Segundo alguns estudiosos, antes da existência do Estado e da Sociedade, as
pessoas viviam em um contexto maneado pela natureza que induzia o homem a agir conforme às suas necessidades. As atitudes do homem e suas consequências foram o cerne para a racionalização da criação do Estado e da Sociedade – mecanismos de ordem e organização, posto que desenvolvem pactualmente formas de sustentar o conjunto de maneira prudente.
A priori, de acordo com Aristóteles a sociedade é formada a partir dos conjuntos
de várias aldeias – casas conjugadas – que dão origem à cidade. Essa já está posta no meio natural, mas é o homem, naturalmente feito para a sociedade política que consegue se beneficiar dela, uma vez que sua inserção neste âmbito é fundamental para o desenvolvimento de suas faculdades, algo que contribui para a conservação da existência e a consolidação do bem comum, metas primordiais do Estado, regido por seus integrantes que o regulamentam e o administram, preservando a harmonia das relações sociais, com a finalidade de manter a eficácia dessas metas.
Parafraseando Aristóteles, ”o todo existe necessariamente antes das partes
que integram a cidade, como os indivíduos e as sociedades domesticas”. Dessa forma é evidente que o Estado e a Sociedade não podem se desarticular, pois a não interação entre esses dois entes os tornariam incapazes de constituírem suas respectivas funções com êxito. Embora o homem seja zoon politikon, caso esse não se integre ao Estado, não será possível o esmero de seus atributos intelectuais, sendo assim considerado um aviltante diante seus dotes – comunicação e raciocínio.
Do mesmo modo, outros filósofos desenvolveram teorias acerca da origem do
Estado, dando como justificativa um revés oriundo do Estado em natureza, o qual nunca foi comprovado cientificamente, mas possui existência em todas as teorias que o fundamentaram como o antecessor do Estado em sociedade – aquele que vem para preencher as lacunas causadas pelo homem natural.
Thomas Hobbes foi o primeiro a utilizar do termo “Estado Natural”, em sua
filosofia. Notoriamente, as ações – injustas – exercidas pelo homem, o tornam um “ser naturalmente dotado de maldade”. Esse, não possui um controle superior e age unicamente de acordo com sua vontade e desejo. Portanto, em um conflito onde dois indivíduos encontram-se disputando algo, o vencedor será aquele que possui mais força perante a situação. Não obstante, é evidente que no Estado de natureza, há uma predominante banalidade dos atos. Para Hobbes, o tempo de guerra é explicito em uma sociedade na qual não existe consciência de justiça. Esse aspecto torna-se nocivo não só para a vida e liberdade do homem, mas também, para atividades que são meios de desenvolvimento humano.
Contudo, Hobbes abranda a conjuntura ao conceituar as paixões: medo da
morte, busca pelo bem-estar, desejo de conseguir aquisições através da labuta. Essas tendem a propiciar a paz, mas é a razão que define normas capazes de orientar os homens à chegarem em um consenso. Esses, devem dispor dos seus direitos para que exista uma harmonia, que será garantida por meio de uma força superior – um poder coercitivo absoluto – impostora de regras que deverão ser seguidas à risca, tendo como objetivo a perpetuação da paz.
Adiante, John Locke faz uso do Estado em natureza, distinguindo o
comportamento do homem natural. Segundo ele, vida, liberdade e propriedade são direitos inerentes ao homem, independentemente da existência ou não do Estado. Vê- se que Locke possui uma visão menos radical, ao propor uma série de prerrogativas antes ignoradas, que fomentam a garantia da existência do homem. Todavia, ressalva que o ser humano tende a agir de forma egoísta – podendo trazer consequências para ele mesmo ou para quem vive em sua volta. Destarte, o Estado existirá para legislar, educar, proteger e aplicar a justiça. Em troca, a sociedade deve agir conforme à lei. Este aparato tem por função a conservação dos direitos supracitados.
Entretanto, o mecanismo só funciona enquanto o legislativo agir tal qual a
vontade da população, haja vista, essa elege aqueles que compõem o corpo elaborador das leis e, da mesma forma, veta a autoridade desse. Por conseguinte, fica claro que a função do Estado é preservar os direitos à vida, à liberdade e à propriedade, considerados para Locke inalienáveis e intransigíveis e que têm o propósito de corroborar com o bem comum a todos. Tal perspectiva foi fundamental para John Locke ser tido como o pai do liberalismo político. Analogamente, o filosofo político Jean-Jacques Rousseau respaldou sua abstração no Estado de natureza, qualificando o homem como um bom selvagem – em contraste a Thomas Hobbes – justificando essa definição a partir de analises dos índios da América. Este homem natural, livre e bondoso já está inserido em um contexto subordinado a um pacto natural, que pode vir a ser arbitrário, devido às leis impostas após o advento da propriedade privada. Estas leis subjugam o homem e o limitam; “o homem nasce livre, mas por toda parte encontra-se acorrentado”. Logo, este Estado Natural repugnante e brutal torna lícito o poder de um indivíduo sobre o outro. Ademais, mesmo havendo tranquilidade nas relações, devido à condescendência dos menos afortunados ante os abastados (proprietários), a natureza não nivela os indivíduos a uma igualdade e os põe em circunstâncias onde pode haver o rompimento de sua integridade – sendo necessária uma ordem social.
Rousseau então sugere um Estado em sociedade desejável de se viver,
através de um Contrato Social que torna todos os indivíduos iguais por direito. Neste Estado onde o que impera é o poder do povo – a força do Estado – que tem por desígnio a busca pelo bem comum, onde todo são livres uma vez que respeitam as leis expressas pela vontade geral, o soberano é o conjunto. Assim sendo, suas ações partem de uma legalidade geral.
Em suma, todas as teorias são válidas por possuírem coerência e sagacidade.
Conforme às necessidades que urgiam, cada filósofo, inserido em sua respectiva época, buscou mitigar os colapsos que existiam, dando fundamento ao poder do Estado sobre a sociedade, idem, poder da sociedade sobre o Estado, sendo esses, objetos adequados para solucionar as discrepâncias. Indubitavelmente, esses, devem agir concomitantemente, visando sempre a prosperidade de cada civil, capaz de efetivamente – de forma justa, segura e igualitária – alcançar o gozo da vida, através, por exemplo, de amparos congruentes sem desconsiderar a valia semelhante de outrem – dando existência a um genuíno bem comum.