1. Introdução
Os carboidratos são compostos que, em geral, apresentam a fórmulas empírica
(CH2O)n e cujos representantes mais simples são chamados açúcares, como, por
exemplo, a glicose. O tipo mais simples de carboidrato é constituído pelos
monossacarídeos, chamados aldoses ou cetoses, segundo o grupo funcional que
apresentam: aldeído ou cetona.
A glicose é o principal carboidrato na Terra, entrando na constituição monomérica de
celulose e amido. É também o único combustível utilizado por todas as células do nosso
corpo.
A glicose é, quantitativamente, o principal substrato oxidável para a maioria dos
organismos, quase todas as células são potencialmente capazes de atender suas demandas
energéticas apenas a partir deste açúcar. Apesar de a dieta humana conter pouca glicose
livre, esta aparece em proporções consideráveis como amido, sacarose e lactose.
A glicólise se caracteriza como uma via metabólica utilizada por todas as células
do corpo, para extrair parte da energia contida na molécula da glicose, e gerar duas
moléculas de lactato.
A glicólise se constitui na etapa inicial no processo da oxidação completa de
carboidratos envolvendo oxigênio molecular. Trata-se de uma rota central quase universal
do catabolismo da glicose, a rota com o maior fluxo de carbono na maioria das células.
A quebra glicolítica de glicose é a única fonte de energia metabólica em alguns tecidos
de mamíferos e tipos celulares (hemácias, medula renal, cérebro e esperma, por exemplo).
Nos próximos tópicos, descreveremos a oxidação total da glicose, bem como seu
armazenamento e mobilização na forma de glicogênio (glicogênese e glicogenólise) e sua
síntese de novo para suprir o cérebro (neoglicogênese).
2. Via glicolítica
Para obterem ATP a partir de glicose, todas as células lançam mão de sua oxidação
parcial a piruvato. Nas células anaeróbicas, a oxidação pára neste ponto. A conversão de
glicose a piruvato permite aproveitar apenas uma parcela da energia total da glicose. Nas
células aeróbicas, entretanto, o piruvato é subsequentemente oxidado, trazendo,
naturalmente, um enorme ganho na produção de ATP.
A etapa inicial da oxidação da glicose (até piruvato) ocorre através de uma sequência
1
de reações denominada glicólise, uma via metabólica que se processa no citossol. Seus
produtos são ATP, (H + e ) , recebido por coenzimas, e piruvato.
A quebra dos seis carbonos da glicose em duas moléculas de piruvato com três
carbonos ocorre em dez passos; os primeiros cinco dos quais constituem a fase
preparatória (fase de investimento) e os cinco seguintes, a fase de geração de ATP (fase
de rendimento).
A sequencia de reações pode ser acompanhada na figura 1. Na primeira etapa a glicose
é fosforilada sob a ação da enzima hexocinase e a glicose-6-fosfato (G6P), gerada no
citosol, não pode sair da célula. Essa reação é irreversível. Quando o fígado necessita
exportar glicose para outros tecidos, a G6P sofre a ação da enzima glicose-6-fosfatase,
que catalisa a reação reversa daquela catalisada pela hexocinase. A G6P é transformada,
em seguida, no seu isômero frutose-6-fostato (F6P), por ação da enzima fosfoglicose
isomerase. Finalmente a F6P recebe mais um grupamento fosfato e é transformada no
composto frutose-1,6-bisfosfato. Esta reação também é irreversível e é catalisada pela
fosfofruto-cinase, uma enzima alostérica.
Na segunda etapa a frutose-1,6-bisfosfato sofre a ação da aldolase gerando uma
molécula de diidroxiacetona fosfato e uma molécula de gliceraldeído-3-fosfato (GAP).
Sob a ação da triose fosfato isomerase, diidroxiacetona fosfato é convertida em
gliceraldeído-3-fosfato. Após, ocorre a produção de 1,3-bisfosfoglicerato, composto
gerado pela ação da enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase sobre o GAP. Essa
enzima tem como coenzima o NAD (Nicotinamida adenina di-nucleotídeo).
O composto 1,3-bisfosfoglicerato é um anidrido misto de um ácido carboxílico e
ácido fosfórico, com um alto potencial energético permitindo que, na reação seguinte,
catlisada pela fosfoglicerato cinase haja produção de ATP. Na reação 8, a enzima
fosfogliceromutase reaposiciona a posição do grupo fosfato 3- Fosfoglicerato, dando
origem a 2-fosfoglicerato (grupo fosfato ligado ao carbono 2), preparando o substrato
para a próxima reação. A reação 9 é uma reação de desidratação catalisada pela enzima
enolase. O 2-fosfoglicerato é desidratado formando uma molécula de água e
fosfoenolpiruvato (PEP), um composto altamente energético. Foi devido a esta
configuração energética que o grupo fosfato foi transferido da posição 3 para 2 na reação
anterior. A outra reação onde ocorre síntese de ATP é catalisada pela piruvato cinase,
enzima que transforma fosfoenolpiruvato em piruvato. Esta é a terceira reação irreversível
da via glicolítica.
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Figura 1. Via glicolítica
3. Destinos do Piruvato
Em condições aeróbicas, o primeiro passo para a oxidação total do piruvato é a sua
conversão a acetil – CoA. Nas células eucarióticas, o piruvato do citossol entra na
mitocôndria, onde é transformado em acetil – CoA, conectando, portanto, a glicólise e o
ciclo de Krebs. O piruvato é convertido a acetil – CoA, através de uma descarboxilação
oxidativa, de acordo com a equação (figura 2):
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Figura 2. Formacao de Acetil-CoA
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sendo o próprio piruvato o aceptor de elétrons (figura 3). Este processo é observado em
algumas espécies de bactérias, nas hemácias sanguíneas, nas fibras musculares de
contração rápida e nas fibras musculares em geral, neste último caso quando a quantidade
de oxigênio torna-se insuficiente (anaerobiose relativa), devido a um trabalho muscular
muito intenso. O acúmulo de ácido láctico oriundo desse processo no músculo é o que
causa a dor característica posterior aos exercícios físicos de grande intensidade. Tal
mecanismo é muito importante, uma vez que permite a continuidade do exercício, mesmo
em ausência relativa de oxigênio.
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Figura 4. Fermentação alcoólica.
4. Ciclo de Krebs
O piruvato proveniente de glicose origina acetil-CoA mitocondrial. Além da
glicose, vários aminoácidos produzem piruvato e, portanto, acetil-CoA, ao serem
degradados. A acetil-CoA pode, portanto, ser originária de carboidratos, aminoácidos e
ácidos graxos e, qualquer que seja sua proveniência, será totalmente oxidada a CO2 pelo
ciclo de Krebs, com a concomitante produção de coenzimas reduzidas. O ciclo de Krebs
inicia-se com a condensação de acetil – CoA e oxaloacetato, formando citrato, uma reação
catalisada pelo citrato sintase (figura 5). O citrato é isomerizado a isocitrato por ação da
aconitase, com a formação intermediária de cis-aconitato. A isocitrato desidrogenase
catalisa a oxidação de isocitrato a α-cetoglutrato, com redução de NDA+ e liberação de
CO2. O α-cetoglutrato é então transformado a succinil-CoA, numa reação catalisada pela
α-cetoglutrato desidrogenase, um complexo enzimático semelhante ao complexo piruvato
desidrogenase. A succinil – CoA sintetase catalisa a transformação de succinil – CoA a
succinato, numa reação que forma GTP (guanosina trifosfato), a partir de GDP (guanosina
difosfato) e P. O GTP tem o mesmo nível energético do ATP e, portanto, a formação de
GTP equivale à formação de ATP: o GTP pode reagir com ADP, dando ATP e
regenerando GDP, por ação da nucleosídio difosfato quinase. A succinato desidrogenase
é a única enzima do ciclo de Krebs que é parte integrante da membrana interna da
mitocôndria: as demais estão em forma solúvel na matriz mitocondrial. O fumarato é
hidratado a malato pela furmarase. Por fim o malato é oxidado a oxaloacetato pela acao
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da malato desidrogenase e formação de NADH (figura 5). Como o oxaloacetato é sempre
regenerado ao final de cada volta, o ciclo de Krebs pode oxidar acetil-CoA
continuamente, sem gasto efetivo de oxaloacetato.
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respectivamente aspartato e glutamato. A eventual retirada desses intermediários pode ser
compensada por reações que permitem restabelecer o seu nível. Entre essas reações, que
são chamadas de anapleróticas por serem reações de preenchimento, a mais importante é
a que leva à formação de oxaloacetato a partir do piruvato e que é catalisada pela piruvato
carboxilase. O oxaloacetato além de ser um intermediário do ciclo de Krebs, participa
também da gliconeogênese. A degradação de vários aminoácidos também produz
intermediários do ciclo de Krebs, funcionando como reações anapleróticas adicionais
(figura 5).
5. Gliconeogênese
Gliconeogênese ou neoglicogénese ou ainda neoglucogénese ("formação de novo
açúcar") é a rota pela qual é produzida glicose a partir de compostos aglicanos (não-
açúcares ou não-carboidratos), sendo a maior parte deste processo realizado no fígado
(principalmente sob condições de jejum) e uma menor parte no córtex dos rins. Em
humanos, os principais precursores são: lactato, glicerol e aminoácidos, principalmente
alanina. Exceto por três sequências específicas (Piruvato para PEP, Frutose1.6-bifosfato
para frutose-6-p, Glicose-6-p para glicose), as reações da gliconeogênese são inversas às
da glicólise.
Em mamíferos, a maioria dos tecidos é capaz de suprir suas necessidades energéticas
a partir da oxidação de vários compostos, tais como aminoácidos, açúcares e ácidos
graxos, porém alguns tecidos dependem quase completamente de glicose como fonte de
energia metabólica. Para o cérebro humano e o sistema nervoso, assim como os
eritrócitos, testículos, medula renal e tecidos embriônicos, a glicose sanguínea é a única
ou principal fonte de energia. Apenas o cérebro requer cerca de 120g de glicose a cada
dia - mais do que metade de toda a glicose armazenada como glicogênio em músculos e
fígado. A longo prazo, todos os tecidos também requerem glicose para outras funções,
tais como a síntese da ribose dos nucleotídeos ou da porção carboidrato de glicoproteínas
e glicolipídeos. Portanto, para sobreviver, os organismos precisam ter mecanismos para
manutenção dos níveis sanguíneos de glicose.
Quando a concentração de glicose circulante vinda da alimentação diminui, o
glicogênio hepático e muscular é degradado (glicogenólise) fazendo com que a glicemia
volte a valores normais. Entretanto, o suprimento de glicose desses reservatórios não é
sempre suficiente; entre as refeições e durante longos jejuns, ou após exercícios
vigorosos, o glicogênio é depletado (consumido), situação que também ocorre quando há
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deficiência do suprimento de glicose pela dieta ou por dificuldade na absorção pelas
células. Nessas situações, os organismos necessitam de um método para sintetizar glicose
a partir de precursores não-carboidratos. Isso é realizado pela via chamada
gliconeogênese, a qual converte piruvato e compostos relacionados de três e quatro
carbonos em glicose.
A maioria das etapas da gliconeogênese usa as mesmas enzimas que catalizam o
processo da glicólise, porém, o fluxo de carbonos, é claro, é na direção reversa.
Entretanto, em três pontos as reações da glicólise são irreversíveis in vivo (por liberarem
energia livre em forma de calor): conversão de glicose em glicose 6-fosfato pela
hexoquinase, a fosforilação da frutose 6-fosfato em frutose 1,6-bisfosfato pela
fosfofrutoquinase-1 e a conversão de fosfoenolpiruvato em piruvato pela piruvato
quinase. Para contornar essas barreiras energéticas, reações e enzimas especiais são
necessárias em três desvios (figura 6):
1° desvio: Dentro da mitocôndria, a piruvato-carboxilase catalisa a formação de
oxalacetato a partir de ATP e CO2, liberando ADP + Pi. A partir daí, pode-se tomar 2
caminhos:
a) Ação da PEP-carboxilase (PEPCK) mitocondrial, formando fosfoenolpiruvato a
partir de GTP, e liberando GDP + CO2.
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3º desvio: Nesta etapa faz-se a conversão de glicose-6-fosfato em glicose. O grupo
fosfato ligado ao carbono 6 da glicose-6-fosfato sofre hidrólise catalisada pela glicose-6-
fosfatase. O produto dessa reação é a glicose não fosforilada que, assim, pode atravessar
a membrana plasmática. A enzima glicose-6-fosfatase só ocorre no fígado e rins.
Figura 6. Gliconeogênese
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reações de síntese, a neoglicogênese consome energia na forma de ATP. Para cada
molécula de glicose formada a partir de piruvato, seis moles de pontes de fosfato de alta
energia são clivadas : quatro ATP, dois GDP, e dois NADH , que são utilizados nas
reações catalisadas por piruvato carboxilase, fosfoenolpiruvato carboxiquinase e
fosfoglicerato quinase. Dois moles de ácido pirúvico são requeridos para a síntese de um
mol de glicose.
Reação Global
2 Ácido pirúvico + 4 ATP + 2 GTP + 2 NADH + 6 H2O -----------> Glicose + 4 ADP +
2 GDP + 6 Pi + 2 NAD + 2 H+
6. Glicogênese e glicogenólise
O glicogênio é um polímero de glicose e constitui uma forma de armazenamento
deste açúcar; é utilizado principalmente pelo fígado e músculos quando a oferta de glicose
supera as necessidades energéticas imediatas destes órgãos. O glicogênio hepático
degradado produzindo glicose, que é exportada para manter a glicemia (concentração de
glicose sanguínea) nos períodos entre as refeições e no jejum noturno. O glicogênio
muscular provê energia exclusivamente para a própria fibra muscular em contração
intensa, quando a demanda energética ultrapassa o aporte de oxigênio, sendo, então,
convertido a lactato.
O glicogênio é um polissacarídeo altamente ramificado. Os resíduos de glicose
são unidos por ligações glicosídicas entre os carbonos 1 e 4 (ligações α - 1, 4) nos
segmentos lineares, e as ramificações são formadas por ligações entre os carbonos 1 e 6
(ligações α - 1, 6). O glicogênio apresenta dois tipos de extremidades, chamadas redutora
e não redutora.
A degradação do glicogênio consiste na remoção sucessiva de resíduos de glicose,
apartir das extremidades não redutoras, por ação da glicogênio fosforilase. Esta enzima
quebra a ligação α - 1,4 por reação com fosfato, liberando um resíduo de glicose como
glicose 1-fosfato (figura 7). A ação da glicogênio fosforilase prossegue ao longo da
cadeia, terminando 4 resíduos antes de uma ramificação. Uma transferase transfere 3
destes resíduos para uma outra extremidade do glicogênio, neste ponto, um resíduo de
glicose unido por uma ligação α-1,6. Esta ligação é hidrolisada por uma α-1,6 glicosidase,
também chamada enzima desramificadora.
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A degradação, entretanto, não é completa, restando um núcleo não degradado que
serve de ponto de partida para a ressíntese.
O glicogênio é sintetizado por uma via diferente da via de degradação. A síntese
consiste na repetida adiação de resíduos de glicose às extremidades não redutoras de um
núcleo de glicogênio. A glicose a ser incorporada deve estar sob uma forma ativada,
ligada a um nucleotídio de uracila, constituindo a uridina difosfato (UDP-G). O UDP-G
é produzido, a partir de glicose, por uma série de reações (figura 7).
O primeiro passo envolve a síntese de glicose-1-fosfato e UTP:
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Várias doenças hereditárias relacionadas ao armazenamento de glicogênio são
conhecidas. Isso se deve a ausência ou diminuição de uma das enzimas envolvidas no
metabolismo do glicogênio. A tabela abaixo mostra as doenças hereditárias bem como
suas consequências.
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A sacarose dietária constitui uma fonte quantativamente importante de
monossacarídios para o homem; a lactose, o açúcar presente no leite, tem importância
principalmente nos primeiros meses de vida. Estes dissacarídios são hidrolisados no
intestino delgado, por sacarose e lactose, respectivamente. A sacarose produz glicose e
frutose; lactose libera glicose e galactose.
Não sendo hidrolisada, a lactose permanece no intestino delgado, onde sofre
fermentação bacteriana de sua conversão a intermediários da glicólise.
A frutose é convertida a diidroxiacetona fosfato e gliceraldeído 3-fosfato e entra na via
glicolítica. Em outros tecidos (adiposo e músculo), a frutose é convertida a frutose 6-
fosfato pela hexoquinase.
Algumas doenças metabólicas relacionadas aos carboidratos são comuns, tais
como, galactosemia, deficiência hereditária de galactose 1-fosfato uridil transferase, que
causa uma serie de problemas devido ao acumulo de galactitol e frutosonuria, pelo defeito
no metabolismo de frutose. Um resumo do metabolismo dos carboidratos é mostrado na
figura 8.
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Figura 8. Resumo do metabolismo dos carboidratos.
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frutose−1,6−bifosfato ativa a piruvato−cinase, promove um mecanismo de controle (a
frutose−1,6−bifosfato é um ativador alostérico). Além disso, após uma refeição rica em
carboidratos, a insulina promove o aumento na síntese das enzimas glicocinase,
fosfofrutocinase−1 e piravato−cinase. Por outro lado, a síntese dessas mesmas enzimas é
reduzida quando o glucagon plasmático está aumentado e a insulina reduzida, como no
jejum ou diabetes.
A síntese e a degradação do glicogênio são cuidadosamente reguladas para evitar a
perda de energia. As enzimas das diferentes vias, a glicogênio−fosforilase e a
glicogênio−sintase nas formas a (ativa) e b (inativa ou pouco ativa), são reguladas pelo
controle alostérico e pela modificação covalente das enzimas modulada por hormônios.
A atividade dessas enzimas é, também, amplamente dependente da disponibilidade
de vários intermediários e co-fatores. Portanto, a glicogênese e a glicogenólise são
reguladas de tal modo que as quantidades de glicose liberadas são ajustadas segundo as
necessidades do organismo.
A glicogênio-sintase e a glicogênio- fosforilase estão sob controle alostérico por
diferentes efetores. A forma inativa (ou pouco ativa) da glicogênio-fosforilase encontrada
no músculo em repouso, é denominada glicogênio−fosforilase b, e é ativada por AMP e
inibida por ATP e glicose−6−fosfato. A glicogênio−sintase, ao contrário, é ativada pela
glicose−6−fosfato. A interconversão das formas a e b da glicogênio-sintase e da
glicogênio−fosforilase é regulada reciprocamente por meio de
fosforilação−defosforilação (quando uma enzima é estimulada a outra é inibida) e são
catalisadas por enzimas que estão sob controle hormonal (insulina, glucagon e adrenalina)
ou estímulo nervoso (íons Ca2+).
Devido a seu efeito sobre a proteína-cinase dependente de AMPc, através da geração
de AMP cíclico, a adrenalina inibe a síntese do glicogênio. A glicogênio-sintase e a
glicogênio-fosforilase são afetadas pela fosforilação de modo diferente: a glicogênio-
fosforilase a (ativa) está ligada ao fosfato, enquanto a glicogênio-sintase (ativa) está na
forma desforilada (figura 9).
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Figura 9. Regulação do metabolismo do glicogênio por modificação covalente das
enzimas moduladas por hormônios.
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reduz a síntese da frutose−2,6−bifosfato, ativando a função fosfatase da PFK−2. A
redução do teor da frutose−2,6−bifosfato reduz a ativação da PFK−1 e desinibe a
frutose−1,6−bifosfatase.
Outro efeito do glucagon nas células hepáticas é a inativação da enzima glicolítica
piruvato−cinase. (A proteína−cinase C, uma enzima ativada pelo AMPc, converte a
piruvato−cinase em sua conformação fosforilada inativa). Os hormônios também
influenciam a gliconeogênese por alterações na síntese de enzimas. Por exemplo, a síntese
de enzimas gliconeogênicas é estimulada pelo cortisol (um hormônio esteróide produzido
no córtex da supra-adrenal). A ação da insulina promove a síntese de novas moléculas de
glicocinase, PFK−1 e PFK-2. O glucagon promove a síntese de novas moléculas de
PEP−carboxicinase, frutose−1,6−bifosfatatase e glicose−6−fosfatase.
O controle hormonal da gliconeogênese é importante no suprimento de ácidos
graxos para o fígado além de regular as enzimas, tanto glicolíticas como gliconeogênicas.
O glucagon aumenta a concentração dos ácidos graxos no plasma pela lipólise no tecido
adiposo, em ação oposta da insulina. A grande disponibilidade de ácidos graxos,
estimulada pelo glucagon, resulta em maior oxidação dos ácidos graxos para formar
acetil−CoA pelo fígado, permitindo a síntese da glicose. Por outro lado, a insulina tem
efeito oposto. O glucagon e a insulina também regulam a gliconeogênese no fígado por
influenciar o estado de fosforilação de enzimas hepáticas, tais como, a piruvato−cinase e
fosfofrutocinase.
A figura 10 mostra de forma esquemática a regulação do metabolismo dos
carboidratos no fígado pela ação dos hormônios insulina e glucagon
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Figura 10. Metabolismo dos carboidratos no fígado pela ação da insulina e glucagon.
Resumo
• O metabolismo dos carboidratos está centrado na glicose porque esse açúcar é
uma molécula combustível importante para a maioria dos organismos. Se as
reservas de energia são baixas, a glicose é degradada pela via glicolítica. As
moléculas de glicose não utilizadas para a produção imediata de energia são
armazenadas como glicogênio (em animais) ou amido (em vegetais).
• Durante a glicólise (seqüência de 10 reações), a glicose é fosforilada e clivada
para formar duas moléculas de gliceraldeído−3−fosfato. Cada
gliceraldeído−3−fosfato é então convertido em uma molécula de piruvato. Uma
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pequena quantidade de energia é armazenada em moléculas de ATP e NADH. Em
organismos anaeróbicos, o piruvato é reduzido a lactato. Durante esse processo, o
NAD+ é regenerado para a continuação da glicólise. Na presença de O2, os
organismos aeróbicos convertem o piruvato a acetil−CoA e, então, a CO2 e H2O.
A glicólise é controlada principalmente por regulação alostérica de três enzimas
– hexocinase, fosfofrutocinase 1 (PFK−1) e piruvato−cinase e pelos hormônios
insulina e glucagon.
• Durante a gliconeogênese, moléculas de glicose são sintetizadas a partir de
precursores não−carboidratos (lactato, piruvato, glicerol e certos aminoácidos). A
seqüência de reações na gliconeogênese corresponde a reações da via glicolítica,
mas no sentido inverso. As três reações irreversíveis da glicólise (síntese do
piruvato, conversão da frutose−1,6−bifosfato a frutose−6−fosfato e a formação de
glicose a partir da glicose−6−fosfato) são substituídas na gliconeogênese por
reações energeticamente favoráveis.
• A via das pentoses-fosfato, na qual a glicose-6-fosfato é oxidada, ocorre em duas
etapas. Na etapa oxidativa, duas moléculas de NADPH são produzidas enquanto
a glicose−6−fosfato é convertida em ribulose−5−fosfato. Na etapa não−oxidativa,
a ribose−5−fosfato e outros açúcares são sintetizados. Se a célula necessita mais
NADPH que ribose−5−fosfato (componente dos nucleotídeos e ácidos nucléicos)
então os metabólitos da etapa não−oxidativa são convertidos em intermediários
glicolíticos.
• Vários açúcares diferentes da glicose são importantes no metabolismo dos
vertebrados. Entre eles estão: frutose, galactose e a manose.
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