aos primeiros, deu origem ao que denominamos de “Teologia”, e essa teologia com o passar
do tempo foi adquirindo vários desdobramentos com as mais diversas nomenclaturas, para
apresentarem explicações mais amplas, profundas e aplicáveis na existência dos seres
humanos. Esses empreendimentos da teologia nem sempre foram produtivos no sentido de
contribuírem para a preservação da integridade da doutrina cristã, pelo contrário, muitos
movimentos teológicos têm caminhado na “contramão” da verdade cristã, e assim supostas
“teologias” apenas tem servido para manipular as pessoas e realizar uma desconstrução da
verdade. Nesse aspecto conceitos filosóficos e humanistas, com o propósito de reformular a fé
cristã, desferiram terríveis ataques contra a doutrina cristã que tinha as suas raízes nos ensinos
de Jesus e dos apóstolos. Esse estudo nos permite descortinar o passado e perceber o quanto
de uma vaidade desmedida alcançou o coração e o pensamento de alguns homens ao ponto
de levá-los a inventar heresias em nome de Deus, situações para lhes garantir poder ou
posição de destaque e também retorno financeiro. Inclusive as que foram combatidas pelos
famosos pais da igreja, entre Tertuliano, Irineu, Eusébio, Atanásio e outros tantos. Entre tais
heresias podemos citar o Gnosticismo, o Donatismo, o Arianismo, Unitarismo e assim por
diante. Entre os principais teólogos liberais percebe-se um projeto deliberado para desfazer da
integridade da doutrina cristã, até então acreditada e vivenciada por todos os cristãos de
diversas gerações. E, cumprindo as exigências do trabalho de História da Teologia vamos
estudar um pouco do que aconteceu desde a era Apostólica até a Reforma Protestante.
Gnosticismo
Gnosticismo vem de “gnósis”, que significa “conhecimento”. um movimento religioso (não uma
religião única e identificável) e filosófico, amplo (popular em todo o mundo greco-romano, nos
séculos I e II), multifacetado e difuso (permeando muitas outras religiões e filosofias): apesar de
poderem diferir em algumas preferências ou avaliações subjetivas sobre importâncias relativas,
gnósticos caracterizavam-se por todos basicamente clamarem possuir ou procurarem
supremamente algum tipo de conhecimento secreto (Gnose) sobre as naturezas do universo e da
existência humana. Segundo Romeiro (1993 pg. 08) “Os gnósticos acreditavam que na natureza
humana há o princípio do dualismo, isto é, que o espírito e o corpo - duas entidades separadas -
são opostos. Para eles,o pecado habitava somente na carne, tornando-a totalmente má. O corpo
podia fazer tudo o que lhe agradasse, vivendo nos prazeres da carne. O espírito era totalmente
bom”.“É a filosofia como instrução reveladora das coisas de Deus, que leva ao entendimento da
salvação”. O gnosticismo reivindica um conhecimento maior e especial da verdade, uma
tendência a considerar o conhecimento como algo superior à fé e uma visão de uma nova luz que
o cristianismo comum não possui.
Os ensinamentos
Consistem de uma grande variedade de disciplinas esotéricas, todas apresentadas de maneira
muito prática. Exercícios são dados o tempo todo durante as aulas, para que o aluno possa
entender e assimilar de melhor maneira tais ensinamentos. Alguns dos muitos ensinamentos
passados são os seguintes:
- meditação,
- psicologia esotérica gnóstica,
- magia sexual,
- alquimia,
- yogha,
- tarot e qabalah,
- astrologia hermética, entre outros tantos.
Os pais antignosticos
Alguns pais da igreja ficaram conhecidos como os “os pais antignósticos”, isso se deu ao
fato de que os mesmos se levantaram ferrenhamente contra a doutrina do Gnosticismo. A
doutrina gnóstica de Deus se relacionava com especulações mirabolantes relativas ao mundo
espiritual e à origem do mundo material (a assim chamada doutrina do ‘eons ). Valentino, por
exemplo, supunha que 30 eons tinham emanado da Divindade em processo teogônico. O mundo
material se deriva do eon mais baixo como resultado de uma queda. O Deus supremo, ou
Progenitor, formava o primeiro eon, também conhecido com búthos (abismo). Do “abismo”
procederam “o silêncio” ou “idéia” (sigé ou énnoia), e destes dois, “o espírito”e “a
verdade”(nous e aléetheia). Destes vieram, por sua vez, “razão”e “vida(lógos e ezooée) , e destas
“homem” e “a igreja” e 10 outros eons apareceram. “Homem” e “a igreja” juntos produziram 12
eons, o último dos quais “sabedoria”(sofia). Os eons, agindo unanimemente, formavam o mundo
do espírito, o Pléroma, que contém os arquétipos do mundo material. O último dos eons caiu do
Pléroma como resultado de ataque de paixão e ansiedade, e foi por causa desta queda que o
mundo material chegou a existir. O demiurgo que criou o mundo procedeu deste eons caído.
Monarquismo
No segundo século houve intensa reflexão sobre a teologia do Logos (Cristo como o
Verbo) e suas implicações. Vários pensadores cristãos, na ânsia de defender a convicção básica
do monoteísmo ou a unidade do Ser Divino (daí, "monarquia", isto é, governo de um só),
acabaram por negar a divindade ou a personalidade distinta do Filho e do Espírito Santo. Houve
duas manifestações básicas: (a) Monarquianismo Dinâmico: afirmava que Jesus era um homem
comum que foi adotado por Deus na ocasião do seu batismo, sendo revestido do poder divino
(daí, "dinâmico", de dynamis = poder). Essa posição, abraçada pelos ebionitas e por Paulo de
Samósata, também é chamada de adocionismo. (b) Monarquianismo Modalista: afirma que Pai,
Filho e Espírito Santo são três modos ou manifestações sucessivas (não simultâneas) do único
Deus.
No segundo e terceiro séculos, além dos questionamentos internos, o jovem movimento
cristão enfrentou formidáveis ameaças externas. Em primeiro lugar, houve o recrudescimento
das perseguições por parte do Império Romano. A bem da verdade, é preciso observar que, com
algumas exceções, essas perseguições não foram contínuas nem generalizadas. As causas iam
desde as habituais alegações de incesto (por causa da ênfase no amor fraternal), canibalismo (por
causa da Ceia do Senhor) e ateísmo (pela negação dos deuses), até acusações mais
especificamente políticas de subversão, falta de patriotismo e deslealdade ao império,
principalmente em virtude da recusa dos cristãos em participar do culto imperial.
Duas perseguições intensas, mas localizadas, ocorreram nos reinados de Marco Aurélio e
Sétimo Severo. A primeira atingiu as igrejas de Lyon e Viena, na Gália, no ano 177; a segunda
abateu-se sobre o Egito e Cartago nos anos 202-206. Alguns mártires famosos foram Justino,
Potino, Blandina, Perpétua e Felicidade. Muito mais grave foi a perseguição geral movida pelo
imperador Décio em 250-251. Decidido a impor em todas as regiões o culto imperial, Décio
exigiu que todos tivessem um certificado de sacrifício (libellus). Muitos cristãos foram
martirizados e outros conseguiram sobreviver aos maus tratos (os confessores). Muitos outros
negaram a fé: alguns simplesmente ofereceram o sacrifício e ficaram conhecidos como
sacrificati; outros, os libellatici, compraram certificados falsos. Passada a perseguição, muitos
procuraram reingressar na igreja, gerando um sério problema pastoral para os bispos.
Em dois longos períodos de paz no terceiro século (206-250 e 260-303), a igreja
experimentou um crescimento sem precedentes. Finalmente, no início do quarto século, ocorreu
a última e a maior de todas as perseguições, sob os imperadores Diocleciano e Galério
(303-311). Foram publicados editos ordenando em toda parte a destruição das igrejas e de cópias
das Escrituras. Os cristãos que entregaram essas cópias ficaram conhecidos como traditores (=
traidores). Dessa época data o cisma donatista, no norte da África. Os cismáticos, dentre os quais
certo Donato, alegaram que uma determinada consagração episcopal foi inválida porque um dos
bispos consagrantes teria sido um traditor. O cisma donatista durou mais de um século, criando
uma igreja paralela à igreja católica.
Outro desafio externo enfrentado pela igreja na era anterior a Constantino foram os
ataques de ilustres intelectuais pagãos como Luciano de Samosata, Galeno e Celso na segunda
metade do século II, e Porfírio, no terceiro século. Numa época em que o cristianismo crescia a
olhos vistos e incomodava seriamente o paganismo, esses homens cultos escreveram obras
influentes em que os cristãos eram acusados de serem ignorantes, supersticiosos e inimigos da
cultura e do conhecimento.
O Cristianismo Judaico
Sem dúvida, a principal matriz do cristianismo foi o judaísmo, em cujo seio nasceu. Na
época de Cristo, a Palestina estava sob dominação romana. No segundo século antes de Cristo, as
atitudes despóticas de um rei selêucida, Antíoco Epifânio, haviam provocado a revolta dos
macabeus (167 AC). Então, por cerca de um século os judeus gozaram de independência política,
até que, no ano 63 AC, os exércitos romanos, sob o comando do general Pompeu, conquistaram a
Palestina. Por conveniências políticas, os romanos permitiram que a região fosse governada por
reis vassalos, não-judeus, os Herodes.
O judaísmo era caracterizado pela existência de várias correntes. Havia os saduceus, que
controlavam o templo e eram colaboradores dos romanos. Os líderes religiosos mais
identificados com o povo eram os fariseus e os escribas, caracterizados pela mais estrita
obediência à lei. Havia também grupos menores, periféricos e radicais, como os zelotes e os
essênios (da comunidade de Qumran, junto ao Mar Morto). Sobre alguns desses grupos, ver Mc
12.18; At 23.7-8. O judaísmo caracterizava-se pela centralidade do templo e da lei, pelo rígido
monoteísmo e por uma forte esperança escatológica. Na Diáspora, onde era lida a Septuaginta (o
VT em grego), muitos gentios se aproximaram do judaísmo, sendo conhecidos como "prosélitos"
(convertidos plenos) e "tementes a Deus" (simpatizantes). Muitos deles eventualmente abraçaram
o cristianismo, como vemos em Atos dos Apóstolos.
O cristianismo, como um movimento surgido no seio do judaísmo, recebeu muitas coisas
importantes do mesmo. Em primeiro lugar, seus primeiros seguidores, todos eles judeus. Depois,
as Escrituras Hebraicas, a fé monoteísta, os elevados preceitos éticos. Finalmente, o culto cristão
e o sistema de administração da igreja também foram inspirados pelas práticas judaicas,
especialmente pela notável instituição que era a sinagoga.
A destruição de Jerusalém contribuiu decisivamente para a emancipação definitiva da
igreja em relação ao judaísmo. Nas primeiras décadas, muitas pessoas ainda podiam pensar que
os cristãos eram um grupo ou seita dentro do judaísmo. Essa identificação às vezes ajudava e às
vezes prejudicava os cristãos. Após a revolta dos judeus e a conseqüente punição dos romanos,
ficou cada vez mais claro que judaísmo e cristianismo eram religiões bastante distintas.
No final do primeiro século, o cristianismo havia se difundido amplamente em muitas
regiões do Oriente Médio e da Europa e estava se preparando para a sua grande conquista poucos
séculos depois: o Império Romano. As igrejas ainda reuniam-se em residências particulares e
salões públicos; só mais tarde seriam construídos os primeiros templos.
O Arianismo
A Controvérsia Ariana ( 4° século)
Por volta do ano 318, Ário, um presbítero de Alexandria (Egito), começou a ensinar que
Cristo, o Filho de Deus, foi criado pelo Pai antes da existência do mundo, sendo portanto inferior
ao Pai, mas superior aos seres humanos. Esse ensino gerou uma enorme controvérsia em toda a
igreja. Constantino, temendo pela estabilidade política do império, convocou um concílio de
bispos para resolver essa e outras questões. O Concílio de Nicéia, na Ásia Menor, reuniu-se em
325, sendo presidido pelo próprio imperador. Depois de muitas discussões, o concílio aprovou
um credo, o Credo de Nicéia, que afirmou a divindade de Jesus Cristo e condenou as posições
arianas. Uma palavra importante e controvertida dessa declaração foi homoousios, isto é,
"consubstancial". Cristo partilha da mesma substância que o Pai. Estava assim definida a
doutrina da trindade, ou seja: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três "pessoas" que
compartilham da mesma "substância" ou essência divina, sendo, portanto, um só Deus.
Mais tarde, sempre por razões políticas, Constantino e seus filhos apoiaram a posição
condenada, o arianismo, gerando grande problemas para a igreja, até que, como vimos acima, o
imperador Teodósio oficializou o cristianismo trinitário, niceno. No ano seguinte, Teodósio
convocou o Concílio de Constantinopla (381), que reafirmou plenamente as decisões do Concílio
de Nicéia. Esse concílio aprovou um novo credo que expandiu as declarações de Nicéia e
afirmou explicitamente a divindade do Espírito Santo (Credo Niceno-Constantinopolitano). Na
grande luta em defesa das decisões de Nicéia, destacaram-se quatro importantes pais da igreja
oriental: Atanásio (328-373), bispo de Alexandria, que escreveu as obras Sobre a Encarnação do
Verbo e Discursos Contra os Arianos (e foi exilado cinco vezes por causa de suas posições), e
três bispos e teólogos da Ásia Menor, conhecidos como os três capadócios: Basílio de Cesaréia
(m.379), Gregório de Nazianzo (m.c.389) e Gregório de Nissa (m.c.394).
Agostinho
Agostinho (354-430) converteu-se em Milão em 386, influenciado pela pregação de
Ambrósio, e tornou-se bispo de Hipona, no norte da África, em 395. É considerado o maior dos
pais da igreja e muito influenciou os reformadores protestantes. Das 94 obras que escreveu, as
mais conhecidas são as Confissões e A Cidade de Deus, esta última já referida na aula de
introdução. Agostinho lutou fortemente contra os cismáticos donatistas e contra Pelágio, um
monge inglês que afirmava que o homem nasce essencialmente bom e é capaz de fazer o bem
sem o auxílio de Deus. Agostinho, ao contrário, afirmou que o ser humano está morto no pecado
e, portanto, a salvação provém inteiramente da graça de Deus, sendo concedida apenas aos
eleitos.
O Escolasticismo
O escolasticismo foi um movimento intelectual e teológico que resultou da introdução da
filosofia de Aristóteles na Europa através dos árabes e judeus da Espanha. Essa filosofia, com
sua visão ordenada e sistemática do mundo, afetou todas as áreas do pensamento, contribuindo
para o chamado renascimento do século XII (1050-1250). A filosofia e a lógica aristotélicas
também afetaram fortemente a teologia cristã. Os primeiros teólogos escolásticos foram os
seguintes: Anselmo (1033-1109), arcebispo de Cantuária, chamado o "pai do escolasticismo";
sua obra principal foi Cur Deus Homo?, um tratado sobre a encarnação. Pedro Abelardo
(1079-1142), brilhante professor da Universidade de Paris que escreveu a obra Sic et Non.
Bemardo de Claraval (1090-1153), influente líder, pregador e místico, tido como o pai do
misticismo medieval. Pedro Lombardo (1100?-1160?), chamado "o mestre das sentenças" por
causa da sua obra Quatro Livros de Sentenças, um texto padrão de teologia por vários séculos no
qual ele defendeu os sete sacramentos. O século XII também marcou o surgimento das primeiras
universidades, tais como as de Paris, Montpellier, Cambridge, Oxford, Bolonha, Modena e
Régio. Nelas estudava-se filosofia, direito, medicina e teologia, a "rainha das ciências". Outra
contribuição do período foi a esplêndida arquitetura gótica das catedrais.
Bibliogafia
Berkhof, Louis. A História das doutrinas cristãs
Cairns, Earle E. Cristianismo através dos séculos
McGrath, Alister. Teologia Histórica
Olson, Roger E. História da Teologia Cristã
Romeiro, Paulo. Religião e Alienação
FACULDADE BÍBLICA BATISTA DE ENSINO TEOLÓGICO
ESCOLA DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO TEOLÓGICA
CONVALIDAÇÃO EM TEOLOGIA