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Resumo: O Estado oligárquico na América Latina –

Marcello Carmagnani
*
Marcos Vinícios Luft

Capítulo 1 – Civilización y barbárie. El arranque del proyecto oligárquico. (1850-


1880)
A América Latina, em 1850, não parece muito mudada em relação ao período
colonial. Mas isso é um engano. Há muitas mudanças após as independências. A reativação
econômica da Europa e a inserção da América Latina na economia mundial amplificam e
reforçam traços encontrados antes de 1850.
O período entre 1850 e 80 é marcado por novidades na continuidade. Há uma nítida
consciência de que algumas pessoas pertenciam a uma classe que dirigia a política,
administrava a economia e dominava a sociedade, que propunha aos outros grupos sociais
subalternos um projeto referente ao futuro de seu país. Essa é a grande mudança do
período, superando as contradições do processo de emancipação política. Esse período não
se caracteriza por uma nova ordem, nem pelo assentamento das novas bases políticas,
econômicas e sociais. Essa é a fase inicial da hegemonia das oligarquias, de uma classe
com origens coloniais, que baseia seu poder no controle dos fatores produtivos (muito mais
concentrado que nos períodos anteriores) e que utiliza o poder político para aumentar sua
dominação sobre as restantes camadas sociais.

Economia
A expansão econômica não se constituiu num fenômeno que ameaçasse a ordem
vigente na sociedade. Não era necessária uma renovação da estrutura produtiva. A alta
concentração da renda nacional em poucas mãos impediu que os efeitos positivos do
incremento das exportações fossem sentidos em toda a sociedade. Só os grandes se
aproveitaram do progresso das exportações.
Entre 1850 e 80 há um moderado incremento das rendas nacionais, conseqüência da
reativação do comércio exterior, o que não foi igual em todas as regiões, favorecendo
especialmente as áreas do Atlântico e voltadas à exportação de bens agrícolas de clima
*
Licenciando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
temperado. Há variações nas mercadorias exportadas por alguns países. Por causa dos altos
preços das matérias-primas é que há uma expansão física da produção (ex: café brasileiro).
Os preços dos produtos exportados sobem, mas não sobe o preço dos produtos industriais
importados, o que traz uma balança comercial positiva, o que permite um
autofinanciamento do processo de modernização dos setores produtivos, que asseguram o
aumento constante dos ingressos das oligarquias.
Há uma utilização distinta dos fatores produtivos já existentes. A área ocupada
economicamente em 1850 segue sendo a mesma do fim da época colonial. A partir dessa
data há, em vários lugares, a expansão da fronteira entre economia voltada à exportação e
as economias não voltadas a esse fim, beneficiando sobre tudo a expansão do latifúndio,
que atua como elemento de controle social e político sobre o excedente demográfico,
favorecida pela expansão das exportações e por disposições governamentais. A expansão da
área agrícola se obtém graças a mecanismos tradicionais, especialmente com a coerção.
Com o tempo, a complementaridade entre estância e pequena propriedade / comunidades
índias vai desaparecendo, pela racionalização do latifúndio e também para descarregar os
custos de manutenção da mão-de-obra sobre as unidades produtivas camponesas. Isto
incide na desapropriação de terras das comunidades indígenas e da Igreja.
Na mineração há um crescimento também decorrente do restabelecimento de
mecanismos tradicionais. A oligarquia monopoliza todos os recursos mineiros, que na
época colonial podiam ter pessoas não incluídas nesse grupo. Surgem sociedades mineiras,
formadas com capital proveniente do comércio e do latifúndio.
O aspecto tradicional é a sobrevivência dos mecanismos coloniais de apropriação
dos recursos naturais e atitude coercitiva frente à mão-de-obra. O aspecto moderno está na
gestão das unidades produtivas, que desejam suministrar a máxima quantidade de bens
suscetíveis de comercialização sem alterar seu equilíbrio interno. Mediante tal gestão da
unidade produtiva, a classe proprietária alcançava seu objetivo, o de obter grandes
ingressos monetários sem recorrer a despesas de capital. O que muda em relação à época
colonial é que os ingressos são superiores e que se concentram num número menor de
pessoas.
O capital inglês se insere em setores aonde a dominação da oligarquia era débil ou
nula: os transportes, as finanças, as comunicações e o comércio. Nunca no setor produtivo.
E seus investimentos são lentas até 1880. A classe dominante de cada país controlava os
recursos naturais e a mão-de-obra do setor produtivo. Por isso, o capital inglês apóia as
oligarquias, procurando não entrar em conflito com ela. É o primeiro esboço da aliança
imperialista. A tecnologia, como as ferrovias, é o principal investimento do capital inglês,
pois as oligarquias vêem nesta um elemento que poderia multiplicar seus ingressos sem que
perigasse o controle dos fatores produtivos. Só os grandes podiam transportar pelas
ferrovias, pois valia a pena esse transporte, que era caro, quando há grandes quantidades de
produtos. Assim, a inovação tecnológica (e com isso, o capital inglês) contribuem para
reforçar o latifúndio como centro da vida econômica. A produção dos pequenos se orienta
cada vez mais ao mercado interior. O Estado assume grande parte desses investimentos,
recorrendo a empréstimos ao capital inglês. Transforma-se a divida interior em exterior,
podendo transferir à oligarquia, que detinha grande parte dos títulos da dívida interior, uma
grande parte dos ingressos fiscais, decorrentes da exportação, do governo.
O capital foi complementário aos recursos naturais e humanos. O primeiro explica
parcialmente o desenvolvimento da comercialização e do setor financeiro, mas não explicas
o incremento da produção agropecuária e mineira, que se deve pelo controle dos recursos
naturais e da mão-de-obra.
Há alguns problemas de mão-de-obra, pois não há um mercado de trabalho nacional
ou regional, assim como não há um mercado nacional, o que dificulta a substituição do
antigo estrato mercantil colonial. Mas há uma separação da atividade produtiva e da
atividade comercial, incentivada pela modernização do setor comercial, pela necessidade de
domínio de uma técnica mercantil, a disposição de uma infra-estrutura e da capacidade de
operar em mercados nacionais e internacionais. Surgem grandes companhias mercantis,
substituindo o comerciante colonial, que estimulam os grandes produtores, deixando de
lado a produção de interesse local ou regional. Isso é fundamental no desinteresse pelas
comunidades índias e pelos pequenos proprietários, incidindo na expropriação de terras
indígenas, acabando com a complementaridade. Assentam-se as bases da futura
proletarização desses grupos.

Sociedade
Poucas mudanças de 1850 a 80. Incremento demográfico ainda decorrente da
relação natalidade/mortalidade. Já há imigração, mas não nos números vistos após 1880,
assim como no crescimento das principais cidades, que crescem pela expansão do comércio
exterior, desenvolvimento a rede de serviços ligados a isto, e a burocracia estatal. A
ausência de mudanças nas relações sociais favorece a mestiçagem (tendência plurissecular
das nossas sociedades), uniformizando as classes sociais (aonde a população índia era
escassa). A população rural continua predominante.
É uma estrutura social feudal, pois as relações, entre o senhor e o subordinado, são
mediatas. Trinta anos de expansão produtiva e estímulos modernizantes não serviram para
decompor a estrutura social pré-existente e provocar uma transformação. Tudo leva a uma
consolidação das estruturas sociais pré-existentes, e não a uma modernização dessas
estruturas. Mas há uma mudança significativa: inicia o processo de empobrecimento das
camadas sociais inferiores, que irá desembocar na sua proletarização, pela redução de seus
ingressos, conseqüência de uma jornada de trabalho mais longa sem reposição salarial, que
levará à sua consciência de classe. Há agitações no campo e na cidade.
Oligarquia: não é burguesia, pois o núcleo de seus interesses permanece vinculado à
terra, e que, portanto, seus lucros não são proveito, senão renda fixa, já que o fator que as
explica e as determina não é o risco. Mesmo com a diversificação dos interesses
econômicos, não há um espírito empreendedor, típico da burguesia européia. Muitos dos
grupos sociais emergentes procuram a terra, o que é decorrência do prestigio, pois a terra,
nessas circunstâncias, confere domínio sobre os homens. O fato da classe dominante ser
uma classe rural leva a relação entre classe dominante e classe dominada ser de
clientelismo, mediata, feudal, que permite o domínio inconteste da oligarquia. Já as
relações com as camadas médias, como funcionários, administradores, empregados de
bancos e do comércio, são diretas, mas também de clientelismo.
Subalternos: grupos resultantes da mestiçagem, estão implicados nas relações
clientelares, ainda não há grande diferenças entre camadas populares urbanas e rurais. Mas
há a diferença entre um grupo de empregados, da administração pública e dos serviços, e a
maioria, de caráter predominantemente rural.
O grupo dos empregados ainda não é a classe média, mas cresce muito no período,
principalmente pelas conseqüências da expansão produtiva, como o incremento dos
serviços comerciais e financeiros e estatais. São os intermediários entre a oligarquia e o
restante dos grupos subalternos. Mas sua existência depende da vontade da oligarquia,
pelos mecanismos de subordinação, com o clientelismo cultural e político. Sentem-se parte
da oligarquia, impedindo que desenvolva uma identidade de classe própria. Pelo fato de
serem eleitores, eles constituem a base social que legitima o setor oligárquico.
No ultimo terço do XIX foi a idade de ouro da oligarquia: nenhum veto impedia sua
hegemonia, exercendo domínio sobre todos os grupos sociais, no campo e na cidade,
controlando as rédeas do poder político e do poder cultural e, de acordo com o capital
inglês, do poder econômico.

Política
Também com mecanismos tradicionais. Apresenta aspectos menos personalistas,
mas não há mudanças significativas. O mecanismo clientelar se transfere dos lideres locais
e nacionais para o deputado ou senador, no interior de um mecanismo eleitoral. Acabam-se
as lutas entre os próprios grupos da oligarquia pelo poder, típico do caudilhismo, já que um
grupo predomina sobre os outros, mas não uma hegemonia total. Com isso há o principio
da representação de todos os grupos oligárquicos regionais na gestão do poder político.
Passa-se de um mecanismo de moderação de tipo pessoal para um impessoal, criando o
Estado e de suas instituições, com os grupos oligárquicos delegando o poder político no
Estado para garantir o principio da representação eqüitativa.
O Estado não é uma força debilitadora, nem política, social ou economicamente.
Há, então, o reconhecimento do poder central como moderador de suas dissensões, por
todos, sancionado pela constituição. Isso explica por que não há contradições dentro da
classe oligárquica neste e no próximo período. Tanto o poder central como os grupos
oligárquicos principais criam clientelas para legitimar o seu poder.
A Igreja teve uma grande força no desenvolvimento social e político, por chegar a
todos os rincões do continente. Foi, no nesse período, um apoio aos grupos oligárquicos
conservadores, que cresceu muito paralela à difusão do liberalismo entre a maior parte da
oligarquia. Só por volta dos anos 60-70 o liberalismo se converte na ideologia dominante.
A Igreja se preocupava com essa difusão, pois a separação dela do Estado
significaria a perda do monopólio sobre a instrução, assistência hospitalar, o registro civil.
Mas isso era necessário para o aperfeiçoamento do Estado oligárquico, porque a carência de
uma estrutura própria impediria respeitar os fins para que foi criado. Isso é um dos
principais princípios fundadores dos partidos políticos na América Latina, o que confirma
que as contradições entre os grupos oligárquicos são de índole ideológica.

Capítulo 2 – Orden y progreso. La edad de oro del proyecto oligárquico. (1880-


1914)
Neste período se expande pelas oligarquias o sentimento de ter conseguido dar a
seus paises uma ordem, que inevitavelmente, os conduziria ao progresso, realizando a
função da classe dirigente, a de transformar seus paises. É um período predominantemente
liberal, tanto no econômico, como no político, como no plano da cidadania. Depois de 1880
a nova inserção das economias latino-americanas na economia mundial favorece e reforça a
totalidade das oligarquias. Graças ao crescimento econômico se encerram as lutas entre as
oligarquias e se acelera a tendência de homogeneização da classe dominante, sob a tutela
do capital e dos agentes diplomáticos britânicos. Há a permanência de mecanismos
tradicionais, que se mantem em vigor por que contribuem ao aumentar os ingressos, o
prestigio e o poder político das oligarquias, sobretudo nas relações sociais de produção,
acelerando o empobrecimento das camadas populares.

Economia
Componentes básicos: incremento constante das exportações; afluência de novos
capitais; domínio do comércio exterior e da comercialização em geral por parte do capital
inglês; crescente subordinação ao anterior da produção controlada pela oligarquia. Mas a
economia internacional não se interessa no mesmo grau pelas diferentes economias latino-
americanas. Há uma especialização e um crescimento maior nas zonas exportadoras de
produtos agropecuários de clima temperado, fazendo crescer as diferenças interregionais. O
autor é contra a diferença entre unidades produtivas modernas (voltadas à exportação) e
tradicionais (voltadas ao mercado externo). Ambas têm como característica a produção
extensiva e a baixo custo, o que faz seus produtos competitivos no exterior, e a produção de
um só produto (o que as deixam dependentes das oscilações do mercado).
Há uma renovação das unidades produtivas e uma tendência à especialização
extrema, o que ocorre pela conquista de superfícies não ocupadas anteriormente.
Continuam os mecanismos descritos no capitulo anterior. As diferenças entre o latifúndio
de 1850 e o de 1910 são mínimas. Introduzem-se uma maior seleção de sementes,
maquinaria, tenta se introduzir novas raças de gado, mas a característica extensiva continua.
Continua não existindo um mercado de trabalho nacional; em algumas regiões já existe um
local, por causa da imigração. O modo-de-produção permanece praticamente sem
mudanças neste período, pelo contrário: reforça-se a tendência ao latifúndio ter o papel
central na produção.
A autonomia do Estado oligárquico e, também das oligarquias, cai bastante, se
compararmos ao período anterior. Pode-se falar inclusive em estados neocoloniais. É que os
impostos cobrados pelo Estado recaiam sobre o comércio exterior. Mas este sofria
flutuações, e o governo não podia prever as entradas, impedindo que este elaborasse uma
política de investimentos. Para não taxar as rendas da oligarquia, o Estado aceita a conexão
com o capital inglês, para obter empréstimos, para financiar as obras públicas, além de
cobrir seu próprio déficit. O Estado acaba preso pela divida externa. Pela capacidade
demonstrada pelos governos de pagar pontualmente seus empréstimos, o capital inglês
percebe a importância de entrar nesse mercado, mas sendo distribuído desigualmente,
permitindo que outros paises investissem capitais na América Latina. Mediante os
empréstimos, o capital inglês, aliado às oligarquias, controla o aparelho financeiro do
Estado. Geralmente esses investimentos eram em setores em que as oligarquias não
estavam presentes, exceto em alguns paises mineiros, como o Chile, onde o investimento
no próprio setor produtivo foi alto.
Há alguns investimentos da oligarquia em setores controlados pelo capital inglês,
como no setor financeiro, com a criação de bancos nacionais, emprestando dinheiro ao
Estado, obtendo proveitos sem nenhum risco. Há uma divisão do trabalho no setor
financeiro: os bancos nacionais financiam as firmas nacionais presentes na estrutura
produtiva; os bancos ingleses financiam o comércio exterior, permitindo às oligarquias e ao
capital inglês incrementar seus benefícios. O setor financeiro é o enlace entre o capital
inglês, que continuava controlando o comércio, e as oligarquias, que continuavam
controlando o setor produtivo. Porém, isto não implica que a oligarquia fosse submetida aos
interesses do capital inglês. Aliando-se com o capital inglês, a oligarquia garantiria seu
papel como centralizadora das decisões referentes ao emprego da renda nacional, que
deveria servir para ganhar a adesão dos subalternos, mas também para que as inovações não
destruíssem a ordem oligárquica. Com a continuidade dessa aliança, os benefícios para o
capital inglês seriam cada vez maiores. Para fugir disso, as oligarquias, mediante ao
aumento da exploração, fazem cair nos grupos subalternos o custo econômico disso. Essa
síntese de um modo-de-produção feudal e um capitalista estava condenada ao fracasso,
dando origem às contradições sociais.

Sociedade – ainda é feudal


A oligarquia não constitui um grupo homogêneo do ponto de vista social, e nem é
um grupo fechado, pois é capaz de absorver forças sociais emergentes com mecanismos
como os casamentos. Carmagnani refere-se à manutenção do mayorazgo como elemento de
reforço desse grupo, pois impede que as fortunas sejam divididas. Isto garante a coesão do
grupo, que explica porque o capital inglês teve que se aliar com a oligarquia.
As oligarquias nacionais aparecem como resultado de um acordo entre as
oligarquias regionais, cujo poder não é idêntico, mas que vêem em comum a necessidade de
aumentar seus ingressos, se querem seguir dominando os subalternos. Assim, estabelecem
contatos permanentes, nos clubes e nos matrimônios. Daí resulta que ditos grupos
oligárquicos deleguem seu poder a uma minoria representativa, a oligarquia nacional, que
vai manter o diálogo com o capital inglês, especialmente nos paises onde o aumento das
exportações é mais forte, como no Brasil, Argentina, México. Em outros paises há
competição entre os grupos oligárquicos, porque cada um tenta somar ao seu poder
econômico o poder político, quando as exportações são poucas ou concentradas em alguns
poucos lugares.
As estratégias que a oligarquia pos em prática nas suas relações com as classes
médias aspiravam a evitar a participação política das mesmas e subordiná-las no plano
social. A carreira no Exército foi uma oportunidade de ascensão social. A relação entre os
grupos parece a de um latifúndio: repressão e chantagem, mas também com atitudes
paternalistas e concessões mínimas que não iam ao fundo do problema, mas davam às
classes médias a sensação de grandes vitórias.
Até os anos 80 não havia diferenciação entre os grupos subalternos. Mas o
predomínio do latifúndio, o crescimento dos serviços, as migrações internas e
internacionais, vão deteriorar as relações clientelares entre os grupos distintos, e as de
reciprocidade dentro do mesmo grupo. Começa a surgir as relações de classe. Os novos
elementos sociais propunham uma organização baseada na família nuclear, nas relações
impessoais, na regulação econômica pela ação do mercado, propondo uma inversão da
relação cidade-campo. A tendência ao enfrentamento cidade-campo e o surgimento de
novas contradições sociais são uma realidade na América Latina, assentando as bases dos
conflitos sociais e políticos depois de 1914.
Nesse período surgem as classes médias, recebendo proteção das oligarquias e dos
agentes do capital estrangeiro, surgindo da vontade desses, o que resulta na submissão à
classe dominante, mas também desenvolvendo sua afirmação como grupo social autônomo,
rechaçando a cultura popular, mas aceitando os valores da oligarquia. Com os efeitos das
crises econômicas, elas tomam conta da sua situação e começam a formular reivindicações
políticas e sociais, que são declarações de descontentamento. Apesar disso, continua sem
uma base econômica autônoma, pelo tipo de crescimento adotado pela oligarquia.
Já quanto aos estratos populares, os imigrantes contribuem para uma maior
consciência de classe, difundindo as idéias socialistas, anarquistas. Há um processo de
diversificação, produzido pelo excedente demográfico, que havia rompido o fio que o
ligava à estrutura agrária e havia entrado num mercado de trabalho, nos centros urbanos e
mineiros. Começam as greves, que acabam com ferozes repressões.

Política
Governos sem oposição, refreando no âmbito político as contradições, atendendo
aos conselhos e advertências do capital inglês, por intermédio dos agentes diplomáticos.
Este Estado tem como base o poder moderador e a representação eqüitativa de todos os
grupos, obrigando os grupos a participar da gestão do poder e atribuindo ao governo uma
função impessoal. Mas o poder central não chega a assumir um papel determinante nos
sistemas federais, pela interação dos grupos oligárquicos mais fracos com os mais fortes,
que impediu o fortalecimento desse poder, que poderia redistribuir os ingressos do Estado
para regiões menos desenvolvidas. Já nos sistemas unitários prevalece a vontade dos mais
fortes, mas com negociações com setores menos potentes das oligarquias para evitar
rebeliões.
Esse sistema político era caracterizado pela coerção institucionalizada; a violência
pura e simples era a exceção. Tentou-se fazer na política como se fazia nos campos
econômico e social, procurando não alcançar um grau de opressão que colocasse em perigo
as bases do sistema.
Predominância do partido Liberal e do Conservador. Não há grandes diferenças nos
programas, a não ser na questão da relação entre a Igreja e o Estado, além das questões das
autonomias regionais (com os conservadores levemente inclinados à centralização, e os
liberais, a uma redução do poder central), e das relações com a economia internacional
(conservadores inclinados à proteger atividades não vinculadas à exportação, e os liberais,
por um livre comércio). Isso não significa uma divisão da classe dominante, mas é a
manifestação das exigências econômicas e sociais dos diversos grupos oligárquicos de um
mesmo país, levando a pequenas variações no jogo político. Há partidos de classe média,
como a UCR Argentina, mas a maioria das classes médias não formulou um partido
político, geralmente indo para as fileiras do partido Liberal. Há também as organizações da
nascente classe operaria, influenciadas por idéias anarquistas e socialistas. As sociedades de
socorro mútuo são fundamentais na tomada de consciência de classe e na constituição do
proletariado.

Uruguai: de 1851 a 1904


Até 1875, o Uruguai estabelece contato direto com o mercado mundial, numa
estrutura econômico-social pré-capitalista, predominando um conjunto de relações de
produção de forte conotação feudal, com escassa divisão do capital, domínio do capital
mercantil e usureiro, relações de produção com forte dependência pessoal (escravidão,
arrendamentos não-capitalistas, agregados). Com a separação do capital financeiro do
mercantil, o surgimento de manufaturas e bancos, sobre a base do incremento do mercado e
da imigração, e com o aparecimento da estância com investimentos de capital o capitalismo
aparece.
Depois da Guerra Grande e da queda de Oribe em 1851, a década de 50 é um
período de recuperação para o Uruguai. Só nos anos 60 é que se recuperam os índices de
produção anteriores ao conflito. Nesse período há a penetração do capital brasileiro, através
do Banco Mauá. Há o enorme crescimento da dívida pública uruguaia. Após a Guerra, não
há variações no modo-de-produção nem nas relações de produção. Fortalecem-se os laços
de dependência pessoal, agravados não só por razoes econômico-sociais, mas também pela
insegurança no campo, com os caudilhos estancieiros.
As condições objetivas (expansão do mercado mundial, que demandava cada vez
mais produção) criam as condições para a mudança no campo. Há o surgimento do capital
bancário, concentrando o capital mais especulativo, teoricamente deixando livre o resto do
capital para outro tipo de investimentos, o que não ocorre, continuando na atividade
especulativa. Ao introduzir o capital no campo começam a modificar-se as relações sociais,
porque o investimento de capital no campo exige segurança, não só pela manutenção da
paz, mas também pela afirmação da propriedade da terra, tanto física (com os alambrados )
como juridicamente (consolidação dos títulos com o Código Rural). Encara-se a estância
como empresa econômica, que produz para o mercado e emprega mão-de-obra assalariada.
Os estancieiros que defendem essa postura agregam-se na Associação Rural.
Elimina-se o minifúndio pecuário, pois muitos pequenos e médios vendem as terras
para pagar o alambrado, pois este era um investimento possível para quem tinha muita
extensão de terra, pelo fato de ser caro. Acaba-se com os pequenos hacendados que não
tinham a propriedade da terra ou que tinham gado em campos alheios. Além disso, também
reduz a necessidade de mão-de-obra, provocando desocupação na campanha, que em
muitas ocasiões, emigra para Montevidéu. Afirma-se o latifúndio, consolidando a grande
propriedade da terra.
Acentua-se o caráter monocultural das exportações, com a completa predominância
dos produtos pecuários, sempre se adaptando às necessidades do mercado mundial. A
produção cresce muito nesse período, para compensar a queda nos preços das matérias-
primas, decorrente do processo de modernização que iniciava no meio rural, mantendo uma
balança comercial favorável. A balança comercial favorável ao fim do século permitirá a
acumulação de capital necessária às reformas de José Battle y Ordoñez, no primeiro quarto
do século. Mas a indústria também cresce no período, especialmente pelas tarifas
protecionistas a partir de 1875, para obter recursos para pagar a divida pública, uma
indústria de substituição de bens de consumo, que se expande também pela ampliação do
mercado interno pelo aumento demográfico.
A realização das mudanças que os estancieiros pediam exigia uma mudança no
Estado: exige-se um governo forte, que colocasse ordem na campanha, anulando o poder
dos caudilhos, e que incentivasse a modernização do país, o que também era de interesse
dos investidores ingleses e de alguns setores do alto comércio. A partir do governo de
Latorre (1876-80) os hacendados se constituem em um grupo de pressão. Mas com a
modernização do Exercito, o poder não sofre nenhuma contestação. Era o governo das
oligarquias. Mas em 1897 há uma insurreição, comandada pelo partido Blanco contra o
governo Colorado, com liderança de Saravia. Até a morte deste, em 1904, e a ascensão de
Battle y Ordoñez não há a imposição definitiva da autoridade do governo central, nem se
consolida uma estrutura de Estado moderno. Foi o conflito ente dois paises que conviviam
no mesmo território: os Blancos exigiam liberdade eleitoral e democracia política, mas
também representavam os estancieiros tradicionais. Os Colorados defendiam um governo
unificado e representava o novo país da cria de ovelhas, do gado melhorado e do
terratenente como homem de negócios.
A crise do final do século provocou a intensificação da necessidade de mudanças.
Crescem as contradições entre os grupos sociais, com destaque para o surgimento do
movimento operário, com influencia especial do anarquismo. O desenvolvimento das
classes médias, graças ao comércio e o inicio da atividade manufatureira, e dos grupos
urbanos vai motivar uma reação contra o Uruguai oligárquico.

A partir dos anos 70 o capital inglês invade o Uruguai: empréstimos e serviços


públicos, especialmente as ferrovias., acentuando a dependência com o imperialismo
britânico. A dependência uruguaia se encontra na forma de uma maior integração a um
mercado mundial em continua expansão e modificação, e também de importação de
capitais, especialmente ingleses, por meio de empréstimos ao Estado e instalação de
serviços públicos, atividade que o capital nacional, especulativo, não se interessa. 45% das
receitas nacionais são utilizadas para pagar os empréstimos do exterior. As companhias
ferroviárias retiravam mais 13% dessas receitas. Nessa época ou o Estado satisfazia os
interesses de determinados setores do capital estrangeiro e nacional ou simplesmente
compensava as limitações do mesmo, como fez quando fundou o Banco da República
(1896) ou construiu o porto de Montevidéu (1901). Não houve nessas ocasiões nenhum
enfrentamento com o capital, como haveria no governo de José Battle y Ordoñez.
Argentina: de 1852 a 1916
Até 1880, não parece haver grandes mudanças na Argentina. Continuava havendo
enfrentamentos armados interregionais. O poder central ainda era muito fraco, mesmo com
a Constituição de 1853, que criava o sistema federal, mas dava grandes poderes ao governo
central, de caráter liberal, tanto no político (reconhecimento de certas liberdades), como no
econômico (livre navegação dos rios, por exemplo). Alem disso, havia uma série de leis
complementares que asseguravam a ordem e a segurança de bens e pessoas.
A partir de 1877, ocorre a política de conciliação, sob a presidência de Avellaneda,
entre os dois partidos políticos principais, o Autonomista e o Nacionalista, o que não dura
muito. Alguns grupos e pessoas pensam em soluções para consolidar o poder central. Em
1878-79 ocorre a famosa campanha do deserto, submetendo as populações indígenas. Com
a eleição de Roca, em 1880, consolidou-se a Liga dos Governadores, dando o apoio de
quase todas as províncias para o presidente, acabando com as pretensões de Buenos Aires e
consolidando o Estado nacional. Este consegue uma série de leis que fortalecem o poder
central, colocando as rendas do poder nas mãos do presidente, como a federalização da
cidade de Buenos Aires, fortalece o exército nacional, suprimindo as milícias provinciais,
separação da Igreja do Estado (educação laica e registro civil, por exemplo). O regime
oligárquico propôs unificar o âmbito político num sistema nacional de decisões. Isto fez
com que se centralizasse o poder, mas descentralizasse o controle, possibilitando a
incorporação de certos setores das classes governantes provinciais até então excluídos.
Autoridade e ordem, paz e administração são os lemas desse período.
O Exército se tornou em um firme mantenedor das autoridades nacionais. Há o
enorme crescimento do poder executivo nacional e a queda do poder de mandatários e
caudilhos provinciais, através de um sistema de prêmios e castigos. As fraudes, violências
físicas, compra de votos, eram comuns nas eleições. Mas o poder local, por causa desse
sistema de fraudes, continuava a ser importante. Os caudilhos continuam, mas submetidos
ao poder dos partidos, tanto local como nacional, promovendo atos contra a oposição em
troca de alguns prêmios, por exemplo, cargos públicos, tanto para os caudilhos, como para
seus seguidores. Assim, entre 1880 e 1916, o PAN (Partido Autonomista Nacional)
controla a política nacional, com poucos momentos de contestação. Este partido contava
com muitas pessoas importantes na vida social e econômica.
Na oposição estiveram muitos grupos, a maioria de nível provincial ou de caráter
efêmero. O principal foi a UCR (União Cívica Radical), que tinha como uma de suas
principais bases a classe média, mas que também tinha grandes terratenentes (o que
impede, por exemplo, a defesa da reforma agrária ou da industrialização), e que também
tinha filhos de imigrantes. Mas não existiam grandes diferenças entre os dirigentes dos
partidos, até 1916, não propondo programas muito distintos aos do PAN. Geralmente só
queriam eleições honestas, criticando a concentração do poder, contra administrações
muitas vezes materialistas e corruptas. Questionava-se um sistema político que
marginalizava a oposição. Conseguiram algumas vezes recorrer à via armada, contanto com
antigos setores das forças armadas, como a que forçou a renuncia do presidente Celman, em
1890, ou com revoltas provinciais, em 1892-93.
A partir do fim do XIX a elite política Argentina começa a ser questionada por
novos atores, surgidos à margem dessa oligarquia. Estes ferem de morte o sistema. A lei
Saenz Peña, de 1912, que amplia o direito de voto, o voto universal, masculino (para
maiores de 18 anos), obrigatório e secreto, fazendo mais transparente e menos corrupto o
jogo da política, possibilitando a incorporação dos setores médios, e a vitória da UCR nas
eleições de 1916 são as conseqüências disso.

Na Argentina há uma massiva entrada de imigrantes estrangeiros, a grande maioria


espanhóis e italianos, se concentrando especialmente no Litoral. Muitos deles vão trabalhar
na construção e no setor terciário, que cresce muito no período, sob relação de dependência.
Geralmente são jovens solteiros e vem sem família, se mestiçando com as nativas. Também
há o crescimento da população urbana, nos percentuais, chegando em 1914 a ter mais de
50% da população argentina morando nas cidades.
Surgem as classes sociais modernas: alta (grandes terratenentes, comerciantes,
financistas – possuidores do controle dos recursos da terra e vinculados ao capital
estrangeiro, empregando-o em proveito próprio e dos britânicos), média (industriais,
proprietários de estabelecimentos comerciais médios e pequenos, funcionários,
empregados) e operária (trabalhadores ferroviários e portuários, operários dos frigoríficos,
da industria e das atividades de serviços). Há uma grande expansão das camadas médias da
sociedade, por causa do crescimento do setor terciário e, em menor medida, com o
desenvolvimento industrial, alem da expansão do aparelho administrativo e do sistema
educativo. Já nas zonas rurais, isto se deveu à difusão do cultivo de cereais, que pela menor
dimensão relativa da empresa agrícola permite o surgimento dessa camada de médios e
pequenos empresários rurais. Por outro lado, a maior complexidade da empresa cerealífera
fez surgir outras atividades (comércio, industria e transporte) que emergiram nos pequenos
povoados que surgiam, permitindo o aumento da população urbana.
As desigualdades regionais, todavia, seguiam sendo enormes, por diversas razões. O
crescimento argentino, tanto econômico como populacional, foi mal distribuído. Os
distintos setores sociais não demoraram em se organizar, fundando associações, tanto entre
empresários, como entre os pecuaristas, como entre operários (ex: Federación Obrera
Argentina, criada em 1901, onde se destaca a tendência anarquista). As greves foram
constantes, mas nunca houve uma greve geral nacional nesse período.
Há a cristalização da atividade agroexportadora. A atividade produtiva é
diversificada, com produção de lã, carnes, couros e cereais (trigo, cevada, aveia).
Consolida-se a pecuária intensiva, com cercamentos, títulos de propriedade e investimento
em raças finas de gado. Há os investimentos do capital estrangeiros, com mais de 2.000
milhões de pesos ouro, especialmente inglês, investindo no setor terciário e secundário
(ferrovias, frigoríficos, serviços básicos).

México: de 1848 à Revolução


Com o término da guerra com os EUA, assume a presidência Herrera. Este
consegue reorganizar o país, enfrentando levantamentos indígenas e ataques de
estadunidenses que queriam mais territórios mexicanos. Mas, em seu governo, há ameaças
de federalistas, moderados e radicais, e monarquistas. Nesse clima surge o partido
Conservador, em 1849, empurrando os federalistas a definir-se como partido Liberal. Mas
Santa Anna logo volta à cena e, em 1853, assume a presidência. A ditadura de Santa Anna
radicalizou a oposição entre liberais e conservadores. Ambos compartilhavam a busca pelo
progresso, a exclusão das massas e a oposição à intervenção estatal na economia, mas suas
idéias de como alcançá-lo eram diferentes. Os conservadores acreditavam num sistema
monárquico e numa sociedade corporativa, apoiados por uma Igreja e Exército fortes.
Geralmente são os grandes proprietários. Já os liberais, mesmo divididos entre moderados e
“puros”, pensavam numa república representativa, federal e “popular”, semelhante ao
modelo ianque, para apagar a herança colonial, eliminando as corporações, desamortizando
os bens do clero (anti-clericalismo) e as propriedades comunais para converter o México
em um país de pequenos proprietários. Eram setores médios urbanos, intelectuais,
comerciantes, mineradores.
Após a queda de Santa Anna em agosto de 55, os liberais assumem o poder, e fazem
uma série de reformas: Lei Juarez, que suprimia os foros militar e eclesiástico (igualdade de
todos perante a lei) e a Lei Iglesias (proibia a cobrança de contribuições paroquiais aos
pobres). Mas a que se destaca é a Lei Lerdo, que desamortizava as propriedades de
corporações civis e religiosas, pondo-as no mercado. A maioria das terras da Igreja e das
comunidades indígenas foi comprada por comerciantes e profissionais, incluindo
burocratas, alem dos terratenentes e especuladores de terras, desenvolvendo a propriedade
da terra. Além de colocar capitais imobilizados no mercado, a Lei Lerdo cria uma mão-de-
obra livre, que deveria vender sua força de trabalho para sobreviver, pois as terras dadas
aos índios quando do fim da propriedade comunal são muito pequenas para garantir a sua
sobrevivência.
A Igreja já se preparava para o contra-ataque. A nova Constituição eliminou a
religião católica como religião de Estado, sendo de caráter liberal, garantindo as liberdades.
Confirmava o sistema federal, republicano e representativo. Isto enfureceu os
conservadores e os liberais “puros”. Em 1859 são promulgadas as Leis de Reforma,
prevendo a nacionalização dos bens do clero, separação da Igreja e do Estado, supressão de
ordens religiosas, liberdade de cultos e registro civil, entre outros. A guerra civil estava
vindo. Nela, destaca-se Benito Juarez. Este mantem as reformas, que eram de interesse dos
liberais “puros” e da classe empresarial, que estava interessada nos bens do clero. Os
liberais derrotam os conservadores, que eram apoiados pela Igreja, desejosa de ver seus
bens de volta. Juarez sai da guerra como o líder da nação, reorganizando a administração e
a educação. Mas a falta de recursos o obrigou a suspender o pagamento das dividas do
governo, motivo pelo qual incentiva uma intervenção européia no país, que é levada a
efeito pela França,entre 1863 e 67. A expulsão dos franceses leva ao fim o sonho da opção
monarquista no México. Juarez fica no poder até 1872.
Em 1876, Porfírio Diaz, ao não reconhecer a eleição de Lerdo para a presidência, dá
um golpe e assume o poder. Começa o porfiriato, que dura até 1910. Diaz tenta fazer
conciliações ou negociações. Conserva a lealdade de grupos que o apoiaram, como
soldados do Exército. Também trouxe velhos opositores, como liberais e a Igreja Católica,
pois Diaz não aplicou todas as leis anti-Igreja, permitindo, por exemplo, que se reinstalasse
o clero regular. Em geral, o presidente busca colocar à frente dos estados homens que lhe
fossem leais e que contassem com o consenso de diversos grupos em sua zona. Mas
também recorreu à força e à repressão, quando as estratégias anteriores não funcionavam,
utilizando o exército, a policia e a polícia rural. Assim, vincula-se com indivíduos de
diversos partidos, regiões e setores sociais, governando praticamente sem oposição. Foi
fundamental na sua administração a participação do “grupo dos científicos”, de orientação
positivista, que acreditavam que o país necessitava um governo forte, capaz de incentivar a
economia e reformar a sociedade, tendo contatos importantes com banqueiros, empresários
e investidores de capital.
O pacto com os governadores obrigou ao presidente a desconhecer seu
compromisso com os pueblos e os camponeses. Já o pacto com os investidores e
empresários o levou a desconsiderar as reivindicações do povo. Em muitas regiões, a
peonagem por dividas permanecia, desrespeitando o princípio da liberdade de trabalho que
estabelecia a constituição. Isto o leva a recorrer cada vez mais à repressão e à força,
inclusive com censura à imprensa de oposição e o envio de revoltosos a campos de trabalho
forçado.

A sociedade mexicana tinha o grupo de ricos composto de hacendados,


empresários, proprietários e casas mercantis ou banqueiros, que estavam unidos por laços
de parentesco, amizade ou negócios, investindo nos diversos setores da economia. Cockroft
salienta que uma burguesia estrangeira era o grupo dominante no México, antes que uma
aristocracia rural ou uma burguesia urbana. Analisando San Luis Potosí, vê que um
punhado de famílias de elite, em união muitas vezes com capitalistas estrangeiros,
dominava a vida social. Há um setor médio que cresce muito como conseqüência do
fortalecimento do comércio e dos serviços, onde se encontravam empregados públicos, do
comércio, do transporte e artesãos prósperos. Nos setores populares está a maior parte da
população, integrados por diversos grupos. Destacam-se os operários, que se associam, com
muitas dessas organizações recebendo influencias anarquistas ou socialistas. As greves
começam a ter força a partir de 1900.

Na economia, verifica-se a influencia do capital estrangeiro, desde o governo de


Juarez, mas que se expande no governo de Porfírio Diaz. Reflete-se nos investimentos em
portos e ferrovias, com grande peso dos capitais estadunidenses (42%) e ingleses (35%),
ganhando amplas vantagens, tanto dos governos estaduais como do nacional. Mas na
mineração é que se sentiam os efeitos do capital estrangeiro, aumentando e diversificando a
produção, pois as novas tecnologias permitem que seja rentável a extração de produtos
como o cobre e o zinco. Inclusive o desenvolvimento industrial, segundo Cockroft, esteve
dominado por estrangeiros, que introduziram a maquinaria moderna, com um alto grau de
cooperação entre capitalistas mexicanos e estrangeiros, inclusive nas indústrias
“domésticas”. Outro símbolo da cooperação entre os empresários mexicanos e os interesses
estrangeiros foram os empréstimos bancários, como no Banco de Londres, México y
Sudamérica. Isto foi natural, em um momento onde o México sofria com a falta de capitais
e de meios-de-produção. Em 1910, 1/7 da superfície territorial do México estava nas mãos
de estrangeiros, o que explicaria o sentimento anti-estrangeiro na Revolução.
No governo de Porfírio Diaz o México liga-se à economia mundial como exportador
de produtos agrícolas ou minerais, mas também há o desenvolvimento da indústria e do
comércio interno, subsidiando a industria ou a construção de obras públicas, e até de
medidas protecionistas para alguns produtos estrangeiros. A ferrovia permitiu a integração
entre as regiões, promovendo o comércio interno, e até a especialização de certas regiões.
Mas as desigualdades regionais cresceram muito no fim do XIX, se destacando o norte do
país. A maioria da população continuava a viver no e do campo.
As haciendas tendem a concentrar a terra às custas das propriedades corporativas.
Com a tendência à expansão do latifúndio e com um numero crescente e camponeses sem
terras e de operários rurais, a agricultura mexicana era capitalista, e não feudal, às vésperas
de 1910, pois existia um mercado de terras e os camponeses eram progressivamente
incorporados ao sistema do trabalho assalariado.

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