Autor:
Fátima Souza
O GOE é uma força de elite da Polícia Civil e tem como função prestar auxilio
às unidades policiais convencionais em ocorrências de alto risco, onde existam
reféns, por exemplo. Também atua em rebeliões no sistema prisional. Mais de
200 policiais e 60 viaturas compõem esta equipe especial da Polícia Civil. Entre
as equipes do GOE, a mais famosa é a Delta, considerada ultra especializada
e preparada para tudo. Seus integrantes são reverenciados como os mais
experientes em ações especiais e são eles que dão aulas, treinam e preparam
novos policiais do GOE paulista.
O Deinter (Departamento de Polícia Judiciária do Interior) atua, como o
nome diz, no interior de Estado, com delegacias e chefias subordinadas ao
comando da polícia civil na Capital, ou seja, à Delegacia Geral.
Outros importantes departamentos da Polícia Civil
Delegacia de Desaparecidos - é uma delegacia especializada no registro e
busca de pessoas desaparecidas. Ao contrário do que muitos acreditam não
há prazo de 24 ou 48 horas para que um familiar registre a queixa do
desaparecimento de um parente. Algumas horas sem contato com a família,
fora da rotina habitual já é o suficiente para que se registre a
queixa. Muitas destas delegacias de desaparecidos mantém sites onde são
colocadas fotos de crianças, adolescentes, homens e mulheres desaparecidas,
com as descrições da data do desaparecimento, roupas que usavam,
características diferenciadas (marcas, cicatrizes etc).
Detran - o Departamento Estadual de Trânsito também é ligado a Polícia
Civil e é responsável pela autorização para que as pessoas possam dirigir,
promovendo provas escritas e práticas, e aprovando ou reprovando o
candidato a motorista. É o Detran que expede a carteira de habilitação e
também confere as multas que o motorista levou, contando seus pontos e, em
caso do motorista ultrapassar os 25 pontos anuais permitidos, suspende sua
licença para dirigir.
IRGD - O Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt, é, em São
Paulo (nos outros Estados, o nome muda) o órgão responsável pela emissão
da Carteira de Identidade, o “RG” do cidadão. Ele cria um cadastro de cada
pessoa, que deixa, ao obter o documento, além de todos os seus dados, suas
impressões digitas impressas. Quando ocorre um crime, por exemplo, e no
local os peritos conseguem impressões digitais, elas são comparadas com
impressões cadastradas no RG e muitas vezes isto leva a polícia ao autor do
delito.
Quantas vezes você já ouviu notícias sobre a prisão de bandidos por causa
de escutas telefônicas?
Esta é uma das muitas técnicas usadas pela Polícia Civil para localizar e
prender o bandido. Uma verdadeira “parafernália eletrônica” é montada e a
polícia “grampeia” os celulares ou telefones fixos dos bandidos (com
autorização da Justiça) e fica escutando e gravando todas as conversas deles,
sabendo de seus planos e evitando suas ações. Hoje a Polícia Civil faz
“escutas” de bandidos que estão nas ruas e também dos que estão nas
cadeias, onde celulares entram com facilidade.
A Unidade de Inteligência Policial atua em todas as divisões e departamento
da PC e há policiais especializados em ficar monitorando a conversa dos
bandidos para obter provas, localizá-los e prendê-los.
Além de ouvir as conversas dos “malas” (forma que a polícia trata os
bandidos), o Serviço de Inteligência também executa outros importantes
trabalhos, como a gravação em vídeo da rotina dos bandidos (em campanas
policiais).
A Polícia Civil de São Paulo criou um “álbum eletrônico”, onde há mais de vinte
mil fotografias de bandidos especializados em assaltos bancos e a caminhões
e cargas, arrastões em condomínios, tráfico de drogas e armas... Consta
informações como se pertencem a facções criminosas como o PCC, o modo
como agem, os crimes que cometeram, suas vítimas, seus costumes e seus
crimes anteriores e até particularidades de sua vida pessoal (família, filhos,
mulheres, locais que costumam freqüentar) alem, é claro, de detalhes únicos
como marcas, cicatrizes e tatuagens.
Há hoje diferentes técnicas para fazer o retrato falado, que pode ser manual -
o desenhista faz o desenho à mão, baseado na descrição da vítima - ou em
computador, aonde um programa especial vai montando “os pedaços” de
cada parte do bandido, até chegar ao retrato mais perfeito e fidedigno do
bandido. O resultado, a cores, é tão perfeito, que parece uma fotografia. São
imagens em alta resolução, feitas num programa especial de editoração. É
possível até, neste programa de computador, fazer o envelhecimento de uma
pessoa, aplicando imagens de rugas ao retrato-falado.
Em São Paulo, os dois mais experientes e conhecidos “retratistas” da polícia
são o Sidney e o Yoshi, que fazem os desenhos à mão, com perfeição incrível.
O trabalho deles ajudou identificar, localizar e prender centenas de bandidos.
No caso do crime ser contra mulheres, como estupro e atentado violento ao
pudor, a desenhista da Polícia Civil normalmente é do sexo feminino, para
evitar mais constrangimentos à vítima.
Os profissionais que trabalham com retrato falado são do Setor de Arte
Forense da Polícia Civil.
Que a Polícia Civil tem gente da mais alta competência e inteligência e que no
dia-a-dia resolvem muitos casos que pareciam insolúveis, não há dúvidas. Que,
mesmo ganhando pouco, muitos trabalham com empenho e vontade,
investigando e prendendo milhares de bandidos, também é uma verdade. Mas,
muitas vezes, alguns delegados e investigadores cometem erros incríveis, que
causam danos morais, físicos e monetários a inocentes. Às vezes, estes erros
custam até vidas.
Três destes graves erros aconteceram em São Paulo e os casos ficaram
“famosos”:
Escola Base
Foi em março de 1994. Seis pessoas foram acusadas de cometer abusos
sexuais contra crianças, de quatro a sete anos, de uma escola infantil, que
ficava no bairro do Cambuci, zona Central de São Paulo. As denúncias (da
mãe de um aluno) davam conta de que os donos da Escola, Ichshiro Shimada
e a mulher dele, Maria Aparecida Shimada, dois funcionários da escola e um
casal de pais de um outro aluno, estavam envolvidos no esquema. Um dos
funcionários, perueiro da escola que transportava as crianças, levaria-as para a
casa do casal, pai de um aluno da escola, com o consentimento dos donos da
escola, e lá elas seriam abusadas sexualmente e as cenas fotografadas e
filmadas. Foi um escândalo. O delegado responsável pelo caso, Edélcio
Lemos, antes mesmo de investigar, na mesma noite em que recebeu a
denúncia, avisou a imprensa e deu entrevista, dizendo que os donos da
escola e os outros quatro envolvidos eram culpados. Revoltados, os moradores
do bairro depredaram e saquearam a escola. Os seis apontados como
culpados foram presos, expostos aos jornalistas que os apresentaram em
jornais e emissoras de TV como os estupradores de criancinhas. Durante
vários dias, o delegado continuou afirmando que eles eram culpados,
divulgando, inclusive, a parte de culpa de cada um. Quando ouvidos os seis
negaram o crime. No final das contas, depois de muita confusão e notícias
falsas, os seis foram soltos pela Justiça porque não havia prova nenhuma
contra eles: eram inocentes. Os danos causados aos seis foram
irrecuperáveis. O delegado foi afastado do caso, mas continuou exercendo
a função em outro departamento. Os seis ficaram “marcados” para
sempre.
Bar Bodega
Agosto de 1996. Assaltantes armados entram no Bar Bodega, no Bairro de
Moema, local nobre da Zona Sul de São Paulo. Anunciam o assalto que
termina com a morte de dois jovens, um rapaz e uma moça, ambos de classe
média alta. O caso teve uma enorme repercussão e a sociedade pedia uma
reposta urgente da polícia. A resposta veio em 15 dias, quando cinco garotos
negros, pobres e moradores da periferia de São Paulo foram enfileirados na
parede da delegacia e expostos a um batalhão de jornalistas, cinegrafistas e
fotógrafos como os culpados pelo assalto e duplo homicídio. Não foram
permitidas entrevistas com os rapazes. Só falou com os jornalistas, o delegado
responsável pelo caso, João Lopes Filho, que informou que eles haviam
confessado os crimes. Dias depois, os cinco foram levados até o Bar Bodega,
para fazer a reconstituição do crime. Um deles ao sair da viatura da polícia, já
no local, disse aos jornalistas que era inocente e se recusou a participar da
reconstituição da história, porque garantia que não esteve lá. Foi colocado de
volta no carro da polícia e impedido de continuar fazendo sua defesa junto aos
repórteres. Ficaram presos três meses até que outro delegado, em outra
delegacia, prendeu os verdadeiros assassinos e os cinco foram colocados em
liberdade. Livres, puderam então contar que tinha assinado as confissões
do assalto e crime porque foram cruelmente e barbaramente espancados
e torturados pela Polícia Civil.
Maníaco do Parque
Agosto de 1998. Este foi um caso que mostrou os dois lados da moeda da
Polícia Civil porque teve, na mesma histórias,erros e acertos. Francisco de
Assis Pereira estuprou, torturou e matou nove mulheres, que eram levadas por
ele ao Parque do Estado, uma das maiores áreas verdes da cidade, na Zona
Sul de São Paulo. Ele convencia as garotas (jovens de 18 a 21 anos), dizendo
que trabalhava numa empresa de cosméticos como fotógrafo de catálogos e
que poderia transformá-las em estrelas. Levadas para a mata sob o pretexto de
que era o local ideal para fotografá-las, ele abusava delas e depois as
enforcava.
Onde errou a polícia? Primeiro por não ter uma “rede de comunicação” entre as
delegacias. O Parque do Estado é circundado por diferentes delegacias e
alguns dos corpos encontrados tiveram os boletins de ocorrências registrados
na delegacia mais próxima do local do encontro do corpo, sem que um
delegado soubesse que o outro tinha registrado um caso igual nas semanas
anteriores. Errou o Departamento de Pessoas Desaparecidas do DHPP porque
quando uma das jovens, Isadora Fraenkel, estudante de 18 anos, sumiu, não
voltou para casa, o pai dela, Claudio Fraenkel,em 10 de fevereiro (portanto seis
meses antes do Maníaco ser preso) foi até a Delegacia de Desaparecidos e
registrou queixa. Levou com ele dois cheques que estavam com a filha quando
ela saiu de casa. Um dos cheques tinha sido usado para comprar um capacete
em uma loja, mas voltou porque a assinatura era falsa e o banco avisou o pai
de Isadora que foi a loja, resgatou o cheque e descobriu que um rapaz, de
moto, é que havia comprado o capacete e pago com o cheque de falsa
assinatura. O rapaz, a pedido do vendedor da loja, deixou um telefone no
verso do cheque, que o pai de Isadora entregou a polícia. O número do
telefone era de Francisco de Assis Pereira que foi localizado e chamado à
Delegacia de Desaparecidos onde prestou depoimento. Isadora continuava
desaparecida. De boa conversa, Francisco convenceu os policiais que o
ouviram, que Isadora era namorada dele e que havia dado o cheque a ele de
presente para comprar o capacete. Disse que o pai de Isadora estava
inconformado porque não aceitava o namoro deles porque ele era pobre e a
moça tinha dinheiro, era de classe média. O pai de Isadora protestou, disse a
polícia que nunca tinha visto o rapaz e que tinha certeza que a filha não
namorava com ele. Não adiantou. Francisco foi considerado apenas um
“estelionatário”, um “oportunista” pela polícia foi liberado. Naquela mesma
noite, ele voltou ao Parque do Estado, onde tinha estuprado e matado Isadora,
jogou gasolina no corpo da moça, temendo que, se encontrada, a polícia a
identificaria e voltaria a procurá-lo.
Depois disso, repetiu o mesmo ritual, por mais oito vezes, matando mais oito
jovens. Neste período também estuprou outras cinco moças, no mesmo
Parque, e estas, por sorte, conseguiram fugir e também prestaram queixas em
delegacias. Quando mais um corpo foi encontrado, a imprensa soube do fato e
noticiou. Começaram, então, a aparecer parentes de outras vítimas,
denunciando que suas filhas estavam desaparecidas ou tinham sido
encontradas mortas no mesmo local, nas mesmas circunstâncias. Só aí a
Polícia começou a trabalhar. O caso foi assumido por uma equipe de
homicídios do DHPP, sob o comando do delegado Sergio Alves, policial
competente e com muita experiência, que determinou, como primeira
providência, uma busca no Parque do Estado: mais corpos foram encontrados.
A equipe de Sérgio localizou as vítimas que tinham conseguido fugir do
Maníaco após o estupro e elas ajudaram a fazer o retrato falado do agressor.
Ao ver o retrato falado estampado nos jornais, ele fugiu, mas foi preso em
agosto, confessando os nove crimes. Isadora, contou, tinha sido sua primeira
vítima. Ele mesmo levou os policiais até o local onde estava o corpo dela,
queimado. A polícia, afinal, tinha prendido o homem responsável por um
dos casos de maior repercussão no país, um serial-killer, que talvez,
pudesse ter sido freado após seu primeiro assassinato, o de Isadora. Se
tivesse trabalhado com mais cuidado, a polícia poderia tê-lo prendido antes de
cometer mais oito homicídios.
Para denunciar um crime, se você não quiser, não precisa se identificar e pode
fazer a denúncia, anonimamente, através do Disque Denúncia, disponível
na maioria dos Estados. Você liga, até de orelhão, conta o que sabe e nem
precisa dar o seu nome ou endereço. As informações terão absoluta garantia
de anonimato.
Se você quer denunciar um policial civil, deve procurar a Corregedoria da
Polícia Civil, órgão que existe em todos os Estados. É uma espécie de polícia
da polícia, que tem como objetivo combater os maus policiais, que, embora
minoria, colaboram com o crime e os criminosos. A corregedoria investiga
crimes e infrações administrativas praticadas por policiais civis. As denúncias
podem ser feitas por telefone, pela internet ou pessoalmente e se você quiser
não precisa se identificar.
Os salários não são muito atraentes para quem sabe que está ingressando em
uma profissão de risco, onde o dia-a-dia será de tensão, enfrentando a
crescente violência e os bandidos cada vez mais ousados e audaciosos. Em
São Paulo, por exemplo, onde são pagos os mais altos salários, o salário de
um delegado vai de R$ 3.680 a R$ 6.649 mensais. Um investigador ou
escrivão, em inicio de carreira, ganham, por mês, R$ 1.729,82.
Para ser um policial civil é preciso ser brasileiro, ter no mínimo 18 anos, não
ter antecedentes criminais, ter concluído oensino médio e ter carteira de
habilitação. É necessário prestar um concurso público e as provas incluem
língua portuguesa, noções de direito e criminologia, atualidades e informática.
No caso do delegado, é necessário ter nível superior (normalmente em Direito).
Os aprovados terão ainda que se submeter a testes de aptidões psicológica e
física, realizada na Academia de Polícia, que inclui flexões em barra fixa e
resistência abdominal, por exemplo, além de avaliação de resistência aeróbica,
quando o candidato deverá percorrer em uma pista a distância mínima de dois
mil metros em um tempo máximo de 12 minutos.
http://pessoas.hsw.uol.com.br/policia-civil11.htm