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DOI: http://dx.doi.org/10.5212/Emancipacao.v.9i2.

249258

A midiatização como processo de reconhecimento,


legitimidade e prática social

The mediatization as a process of recognition, legiti-


macy and social practice

Carlos Renan Samuel SANCHOTENE*

Resumo: O presente artigo faz uma reflexão sobre o processo de midiatização na


sociedade contemporânea, marcada pelo atravessamento de lógicas dos processos
interacionais dos meios midiáticos. Destacamos a passagem da sociedade dos
meios à sociedade midiatizada; os embates entre os campos sociais, marcados
pela centralidade da mídia, cujas lógicas de funcionamento têm afetado outros
campos, havendo um cruzamento de interesses, negociações, disputas e inter-
relações. Chamamos também atenção para as formas de relações e interações
entre indivíduos e meios, destacando os processos realizados na constituição de
vínculos estabelecidos no contexto da midiatização das práticas sociais.
Palavras-chaves: Midiatização. Campos sociais. Interação social. Legitimação.

Abstract: The present article discusses the process of mediatization in contempo-


rary society, which is marked by an intersection of the logical reasons behind the
interaction processes of the media. The following aspects will be emphasized: the
passage from a society based on means of communication to a mediatic society;
the clashes between the social fields, marked by the centrality of the media, whose
functioning methods have been affecting other fields, thus creating a concourse of
interests, negotiations, disputes and interrelations. The sort of relations and inte-
ractions between the individuals and the media will also be stressed, with special
attention to the processes related to the constitution of bonds established in the
context of the mediatization of the social practices.
Keywords: Mediatization. Social fields. Social interaction. Legitimacy.

Recebido em: 03/08/2009. Aceito em: 24/09/2009.

* Jornalista, mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS e bolsista CAPES na linha
de pesquisa Midiatização e Processos Sociais. E-mail: carlos_sanchotene@yahoo.com.br.

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Carlos Renan Samuel SANCHOTENE

1 Introdução: Da sociedade dos meios à so- meios massivos, perpassados por interações
ciedade midiatizada complexas de produção e representação de sen-
tidos, destacam-se as transformações nos regi-
A midiatização se encontra na existência mes de visibilidade, possibilitadas pelo campo
de uma cultura pós-moderna, de lógicas e opera- das mídias, espaço de embates e legitimação
ções de natureza midiática e que se inscrevem na dos campos.
vida da sociedade, permeando e constituindo suas
Na sociedade dos meios, as mídias es-
formas de organização e funcionamento, definin-
tão em uma “zona de contato” com os demais
do condições de acesso e consumo por parte dos
campos sociais. Significa que os campos estão
indivíduos. Esse processo emerge na “sociedade
em interação, não conformados por suas fron-
midiática” e atualiza-se, de modo intenso e gene-
teiras enquanto territórios estáticos. Sendo sua
ralizado, nos tempos atuais, com a transformação
atividade dominantemente de caráter simbólico,
daquela na “sociedade midiatizada”.
suas práticas discursivas movem-se instituindo
Ambas evocam ambientes distintos e, con- processos e estratégias e disputas de sentido.
sequentemente, ditam condições e parâmetros (RODRIGUES, 1999).
para a inserção e o funcionamento das mídias.
É a existência destes “pontos de contatos”
De modo sucinto, na primeira, apesar de des-
que vai desenvolver as possibilidades de intera-
tacar-se a centralidade das mídias, dispositivos
ção entre os campos. No que se refere ao cam-
que estavam a serviço de determinadas funções
po da mídia, este é convertido numa espécie de
as quais somente poderiam ser por eles realiza-
“ponto de acesso” ou pontos de conexão entre
das em função das competências da sua própria
os indivíduos e os representantes dos sistemas
natureza e das suas potencialidades enunciati-
abstratos, como define Giddens (1991) ao afir-
vas. Nesse caso, reconhecidos por sua função
mar que as mídias, com seus atos e “peritos”,
de auxiliaridade, cabendo-lhes, além de funções
constituem-se como um espaço que institui elos
clássicas, conforme as prescrições de fundo fun-
de confiança com os indivíduos, que necessitam
cionalista, o seu trabalho de tematização pública.
de um trabalho mediador. Na sociedade midia-
(RODRIGUES, 1999).
tizada, as mídias são convertidas em “sistema”
A transformação da “sociedade dos meios” que expande seu status e que organiza suas
na “sociedade midiatizada” é uma consequência próprias operações, do que resulta a constituição
da interrupção do “contato direto” (LUHMANN, de uma própria realidade.
2005) entre os indivíduos pela presença das mí-
Operando a partir dela, define, com base
dias. Intensifica-se a presença dos meios não
em suas próprias condições, lógicas e opera-
apenas no âmbito do seu próprio terreno, mas
ções, os processos de interação que vão esta-
também pelo processo de seu deslocamento
belecer com o que é externo, definindo zonas
e de sua expansão para outros campos. Suas
de pregnância entre as suas fronteiras (inter-
operações são apropriadas como condições
nas) e aquilo que configura o espaço que lhe é
de produção para o funcionamento discursivo
exterior. De acordo com Fausto Neto (2007), a
e simbólico de diferentes práticas sociais. Os
constituição da sociedade, as formas de vida e
meios já não podem ser mais entendidos como
interações têm sido transformadas em função
transportadores de sentidos, nem como espaços
da convergência de fatores sociotecnológicos
de interação entre produtores e receptores, mas
que foram disseminados na sociedade segundo
como marca, modelo, racionalidade produtora e
lógicas de ofertas e de usos sociais.
organizadora de sentido (MATA, 1999).
O processo de midiatização, na concepção Já não se trata mais de reconhecer a centra-
lidade dos meios na tarefa de organização
de Mata (Ibidem), revela que há mudanças nos
de processos interacionais entre os campos
modos de pensar, nas matrizes e modelos cul- sociais, mas de constatar que a constituição
turais que reconfiguram as experiências identitá- e o funcionamento da sociedade – de suas
rias, baseadas nas diversidades que os vínculos práticas, lógicas e esquemas de codifica-
sociais constroem. Na contemporaneidade dos ção – estão atravessados e permeados por

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A midiatização como processo de reconhecimento, legitimidade e prática social

pressupostos e lógicas do que se denomina- Um campo social é formado por instituições que
ria a cultura da mídia (Ibidem, p. 92). são reconhecidas e respeitadas dentro de um do-
mínio específico de competência que dita seus
A sociedade dos meios, portanto, coloca- próprios modos de operar, tanto para o próprio
se a serviço de uma organização de uma proces- campo, quanto para os membros que o com-
sualidade interacional com autonomia frente aos põem. Essa especificidade é marcada pelos atos
outros campos; já na sociedade midiatizada, o de linguagem, discursos e práticas.
que predomina é a cultura midiática, convertida É notável, na sociedade atual, a importân-
em referência sobre a qual a estrutura sociotéc- cia ocupada pela mídia devido à sua mediação e
nica-discursiva se estabelece, produzindo zonas diálogo com outros campos, promovendo o de-
de afetação em vários níveis da organização e bate público e, inclusive, pautando a conversa-
da dinâmica da própria sociedade. Ou seja, se ção social. É uma relação de interdependência
constitui como referência no modo de ser da pró- na constituição de suas próprias legitimidades,
pria sociedade. É através da compreensão sobre já que os campos sociais necessitam da mídia
as lutas travadas entre campos sociais que se para garantir visibilidade frente à esfera pública
pode entender melhor o funcionamento da atual e a mídia necessita dos demais campos para
sociedade midiatizada. colocar em prática sua visibilidade.
A alta visibilidade que o campo midiático
2 O contexto dos campos sociais garante aos demais não midiáticos ocorre atra-
vés de embates e tensões estabelecidos pelos
No embate das relações entre campos so-
vínculos entre os campos, cada um com sua
ciais é possível perceber que a mídia é responsá-
própria simbólica e relevância, assegurando vi-
vel pela mediação do conteúdo (agendamento1)
sibilidade pública. Essa divergência de objetivos
que chega aos indivíduos, sendo que estes de-
e interesses entre os campos faz com que o dis-
senvolvem opiniões baseadas em midiatizações,
curso do campo das mídias assuma uma impor-
ou seja, em informações mediadas pela mídia.
tante função de posicionamento centralizante na
Os campos sociais caracterizam-se como institui-
estruturação do tecido social. Para muitos indiví-
ções dotadas de legitimidade e certa autonomia
duos, veículos como a televisão acabam sendo o
em relação aos demais campos. A mídia acaba
único meio de acesso às informações das mais
por modificar estruturalmente as articulações de
variadas ordens, tornando-se o único olhar para
instituições sociais, devido à sua interferência e
a realidade socioeconômica-política-cultural.
aos seus próprios modos de operar, utilizando-se,
na contemporaneidade, de estratégias distintas Nesse sentido, as interações entre os cam-
para publicizar os fatos dos demais campos. Os pos se estabelecem por diversas relações de
processos discursivos dos campos não midiáticos interesse e poder. Com suas respectivas simbó-
sofrem interferências na lógica dos seus funciona- licas, o campo das mídias possui um bem espe-
mentos para que garantam visibilidade na esfera cífico, que é a palavra pública. Segundo Esteves
pública. Para tanto, buscam legitimação a partir de (1998, p. 148), essa especificidade foi conquista-
disputas simbólicas com o campo das mídias. da pelo campo midiático a partir de um processo
longo e contínuo que consolidou tal legitimidade
O conceito de campo é proposto por Adria-
“no reconhecimento da competência própria do
no Duarte Rodrigues (1999, p. 18) como uma
campo para selecionar e distribuir a informação
esfera de legitimidade “para criar, impor, manter,
a uma escala larga no tecido social”. É uma con-
sancionar e restabelecer os valores e as regras,
cretização de conquista da sociedade moderna a
tanto constitutivas como normativas, que regu-
partir dos direitos de uma vertente de mão dupla:
lam um domínio autonomizado da experiência”.
o direito de informar e ser informado.
A competência do campo das mídias está,
1 De acordo com a Teoria do Agendamento ou Agenda-setting, justamente, na especificidade de sua discursivação
formulada por McCombs e Shaw na década de 1970, a mídia de- na esfera púbica e envolvida em tensões com
termina o que será discutido pelos indivíduos nas suas relações so-
ciais, ou seja, a mídia pauta os assuntos da esfera pública, dizendo
outros campos dentro de uma ambiência conflitu-
às pessoas não “o que pensar”, mas sim “em que pensar”. osa. A partir de sua legitimidade, outros campos

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atentam para o poder de sua simbólica e passam 3 O contexto da midiatização


a planejar estratégias de intervenção e apropria-
ção desse campo centralizante nas mediações Uma perspectiva para a compreensão do
simbólicas de caráter social homogêneo. conceito de midiatização é assumida por Eliseo
Dentro dessa lógica, observa-se cada vez Verón (1997), que o considera como um fenôme-
mais o uso estratégico da mídia por parte de outros no que transcende os meios enquanto instrumen-
campos. No campo religioso, a igreja buscando a talidades, pois esse fenômeno surge como pro-
conquista de novos fiéis através de programas de cesso originado tanto pela evolução tecnológica
rádio e tevê; no campo musical, o uso estratégico quanto pelas demandas sociais. A comunicação
da internet na divulgação e promoção de novas midiática resulta da articulação entre dispositi-
bandas musicais. Em relação ao campo político, vos tecnológicos e as condições específicas de
nota-se que este acaba moldando-se à lógica dos produção e recepção. Segundo Verón (Ibidem,
meios de comunicação, da publicidade e do marke- p. 13), “um meio de comunicação social é um
ting, buscando atrair a atenção da opinião pública. dispositivo tecnológico de produção-reprodução
A internet tem sido uma grande ferramenta para dar de mensagens associado a determinadas moda-
visibilidade aos atores políticos, principalmente em
lidades (ou práticas) de recepção de mensagens
períodos eleitorais.
ditas”. Como um suporte técnico, esse dispositivo
Essas relações entre os campos exercem engendra processos complexos e simbólicos de
poder um sobre o outro dentro de um espaço de produção e recepção, que configuram a estrutura
luta simbólica para dar visibilidade aos interesses do mercado discursivo.
singulares de cada campo. A legitimação se dá na
relação de necessidade presente na interação dos Essa perspectiva abrange uma dimensão co-
campos, pois o campo midiático precisa publicizar letiva na sua prática com a questão tecnológica e os
os assuntos dos outros campos, assim como os usos sociais dos meios. A noção de meio de comu-
outros campos precisam da mídia para que seus nicação social “deve satisfazer o critério de acesso
conteúdos se tornem públicos. Essas relações plural das mensagens [...] Isto permite definir o setor
estão imbricadas na organização de estratégias dos meios como um mercado e caracterizar o con-
midiáticas, fundamental para a realização de tá- junto como oferta discursiva”. (Ibidem, p.14).
ticas de contato com seu público, o que decorre
a partir do complexo fenômeno da midiatização A mídia ocupa um lugar central na socie-
constituído por um processo em que os disposi- dade e o autor acredita que as relações sociais
tivos midiáticos agem sobre práticas sociais dos criadas pela prática da mídia condicionam o agir
outros campos, estruturando-as e engendrando- das pessoas no seu dia-a-dia, conforme o es-
as por meio de operações tecnossimbólicas. quema abaixo:

Figura 1 – Esquema simplificado da Semiose da Midiatização2

Fonte: Adaptado de modelo desenvolvido por VERÓN (1997)

2 Reprodução a partir do modelo desenvolvido por Verón (1997).

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A midiatização como processo de reconhecimento, legitimidade e prática social

A partir do esquema da semiose da midia- O autor afirma que, como um canal de so-
tização, proposta por Verón (1997), é possível cialização, a tevê aproxima e integra as pessoas
entender que a mídia, enquanto instituição, faz a em uma comunidade nacional e universal. De
mediação entre os campos sociais e atores so- acordo com ele, as interpretações do mundo, mui-
ciais. E, ainda, relaciona-se tanto isoladamente tas vezes, são feitas a partir de pontos de referên-
quanto simultaneamente, podendo inclusive ser cia que os indivíduos tomam sob o que é midiati-
a única forma de ligação entre ambos. Observa- zado pelos meios de comunicação de massa.
se que a mídia ocupa um espaço central nas Os meios massivos acabam pautando a
relações entre os campos sociais e os indivídu- conversação social com seu amplo poder de fa-
os. É ela quem promove conexões e, por meio lar às massas, invadindo o espaço privado dos
de suas operações, acaba afetando a maneira indivíduos, expandindo sua visão e, porque não
como os campos e seus sujeitos relacionam-se. dizer, sua opinião sobre os fatos. No processo de
A centralidade da mídia mostra que suas lógicas midiatização, as construções opinativas realiza-
de funcionamento têm afetado os outros campos, das por esse meio têm fortes incidências sobre
havendo um cruzamento de interesses, negocia- as pessoas, que já não estão mais isoladas, pois
ções, disputas e interrelações. fazem parte agora de uma “comunidade pelo ar”,
Pedro Gilberto Gomes (2006) é um dos unindo-se diante dos meios massivos.
autores que trabalha a midiatização no âmbito O conceito de midiatização proposto por
de um processo social complexo engendrado por Gomes (2006) é avaliado como um processo
mecanismos de produção de sentido social. Para organizado em volta de um consumo por parte
o autor, “a midiatização é a reconfiguração de das pessoas, que se relacionam com as produ-
uma ecologia comunicacional”. (Ibidem, p. 121). ções de sentido social elaboradas por terceiros.
Ou seja, através desse processo compreende-se Nesse caso, os meios funcionam na construção
o funcionamento da mídia e da sociedade, que do imaginário social, produzindo reflexões e po-
cada vez mais se autopercebe a partir do fenô- sicionamentos acerca dos acontecimentos.
meno midiático. Essas reflexões são trabalhadas
A nova ambiência e o novo modo de ser
pelo autor, sobretudo, a partir da televisão na
no mundo são configurados pela presença da
contemporaneidade. “A televisão está imbricada
mídia que, ao dar visibilidade a determinados
no amplo processo de midiatização da sociedade
assuntos, dita ou não a realidade social. Tal fato
e configura um modo de posicionar-se frente ao
só ocorreu porque “saiu na mídia”, se “não saiu
mundo e as coisas.” (Ibidem, p. 112).
na mídia” é porque não ocorreu. Isso mostra que,
A televisão é um meio que possibilita a cada vez mais, a existência da mídia dá suporte
construção do imaginário, visto que muitas prá- ao saber e a existência da sociedade. Se algo
ticas sociais são perpassadas e legitimadas por não é midiatizado, cria-se a sensação de ine-
ela. Em países subdesenvolvidos como o Brasil, xistência. Embora essa afirmação não seja re-
e por questões culturais, a tevê acaba assumindo ducionista, ela é no mínimo polêmica, devido às
o papel de uma instituição política da atualida- várias vertentes que dedicam estudos acerca do
de. Essa espécie de posicionamento assumido tema. Contudo, ela é de fato comprovada pelas
por ela contribui para a formação de opinião da constantes frases que são proferidas diariamen-
sociedade, já que dispõe desse caráter de posi- te, como “Você viu, saiu no jornal” (Se saiu no
cionamento frente às coisas. jornal é porque é verdade) ou “Não deu na TV”
(Logo, não aconteceu).
Essa afirmação é corroborada a partir da
sentença de Gomes (Ibidem, p. 113), quando As novas configurações e deslocamentos
este define que a sociedade atual vive uma mu- de existências são permitidos, segundo Sodré
dança, pois “está surgindo um novo modo de ser (2006, p. 19), pelas mutações sociais ocasiona-
no mundo representado pela midiatização da so- das pela mídia, pois “formas tradicionais de re-
ciedade”. É uma nova ambiência caracterizada presentação da realidade e novíssimas [...] intera-
pela presença dos meios de comunicação que gem, expandindo a dimensão tecnocultural, onde
agem diretamente nas relações interpessoais. se constituem e se movimentam novos sujeitos

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sociais”. A questão da midiatização para o autor que são estruturadas sociotecnologicamente,


aproxima-se com a visão de Gomes (2006) de criando novas ambiências para possibilitar essas
que está havendo um novo modo de ser no mun- interações de modo que ocorra “a disseminação
do. Muniz Sodré (2006) amplia as três formas de novos protocolos técnicos em toda extensão
de existência humana propostas por Aristóteles da organização social, e de intensificação de
(vida contemplativa, vida política e vida prazero- processos que vão transformando tecnologias
sa) pensando em um novo bios de qualificação em meios de produção, circulação e recepção
cultural própria, a chamada tecnocultura. de discursos”. (Ibidem, p. 92).
A quarta esfera existencial de Sodré (Ibi- A constituição e o funcionamento da socieda-
dem, p. 23) “implica uma nova tecnologia percep- de atual são perpassados por lógicas denominadas
tiva e mental, portanto, um novo tipo de relacio- pelo autor como cultura da mídia, cuja existência
namento do indivíduo com as referências concre- não pode ser caracterizada como lugar de auxilia-
tas e com a verdade [...]” É o que ele chama de ridade, e sim como geradora no modo de existên-
escolha individualista, uma prática recorrente na cia da sociedade. Assim, cria-se uma realidade de
sociedade moderna em relação a novos modos comunicação midiática que, através de dinamiza-
de pensar e agir, que parte dos desejos indivi- ções, reformula condições de enunciabilidade da
duais, de qualificação existencial orientada pela realidade que afetam a vida social a ponto de se
mídia, a responsável pelos processos de intera- estabelecerem vínculos de identidade e fidedigni-
ção social e construção social. dade com o que propõe a midiatização.
O contexto da midiatização desenvolve-se As transformações que ocorrem na socie-
em dados históricos distintos devido à evolução dade são responsáveis, também, pelas muta-
dos meios massivos, que complexifica os modos ções sofridas tanto pelos campos sociais quanto
e estratégias utilizados pela mídia na captura e pelo campo midiático. O campo da comunicação,
conquista de suas audiências. De acordo com consumado por seus mais variados aparatos
Fausto Neto (2006, p. 3): tecnológicos, prolifera construções que dimen-
[...] a sociedade na qual se engendra e se de- sionam sociabilidades distintas, assumindo uma
senvolve a midiatização é constituída por uma condição de espaço/lugar político-econômico-
nova natureza sócio-organizacional na medida social. Daí pode-se dizer que a midiatização re-
em que passamos de estágios de linearida- mete a questões de espaço público, negocian-
des para aqueles de descontinuidades, onde do e disputando sentidos que são ofertados à
noções de comunicação, associadas a totali- sociedade, mas, ao mesmo tempo, a mídia se
dades homogêneas, dão lugar às noções de estabelece como espaço público a partir do que
fragmentos e às noções de heterogeneidades.
é produzido, mediado e veiculado.
A proposição do autor derruba os paradig- Neste cenário da midiatização, aproximam-
mas que sustentavam a estruturação e homo- se os ideais de Fausto Neto (2006), na perspectiva
geneização da sociedade frente à convergência de que a mídia promove um diálogo através de
tecnológica, pois o que existe agora é uma am- sentidos no contexto social, com as proposições
bientação que funciona como uma nova forma de Maria Cristina Mata (1999) de que a socieda-
de sociedade, fragmentada e heterogênea, im- de enfrenta mudanças de ordem cultural massiva
pulsionada por novos mecanismos geradores para midiática. O que acontece com o campo midi-
de sentidos, cujas interações sociais são esta- ático é uma estruturação de práticas sociais, pois,
belecidas através de ligações sociotécnicas que agora, os indivíduos são parte integrante de uma
os indivíduos mantêm com os meios. Conforme cultura midiática de compreensão dos fenômenos
Fausto Neto (Ibidem, p. 8), os meios “estariam de produção de significados na sociedade.
fortemente em interação com outras dinâmicas De acordo com a autora, a centralidade
socioculturais, do que resultariam, assim, os sen- da mídia nos processos socioculturais foi adqui-
tidos emergentes numa realidade social”. rindo reconhecimento como fonte que informa,
O campo das mídias está organizando no- entretém e constrói imaginários coletivos, consti-
vas interações através de articulações específicas tuindo espaços identitários. Por cultura midiática

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A midiatização como processo de reconhecimento, legitimidade e prática social

compreende-se tudo aquilo que é intensificado, telespectador. A performance do apresentador


renovado e complexificado no desenvolvimento materializa o discurso televisivo capaz de fasci-
de um mundo interativo imposto e proposto pela nar o telespectador ao se adaptar às expectati-
mídia. Isso vale para todos os meios de comu- vas do imaginário social.
nicação, e não apenas para o desenvolvimento
Através de distintos rituais televisivos, pre-
da internet, por exemplo, mas para todos que
sencia-se um espetáculo cada vez mais dimen-
reinventam estratégias na produção de mensa-
sionado pelo poder da imagem na sedução dos
gens. A cultura midiática engendra novas formas
telespectadores. Esse poder da imagem sobre os
no desenho das interações e formas de estrutu-
expectadores, segundo Lipovetsky (2005, p. 03),
ração de práticas socioculturais, possibilitadas
“dirige o nosso mundo e o remodela de acordo
através da existência do campo das mídias. Se-
com um processo sistemático de personalização
gundo Mata (Ibidem, p. 85):
cuja finalidade consiste essencialmente em mul-
A midiatização da sociedade – a cultura midi- tiplicar e diversificar a oferta”. Nesse mesmo sen-
ática – nos apresenta a necessidade de reco- tido, Baudrillard (1991) afirma que a estratégia
nhecer que é o processo coletivo de produção utilizada pela sedução é o engano, e seu objetivo
de significados através do qual uma ordem é “enlouquecer” o outro, pois busca fragilizá-lo
social se compreende, se comunica, se re- através de uma simulação de fraqueza, como
produz e se transforma, o que se tem redese-
uma espécie de constatação de autofraqueza
nhado a partir da existência das tecnologias e
meios de produção e transmissão de informa-
que entra em jogo para criar um encantamento
ção e a necessidade de reconhecer que esta no outro: “seduzir e fragilizar, seduzir e desfale-
transformação não é uniforme. cer: é através da nossa fragilidade que seduzi-
mos, jamais por poderes ou signos fortes. É essa
O processo de midiatização, na concepção fragilidade que pomos em jogo na sedução, e é
da autora, revela que há mudanças nos modos isso que lhe confere seu poder.” (Ibidem, p. 94).
de pensar, nas matrizes e modelos culturais que Dessa forma, programas televisivos interagem
reconfiguram as experiências identitárias, base- com o público através da sedução, do encanta-
adas nas diversidades que os vínculos sociais mento e do deslumbramento, oferecendo e crian-
constroem. Na contemporaneidade dos meios do uma sensação de conforto e proteção.
massivos, perpassados por interações comple-
Observa-se a exploração cada vez mais
xas de produção e representação de sentidos,
frequente de estratégias como a dramatização
destaca-se as transformações nos regimes de vi-
dos fatos e a presença de depoimentos; é o que
sibilidade, possibilitadas pelo campo das mídias,
mobiliza a sensibilidade do telespectador. Os
espaço de embates e legitimação dos campos.
depoimentos servem como testemunho que,
segundo Charaudeau (2007), instaura um ima-
4 Midiatização: interações, vínculos e pros- ginário da verdade verdadeira. Isso acontece,
pecções por exemplo, quando pessoas comuns/anônimas
vão a programas do gênero infoentretenimento
O momento é de se pensar nas novas rela- para exporem suas intimidades, seus problemas,
ções e nos vínculos construídos entre os meios criando laços com os telespectadores que tam-
e o público, que se encontra cada vez mais frag- bém enfrentam situações semelhantes.
mentado e espalhado, segundo as problemati-
zações de Bauman (2001) acerca da moderni- Os depoimentos, cada vez mais utilizados
dade. Os modos de contato das mídias com o como recursos de legitimação do que é oferta-
público na atualidade vêm reforçando o caráter do, são uma forma de concretizar os discursos
e, ao mesmo tempo, criar vínculos com aqueles
de veracidade dos fatos. dando ao público uma
que estão em casa. Esses laços podem ser es-
legitimação do que está sendo transmitido.
tabelecidos a partir do modo como a edição de
A atuação e a performance dos apresen- um programa é feita, do roteiro e da elaboração
tadores de televisão, por exemplo, é capaz de textual televisiva. Essas operações de sentidos,
gerar vínculos e confiança na relação com o Tesch (2005, p. 1) denomina de manipulação da

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Carlos Renan Samuel SANCHOTENE

mídia, que “obedece a uma gramática do dis- relação, que antes era marcada por contratos de
curso midiático que precisa tornar-se cada vez leitura, passa a ser marcada pela proximidade,
mais familiar ao seu destinatário para ganhar pela convivialidade e pelo contato, através da
legitimidade e interatividade. Através dessas relação afetiva com o espectador.
práticas, ela se institucionaliza como espaço de
O primado da enunciação frente ao enun-
mediação social”. De acordo com o autor, nesse ciado (Ibidem) sugere que os diversos espaços
tipo de mediação o que é do cotidiano e o que narrados passariam a ser um só, que se expan-
é comum acabam sendo uma processualidade diria até a casa do telespectador, constituído
de espetacularização. pela integração da tevê à habitação. À medida
As interações e os vínculos constituídos que o espaço televisual se amplia, mostrando
na relação mídia/público passam pela noção câmeras, corredores, camarins e cantos, este
de confiança. Giddens (1991, p. 41) a define se oferece não mais como um “complemento”,
como “crença na credibilidade de uma pessoa mas como algo simétrico e contínuo ao da casa.
ou sistema, tendo em vista um dado conjunto A realidade posta em cena, portanto, é menos
de resultados ou eventos, em que essa crença a do mundo externo e mais do mundo televisivo
expressa uma fé na probidade ou amor de um criado na relação com o espectador.
outro, ou na correção de princípios abstratos Em um ambiente midiatizado, os sujeitos
(conhecimento técnico)”. se tornam atores da encenação, buscando uma
A confiança é o principal valor presente recriação imaginária da própria vida. Através
no contrato entre o público e o jornalista, uma de exacerbadas exposições íntimas dos indiví-
vez que aquele pede uma orientação, confian- duos, cada vez mais dramatizada pela tevê, os
do que este terá a solução e a resposta para os personagens são compostos por todos os sujei-
seus problemas. Essa confiança é fundamental tos, aquele que está na tela e aquele que está
em relação ao que Giddens chama de “sistemas assistindo. Os sujeitos atorizados acabam inter-
peritos”, ou seja, “sistemas de excelência técni- pretando papéis que carregam todo o enredo da
ca ou competência profissional que organizam trama, o roteiro que sustenta as subversões que
grandes áreas dos ambientes material e social produzem identificações com o público. Aqui, é
em que vivemos hoje”. (Ibidem, p. 35). importante salientar a opinião defendida por Cha-
raudeau (2007) de que a sociedade também é
A confiança em sistemas peritos é forte- corresponsável pelo espetáculo, já que ela tam-
mente influenciada por experiências em pontos bém produz o espetáculo para ser mostrado na
de acesso, caracterizados como “pontos de co- mídia através dos mais diversos tipos de mani-
nexão entre indivíduos ou coletividades leigos festação, neste caso, quando vai à TV expor sua
e os representantes de sistemas abstratos [...] vida particular, enviando fotos e vídeos, enfim,
nas quais a confiança pode ser mantida ou re- respondendo aos chamamentos da mídia.
forçada”. (GIDDENS, 1991, p. 91). Nesse pon-
to, destaca-se um determinado sistema funcio- Segundo Eco (1984, p. 187), “aceita-se que
nando em lógicas de midiatização que permite frequentemente o público manifeste identifica-
criar vínculos de confiança entre o público e os ções e projeções, vivendo na história representa-
sistemas peritos. da as próprias pulsões e adotando como modelos
os protagonistas dessa mesma história”. É o que
Observa-se também que as pessoas são acontece com telespectadores ou com indivíduos
transformadas em protagonistas e espectadores que acessam a internet, que projetam suas vidas
de um espetáculo que se estende à vida huma- e suas dificuldades naqueles que estão do outro
na. E essa é uma das características da Neotevê lado da tela. Cria-se, com isso, uma espécie de
(ECO, 1984), em que a televisão está sempre ambiente afetivo, já que a maioria das circuns-
remetendo a ela mesma e menos ao mundo tâncias individuais, tomadas como modelares,
exterior, ou seja, fala de si e do contato com o reproduzem e acentuam o aspecto do sofrimento
grande público. Na Neotevê, a relação comuni- humano, pois são produzidos universos sociais
cacional é individualizada e o público não é mais de referência, com base nos quais se atinge o
um coletivo, mas uma coleção de indivíduos. A efeito de reconhecimento.

256 Emancipação, Ponta Grossa, 9(2): 249-258, 2009. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>


A midiatização como processo de reconhecimento, legitimidade e prática social

Essa identificação se dá a partir de um cada um fazer sua própria edição do real, esta-
senso de realidade estabelecido por bens sim- belecendo relações verdadeiras que são man-
bólicos, sendo que, ao ser compartilhado, “o tidas em situações de copresença com os dis-
processo de socialização torna-se uma linha de positivos midiáticos, uma vez que estes atuam
experiência continua a partir da qual os expec- segundo realidades de construções que lhes
tadores definem o modo como veem o mundo são intrínsecas, convertendo os indivíduos em
representado na mídia”. (TESCH, 2005, p. 1). A cogestores de processos cujas modalidades os
“realidade” que se apresenta é, então, capaz de nomeiam e legitimam como personagens e ato-
fazer com que o telespectador a projete para si res desta realidade.
mesmo como exemplo daquilo que vive, experi-
mentando, afinal, um alívio catártico.
5 Referências
Os programas televisivos que exploram
experiências individuais exercem sobre o públi- BAUDRILLARD, Jean. Da sedução. Campinas: Pa-
co telespectador um trabalho de reconstrução, pirus, 1991.
através dos diversos elementos que o compõem, BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de
apresentando uma realidade criada a favor de Janeiro: Zahar, 2001.
uma consolidação dos seus enunciados – seja CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São
através dos apresentadores, produtores ou até Paulo: Contexto, 2007.
mesmo dos enquadramentos do dispositivo
ECO, Umberto. Tevê: a transparência perdida. In:
tecnológico televisivo. O que é veiculado acaba ECO, Umberto (Org.). Viagem na irrealidade coti-
sendo tão sólido que se apresenta como uma diana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
realidade do telespectador, ou seja, as represen-
tações se consolidam a partir desses exemplos ESTEVES, João Pissara. A ética da comunicação
e os media modernos: legitimidade e poder nas
em situações de midiatização.
sociedades complexas. Lisboa: Fundação Calouste
Laços de solidariedade são tecidos por Gulbenkian, 1998.
apresentadores, “comunidades pelo ar”, possi- FAUSTO NETO, Antonio. Midiatização, prática so-
bilitando uma identificação com o outro e com cial, prática de sentido. Paper. Bogotá: Seminário
um imaginário existente além do real vivido. Na Mediatização, 2006.
atualidade, observa-se que o homem está cada
______. Fragmentos de uma “analítica” da midiati-
vez mais isolado em vista do desenvolvimento zação. Revista Matrizes, v. 1, p. 89-105, 2007. In:
tecnológico e, quando esse isolamento é rom- http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/MA-
pido, ele obtém reconhecimento social (mesmo TRIZes/article/view/5236/5260. Acesso em 17 de
que momentâneo através de lógicas de midiati- junho de 2009.
zação). Existe, dessa forma, uma reconfiguração
GIDDENS, Anthony. As consequências da moder-
das tradições culturais da sociedade, na qual há nidade. São Paulo: Unesp, 1991.
um deslocamentos dos indivíduos e de suas prá-
ticas sociais em direção às práticas midiáticas, GOMES, Pedro Gilberto. A Filosofia e a ética da
comunicação na midiatização da sociedade. São
criando, assim, outra identidade. Trata-se, por-
Leopoldo: Unisinos, 2006.
tanto, de uma centralidade no reconhecimento,
marcada pela visibilidade do “eu”, uma vez que LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaios so-
a sociedade contemporânea é marcada pelo bre o individualismo contemporâneo. Barueri: Mano-
individualismo, dentro do qual a consciência do le, 2005.
ser com os outros é construída pela participação LUHMAN, Niklas. A realidade dos meios de comu-
nos meios de comunicação. nicação. São Paulo: Paulus, 2005.

O processo de midiatização deslegitima MATA, Maria Cristina. De la cultura masiva a la cul-


outros campos sociais, pois tudo é aberto e ex- tura midiática. Diálogos de la comunicación, Lima:
Felafacs, n.56, 1999.
posto ao grande público, que é, cada vez mais,
fragmentado e heterogêneo. E um dos efeitos RODRIGUES, Adriano Duarte. Experiência, moder-
da midiatização é justamente a capacidade de nidade e campo dos media. Biblioteca On Line de

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midiatização. In: MORAES, Denis. Sociedade mi-
diatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
TESCH, Adair. Alguns apontamentos para com-
preender o midiático. Paper. São Leopoldo: PPG-
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VERÓN, Eliseo. Esquema para el análisis de la me-
diatización. In: Revista Diálogos de la Comunica-
ción, n.48, Lima: Felafacs,1997.

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