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KARL M A N N H E I M :

VIDA, O BRA E H ER A N Ç A CULTURAL

C. A . Barata S ilv a (*)

1. B IO G R A F IA

N a s d éc ad a s de trinta, quarenta e cinqüenta, o s o c ió lo g o a lem ão Karl


M a n n h e im (1893/1947) era um d o s re p re se n ta n te s m a is e m in e n te s de su a
p ro f iss ã o e se u nom e p erm an e ce a s so c ia d o ao e stu d o so c io ló g ic o do co ­
nhecim ento. A parte exp onencial de su a obra c o n s is t e em relacionar o pen­
sa m e n to com a p o siç ã o socia l do indivíduo. A s c irc u n stâ n c ia s de s u a ed u ­
cação eram típ ica s da c la s s e a cadêm ica e da Europ a Central. N a sc e u em
Budap este; inicialmente, freqüentou a e sco la naquela cidade; d e p o is e s t u ­
dou n a s U n iv e r sid a d e s de Berlim, Budapeste, Paris e Friburgo, an te s de ir
para a U n iv e rsid a d e de H eidelberg, ond e ele s e habilitou c o m o "p r iv a td o ­
z e n t" em 1926. A q u e la época, e s s a cidade era re co n h e cid a c o m o o m a is e m i­
nente centro intelectual do m und o aca d ê m ico da A le m a n h a . N ela se ntia -se
ainda a p re se n ç a rem ota de M a x W e b e r que tinha falecid o em 1920, e a in­
fluência de G y o rg y Lu kác s que brilhara no se u p eríod o pré-m arxista, ainda
s e fazia sentir.

M a n n h e im viv e u e trabalhou em H e id e lb e rg até o dia em que foi ch a ­


m ad o para a cáted ra de so c io lo g ia na U n iv e rsid a d e de Frankfurt em 1930.
Ele p erm a n e ce u naquela função até a prim avera de 1933. L ogo após, teve
que refugiar-se na Grã-Bretanha, p o is o partido N acional S o c ia lis t a (nazista)
a s su m iu o poder. N e s s a cidade ele foi "le c t u r e r " em so c io lo g ia na U n iv e r­
sid a d e de L on d re s ("L o n d o n S c h o o l of E c o n o m ic s ") de 1933 até 1945; e
de 1945 até s u a morte, ele foi p ro f e ss o r de S o c io lo g ia e F ilosofia da Ed u­
cação no Instituto de Ed ucação da m e s m a U nive rsid ad e .

Basicam ente, o trabalho de M a n n h e im d ivide-se entre as duas fa s e s


principais, que co rre sp o n d e , aproxim adam ente, a sua exp eriê n cia intelec­
tual na A le m a n h a e a s u a carreira d e se n vo lv id a na Inglaterra. A prim eira
fa se co n stitu i-se d o s p rim e iro s e sc rito s de M a n n h e im e re p re sen ta m a
parte principal de s u a obra que é a S o c io lo g ia do C on h e cim e n to. O s notá­
v e is fru to s d e s s e p eríod o foram ; “Interpretação de “W e lt a n s c h a u n g ” " (1923),
" O Problem a da S o c io lo g ia do C o n h e c im e n t o " (1925), “O Prob lem a d a s G e ­
r a ç õ e s ” (1928), "C o m p e t iç ã o Enq uanto um F e n ô m e n o C u ltu r a l" (1929), " Id e o -

(*) O a u t o r é M i n i s t r o T o g a d o d e C a r r e i r a d o T r ib u n a l S u p e r i o r d o T r a b a lh o .

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logia e U t o p ia " (1929/1931) e " E n s a io s o b re a S o c io lo g ia da C u ltu ra ", publi­
cad o p o stu m a m e n te em 1950,
O s p rim e iro s e s c rito s de M a n n h e im e x p re ss a ra m s u a luta contra a h e ­
rança do id e a lism o a lem ão de Kant, Hegel, H e rd e r e outros. E le s foram um a
tentativa para re v is a r s u a e p iste m o lo gia de co n h e c im e n to na direção in stru ­
m entalista e torná-la algo m a is útil na a n á lise so cio ló g ica . A t r a v é s d e s s e s
e s c rito s foi criticada a c o n ce p ç ão de h istória intelectual ou internalista do
conhecim ento, enquanto um d e se n v o lv im e n to autô n om o e s e q ü e n te d as
idéias.
N e ssa prim eira fase, M a n n h e im s o fre u influência da tradição h isto ri­
cista d e D ilth e y e tam bém do m od elo m arxista de so c ie d a d e e p elos
c l á s s ic o s do p e n sa m e n to so c io ló g ic o a lem ão e do m a r x ism o na e stru tu ra e
d ete rm in a n te s de c o n s e n s o e d is s e n so .
Em seu e n sa io “O Prob lem a de um a S o c io lo g ia do C o n h e c im e n t o ”,
M a n n h e im fez um traçado d o s d e m a is m é to d o s de conhecim ento, então
aceitos, e apontand o s u a s falhas, teceu razõe s para legitim ar a m etod ologia
que ele p rop ôs.
Em “ Ide o log ia e U t o p ia " M a n n h e im continua com s u a in v e stig a ç ã o s o ­
bre a s o c io lo g ia do c o n h ec im e n to e s e p ro p ô s a in v e stig a r a fundo a natu­
reza do p en sa m e n to, não de a cord o co m o m étod o da lógica interna d as
id é ias em que o c o n h ec im e n to avança de a co rd o com a direção e se q ü ê n c ia
conferid a por id é ias an te rio re s m as, em relação à s c o n d iç õ e s s o c ia is de
su a origem . M a n n h e im prop unha um n ovo m étod o d e conhecim ento, o de
in v e stig a r o p e n sa m e n to c o m o resultante de fa to re s socia is, na s u a form a
real e em que fu n cio n a na vid a política e social.
N a se g u n d a fa se de su a vid a intelectual, o e stu d o da Estrutura da S o ­
ciedad e M o d e r n a aflorou, gu a rn e cid o de p re o c u p a ç õ e s co m a so cie d a d e de
m a s s a e s u a c re sc e n te bu rocratização e d em ocratização. D e s te períod o d e s ­
tacam -se a s s e g u in t e s ob ras: " O H o m e m e a S o c ie d a d e " publicada na In­
glaterra em 1935; e “Liberdade, Poder e Planificação S o c i a l” (1950).

2. OBRA

A S O C IO L O G IA D O C O N H E C IM E N T O

Em s e u e n sa io " O Prob lem a da S o c io lo g ia do C o n h e c im e n t o " M a n n h e im


deu o s p rim e iro s p a s s o s para ju stificar e co n fe rir legitim ação m etod ológica
à s u a teoria do conhecim ento.

A a b o rd a ge m à a n á lise da história do pensam ento, que ele form ulou,


partiu da s e g u in te p re ss u p o s iç ã o : certo fator de in te re sse a s s u m e um a c o n ­
figuração d eterm inad a pela p re se n ç a sim u ltân e a de v á r io s fatores. Esta hi­
p ótese parecia e sp e cia lm e n te verificável n a s ciê n c ia s culturais, em que o
p r o g r e s s o é ondulatório, isto é, ce rtos p ro b le m a s e m e rg e m su b itam ente e n -

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q uanto ou tro s s e d esfazem , com su b ite z igual, para vo ltar a reaparecerem
de um a fo rm a m odificada. D a í a n e c e s sid a d e de c o m p re e n sã o d o p ensa­
m ento c o m o um p r o c e s s o vital.

Pretendia M a n n h e im ro m p e r com a h istória internalista do c o n h e c im e n ­


to, s e g u n d o a qual o p e rc u rso do co n h e c im e n to é t r a ç a d o p o r “ f a t o r e s i m a ­
nentes, um a q u e stã o levand o a outra, co m uma n e c e s sid a d e p u ram ente
lógica e co m in te rru p çõ e s d evidas, apenas, a d ificu ld ad e s ainda não s o lu c io ­
n a d a s".

C ontrastando, M a n n h e im co n sid e ro u o p e n sa m e n to c o m o um fe n ô m e n o
parcial, um su b c on ju n to da totalidade da existência, ao m e s m o te m p o em
que dep ende de d a d o s e xiste n cia is. A n te rio r e su b jace n te à h istória inte­
lectual, o s e r e n globante e d in â m ico é o c a m p o h istó ric o e s o c ia l p o s s i ­
bilitando que o sig n ific a d o teórico im anente do p e n sa m e n to p o s s a s e r tra n s­
ferido.

M a n n h e im , s e g u in d o o e xe m p lo de M a rx , con te m p lo u a luta d e c l a s s e s
so c ia is, c o m o fator d eterm inante da co n stru ç ã o de id e o lo g ia s e da s u a d e s ­
truição, à m ed ida em que um a c la s s e em o p o siçã o , atacava a s b a s e s fu n ­
cio n a is da ideologia da c la s s e dom inante, d e stru ía a eficácia so c ia l d as
id é ias e tra n sc en d ia a s u a im anência teórica.

Visualiza-se, a ssim , um m ovim e n to e volutivo d o conhecim ento, em que


a s idéias fazem parte de um sistem a , de um a totalidade de " W e l t a n s c h a u n g ”
que é ligada a e d eterm inad o por um e stá g io do d e se n v o lv im e n to d a realida­
de social.

A p o siç ã o so cia l e o s in te re s s e s intelectuais de um g ru p o so cia l influ­


enciam o d e se n v o lv im e n to d a s te o ria s e atitud es h istó ric a s e s o c io ló g ic a s
de certa cla sse .

D o is e x e m p lo s de co m o o s m o d o s de p e n sa m e n to s ã o d e te rm in a d o s p e­
las ca te g o ria s s o c io ló g ic a s p od em s e r e n co n tra d o s em M a n n h e im . U m d e le s
refere-se ao Esta d o A b s o lu t o e a o s p artidos p olític os q ue articulavam s e u s
ob jetivos de m od o a tra n sform á -lo s em cred o filosófico, em co n ce p ç ã o
política da realidade; o outro é relativo ao cap italism o, o qual M a n n h e im
atribui o re co n h e cim e n to do p en sa m e n to científico e te c n o ló g ic o c o m o úni­
c o paradigm a.

M a s , o s a n ta g o n ism o s entre c la s s e s não s ã o irrestritos. U m fato h is ­


tórico ou s o c io ló g ic o d e sc o b e rto p or d eterm inad a c la s s e irá s e r c o n s id e ­
rado p or to d o s o s o u tro s g ru p o s e incorporad o ao s e u s is t e m a de inter­
pretação do m undo. T o d o s o s g r u p o s p rocuram ter um a v is ã o totalizante da
so c ie d a d e e um m e s m o fato pode s e r co n sid e ra d o s o b um a nova faceta da
realidade cognitiva.

M a n n h e im relacionou o d e se n vo lv im e n to da teoria s o c io ló g ic a à sua


época. Nesta, achava que havia um a situ a çã o de c rise no p e n sa m e n to ou

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d e conflito entre a s id éias caracterizada por uma am pla ond a de in com p re ­
e n sã o e d e se n te n d im e n to entre a s p e s s o a s , que ele atrib uía a um p r o c e s s o
de interp enetração m útua de g r u p o s c o ltiv o s socia l e intelectualm ente h e ­
te ro gê n e o s. Tornava-se, então, em e rg e nte a n e c e s sid a d e de interpretação
correta da realidade histórico-social.

A teoria, então nascente, teria o objetivo de co n h e c e r o s m o d o s do


p en sam ento, c o n sid e ra n d o -o c o m o in stru m e nto de ação coletiva, partindo
da te s e de que o s s e u s m od os, bem c o m o se u conteúdo, so m e n te podem
s e r exp licados, e lucid and o a s s u a s o r ig e n s s o c ia is. O p en sam ento, então, é
form ado, a partir de re a ç õ e s do indivíd uo co m o g ru p o em que o m e s m o
e n contra-se inserido.

M a n n h e im introduz em s e u estu d o do p e n sa m e n to o e lem ento p sic o ló ­


gico, m ostrand o, talvez, a influência de Freud. Referiu-se, em particular, ao
‘'i n c o n s c ie n t e ” e ao “c o le tiv o". O p ro c e s s o do p en sa m e n to não poderia s e r
exa m in a d o c o m o um ato isolado, m a s levando-se em c o n sid e ra ç ã o o seu
m eio repleto de n u n c e s variad as. O s fa tores s o c ia is são, então, a s "fo r ç a s
in v is ív e is que in fo rm am o co n h e c im e n to ".

M a s , so m e n te re co n h e ce n d o e s s a s c o n e x õ e s do p e n sa m e n to à e x istê n ­
cia do g ru p o se ria p o s sív e l exe rce r o controle d e s t e s fatores, até então in­
co n tro lá ve is do p en sam ento. M a n n h e im , enfim, queria c o loc a r a so c io lo g ia
do co n h e c im e n to a s e rv iç o da política social, a sp ira n d o su p e ra r o que c o n ­
s id e ro u a c r is e da so c ie d a d e dem ocrática.

M a n n h e im relaciona o conflito entre a s id é ias e ao p ro c e s s o de d e m o ­


cratização, em c o n se q ü ê n c ia da hete ro ge n e id a d e d o s m o d o s de p e n sa r d as
c la sse s s o c ia is c o m p ro m e tid a s no p r o c e s s o de dem ocratização. Exem plo,
d isso , é o p r o c e s s o de a sc e n ç ã o socia l na d em ocra cia a te n ie n se que pro­
vo co u o p rim eiro g ran d e su rto de ce tic ism o na h istória do p e n sa m e n to oci­
dental; um a outra c irc u n stâ n c ia ge rad ora de m ultip licidad e d a s fo rm a s de
p e n sa m e n to foi a d e sin te g ra ç ã o da orga n iza çã o unitária da igreja. A con­
c e p çã o do m un d o p a s s o u então de um a form a unitária para n o v o s m o d o s de
pensam ento.

A teoria de M a n n h e im , ao relacionar p en sa m e n to e p o siç ã o social, ob ­


viam ente, n o s enfrenta com o prob lem a do re la tiv ism o do co n h ec im e n to
q u e ele pretendeu superar, a partir do re co n h e cim e n to e a n á lise d o s p ro­
b le m a s d as c o n d iç õ e s s o c ia is do conhecim ento. A s d ife re n ça s s o c ia is in­
terferem na p erce p ç ão do objeto pelo sujeito, ge ra n d o d ife re n te s e stru tu ­
ra s m entais, de a co rd o co m o m eio socia l e a ép o ca vivida. N ão é, c om o o
idealism o, que su p õ e que há d ife re n te s realidades, m a s que o s v á rio s g ru ­
p o s s o c ia is p erce b e m re alid ad es diferentes.

N e st e sentido, a teoria so c io ló g ic a do c o n h ec im e n to foi a p resentad a


c o m o um a teoria da d ete rm in a çã o so cia l ou e xistencial do p en sa m e n to real.

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Com a co n stru ç ã o de s u a teoria so c io ló g ic a do conhecim ento, p roc u ­
rou M a n n h e im d e s e n v o lv e r um se n tid o o p o sto à v is ã o internalista do c o n h e ­
cim ento, refutando a teoria de que o p r o c e s s o do co n h e c im e n to não se d e­
se n v o lv e historica m e n te de acordo com leis im a n e n te s que e n vo lve m as­
p e c to s co m o a razão e a natureza d as co isa s, O p e n sa m e n to é, então, in­
fluenciad o por fa tores e x iste n c ia is ou “e xtra te ó ric o s", que m od ificam as
fo rm a s de pensar, o conteúd o do conhecim ento, influenciand o tam bém a
''p e r s p e c t iv a ” do sujeito. Este te rm o é definido por M a n n h e im co m o “a m a­
neira total de um sujeito co n ce b e r a s co isa s, tal c o m o é determ inad a pelo
se u am biente h istóric o e so c ia l".

A teoria de M a n n h e im e n vo lve o fator “e x p e riê n c ia ’’, isto é, o c o n h e c i­


m ento advém a partir de situ a ç õ e s já vivid as, em o p o siç ã o à teoria de que
o co n h ec im e n to d ep ende da lógica d a s id é ias acerca da natureza d as c o is a s
a travé s de um a a b ord agem dialética e interior do problema. Isto pode se r
ilustrad o p elas p r e m is s a s que ele form ulou:

A ) "T o d a fo rm u lação de um problem a s ó é p o ssib iliita d a por um a e xp e ­


riência hum ana prévia e real que en vo lva e s s e p ro b le m a ”;

B) " n a se le çã o d o s d a d o s m últip los e stá im plicado um ato voluntário


por parte do sujeito c o g n o sc e n t e "

C) "a s fo rç a s s u rg id a s da exp eriência vivid a influem na direção que


s e g u irá o tratam ento do p ro b le m a "

Em sín te se , as e x p e riê n c ia s v iv id a s alicerçam a s teorias. E s t a s sã o for­


m uladas por h o m e n s dentro de ce rtos gru p o s, p ois o in divíd uo iso la d o a pe­
nas participa do p r o c e s s o do pensam ento, levando avante o que ou tro s p en­
sa ra m a n tes dele.

M a n n h e im ilustra a influência de elem ento "e x tra t e ó ric o ”, na evo lu çã o


d as idéias s o c ia is citando a "c o m p e t iç ã o " entre g r u p o s em luta pelo p oder
que, no intuito de controlar a atividade eco n ôm ic a e d irigir o c u r so d o s a c o n ­
te c im e n to s p olíticos e socia is, im p u lsion a d iv e r s a s in te rp re taçõe s do m u n ­
do, que co n stitu e m a s e x p r e s s õ e s intelectuais d o s g r u p o s envo lvid os.

Entretanto, M a n n h e im rejeita a noção se d u tora de um a "m e n ta lid a d e g ru ­


p a i”, tal co m o foi p rop osta por D urkheim . O p rocesso de c o n h ec im e n to
e n vo lve uma varied ade de interp retações da e xp eriência " c o m u m ”, a través
de v á ria s o rie n ta çõ e s sim u ltâ n e a s e conflitivas, que, por su a vez, estão
ligad as à matriz d o s in te re s s e s coletivos. A s d ife re n ça s s o c ia is v isu a liz a d a s
por M a n n h e im eram, não ap e n a s quanto à ordem d o s in te re sse s, m a s de
m o d o s de pensam ento, de c a teg oria s em que o s e v e n to s s ã o co n c e b id o s e
até m e s m o n o s p róp rio s crité rios de validade.

Em “ Id eologia e U t o p ia " ele elaborou quatro de s u a s v is õ e s so b re a


p rofundidade d a s b re ch a s e x iste n te s entre o s e s tilo s de pensam ento.

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Em p rim e iro lugar, há o p en sa m e n to do tipo e sc o lá stic o , resultante do
p eríod o está tico da socied ad e. N e ste períod o os r e s p o n s á v e is pela v is ã o
do m und o eram o s m ág ic os, o s b râ m a n e s e o clero m edieval que fo rm a ­
va m a cam ada intelectual organizada co m o casta; e le s detinham o m o n o p ó ­
lio do p en sam ento. Este provinha, não da e xp eriência concreta com a vida
cotidiana, q u er d o s s e u s conflitos, q uer d o s re su lta d o s e m p íric o s n e ga tiv o s
ou p o sitivo s. M a s havia um a d istância da vida conflitiva do dia-a-dia. A s
v á ria s p o s iç õ e s de p od er dentro da m e s m a estrutura so cia l é que in fluen­
ciavam; a s v á ria s interp retações acerca da "v e rd a d e ".
Entretanto, e s s e sis t e m a unitário de interpretação do m un d o se d e s in ­
tegrou, quand o os intelectuais se libertaram da rig o ro sa organização da
Igreja. N o s p e río d o s de R e n a sc im e n to e d e R e form a o s p e n s a d o re s c o m e ­
çaram a o b s e rv a r que havia n u m e r o s a s c o n c e p ç õ e s do m und o e v á ria s or­
d e n s on tológicas. O objeto tornara-se d em a sia d am e n te am b íguo, p o is fôra
s u b m e tid o a m últip las interp retações d ive rge n te s. O clim a era de incerte­
zas. H avia n e c e s sid a d e de e ncontrar um a b a se s e g u ra para a existê n cia
objetiva. Então s u rg iu a e p istem ologia, tom and o co m o ponto de partida o
sujeito co gn o sce n te , p o is este, p re ssu p u n h a-se , é m a is im ediatam ente a c e s ­
sív e l que o objeto. O objetivo era definir a natureza e o va lo r do ato c o g n i­
tivo hum ano. C o m o exem plo, cita M a n n h e im a corrente racionalista da filo­
sofia fra n c e sa e alemã, de D e s c a rte s e de Kant,
N o entanto, o re c u rso e p iste m o ló g ic o d e m on strou -se insuficiente, p o is
não havia um s e r tra n sc e n d e n te e infalível capaz de em itir um julgam ento
so b re o va lo r do n o s s o p en sam ento. Entretanto, p o ssib ilito u o aparecim ento
de um a p sic o lo g ia geral e do pensam ento. Esta tam bém tinha o objetivo
de e xp licar o sig n ific a d o a partir de s u a gênese no sujeito. O indivíduo
se p a ra d o do grupo. M a s , tal c o m o a ep iste m olo gia, e sq u e cia -se do fator
socia l do conhecim ento. Isto s e deve, conclui M a n n h e im , ao fato de que
a m b a s evo lu íra m em p e río d o s ra d ic a is de in d iv id u a lism o e su b je tiv ism o na
é p oca da d e sin te g ra ç ã o da ordem so cia l m edieval e no início da era b u rg u e ­
sa-capitalista.
D e form a su b se q ü e n te , s u rg e a s o c io lo g ia do conhecim ento, num a é p o ­
ca de crise no p en sam ento, dentro de um contexto so cia l que tentou c o n ­
trabalançar a s te n d ê n cia s de um a so c ie d a d e individ ualista e indirecionad a
com um tipo m a is o rgâ n ico de ordem social.
A p rofundid ad e d as d ife re n ça s e xiste n te s entre e s tilo s de p en sa m e n to
levou M a n n h e im a fazer a d istin ç ão entre o co n ce ito p articular e total da
ideologia.

O con ce ito particular é utilizado para d e s ig n a r que c e rta s id éias e s p e ­


c ífic a s do sujeito estã o influenciad as pela situ a çã o socia l em que o m e s ­
m o vive; que a s a s s e r ç õ e s do indivíduo en co b re m um a v iv ê nc ia de inte re s­
se. Já o co n ce ito total d e sig n a que a estrutura global do p en sa m e n to do
op onente é um a função de s u a p o siç ã o social.

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M a n n h e im faz um a co n e xão p ro g re ss iv a entre o s co n c e ito s de ideologia
e so c io lo g ia do conhecim ento. Inicialmente, a d esco b e rta d a s ra íze s s o c ia is
do p en sa m e n to a s s u m iu a form a de "d e s m a s c a r a m e n t o ". O indivíduo, se m
q u e stio n a r a su a própria p o siç ã o in ve stiga a s b a s e s d a s id éias do a n ta g o n is ­
ta e a s interpreta c o m o m era fu n ç ã o da p o s iç ã o so cia l ocupad a pelo m esm o.
M a n n h e im reporta-se a o s partidos p olític os co m o o s p rim e iro s a s e utiliza­
rem d esse método, a fim de d e m o n stra r a o s g ru p o s d om in a n te s que as
s u a s idéias refletiam o s a s p e c t o s d e c o rre n te s de s u a s sit u a ç õ e s de vid a
e de in te re s s e s in co n scie n te s. A o m e s m o tem po, a s p róp ria s o p in iõ e s do
gru p o atacante eram rob u stec id a s. O p róxim o p a s s o é adquirido q uand o o
indivíd uo in te re ssa -se pela aná lise s o c io ló g ic a da estrutura do p e n sa m e n to
do adversário, em s u a totalidade, com a finalidade de encontrar s u a s c o n s ­
tru çõ e s su b ja ce n tes d ete rm in a d as pela s u a p o siç ã o social. Finalm ente, nu­
ma fa se própria da so c io lo g ia do conhecim ento, o indivíduo, se m o intuito
de m oralizar ou d enunciar, m a s a p e n a s co m o in te re sse de p e sq u isa r, s u ­
jeita à a n álise ideológica não a p e n a s a e strutura de c o n sc iê n c ia e p e n s a ­
m ento do a dversário, m a s to d o s o s p o n to s de vista, questionando, a ssim , a
própria p osição. A s e stru tu ra s s o c ia is é que p o ssib ilita m que o m e s m o ob ­
jeto a s s u m a d ife re n te s fo rm a s e a s p e c t o s no p r o c e s s o da e vo lu çã o social.

A partir d e s s e ponto, em “Id eologia e U top ia", M a n n h e im p roc u rou fu n ­


d am entar a c o m p re e n sã o de “p e rsp e c tiv a " que d eve ria tra n sc e n d e r a par­
cial p ersp e ctiv a a s so c ia d a com a p articular p o siç ã o social. Ele partiu da
p re s s u p o s iç ã o de que a s c o n d iç õ e s te m p o ra is do a p arecim ento d a s idéias
afetam-lhe o co n te ú d o e a forma. Fazendo re s s a lv a s ao d e se n v o lv im e n to
d as c iê n cia s exatas, ele afirm a que n a s c iê n cia s cultu ra is o c o n h ec im e n to
opera de a cord o co m o ponto de vista c a ra cte rístico da época em que o
m e s m o objeto é v is to s o b outra perspectiva.

M a n n h e im subtrai do e xem p lo do que a contece na arte, a co m p aração


com o que a contece no conhecim ento. Na arte, é p o s sív e l fazer-se um
p re c iso re co n h e cim e n to da época em que d ete rm in a d as o b ra s a rtístic a s fo­
ram aprim oradas, p o is cada form a de arte e estilo, s o m e n te é p o s sív e l d en ­
tro de ce rtas c o n d iç õ e s que influenciaram a su a produção. D e igual modo,
no d om ín io do con h ecim e n to , a s fo rm a s p articulares d e ste revelam a p e r s ­
pectiva resultante de um am biente h istó ric o particular.

M a n n h e im faz um a d ig re s s ã o q uanto a o s tra ço s que pod em caracterizar


a p ersp e ctiva do sujeito, para efeito de s e u reconhecim ento, q uanto a é p o ­
ca ou situação. U m d o s e x e m p lo s refere-se ao u s o da palavra. A m e sm a
palavra p od e co n te r s ig n ific a ç ã o conceituai diversa, para p e s s o a s diferen­
tem ente situ ad as, c o m o é o c a s o da palavra “lib erd a d e" que no início do
s é c u lo X IX , para um alem ão co n se rva d o r, d e sig n a v a p rivilégios, e para um
in d ivíd uo pertencente ao m ovim e n to c o n se rv a d o r protestante, tinha c o n o ­
tação de liberdade p e s s o a l de a s s u m ir a própria personalidad e.

85
M a n n h e im achou de e sp ecial relevância situ a r o co nceito de p ersp e ctiva
no p eríod o c o n te m p o râ n eo de interpretação m útua d o s g ru p o s coletivos, s o ­
cial e intelectual hete ro gê n e os. O conflito entre a s idéias acontece, não
a p e n a s a nível de n a ç õ e s de um outro hem isfério, m a s tam bém entre a s
vá ria s ca m a d a s so c ia is, g ru p o s p ro fiss io n a is e de intelectuais.
Essa situ a çã o de conflito entre as idéias pode s e r re p resentada da
se g u in te form a: Im a g in e m o s um círculo, em se u centro e stá o objeto; ao
redor, a s p e s s o a s h e te ro g ê n e a s ou re p re se n ta n te s do gru p o socia l a que
pertencem objetivam visu a liza r o objeto ou d e m o n stra r que o visu a liza ra m
e que o objeto tem esta ou aquela form a e natureza. Entretanto, cada o b s e r­
vad or tem su a m aneira de vê-lo de a cord o com a própria vivê ncia socia l e
histórica. C a d a um tem a su a p ersp e ctiva particular que lhe determ ina o
â n gu lo de visão. D e n tro d e s s a p a isa g e m he te ro gê n e a de p ersp e ctiva s, tem
lugar a d is c u s s ã o acerca do objeto. U m d o s participantes, crend o no se u
próprio ponto de vista, d isco rre rá so b re a parte do objeto que c o n se g u iu
ve r e falará so b re a su a interpretação parcial do p rob le ma. O u tro partícipe
tenderá a n e gar a a s se rt iv a daquele, p orq ue a su a v is ã o do objeto lhe é di­
ferente; o se u sig n ific a d o brota da totalidade de s u a s p róp rias re ferên cia s
so c ia is. E a s s im s u c e ssiv a m e n te . Em co n se q ü ê n cia, o sig n ific a d o do objeto
p erm anecerá p arcialm ente o b sc u ro para cada um d o s participantes, dando
lugar ao d e se n te n d im e n to ou d isse n so .
E s s e q uad ro d ese stru tu ra d o r de idéias oferece um c a m p o p rop ício à
atuação do m étod o da so cio lo g ia do conhecim ento. Esta s e propõe a o rga n i­
zar o círculo da d is c u s s ã o . Perm an e ce m o s crité rios de " v e r d a d e " e " e r r o "
na d is c u s s ã o . O que m uda é a p ersp e ctiv a d o s participantes. E s t e s sã o leva­
dos, co m o que a d e slo c a re m de se u ponto de vista p articular e a adquirirem
a p ersp e ctiv a do oponente. A form a de interpretação do m und o d este p a s s a ­
rá a s e r vista c o m o uma função de d eterm inad a p o siç ã o social. E s s e pro­
cesso relacional de idéias com a estrutura social indica a transição da
p ersp e ctiv a p articular à total.

3. A ESTRUTURA D A S O C IE D A D E M O D E R N A

O s trê s a n o s p a s s a d o s entre a p ublicação de “ Id eologia e U top ia ” e a


saíd a de M a n n h e im da A le m a n h a m arcam a tra n siçã o da so c io lo g ia do c o ­
n h e cim ento para o e stu d o m acro e m ic ro so c io ló g ic o da estrutura social.
N e ste p eríod o su a prod ução intelectual foi m uito influenciada por M a x W e ­
ber, e ele m an ife sto u s e u s p rim e iro s e n v o lv im e n to s c o n ce rn e n te s à p e r s o ­
nalidade e cultura no p lanejam ento em sociedade.
Porém, a m ud ança de M a n n h e im para a Inglaterra indica, em s u a ca rrei­
ra, a a q u isiçã o de d iferente p ersp e ctiva no cam p o de s u a s p e s q u is a s s o c io ­
lógicas. A cre sc e n te te n sã o internacional e a relativa s e g u ra n ç a oferecida
pela Inglaterra deixaram -no entre o ce tic ism o e o otim ism o quanto ao fu n ­
cio nam ento da d em ocra cia liberal, na época.

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M a n n h e im achava que, por c a u sa do sis t e m a industrial, não é m a is p o s ­
síve l um a pseud o-d em ocracia, em que o p od er p olítico era atribuído à s elites
intelectualm ente m a is preparadas. Hoje, o m aior nú m e ro de g r u p o s s o c ia is
v is a participar no controle socia l e político. Portanto, há a n e c e s sid a d e de
que to d o s tenham o m e s m o nível de c o m p re e n sã o da realidade. C a s o c o n ­
trário, a so c ie d a d e não s e estabilizará. O p e n sa m e n to e a a ção d ev e m s e r
d em ocraticam en te o rien ta d o s para a planificação da so c ie d a d e m oderna, de
form a a controlar a s situ a çõ e s, s e m os in co n v e n ie n te s da ditadura e da
barbárie. Ele fez um a d istin ç ão entre trê s tip o s de p en sam ento, re laciona­
d o s à s n e c e s s id a d e s socia is. N u m nível m a is primário, coloca-se o p e n s a ­
m ento da “d e sco b e rta o c a s io n a l”, em que a so lu ç ã o para d eterm inad o tipo
de prob lem a é acidentalm ente encontrada. Esta é a fa se original de uma
organização socia l e econôm ica, cujo exem plo, s ã o os co le to re s de ali­
m ento e o s ca ça d ores; num e stá g io m a is avançado, s u rg e o p e n sa m e n to
do tipo “ in v e n tiv o ”, caracterizado pela im agin ação e pela p re visão . N e sta
fase, o s objetivos s ã o c ria d o s e se le c io n a d o s; finalm ente, no e stá g io do
p en sa m e n to “p la n ifica d o ", tanto a s in stitu içõ e s isolad as, q uanto o s ob jetivos
sã o re gu lam e n ta d os e racionalm ente rela cio n ad o s dentro da so c ie d a d e com o
um todo.
D e igual m odo, na so cie d a d e M a n n h e im identifica tr ê s f a s e s h istóric a s:
a primeira, de a cord o com a te rm inologia usad a p or D u rkheim , co rre sp o n d e
a da solid aried ad e m ecânica, caracterizada pelo p re d o m ín io do g ru p o so b re
o indivíduo. Este, seja pela tradição, seja pelo m edo, não s e se n te em co n ­
d iç õ e s de v iv e r in d ep end entem ente do grupo: d eve v iv e r ou p erecer dentro
deste. O indivíd uo não tem c o n sc iê n c ia de si, c o m o um s e r iso la d o e, p or­
tanto, não pode a s s u m ir re sp o n sa b ilid a d e s individuais. C o n tra sta n d o com
e s s e m und o de co m p orta m e n to hom ogêneo, s u rg e em s e u lugar, a so c ie d a d e
da co m p e tição individual. N e sta fase, o indivíduo já é capaz de form ar
s u a s p róp rias o p in iõ e s e de co n ce b e r o m und o a partir de s u a s e xp eriê n ­
c ia s p e s s o a is . Ele v iv e ncia a individualidade e não tem e a re s p o n s a b ili­
dade. Tem c o n sc iê n c ia de s e u s in te re s s e s e adapta-se à s c irc u n stâ n c ias,
para m elh or servi-los. U m e xem p lo de co ntrib uição ao c re sc im e n to da re s ­
p onsab ilid ad e p e s s o a l foi o s is t e m a de p e q u e n as prop riedad es, p o is o indi­
víd u o era ob rigad o a elaborar um a e stratégia de ação para não p erec e r na
luta com petitiva. O re su ltad o im ediato foi o su rg im e n to de um a racionali­
dade subjetiva ou racio cín io de concorrência. A terceira fa se h istórico-social
c o rre sp o n d e a da so cie d a d e industrial. C aracteriza-se pelo a b and ono da
atitude de co m p e tição mútua. O indivíduo é levado a s e s u b o rd in a r porque
co m p re n d e que, abrindo m ão de certas va n ta g e n s p e s s o a is , colabora com
a m anutenção do sis t e m a e co n ô m ic o e social, re sg u a rd a n d o s e u s in te re s s e s
p e s s o a is ; com prende, ainda, que o m e c a n ism o so cia l é c o n stitu íd o a partir
de a c o n te cim e n tos in terd epend entes que d evem s e r su je ito s a planificação.
O term o "p la n ific a ç ã o " é u sad o por M a n n h e im com o se n tid o de re­
c o n stru ir uma so c ie d a d e em transform ação, com o s p róp rio s e le m e n to s e x is -

8
7
tentes dentro dela, e com o fim de transform á-la em reduto saud áve l d o s
ob je tivos do h om e m p rop iciando a canalização de s u a s en e rgia s. A t r a v é s
do planejam ento a ordem socia l p a s s a a s e r a de um E sta d o de s e rv iç o e
de e xistê n cia de fo rm a s e s s e n c ia is de liberdade.

O planejam ento s e tornará viável a través da técnica social, que s ã o a s


práticas e in stru m e n to s u s a d o s para m od elar o com p orta m e n to h u m ano e
a s re la çõ e s so c ia is, de form a a dar form a e dar direção à s fo rç a s v ita is
do indivíduo, de form a re sp o n sáv e l.

N o con ce ito de p lanificação, M a n n h e im introduz o s p rin cíp io s de liber­


dade e de re sp o n sab ilid a d e. E s t e s d ev e m alinhavar o p r o c e s s o d em ocrático,
de m od o a que o m e s m o não s ir v a a fin s n ocivos, em vez de irradiar influên­
c ia s de e le m e n to s s o c ia is criad ores. E que, em virtud e d a s té c n ic a s de
com unicação, hoje existe n te s, é p o s sív e l a co n d u ç ão da so c ie d a d e para a
r e g r e s s ã o social, quando, por exem plo, o s m e io s de p rop a ga n d a s ã o mal
utilizad os por h om ens, cuja m entalidade s e situa em s u a fa se primitiva.

4. IN FLU ÊNC IA DE M A N N H E IM

Ao lado de M a x W e b e r, Em ile D urkhiim , V ilfredo Pareto e Karl M arx,


Karl M a n n h e im é c o n sid e ra d o um dos m a io re s s o c ió lo g o s de to d o s os
tem pos. Entretanto, s u a d e sc e n d ê n c ia intelectual não é num erosa.

M a n n h e im foi um p r o f e s s o r estim ulante, m a s p or vá ria s c irc u n stâ n c ia s


p erdeu a op o rtunid ad e de influenciar uma nova ge ra çã o de so c ió lo g o s.
S e u s a lu n o s de Frankfurt foram e sp a lh a d o s e deixaram de s e g u ir carreira.
Na “ London S c h o o l of E c o n o m ic s ", o s e stu d a n te s in te re s s a d o s na p e s q u is a
em pírica, ach a va m que M a n n h e im não u sa v a com d ese n vo ltura a s técnicas,
então em vigor, e p o u c o s d e le s e sta va m d evidam ente p re p a ra d o s para fazer
o s tip os de p e s q u is a históric a e m ac ro so cio ló gica , com que M a n n h e im m ais
s e identificava. T am b ém a duração da gu e rra trouxe e n o rm e s p rejuízos para
o d e se n v o lv im e n to da s o c io lo g ia de M a n n h e im , interrom pendo, na Inglater­
ra, o s e u ensino. A p e s q u is a na ciê n cia so cia l tam bém ficou p aralisad a na
Ale m an h a, e i s s o fez d e sa p a re c e r o am biente cultural p rop ício ao d e s e n ­
v o lv im e n to da s o c io lo g ia do conhecim ento. A p ó s a guerra, a p e s q u is a social
foi reaquecida, p orém s e m o calor da tradição m a is antiga e a obra, a n tes da
guerra, de M a n n h e im so b re m a c ro so c io lo g ia não p arecia relevante a o s in­
teresses atuais.

Em c o n se q ü ê n cia, a s o c io lo g ia do conhecim ento, praticada por M a n n h e im ,


não e n controu m uitos se gu id o re s. S u a única m an ife sta ç ão sã o "E r n e s t Kohn
B ra m st e d t’s D iss e rt a tin ", "a rist o c ra c y and M id d le - C la s s e s in G erm any"
(1937), H a n s G e r th 's “ D ie s o z ia lg e sc h ic h tlic h e Lage d er Bü rge rlich e n Intel­
ligenz um die W e n d e d e s 18. J a h r h u n d e rt s ” (1935), and H a n s S p e ie r 's “D ie
G e sc h ic h t sp h ilo s o p h ie L a s s a lle 's (1929).

88
é intrigante e paradoxal o fato de que a s o c io lo g ia do conhecim ento,
além de não ter d esaparecid o, flo re sce u em v á ria s áreas, sem , ao m e s m o
tempo, esp a lh a r a s in fluências de M a n n h e im .
Exem plificando, M irc e a Eliade e C la u d e L é vi-Stra u ss, na elaboração s o ­
bre a s ca te g o ria s fu n d a m e n ta is do p en sam ento, d ev e m m uito a Jung, D u rk ­
heim e M a u s s , m as, p raticam ente nada a M a n n h e im .
M a s s e a influência direta de M a n n h e im é hoje q u a se im perceptível,
no atual d e se n v o lv im e n to da socio log ia, o in te re s s e em c e rta s d as g ra n d e s
questões da s o c io lo g ia do c o n h ec im e n to que ele levantou não so m e n te
tran sb ord a as fron teiras d iscip lin are s, atingind o cam pos da história da
ciência e e p istem ologia, c o m o tam bém , re su lta no livro m a is citado e pro­
vavelm ente m ais lido d as C iê n c ia s S o c ia is dos ú ltim o s trinta a n o s — A
estrutura d as R e v o lu ç õ e s C ie n tífic a s de T h o m a s K u h n (1). N e sta obra, Kuhn,
físic o por p rofissã o, e historia d or da C iê n c ia p or opção, argu m e n ta que a s
ciê n cia s s o c ia is d evem tratar a C iê n c ia Natural, c o m o o m a is p o d e ro so e
revolucionário instru m e nto n o s últim os trê s sé c u lo s, c o m o q u alq u e r outro
fe n ô m e n o s o c ia lm e n te c o n stru íd o em d ete rm in a d os co n te x to s h istóric os.
Diz, im plicitam ente, que a tentativa da filosofia, e em particular da e p iste ­
m olo gia científica, de exp licar se u incontestável êxito em algo exterior à
s u a prática social, o "fu n d a m e n t is t a " quer na ontologia do m undo, q uer na
lógica d o s s e u s p roced im entos, não s o m e n te é mal s u c e d id o até hoje, m as
fadado ao fra c a sso . Em se u lugar, aponta o c a m in h o do naturalismo, ao
estu d o da prática e do fe n ô m e n o da ciê n cia c o m o q u alquer outra e x p re s s ã o
social, pelo cam in h o da so c io lo g ia do conhecim ento.
É esp e cia lm en te interessante, então, que ce rto s filó s o f o s co n te m p o râ ­
n e o s da ciência, p or e xe m p lo Ronald N. G ie re (2) adm itindo a derrota do
p rogram a "fu n d a m e n tis ta 1’, optam por um a ab o rd a ge m " n a t u r a lis t a " para o
e stu d o da ciência, to m and o a obra de K uhn c o m o ponto de partida e o novo
cam p o de investigação, a S o c io lo g ia da Ciência, co m o u m a co n trib u içã o im­
portante a este em preendim ento.
O q uadro m uda de figura q uanto a e stu d o s de ideologias, que co m e ça m
a ocupar um lugar im portante na a n á lise socio lóg ica . S u a influência, n e s s e
sentido, pode s e r atribuída ao u s o do term o "id e o lo g ia ” , que d e sp e rto u a
atenção d o s so c ió lo g o s, c o m o tam bém , pelo fato de que M a n n h e im estu d ou
o a s su n t o com e sp ecial dedicação. Se m e lha m e n te , há influência de Man­
nheim no e stu d o do p ap el político e social de intelectuais e d o s s is t e m a s
in stitu cio n ais da vid a intelectual, na form a em que foi co n d u zid o p or T h e o­
d or Geiger, R o b e rt K. M e rton , J o se p h Ben-David, Talcott P arso n s, M a rtin
Trow, L e w is C o s e r e outros.

(1) K u h n , Thom as S. (1970) — The Stru ctu re of S c ie n tific R e v o lu t io n s, 2ª ed ., C h ic a g o , The


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go P re s s, C h ic a g o — London.

89
Tam bém , hou ve m a is recep tivid ade relativam ente à id é ias m a c ro s o c io ­
ló gica s de M a n n h e im q uanto à so cie d a d e de m assa , cuja aparição coincidiu
com o su rg im e n to da influência da so c io lo g ia do M a r x is m o e da obra de
M a x W e b e r s o b re d em ocra cia e capitalism o, Na época, p re ocu p a va m -se o s
s o c ió lo g o s em decifrar a s c a u s a s do o c a so d a s s o c ie d a d e s lib erais e do
su rg im e n to d o s re g im e s p o p u lista s e totalitários. Em co n se q ü ê n cia, a influ­
ência de M a n n h e im , nesta área, foi m a is duradoura.

BIBLIO G RAFIA:

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