87.65
12 4.63 78 .4
18 6.85 69.63
Ricet et ai. 1 Registro da temperatura 8.14
basal do corpo
Riitzer s Método sintotérmico 0.68
Lane et ai. 9 Diafragma e geléia 12 1.9-2.2 83.9-82.8
Dunn 10 Todos os métodos natu-
rais de planejamento da
família
Falhas biológicas 2.7 23.6 b
Falhas pessoais 2.0 52.2 e
Total 4.7
Série presente Método da Ovulação
(tabela 5) Falha biológica 12 0.86 . 51.8 b
24 6.32
Falha pessoal 12 14.77 13 .0 e
24 16.87
Total 12 15.64
Gupta et ai. 11 Dispositivos intra-uterinos 24 22.75
12 0.3 66.8
24 1.2 41.2
36 1.7 20.3

1\)
a) Quando os autores publicaram dados, como gravidez/100 mulheres-ano, esses dados foram seguidos.
1\) b) Evitar gravidez.
c) Planejar gravidez.
Ninguém começa a investigar a infertilidade enquanto o casal
não tiver um ano de coito desguarnecido. Portanto, os dados come-
çam a ter significação estatística somente nos fins do primeiro ano e
se tornam de todo significativos no fim do segundo ano 12 • As formas
de tabelas vitais de análise de dados são, portanto, mais elucidativas
do que a velha fórmula de Pearl, que, muitas vezes; se baseia em ex-
trapolações e não inclui necessariamente os acontecimentos que ocor-
reram durante o período da vida reprodutiva. A aproximação corrente
do projeto-piloto oferece um método de comparação de dados obtidos
de metodologias diversas de abstinência periódica.
O número de mulheres cujos status terminais eram aproveitáveis
(N = 135) tornou este estudo-piloto digno de nota. Dez mulheres
no primeiro ano de estudo não voltaram enquanto várias que conti-
miaram no segundo ano do calendário não completaram o ano por vá-
rias razões, conforme se referiu na lista de interrupções. As usuá-
rias "sobreviventes", com uma exceção, queriam justificar suas razões
para a continuação ou interrupção. A única exceção recusou-se a falar
ao telefone em duas tentativas de entrevista .
. Algumas de nossas usuárias, enquanto no status terminal dado
no momento da soma, foram deslocadas para status intermediário
(por exemplo, status terminal 6). Houve duas mulheres neste grupo
que decidiram não planejar gravidez, mas que continuaram se expon-
do à concepção. Ambas engravidaram. No final de um ano de estudo;
elas decidiram que iriam começar a usar o método para evitar outra
gestação. Uma destas mulheres disse: "Agora, eu sei que as re-
gras significam o que elas dizem".
Os níveis de satisfação das mulheres que estavam usando o mé-
todo e eram protegidas por ele (T-0), das que planejavam gestação
(T-8) e das que estavam conseguindo era compreensível, mas o nível
de satisfação relativamente elevado de mulheres que usavam os dias
férteis enquanto não planejavam gestação (T-11) é significativo. Su-
põe-se que, porque sabiam que estavam usando momentos férteis, de-
cidiram fazer o melhor possível. Outra suposição é que o uso de dias
férteis, a despeito da intenção inicial de evitar gestação, poderia re-
presentar uma motivação inconsciente para gestação mais forte do que
uma motivação consciente para evitar a gestação. O contraste na sa-
tisfação entre "falhas das usuárias" (T-11) e "falhas biológicas" (T-9)
destaca a diferença na motivação.
Outra investigação da fisiologia do eixo hormonal hipófise-ová-
rio em relação ao muco cervical sem dúvida leva a maior refinamento
do método, porém a chave real parece estar nas escolhas que as pes-
soas fazem considerando sua fertilidade como elas a entendem. A re-
produção é uma função natural da atividade de relações sexuais. Para

222
os que entendem a probabilidade da concepção, o método funciona -
embora o número de observações seja limitado. A compara-
ção dos níveis de satisfação discutidos antes nesta publicação corro-
bora a afirmação acima. Conforme acontece com todos os métodos
de controle da fertilidade, à medida que os casais são acompanhados,
surge uma variedade de resultados . Nossa série reflete isso. A termi-
nologia reflete uma tendência contraceptiva muito forte e não serve
bem para o propósito deste estudo, porque o estudo foi dirigido para
conhecer a fertilidade e a escolha conseqüente de tal conhecimep.to.
Estudos mais profundos das motivações seriam muito úteis no apoio
das escolhas.
Deseja-se que o método log-rank de análise estatística estabeleça
a significação do Método da Ovulação de Billings à medida que a
amostra cresce. Os estudos em andamento, tais como os começados
pela Division of Population Research of the National Institutes of
Health 13 e o Task Force on Human Reproduction of the World Health
Organization, corroborarão ou contradirão este estudo-piloto.

AGRADECIMENTOS
1
Agradecimentos especiais são devidos a Kathy Platt e Martin
1 Sharp, e à Data Control Center do St. Francis Hospital, Wichita, Kan.
\
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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4. Tietze, C. e Lewit, S., "Statistical Evaluation of Contraceptive Methods",
Clin. Obstet. Gynecol., 17, 121 , 1974.
5. Azen, S. P., Roy, S.; Pike, M. C. e Casagrande, J., "Some suggested Impro-
vements to Current Statistical Methods of Analyzing Contraceptive Efficacy",
/. Chronic. Dis., 29, 649, 1976.
6. Tietze, C. e Lewit, S., "Use-effectiveness of Oral and Intrauterine Contra-
ception", Fertil. Steril., 22, 508, 1971.
7. Rice, F. J.; Lanctot, C. A. e Garcília-Devasa, C., editado in "Periodic Absti-
nence'', Population Rep., Ser. 1, junho de 1974, p. 12.
8. Rõtzer, J., "Erweiterte Basaltemperaturmessung und Empfangnisregelung",
Arch. Gynaekol., 206, 195, 1968.
9. Lane, M. E.; Arceo, R. e Sobrero, A. J., "Successful Use of the Diaphragm

223
10.
.1 Jelly by a Young Population' Report oi a Clinicai Study", Family
Plann. Perspect., 8, 81, 1976.
Dunn, H. P., "Natural Family Planning", New Zeland Medical journal, 82,
407, 1975.
11. Gupta. H. D.; Devi, P. K. e Gupta, 1., "A Three Year Study of the Copper
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12. Barret, J. C. e Marshall, J., "Risk of Conceptions", Population Stud., 23,
455, 1969.
13. Corfman, P. A., "Validation of the Effectiveness of Natural Family Planning".
Apresentado ao VIII Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia, Cida-
de do México, de 17-22 de outubro de 1976.

224
Apêndice 6
O método da ovulação
.e a menopausa*

Dr? Evely Billings

A mertopausa, por definição estrita, é a cessação fisiológica dos


períodos menstruais, ocorrendo por volta da idade dos cinqüenta
anos. E mais adequado discutir o climatério ou "idade crítica", que
significa o declínio gradual na capacidade reprodutiva estendendo-
-se durante vários anos, dos quais a menopausa é um sinal.
A fertilidade diminui progressivamente durante vários anos, até
que no grupo etário de quarenta e cinco e cinqüenta anos haja evidên-
cia de apenas 1,3 mulheres por mil capazes de engravidar; após a ida-
de dos cinqüenta cerca de 1 em 25 mil. Além da quantidade de es-
permatozóide do marido, a fertilidade depende da ocorrência de ovu-
lação e da presença do muco que ajuda na concepção. Os períodos
menstruais podem continuar durante meses ou anos depois de a
mulher ter perdido a capacidade de conceber, e sua infertilidade pode
ser o resultado tanto da cessação da ovulação como de uma incapa-
cidade de segregar muco satisfatório. Temos visto o reaparecimento
de um padrão mucoso fértil típico com menstruação durante vários
ciclos depois de amenorréia de um ano ou mais, neste grupo pré-
-menopausa!.
A orientação consiste, antes de tudo, em ensinar a mulher a
conhecer seu próprio padrão de fertilidade, por cuidadosa instrução
sobre o muco, e inspirar confiança para seguir as simples regras que
a habilitarão e a seu marido para evitar gravidez, se for isto o que
eles querem. Muitas das mulheres mencionadas neste estudo jamais
tinham tido informações a respeito do Método da Ovulação antes
* Billings, E. L., "The Regulation of Births by the Ovulation Method at the Climacte-
ric", trabalho apresentado no Annual Meeting of the Nat. Fam. Planning Council, Victoria,
junho 1976. Reproduzido com permissão.
225
8 - O controle da natalidade
deste trabalho; é útil se as mulheres chegarem a entendê-lo quando
da ocorrência de ciclos férteis mais ou menos regulares que tornam
tão fácil a aprendizagem.
Estudamos um grupo consecutivo de 98 mulheres, em média
três a quatro anos, das quais quarenta de 38 a quarenta e cinco
anos de idade, as demais tendo rri.ais do que quarenta e cinco anos
de idade. A maioria delas estavam ansiosas ou muito ansiosas a res-
peito da possibilidade de gravidez ainda. A ansiedade era algumas
vezes um reflexo da ignorância a respeito da menopausa, em outras
o aparecimento de marcante irregularidade nos ciclos menstruais
tornou-as convictas de que não mais poderiam seguir o Método do
Ritmo, do qual dependiam previamente.
Dezessete tinham tido uma gestação recente depois de anos de
uso com sucesso do Método do Ritmo ou uma combinação dos Mé-
todos do Ritmo e da Temperatura. A abstinência prolongada depois
foi aceita, mas provocou gradualmente considerável desarmonia con-
jugal com depressão como resultado. O marido, que agora se sentia
rejeitado, tinha começado a procurar relações e a se comportar irra-
zoavelmente de vários modos, ao mesmo tempo que houve agrava-
mento do distúrbio emocional por problemas com seus filhos ado-
lescentes. Admitiu-se que a maioria dos distúrbios psicológicos vie-
ram a se juntar com a menopausa; são de origem psíquica e que não
mais do que 10% tinham alguma base nos distúrbios hormonais.
Houve um aspecto em todas estas mulheres que foi uniforme -
que todas estavam certas de encontrar uma solução de seus proble-
mas e rejeitavam todos os métodos de contracepção artificial que se
lhes ofereceram; mostraram tocante confiança em nossa capacidade
de ajudá-las, que provocou grande ímpeto para o estudo.
Com dosagens diárias dos níveis urinários de estrógeno e pro-
gesterona investigamos as relações de vários tipos de muco obser-
vados como padrão hormonal. Os resultados mostraram muito cla-
ramente que a ocorrência de ovulação não é em si suficiente para
indicar fertilidade. Dos vários ciclos observados houve muitos em
que os níveis hormonais (e a temperatura basal do corpo registrada)
mostraram um padrão ovulatório típico e todavia faltava ao muco
cervical as características de fertilidade; em alguns destes casos ocor-
reram relações durante ou pouco antes do momento da ovulação
sem resultar concepção.
As descrições do muco variaram, embora expressões tais como
"diferente", "seco", "grosso", "insignificante", "nada" fossem co-
mumente usadas. Em várias ocasiões a mulher notava a volta do
muco claro, lubrificante com filamento depois de muitos meses de
"muco insignificante" irregular e menstruações erráticas; era então
226
capaz de predizer acuradamente a prox1ma menstruação. Oito das
mulheres do grupo de mais de quarenta e cinco anos tinham níveis
estrogênicos entre 100 a 214 microgramas em 24 horas e notavam
todavia um muco "insignificante"; certamente o desenvolvimento de
um muco satisfatório não poderia ser relacionado de modo linear
com o nível total de estrógeno.

A HISTÓRIA

Na primeira entrevista era feita uma estimativa do provável


estado de fertilidade com base na idade da mulher, do número de
filhos e abortamentos, a idade do filho mais novo, o método de evi-
tar gestações usado desde a última gestação e se tinha tomado a pí-
lula contraceptiva, pois a tendência desta medicação de produzir es-
terilidade prolongada é especialmente evidente nesta idade. O mo-
mento do começo de irregularidade das menstruações e variação do
ciclo eram também registrados com detalhes em relação ao fluxo
menstrual, tal como alteração da duração ou do volume, a presença
de coágulos etc. É comum os períodos menstruais tornarem-se curtos
e escassos, ou podem se prolongar em manchas. Em um ou outro
caso pode haver considerável aumento no sangramento, mesmo jar-
ros. Pode haver sangramento entre os períodos e sangramento nas
proximidades da ovulação, mesmo que tais sangramentos elas nunca
tenham observado antes em si mesmas.
A tensão mamária que normalmente ocorre durante a fase pós-
-ovulatória do ciclo, pode não desaparecer completamente; em al-
guns casos a ausência de um padrão fértil sugere que isto é um in-
dício de ciclo não-ovulatório. Em outros casos, a tensão mamária e
a sensibilidade podem ser extremamente severas, começando antes
da ovulação e continuando por algumas semanas, mesmo além do
tempo do próximo período.
A" onda de calor" com a qual não se pretende apenas indicar
uma intolerância a uma atmosfera quente mal arejada, mas uma sú-
bita sensação de calor nos membros superiores, cabeça e pescoço
durante alguns segundos com rápida propagação, é uma indicação
de infertilidade e é acompanhada de baixo nível estrogênico. As
ondas de calor podem ocorrer 20 a 30 vezes por dia, podem des-
pertar a mulher à noite e podem desaparecer, durante semanas ou
meses, apenas para voltar depois. Costuma-se pensar que as ondas
de calor sejam uma segura indicação do fim do período reprodutivo
da vida, mas há uma lição para ser aprendida da única mulher desta
série que engravidou; ela observou ondas de calor durante alguns
meses com a indicação do padrão do muco da infertilidade em seus

227
ciclos, porém subseqüentemente desenvolveu um padrão mucoso fér-
til típico, ignorou as regras de evitar gravidez e engravidou. Ela sa-
bia que, muito provavelmente, ficaria grávida como resultado destas
reíações e corretamente predisse que não teria o período menstrual
que seguiria essa ovulação.
Outros aspectos clínicos incluíram ganho de peso, particular-
mente a perda da cintura, "a volta à forma neutra", como alguns es-
creveram, sem atrativos. São comuns as mudanças no temperamento,
com irritabilidade e depressão injustificadas, às vezes depressão se-
vera, particularmente ligada a longos períodos estafantes. Pode se
notar a associação entre "dias secos", as ondas de calor e níveis es-
trogênicos muito baixos, indicando certa infertilidade naquele tempo.

A ORIENTAÇÃO

É necessária uma superv1sao regular, entrevistando-se a mu-


lher cada semana ou quase, no começo, de tal modo que os deta-
lhes de qualquer muco que seja observado possam ser discutidos;
a instrutora logo percebe se a mulher está ou não reconhecendo
quaisquer indicações de fertilidade no muco, e assim mais e mais
dias vão se tornando aproveitáveis para relações sem medo de ges-
tação; restaura-se a harmonia doméstica e a confiança no Método
continua a se desenvolver.
A assistência médica é importante; sangramento incomum ou
corrimento são uma indicação para consulta. Os padrões hormonais,
muitas vezes, permitem explicar o sangramento irregular, por exem-
plo, como um efeito da retração estrogênica. Não temos usado trata-
mento por estrógeno sintético para as "ondas de calor" por ser me-
dida ineficiente, pois os estrógenos podem por si causar sangramento
e podem produzir uma secreção de muco que vai criar confusão
para a mulher que está começando a aprender o Método da Ovula-
ção (não para a já treinada). Também rejeita-se a prática da pres-
crição de pílula contraceptiva com o fim de restaurar, mais ou menos
o sangramento regular com o objetivo de aliviar a ansiedade. Pode
ser indicado um tratamento simples de anemia, porém, a conduta
recomendada é observação com conhecimento resultante; deste modo
muito da ansiedade e tratamento desnecessário podem ser evitados.
Descrevem-se cuidadosamente os detalhes precisos do sintoma
muco (Billings, 1973, Billings e outros, 1974) e, como de costume,
a mulher e seu marido são convidados a aceitar a abstinência de um
mês de todos os contatos sexuais íntimos. Um registro cuidadoso dos
acontecimentos fisiológicos do dia é feito todas as noites, a mu-
228
lher usando seu próprio vocabulário descreve suas observações. É im-
portante explicar à mulher inexperiente que o padrão fértil normal
dos primeiros anos pode ter desaparecido permanentemente, mas
que isto não evita a aplicação com sucesso do Método da Ovulação.
A supervisão regular e o encorajamento orientados pela ins-
trutora são de valor inestimável para a mulher e para seu marido.
Em nossa instrução inicial somos cuidadosos em informar os mari-
dos do significado da menopausa e dos vários problemas que podem
associar-se a ela. É . útil provocar algum debate entre os homens,
sendo o líder um marido que experimentou com sucesso a . aplicação
do Método da Ovulação durante algum tempo digno de consideração.

RESULTADOS

Nesta série particular de 98 mulheres, acompanhadas em média


durante três a quatro anos, foi impressionante o alto nível de motivação
para evitar gravidez. Como em nossa prática constante, tornou-se
absolutamente claro para as mulheres e seus maridos que era sua prer-
rogativa pessoal deixarem de usar o Método no momento em que qui-
sessem. Nenhuma referência foi feita de que qualquer intenção de
gravidez deveria ser comunicada com antecedência; tal pedido eli-
mina imediatamente muitas pessoas, de tal modo qúe o estudo dei~
xaria de ficar completo. Apenas uma mulher foi perdida desta série
e, no seu caso, isto ocorreu porque foi impossível controlar, por tra-
tamento médico, um sangramento irregular excessivo e foi por isso
tratada por histerectomia.
Como se descreveu antes, definimos falha biológica ou do Mé-
todo uma gravidez que ocorre quando, tanto quanto se sabia,
o casal entendeu as instruções e depois as seguiu fielmente. Uma
falha da usuária é definida como um erro por parte do casal, que
a instrutora pode averiguar e explicar para a própria satisfação do
mesmo (Weissmann e outros, 1972). Não houve falhas do método e
não houve falhas das usuárias. Apenas uma mulher engravidou, e
esta gravidez implicou atribuir-se ao teste a indicação observada e
reconhecida, fornecida pelo sintoma do muco cervical, de que o dia
usado para as relações era um dia de fertilidade provável.
Este estudo da menopausa ilustra a superioridade do Método
da Ovulação sobre o Método do Ritmo, Método da Temperatura e
os Métodos combinados de Temperatura e de Ritmo. Há uma afir-
mação de Tietze (1970), referente à eficácia do Método da Tempe-
ratura, em que ele, infelizmente, usa o título Temperatura-ritmo,
quando realmente quer dizer Método da Temperatura apenas e não

229

t
Temperatura-ritmo combinados. Ele diz: "Temperatura-ritmo, isto
é, a determinação da ovulação pela temperatura basal do corpo e a
restrição do coito à fase pós-ovulatória do ciclo, também cai no mé-
todo do grupo contraceptivo mais altamente eficiente". Depois afir-
ma: "sua prática requer que todas as curvas de temperatura sejam
corretamente registradas e interpretadas e que o coito seja inteira-
mente evitado, não apenas antes da ovulação, mas também na fase
pós-ovulatória, se a curva for equívoca". Não é de admirar, portanto,
que a maioria das publicações estatísticas do Método da Temperatura
se refira quase exclusivamente a mulheres com ciclos mais ou me-
nos regulares e férteis, evitando aquelas de ciclos muito longos e
altamente irregulares, mulheres que estão amamentando, mulheres
que estão se aproximando da menopausa e nem sempre deixam claro
que foram evitados todos os contatos sexuais naqueles ciclos em que
um padrão de temperatura bifásico definido não foi obtido. Tudo
isso, certamente era a posição em maio de 1970, mas agora, em agosto
de 1973, existe uma situação diferente; o Método da Ovulação for-
nece informação de aproximação da fertilidade e aquelas situações,
em que o termômetro é de pouca ou nenhuma utilidade, já encon-
traram solução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

* Billings, Evely, O Método Billings, Edições Paulinas, São Paulo, 1983.

230
Apêndice 7
Uma experiência com o método
da ovulação de planejamento
familiar em Tonga"

Irmã M. Cosmas Weissmann


Missionária Católica (Marista), Tonga
Irmã Leopino Foliaki
Hospital Geral, Tonga
Evelyn L. Billings
John /. Billings
Clínica de Planejamento Familiar, St. Vincent's Hospital
Melbourne, Austrália

SUMARIO

No Método da Ovulação, a mulher define os dias férteis e os


dias inférteis de seu ciclo menstrual pela interpretação do padrão do
muco cervical. Os estudos clínicos mostram que em todas as mulhe-
res a ocorrência da fertilidade é acompanhada de uma secreção de
muco característico, que permite à mulher reconhecer os dias em que
a concepção é provável. Esta informação fornece um método "Natu-
ral" de planejamento familiar e um experimento de seu valor poten-
cial foi promovido numa comunidade de uma ilha do Pacífico. O mé-
todo provou ser aceitável e de sucesso. Ao todo 282 mulheres usa-
ram o Método da Ovulação num total de 2.503 meses, com um
caso de falha do Método e dois de falha da usuária.
* Trabalho apresentado na International Conference on the Ovulation Method, Mel-
bourne, Austrália, 1978. ,Reproduzido com permissão.

231

,,
INTRODUÇAO

O Método da Ovulação * 1 foi desenvolvido para superar a fra-


queza do Método do Ritmo e. do Método da Temperatura. O Método
da Ovulação é baseado na conhecida associação, nos animais e nos
seres humanos, de um tipo característico_ de muco cervical e, geral-
mente, numa descarga real de muco, na época da ovulação; implica
a instrução de mulheres . na interpretação precisa de um sintoma com
que elas já estão amplamente familiarizadas. A capacidade das mu-
lheres de reconhecerem este sintoma já foi estabelecida 2 • Verifica-
mos que mesmo mulheres pouco espertas e não alfabetizadas foram
capazes de usar o Método com sucesso, quer para evitar concepção
quer para consegui-la.
Levantaram-se dúvidas sobre o provável sucesso de um método
de planejamento da família que precisasse de abstinência periódica
numa comunidade "primitiva". Em 1970, ofereceu-se uma oportuni-
dade para se experimentar o método em Tonga, quando M. C. W.
visitou Melbourne, depois de muitos anos de experiência como instru-
tora e enfermeira em Tonga, tempo durante o qual aprendera fluen-
temente a língua dos nativos.
Tonga parecia ser ár~a adequada para urna experiência clínica
do Método da Ovulação. O povo é polinésia, gentil, amistoso e dó-
cil. Poucas mulheres sabem a duração dos seus ciclos menstruais.
A prática do coito interrompido é comum; há falta geral de motivação
para limitar o tamanho da família, a despeito da pobreza, e uma ten-
dência conseqüente de resistir à aplicação de métodos que exijam
supervisão continuada e esforço pessoal; tudo o que era necessário
para o sucesso foi feito em sua promoção.
A população total do Reino de Tonga é de cerca de 90 mil
pessoas, distribuídas num total de 150 ilhas que cobrem uma área
de 250 milhas quadradas. A economia é inteiramente dependente dos
produtos agrícolas e o regime alimentar contém grande quantidade
de carbohidratos. Apenas uma pessoa em cinco é empregada ade-
quadamente, porém a maioria do povo tem o bastante para comer.
A educação escolar primária e compulsória e alguns serviços médi~
cos são gratuitos. A 'civilização européia causou algum impacto so-
bre os habitantes, porém a maioria ainda não se - sofisticou, tendo
geralmente dificuldade em ·manter o esforço para o progressb ma-
terial. ·
A instrução para o planejamento familiar envolveu extensas
viagens pelas ilhas de ·c arro, bicicleta e barco. Em muitas áreas eram
possíveis apenas visitas ocasionais com intervalos de meses. Isto exi-
gia morar em várias localidades até ser alcançado um entendimento
* l, 2 remete às Referências Bibliográficas no final deste Apêndice.

232
adequado do método. A aceitação do método foi uma decisão vo-
luntária feita por marido e mulher. Eram livres para aprender o mé-
todo, para usá-lo de início ou depois se quisessem, e lhes era prome-
tida assistência enquanto fosse necessário, para entenderem que eram
livres para abandonar o método e voltar a ele de novo.
A técnica usual foi de reunir as mulheres e seus maridos juntos
num domingo à tarde e esquematizar o método. Foi realçada a neces-
sidade da cooperação mútua do casal para evitar contatos sexuais
quando o muco indicasse fertilidade possível. Provou-se ser de con-
siderável vantagem instruir os homens, não apenas o -casal indivi-
dual, porque o homem ajuda a espalhar a informação para outros
casais em suas vilas. As pessoas de "cultura avançada" afirmaram
que os homens que viviam em comunidades mais primitivas não to-
lerariam restrições sexuais. Nossa experiência mostrou que isso é
falso, quer pela aceitação pelos maridos de um período de continência
quer pelo abandono do hábito do coito interrompido na grande
maioria instruída. Houve grande cooperação masculina, a despeito
da vida folgada da ilha, que não era considerada compatível com a
restrição sexual. A 1.orte motivação das mul~eres que usavam o mé-
todo com sucesso foi parcialmente o resultado de insistência dos ma-
ridos para que elas cooperassem com a instrutora. ·
Na manhã seguinte, as mulheres vinl)am para. instrução mais
detalhada, quando havia livre discussão dos aspectos do sintoma
muco. Dava-se alguma instrução geral sobre anatomia e fisiologia
com uma explicação da ovulação e sua ocorrência aproximadamente
duas semanas antes do período menstrual seguinte. Explicou-se que,
ao contrário do Método do Ritmo, o Método da Ovulação não exi-
gia ciclos menstruais regulares nem a manutenção . de um calendário.
Esquematizaram-se as fases do ciclo menstrual - o período
menstrual, os "dias secos" e os "dias de muco". Descreveu-se com
detalhes a modificação nos característicos físicos do muco próximo
da ovulação, sendo o aparecimento do muco claro ou elástico . ou -
úmido uma indicação segura de fertilidade. Deram-se esclarecimentos
tanto para o aparecimento do muco quanto à sensação lubrificante
produzida por este muco "fértil" - o sintoma ,"pico" que as mu-
lheres acham fácil reconhecer.
Também se explicou que durante os ciclos . longos, durante a
lactação etc., "manchas de muco" (a sucessão de dias em que
pode ser observado o muco) ocorrem intermitentemente antes do
padrão típico de uma ovulação fértil, e que, enquanto a mulher não
estiver devidamente treinada no método, ela deve evitar relações
sexuais toda vez que o muco estiver presente. Ensinou-se a reconhe~
cer o padrão de muco escasso de ciclos inférteis .e insistiu-se na ne-
233
cessidade de distinguir entre a perda de fluido seminal, após as re-
lações, e o sintoma muco - uma habilidade facilmente atingida.
Na América Central foi desenvolvido um método simples de
registrar esta informação pelo uso de selos vermelho, verde e branco,
e isto foi de grande valia prática. Este registro, especialmente duran-
te os primeiros ciclos depois . da instrução, tem a vantagem de trei-
nar as mulheres para entenderem o sintoma e de gratificar a instru-
tora com um registro do progresso da instrução. As mulheres tam-
bém se ajudavam umas às outras pela comparação e discussão de
registros individuais. Em cada localidade as mulheres eram visita-
das pelo menos semanalmente ou mais freqüentemente se necessário,
de tal modo que instrução adicional poderia ser dada e ganhava-se
maior confiança no método.

RESPOSTA INICIAL

Nos primeiros meses, quando o método de ensino estava sendo


desenvolvido, algumas mulheres demonstraram dificuldade para en-
tender o sintoma muco, algumas apresentavam corrimentos vaginais
persistentes, e havia algumas informações de gestações que fo-
ram interpretadas como falhas do método até que as áreas envolvi-
das fossem revistas e determinadas as circunstâncias em que estas
gestações ocorreram. Em alguns casos houve resistências aos es-
forços para persuadir o marido e a mulher a abandonarem o coito
interrompido, que inicialmente era praticado por cerca de 85 % dos
que recebiam instrução. Foi rejeitada uma sugestão para o uso do
termômetro porque a experiência prática demonstrou que o uso em
grande escala do método da temperatura era impossível, por causa
das despesas que isso acarretava e mais especialmente porque o mé-
todo necessita de constante supervisão. Além disso, reconheceu-se
que o método de temperatura é inferior ao Método da Ovulação,
porque define apenas os dias inférteis depois da ovulação e mesmo
nisso é menos preciso do que o Método da Ovulação. Tonga tem seu
problema particular, em que a amamentação prolongada é comum
e a medição da temperatura basal hão pode dar aviso de retomada
da ovulação. O método da temperatura também não dá informação
sobre a infertilidade durante os ciclos não-ovulatórios.
Era necessário convencer marido e mulher de que o coito in-
terrompido, durante a fase fértil do ciclo, não pode ser considerado
seguro para a prevenção de gravidez. Portanto só foram aceitos na
pesquisa os casais que se prontificaram a abandonar aquela prática,
não sé pretendendo atribuir ao Método da Ovulação o suceeso na
234
prevenção de gravidez conseguido por coito interrompido, nem se
admitir como talha do Método de Ovulação a falha por coito in-
terrompido.
Além disso, relações sexuais, inclusive o coito interrompido,
durante a presença de muco cervical, tornam a verificação do sin-
toma mais difícil e, portanto, retarda ou evita a interpretação cor-
reta do sintoma. A grande maioria dos casais logo concordava em
deixar o coito interrompido, com predizível aumento da satisfação
física e emocional derivados do ato sexual.
Corrimentos vaginais · patológicos raramente transformaram-se
em problema. Podem geralmente ser tratados com sucesso, e nunca
impedem que a mulher reconheça o tempo da fertilidade devido à
modificação que se produz no corrimento patológico pela caracterís-
tica do muco. As mulheres com sintoma mucoso prolongado deram-se
instruções adicionais detalhadas para que aumentassem a liberdade
para relações nos dias definidos como "relativamente seguros" quan-
do o muco "infértil" estivesse presente e para que renunciassem ao
contacto sexual nos dias em que fosse observado o muco claro ou
elástico ou úmido; estes problemas individuais diminuíram com o
aumento da experiência por parte da mulher e da instrutora.

O GRUPO ESTUDADO

Referimo-nos a 395 mulheres que foram instruídas depois do


início do projeto, em julho de 1970; os resultados foram computados
em fevereiro de 1972. ·
Houve boa resposta à instrução. 331 casais optaram pelo Mé-
todo da Ovulação. A maioria das mulheres achou que o sintoma
muco era imediatamente reconhecível, e ficaram contentes com a
simplicidade do método. Muitas reagiram favoravelmente porque pre-
feriram um método "natural", algumas por causa da vantagem psi-
cológica de uma solução que é obtida pela cooperação mútua, e al-
gumas por causa da atitude da instrutora, que nunca trazia qualquer
elemento de coerção. A possibilidade de a informação ser empregada
para ajudar aquelas mulheres cujos casamentos tinham sido infér-
teis, criou interesse adicional, e do total havia 18 mulheres que esta-
vam ansiosas por engravidar. 46 casais decidiram usar outro método
para evitar gravidez, inclusive um caso em que a mulher descobriu
que tinha sido esterilizada no momento de uma cesárea anterior.
A preferência declarada por estes casais era a seguinte:

235
MlnODO NúMERO

Coito interrompido 27
DIU 5
Contracepção (não especificada) 9
Condom 2
Medicação contraceptiva 1
Método do ritmo 1
Esterilização (involuntária) 1

Na computação dos resultados, cuidou-se em separar outras in-


fluências que teriam contribuído para o sucesso. O coito interrom-
pido já foi mencionado. O tradicional costume de abstinência depois
do parto caiu em desuso, sendo as relações retomadas depois de cinco
a seis semanas após o parto, inalterado esse prazo ante a decisão de
amamentar ou não.
Foram instruídas muitas mulheres durante ou imediatamente
após o parto; Em todos os casos, o tempo sobre o método não foi
computado pelo menos durante seis semanas depois do parto. Se a
mãe estivesse amamentando o filho, o tempo era calculado desde o
dia em que alimentos sólidos eram introduzidos no regime, portanto
muito depois do parto . .É assunto de pesquisa que numerosas mu-
lheres de Tonga engravidam de novo enquanto amamentam comple-
tamente seus filhos, porém como a amamentação pode reduzir a fer-
tilidade, dez mulheres foram eliminadas do total desta quantidade;
apesar de tudo elas se fixaram no método, e nenhuma engravidou.
14 mulheres foram eliminadas da computação porque pensou-se que
elas estivessem próximas ,da menopausa; tinham quarenta e três anos
ou mais, tinham ciclos menstruais irregulares e escassos sintomas mu-
cosos; também tinham seguido o método evitando intimidade sexual
nos dias em que o muco era observado e nenhuma engravidou. Fo-
ram conservadas na série 17 mulheres de 41 a 45 anos em que não
havia evidência clínica de menopausa próxima; todas as demais mu-
lheres eram mais jovens. Houve 2 mulheres que se descobriu já es-
tarem grávidas quando da entrevista inicial. Uma mulher não vol-
tou. 18 casais decidiram adiar o uso do método até que tivessem
mais filhos. 4 casais foram eliminados por causa de separação, um
marido morreu, 2 tiveram que viajar à procura de emprego, e uma
mulher tinha sido confinada em hospital para doentes mentais; mes-
mo quando esta mulher foi levada para casa, ela, é claro, não estava
bem e ocorreram relações com pouca freqüência (vide Tabela 1).

236
TABELA 1. Total de casos para a análise dos resultados

Casais aprendendo o método para evitar gestação quando o desejarem 331


No momento, ansiosos por mais filhos 18
Não há informação recente 1
Separados 4
Grávida na entrevista inicial 2
Ainda amamentando completamente 10
Menopausa (idade, ciclos irregulares, muco escasso) 14
Total de remanescentes 282

Encorajamos os casais que estavam aprendendo o método a re-


frearem os contatos sexuais durante o primeiro ciclo depois da ins-
trução, de forma que o conhecimento da mulher do sintoma muco
não fosse perturbado pelos efeitos de relações sexuais. Esta reco-
mendação não foi insistente e não foi seguida por todos os casais.
Entretanto, para evitar alterações estatísticas em favor do sucesso,
pela eliminação de "casos de alto risco", foi contado o tempo desde
o início da instrução e todas foram incluídas. Houve dois casos de
mulheres que estavam incertas quanto à aplicação correta do mé-
todo; em ambos os casos entenderam o erro depois de nova expli-
cação.
Houve 28 casais que, depois de seguir o método cuidadosa-
mente durante vários meses, decidiram abandoná-lo porque estavam
ansiosos para ter mais filhos. A pronta ocorrência de gravidez quan-
do houve relações num dia de "muco fértil", claro, elástico, lubrifi-
cante aumenta a confiança que o casal já tinha desenvolvido na via-
bilidade do método. Todos estes casais resolveram usar o método
ainda depois do parto e alguns estão já fazendo isso.
Houve 50 mulheres que "arriscaram" tendo relações num dia
em que a presença de muco tinha sido reconhecida e que, portanto,
não tiveram dificuldade em saber porque tinham engravidado. To-
das estas mulheres, exceto uma, que acha a observação do sintoma
muco e do período de abstinência um tanto inconveniente, tencio-
nam usar o método ainda no futuro e muitas estão já fazendo isso.
Há uma única mulher que acredita que ela não teve nenhum contato
sexual num dia em que o muco a advertiu de fertilidade possível;
ela também está . usando o método embora aparentemente pareça
uma "falha do método", e com sucesso (vide Tabela 2).

237
TABELA 2. Análise de 81 gestações

Casais usando o método 282


Gravidez subseqüente 81
Abandonaram o método, desejando mais filhos 28
Ignoraram a indicação de possível fertilidade 50
Usaram dia de muco julgando-o infértil 2
Pensa não ter usado dias de possível fertilidade 1
Média da idade (em anos) de mulheres que de forma deliberada ou im-
pensada abandonaram o método 33.2
Média do número de crianças 4.8
Média de idade (em anos) de mulheres ainda aplicando o método com
sucesso 33.7
Média do número de crianças 6.8

RESULTADOS

As gestações que ocorreram, além daquelas por planejamento


ou por negligência consciente das instrutoras, foram colocadas num
dos dois modos:
Uma falha biológica ou do método foi registrada quando, tanto
quanto foi possível apurar, o casal tinha entendido e cumprido as
instruções corretamente.
Uma falha da usuária foi registrada quando havia um erro da
parte do casal que o instrutor poderia descobrir e explicar para sa-
tisfação de todos.
Ao todo nesta série, um total de 282 mulheres usaram o Mé-
todo da Ovulação abrangendo 2 .503 meses. Houve dois casos de
falhas das usuárias e um caso de falha do método.
Das 18 mulheres que estavam ansiosas para conceber, 7 en-
gravidaram a seguir, depois de atenção cuidadosa do sintoma muco
e relações sexuais concentradas naquela época do ciclo quando o
sintoma pico estava em evidência. Investigações anteriores revela-
ram que o dia do sintoma pico quando o muco está mais claro do
que em outros momentos, quando está viscoso e produz sensação
lubrificante definida, é em média 0,9 dias antes da ovulação 2 • Sa-
bendo-se que é necessário para os espermatozóides ficarem no trato
genital feminino por mais algumas horas com o fim de se tornarem
capazes de fertilizar o óvulo, o dia do sistema do pico é considerado
como o dia de máxima fertilidade.
Uma das mulheres classificada como uma falha da usuária ti-
nha um ciclo longo em que o muco era observado numa sucessão
de dias. Ela então concluiu incorretamente que já havia passado sua
ovulação e teve relações no ciclo avançado, num dia em que quan-
tidades copiosas de muco claro lubrificante estavam presentes. Dá-
238
-se agora instrução explícita considerando-se a possibilidade de dias
recorrentes de muco em ciclos longos, com o fim de evitar este
erro, com destaque para evitar-se contato sexual quando um tipo
fértil de muco for observado.
A segunda mulher, classificada como uma falha da usuária,
trouxe alguma confusão a respeito das instruções e incerteza quanto
à definição de dias férteis e inférteis. Esta gravidez se interrompeu
em julho de 1971, após a qual ela reiniciou o emprego do Método
da Ovulação; quando foi vista em março de 1972 tinha completa
confiança e estava usando o método com sucesso.
A mulher que foi classificada como uma "falha do método",
porque estava segura de não ter usado um dia em que qualquer
muco estivesse presente, recebeu sua instrução inicial imediatamente
depois de um parto, antes da ovulação e da menstruação terem re-
começado. A criança que foi concebida depois da instrução nasceu
em setembro de 1971 e desde · então a mulher usa o método da ovu-
lação com sucesso.

DISCUSSÃO

Há em Tonga um governo patrocinador de um programa de


controle da natalidade, que fornece medicação contraceptiva, dispo-
sitivos intrauterinas etc. gratuitamente. No entanto, as pessoas inte-
ressam-se por um método natural, a despeito destas outras providên-
cias. Aproximadamente, 75% das mulheres que vieram para a ins-
trução eram católicas.
A adoção do método é acompanhada por sensações de alívio
e liberdade. Muitas mulheres logo querem passar a informação a
respeito do método para outras mulheres, e, em particular, instruir
suas filhas, de tal modo que elas possam espaçar seus filhos. É es-
sencial que o método seja ensinado por uma mulher que se dedique
ao sucesso de um método natural e que o ensino seja completamente
separado de qualquer outro método de planejamento familiar. Não é
necessário que a instrutora tenha recebido treinamento médico; a
maioria das mulheres aprendem a ser instrutoras competentes de-
pois de registrar e estudar seus próprios ciclos durante alguns meses.
Um ponto básico a ser destacado na instrução é que as mulheres estu-
dem cuidadosamente a sensação produzida pela presença do muco,
e que anotem sua aparência.
Ajuda o entendimento do método quando as mulheres são lem-
bradas de que têm ciclos inférteis de tempos em tempos, em que
pequena quantidade de muco é evidente, e que isto não evita o su-
239
cesso da aplicação do método. Muitas mulheres "inférteis" notam
que o muco ocorre em muito poucos ciclos ou em nenhum; a ins-
trução deve alertar estas mulheres sobre sua maior chance de con-
seguir engravidar, e fornecer a informação a tempo de ser aplicada.
Nos primeiros mese~ deste projeto, certo número de dificulda-
des teve que ser superado e o programa de ensino foi organizado.
Houve várias mulheres que achavam a interpretação do sintoma
muco difícil, no começo, como houve casos em que o marido e a
mulher acharam a abstinência periódica um problema. Como obser-
vamos em outras circunstâncias, a abstinência tornou-se menos pro-
blemática quando se adquiriu confiança no método e se eliminou a
prática do coito interrompido.
Esta -investigação demonstrou que o Método da Ovulação é ca-
paz de aplicação com sucesso em comunidade de uma ilha do Pa-
cífico. A incidência de sucesso extraordinariamente alta foi atribuída
a vários fatores:
( 1) A instrutora era mulher. Era uma instrutora experimen-
tada bem como enfermeira treinada, e a maioria das mulheres ins-
truídas tinham sido ensinadas por ela nas escolas, tanto que ela co-
nhecia algo a respeito de seu caráter, habilidade e disposições.
(2) A instrutora viveu com o povo durante o período de en-
sino, de tal modo que pôde dar informações e atenção individuais.
(3) Os casais estavam longe de pressões da civilização mo-
derna. É possível que tenham melhor percepção das modificações
fisiológicas do corpo do que as pessoas de comunidades mais sofis-
ticadas. As mulheres estavam cientes da presença do muco e eram
capazes de reconhecer o sintoma pico, ao contrário de muitas pes-
soas sem experiência de ensino esclarecedor do Método.
(4) Forte motivação por parte das mulheres provém, em mui-
tos casos, da influência de seus maridos que insistem com elas para
que cooperem com a instrutora.
Pode ser mais difícil alcançar grau semelhante de sucesso em
todas as comunidades, especialmente naquelas onde a permissivi-
dade sexual está em moda. Nossa experiência, em Tonga, demons-
trou que o método funciona. A explicação para os fracassos pode
ser atribuída ao ensino inadequado ou a uma falta de cooperação e
motivação cias pessoas. . · ·
Foi mais gratificante o fato de que os casais que "quebraram
a regra" têm, de certa forma, maior confiança no método e, como
resultado voltaram voluntariamente para o seu subseqüente emprego.
Sua Excelência Dom John J. Rodgers , Bispo de Tonga, assumiu
as despesas deste projeto e somos gr.atos a ele por seu constante en-
corajamento.

240
Apêndice 8
Publicação preliminar
do uso-eficácia do método
da ovulação na Coréia*

Kyu Sang Cho, M. D.


Korea Happy Family Movement Association

Para um estudo retrospectivo da pré-revisão da análise dos da-


dos e uso-eficácia de 1 de abril a 30 de novembro de 197 5, lidamos
Q

com um total de 1.383 mulheres (465 de áreas urbanas, 918 de áreas


rurais).
Os resultados da revisão preliminar foram:
1. Número de mulheres observadas: 1.383
Número de ciclos menstruais: 11.064
Incidência de falhas: 13 ,56 (na base de gestações por 100
mulheres-ano segundo a Fórmula de Pearl).
2. Entre 465 mulheres das áreas urbanas a incidência de falhas
foi de 10,32, o que implicou 32 gestações não planejadas.
27 das 32 mulheres engravidaram devido a falhas das pró-
prias usuárias e as 5 restantes devido a falhas do Método.
Portanto, a falha do Método aconteceu em 1,41.
3. Entre as 918 mulheres das áreas rurais a incidência de falhas
foi 15,19, significando 93 gestações não planejadas.
A causa do fracasso em 81 das 93 mulheres foi atribuída a erros
próprios das usuárias e as 12 restantes a falhas do método.
Portanto, a falha atribuível ao Método foi 1,96.

* Trabalho apresentado na International Confetence on the Ovulation Method, Mel·


bourne, Austrália, 1978. Reproduzido com permissão.

241
9 · O controle da natalidade
Uso-eficácia prolongado do método do muco cervical,
calculado na base de gestações por 100 mulheres-ano
(Fórmula de Pearl)
INCID2NCIA
DE
(GESTAÇÕES/
M2T~O N?DE N? DE 100
MUCO N? DE CICLOS GESTAÇÕES NÃO MlJLHERES-
CERVICAL MULHERES MENSTRUAIS PROGRAMADAS ·ANO)
Autor, 1975 1.383 11.064 125 13.56
Weissmann, Foliaki,
Billings & Billings 282 2.503 3 1.4
Tonga, 1972
Marshall, 1972
(Análise de dados 282 2.503 53 25,4
de Weissmann
em retrospecto)

Uso-eficácia prolongado do método do muco cervical


em diferentes áreas, calculado na base de gestações por
100 mulheres-ano (Fórmula de Pearl) 1975
TAXA TAXA
POR POR
N?DE NY DE FALHA FALHA TAXA
N~ DE GESTAÇÕES GESTAÇÕES DA DO DE
MULHERES PLANEJADAS ACIDENTAIS USUÁRIA M2TODO FALHAS
Urbana 465 29 32 8.71 1.61 10.32
(27) (5)
Rural ·918 81 93 13.24 1.96 15.19
(81) (12)

): N? de gravidezes.

Métodos de contracepção antes do uso do método


da ovulação (áreas urbanas)
M2TODO N~ %

Pílula oral 112 24.08


Condom 81 17.42
DIU 45 9.68
Método do ritmo 56 12.04
Ejaculação extravaginal 23 4.95
Método do ·muco cervical 10 2.15
Subtotal 327 70.32
Não usam 138 29.68
Total - 465 100

242
Os pedidos para reimpressão devem ser dirigidos para J. J. B.,
St. Vincent's Hospital, Victoria, Parade, Melbourne, 3065, Austrália.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Billings, J. J., Novo Método de Ovulação, 1~ ed., Edições Paulinas, São Paulo,
1980.
2. Billings, E. L.: Billings, J. J.; Brown, J. B. e Burger, H. G., The Lancet, 1972,
I, 282.
Apêndice 9
O uso-eficácia
,.,,
do método
,
da ovulaçao na India

M. M. Mascarenhas 1
A. Lobo 2
A . S. Ramesh et ali. 3
RESUMO

Este estudo do Método da Ovulação pelo CREST (Centre for


Research, Education, Service and Training for Family Life Promotion,
21, Museum Road, Bangalore, 560025) avaliou 3.530 usuárias, de
janeiro de 197 5 a dezembro de 1977. Esta avaliação efetuou-se atra-
vés da determinação do total e da média de meses de uso das mu-
lheres, das taxas de continuação cumulativa, das taxas de gravidez de
Pearl, e das taxas de gravidez por tabelas vitais (Life Table).
A Análise de Tabelas Vitais mostrou que este método tem maior
aceitação e maior eficácia, quando comparado com outros métodos
de espaçamento.

INTRODUÇAO

O planejamento natural da família pelo Método Sintotérmico e


pelo Método da Ovulação foi introduzido na índia em 1966, a partir
1 A Dr~ Marie Mignon Mascarenhas, FRIPHH, MBBS, MFCM, DPH (Lond.) é a
Diretora do CREST (Centre for Research, Education, Service and Training for Family Life
Promotion) do Family Welfa re Centre de Bangalore, e Principal Investigadora para a
lndia no Clinicai Multicentre Triai of . WHO.
2 A Dr~ Aloma Lobo, MBBS, é Diretora-Assistente do CREST e Principal Instrutora
do WHO Triai.
3 A. S. Ramesh, M. Se., é Pesquisador-Associado e Avaliador do Community Health
and Family Planning Project da Christian Medical Association of India.
et ali. - Instrutores, médicos, enfermeiras de todos os Centros participantes deste
estudo.

244
daí generalizando-se o seu uso * 1 ~ Este artigo sobre o Método da
Ovulação é um estudo, em colaboração, de vários centros de diversos
estados da lndia 2 •
O Método da Ovulação (MO) de Billings é um método garan-
tido de conhecimento da fertilidade: por ele uma mulher observa,
registra e interpreta suas sensações genitais durante seu ciclo mens-
trual.
O Centro de Pesquisa, Educação, Serviço e Treinamento para a
Promoção da Vida Familiar (CREST) está atualmente também enga-
jado num estudo de pesquisa do Método da Ovulação (WHO Multi-
centre Triai e o Karnataka Study, ambos dirigidos pelo CREST de
Bangalore).
Este artigo é o primeiro estudo do Método da Ovulação empre-
gando regras e metodologia aceitas na índia. Foi o único método usado
pela população em estudo.
A avaliação do programa de 3 .530 usuárias foi conduzida num
período de 36 meses, desde janeiro de 1975 até dezembro de 1977,
tendo dezembro de 1977 como ponto final.

Materiais e métodos
Os centros participantes localizavam-se em vanos estados 2 da
lndia, dando assim um quadro variado de todas as culturas e classes
socioeconômicas. Comumente o método adotado de registrar, colecio-
nar dados e usar uma terminologia requeria um mapa (papel pauta-
do comum) e lápis vermelho e azul, num custo total de 40 diastras
ou 12 centavos de dólar por ano. Cerca de 50% das clientes foram
recrutadas por usuárias satisfeitas. Todos os investigadores foram
treinados pelo CREST.
O CREST tem 18 subcentros em Bangalore e arredores. Quatro
hospitais têm clínicas de PNF, dentre os quais o Hospital St~ Martha
se tornou o Centro principal (para investigações ginecológicas ou ou-
tras), quando necessário.

O método da ovulação
Ê baseado no auto-reconhecimento pelas mulheres de seu perío-
do fértil e infértil, pela sensação subjetiva de umidade em sua área
genital. Foi descrito primeiro por Billings 3 - as criptas do colo ute-
rino segregam muco 4 tipo E (estrógeno) em resposta à estimulação
estrogênica, que também é responsável pela ovulação (liberação do
óvulo do ovário).
* 1, 2 etc., remetem às Referências bibliográficas do final deste Apêndice.
245
Um mecanismo "como gatilho" entra em ação quando o nível
de estrógeno alcança um pico e uma resposta simultânea é preparada 5
pelo ovário e pelas criptas cervicais à medida que este pico se apro-
xima. Assim a ovulação e a secreção de muco fértil ocorrem simul-
taneamente. É provável que a ovulação ocorra cerca de 9 a 48 horas
depois do pico de umidade; assim, todos os dias de muco precedendo
o "sintoma pico", mais as 72 horas seguintes são os dias considera-
dos como férteis do casal 6 • Especificamente a secreção de muco
cervical dá uma sensação típica que indica os dias férteis e adverte
sobre ovulação iminente.
Ela é também treinada para observar o muco na vulva. Visto
que a maioria de nossas mulheres que vestem sari, não usa nem papel
higiênico nem peças íntimas, deu-se precedência à sensação. As mu-
lheres com leucorréia ou cervicites foram tratadas e puderam seguir
o método satisfatoriamente.
A mulher é instruída para registrar diariamente a sensação e/ou
corrimento com um lápis vermelho e azul num gráfico. O instrutor-
-supervisor guarda uma duplicata do mapa. O vermelho indica a
menstruação ou gotejamento. Azul, para os dias secos. Um círculo
com um ponto dentro indica os dias úmidos. O pico por uma cruz
no dia úmido reconhecido como pico.
As analfabetas acharam fácil este registro. O registro é feito à
noite ou no fim da tarde. Esta impressão visual é importante para o
marido que, de relance, sabe o estado de fertilidade de sua mulher.
Usuária é a mulher que está usando o método correntemente
dentro do contexto da explicação para as relações sexuais.
Um casal abstém-se de relações sexuais durante a fase fértil do
ciclo menstrual. Não são recomendáveis contatos ou bolinação geni-
tais durante o período de abstinência, de forma que a felicidade con-
jugal pode aumentar e mesmo estabilizar-se pela atenção à comuni-
cação verbal.

Critérios para admissão ao estudo

Para ser admitida no estudo uma mulher deve ter menos de 44


anos de idade com, um histórico de ciclos menstruais espontâneos
regulares de 23 a 35 dias de intervalo. Se não for pós-parto nem pós-
-amamentação, ela deve ter tido dois ciclos antes da admissão ao es-
tudo. A mulher teria cessado a amamentação e deve ter tido pelo
menos um período menstrual antes da admissão.
Precisa ser informada e precisa querer manter os registros dela
exigidos. Todos os casais devem estar coabitando. Casais voluntários

246
devem concordar em não usar qualquer outro método de controle da
fertilidade durante o período de estudo e devem querer, em princí-
pio, usar esta técnica para a regulação da fertilidade durante um pe-
ríodo de 16 ciclos.

RESULTADOS

Programa de avaliação do material de estudo

A avaliação do programa é levada a efeito através:


I. das mulheres agregadas e da média de meses em uso;
II. das taxas de continuação cumulativa líquida; e
III. da taxa de gravidez de Pearl, das taxas de gravidez de
Tabela Vital.
Para a computação destas taxas foram usados os dados comple-
tos de retorno relativos a 3 .530 participantes durante um período de
36 meses, de janeiro de 1975 a dezembro de 1977, com dezembro de
1977 como ponto terminal.
Destas 3.530 mulheres, 499 (12,7%) interromperam o método
em vários momentos do período. Os meses em que as mulheres par-
ticipantes seguiram o método somaram 39.967, dando uma média de
11,3 meses, que se observou ser bastante alta se comparada com
qualquer outro método de espaçamento, como as pílulas orais e o
DIU (Simha et al. 1972; Sadashivaiah et al. 1973, 1974) 7 •

Taxas de continuação cumulativa líquida

Computadas com base na técnica de Tabela Vital modificada


são apresentadas na Tabela. Após 6 meses, a taxa de continua-
ção era de 88,5%, e, no encerramento, 80% continuavam no pro-
grama. As taxas de continuação cumulativa líquida, publicadas neste
estudo, foram comparativamente mais altas do que as taxas de ou-
tros estudos 8 (Sadashivaiah et al. 1974; Murthy et al. 1967; Simha et
al. 1972; Sadashivaiah et al. 1974; Leela Mehra et al. 1970).
Dos 449 casos descontínuos, 174 (38,8%) foram incapa-
zes de usar o método adequadamente, provocando gestações. Houve
dois casos de "falhas do Método", que resultaram em gravidez. Am-
bas estas falhas do método ocorreram dentro de quatro meses de uso
do método. Assim, houve 176 gestações entre as participantes
durante o período de estudo. A taxa de gravidez de Pearl ven-
247
ficou-se ser 5,3 para todas as gestações. A incidência de gestação por
Tabela Vital verificou-se ser 5,7 no fim de um ano. A taxa de Pearl
e da Tabela Vital foi quase a mesma neste estudo. A avaliação indica
que este método tem maior aceitação e mais uso-eficácia quando com-
parado a outros métodos de espaçamento 9 •

TABELA 1. Taxas de continuação cumulativa líquida para


participantes de método (do muco) de PlanejamentQ
Natural da Família
TAXAS DE CONTINUAÇÃO
ORDEM DOS MESES CUMULATIVA UQUIDA

3 91.3
6 88.5
9 87.5
12 87.1
18 86.3
24 85.5
30 82.3
36 80.2

TABELA 2. Incidência de gestação por Tabela Vital


para as participantes
ORDEM DOS MESES 1NDICES DE GESTAÇÃO
3 2.7
6 4.6
9 5.3
12 5.7
15 6.0
18 6.6

176
1ndice de gestação de Pearl X 1200
39.967
(para todas as gestações) 5.3
1ndice de gestação por tabela vital 5.7 ao fim de 12 meses.

DISCUSSÃO

"A literatura sobre planejamento familiar é abundante em exem-


plos de inadequada orientação para mudar os costumes e tradições
do povo. É mais fácil, mais barato e mais eficaz fornecer aquilo que
o povo quer" 10 •
248
Relatou-se nas páginas precedentes um estudo de 3 .530 partici-
pantes que usaram o Método da Ovulação (Billings) durante um pe-
ríodo de 36 meses .
. A Análise da Tabela Vital mostrou que este método tem maior
acehação e mais uso-eficácia quando comparado com outros métodos
de espaçamento.
O aconselhamento para a harmonia conjugal é parte integrante
do ensino deste método. Latz e Reiner concluíram, em seus estudos,
que os métodos baseados em abstinência periódica são práticos e se-
guros 11 • Isto foi confirmado também por Klaus et al. r:t, mais recen-
temente.
Pode-se concluir que o Método da Ovulação deve encontrar gran- ·
de aceitação na índia.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam seu reconhecimento aos casais e instruto-


res que participaram tão dedicadamente deste estudo.
Também à Dr'!- H. M. Sharma, Diretora Executiva do CMAl
Community Health & Family Planning Project, por suas críticas cons-
trutivas e sugestões.
A nossa secretária Anne Galway por datilografar o manuscrito,
e a Margaret Raj pelo cálculo dos dados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Mascarenhas, M. M., 1975, "N. F. P. in India'', Bangalore Family Welfare


Centre.
2. Andhara Pradesh, Karnataka, Kerala, West Bengal and Tamil Nadu.
3. Billings, J. J., Novo Método para o Controle da Natalidade, 7'!- ed., Edições
Paulinas, São Paulo, 1980.
4. World Health Organization Colloquium 1973, "Cervical Mucus in Human
Reprodution", Genebra, W. H . O.
5. Burger, H. G., 1977, "The Process of Ovulation in Humans'', Cali (Co-
lômbia), Proceedings International Conference.
6. Klaus, H. et al., "Billings Ovulation Method", abril de 1977, Second Y ear
Study Bulletin Indian Federation of Medical Guilds.
7. 1. Mehra, L.; Mohapatra, P. S. e Sharma, B. B. L., "A Report of the Oral
Pill Pilot Project Clinics in ln dia", C. F. P. I. technical paper n. 9, se-
tembro de 1970, New Delhi.
II. Murthy, D . V.R.; Mohapatra, P.A. e Prabhakar, A.K., "An Analysis
of Data on IUCD cases", C. F. P. L., New Delhi, 1968.
III. Sadashivaiah, K. e Subba Rao, M. S., "The Statistical Evaluation of
IUCD in Selected Mission Hospitals - A two Year Follow-up", four-
nal of Rio-social Science London, maio de 1963.

249
IV. Sadashivaiah, K.; Ramesh, A. S. e Simha, J. S., "A Retrospective Study
of Oral Acceptors in Member Mission Hospitals of the Southern Re-
gion'', fournal of CMAI, outubro de 1975. Apresentado também no
Seminar of Family Planning Research Studies held at Institute for Ru-
ral Health and Family Planning, Gandhigram, janeiro de 1976.
V. Simha, J. S. e Ramesh, A. S., "Comparative Study of Oral Pill-Ac-
ceptors in the three Member Mission Hospitals of Mysore State", The
fournal of CMAI, outubro de 1972.
8. Id., referência 7.
9. Referências para taxas de gravidez e taxas de continuação:
1. Wan Fook Kee, Chen Ai Ju e Jessie Tan, "Oral Contraceptive Conti-
nuation Rates in the Singapore National Program", Studies in Family
Planning, vol. 6, n. 1, janeiro de 1975, pp . 17-21.
Taxas de gravidez:
ao fim de 12 meses, 11,1%
ao fim de 18 meses, 13,8%

TAXAS DE TAXAS DE
CONTINUAÇÃO ORDEM DOS MESES CONTINUAÇÃO

12 47.5
18 39.9
24 34.6
36 28.9

II. John E. Laing, "Differentials in Contraceptive Use Effectiveness in the


Phillippines", Studies in Family Planning, vol. 5, n. 10, outubro de
1974, pp. 302-313.

Taxas de continuação por Método. Taxa de continuação


de todos os métodos
ORDEM DOS MESES PfLULA DIU RITMO OUTROS
6 76 .3 92.5 70.9 68.6
12 66.4 85.8 . 52.5 56.4
18 57 .2 80.1 47 .1 46.8
24 50.2 73.1 46.0 o

III. Miguel Pulido e Anthony R. Meashan, " Two Year R€sults of a Clinicai
Study of the Tou-200 IUD", Studies in Family Planning, vol. 5, n. 7,
U.S.A., julho de 1974, pp. 221-223.

TAXA DE TAXA DE
ORDEM DOS MESES GRAVIDEZ CONTINUAÇÃO
3 0.3 96.4
6 0.8 91.8
9 1.1 87 .3
12 2.0 82.5
18 3.1 73.9
24 3.1 64.3

250
10. David. H.P.R . , "Acceptors and Acceptability", Populi, vol. 14, n. 4, 1977,
U. N. F. P. A., New York.
11. Latz, L . J. e Reiner, E. C. , "Failures in Naturai Conception Control and
their Causes'', Illinois Medical f ournal, 1937, Illinois.
12. Td., referência 6.

251
Apêndice 10
Estudo confirma os valores
do método da ovulação

Irmã Leona Dolack, OSF, RN 1

Foi publicado nos Estados Unidos, em 1975, que aproximada-


mente 10 milhões de mulheres tomavam contraceptivos orais para
controle da natalidade * 1• Enquanto as mulheres continuam a tomar
a pílula, muita informação e muitos estudos são publicados a res-
peito do perigo e efeitos colaterais destas drogas em relação ao trom-
boembolismo; doenças na vesícula biliar, fígado e coração; hiper-
tensão, potenciais carcinogênicos; e possível lesão fetal.
As publicações de Inman e Vessey e Brickerstaff sugerem uma
relação entre os contraceptivos orais e a ocorrência de embolismo
vascular. O risco é maior para as mulheres que tomam preparados
contendo dose maior de estrógeno 2• 3 • A explanação de Hellman, ba-
seada em publicações de muitos médicos no país, afirma que a ino-
cuidade das pílulas contraceptivas é altamente suspeita 4 •
A associação de câncer mamário e uso de drogas contracepti-
vas orais, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, é inconclu-
siva 5• 6• 7• 8 • Assim os estudos recomendam muito cuidado e vigilância
através de exames de pélvis e exames das mamas nas mulheres de
todas as idades que tomam contraceptivos orais. Estudos de um nú-
mero significativo de mulheres, durante um período mais longo, se-
rão necessários para obter o verdadeiro significado da relação entre
o uso dos contraceptivos orais e a doença carcinogênica, porque o
desenvolvimento de tumor é associado a longo período de latência 9 •
A doença do fígado ligada ao uso de contraceptivos orais pro-

1 Irmã Leona é Assistente Administrativa e Diretora do Programa de Planejamento


Natural da Família do St. Vincent Hospital, de Green Bay, WI. "Study Confirms Values
of Ovulation Method'', Hospital Progress, agosto de 1978. Reproduzido com Permissão.
* 1. 2 etc. ,remetem às Referências bibliográficas do final deste Apêndice.

252
vavelmente relaciona-se com a dosagem do estrógeno 10 • Publicações
da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos descrevem adenomas hepá-
ticos em mulheres que tomam contraceptivos orais u, 12 • Os edito-
riais do The Lancet e do British Medicai journal afirmam que não
há vínculo entre os tumores benignos do fígado e os contraceptivos
orais. Acredita-se que o risco de tumores com o uso da pílula au-
menta u, 14 nas mulheres que têm doença hepática ativa ou crônica,
e naquelas que tiveram icterícia idiopática da gravidez. É necessário
pesquisa ulterior para estabelecer evidência válida conclusiva a res-
peito da causa e do efeito da relação entre a doença do fígado e as
pílulas contraceptivas.
Estudos publicados pelo Royal College of Practitioners e por
um programa de fiscalização de drogas de Boston sugerem aumento
da incidência de colecistite ou colelitíase. O Royal College publica
68 casos por 100 . 000 usuárias por ano 15 • Os estudos de Boston
calculam 158 casos por 100. 000 usuárias por ano 16 • O estudo bri-
tânico indica que o número crescente de mulheres com doença de
vesícula biliar coincide com o aumento do conteúdo de progesterona
da pílula. O estudo informou que as "pedras" (cálculos) biliares se
desenvolvem durante cerca de quatro anos depois de ser iniciada a
pílula.
Foi estudada também a associação de contraceptivos orais a le-
sões fetais. Estas publicações mostram uma relação entre o uso de
contraceptivos orais e anormalidades cardíacas fetais, defeitos con"
gênitos de redução dos membros, maior incidência de gêmeos e um
aumento do número de abortos espontâneos 17 ' 18 ' 19 ' 2º' 21 • 2L do primeiro
trimestre. Até o presente não está claro o que na pílula contraceptiva
causa lesão fetal.
Demonstrou-se que a ocorrência de doença hipertensiva é uma
vez e meia mais alta nas consumidoras de pílulas contraceptivas do
que naquelas que nunca a tomaram e a incidência para as consumi-
doras habituais era seis vezes mais alta do que a das mulheres que
nunc tomaram uma pílula anticoncepcional z:;.

A PREOCUPAÇAO DESPERTA O INTERESSE PELOS MÉTODOS NATURAIS

Mais do que atitude de "pare e veja", os casais estão procuran-


do alternativa para os métodos químicos de planejamento familiar.
A preocupação com notícias dos efeitos colaterais, danos à saúde e
·resultados científicos inconclusivos aumentou o interesse pelos mé-
todos naturais de planejamento familiar. E o interesse está cresceu-
253
do no conhecimento do Método da ovulação ou Billings de planeja-
mento familiar.
A pesquisa que levou à descoberta do Método da Ovulação
data de 1855, quando Smith identificou as modificações cíclicas na
quantidade e na qualidade do muco cervical 24 • Não foi senão em
1933 que a relação entre estas modificações e o ciclo menstrual foi
demonstrada. Sezuy e Vimeaux noticiaram que o corrimento cervi-
cal aumentava de volume e diminuía de viscosidade entre o décimo
e o décimo quinto dia de um ciclo menstrual normal 25 • Depois Sezuy
e colaboradores relacionaram o aumento do volume do corrimento,
primeiro, à subida do estrógeno urinário e, depois, com o tempo da
' ovulação 26 • Estudos posteriores, em 1940, confirmaram que as se-
creções "pico" coincidiam com a ovulação 27 ' 28 • 29 • Billings e colegas
determinaram a ovulação monitorando os ciclos menstruais por do-
sagens diárias de excreção urinária de estriol, estrona, estradiol e
pregnanediol. Acompanhando estes achados notaram-se modificações
no muco cervical de muco turvo, pegajoso, para claro, deslizante,
viscoso e a volta para tipo turvo, pegajoso. O muco claro, deslizante
corresponde ao pico do estrógeno no ciclo, indicando ovulação 30 •
Como orientação para a abstinência periódica, em 1964 31 Bil-
.lings recomendou que se aguardassem modificações no muco cervical.
O método de Billings permite às mulheres determinarem o tempo
fértil no ciclo menstrual. Propôs que as secreções mucosas que acom-
panham a ovulação oferecem uma indicação direta da ovulação por
chegar e que, portanto, não há necessidade de um calendário ou
termômetro basal. Como resultado, pode-se ter relações sexuais du-
rante os dias inférteis pré e pós-ovulatórios com relativa segurança
de infertilidade 32 •
O Método da Ovulação, portanto, pretende oferecer uma al-
ternativa e um procedimento sem risco de planejamento familiar
que, se eficiente, pode ser utilizado durante toda a vida reprodu-
tiva do casal. Desde que as mulheres aprendam a distinguir a fer-
tilidade pela observação de seu padrão mucoso, o método poderá
ser útil para todas as mulheres - inclusive para aquelas que estão
tomando pílula, que acabaram de dar à luz, que estão na pré-me-
nopausa ou que têm ciclos irregulares. O método pode ser usado
com sucesso para evitar gravidez ou para conseguir gravidez. O pro-
pósito do estudo descrito abaixo foi o de avaliar a eficácia bem
como a satisfação no uso do Método da Ovulação de planejamento
familiar.

254
ESTUDO DE ST. VINCENT DO MÉTODO DA OVULAÇÃO

Metodologia. Em janeiro de 1975, o St. Vincent Hospital, de


Green Bay, WI., desenvolveu um programa de planejamento natu-
ral da família, por meio do qual casais treinados ensinavam o Mé-
todo da Ovulação.
Depois que os casais assistem a uma aula de apresentação do
Método da Ovulação, cada casal é aconselhado em particular, de
modo geral mensalmente, até que esteja seguro no uso do método.
Os registros contendo dados pertinentes e informação sobre todas as
sessões de consultas particulares são guardados pelo casal.
Sob os auspícios do St. Vincent Hospital, procedeu-se a um
estudo com 435 casais que freqüentaram o Programa de Planeja-
mento Natural da Família, em 1975. Um ano depois, quando cada
casal já ganhara confiança no uso do Método da Ovulação, um ques-
tionário de retorno foi-lhes enviado pelo correio para determinar a
eficácia do Método bem· como a satisfação com seu uso *. Aos não-
-correspondentes telefonou-se, com a finalidade de completar o es-
tudo. Trezentos e setenta y um, ou 82 % , responderam e 82 perde-
ram-se para o estudo, que foi analisado durante a primavera e o ve-
rão de 1977.
As mulheres que engravidaram foram convidadas a rever seus
registros com um instrutor, a fim de determinar a razão do fracasso.
As gestações acidentais foram classificadas como falhas biológicas,
falhas das usuárias ou falhas indeterminadas. Uma falha biológica
era registrada quando o casal tinha bom conhecimento do método e,
tanto quanto se podia afirmar, cumprira fielmente as instruções. Re-
gistrou-se como falha da usuária, quando a gestação resultara de
erros do casal que o instrutor podia determinar e explicar, ou quan-
do o casal negligenciara o emprego da técnica adequada. Registrou-
-se como indeterminada quando a informação foi insuficiente para
permitir ao instrutor determinar a razão da falha. A incidência de
falha de cada categoria foi calculada usando a fórmula de Pearl 33 •

Número de gestações
acidentais
X 1200 índice de falhas por
número de ciclos 100 mulheres-ano

Admitiu-se que 12 ciclos menstruais consecutivos fossem equi-


valentes a um ano de uso do Método da Ovulação. Uma vez que o
método pode ser seguido quer para evitar quer para conseguir uma
* Pode-se obter o questionário completo da Irmã Leona sob pedido.

255
gravidez, aqueles casais que tentavam o último objetivo foram con-
siderados em separado.
Estudo da população. As idades das 371 mulheres variaram en-
tre 19 e 48 anos, com uma média etária de 28 anos. As participantes,
em média, tinham dois filhos por casal. Das 371 mulheres, 200
(59 % ) tinham usado antes os métodos artificiais de controle da na-
talidade. 75% destas haviam tomado anticoncepcionais orais. Trin-
ta e cinco das que tomavam pílula tiveram um ou mais dos efeitos
colaterais indesejáveis. Uma mulher fora hospitalizada com trombose
cere.bral, e uma ·outra sofreu embolismo pulmonar atribuído ao uso
de ~ontraceptivo oral. Além disso, quatro mulheres do estudo tive-
. ram tromboflebite dos membros inferiores. Outros efeitos colaterais
indesejáveis relatados foram fortes dores de cabeça, depressão e per-
da do impulso sexual. Todas essas mulheres informaram que seus
médicos particulares atribuíram esses resultados à ingestão da pílula.
Resultados. Trezentas e vinte e nove mulheres, ou 89% usavam
o Método da Ovulação para evitar gravidez. Destas 329 mulheres,
92% usavam o método, com sucesso, depois de um ano. Um total
de 27 mulheres (8%) engravidou. Destas 27 gestações, 18 foram
atribuídas a falhas das usuárias, 6 consideradas como falhas inde-
terminadas e 3 consideradas como falhas biológicas. A taxa global
de falhas dos 329 casais que aproveitavam as fases pré-ovulatória
e pós-ovulatória do ciclo menstrual, para o coito, em 3.354 ciclos,
foi de 9,6 gestações por 100 mulheres-ano. As 9,6 gestações por 100
mulheres-ano são atribuídas a: falhas biológicas 1,1; falhas das usuá-
rias 6 ,4 e falhas indeterminadas 2, 1. Portanto, apenas 3 ,2 (1, 1 +
2, 1) gestações por 100 mulheres-ano podem ser atribuídas ao uso do
Método da Ovulação apesar da habilidade do casal. É interessante
notar que 75% destas incluídas no grupo "falhas das usuárias" de-
cidiram adotar o Método da Ovulação após a gravidez.
Das 42 mulheres que empregaram o Método da Ovulação para
conseguirem gravidez, 14 (32%) conceberam dentro de um ano. Dez
das 14 mulheres não apresentavam gestação anterior. Antes de usa-
rem o Método da Ovulação, 7 mulheres haviam adotado o Método
da Temperatura Basal do Corpo durante 3 a 7 anos para determi-
nar a existência de ovulação. Três mulheres tomaram drogas fertili-
zantes pelo menos durante 1 ano sem sucesso. Uma mulher que du-
rante 7 anos não conseguira engravidar pelo Método da Temperatura,
atribuiu o sucesso obtido ao Método da Ovulação.
Até que os casais ganhassem confiança no método, prestaram-se
serviços de aconselhamento de retorno voluntário e de recomenda-
ções para habilitar as mulheres na aplicação do método. 75% das
mulheres que não utilizaram as sessões de retorno usavam o Método
256
do Ritmo antes de aprender o Método da Ovulação e, assim, esta-
vam mais familiarizadas com os aspectos mecânicos do Método da
Ovulação. As 36 mulheres que voltaram a 3 ou 6 sessões, anterior-
mente tomavam pílula; constataram muco abundante e assim pre-
cisaram de mais aconselhamento.
Depois de um ano de treinamento, as participantes respondiam
várias questões para corrigir maiores dificuldades no uso do método
(vide Tabela). Mulheres que sentiram dificuldade para interpretar
seus padrões mucosos disseram que ganharam confiança com a ex-
periência de cada mês. Dos casais, 73% demoraram 2 meses, 22%
demoraram 3 meses e 5 % 4 a 6 meses antes de ganharem confiança
completa no uso do Método da Ovulação.
TA BELA 1. Número de respostas para determinar
as dificuldades com o Método da Ovulação
RESPOSTAS
PERGUNTAS SIM NÃO SEM RESPOSTA
Tiveram dificuldade na interpretação dos próprios
sintomas 244 127
Os dias de abstinência um obstáculo no casamento
(muito grande) 53 318
Sentiu segurança no uso do método da ovulação 279 92
As sessões de retorno foram úteis 272 7 92 *
Recomendaria o método da ovulação a outros 308 20 43
* Não houve sessão

DISCUSSÃO E ESTUDO

O estudo visou determinar a eficácia do Método da Ovula-


ção - aproveitando-se as fases pré e pós-ovulatórias do ciclo, como
determinava o sintoma do muco cervical - como meio de evitar
concepção bem como meio de conseguir gravidez de mulheres que
não conseguiam tê-la. O estudo visou, também, determinar o grau
de satisfação com o uso deste método de planejamento familiar.
A taxa de gestação não planejada de 9,6 por 100 mulheres-ano nesta
pesquisa do Método da Ovulação é inferior à da primeira pesquisa
prospectiva de campo experimental, em Tonga, que revelou 25 ges-
tações por 100 mulheres-ano 34 , à do estudo australiano, publicado
por Ball, que deu uma incidência de gestação de 21 por 100 mulhe-
res-ano 35 •
Um estudo sobre o Método da Ovulação em combinação com
o Método da Temperatura Basal do Corpo, em Londres, publicado
por Marshall, também revela uma taxa de gestação, mais alta, de
22 por 100 mulheres-ano 36 • Marshall publicara anteriormente um
257
outro estudo - que se baseava apenas na temperatura basal do
corpo - de um grupo de mulheres que aproveitava a fase pós-ovu
latória e de um outro grupo que usava ambas as fases pré e pós-ovu-
latórias . Para o grupo que limitou as relações sexuais à fase pós-
-ovulatória se atribuiu apenas uma taxa de 6,6 gestações por 100
mulheres-ano, enquanto que para o grupo que usou ambas as fases
pré e pós-ovulatórias revelou-se uma taxa de gestação de 19 ,3 por
100 mulheres-ano 37 •
Ainda quando a relação sexual não se limita à fase pós-ovula-
tóra, a taxa de gestação global de 9,6 do estudo de St. Vincent é
' mais baixa do que as destes dados. Não se pode fazer comparações
válidas entre o Método da Ovulação e o Método da temperatura ba-
sal do corpo· com base na fase pós-ovulatória, porque não há pes-
quisas publicadas nessa área.
O Método da Ovulação de Planejamento Familiar é isento de
efeitos colaterais biológicos indesejáveis e não implica o uso de an-
ticoncepcionais químicos ou mecânicos. Embora este estudo do Mé-
todo da Ovulação mostre 9,6 gestações por 100 mulheres-ano, in-
dica um índice de 3 ,2 gestações por 100 mulheres-ano em casais
altamente motivados para evitar gravidez. Este índice é maior que
o do anticoncepcional oral (pílula), dado como de 1,0. É mais fa-
vorável quando comparado ao índice anunciado de 3 ,4 para o dis-
positivo intra-uterino (DIU), aos 12,0 atribuídos ao diafragma, aos
14,0 para o condom, aos 18,0 para o coito interrompido, aos 24,0
para o Método do Ritmo, e aos 31,0 para o Método da Ducha 38 •
E pesando risco/benefícios, pode-se concluir que o Método da Ovu-
lação, com 3,2 gestações sem risco, é mais favorável que a pílula
anticoncepcional.
Como em todos os métodos naturais de planejamento familiar,
o Método da Ovulação requer um período de abstinência. Permi-
tindo aos casais usar o dia ou dias da fase pré-ovulatória, bem como
da fase infértil pós-ovulatória, diminui o número dos dias de absti-
nência. Não há estudos publicados relativos aos problemas com o
período de abstinência. Com base no questionário empregado neste
estudo, 318 de 371 (86%) dos participantes não acharam demasiada
ou difícil no casamento a abstinência exigida.
O Método da Ovulação também ajudou mulheres que o segui-
ram para engravidar, pois 33 % tiveram sucesso, depois de falhas
com o Método da Temperatura Basal do Corpo ou com drogas fer-
tilizantes.
Devido à ausência de efeitos colaterais e a seu alto índice de
sucesso, o Método da Ovulação de planejamento familiar provou

258
ser uma alternativa viável e eficiente entre os meios tecnológicos
de controle da natalidade.

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38. Kamron, S.; Maghissi, M. D. e Evans, T. N., Regulation of Human Fertility,
Wayne State University Press, Detroit, 1976, p. 31.

260
Apêndice 11
O método da ovulação
e a paternidade planejada
Marsha McKay

Em junho de 1977, pedi ao Planned Parenthood of Portland


(Ore.) para autorizar-me a ensinar o Método da Ovulação de controle
da natalidade em suas próprias clínicas. Na época, eu era associada
de uma faculdade experimental da Universidade do Estado de Ore-
gon e de um Naturopathic College Clinic, ensinando o Método da
Ovulação, ou de "Billings", fora de minha residência. Obtinha bom
índice de sucesso com o método, e queria trabalhar com ele numa
clínica montada, onde tivesse a oportunidade de treinar outros tam-
bém. O Planne Parenthood estava interessado, a CETA (Comprehen-
sive Education and Training Act) foi requisitada e auxiliou. . . e um
dos primeiros cursos formais de Paternidade Planejada do Método
da Ovulação, iniciou-se e prosseguiu.
Agora, exatamente nove meses depois, recebemos mais de 350
clientes; possuímos alguns dados preliminares encorajadores pelo su-
cesso contraceptivo; contamos com o apoio e estímulo de outros do
corpo clínico; e fomos gratificados com reações altamente favoráveis
da comunidade e com grande interesse das pessoas em aprender mais
a respeito do método. Neste breve artigo, quero dar aos leitores de
PP News informações a respeito do programa, como funciona e que
fatores devem ter em mente quando quiserem ter um programa seme-
lhante para suas próprias comunidades.

COMO FUNCIONA O MÉTODO

Primeiro, lembrar o que é o Método da Ovulação. Faz parte da


família dos métodos de "abstinência periódica" - isto é, dos mé-
todos de controle da natalidade que funcionam não por meio de dro-
-
* McKay, Marsha, "The Ovulation Method and PP", The Planned Parenthood News,
1, n. 3 (jun.-set. 1978). Reproduzido com permissão.

261
gas ou dispositivos, mas procurando fazer que o tempo de relações
sexuais ocorra durante o período menos fértil do ciclo mensal da mu-
lher. Porém, ao contrário dos outros métodos mais tradicionais deste
tipo; o Método da Ovulação não exige cálculos de calendários nem
leituras de temperatura basal. Baseia-se tão somente na maneira pela
qual o "muco cervical" - que a maioria das mulheres reconhece
como seu corrimento vaginal normal - varia nas diferentes etapas
do ciclo menstrual. As características do muco cervical mudam visi-
velmente com modificações nos níveis de estrógeno e progesterona no
ciclo, e isto ajuda a mulher a perceber quando ela pode estar fértil
e quando pode não estar.
Uma coisa que, parece-me, foi muito importante para meu su-
cesso no ensino deste método é o fato de que eu vinha usando o Mé-
todo com sucesso durante os últimos três anos. Mais do que a maioria
dos métodos de contracepção, este é difícil de ensinar efetivamente
se não se aprender através de experiência direta.

PROGRAMA PROJETADO

Começamos o programa comigo mesma como instrutora e uma


assistente, de tempo integral, com o título de secretária-datilógrafa.
Começamos com dois grupos de tempo integral, porque queríamos
fazer extensa estatística de registros e análises. As aulas foram es-
quematizadas uma por semana, nas segundas-feiras, com um limite
de 12 mulheres ou casais por aula (depois foi aumentado para 16).
A instrução de uma mulher desejosa de usar o método para
controle da natalidade compõe-se de duas partes. Na sessão inicial
de 21;2h, ela recebe a informação fundamental básica e um mapa.
Ela vai para casa e registra seu ciclo pelo menos durante um mês,
durante o qual recomenda-se-lhe que se abstenha de relações. Quan-
do tiver registrado um ciclo completo no mapa, ela volta e tem
uma entrevista de retorno individual. O propósito desta entrevista
é conscientizá-la de que tem um padrão que pode ser entendido,
que ela está verificando e registrando seu ciclo corretamente, que
não pode "arriscar" relações durante os dias férteis e que se sente
bem com o que está fazendo.
Desconfiava que haveria um número considerável de pedidos
de aulas, uma vez que elas foram publicadas e oferecidas através
de uma agência respeitável como a Planned Parenthood. A maio-
ria das pessoas nada tinha ouvido a respeito do Método da Ovu-
lação, mas uma vez que elas ouviram a respeito, muitas se interes-
saram. Agora, vários meses depois do começo das aulas, as classes
262
já estão totalmente lotadas com um mês de antecedência. Ao todo,
cerca de 300 mulheres e casais passaram pelo programa.

Primeiras pubiicações animadoras

Cinco meses depois de iniciar o curso, preparamos um perfil


das clientes, e surgiram alguns padrões interessantes. Em contraste
com a maioria da população sobre as quais há publicações na . li-
.teratura do Método da Ovulação (a maioria delas são católicas e
com o tamanho médio da família de quatro ou mais membros) em
nossa população 75% não tinham filhos. Cincoenta e dois por cen-
to são solteiras e independentes; 31 % casadas; e 11 % "vivendo
com homem", mas não casadas. Quatro em cinco das clientes es-
tão entre as idades de 21 e 30, com mais do lado de cima. Sessenta
por cento tinham estudo secundário e 25 % eram graduadas.
Um dos mais interessantes aspectos desta revisão foi o número
de mulheres e casais que haviam experimentado um ou outro mé-
todo de controle da natalidade antes de tentar o Método da Ovu-
lação. Quase todas as clientes (99%) tinham usado pelo menos um
método de controle da natalidade, antes; 31 %, um método; 33%
dois métodos; 21 % três métodos; e 14% quatro ou cinco métodos.
Quase três quartos (71 % ) tinham tomado pílula para controle dos
nascimentos, e mais do que metade (54%), o diafragma. Eviden-
temente, na época, algumas mulheres seguiram outras opiniões de
controle da natalidade e não encontrando qualquer compatibilidade
com sua própria saúde e necessidade pessoais, elas estavam dis-
postas a tentar a abstinência periódica e a verificar e registrar o
muco com regularidade.
Embora seja muito cedo para tirar conclusões firmes a res-
peito do sucesso de nosso curso, os primeiros retornos são encora-
jadores. Entre janeiro e setembro de 1978, 292 mulheres freqüen-
taram sessão de educação básica. Destas, 170 voltaram para a pri-
meira sessão de retorno (geralmente, um mês a seis semanas depois
da sessão inicial). Destas, 120 voltaram para uma segunda sessão
de retorno - de um mês a seis semanas depois do primeiro re-
torno. Destas 120, exatamente três tinham fracassado com o mé-
todo no segundo retorno, e todas as três sabiam que estavam fér-
teis na ocasião em que tiveram relações. Não houve falhas do mé-
todo - isto é, falhas entre as mulheres que seguiram as regras exa-
tamente - entre as mulheres com as quais temos contato até hoje.

263
O papel do homem em destaque

Um aspecto do Método da Ovulação que sensibiliza alguns


.casais é o importante papel do parceiro masculino. Em nosso pro-
·grama, os homens são estimulados a vir às aulas com suas parcei-
ras, e muitos o fazem. Isto lhes oferece a oportunidade de perguntar,
questionar num ambiente informal, acolhedor e os envolve a mui-
tos deles pela primeira vez, em decisões relativas ao controle da
natalidade.
Às vezes os homens vêm para o retorno, e então o foco, ge-
.·ralmente, muda para a integração do uso do método em seu rela-
cionamento. Muitos homens estão interessados em fazer parte das
decisões do controle da natalidade e este Método dá-lhes oportuni-
dades perfeitas. Algumas vezes, os parceiros chegam a uma solução
mútua, um arranjo em que a mulher é encarregada de verificar seu
muco e o homem é encarregado de registrá-lo. Isto não só promove
a cooperação, mas evita possíveis erros devidos a registro relaxado.
Um dos aspectos mais gratificantes deste programa, para mim,
foi a oportunidade de treinar outras para ensinarem a técnica. Eu
mesma fui treinada como instrutora por uma mulher que tinha
grande experiência com o método e que escreveu um livro que uso
nas minhas aulas - Ciclos de Fertilidade: O Método da Ovulação
(por Gillete e Guren publicado pela Ovulation Method Teacher's
Association, 4760 Aldrich Road, Bellingham, Wa 98225).

APOIO DA COMUNIDADE

Um outro aspecto gratificante do programa, para mim, foi o


apoio que recebi dos outros nas filiais. Nosso diretor médico tem
sido muito útil indicando mulheres para aulas e respondendo mi-
nhas perguntas relativas ao corpo da mulher e a complicações. As
enfermeiras e os assistentes médicos me consultam quando uma
mulher mostra algum interesse pelo Método da Ovulação. Alguns
do pessoal clínico assistiram à aula e usam o método. Duas sessões
educacionais em casa foram dadas ao corpo clínico para explicar o
que o Método é e como funciona e a maioria deles agora tem uma
idéia básica de como o método funciona - . embora haia alguma
controvérsia entre nossos elementos quanto à sua eficácia.
Fizemos algum esforço, dentro dos limites do tempo disponível,
para envolver outras da comunidade no programa. Eu dava apresenta-
ções introdutórias para o corpo de profissionais de duas clínicas de
Planejamento familiar de municípios, que agora mandam mulheres
264
para minhas aulas. Estive duas vezes com o quadro de pessoal do
Departamento de Educação em suas visitas de apresentação do con-
trole da natalidade a um colégio · da comunidade local. Várias estu-
dantes se alistaram para a aula, como resultado daquela apresentação.
A maioria das indicações para as aulas, agora, são de amigos que
assistiram às aulas e gostaram delas.
O Método da Ovulação por certo não pode responder às ne-
cessidades de cada mulher para o controle de nascimento. Com
cuidado e disciplina, entretanto, oferece uma forma positivamente
eficiente de evitar gravidez, não acarretando riscos à saúde e isento
de encargos (depois da aula de instrução), e pode abranger os ho-
mens até o momento em que isso for necessário.
Parece oportuno, pois, que as clínicas de Planejamento da Pa-
ternidade procurem se informar sobre o crescente interesse por esta
forma de conhecimento da fertilidade e, ao expandirem seus servi-
ços, possam incluir a instrução do Método da Ovulação, ou então
que insistam na necessidade dessa instrução através de indicações
para outras clínicas.

NOTA MÉDICA

Como parte do consentimento e da decisão responsáveis, que


compõem o processo da escolha de um anticoncepcional, as pes-
soas precisam ser informadas a respeito da eficácia de todos os mé-
todos. Os dados de maior confiança sobre o uso-eficácia (com os
índices de falhas por gravidez não planejada experimentada por
usuárias boas, más e indiferentes dentro de um ano de uso) dos
métodos de abstinência periódica do coito ( APC) mostram uma taxa
de gravidez de 19,1% * (Ref.).
Para pôr isto em destaque, do mesmo estudo depreende-se que
as taxas de gestação com outros métodos são as seguintes:

Pílula 2%
DIU 4,2%
Condom 10,1%
Diafragma 13,1%
Espuma, creme, geléia, supositórios 14,9%

* Vaughn, B.; Trussell, J.; Menken, J. e Jones, E. F., "Contraceptive Failure among
Married Women in the United States, 1970-1973", Family Planning Perspectives, vol. 9, n.
6, novembro-dezembro de 1977.

265

l
Entretanto, quanto mais cuidadosamente uma pessoa usar um
método, mais favorável lhe será a taxa de eficácia.
E também importante que, a uma mulher que se proponha se-
guir um método reconhecido menos eficiente, os conselheiros possam
quàtioná-la sobre como eta reagiria ante uma gravidez inesperada,
antes mesmo de fazer a escolha de seu anticoncepcional.

Louise B; Tyrer
Vice-presidente para trabalhos médicos, PPFA

266
r- 7 Agradecimentos
INDICE

1
11 Preâmbulo
13 Prefácio
17 Introdução
25 · 1 . Uma visão global
28 2. O sistema reprodutivo feminino. O ovulação, a secreção
do muco cervical
54 3 . Observações sobre o muco cervical: relações entre mu-
co e fertilidade. Regras para as relações sexuais
67 4. Registro da informação a respeito do ciclo menstrual
76 5. Registro de ciclos normal, irregular e não-ovulatório
92 6. Uso do método da ovulação para conseguir gravidez
100 7. Estados emocionais e físicos que afetam a secreção do
muco (tensão, doença, medicação, parturição, amamen-
tação, menopausa)
132 8. O registro da secreção do muco depois da interrupção
da pílula e de outros contraceptivos artificiais
148 9 . O ensino do método da ovulação para adolescentes e
adultas jovens
153 1O. O ensino do método da ovulação nos países em desen-
volvimento
168 11. Avaliação estatística das técnicas contraceptivas
183 12. Aspectos psicológicos do controle da natalidade: liber-
dade de escolha para a mulher
190 Posfácio
192 Apêndice 1
195 Apêndice 2 O muco ·cervical e a identificação da fase
fértil do ciclo menstrual
201 Apêndice 3 Método da ovulação e população rural de
Vitória (Austrála)
206 Apêndice 4 Os sintomas e as variações hormonais que
acompanham a ovulação
214 Apêndice 5 Uso-eficácia e análise dos níveis de satisfação
com o método da ovulação Billings: estudo
piloto de dois anos
225 Apêndice 6 O método da ovulação e a menopausa
231 Apêndice 7 Uma experiência com o método da ovulação
de planejamento familiar em Tonga
241 Apêndice 8 Publicação preliminar do uso-eficácia do mé-
todo da ovulação na Coréia·
244 Apêndice 9 O uso-eficácia do método da ovulação na
Índia
252 Apêndice 10 - Estudo confirma os valores do método
261 Apêndice 11 - O método da ovulação e a paternidade
planejada
-....;,;..•

Impresso na Gráfica de Edições Paulinas - 1983

Via Raposo Tavares, Km 18,5 - 01000 SÃO PAULO


Mercedes Arzú Wilson dirige o setor americano da Or-
ganização Internacional do Método Billings. Desde
muitos anos trabalha em conjunto com o casal
Billings. Procura unir o rigor científico das últimas des-
cobertas médicas a um método fácil de ensinar o pla-
nejamento familiar.
Este livro dá grande destaque à liberdade da mulher e
aos aspectos psicológicos do planejamento. l lustram a
obra muitas estatísticas e a aplicação do método aos
tipos mais variados de mulheres e situações.
Manual muito rico de informações, elaborado por uma
das maiores autoridades na pesquisa e na prática do
planejamento natural da família. O rigor científico vem
acompanhado de inúmeros exemplos de casos particu-
lares. E as muitas ilustrações tornam o texto bem
acessível.
O método aplica-se não só para evitar, mas também
para conseguir a gravidez em casos de_ aparente inferti-
lidade.

Planejamento
familiar

Edições Paulinas

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