Doutrina e Jurisprudência
PODER JUDICIÁRIO DO
DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Revista dos
Juizados Especiais
Jul./Dez. 2004
17
ISSN 1414-2902
Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios
Revista dos
Juizados Especiais
Doutrina e Jurisprudência
Presidente
Des. Estevam Carlos Lima Maia
Coordenador
Juiz de Direito Fernando Antônio Tavernard Lima
Secretário-Geral
José Jézer de Oliveira
Supervisor
Rafael Arcanjo Reis
Redação
Subsecretaria de Doutrina e Jurisprudência
Serviço de Revista e Ementário
Palácio da Justiça - Praça Municipal, Ed. Anexo I, sala 601
CEP: 70.094.900 - Brasília - DF
Telefones: (061) 224-1796 e 322-7025 (Fax)
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Semestral
ISSN 1414-2902
1. Juizados Especiais – Jurisprudência. 2. Juizados Especiais –
Doutrina. I. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
Juizados Especiais
Coordenação Cível
Juiz de Direito Flávio Fernando Almeida da Fonseca
Coordenação Criminal
Juíza de Direito Giselle Rocha Raposo
Doutrina
Jurisprudência Cível
Acórdãos 67
Arras ........................................................................................................ 67
Banco - SPC .............................................................................................. 74
Competência ................................................................................................ 78
Compra e venda pela internet .......................................................................... 85
Dano moral - cheque .................................................................................... 88
Dano moral - cia. aérea................................................................................ 92
Dano moral - cia. telefônica ............................................................................ 97
Dano moral - cobrança ................................................................................ 101
Danos materiais - extravio de bagagem .............................................................. 115
Empréstimo de conta corrente ........................................................................ 119
Fornecimento de peça ................................................................................... 121
Furto em estacionamento .............................................................................. 125
SUMÁRIO 9
Liberdade de imprensa ................................................................................. 134
Plano de saúde ............................................................................................ 139
Propaganda enganosa .................................................................................. 145
Reparação de danos - banco .......................................................................... 149
Rescisão contratual .................................................................................... 155
Responsabilidade civil .................................................................................. 160
Título de capitalização ................................................................................. 162
Título de crédito ......................................................................................... 167
Transtorno cotidiano ................................................................................... 174
Vício do produto ........................................................................................ 180
Ementas 187
Jurisprudência criminal
Acórdãos 267
Ementas 295
SUMÁRIO 11
Disparo de arma ........................................................................................ 297
Lesão corporal .......................................................................................... 298
Nulidade .................................................................................................. 298
Porte de arma ........................................................................................... 299
Porte de entorpecentes ............................................................................... 300
Queixa-crime ............................................................................................. 301
Restituição de bens ..................................................................................... 301
Súmulas 303
DOUTRINA 15
16 REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT
Jurisdição Constitucional e Hermenêutica
Jurídica: A Dimensão Objetiva dos
Direitos Fundamentais e o Direito Penal -
Uma Prática nos Juizados Especiais
DOUTRINA 17
contornos ao clássico princípio da reser- construir “uma sociedade fraterna,
va legal que orienta o Direito Penal pátrio, pluralista e sem preconceitos, fundada na
consoante estabelecido na Constituição harmonia social e comprometida, na or-
Federal vigente, por seu art. 5o, inciso dem interna e internacional, com a solu-
XXXIX, tanto quanto no Código Penal, ção pacífica das controvérsias”. Grifos
já no art. 1o. O posicionamento aqui nossos.
adotado, que tem lastro na iniciativa do
ilustre representante do Ministério Públi- II - BREVES ESTUDOS SOBRE
co junto ao 1o Juizado de Sobradinho/ HERMENÊUTICA JURÍDICA E
DF, Dr. Jânio Antônio Coelho, ostenta JURISDIÇÃO
como marco teórico a superação dos CONSTITUCIONAL
métodos hermenêuticos tradicionais, re-
conhecendo-se que uma interpretação A República Federativa do Brasil
concretizante encontra leito em princípi- constitui-se em um Estado Democrático
os auxiliares, dentre eles a técnica de de Direito.4 O Estado de Direito é idéia
decisão reconhecida como “interpretação que faz subordinar toda atividade estatal
conforme a Constituição”2. à regra jurídica preexistente. Significa a
limitação do exercício dos poderes
Nesse contexto, observamos a ne- Legislativo, Executivo e Judiciário às nor-
cessidade de reconhecer que o poder não mas jurídicas editadas.
se circunscreve à atividade estatal, mas
se difunde “por múltiplas instâncias soci- A norma jurídica positivada é do-
ais capilares”, no autorizado dizer de tada de imprescindível imperatividade,
Daniel Sarmento3, como expressão da que garante a possibilidade da realiza-
dimensão objetiva dos direitos fundamen- ção do ideal de Justiça, sem abalar a
tais. Essa teoria tem como conseqüência segurança e a estabilidade do
principal, a nosso ver, a construção da ordenamento jurídico, estas indispensá-
tese em torno da eficácia irradiante dos veis no Estado Democrático de Direito.
direitos fundamentais, que passam a ser-
vir de vetores na interpretação das nor- A segurança do ordenamento jurí-
mas legais, condicionando o atuar do dico não será resguardada apenas com a
Poder Judiciário, inclusive. existência da norma jurídica, mas princi-
palmente pela aplicação dos critérios de
A adoção das medidas a serem interpretação.
comentadas não tem outro móvel senão
aquele ditado no Preâmbulo da Consti- Destacamos oportunamente que os
tuição brasileira, qual seja, o de ajudar a métodos de interpretação são constante-
DOUTRINA 19
ser: 1) gramatical, que consiste numa Destaca-se o voto do Desembargador
análise morfológica e sintática do texto. Vladimir Giacomuzzi, do Tribunal de
Por ela, procura-se a própria literalidade Justiça do Estado Rio Grande do Sul:
da lei, com análise específica acerca das
regras gramaticais vigentes à época da “A interpretação de determinado
redação do dispositivo; 2) a interpre- diploma normativo ou de determi-
tação racional ou lógica em sentido am- nada norma legal fora do seu con-
plo é a pesquisa do sentido da norma à texto lógico-normativo pode con-
luz de qualquer elemento exterior com o duzir o juiz a deixar de aplicar im-
qual ela deve compatibilizar-se. Desse portante instituto indevidamente.
modo, toda interpretação que não fosse Veja-se o que acontece com os cri-
gramatical seria lógica;10 3) recorre-se à mes de lesão corporal ou de amea-
interpretação sistemática quando a dú- ça, sem dúvida nenhuma infrações
vida não recai sobre o sentido de uma de menor danosidade social.
expressão ou de uma fórmula da lei, mas Interpretando-se literal e isolada-
sim sobre a regulamentação do fato ou mente o contido no art. 44, I, do
da relação sobre o que se deve julgar. CP, no caso de condenação do
Aqui o intérprete deve colocar a norma acusado pelo crime do art. 129
em relação com o conjunto de todo o ou do art. 147 do CP, não seria
direito vigente e com as regras particula- possível o juiz substituir a pena pri-
res de direito que têm pertinência com vativa de liberdade aplicada por
ela; 4) outro método importante de in- outra alternativa, menos grave. Por-
terpretação é a pesquisa do processo que, no cometimento do crime, o
evolutivo da lei, isto é, a história da lei agente empregou violência ou gra-
ou dos seus precedentes auxilia o ve ameaça contra a pessoa, respec-
aclaramento da norma. Os projetos de tivamente.
leis, as discussões havidas durante sua Como sabemos, a solução que a
elaboração, a exposição de motivos, as doutrina propõe para essa aparen-
obras científicas do autor da lei são al- te antinomia não tem sido essa.
guns dos elementos valiosos de que se ‘A solução que acreditamos corre-
vale o intérprete. ta está em proibir a substituição da
pena detentiva por alternativa nos
O método gramatical de interpre- crimes cometidos com violência fí-
tação é constantemente afastado pela sica ou grave ameaça, salvo se con-
doutrina e jurisprudência como o único siderados de menor potencial ofen-
adotado pelo intérprete, ainda que se sivo, resguardando-se, assim, o
trate de interpretação da norma penal. princípio constitucional da
DOUTRINA 21
interpretação conforme a Constituição, o ao poder estatal, exigindo tão-somente
que implica dar à norma infraconstitucional um dever de abstenção.
o sentido necessário, decorrente “da for-
ça conformadora da Lei Fundamental”, Os direitos fundamentais, hoje,
na lição de Jorge Miranda.16 transcendem a esfera individual, para alar-
garem seu conteúdo e se transformarem
Para tanto, partimos da premissa em valores superiores de uma comunida-
de que os direitos fundamentais, vetores de política. E é nesse sentido que dei-
de interpretação e integração da norma, xam de apresentar-se como simples limi-
erigem-se como princípios objetivos, con- tação jurídica do poder do Estado, para
soante antes assinalado, sem nos cingir- se erguerem como fachos de luz que se
mos à sua dimensão meramente subjetiva. projetam e iluminam (numa função
irradiante) todas as áreas do
III - CONSIDERAÇÕES ACERCA ordenamento jurídico. Na síntese de
DA DIMENSÃO OBJETIVA Daniel Sarmento:
DOS DIREITOS
“Os direitos fundamentais, mesmo
FUNDAMENTAIS
aqueles de matriz liberal, deixam de
ser apenas limites para o Estado,
Nossa atuação no Juizado tem por
convertendo-se em norte de sua
ideal a ser perseguido constantemente a atuação.”18
preservação da dignidade da pessoa hu-
mana, como expressão sintetizadora do Assim, as normas preconizadoras
conteúdo jurídico-material dos direitos de direitos subjetivos contêm em si “fun-
fundamentais preconizados na Constitui- ção autônoma”, na lição de Ingo Sarlet19,
ção Federal (na extensão permitida por trazendo ínsita sua força normativa, im-
seu art. 5o, § 2o).17 primindo juridicidade aos princípios e
regras consagradores de direitos funda-
Nessa seara, observamos que o mentais.
atual estágio da República Federativa do
Brasil, que pressupõe um Estado de Di- Outra questão importante que se
reito e Democrático, dotado de uma constata é a da dimensão axiológica de
Constituição dirigente e compromissária, que se reveste a perspectiva objetiva dos
não se compraz com a dimensão subjeti- direitos fundamentais, fazendo-nos ver
va dos direitos fundamentais, vale dizer, que a eficácia desses direitos há de ser
não basta o reconhecimento desses direi- extraída não das concepções individua-
tos como limites impostos pelo indivíduo listas e das posições adotadas pelas pes-
DOUTRINA 23
normativo do art. 98, inciso I, da Cons- do autor do fato de não mais ameaçar,
tituição Federal.22 agredir ou importunar a vítima e seus fa-
miliares. Trata-se de caso típico envol-
O advento da Lei dos Juizados vendo conflitos familiares, que merecem
Especiais provocou entendimento unâni- atenção estatal à margem do Direito Pe-
me da doutrina e da jurisprudência no nal.26 O Ministério Público, em parecer
sentido de que todas as contravenções da lavra do Dr. Jânio Antônio Coelho,
penais passaram a ser de sua competên- assim se manifestou:
cia.23 O Decreto-Lei n. 3.688/41, a
chamada Lei das Contravenções Penais, “MM(a). juíza, a vítima, median-
dispõe em seu art. 17 que a ação penal te o compromisso do autor do fato
nos casos regulados nesse diploma legal de não mais importuná-la, informou
é pública, “devendo a autoridade pro- que não possui interesse no pros-
ceder de ofício”. seguimento do feito. Nota-se,
quanto ao delito previsto no artigo
Nada obstante a letra da mencio- 21 da Lei de Contravenções Pe-
nada norma, observamos que sua nais, que a lei 9.099/95, em seu
concretização, para conformar-se à Cons- art. 88, transformou a lesão cor-
tituição, pelos motivos até aqui ressalta- poral leve dolosa em crime de ação
dos, deve amoldar-se aos casos concre- penal pública condicionada à re-
tos na sua especificidade. presentação. Tratando-se do mes-
mo interesse jurídico tutelado pela
Assim é que, nas hipóteses de vias contravenção de vias de fato, sen-
de fato - art. 21 da LCP24 -, vimos ado- do aquela infração de maior gravi-
tando o entendimento segundo o qual dade, há que se fazer a aplicação
deve ser aplicada a analogia in bonam da analogia in bonam partem, exi-
partem25 em relação ao crime de lesão gindo-se também em relação a esta
corporal leve (e lesão culposa), a teor a representação da vítima como
do que prescreve o art. 88 da Lei n. condição de procedibilidade para
9.099/95, que passou a exigir a repre- a respectiva persecução criminal,
sentação para a ação penal relativa a es- conforme entendimento da doutri-
ses crimes. na e da jurisprudência. A vítima
manifestou interesse em não pros-
No Processo n. seguir no feito, mediante o compro-
2004.06.1.006345-7, a vítima afir- misso do autor do fato de mais
mou não possuir interesse no prossegui- agredi-la ou importuná-la, renunci-
mento do feito, mediante o compromisso ando então ao direito de represen-
DOUTRINA 25
analisado29; contudo, os renomados au- leis especiais e reexaminar a questão da
tores têm posição diversa, com arrimo nos ação penal em cada delito concreto.”32
arts. 100, § 1o, do Código Penal e 24 (Grifamos.)
do Código de Processo Penal30, ao lado
de terem a convicção de que a aplicação Ousamos divergir dos insignes au-
da analagia in bonam partem traz conse- tores, uma vez que, ao contrário do que
qüências imprevisíveis e gera “enorme in- aduzem, as hipóteses de vias de fato, na
segurança jurídica num tema que tradici- comunidade de Sobradinho/DF, são cons-
onalmente nunca apresentou maiores di- tantes33; noutro giro, a revisitação do
vergências”.31 De anotar-se, ainda sob Código Penal é medida que se impõe,
esse aspecto, que o Supremo Tribunal ante a sua edição de 1940, com altera-
Federal, instado a manifestar-se sobre o ções em 1984, ao lado do advento da
tema, posicionou-se no sentido de que a Constituição Federal em 1988, sendo
regra do art. 17 da Lei de Contraven- de assinalar-se que o ordenamento jurí-
ções Penais não foi alterada pelo art. 88 dico é dotado de unidade, figurando em
da Lei n. 9.099/95; é o que se extrai seu ápice o texto constitucional. A ado-
do julgamento do HC 80617/MG, rel. ção da analogia in bonam partem traz,
Ministro Sepúlveda Pertence, 1a Turma, sim, o benefício marcante de emprestar
votação unânime, publicado no Diário de eficácia ao princípio da isonomia, aten-
Justiça de 04/05/2001, p. 05. dendo, ademais, ao ditame de constru-
ção de uma sociedade livre, justa e soli-
Os ilustres Professores Ada dária.
Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães
Gomes Filho, Antonio Scarance Por derradeiro, o reexame da ques-
Fernandes e Luiz Flávio Gomes, ao colo- tão da ação penal em cada delito con-
carem uma pá de cal na questão, arrema- creto é, a nosso ver e em contraposição
tam seu raciocínio: ao que preconizam os ilustres
doutrinadores, ponto positivo e salutar,
“Em suma, se de um lado o pro- eis que se coaduna com o método ideal
cesso analógico sugerido não apresenta a de interpretação jurídica, o método
virtualidade de trazer benefícios marcantes hermenêutico-concretizador, que “encarna
para a aplicação da nova lei (mesmo a idéia de que a norma jurídica não se
porque são raras as hipóteses de vias de identifica com o seu texto, mas é o resul-
fato), de outro, de sobra, introduz no tado de um trabalho de construção que é
nosso cenário jurídico algo perturbador, designado pela palavra concretização.”34
de conseqüências imprevisíveis. Vamos
ter que repassar todo o Código Penal e É o que vimos buscando fazer.
DOUTRINA 27
Interessante notar que ao dirigir-se cesso Penal), valendo-se do princípio da
à Delegacia de Polícia, a mãe da criança insignificância e do desiderato da pacifi-
já manifestara sua intenção exclusiva de cação social para opinar pelo arquiva-
promover, por intermédio das autorida- mento do processo em relação à contra-
des estatais, a conscientização dos do- venção penal, com arrimo no art. 43, in-
nos do animal no sentido de que evitas- ciso I, do Código de Processo Penal.
sem episódios como aquele enfrentado
por seu filho. Colhemos do histórico da Os argumentos lançados pelo
Ocorrência n. 5703/2004, da 13a Parquet foram acolhidos na sentença
Delegacia de Polícia os seguintes dados, prolatada naqueles autos, assentando-se,
importantes à elucidação do caso (omi- basicamente, que não se vislumbrava “ra-
te-se o nome da genitora do menor): zão jurídica suficiente a justificar a conti-
nuidade do presente feito, haja vista que
“(...) A Sra. Fulana disse que não os elementos colacionados aos autos,
foi a primeira vez que o referido conjugados com o desinteresse da víti-
cão morde um de seus filhos, e por ma, tornam desnecessária qualquer outra
tal motivo resolveu efetuar o regis- prova, mormente quando se observa a
tro desta ocorrência, com o intuito lesividade mínima patenteada nos fatos
de conscientizar os donos da ne- relatados na apuração policial.” O mes-
cessidade de retirar o animal do mo entendimento foi esposado no Pro-
convívio social, pois na sua opinião cesso n. 2004.06.1.004859-8, des-
oferece risco à vida. Disse que não tinado à apuração de fatos subsumidos
tem interesse em processar o pro- às situações normadas do art. 129 do
prietário e quer apenas resolver a Código Penal e do art. 31 da Lei de
situação.” Contravenções Penais e no Processo n.
2004.06.1.005958-5 39 , tendo
Em audiência judicial, o autor do como objeto tão-somente a contravenção
fato foi alertado quanto às suas obriga- penal de omissão de cautela na guarda
ções de bem guardar o animal, tendo a ou condução de animais, dentre tantos
vítima, por sua representante legal, ratifi- outros que tramitaram perante o 1o Jui-
cado o desinteresse na persecução crimi- zado Especial de Sobradinho.
nal. Assim, o representante ministerial
oficiou pelo arquivamento do feito em 1.3 - Perturbação da tranqüilidade
relação à lesão corporal culposa, por
ausência de condição de procedibilida- É bastante comum a incidência, na
de (Lei n. 9.099/95, art. 88, c/c o comunidade de Sobradinho/DF, de con-
art. 43, inciso III, do Código de Pro- flitos gerados por fatos que se submetem
DOUTRINA 29
Fulano também negou ter pratica- preceito normado do art. 74, parágrafo
do os atos que Beltrana relatou.” único, da Lei n. 9.099/95.
DOUTRINA 31
gendo o objetivo de evitarmos futuros li- rifica que a pacificação social será
tígios cíveis. alcançada mediante o afastamento do
Direito Penal. É o que se observou no
É o que ocorreu no Processo n. Processo n. 2004.06.1.007992-3,
2004.06.1.006639-341, em que o em que o Parquet oficiou pelo arquiva-
autor do fato procedeu à composição dos mento do feito, ante a atipicidade da
danos materiais suportados pela vítima, conduta da autora do fato, por incidên-
à ordem de R$ 240,00 (duzentos e cia dos princípios da insignificância e da
quarenta reais), entregando-lhe, na assen- intervenção mínima, assomada à renúncia
tada, cheque naquele valor. O Ministé- expressa da vítima em dar continuidade
rio Público, ante o acordo firmado, à apuração penal, o que se fizera perante
escudou-se na prudência, para recomen- a autoridade policial.
dar o arquivamento do feito, por
atipicidade material e com amparo no O histórico da Ocorrência n.
princípio da insignificância, o que restou 9418/2004, da 13a Delegacia de Po-
acatado pela sentença ali proferida. lícia está a apontar para uma unidade fa-
miliar em momento de transição, que ins-
2.2 - Constrangimento ilegal pira cuidados diversos daqueles que
podem ser oferecidos pelo Direito Pe-
O art. 14642 do Código Penal nal, cuja intervenção poderá acarretar mais
pátrio capitula o crime de constrangimento malefícios do que resultados benéficos,
ilegal, que tem como bem jurídico prote- ao lado de não haver perigo em detri-
gido a liberdade individual de autode- mento da sociedade. São estes os fatos
terminação, vale dizer, a liberdade pes- (omitem-se os nomes das pessoas envol-
soal de fazer ou deixar de fazer aquilo vidas):
permitido ou não vedado pela ordem ju-
rídica vigente, nos termos preconizados “Compareceu a esta DP o Sr. Fu-
pelo princípio geral constitucional da le- lano de Tal, informando-nos que
galidade (art. 5º, inciso I). em data, hora e local citados, teve
uma séria conversa com Sicrana de
Em que pese à gravidade do crime Tal, mãe de seu filho de oito meses
e à ação penal pública incondicionada, de idade (...) Eles resolveram aca-
impondo-se ao Ministério Público, me- bar o relacionamento amoroso há
diante a presença de indícios, agir de algum tempo, mas ainda ficam jun-
ofício (ofertando transação penal ou de- tos às vezes. Sicrana, que é contra
nunciando, se for o caso), existem algu- a separação, já o ameaçou de fazer
mas hipóteses específicas em que se ve- alguma loucura diversas vezes.
DOUTRINA 33
vontade dos particulares, a doutrina bra- Nota-se que no âmbito da filoso-
sileira já obteve grande avanço quando fia do Direito, diz-se que o século XX
informa acerca da necessidade de foi marcado por três grandes revoluções,
releitura de toda a legislação ordinária sendo que atualmente estamos vivendo a
sob a ótica ditada pela axiologia cons- terceira revolução copernicana, que trata
titucional, defendendo a eficácia da invasão do raciocínio hermenêutico,
irradiante dos direitos fundamentais nas quando a filosofia é invadida pela lin-
relações privadas, e a necessidade da guagem.44 Uma das principais conseqü-
atuação do Poder Judiciário na inter- ências dessa revolução é que a jurisdição
pretação segundo os princípios basilares. já não é simples sujeição do juiz à lei,
Contudo, no Direito Penal, o tema da porque a lei já não é só a lei, mas, tam-
eficácia irradiante, embora assuma im- bém, uma análise crítica do seu significa-
portância ímpar, ainda não foi despon- do como meio de controlar sua legitimi-
tada na doutrina e jurisprudência com a dade constitucional.
mesma intensidade.
Contudo, a vivência brasileira de-
A teoria do garantismo penal, de- monstra que os aplicadores do Direito
senvolvida pelo Professor italiano Luigi possuem enorme dificuldade na realiza-
Ferrajoli, emerge isolada na doutrina bra- ção da chamada “filtragem constitucio-
sileira, como suporte teórico àqueles43 que nal” e na “interpretação conforme a Cons-
se aventuraram no tema da efetividade tituição”. Ainda estamos presos ao
dos preceitos constitucionais. Essa teoria paradigma positivista; ainda achamos que
visa à utilização de um sistema normativo ‘texto’ e ‘norma’ são a mesma coisa; ain-
constitucional que cria barreiras limitadoras da ratificamos que o juiz deve aplicar a
e punitivas dos abusos aos direitos fun- lei, doa a quem doer.
damentais.
Nesse contexto, o presente traba-
Tivemos por desafio analisar, sob a lho visou analisar casos envolvendo deli-
luz da jurisdição constitucional moderna, tos de menor potencial ofensivo, julgados
revelada sobretudo pela dimensão obje- perante o 1º Juizado Especial de Com-
tiva dos direitos fundamentais, casos petência Geral de Sobradinho, em que
ocorridos no âmbito do 1o Juizado Es- foram adotadas posturas condizentes com
pecial de Competência Geral de a nova ordem hermenêutica, na defesa da
Sobradinho, visando dar um passo na atividade da jurisdição constitucional.
ruptura dos antigos paradigmas
positivistas e caminhar no sentido de uma Ratificamos o que já foi esposa-
jurisdição constitucional ativa. do na introdução deste ensaio - o fato
Notas
1 Lei n. 9.099/95, art. 61, c/c a Lei n. 10.259/2001, art. 2o. 10 MAGALHÃES FILHO, Glauco Barreira, Hermenêutica jurídica clássica,
2 Vide, dentre tantos, Manoel Messias Peixinho, A Interpretação da Constitui- Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 33.
ção e os Princípios Fundamentais, 3a ed. revista e ampliada, Rio de Janeiro: 11 TJRS, 4a Câmara Criminal, Conflito de Competência n. 70004413951,
Lumen Juris, 2003, pp. 108/109. Relator Desembargador Vladimir Giacomuzzi, DJ de 20/06/2002.
3 Direitos Fundamentais e Relações Privadas, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, 12 Conforme mencionado em sua conferência no I Ciclo de Debates do TJDFT
p. 137. - confira-se nota de pé de página n. 10.
4 Art. 1o, caput, da Constituição Federal de 1988.
13 STRECK, Lenio Luiz, Jurisdição Constitucional e Hermenêutica - Uma Nova
5 MAXIMILIANO, Carlos, Hermenêutica e aplicação do Direito, 16a ed.,
Crítica do Direito, 2a ed. revista e ampliada, Rio de Janeiro: Forense, 2004,
Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 01.
p. 17.
6 COELHO, Fernando L., Lógica jurídica e interpretação das leis, Rio de
14 Idem .
Janeiro: Forense, 1981, p. 182.
15 Sob esse aspecto, Lenio Streck cita Friedrich Muller, na sua obra Direito,
7 FRIEDE, Reis, Ciência do Direito, Norma, Interpretação e Hermenêutica
Linguagem e Violência - Elementos de uma teoria constitucional, Porto Alegre:
Jurídica, 5a ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p. 158.
Fabris, 1997, na obra citada (nota de pé de página n. 15, acima), p. 26.
8 O Professor Menelick de Carvalho Netto, em conferência de abertura no I
16 MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo II, 4a ed.,
Ciclo de Debates do TJDFT “Os direitos fundamentais e o novo milênio”,
Coimbra: Coimbra Editora, 2000, p. 268.
promovido pela Escola da Magistratura do Distrito Federal e Associação dos
17 “§ 2o Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
Magistrados do Distrito Federal, nos dias 21 a 23/09/2004, afirmou que as
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
especificidades do caso concreto é que vão indicar a incidência do princípio;
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”
assim, para o ilustre Professor, a decisão deve dar-se pela sensibilidade do
18 Obra citada (nota de pé de página n. 5), p. 134.
caso, arrematando, ainda, que o processo de concretização é básico para a
19 SARLET, Ingo, A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria
existência da norma.
suspeição do magistrado (no processo civil, penal e trabalhista), 4a ed., Rio 20 É o que Ingo Sarlet denomina de eficácia dirigente dos direitos fundamentais
DOUTRINA 35
21 Na obra conjunta com Gilmar Ferreira Mendes e Inocêncio Mártires Coelho, Em seguida Sicrano questionou seu comportamento, pois se moram sob o
Hermenêutica Constitucional e Direitos Fundamentais, Brasília: Brasília Jurídica, mesmo teto exige respeito de sua família. A Sra. Fulana, então, confirmou que
2000, p. 154. tinha alguém, o que o deixou nervoso, levando-o a avançar sobre ela. Con-
22 “Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: firma que foi controlado pelos filhos, pois havia perdido a cabeça, haja vista
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, querer contornar a situação com a venda da casa e sua família não aceitar tal
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis acordo.” (Ocorrência n. 7860/2004 - 13a Delegacia de Polícia - Sobradinho/
de menor complexidade e infrações de menor potencial ofensivo, mediante DF).
os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em
27 Neste caso, o representante ministerial trouxe como fundamentos específicos
lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro
os princípios da insignificância e da pacificação social, o que foi acatado na
grau”.
sentença.
23 Ver, dentre tantos, Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho,
28 Na obra citada (ver nota de pé de página n. 25, acima), p. 109.
Antonio Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes, Juizados - Comentários à
29 Na obra citada (ver nota de pé de página n. 25, acima), p. 216.
Lei 9.099, de 26.09.1995, 4a ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribu-
30 Art. 100, § 1o do CP: “A ação pública é promovida pelo Ministério
nais, 2002, pp. 72/73. Ver, também, Damásio E. de Jesus, Lei dos Juizados
Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido
Especiais Criminais Anotada, 8a ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 13.
ou de requisição do Ministro da Justiça.”
24 “Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:
Art. 24, caput, do CPP: “Nos crimes de ação pública, esta será promovida
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, se o fato
por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de
não constitui crime.”
requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de
25 De acordo com Francisco de Assis Toledo, a analogia é “uma forma de
quem tiver qualidade para representá-lo.”
suprirem-se as lacunas da lei”, esclarecendo que a analogia in bonam partem
31 Na obra citada (ver nota de pé de página n. 25, acima), p. 215.
“encontra justificativa em um princípio de eqüidade” (Princípios Básicos de
32 Idem.
Direito Penal, 4a ed., São Paulo: Saraiva, 1991, pp. 26/27).
33 Nos meses de abril a setembro de 2004, 86 (oitenta e seis) processos
26 O histórico da ocorrência policial está assim descrito (omitimos os nomes das
envolvendo vias de fato foram distribuídos aos dois Juizados de Competência
partes envolvidas): “Compareceu a esta DP a Sra. Fulana de Tal, informando-
Geral de Sobradinho/DF. O total de processos criminais, no mesmo período,
nos que em data, hora e local citados, seu ex companheiro, Sicrano de Tal,
foi da ordem de 1.412 (um mil, quatrocentos e doze), o que está a demons-
de quem está separada de corpos há cerca de 04 anos, após ouvir uma
trar que a incidência de vias de fato ultrapassa o índice dos 5% (cinco por
conversa telefônica dela, iniciou uma discussão, acusando-a de traição. Em
seguida partiu para agressão, sendo controlado por seus filhos que estavam em cento) de todas as ocorrências. Dados fornecidos, informalmente, pela 13a
casa no momento do ocorrido. A Sra. Fulana não lesionou-se (sic). Delegacia de Polícia.
Da Testemunha: Em entrevista com Beltrana de Tal, filha de ambos, esta nos 34 Manoel Messias Peixinho, op. cit., p. 100.
informou que seu pai, após forçar uma discussão com sua mãe, tentou agredi- 35 “Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou
la fisicamente, sendo controlado pelos filhos, os quais não deixaram ele (sic) não guardar com a devida cautela animal perigoso:
avançar sobre ela. Disse, também, que freqüentemente seu pai a ofende e por Pena - prisão simples, de 10 (dez) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
qualquer motivo vai atrás de algo para agredi-los em casa, sem consumar tal Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
atitude. a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia a pessoa
Do Autor: Em entrevista com o Sr. Sicrano de Tal, este informou-nos (sic) inexperiente;
que sua ex companheira está mantendo um relacionamento amoroso com b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;
outro homem, e nesta data, surpreendeu-a em uma conversa íntima com ele. c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia.”
vocadamente de princípio da legalidade, citam-se Tourinho Filho e Afrânio e ausentou-se por alguns instantes, ocasião em que este foi abalroado por um
Silva Jardim. Para eles, havendo indícios de autoria, o Ministério Público deve outro veículo, até aquele momento não identificado, haja vista seu condutor
oferecer denúncia, não se concebendo que, praticado um fato criminoso, ter-se evadido do local, com objetivo de fugir de suas responsabilidades.
possa o seu autor não ser perseguido por razões de conveniência. O delito Informou ainda que uma conhecida presenciou tal fato e anotou a placa do
afronta o sistema legal vigente, que para sua garantia exige, se ficar provada a veículo evasor, (...), passando-lhe posteriormente tal informação. (...)” Na
prática delituosa em regular processo, a punição do autor do crime, o que só Informação n. 297/2004, da Seção de Delitos de Trânsito da 13a DP,
é possível se houver oferecimento de denúncia. consta que o autor do fato “informou que no dia em questão esteve nas
37 Nesse sentido, cita-se Frederico Marques, seguindo Euclides Custódio da proximidades da Panificadora (...), localizada na (...), e deixou seu veículo
Silveira, admitindo haver consagração com atenuações do princípio da (...) estacionado defronte ao referido estabelecimento comercial. Minutos
obrigatoriedade, embasando sua opinião no art. 28 do CPP; (Tratado de depois saiu do local e não se recorda de qualquer colisão, não observou danos
Direito Processual Penal, v. II, São Paulo: Saraiva, 1980, p. 88); Jorge em seu veículo, entretanto, buscará um entendimento com a comunicante no
Alberto Romeiro, Da ação penal, 2a. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. sentido de verificar se realmente houve o acidente e desta forma ressarcirá em
98; Gama Malcher, Manual de processo penal brasileiro, v. 1, Rio de Janeiro: todos os prejuízos na oportunidade lhe foi causado (sic)”.
Freitas Bastos, 1980. v. 1, pp. 309/310). 42 “Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
38 FERNANDES, Antonio Scarance, Processo Penal Constitucional, 3ª ed. , depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p.196. resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
39 Observamos, a propósito, que este feito esteve sob a presidência do Exmo. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.”
Sr. Juiz Paulo Afonso Cavichioli Carmona, que respondia pelo 2o Juizado 43 RANGEL, Paulo, Investigação Criminal Direta pelo Ministério Público, Rio
40 “Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqüilidade, por acinte ou por 44 Afirmação feita pelo Professor Lênio Luiz Streck em conferência no I Ciclo
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.” 45 Pablo Neruda, do prólogo de Las piedras de Chile, in Presente de um Poeta,
41 A Ocorrência n. 7045/2004, da 13a Delegacia de Polícia traz em seu tradução de Thiago de Mello, São Paulo: Vergara & Ribas Editoras, 2001,
histórico que os fatos se deram desta maneira: “Segundo relato da comunicante/ p. 77.
DOUTRINA 37
38 REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT
DA POSSIBILIDADE DE
TRANSAÇÃO PENAL NAS AÇÕES
PENAIS DE INICIATIVA PRIVADA
ORIANA PISKE DE AZEVEDO Introdução
MAGALHÃES PINTO
Juíza de Direito do Tribunal de Justiça
O presente estudo tem por objeti-
do Distrito Federal e Territórios; Mes-
tre em Direito pela Universidade Fede- vo analisar o instituto da transação penal
ral de Pernambuco-UFPE. e a possibilidade ou não da sua aplica-
ção no âmbito das ações penais de inici-
BISMARCK SOARES RODRIGUES, ativa privada. Para tanto, procuramos
CLÁUDIO NUNES FARIA, CLÓVIS obter a visão de alguns operadores do
RIBEIRO CHAVES JÚNIOR,
Direito, como Juízes, Promotores, Dire-
GERSONISE BASTOS VALADÃO,
JOÃO LUIS ZORZO, LEONARDO tores de Secretaria, Analistas e Técnicos
MENDES AMORIM, LIDIANE DE Judiciários, com o fito de realizar uma
OLIVEIRA DANTAS SANTIAGO, reflexão sobre essa diversidade de pen-
MARIA APARECIDA LIMA samentos.
ALGARTE, MARIA LÍGIA
GONÇALVES TEIXEIRA. O tema em apreço é de relevante
importância para o Direito Penal e Pro-
cessual Penal. Encontra-se, também, ex-
tremamente jungido ao Direito Constitu-
cional.
DOUTRINA 39
à forma de soluções de conflitos, mas, mentais, a cidadania e a dignidade da
ao contrário, implicitamente pretende pessoa humana. Verificamos que o aludi-
possibilitar a composição dos litígios de do Diploma Constitucional deu um pas-
um modo geral. so marcante na história do Judiciário, ao
traçar e imprimir as balizas de um dos
O Poder Judiciário caminha atu- instrumentos mais eficientes e eficazes para
almente ao encontro de formas alterna- o exercício democrático da cidadania -
tivas de resolução das demandas. E os Juizados Especiais (art. 98, I).1
dentro desse raciocínio, insere-se, em
última ratio, toda a filosofia e o próprio O Poder Judiciário tem sido ex-
idealismo daqueles que estão empenha- posto à questão social em sua expressão
dos em mudanças razoáveis e factíveis bruta, tomando conhecimento dos dra-
para que outras perspectivas e outros mas vividos pelos segmentos mais humil-
horizontes se abram, para a efetividade des da população, dos seus clamores e
da Justiça, com a utilização de meios e expectativas em relação à Justiça. Nesse
instrumentos alternativos, como a conci- processo contemporâneo de crescente
liação, a transação, a mediação e a ar- litigiosidade, a qual precisa ser necessa-
bitragem, com todos os desdobramen- riamente solucionada a fim de evitar uma
tos deles derivados. verdadeira ebulição social, inflamada
pelas frustrações, rancores e descrédito
1 Importância dada aos Juizados nas instituições, é que os Juizados Espe-
Especiais na Carta Constitucional de ciais têm sido um marco no conjunto das
1988 modificações técnicas concebidas no in-
tuito de aproximar a lei e a sociedade
A Constituição brasileira de respondendo às contínuas demandas de
1988, já no seu preâmbulo, destacou a uma parcela da sociedade submersa e,
justiça como um dos valores supremos de até aquele momento, excluída social e
uma sociedade fraterna, pluralista e sem juridicamente.2
preconceitos, fundada no comprometi-
mento com a solução pacífica dos confli- Como expressão de um Judiciário
tos, salvaguardando o exercício dos di- que visou estender sua malha de presta-
reitos individuais e coletivos e suas ga- ção jurisdicional, buscando atingir além
rantias. da litigiosidade contida, os Juizados
passaram a se constituir no locus da cria-
A República Federativa brasileira, ção jurisprudencial do direito, num ins-
constituída em Estado democrático de trumento de aproximação da sociedade
direito, erigiu, dentre seus pilares funda- brasileira.
DOUTRINA 41
second best, mas também melhor do que periculosidade do agente. Tais medidas,
a Justiça ordinária contenciosa”.5 antes vedadas na área criminal quanto às
ações penais públicas, passaram a ser
Na conciliação, as partes têm uma admitidas pela Constituição Federal nas
posição mais proeminente, devido a causas de competência dos Juizados Es-
participarem da solução do conflito. Na peciais (art. 98, I). Com isso mitiga-se
verdade, a decisão é um compromisso o princípio da obrigatoriedade, que era
cujos termos, com estímulo do concilia- de aplicação absoluta nas ações penais
dor, são produzidos pelos envolvidos. públicas. Possibilitam elas, no bojo do
Trata-se de um método não adversarial, procedimento, uma rápida solução do
na medida em que as partes atuam jun- conflito de interesses, com a aquiescên-
tas e de forma cooperativa. Portanto, a cia das partes envolvidas.8
conciliação representa estratégia de atu-
ação que leva as próprias partes a en- Com efeito, a Lei no 9.099/95,
contrarem a melhor solução para o lití- no que concerne ao Juizado Especial
gio, cabendo ao juiz, togado ou não, e Criminal, quebra com o rígido sistema da
ao conciliador informarem às partes a obrigatoriedade, passando a admitir a
importância e as vantagens positivas “discricionariedade regulada pela lei”.9
desse instituto. Não se trata de aceitação do princípio
da oportunidade, mas de mitigação da
A finalidade primordial do Juiza- obrigatoriedade por via procedimental.
do Especial é, na medida do possível, Acrescente-se que, com o procedimen-
com um mínimo de formalidades, buscar to sumaríssimo previsto para os Juizados
a conciliação entre as partes,6 e os prin- Especiais Criminais (delitos de menor
cípios insculpidos no artigo 2o da Lei no potencial ofensivo), promoveu-se restri-
9.099/95 poderiam ser apresentados ção acentuada de recursos, possibilitan-
como princípios da conciliação.7 do a celeridade e simplicidade aos pro-
cessos.
No que tange ao Juizado Especial
Criminal, para compor o dano social re- 3 Justiça Penal Consensual
sultante do fato, procura-se prever a sua
reparação imediata, ao menos em parte, A Lei no 9.099/95 não se con-
com a composição, ou a transação, como tentou em importar soluções de outros
preconizado na doutrina moderna, que ordenamentos mas - conquanto por eles
as tem como suficientes para a responsa- inspirado - cunhou um sistema próprio
bilidade penal do autor de infrações me- de justiça penal consensual. Senão, veja-
nores quando não indiquem estas mos: a Lei 9.099/95, que instituiu os
DOUTRINA 43
que suportem os gastos do mode- favor das vítimas de delitos (pois permi-
lo clássico de Judiciário.”10 te reparação dos danos imediatamente
em muitos casos ou a satisfação moral).
Os Juizados Especiais Criminais têm Tornou-se possível a ressocialização do
a competência para a conciliação, o julga- infrator, visto que sente com rapidez as
mento e a execução das infrações penais conseqüências do seu ato. Visivelmente,
de menor potencial ofensivo. São consi- ademais, está descongestionando os juízos
derados delitos de menor potencial ofen- e Tribunais Criminais.
sivo, para efeitos da Lei no 9.099/95
(art. 61), as contravenções penais e os A atuação de conciliadores leigos
crimes a que a lei comine pena máxima não na transação penal - e, se as leis estadu-
superior a um ano, excetuados os casos ais assim quiserem, a intervenção do juiz
em que a lei preveja procedimento espe- leigo com alguma função jurisdicional - é
cial. A Lei no 10.259/2001 aumentou outra inovação brasileira possibilitada pela
a competência dos Juizados Especiais para experiência vencedora da participação
processar e julgar os crimes cuja pena má- popular nos Juizados Especiais.
xima não seja superior a dois anos, ou multa
(parágrafo único do art. 2o). Nesse sen- A preocupação com a vítima é
tido é o Enunciado 46 - “A Lei no postura que se reflete em toda a lei que
10.259/2001 ampliou a competência se ocupa da transação e da reparação
dos Juizados Especiais Criminais dos Es- dos danos. No campo penal, a transa-
tados e Distrito Federal para o julgamento ção homologada pelo juiz, que ocorre em
de crimes com pena máxima cominada até grande parte dos casos, configura causa
dois anos, excetuados aqueles sujeitos a extintiva da punibilidade, o que repre-
procedimento especial.” 11 senta outra inovação do nosso sistema.
DOUTRINA 45
É, indiscutivelmente, a via mais pro- o consenso. Ao lado do clássico
missora da tão esperada príncípio da verdade material, agora te-
desburocratização da Justiça Criminal mos que admitir também a verdade
(grande parte do movimento forense cri- consensuada. A preocupação central já
minal poderá ser reduzido), ao mesmo não deve ser só a decisão (formalista)
tempo em que permite a pronta resposta do caso, senão a busca de solução para
estatal ao delito, a imediata (se bem que o conflito. A vítima, finalmente, começa
na medida do possível) reparação dos a ser redescoberta porque o novo siste-
danos à vítima, o fim das prescrições ma se preocupou precipuamente com a
(essa não corre durante a suspensão), a reparação dos danos. Em se tratando de
ressocialização do autor dos fatos, sua infrações penais da competência dos
não-reincidência, uma fenomenal econo- juizados criminais, de ação privada ou
mia de papéis, horas de trabalho etc. pública condicionada, a composição ci-
vil chega ao extremo de extinguir a puni-
Além de tudo, é instituto que será bilidade (art. 74, parágrafo único).
aplicado imediatamente por todos os
juízes (não só os do Juizado Criminal), Os operadores do direito, além da
não requer absolutamente nenhuma estru- necessidade de se prepararem para a
tura nova e permitirá que a Justiça Cri- correta aplicação da lei, devem, também,
minal, finalmente, conte com tempo dis- estar preparados para o desempenho de
ponível para cuidar com maior atenção um novo papel: o de propulsores da
da criminalidade grave. concilação no âmbito penal, sob a inspi-
ração dos princípios orientadores dos
A Lei no 9.099/95, como se per- Juizados Especiais.
cebe, inovou profundamente em nosso
ordenamento jurídico-penal. Cumprindo 4 Das medidas despenalizadoras
determinação constitucional (CF, art.
98, I), o legislador está disposto a pôr A Lei no 9.099/95 não cuidou
em prática um novo modelo de Justiça de nenhuma descriminalização, isto é, não
Criminal. É uma verdadeira revolução ju- retirou o caráter ilícito de nenhuma infra-
rídica e de mentalidade, porque quebra ção penal, mas disciplinou, isso sim, qua-
a inflexibilidade do clássico princípio da tro medidas despenalizadoras (medidas
obrigatoriedade da ação penal. Doravante penais ou processuais alternativas que
temos que aprender a conviver também procuram evitar a pena de prisão):
com o princípio da discricionariedade
(regrada) na ação penal pública. Abre- 1o) nas infrações de menor poten-
se no campo penal um certo espaço para cial ofensivo de iniciativa privada ou pú-
3o) as lesões corporais culposas ou le- Três delas são de natureza proces-
ves passam a requerer representação (art. 88); sual e penal ao mesmo tempo: a transa-
ção, a representação e a suspensão con-
4o) os crimes cuja pena mínima não dicional do processo. São institutos que,
seja superior a um ano permitem a sus- em primeiro lugar, produzem efeitos ime-
pensão condicional do processo (art. diatos dentro da fase preliminar ou do
89). Ressalte-se que a Jurisprudência processo (nisso reside o aspecto proces-
tem entendido que, com o advento da sual). De outro lado, todos contam com
Lei nº 10.259/01, a suspensão condi- reflexos na pretensão punitiva estatal (aqui
cional do processo é possível para os está a face penal). Feita a transação em
crimes cuja pena mínima seja até 2 anos. torno da aplicação imediata de pena al-
ternativa, resulta afastada a pretensão
O que há de comum, no que tange punitiva estatal original. No que concerne
a esses institutos despenalizadores, é o à representação, basta lembrar que a re-
consenso (a conciliação). núncia ou a decadência levam à extinção
da punibilidade. Por fim, quanto à sus-
No que tange à descarcerização pensão do processo, passado o período
(que consiste em evitar a prisão cautelar) de prova sem revogação, desaparece a
impõe-se a leitura do artigo 69, pará- possibilidade da sanção penal. Uma das
grafo único, que diz: “Ao autor do fato medidas despenalizadoras (composição
que, após a lavratura do termo, for ime- civil - extintiva da punibilidade penal, art.
diatamente encaminhado ao Juizado ou 74) como se vê, é de natureza civil e
assumir o compromisso de a ele compa- penal ao mesmo tempo.
recer, não se imporá prisão em flagrante,
nem se exigirá fiança”. 5 Transação Penal
DOUTRINA 47
ta Constitucional brasileira de 1988. mediante acordo entre o Ministério Pú-
Há, também, a aparente impressão de que blico e o autor da infração, com assistên-
a presunção de inocência tenha sofrido cia da defesa técnica e controle judicial.
um golpe mortal. Entretanto, a transação
já estava prevista na Constituição (art. A transação penal é instituto de-
98, inciso I), bastava apenas a regula- corrente do princípio da oportunidade
mentação, o que veio a acontecer com a de propositura da ação penal, o que
publicação da Lei no 9.099/95. Cabe confere ao seu titular, o Ministério Pú-
ressaltar que o novo instituto não vulnera blico, a faculdade de dispor da ação
quaisquer destes princípios constitucio- penal, ou seja, de promovê-la, sob cer-
nais, como veremos a seguir. Ao contrá- tas condições, nas hipóteses previstas
rio, cuida-se tão-somente de um instituto legalmente, desde que haja a concor-
do novo modelo de Justiça Criminal. dância do autor da infração e a homo-
logação judicial. Cabe registrar que a
No sistema penal embora não hou- transação está autorizada na Constitui-
vesse a previsão expressa acerca do prin- ção Federal no que tange às infrações
cípio da obrigatoriedade da ação penal de menor potencial ofensivo (art. 98,
pública, tal se abstraía do exame siste- I). A transação penal instituída pela Lei
mático das disposições do Código de no 9.099/95
Processo Penal, especificamente os arti-
gos 24 e 42. “possui natureza de negócio jurídi-
co civil, firmado entre o Ministério
Com a Lei dos Juizados Especi- Público e o autor do fato, e que as
ais, a transação apresentou-se como ‘penas’ de multa e restritivas de
uma exceção à regra da direitos, estabelecidas por força
indisponibilidade e obrigatoriedade da desse negócio jurídico nada mais
ação penal pública com base na são do que as prestações assumi-
discricionariedade regulada. das pelo autor do fato. Quanto à
sentença estabelecida pelo parágra-
Visando preservar o princípio da fo 4o do artigo 76 da Lei no
obrigatoriedade, mitigando-o com o da 9.099/95, não é condenatória,
discricionariedade regulada, afastou-se o não impõe pena, mas somente ho-
princípio puro da oportunidade atribu- mologa o acordo firmado entre as
indo-se à lei a seleção das hipóteses de partes e forma o título executivo
transação penal (art. 61 e 76, da Lei no judicial da obrigação assumida pelo
9.099/95) com aplicação imediata da autor do fato, tendo por conseqü-
pena de multa ou restritiva de direitos ência a exclusão do processo-cri-
DOUTRINA 49
Público e, em decorrência, não homolo- redundar na imediata aplicação de pena,
gará a transação. mas sim naquilo que foi objeto da transa-
ção, ou seja, na continuidade do proces-
Desta forma, se o juiz não acolher so penal.
a proposta do Ministério Público pode-
rá aplicar, ao nosso ver, o artigo 28 do Assim, descumprido pelo autor do
Código de Processo Penal, em face do fato a sua prestação estabelecida na tran-
princípio da oportunidade regrada. As- sação penal, desfaz-se o acordo, com a
sim, à exceção do § 1º do artigo 76 da conseqüente possibilidade de o Minis-
Lei nº 9.099/95, o juiz não poderá tério Público oferecer denúncia, ou mes-
aplicar, de ofício, pena diversa da pro- mo adotar outra providência de natureza
posta do Ministério Público, sem que persecutória, como requisitar diligências
incorra em ofensa ao devido processo investigatórias ou, dada a eventual com-
legal, bem como ao princípio da impar- plexidade do caso, a instauração de in-
cialidade do juiz e ao sistema acusatório. quérito policial. Vislumbra-se, na hipó-
tese, que se retoma a situação jurídica
Caso o juiz não homologue a tran- anterior à celebração do acordo (transa-
sação realizada, por análise de sua opor- ção penal).
tunidade, adentrando na esfera da
discricionariedade das partes, caberá Por outro lado, verifica-se que a
mandado de segurança por parte do transação penal, prevista no artigo 76
Ministério Público, bem como habeas da Lei no 9.099/95, difere do modelo
corpus por parte do autor do fato. americano, visto que o “Ministério Pú-
blico não pode deixar de oferecer acu-
No que concerne à sentença ho- sação em troca da confissão de um crime
mologatória de transação penal, a Lei no menos grave ou da colaboração do sus-
9.099/95 afastou os seguintes efeitos peito para a descoberta de co-autores,
secundários: reincidência; efeitos civis e como ocorre no sistema da plea bargaining
antecedentes criminais. dos Estados Unidos da América”.14 Com
efeito, nos Estados Unidos vigora o prin-
Saliente-se que a transação não tem cípio da oportunidade da ação penal, o
por objeto imediato deixar de punir o promotor detém poder discricionário,
suposto autor de uma infração penal, mas, podendo, inclusive, deixar de intentá-la.
sim, a não propositura da ação penal,
evitando-se, de maneira secundária, os O instituto da plea barganing con-
efeitos deletérios daí resultantes. Nestes siste na imposição de pena referente a
termos, a rescisão do acordo não pode delito de menor potencialidade ofensi-
DOUTRINA 51
Desta forma, verifica-se que na penal de iniciativa privada. De uma for-
transação penal há desvinculação da ad- ma geral, nossa doutrina atribui ao
missibilidade de culpa e da instauração streptus judicii - isto é, ao escândalo do
da ação penal, bem como tem amparo processo - a razão de ser da ação penal.
constitucional, e seu procedimento está Assim, a iniciativa da ação penal priva-
em harmonia com os princípios da ino- da caberia exclusivamente à vítima ou seu
cência e do devido processo legal. Apre- representante legal a fim de que os mes-
senta-se, ainda, como um instituto que mos avaliem a conveniência ou não da
traça um novo modelo de Justiça persecução criminal, levando-se em con-
consensuada que, de formar singular, con- sideração a possibilidade de que muitas
segue ao mesmo tempo observar a digni- vezes a tramitação de uma ação penal
dade da pessoa humana e a efetividade poderá trazer dano maior do que a pró-
da Justiça. pria conduta criminosa ou do que a im-
punidade do criminoso. Há ainda alguns
6 Da ação penal de iniciativa privada doutrinadores que estendem a razão de
ser da ação penal de iniciativa privada
Ação Penal privada é, segundo sob os argumentos que nos casos excep-
José Frederico Marques, aquela em que cionalmente previstos em lei haveria “te-
o direito de acusar pertence, exclusiva nuidade da lesão à sociedade” e/ou “as-
ou subsidiariamente, ao ofendido ou a sinalado caráter privado do bem jurídico
quem tenha qualidade para representá- tutelado.”19-20
lo.17
Tal posicionamento presente na
De forma mais esmerada, e eviden- maior parte de nossos doutrinadores,
ciando a exclusividade do jus puniendi, embora razoável, data venia, não é su-
Fernando Capez vai além na conceituação ficiente para uma compreensão dos fun-
da ação penal de iniciativa privada, sem damentos da ação penal de iniciativa
contudo se opor ao conceito já transcrito: privada. Os fundamentos desta estão
nos princípios gerais formadores do
“É aquela em que o Estado, titular direito penal, em especial aqueles da
exclusivo do direito de punir, transfere a intervenção mínima, da lesividade e da
legitimidade para a propositura da ação insignificância, da fragmentariedade.
penal à vítima, ou a seu representante le- Também os objetivos do Direito Penal
gal.” 18 que são a segurança social/pacificação
social e a manutenção da ordem públi-
Nos termos apresentados, pode- ca através da tutela de bens jurídicos
mos aprofundar nos fundamentos da ação específicos - fins últimos do direito
DOUTRINA 53
“Impõe-se observar que não se Em suma, se verificarmos detida-
pode pretender justificar a existên- mente os diversos dispositivos penais que
cia da ação privada ou o afasta- tipificam os crimes cujas ações se proce-
mento do Ministério Público da dem mediante queixa, verificaremos que
titularidade da ação penal com em algumas delas é possível alcançar a
base em uma suposta exclusivida- pacificação social e a manutenção da or-
de do interesse individual atingido dem pública sem qualquer intervenção
por ocasião das infrações penais a estatal, ou, ainda, com a aplicação de
ela submetidas. outros ramos do Direito. Neste caso, a
Em primeiro lugar, porque, diante aplicação do Direito Penal só se justifica
da natureza fragmentária e subsidi- a partir do momento em que, esgotados
ária do Direito Penal, não há como todos os recursos, a vítima (ou seu re-
aceitar a existência de qualquer presentante legal) solicita a prestação da
norma penal incriminadora que não jurisdição penal.
tenham por objeto a tutela de bens
e valores cuja proteção seja efeti- 7 Da possibilidade de transação
vamente exigida pela comunidade, penal nas ações penais de iniciativa
isto é, que não se dirija a condutas privada
socialmente reprováveis por repro-
vadas. Assim, somente em razão da O art. 98, I da Constituição Fe-
existência do tipo penal, já se evi- deral previu a criação dos Juizados Es-
dencia o interesse público peciais Criminais, admitindo a transação
configurador da reprovabilidade da nas hipóteses previstas em lei ordinária,
conduta. esta a de nº 9.099/95. Por sua vez,
Em segundo lugar, porque a inter- referida lei estabeleceu, em princípios
venção do Direito Penal somente se próprios (art. 62), o procedimento a ser
legitima enquanto ultima ratio, ou adotado em relação a todos os crimes
seja, quando insuficientes quaisquer sujeitos ao seu regime, quais sejam, os de
outras formas de intervenção estatal pena máxima não superior a dois anos
no controle das ações nocivas ao (Lei nº 10.259/2001). Dessa forma,
corpo social e comunitário. Por isso, não se pode olvidar que os crimes cuja
revelando seu caráter de ação tenha natureza privada incluíram-se
subsidiariedade, a norma penal so- dentre esse rol.
mente deve abranger conduta para
as quais, previamente, outras moda- O artigo 76 da Lei no 9.099/95
lidades de intervenção não se mos- estabelece que havendo representação ou
traram comprovadamente eficazes.” tratando-se de crime de ação penal pú-
DOUTRINA 55
deixar a este lesado somente as duas al- quia, visto que nossa Constituição é rígi-
ternativas tradicionais: ou o oferecimento da, é pacífico que as normas infra-cons-
de queixa-crime ou a renúncia. titucionais devem obedecer aos princípi-
os-força do texto magno, dentre os quais
Ainda que seja fundamentado se insere o da igualdade.
numa conhecida regra de hermenêutica,
segundo a qual na clareza da lei a inter- Abrir mão da interpretação literal
pretação deve cessar, o raciocínio dos e isolada do artigo 76 da Lei 9.099/
que consideram inaplicável a transação 95 significa deixar fluir a interpretação
penal nas ações penais de iniciativa pri- lógica, teleológica e sistemática da lei,
vada peca por um excessivo positivismo aliada à essencial interpretação segundo
jurídico. Tirante a tentação de se recorrer a Constituição para, conforme leciona
ao sofisma, e afirmar que a dificuldade Francisco Ferrara, “descobrir o conteúdo
reside justamente em identificar onde a real da norma jurídica, determinar com
lei é clara, o primeiro ponto que se deve toda a plenitude o seu valor, penetrar o
ressaltar para infirmar o raciocínio acima mais que possível na alma do legislador,
exposto diz respeito às próprias técnicas reconstruir o pensamento legislativo.”27
de interpretação.
Vale destacar o Enunciado 49 do
Com efeito, no atual estágio do XI Encontro do Fórum Permanente de
desenvolvimento do direito, não é ad- Coordenadores de Juizados Especiais do
missível a mera aplicação de um dado Brasil (FONAJE), realizado em março
silogismo, fundado numa dada norma e, de 2002, a seguir:
a partir daí, afirmar uma solução absoluta
e supostamente irrefutável. Em verdade, “Enunciado 49 - Na ação de ini-
a interpretação em sistemas jurídicos com- ciativa privada cabe a transação
plexos jamais pode ser empreendida com penal e suspensão condicional do
um ferramental tão limitado, exatamente processo, inclusive por iniciativa do
porque se trata da aplicação de uma re- querelante.
gra que, com o perdão do truísmo, se
insere num sistema, isto é, num conjunto A despeito de render nossas ho-
de normas coordenadas entre si. menagens às doutas posições anteriores,
consideramos que não pode o querelan-
Como do conceito de coordena- te propor a aplicação da transação pe-
ção que caracteriza a relação interna das nal, pois não está legitimado a isso, na
normas que compõem o sistema jurídico medida em que não recebeu do Estado
nacional não é possível retirar a hierar- essa autorização. Ademais, é importante
DOUTRINA 57
ativa privada, deve ser de titularidade forma, a aplicação da transação penal nas
exclusiva do Ministério Público, por este ações de iniciativa privada ancora-se nos
ser o defensor do interesse social. Como princípios da igualdade e da
se diz atualmente, o Parquet é a própria proporcionalidade.
sociedade em Juízo. Nesse sentido, so-
mente esta Instituição tem a legitimação Quanto à legitimidade do Minis-
necessária para iniciativa de tamanha im- tério Público, não se pode afastar sua
portância. Neste ponto, surge o função constitucional de fiscal do cum-
questionamento acerca da necessidade ou primento das Leis. Se, inovadora, a von-
não da autorização do querelante para tade e o objetivo da Lei nº 9.099/95
que se possa efetivar a aplicação da tran- foi criar ferramentas fundamentalmente
sação penal. para a pacificação social, podando a
imposição de pena e os efeitos desta
Data venia, pensamos que a neces- decorrentes, necessário por imposição
sidade de autorização do querelante constitucional que o Ministério Público
macularia um instituto de natureza públi- zele por seu cumprimento. Assim, pro-
ca, à medida que o subordinaria à vonta- gressivamente esgotados os esforços para
de de um particular. Ademais, continu- se obter a composição civil e a repara-
ar-se-ia a tratar desigualmente delitos que ção do dano, de imediato o Ministério
o legislador entendeu de mesmo grau de Público oferecerá, observando-se os re-
periculosidade, atribuindo, inclusive, o quisitos, a transação penal ao autor de
mesmo quantum de pena. Chegar-se-ia delito de ação privada, sobretudo por
ao absurdo de admitir-se que, para ca- estar, nesse momento, agindo consoante
sos idênticos, as providências do Esta- as funções que lhe foram conferidas pelo
do, exclusivo detentor do jus puniendi, art. 129 da Constituição Federal. Im-
pudessem ser distintas. Estar-se-ia crian- portante ressaltar que isso em nada pre-
do mais uma condição subjetiva sem pre- judicaria ação civil no Juízo competente.
visão legal, extrínseca ao autor do fato e
prejudicial ao mesmo, não condizente com 8 Conclusões
os princípios norteadores da Lei nº
9.099/95 e muito menos com o da re- A Lei dos Juizados Especiais alte-
serva legal. Não se pode permitir que o rou por completo o sistema processual
interesse particular sobreponha-se ao penal no Brasil. Estima-se que em torno
público, até porque, em última análise, de 70% dos crimes previstos no Códi-
toda a matéria penal, mesmo aquelas re- go Penal estejam agora regulados por ela.
lacionadas às ações penais de iniciativa A própria distribuição da Justiça modi-
privada, são de interesse público. Desta ficou-se, uma vez que se resolvem as con-
DOUTRINA 59
gal. A uma, pois não há assunção da Finalmente, entendemos que a pro-
culpabilidade pelo autor do fato. A posta de transação penal pelo Ministério
duas, visto que tal instituto Público nas ações privadas se coaduna com
despenalizador, obedece o preceito os princípios norteadores da Lei dos Juiza-
constitucional do artigo 98, I da Cons- dos Especiais e tem, também, fundamento
tituição Federal. na Constituição Federal (art. 98, I).
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Notas
1 BRASIL. Constituição 1988. Brasília: Senado Federal, 2000. p. 100. 6 SALOMÃO, Luis Felipe. Roteiro dos Juizados Especiais Cíveis. Rio de Janeiro:
2 VIANNA, Luis Werneck et. al. A judicialização da política e das relações Destaque, 1997. p. 42.
sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1999. 7 COSTA E FONSECA, Ana Carolina da. Considerações sobre Juizados
3 CARDOSO, Antônio Pessoa. Justiça alternativa: Juizados Especiais. Belo Especiais. Revista dos Juizados Especiais, Doutrina – Jurisprudência, Tribu-
Horizonte: Nova Alvorada, 1996. p. 95. nal de Justiça do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n. 28-29, abr./ago.,
4 HIGHTON, Elena I.; ALVAREZ, Gladys S. Mediación para resolver 2000, p. 32.
conflictos. Buenos Aires: Ad Hoc, 1995. p. 24. 8 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, juris-
5 CAPPELLETTI, Mauro. O acesso à Justiça e a função do jurista em nossa prudência, legislação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997. p.27.
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Revista dos Tribunais, 1997. p. 177. 22 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. Belo Horizonte:
11 Enunciados Cíveis e Criminiais do Forum Permanente de Juízes Conciliadores Del Rey, 2002. p. 91/92.
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil, atualizado até novembro 23 JESUS, Damásio Evangelista de. Lei dos Juizados Especiais Criminais anota-
12 PAIVA, Mario Antonio Lobato de. A Lei dos Juizados Especiais Criminais. 24 MIRABETE, Júlio. Juizados Especiais Criminais. 2. ed. São Paulo: Atlas,
13 Idem, p. 50. 25 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: comentários
14 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei no 9.099, de 26.09.95. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. p.
à Lei n o 9.099, de 26.09.1995. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 122-123.
1996. p. 63. 26 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Juizados Especiais Cíveis e Criminais
15 PAIVA, Mario Antonio Lobato de. A Lei dos Juizados Especiais Criminais. anotadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 67.
Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 56. 27 FERRARA, Francisco Ferrara. Interpretação e aplicação das leis. 4. ed.,
16 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: comentários Coimbra, 1987.
à Lei no 9.099, de 26.09.1995. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 28 CONCLUSÕES DA COMISSÃO NACIONAL DE INTERPRE-
17 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Millennium, de São Paulo, n. 1.929, p. 2.
1999. p. 453. 29 STJ. RHC no 8.480/SP, 5a Turma, Relator Min. Gilson Dipp, julgado em
18 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 21.11.99. DJU 22.11.99, p. 164.
19 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. vol. 1. São das normas ambientais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
DOUTRINA 63
64 REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT
Jurisprudência Cível
ARRAS
EMENTA
Versa a matéria discutida nos au- No caso dos autos, resta indiscu-
tos sobre relação consumerista (artigos 2º tível que a recorrida efetivamente ficou
e 3º do CDC), pelo que, em face de inadimplente por prazo superior a ses-
verossímeis os fatos alegados (artigo 6º, senta dias, contudo, a sua notificação
inciso VIII, do CDC), restou acolhida a acerca da rescisão do contrato não lo-
inversão do ônus da prova, a ensejar pre- grou observar o que acordaram as par-
sunção de veracidade do que foi afirma- tes, e o que prevê a Lei dos Planos de
do na inicial, e a responsabilidade obje- Saúde (inciso II do artigo 13 da Lei
tiva de reparar o dano (artigo 14 do 9.656/98).
CDC), como bem colhido pela douta
julgadora de primeiro grau. Com efeito, a recorrida foi notifi-
cada da possibilidade de rescisão do
A questão posta em debate versa contrato em data de 21.05.2003 (fls.
saber acerca da validade da cláusula 19 60 e 62). Comprovado que mesmo
(19.1 e 19.1.2), do contrato de fls. após a notificação a recorrida efetuou o
15/17, que autoriza à recorrente rescin- pagamento das mensalidades vencidas
dir o contrato celebrado em ocorrendo o entre 27.05.2003 e 27.11.2003,
atraso no pagamento das mensalidades restando atendidas às finalidades da no-
para a oitiva das testemunhas ALE- Uniforme de Genebra/Paulo Restiffe Neto, Paulo Sérgio Restiffe. - 4. ed. rev.
XANDRE PEREIRA DA SILVA E atua. ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.
ACIDENTE DE TRÂNSITO
—— • —— —— • ——
—— • —— —— • ——
ABUSO DE AUTORIDADE
EMENTA
APLICAÇÃO DA PENA
—— • —— —— • ——
SÚMULAS 303
304 REVISTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS – TJDFT
Supremo Tribunal Federal
Súmula: 307
A restituição de adiantamento
de contrato de câmbio, na falência,
deve ser atendida antes de qualquer
crédito.
Súmula: 306
Os honorários advocatícios devem
ser compensados quando houver
sucumbência recíproca, assegurado o di-
reito autônomo do advogado à execução
do saldo sem excluir a legitimidade da
própria parte.
Súmula: 305
É descabida a prisão civil do de-
positário quando, decretada a falência
da empresa, sobrevém a arrecadação do
bem pelo síndico.
Súmula: 304
É ilegal a decretação da prisão
civil daquele que não assume expres-
samente o encargo de depositário ju-
dicial.
Súmula: 76 Súmula: 69
A falta de registro do compromis- Na desapropriação direta, os ju-
so de compra e venda de imóvel não dis- ros compensatórios são devidos desde a
Súmula: 66 Súmula: 59
Compete à Justiça Federal pro- Não há conflito de competência se
cessar e julgar execução fiscal promo- já existe sentença com trânsito em julga-
vida por conselho de fiscalização pro- do, proferida por um dos juízos
fissional. conflitantes.
Súmula: 65 Súmula: 58
O cancelamento, previsto no art. Proposta a execução fiscal, a pos-
29 do Decreto-Lei 2.303, de terior mudança de domicílio do executa-
21.11.86, não alcança os débitos do não desloca a competência já fixada.
previdenciários.
Súmula: 57
Súmula: 64 Compete à justiça comum estadual
Não constitui constrangimento ile- processar e julgar ação de cumprimento
gal o excesso de prazo na instrução, pro- fundada em acordo ou convenção coleti-
vocado pela defesa. va não homologados pela Justiça do Tra-
balho.
Súmula: 63
São devidos direitos autorais pela Súmula: 56
retransmissão radiofônica de músicas em Na desapropriação para instituir
estabelecimentos comerciais. servidão administrativa são devidos os
Súmula: 52 Súmula: 46
Encerrada a instrução criminal, fica Na execução por carta, os embar-
superada a alegação de constrangimento gos do devedor serão decididos no juízo
por excesso de prazo. deprecante, salvo se versarem unicamen-
te vícios ou defeitos da penhora, avalia-
Súmula: 51 ção ou alienação dos bens.
A punição do intermediador, no
jogo do bicho, independe da identi- Súmula: 45
ficação do “apostador ” ou do “ban- No reexame necessário, é defeso,
queiro”. ao tribunal, agravar a condenação imposta
à Fazenda Pública.
Súmula: 50
O adicional de tarifa portuária Súmula: 44
incide apenas nas operações realizadas A definição, em ato regulamentar,
com mercadorias importadas ou expor- de grau mínimo de disacusia, não exclui,
tadas, objeto do comércio de navegação por si só, a concessão do benefício
de longo curso. previdenciário.
Súmula: 42 Súmula: 36
Compete à justiça comum esta- A correção monetária integra o va-
dual processar e julgar as causas cíveis
lor da restituição, em caso de adianta-
em que é parte sociedade de econo-
mento de câmbio, requerida em
mia mista e os crimes praticados em seu
detrimento. concordata ou falência.
Súmula: 41 Súmula: 35
O Superior Tribunal de Justiça não Incide correção monetária sobre as
tem competência para processar e julgar, prestações pagas, quando de sua resti-
originariamente, mandado de segurança tuição, em virtude da retirada ou exclu-
contra ato de outros tribunais ou dos res- são do participante de plano de consór-
pectivos órgãos. cio.
Súmula: 40 Súmula: 34
Para obtenção dos benefícios de Compete à justiça estadual proces-
saída temporária e trabalho externo, con- sar e julgar causa relativa a mensalidade
sidera-se o tempo de cumprimento da escolar, cobrada por estabelecimento
pena no regime fechado. particular de ensino.
Súmula: 39
Súmula: 33
Prescreve em vinte anos a ação para
A incompetência relativa não pode
haver indenização, por responsabilidade
civil, de sociedade de economia mista. ser declarada de ofício.
Súmula: 38 Súmula: 32
Compete à justiça estadual comum, Compete à Justiça Federal pro-
na vigência da constituição de 1988, o cessar justificações judiciais destina-
processo por contravenção penal, ainda das a instruir pedidos perante enti-
que praticada em detrimento de bens, dades que nela têm exclusividade de
serviços ou interesse da União ou de suas foro, ressalvada a aplicação do art.
entidades. 15, II da Lei 5010/66.
Súmula: 30 Súmula: 23
A comissão de permanência e a O Banco Central do Brasil é parte
correção monetária são inacumuláveis. legítima nas ações fundadas na Resolu-
ção 1.154, de 1986.
Súmula: 29
No pagamento em juízo para elidir Súmula: 22
falência, são devidos correção monetá- Não há conflito de competência
ria, juros e honorários de advogado. entre o Tribunal de Justiça e Tribunal de
Alçada do mesmo estado-membro.
Súmula: 28
O contrato de alienação fiduciária Súmula: 21
em garantia pode ter por objeto bem que Pronunciado o réu, fica superada a
já integrava o patrimônio do devedor. alegação do constrangimento ilegal da
prisão por excesso de prazo na instru-
Súmula: 27 ção.
Pode a execução fundar-se em mais
de um título extrajudicial relativos ao Súmula: 20
mesmo negócio. A mercadoria importada de país
signatário do GATT é isenta do ICM,
Súmula: 26 quando contemplado com esse favor o
O avalista do título de crédito vin- similar nacional.
culado a contrato de mútuo também res-
ponde pelas obrigações pactuadas, quan- Súmula: 19
do no contrato figurar como devedor so- A fixação do horário bancário,
lidário. para atendimento ao público, é da com-
petência da União.
Súmula: 25
Nas ações da lei de falências o Súmula: 18
prazo para a interposição de recurso con- A sentença concessiva do perdão
ta-se da intimação da parte. judicial é declaratória da extinção da
Súmula: 17 Súmula: 10
Quando o falso se exaure no Instalada a junta de conciliação e
estelionato, sem mais potencialidade le- julgamento, cessa a competência do juiz
siva, é por este absorvido. de direito em matéria trabalhista, inclusi-
ve para a execução das sentenças por ele
Súmula: 16 proferidas.
A legislação ordinária sobre crédi-
to rural não veda a incidência da corre- Súmula: 9
ção monetária. A exigência da prisão provisória,
para apelar, não ofende a garantia cons-
Súmula: 15 titucional da presunção de inocência.
Compete à Justiça Estadual pro-
cessar e julgar os litígios decorrentes de Súmula: 8
acidente do trabalho. Aplica-se a correção monetária aos
créditos habilitados em concordata pre-
Súmula: 14 ventiva, salvo durante o período compre-
Arbitrados os honorários endido entre as datas de vigência da Lei
advocatícios em percentual sobre o 7.274, de 10-12-84, e do Decreto-
valor da causa, a correção monetária Lei 2.283, de 27-02-86.
incide a partir do respectivo
ajuizamento. Súmula: 7
A pretensão de simples reexame
Súmula: 13 de prova não enseja recurso especial.
A divergência entre julgados do
mesmo tribunal não enseja recurso espe- Súmula: 6
cial. Compete à justiça comum estadual
processar e julgar delito decorrente de aci-
Súmula: 12 dente de trânsito envolvendo viatura de
Em desapropriação, são cumuláveis polícia militar, salvo se autor e vítima forem
juros compensatórios e moratórios. policiais militares em situação de atividade.
Súmula: 11 Súmula: 5
A presença da União ou de qual- A simples interpretação de cláusula
quer de seus entes, na ação de usucapião contratual não enseja recurso especial.
Súmula 1
Nos concursos públicos para in-
gresso na carreira policial civil do Distri-
to Federal, reveste-se de legalidade a
exigência de exame psicotécnico, mas
para a sua validade deve ser adotado
método que permita a fundamentação do
resultado e o seu conhecimento pelo can-
didato, com previsão de recurso admi-
nistrativo. Concedido mandado de se-
gurança para anular o exame psicotécnico
realizado sem os requisitos exigidos, o
candidato poderá prosseguir nas demais
fases do concurso independentemente de
submeter-se a novo exame psicotécnico,
devendo a apuração dos requisitos pre-
vistos em lei ser efetuado durante o está-
gio probatório. (Esta súmula foi alterada
e registrada sob o nº 20 em decisão to-
mada no dia 18/03/2003 pelo Con-
selho Especial do TJDFT)
Súmula 2
A conversão de cruzeiros reais para
a unidade real de valor há de ser feita
Súmula 3 Súmula 8
A apresentação de diploma, quan- Para configurar-se a causa especial
do exigido para o ingresso em carreira de aumento de pena prevista no inciso
do serviço público é obrigatória, apenas, III do art. 18 da Lei nº 6.368/76, é
na data da posse. bastante que haja a associação, ainda que
esporádica ou eventual.
Súmula 4
A aprovação em concurso públi- Súmula 9
co gera para o candidato mera expec- É cabível a prisão civil de devedor
tativa de direito à nomeação. Contu- que não efetua a entrega do bem aliena-
do fiduciariamente.
do, diante da abertura de novo con-
curso, válido ainda o anterior, assegu-
Súmula 10
ra-se ao candidato nomeação prece-
O controle externo da atividade
dente em relação aos novos
policial é função institucional do Minis-
concursados. tério Público, podendo este requerer in-
formações e documentos em delegacias
Súmula 5 de polícia para instrução de procedimen-
É legal a exigência editalícia de to administrativo, sendo ilegal a recusa
comprovação de dois anos de bachare- em fornecê-los.
lado em direito por parte do candidato
ao cargo de Promotor de Justiça Adjun- Súmula 11
to do Ministério Público do Distrito Fe- O emprego de arma de fogo
deral e Territórios. ineficiente, descarregada ou de brinque-
do, quando ignorada tal circunstância pela
Súmula 6 vítima, constitui, também, causa especial
A acumulação de cargos prevista de aumento de pena na prática do rou-
no art. 37, XVI, “b” da Constituição bo, posto que capazes de causar a inti-
Federal só é possível quando o cargo dito midação.
técnico exigir prévio domínio de deter- (Esta súmula foi cancelada em de-
minado e específico campo de conheci- cisão tomada no dia 22/10/2002 pelo
mento. Conselho Especial do TJDFT )
Enunciado 1
O exercício do direito de ação no Juizado
Especial Cível é facultativo para o autor.
Enunciado 2
Substituído pelo enunciado 58.
Enunciado 3
Lei local não poderá ampliar a com-
petência do Juizado Especial.
Enunciado 4
Nos Juizados Especiais só se ad-
mite a ação de despejo prevista no art.
47, inciso III, da Lei 8.245/91.
Enunciado 5
A correspondência ou contra-fé
recebida no endereço da parte é eficaz
para efeito de citação, desde que iden-
tificado o seu recebedor.
Enunciado 6
Não é necessária a presença do Juiz
Togado ou Leigo na Sessão de Conciliação.
Enunciado 9 Enunciado 16
O condomínio residencial poderá (cancelado)
propor ação no Juizado Especial, nas
hipóteses do art. 275, inciso II, item b, Enunciado 17
do Código de Processo Civil. É vedada a acumulação das condi-
ções de preposto e advogado, na mes-
Enunciado 10 ma pessoa (arts. 35, I e 36, ll, da Lei
A contestação poderá ser apresen- 8.906/94, c/c art. 23 do Código de
tada até a audiência de Instrução e Jul- Ética e disciplina da OAB).
gamento.
Enunciado 18
Enunciado 11 (cancelado)
Nas causas de valor superior a vinte
salários mínimos, a ausência de contesta- Enunciado 19
ção, escrita ou oral, ainda que presente A audiência de conciliação, na exe-
o réu, implica revelia. cução de título executivo extrajudicial, é
obrigatória e o executado, querendo
Enunciado 12 embargar, deverá fazê-lo nesse momento
A perícia informal é admissível na (art. 53, parágrafos 1º e 2º).
hipótese do art. 35 da Lei 9.099/95.
Enunciado 20
Enunciado 13 O comparecimento pessoal da parte
Os prazos processuais nos às audiências é obrigatório. A pessoa jurídi-
Juizados Especiais Cíveis, inclusive na ca poderá ser representada por preposto.
execução, contam-se da data da
intimação ou ciência do ato respectivo. Enunciado 21
(Alteração aprovada no XII Encontro - Não são devidas custas quando
Maceió - AL ). opostos embargos do devedor. Não há
Enunciado 22 Enunciado 28
A multa cominatória é cabível des- Havendo extinção do processo com
de o descumprimento da tutela anteci- base no inciso I, do art. 51, da Lei 9.099/
pada, nos casos dos incisos V e VI, do 95, é necessária a condenação em custas.
art 52, da Lei 9.099/95.
Enunciado 29
Enunciado 23 (cancelado)
A multa cominatória não é cabível
nos casos do art.53 da Lei 9.099/95. Enunciado 30
É taxativo o elenco das causas pre-
Enunciado 24 vistas na o art. 3º da Lei 9.099/95.
A multa cominatória, em caso de
obrigação de fazer ou não fazer, deve ser Enunciado 31
estabelecida em valor fixo diário. É admissível pedido contraposto
no caso de ser a parte ré pessoa jurídica.
Enunciado 25
A multa cominatória não fica limi- Enunciado 32
tada ao valor de quarenta (40) salários Não são admissíveis as ações co-
mínimos, embora deva ser razoavelmente letivas nos Juizados Especiais Cíveis.
fixada pelo juiz, obedecendo-se o valor
da obrigação principal, mais perdas e Enunciado 33
danos, atendidas as condições econômi- É dispensável a expedição de car-
cas do devedor. ta precatória nos Juizados Especiais
Cíveis, cumprindo-se os atos nas demais
Enunciado 26 comarcas, mediante via postal, por ofí-
São cabíveis a tutela acautelatória cio do Juiz, fax, telefone ou qualquer
e a antecipatória nos Juizados Especiais outro meio idôneo de comunicação.
Cíveis, em caráter excepcional.
Enunciado 34
Enunciado 27 (cancelado)
Na hipótese de pedido de valor
até 20 salários mínimos, é admitido pe- Enunciado 35
dido contraposto no valor superior ao da Finda a instrução, não são obriga-
inicial, até o limite de 40 salários míni- tórios os debates orais.
Enunciado 39 Enunciado 44
Em observância ao art. 2º da Lei No âmbito dos Juizados Especi-
9.099/95, o valor da causa ais, não são devidas despesas para efei-
corresponderá à pretensão econômica to do cumprimento de diligências, inclu-
objeto do pedido. sive, quando da expedição de cartas
precatórias.
Enunciado 40
O conciliador ou juiz leigo não está Enunciado 45
incompatibilizado nem impedido de exer- Substituído pelo Enunciado 75.
Enunciado 49 Enunciado 56
As empresas de pequeno porte (cancelado)
não poderão ser autoras nos Juizados
Especiais. Enunciado 57
(cancelado)
Enunciado 50
Para efeito de alçada, em sede de Enunciado 58
Juizados Especiais, tomar-se á como base Substitui o Enunciado 2 - As cau-
o salário mínimo nacional. sas cíveis enumeradas no art. 275 II, do
CPC admitem condenação superior a 40
Enunciado 51 salários mínimos e sua respectiva execu-
Os processos de conhecimento ção, no próprio Juizado.
contra empresas sob liquidação
extrajudicial devem prosseguir até a sen- Enunciado 59
tença de mérito, para constituição do tí- Admite-se o pagamento do débi-
tulo executivo judicial, possibilitando a to por meio de desconto em folha de
parte habilitar o seu crédito, no momento pagamento, após anuência expressa do
oportuno, pela via própria. devedor e em percentual que reconheça
Enunciado 60 Enunciado 64
É cabível a aplicação da CANCELADO no XVI Encon-
desconsideração da personalidade jurí- tro - Rio de Janeiro/RJ.
dica, inclusive na fase de execução. (Re-
dação alterada no XIII Encontro - Cam- Enunciado 65
po Grande/MS). CANCELADO no XVI Encon-
Redação anterior: É cabível a apli- tro - Rio de Janeiro/RJ.
cação da desconsideração da personali-
dade jurídica, inclusive na fase de execu- Enunciado 66
ção, quando a relação jurídica de direito É possível a adjudicação do bem
material decorrer da relação de consu- penhorado em execução de título
mo. extrajudicial, antes do leilão, desde que,
comunicado do pedido, o executado não
Enunciado 61 se oponha, no prazo de 10 dias.
No processo de execução, esgo-
tados os meios de defesa ou inexistindo Enunciado 67
bens para a garantia do débito, expede- (Nova Redação - Enunciado 91
se certidão de dívida para fins de pro- aprovado no XVI Encontro - Rio de Ja-
testo e\ou inscrição no Serviço de Prote- neiro/RJ) - Redação original: O conflito
ção ao Crédito - SPC e SERASA , sob de competência entre juízes de Juizados
a responsabilidade do exeqüente. Especiais vinculados à mesma Turma
(CANCELADO em razão da redação Recursal será decidido por esta.
do Enunciado 76 - XIII Encontro/MS)
Enunciado 68
Enunciado 62 Somente se admite conexão em
Cabe exclusivamente às Turmas Juizado Especial Cível quando as ações
Recursais conhecer e julgar o mandado puderem submeter-se à sistemática da Lei
de segurança e o habeas corpus 9.099/95.
impetrados em face de atos judiciais oriun-
dos dos Juizados Especiais. Enunciado 69
As ações envolvendo danos mo-
Enunciado 63 rais não constituem, por si só, matéria
Contra decisões das Turmas complexa.
Enunciado 84 Enunciado 90
Compete ao Presidente da Turma A desistência do autor, mesmo sem
Recursal o juízo de admissibilidade do anuência do réu já citado, implicará na
Recurso Extraordinário. (Aprovado no extinção do processo sem julgamento do
XIV Encontro - São Luis/MA) mérito, ainda que tal ato se dê em audi-
ência de instrução e julgamento (Apro-
Enunciado 85 vado no XVI Encontro - Rio de Janeiro/
O Prazo para recorrer da decisão RJ)
de Turma Recursal fluirá da data do jul-
gamento. (Aprovado no XIV Encontro - Enunciado 91
São Luis/MA) O conflito de competência entre
Enunciado 1
A ausência injustificada do autor
do fato à audiência preliminar implicará
vista dos autos ao Ministério Público para
o procedimento cabível.
Enunciado 2
O Ministério Público, oferecida
a representação em juízo, poderá pro-
por diretamente a transação penal, in-
dependentemente do comparecimento
da vítima à audiência preliminar. (Re-
dação alterada no XI Encontro, em
Brasília-DF).
Enunciado 3
O prazo decadencial para a repre-
sentação nos crimes de ação pública con-
dicionada é de trinta (30) dias, conta-
dos da intimação da vítima, para os pro-
cessos em andamento, quando da edi-
ção da Lei 9.099/95.
Enunciado 4
Substituído pelo Enunciado 38.
Enunciado 10 Enunciado 16
Havendo conexão entre crimes da Nas hipóteses em que a conde-
competência do Juizado Especial e do nação anterior não gera reincidência, é
Juízo Penal Comum, prevalece à compe- cabível a suspensão condicional do pro-
tência deste. cesso.
Enunciado 30 Enunciado 36
Cancelado (Incorporado pela Lei Havendo possibilidade de solução
n. 10.455/02). de litígio de qualquer valor ou matéria
subjacente à questão penal, poderá ser
Enunciado 31 reduzido a termo no Juizado Especial
O conciliador ou juiz leigo não está Criminal e encaminhado via distribuição
incompatibilizado nem impedido de exer- para homologação no juízo competente,
cer a advocacia, exceto perante o pró- sem prejuízo das medidas penais cabí-
prio Juizado Especial em que atue ou se veis.
pertencer aos quadros do Poder Judici-
ário. Enunciado 37
O acordo civil de que trata o enun-
Enunciado 32 ciado 36 poderá versar sobre qualquer
O Juiz ordenará a intimação da valor ou matéria.
vítima para a audiência de suspensão do
processo como forma de facilitar a repa- Enunciado 38
ração do dano, nos termos do art. 89, Substitui o Enunciado 4 - A Re-
parágrafo 1º, da Lei 9.099/95. núncia ou retratação colhida na fase poli-
cial será encaminhada ao Juizado Espe-
Enunciado 33 cial Criminal e, nos casos de violência
Aplica-se, por analogia, o artigo doméstica, deve ser designada audiência
49 do Código de Processo Penal no caso para sua ratificação.
da vítima não representar contra um dos
autores do fato. Enunciado 39
Nos casos de retratação ou renún-
Enunciado 34 cia do direito de representação que en-
Atendidas as peculiaridades lo- volvam violência doméstica, o Juiz ou o
cais, o termo circunstanciado poderá ser Conciliador deverá ouvir ou envolvidos
lavrado pela Polícia Civil ou Militar. separadamente.
Enunciado 35 Enunciado 40
Até o recebimento da denúncia é Nos casos de violência doméstica,
possível declarar a extinção da recomenda-se que as partes sejam enca-
Enunciado 43 Enunciado 48
O acordo em que o objeto for O recurso em sentido estrito é
obrigação de fazer ou não fazer deverá incabível em sede de Juizados Especiais
conter cláusula penal em valor certo, para Criminais.
facilitar a execução cível.
Enunciado 49
Enunciado 44 Na ação de iniciativa privada, ca-
No caso de transação penal ho- bem a transação penal e a suspensão con-
mologada e não cumprida, o decurso do dicional do processo, por iniciativa do
prazo prescricional provoca a declaração querelante ou do juiz. (Alteração apro-
de extinção de punibilidade pela pres- vada no XII Encontro - Maceió-AL)
crição da pretensão executória.
Enunciado 50
Enunciado 45 (CANCELADO no XI Encontro,
(cancelado) em Brasília-DF).
Enunciado 46 Enunciado 51
A Lei n. 10.259/2001 ampliou A remessa dos autos à Justiça
a competência dos Juizados Especiais Comum, na hipótese do art. 66, pará-
Criminais dos Estados e Distrito Federal grafo único, da Lei 9.099/95 (enunci-
para o julgamento de crimes com pena ado 12), exaure a competência do
Enunciado 53 Enunciado 58
No Juizado Especial Criminal, o A transação penal poderá conter
recebimento da denúncia, na hipótese de cláusula de renúncia à propriedade do
suspensão condicional do processo, deve objeto apreendido. (Aprovado no XIII
ser precedido da resposta prevista no art. Encontro - Campo Grande/MS).
81 da Lei 9.099/95.
Enunciado 59
Enunciado 54 O juiz decidirá sobre a destinação
Substitui o Enunciado 24. - O dos objetos apreendidos e não reclama-
processamento de medidas dos no prazo do art. 123 do CPP.
despenalizadoras, aplicáveis ao crime (Aprovado no XIII Encontro - Campo
previsto no art. 306 da Lei nº 9.503/ Grande/MS).
97, por força do parágrafo único do art.
291 da mesma Lei, não compete ao Enunciado 60
Juizado Especial Criminal. Exceção da verdade e questões
incidentais não afastam a competência dos
Enunciado 55 Juizados Especiais, se a hipótese não for
(CANCELADO no XI Encontro, complexa. (Aprovado no XIII Encontro
em Brasília-DF). - Campo Grande/MS).
Enunciado 56 Enunciado 61
Os Juizados Especiais Criminais O processamento de medida
não são competentes para conhecer, pro- despenalizadora prevista no artigo 94 da
cessar e julgar feitos criminais que versem Lei 10.741/03, não compete ao
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