N0 38 - Nov/2012 - R$10
pa r a
da fé cristã
Vamos semear!
Nosso desejo ao produzir esta revista é que, através dela, possamos colocar
conteúdo bíblico nas mãos de pessoas que estão buscando a verdade de
Deus para suas vidas e ministérios. Precisamos ser fieis na semeadura se
queremos um dia ver uma grande colheita. Queremos ser colaboradores
com Cristo e compartilhar as verdades da Palavra com todos quantos pu-
derem ler as páginas dessa revista. Certa feita ouvi de alguém que encon-
trou uma cópia de nossa revista numa pilha de papéis, num lixão e, lendo-
-a, foi convertido por Deus. Hoje podemos compartilhar os artigos desta
revista gratuitamente para as mais de 90.000 pessoas que seguem nosso
ministério pelo Facebook.
Nossa missão é servir a Cristo e sua igreja. Nossa esperança é ver homens
e mulheres fieis ao ensino da Palavra. Quero também incentivar os irmãos
a juntar-se a nos em compartilhar este conteúdo tanto na forma gratuita
digital, ou quando possivel abençoar algum outro irmão ou seu pastor com
uma assinatura impresa.
8. O fundamento da Igreja e a fé
Mauro Meister.. ..................................... 59
As coisas essenciais
Tiago Santos
Precisamos voltar às coisas essen- tes nesse texto, que deviam chamar
ciais. nossa atenção; por exemplo, edificar
Há muita riqueza, beleza e profun- uma casa é algo que envolve muita di-
didade na Palavra de Deus – fazemos ligência e trabalho. Ambos os homens
bem em perscrutar essas coisas; em da história o fizeram. Normalmente
buscar entender todo o conselho de casas são construídas para servir de
Deus – aquilo que ele revelou por sua abrigo, proteção, reduto familiar, lar
Palavra e legou ao seu povo. – seu propósito é bom. Todavia, o Se-
Mas não podemos avançar para as nhor conta que um deles construiu sua
coisas mais profundas sem antes nos casa na areia e que esta casa, não tinha
apegarmos às coisas essenciais. Para alicerces. O outro construiu sua casa
que nossas construções tenham vigor, sobre a rocha e a edificou sob alicer-
é preciso que os alicerces sejam muito ces muito firmes. A diferença está nos
firmes. alicerces.
O apóstolo Pedro traduz bem essa Nesta edição da revista oferecemos
ideia em sua carta, ao dizer para seus ao querido leitor alguns artigos que
leitores que quer “lembrá-los” de cer- nos remetem a essas coisas essenciais;
tos ensinos que eles já haviam recebi- que lidam com alguns dos alicerces de
do. Paulo faz a mesma coisa em quase nossa fé. Preparada no contexto da 28ª
todas as suas epístolas, lembrando Conferência Fiel para Pastores e Líde-
seus leitores que, no fim, a vida cris- res de 2012, trabalhamos aqui temas
tã deve ser caracterizada por algumas fundamentais, como doutrinas essen-
coisas essenciais, como fé, esperança ciais, igreja, missões. Naturalmente, há
e amor. muitos assuntos importantes que não
O Senhor Jesus Cristo ensinou trouxemos nesta edição, mas cremos
também sobre as coisas essenciais. Em que estes haverão de ajudar-nos a che-
um de seus ensinos, ele conta a his- gar na rocha, onde nosso alicerce deve
tória da construção de duas casas (Lc estar fundamentado.
6.46-49). Há muitas coisas importan- Que Deus abençoe sua leitura.
Uma nota
sobre o primeiro Jonas
Madureira
artigo do Credo
dos Apóstolos
No Credo dos Apóstolos
se enumera sucintamente e em
ordem precisa toda a história
de nossa fé. Nele nada há que
não esteja calcado em sólidos
testemunhos da Escritura.”
João Calvino
4 | Revista f é pa r a h o j e
a imagem do Pai de Jesus Cristo que, absoluto poder como criador de todas as
em favor da humanidade, entregou o coisas (Gn 1.1; Sl 19.1-6; At 17.22-31;
seu único Filho, num ato de suprema Rm 1.18-23).
bondade e incomparável amor.1 Assim como a confissão de Deus
Em outras palavras, ao começar a como Pai reflete a doutrina da Trin-
confissão dessa forma, o cristão pres- dade, a confissão de Deus como to-
supõe não apenas a bondade do pai do-poderoso reflete a doutrina da
celestial, mas acima de tudo a incom- Criação, tal como foi herdada da fé
parável e suprema bondade do Pai de judaica. A doutrina da Criação par-
Jesus Cristo. A intenção do cristão é te do pressuposto de que tudo o que
expressar que, antes de tudo, ele conce- existe deve sua existência a um ser de
be Deus como o summum bonum, isto é, grandeza máxima: Deus. Uma vez
como a bondade suprema que nenhuma que, por definição, um ser de grande-
6 | Revista f é pa r a h o j e
Ora, no mundo existem coisas que são qualquer outra religião que sustente a
assim, ou seja, que são discerníveis, crença básica em um Deus todo-bon-
mas que nem por isso devem ser sepa- doso tanto quanto todo-poderoso.
radas. Da mesma forma que existem Vejamos a razão disso a partir de uma
coisas que são discerníveis e separáveis versão da formulação clássica do pro-
– como um galho que tanto é distinto blema do mal, que foi atribuída a Epi-
de uma árvore como pode ser separa- curo (341-270 a.C.) por Lactâncio, um
do dela – também existem coisas que famoso apologista cristão que viveu
são discerníveis e inseparáveis – como aproximadamente entre 260-320 d.C.:
é o caso, por exemplo, da cor verme- De acordo com Epicuro, ou Deus
lha que, embora seja discernível, não deseja remover o mal e não é capaz; ou
pode ser separada da maçã vermelha. ele é capaz e não deseja; ou ainda não
Logo, existem coisas que são discerní- deseja nem é capaz; ou então tanto de-
veis embora sejam inseparáveis. Esse é seja quanto é capaz. Se desejar e não for
o caso da crença cristã. Podemos dis- capaz, deve ser fraco, o que não pode ser
cernir a bondade suprema de Deus do afirmado sobre Deus; se for capaz e não
poder absoluto de Deus, porém não desejar, deve ser malévolo, o que tam-
podemos separar a bondade suprema bém é contrário à natureza de Deus; se
de Deus do poder absoluto de Deus. não deseja nem é capaz, deve ser tanto
É justamente por causa da inse- malévolo quanto impotente, e conse-
parabilidade que há entre a bondade quentemente não pode ser Deus; agora,
suprema e o poder absoluto de Deus se tanto deseja quanto é capaz – a única
que o problema do mal se impõe como possibilidade compatível com a nature-
uma questão demasiado espinhosa, za de Deus – então de onde vem o mal?
tanto para o cristianismo como para [De Ira Dei, XIII]5
edifícios desabarem sobre pessoas e leva a sério o que elas dizem não
ou que terroristas jogassem bombas está apenas confessando o fato de
em escolas repletas de crianças. Em aceitar que uma dada proposição é
vez disso, desejaria impedir que tais verdadeira; algo muito mais forte
males acontecessem, se pudesse fa- do que isso está em jogo. A crença
zê-lo. Como o Deus do cristão não é em Deus significa confiar em Deus,
apenas todo-bondoso, mas também aceitá-lo, entregar-lhe a nossa
todo-poderoso, logo, é óbvio que ele vida. Para o crente, o mundo intei-
pode impedir que tais males aconte- ro parece diferente. (...) O universo
çam. Mas o fato é que eles acontecem. inteiro assume para ele um aspec-
Então, como compreender que seja to pessoal; a verdade fundamental
todo-bondoso um Deus que sendo sobre a realidade é a verdade sobre
também todo-poderoso permite que uma pessoa. Assim, acreditar em
tais males aconteçam? Deus é mais do que aceitar a pro-
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posição de que Deus existe. Mes- igual ao quadrado da hipotenusa basta
mo assim, inclui pelo menos isso. uma postura intelectual ativa. A mes-
Não faz muito sentido acreditar ma coisa não pode ser dita da crença
em Deus e agradecer-lhe pelas cristã na existência de Deus. Para a
montanhas sem acreditar que há crença no teorema de Pitágoras é su-
tal pessoa a quem agradecer, e que ficiente uma postura intelectual ativa
ela é de algum modo responsável (mera compreensão). Todavia, para a
pelas montanhas. Nem podemos crença em Deus se requer bem mais
confiar em Deus e entregar-nos a do que uma postura intelectual ativa (a
ele sem crer que ele existe: “é ne- compreensão de que Deus é Pai e, ao
cessário que quem se aproxima de mesmo tempo, todo-poderoso). O que
Deus creia que ele existe e recom- se requer é o que chamamos de uma
pensa os que o buscam” (Hb 11.6).7 postura intelectual passiva, pois, antes
de confessar Deus
Ora, por que Pai todo-pode-
o dilema de Epi- roso, o cristão é
curo é, para os A crença em Deus Pai primeiro afetado
cristãos, um exer- todo-poderoso é precisamente a pelo poder do Es-
cício de fé? Em confissão da unidade que há entre pírito que, atra-
primeiro lugar, vés da palavra de
a bondade suprema e o poder
porque os cristãos Deus, o compele
acreditam jus-
absoluto de Deus”. a acreditar que
tamente em um toda a sua vida,
Deus todo-bon- bem como to-
doso tanto quanto todo-poderoso. Em das as coisas à sua volta, enfim, tudo
segundo lugar, porque, quando se fala está nas mãos de um Deus bondoso
da crença em Deus, não se fala apenas e onipotente. Como se trata de uma
de uma postura intelectual ativa, mas crença que determina a “cosmovisão”
sobretudo de uma postura intelectual (Weltanschauung) de uma pessoa, en-
passiva. Por exemplo, para acreditar tão, é natural que não apenas a inteli-
que “o todo é maior do que as partes”, gência, mas sobretudo o modus viven-
que “a menor distância entre dois pon- di do cristão sejam determinados por
tos é uma reta” ou que “2+2=4” basta a essa crença. Entretanto, aquele que
compreensão do que significam essas confessa a fé cristã não apenas pro-
proposições (uma postura intelectual fessa e assume uma cosmovisão, mas
ativa). Veja, tanto um ateu como um vive em função dela. Isso só pode ser
crente podem conhecer e acreditar assim porque a crença cristã não é um
nessas mesmas verdades. Para acre- produto das faculdades intelectuais,
ditar que, em um triângulo retângulo, ou seja, não é o resultado de uma
a soma dos quadrados dos catetos é mera atitude mental. Ela é, antes de
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ção amorosa com a sua criação. Aquele bom?”. De novo me deixava abater
que foi impactado pela palavra de Deus e sufocar com estes pensamentos,
não consegue separar, na sua crença, a mas não me deixava arrastar até
bondade suprema e o poder absoluto àquele inferno do erro, onde nin-
de Deus. E exatamente porque não guém te confessa, quando se julga
consegue separar ambas as realidades que és tu a padecer o mal, e não o
que o cristão se depara com a dificulda- homem que o pratica.10
de de entender a origem do mal:
Em vez de adotar uma postura cí-
Mas de novo dizia: “Quem me fez? nica e simplista, que passa a régua e diz
Porventura não foi o meu Deus, “Não há dificuldade alguma! A crença
que é não apenas bom, mas o pró- em Deus é tão simples. Os teólogos e
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Um Evangelho que
DevemosConhecer e
Tornar Conhecido
Paul
washer
1 Coríntios 15.1
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em cisternas rotas e vazias feitas pelas primitiva, passando pelos reforma-
mãos de homens.3 dores e puritanos, até aos eruditos do
De nosso texto, entendemos que tempo presente, estejamos certos de
o apóstolo Paulo já tinha pregado o que ainda não atingimos nem mes-
evangelho à igreja de Corinto. De mo os contrafortes deste Everest que
fato, ele era o pai espiritual daqueles chamamos de “evangelho”. E isso será
crentes!4 Entretanto, Paulo viu a ne- dito a nosso respeito mesmo depois de
cessidade de continuar pregando-lhes uma eternidade de eternidades!
o evangelho: não somente de recordar Vivemos em mundo que nos ofere-
as suas verdades essenciais, mas tam- ce um número quase infinito de possi-
bém de ampliar o seu conhecimento. bilidades, e existe um número incalcu-
Na conversão deles, começaram uma lável de opções que rivalizam por nos-
jornada de descoberta que abrangeria sa atenção. O mesmo pode ser dito so-
toda a sua vida e se estenderia pelas bre o cristianismo e a ampla esfera de
eras intermináveis da eternidade – a temas teológicos que um aluno pode
seguir. A vida e o legado deles pro- rança, o nosso único motivo de orgu-
vam que paixão genuína e duradoura lho e a nossa única e maior obsessão.
resulta de um entendimento cada vez Hoje, são realizadas tantas confe-
mais crescente e mais profundo do que rencias no âmbito do evangelicalismo,
Deus fez por seu povo na pessoa e na especialmente para jovens, que têm
obra de Jesus Cristo! Não há substitu- o objetivo de estimular a paixão dos
to para esse conhecimento! crentes por meio de música, comu-
O evangelho cristão tem sido de- nhão, palestrantes eloquentes, histó-
signado como “evangelho”, uma pala- rias emocionais e apelos comoventes.
vra que vem do latim evangellium, que Contudo, o entusiasmo que tais con-
significa boas novas. Esta é a razão por ferências produzem, seja ele qual for,
que os crentes são muitas vezes cha- desaparece rapidamente. Pequenos
mados de evangélicos. Somos “evan- fogos foram acessos em pequenos co-
gélicos” porque cremos no evangelho rações e se acabam em poucos dias.
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Temos esquecido que paixão genuína mem excepcionalmente dotado, em
e duradoura nasce do conhecimento especial no que concerne ao seu inte-
da verdade e, em específico, a verdade lecto e zelo. Todavia, ele mesmo nos
do evangelho. Quanto mais “conhe- ensinou que o poder de seu ministério
cemos” e compreendemos a beleza não estava em seus dons, mas na pro-
do evangelho, tanto mais somos to- clamação fiel do evangelho. Em sua
mados por seu poder. Um vislumbre primeira carta dirigida aos cristãos de
do evangelho moverá o coração ver- Corinto, Paulo escreveu sua grande
dadeiramente regenerado a segui-lo. resignação:
Cada vislumbre maior do evangelho
acelerará o seu passo, até que ele este- Porque não me enviou Cristo para
ja correndo resolutamente em direção batizar, mas para pregar o evange-
ao prêmio.5 A essa beleza o coração lho; não com sabedoria de palavra,
verdadeiramente cristão não pode re- para que se não anule a cruz de
sistir. Esta é a grande necessidade do Cristo.6
momento! É o que temos perdido e o Porque tanto os judeus pedem si-
que temos de obter novamente – uma nais, como os gregos buscam sabe-
paixão por conhecer o evangelho e doria; mas nós pregamos a Cristo
uma paixão idêntica por torná-lo co- crucificado, escândalo para os ju-
nhecido. deus, loucura para os gentios; mas
para os que foram chamados, tanto
Tornando conhecido judeus como gregos, pregamos a
o evangelho Cristo, poder de Deus e sabedoria
de Deus.7
Não seria um exagero dizer que
o apóstolo Paulo foi um dos maiores Podemos dizer que o apóstolo
instrumentos humanos do reino de Paulo foi, acima de tudo, um prega-
Deus, na história da humanidade e na dor! Como Jeremias antes dele, Paulo
história da redenção. Ele foi respon- foi constrangido a pregar. O evange-
sável pela propagação do evangelho lho era como um fogo ardente encer-
em todo o Império Romano durante rado em seus ossos, que ele não podia
um tempo de perseguição incompa- suportar.8 Aos cristãos de Corinto,
rável e permanece como um exemplo Paulo declarou: “Eu cri; por isso, é que
do que significa ser um ministro cris- falei”9 e: “Ai de mim se não pregar o
tão. No entanto, ele fez tudo isto por evangelho!”10 Essa estimativa tão ele-
meio da proclamação simples da men- vada do evangelho e de pregá-lo não
sagem mais escandalosa de todas que pode ser fingida, quando não existe no
já chegaram aos ouvidos dos homens. coração do pregador, e não pode ser
Ao considerarmos a vida do apóstolo ocultada, quando existe. Deus chama
Paulo, notamos que ele foi um ho- diferentes tipos de homens para le-
18 | Revista f é pa r a h o j e
de abismo de diferenças irreconci- do evangelho, assim como porcos não
liáveis entre o que Deus ordena nas podem ver beleza em pérolas, ou como
Escrituras e o que a cultura carnal cães não podem mostrar reverência
contemporânea deseja. para com carne santificada, ou como
Não devemos nos admirar de que cegos não podem apreciar uma pin-
homens carnais tanto dentro como tura de Rembrandt.18 Os pregadores
fora da igreja desejem teatro, músi- não fazem bem aos homens carnais
ca e mídia no lugar da pregação do por oferecer-lhes as coisas que seu co-
evangelho e da exposição bíblica. En- ração caído deseja, e sim por colocar
quanto o coração de um homem não diante deles a verdadeira comida,19 até
for verdadeiramente regenerado, ele que, pela obra miraculosa do Espírito
aborda o evangelho da mesma ma- Santo, reconheçam-na como o que ela
neira como os demônios gadarenos realmente é, provem e vejam que o Se-
abordaram o Senhor Jesus Cristo: nhor é bom!20
“Que temos nós contigo?”17 Sem a Antes de terminar esta breve dis-
obra de regeneração realizada pelo cussão sobre a pregação do evangelho,
Espírito Santo, o homem carnal não temos de falar sobre um assunto final.
tem nenhum interesse ou apreciação Apresenta-se frequentemente a teoria
verdadeira pelo evangelho, mas, ape- de que nossa cultura não pode tolerar
sar disso, este milagre é operado no o tipo de pregação que foi tão eficaz
coração de um homem por meio da durante os grandes despertamentos e
pregação do evangelho que, a princí- avivamentos do passado. A pregação
pio, ele desdenha. Portanto, devemos de Jonathan Edwards, George Whi-
pregar aos homens carnais a própria tefield, Charles Spurgeon e outros
mensagem que eles não querem ouvir, pregadores semelhantes seria ridicu-
e o Espírito Santo deve agir! Sem isto, larizada, satirizada e escarnecida pelo
os pecadores não podem ver a beleza homem moderno. No entanto, esta
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A MORTE DE
UMA IGREJA
Hernandes
Dias Lopes
22 | Revista f é pa r a h o j e
numerolatria com crescimento saudá- Pai não está nele. Há pouca ou quase
vel. Nem sempre uma multidão sina- nenhuma diferença hoje entre o estilo
liza o crescimento saudável da igreja. de vida daqueles que estão na igreja e
Uma igreja pode ser grande e mesmo daqueles que estão comprometidos
assim estar gravemente enferma. Sem- com os esquemas do mundo. O índi-
pre que uma igreja troca o evangelho ce de divórcio entre os cristãos é tão
da graça por outro evangelho, entra alto como daqueles que não professam
por um caminho desastroso. a fé cristã. O número de jovens cris-
Em segundo lugar, a morte de uma tãos que vão para o casamento com
igreja acontece quando ela se mistu- uma vida sexual ativa é quase o mes-
ra com o mundo. A igreja de Pérgamo mo daqueles que não frequentam uma
estava dividida entre sua fidelidade a igreja evangélica. A bancada evangé-
Cristo e seu apego ao mundo. A igreja lica no Congresso Nacional é conhe-
de Tiatira estava tolerando a imorali- cida como a mais corrupta da política
dade sexual entre seus membros. Na brasileira. A teologia capenga produz
igreja de Sardes não havia heresia nem uma vida frouxa. Precisamos voltar aos
perseguição, mas a maioria dos cren- princípios da Reforma e clamar por
tes estava com suas vestiduras conta- uma reavivamento!
minadas pelo pecado. Uma igreja que Em terceiro lugar, a morte de uma
flerta com o mundo para amá-lo e igreja acontece quando ela não discerne
conformar-se com ele não permanece. sua decadência espiritual. A igreja de
Seu candeeiro é apagado e removido. Sardes olhava-se no espelho e dava
Alguém disse: “Fui procurar a igreja nota máxima para si mesma, dizen-
e a encontrei no mundo; fui procu- do ser uma igreja viva, enquanto aos
rar o mundo e o encontrei na igreja”. olhos de Cristo já estava morta. A
A Palavra de Deus é clara: ser amigo igreja de Laodicéia considerava-se
do mundo é constituir-se inimigo de rica e abastada, quando na verdade
Deus. Quem ama o mundo, o amor do era pobre e miserável. O pior doente
24 | Revista f é pa r a h o j e
Sillas Campos
DEUS, VOCÊ
E A IGREJA
Revista fé par a h oje | 25
É maravilhoso saber que
Deus salva todos os que são seus
filhos! Que ele não desiste de
nenhum deles!”
26 | Revista f é pa r a h o j e
Como Deus vê a igreja e você passaremos, mas a igreja pros-
seguirá vitoriosa. Como alguém disse:
Escrevendo para a igreja em Co- “Deus sepulta seus servos, e prossegue
rinto, o apóstolo Paulo é usado pelo nos seus projetos”. Por isso precisamos
Espírito Santo para nos revelar como dizer uns aos outros: “Na igreja de
Deus vê a igreja. Usando figuras de Cristo, eu não sou indispensável! Você
linguagem, ele nos ensina que o Se- não é indispensável! Somente Deus
nhor vê a sua igreja como “cooperado- é indispensável!” Alguém disse que
res de Deus” (3.9a); “lavoura de Deus” pastores e líderes vivem estressados
(3.9b); e “edifício de Deus” (3.9c). porque se esquecem de quatro impor-
Interessante que no original grego a tantes leis espirituais, que são:
palavra Deus precede os substantivos, Deus existe!
ficando assim: “De Deus somos coo- Você não é ele!
peradores; de Deus lavoura, de Deus Arrependa-se! Pare de “dar uma
edifício sois vós”. E o propósito dis- de Deus”.
to no grego é salientar vigorosamente Faça sua parte e descanse nele.
28 | Revista f é pa r a h o j e
fornece um ensinamento inadequado, a glutonaria, tabaco, promiscuidade,
ou deixa a desejar no seu testemunho etc. Porém nestes versos o autor já vol-
(madeira, feno, ou palha) (v.12). tou a falar da igreja de forma corpora-
Mas qual o resultado desta avalia- tiva. Sim, o nosso corpo é o templo do
ção divina? Primeiro: Deus recompen- Espírito Santo (1Co 6.19), mas estes
sa os fiéis! “Se permanecer a obra de versos afirmam uma outra maravilha:
alguém que sobre o fundamento edifi- Que, de forma especial, nós, a igreja de
cou, esse receberá galardão” (14). Se- Cristo, somos santuário de Deus (16);
gundo: Deus disciplina os infiéis! “Se e que, se alguém atacar a igreja, Deus
a obra de alguém se queimar, sofrerá mesmo o destruirá! Pois a igreja é ter-
ele dano...” (15a). Terceiro: Deus salva ritório sagrado (17).
a todos! “... mas esse mesmo será sal- Isto significa que, se durante um
vo, todavia, como que através do fogo” culto alguém decidir contar o número
(15b). É maravilhoso saber que Deus de pessoas presentes, não deve se es-
salva todos os que são seus filhos! Que quecer da pessoa mais importante: O
ele não desiste de nenhum deles! Nem próprio Deus!
daquele que faz a obra do Senhor re- Muitos de nós estamos preocupa-
laxadamente. Contudo, devemos nos dos. Vemos certas barbaridades sen-
perguntar: Por que desperdiçar o pri- do introduzidas ao cristianismo (ex.:
vilégio de glorificar com o nosso me- misticismo, pragmatismo) e tememos
lhor àquele que é digno de toda honra, pelo presente e futuro da igreja. Po-
glória e louvor? Por que desprezar os rém, há uma palavra de consolo para
galardões que Deus promete aos fiéis? nós nestes versos! Explico isto com
a seguinte pergunta: O que você faz
Deus Protege Sua Igreja para defender um leão? Resposta:
Você simplesmente senta e assiste ele
Já ouvi crentes usando os versos defender-se a si mesmo! Da mesma
16 e 17 deste capítulo para combater forma, a igreja é o corpo de Cristo, e
30 | Revista f é pa r a h o j e
Sermão pregado na 27ª Conferência Fiel para
Pastores e Líderes em 4 de outubro de 2011.
A glória de Deus
Franklin
no chamado para ferreira
pregar às nações
Revista fé par a h oje | 31
Aqueles dentre nós chamados
ao santo ministério da Palavra, devem pregar
as realidades grandiosas e magníficas de Deus
e do Espírito Santo, da Escritura e da criação,
da cruz de Cristo e da aliança, da salvação
e de uma vida santa, a oração,
o batismo, a santa ceia”.
32 | Revista f é pa r a h o j e
to Santo. Ao mesmo tempo, há super- foi consagrado (“separado”, “santifica-
ficialidade e infidelidade bíblica, trai- do”) por Deus para essa tarefa ( Jr 1.5;
ção ministerial, divisões, idolatria por cf. Gl 1.15). Desde a concepção até a
crescimento de igreja a qualquer custo. consagração, Deus tinha preparado
Na esfera pública temos governos po- cada etapa do processo, conhecendo
pulistas, corrupção, pessoas morrendo todas as necessidades e sabendo como
em portas de hospitais, violência cres- supri-las. Em outras palavras, Jere-
cendo assustadoramente e impunida- mias recebeu o caráter e a personali-
de ampla, geral e irrestrita. Há preo- dade necessários para a obra profética.
cupantes sinais de ameaças à liberdade “E te constituí”: significa “dei”, isto é,
de culto e de expressão. Diante desse antes mesmo de Jeremias nascer ele foi
quadro, (1) qual deve ser a imagem dado. Essa é a maneira de Deus agir.
cultivada por aqueles chamados a obe- Ele fez isso com seu próprio Filho, Je-
decer à ordem de pregar a palavra de sus Cristo ( Jo 3.16). Deus o ofereceu
Deus? (2) Qual deve ser o conteúdo de às nações. Deus continua enviando
tal mensagem? (3) Como aqueles cha- aqueles que ele chama a pregar às na-
mados a pregar essa soberana Palavra ções, em obediência ao chamado e em
devem se portar? imitação a seu Filho (1Co 11.1).
Por outro lado, a reação de Jere-
1. Vocação (4-8) mias mostra que ele não era voluntário
( Jr 1.6). Ele menciona sua idade: “Eis
Vamos nos deter um pouco nos que não sei falar, porque não passo
versículos 4-7: O relato começa com de uma criança”. Na verdade, ele não
a afirmação “a mim me veio, pois, a queria dizer que era uma “criança”,
palavra do Senhor” ( Jr 1.4). Essas mas que ainda não chegara aos trinta
palavras ou expressões equivalen- anos, que era o tempo quando os levi-
tes ocorrem outras vezes no livro ( Jr tas iniciavam oficialmente seu minis-
7.1; 11.1; 14.1; 16.1; 18.1). A palavra tério, sendo, portanto, muito jovem
way’hi (“continuou a vir”) sugere que para atender o chamado. Mas Deus
este chamado veio não de forma súbi- responde a objeção: “Não digas: Não
ta, mas de forma persistente. “Antes passo de uma criança” ( Jr 1.7). A com-
que eu te formasse”: estas primeiras preensão de que ele tinha sido esco-
palavras do Senhor a Jeremias revelam lhido como instrumento da revelação
que foi iniciativa de Deus o fato de ele de Deus para uma geração endure-
ter sido escolhido para ser profeta. O cida forneceu a convicção de que sua
nome de Deus domina a cena: nessa missão provinha de Deus, e levou-o a
pequena passagem o nome do Senhor proclamar a palavra do Senhor a uma
é citado 12 vezes! Ele o predestinou nação teimosa e rebelde. E ele recebeu
para anunciar a mensagem, e antes forças da comunhão constante com
mesmo de seu nascimento, Jeremias Deus em oração (cf. Jr 12-20, as cin-
assegura que sustentará seu servo. Je- ça em nossa cultura: políticos, homens
remias não estaria livre de oposição e de negócios, celebridades e atletas.
até de perigo físico, porém cumpriria Mas nossa vocação precisa ser mode-
seu ministério em todas as dificulda- lada por Deus, pelas Escrituras e pela
des, porque Deus estaria com ele para oração. O elemento central da vocação
fortalecê-lo. Portanto, Jeremias sub- profética não é de alguém “que faz as
meteu-se à sua vocação. E, mesmo sem coisas”, e sim de alguém colocado na
sair de Jerusalém, ele seria um profeta comunidade para estar atento e cha-
às nações – a mensagem de Deus ecoa- mar a atenção ao que Deus fala em sua
ria por Egito, Filistia, Moabe, Amom, Palavra, palavra de juízo e denúncia,
Edom, Damasco, Quedar, Hazor, Elão mas palavra de graça, misericórdia e
e Babilônia ( Jr 46-51). Talvez, como renovação.
Jeremias, nunca viajemos para fora de Neste sentido, precisamos relem-
nosso país para anunciar a mensagem brar: Deus chama alguns membros da
34 | Revista f é pa r a h o j e
santa comunidade sacerdotal para pre- anunciar fielmente “todo o desígnio
gar o evangelho, as boas novas da livre de Deus” (At 20.27), portando-se
graça de Deus. Essa vocação é uma como alguém que pertence exclusiva-
obra interna de Deus, que chama os mente ao Senhor.
servos da Palavra. E embora seja inter-
no, o chamado para o ministério inevi- 2. Conteúdo e Pregação (9-16)
tavelmente virá acompanhado por um
testemunho externo. Ou seja, aqueles Analisando os versículos 9-10,
chamados para a pregação da Palavra percebemos que tocando na boca do
demonstrarão dons e aptidões para o jovem, Deus simboliza a comunica-
exercício do ministério. Eles são equi- ção de sua mensagem. Agora o Se-
pados pelo Espírito Santo para pasto- nhor proclama sua mensagem às na-
rear, evangelizar, pregar e ensinar – e ções tendo Jeremias por arauto. Para
frutos visíveis serão evidenciados por transmitir esta mensagem, Deus usa
conta desse chamado interno. E será metáforas baseadas na agricultura e na
confirmado diante da igreja este cha- construção, constituída por três pares
mado interno, por conta dos frutos ex- de verbos, os dois primeiros negativos
ternos da obra da graça que já aconte- e o terceiro positivo: o profeta deve
ceu interiormente. Portanto, a vocação arrancar e derribar, destruir e arruinar
profética não pode ser reduzida a mero para então edificar e plantar ( Jr 1.10).
trabalho. Este pode ser quantificado e Toda a corrupção na nação deve ser ar-
avaliado. Pode-se dizer se este chegou rancada e derrubada, e somente depois
ao fim ou não, assim como se pode ser disto é que se pode edificar e plantar de
contratado ou demitido. Uma vocação novo. Portanto, a mensagem do pro-
não é um trabalho. A vocação proféti- feta teria duas funções. Em primeiro
ca é sobre a pregação da Palavra, so- lugar, essa mensagem era uma decla-
bre a administração dos sacramentos, ração sobre a maldição da aliança que
sobre chamar o povo de Deus a adorar seria executada em seu devido tempo
o Pai, Filho e Espírito Santo, é sobre (Dt 28.1-68). Em segundo lugar, as
lembrar semanalmente à comunidade bênçãos da aliança se tornariam rea-
da fé os privilégios e responsabilidades lidade. Deus quer renovar, reconstruir
da aliança. e restaurar seu povo, mas antes da re-
Karl Barth afirmou que quem não novação é necessária a remoção radical
houver sido chamado para pregar, que do pecado e da infidelidade à aliança e
não o faça, pois não será pequeno mal eleição. A ruína é inevitável, enquanto
que causará se subir ao púlpito sem a nação persistir no pecado, mas a pa-
haver sido escolhido por Deus para lavra de renovação oferece esperança
isto. Por outro lado, se você foi cha- de restauração. Usando a linguagem
mado para anunciar a santa Palavra, do Novo Testamento, Deus tem pri-
você só tem um, e um único oficio: meiro de remover o pecado, antes de o
36 | Revista f é pa r a h o j e
dem ser renovados à imagem de Deus. plica voltar-se dos próprios caminhos
Portanto, a vocação é sobre conduzir para a aliança ( Jr 6.16), é um chamado
as pessoas a Deus, por meio de sua Pa- à comunidade para um retorno à “ver-
lavra, em humildade. Trata-se de per- dade”, “juízo” e “justiça”. Em suma, o
manecer junto ao povo. povo é chamado ao arrependimento e
A tentação à qual os profetas es- ao conhecimento de Deus por meio do
tão sujeitos é considerar Deus uma Messias. E o remédio de Deus para o
mercadoria, utilizá-lo para legitimar coração enfermo ( Jr 17.9) será gravar
a idolatria (cf. Jr 23.21-40). Qual é, sua lei no coração da nova comunidade
então, o conteúdo da mensagem pro- ( Jr 31.31-34). Portanto, o verdadeiro
fética? Deve-se conhecer o Senhor profeta é aquele que procura distanciar
( Jr 8.7; 24.7; 31.31-34). Este conhe- o povo do mal, enfatizando as exigên-
cimento se dá por meio do Messias, o cias de Deus na aliança ( Jr 23.14, 22).
38 | Revista f é pa r a h o j e
acusados de alta traição e decapitados deixou de anunciar a mensagem de
no mesmo dia. Suas últimas palavras Deus. Ele foi tremendamente pressio-
foram: “Como podemos esperar que nado para que fizesse concessões, de-
a justiça prevaleça quando são poucos sistisse e se escondesse, porém, jamais
os que estão dispostos a se doarem in- cedeu. Cada músculo do seu corpo foi
dividualmente a uma causa justa? Um exigido até o limite da fadiga. Mas ele
dia bonito e ensolarado, e eu tenho foi corajosamente “coluna de ferro”
de partir, mas o que importa a minha e “muros de bronze”. Muitos se opo-
morte, se através de nós milhares de riam, mas Deus prometeu estar com
pessoas forem despertadas e instadas ele e protegê-lo: “Eu sou contigo, diz o
à ação?” Sophie Scholl foi martiriza- Senhor, para te livrar” ( Jr 1.19).
da com 21 anos. Mesmo tão jovem,
ela se opôs ao totalitarismo nazista, Conclusão
por causa de sua fé, num contexto de
repressão, censura e conformismo. Jeremias foi o profeta mais rejeitado e
Isso é coragem invencível! Se você foi resistido da história israelita. Ele re-
chamado a anunciar a Palavra, fique cebeu a ordem de não se casar ou ter
firme! A promessa e a graça de Deus filhos ( Jr 16.1-4), uma experiência
estão com você! Como diz a canção do incomum de celibato. Experimentou
grupo Logos: oposição, castigos e prisões ( Jr 11.18-
23; 12.6; 18.18; 20.7; 26.9-19; 28.5-17;
Meu servo, não temas! 37.11-38.28). Muitas vezes é chamado
Não temas, pois eu te escolhi! de o “profeta chorão” ( Jr 9.1; 13.17;
Sei que é difícil, mas confia em mim! 14.17). Quando levado para o Egito,
Confia em mim e então, contra a sua vontade, caiu no esqueci-
Tu verás o meu poder! mento – de acordo com a tradição, ele
Durante seus quarenta anos de mi- morreu naquele país, dez anos depois,
nistério, Jeremias foi invencível. Di- apedrejado por seus compatriotas, que
versas vezes passou por intensa ago- ainda se recusavam a aceitar sua men-
nia, mas não traiu sua vocação. Ele foi sagem. Mas não somos chamados a
desprezado e perseguido, mas jamais andar por vista, mas por fé. Jeremias
pés no chão com coragem, para que em F. Cawley, “Jeremias”, em F. Davidson (ed.), Novo co-
tudo Deus seja glorificado. mentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, s/d.
40 | Revista f é pa r a h o j e
Steven
Lawson QUÃO FIRME
FUNDAMENTO!
42 | Revista f é pa r a h o j e
vinas, é a fé no senhorio de Jesus Cris- ter esperança de subsistir nos dias de
to. Afinal de contas, foi essa a grande tribulação. Mas a história registra que
confissão de Pedro – “Tu és o Cristo, o quando uma igreja é edificada com o
Filho do Deus vivo” (Mt 16.16) – que ouro, a prata e as pedras preciosas de
deu azo à grande promessa de Jesus de uma mensagem centrada em Deus,
que construiria soberanamente a sua ela é fortalecida e pode resistir aos
igreja. Há, porém, outras amarras ina- mais difíceis temporais. Nem mesmo
movíveis da igreja, além desta de que os ventos tempestuosos da apostasia,
acabamos de falar. No processo de edi- da perseguição e das terríveis chamas
ficar a sua igreja, o Senhor Jesus levan- do martírio podem fazê-la cair. De
ta e coloca nos respectivos lugares as fato, sempre que a igreja é edificada
fortes colunas e os fortes componentes sobre a sólida rocha da graça soberana
de tudo quanto ensinou – o completo de Deus, ela permanece inamovível,
conselho de Deus. Jesus ordenou que como inamovível tem permanecido
os seus discípulos ensinassem “tudo o nas horas mais tenebrosas da história.
que eu lhes ordenei” (Mt 28.20, com
ênfase em tudo). As verdades que A Graça Soberana:
Cristo ensinou constituem a fundação um Firme Fundamento
sólida e segura. E no coração mesmo
do seu ensino doutrinário está um As verdades da graça soberana for-
inequívoco compromisso com a so- mam o mais forte fundamento doutri-
berania da graça divina. Estas verda- nário para qualquer igreja ou crente.
des centrais formam a sólida base do As doutrinas relacionadas com a sobe-
firme fundamento da igreja. A igreja rania de Deus na salvação do homem
que é construída sobre as doutrinas da lançam a mais sólida pedra angular e,
graça, é erguida sobre a inexpugnável assim, protegem firmemente a vida
rocha da revelação divina. Que firme e o ministério do povo de Deus. O
fundamento tal igreja tem! culto na igreja é mais puro quando o
Mas, triste é dizer, a igreja atual ensino dessa igreja sobre a graça sobe-
parece ter a intenção de retirar as dou- rana é mais claro. Seu modo de viver
trinas da graça do seu alicerce. Em vez é mais limpo quando a sua exposição
disso, prefere construir com madeira, das doutrinas da graça é mais rica. Sua
palha e restolho sobre areia movediça. comunhão é mais agradável quando a
Uma igreja assim pode ter uma im- instrução sobre a soberania de Deus é
pressionante aparência externa, e, por- mais firme. Sua obra de evangelização
tanto, pode atrair muita gente. Mas, no mundo é mais forte quando a sua
interiormente ela não é espiritual, é proclamação da teologia transcenden-
instável, e, pior, em grande parte não tal é mais ousada. A vida espiritual
é convertida. Tal igreja, construída da igreja toda é elevada quando a sua
sobre um alicerce tão frágil não pode mensagem está ancorada no mais alto
44 | Revista f é pa r a h o j e
Zane
Pratt
Missões e
Sofrimento
Revista fé par a h oje | 45
Somente Jesus poderia
sofrer ou morrer pelos pecados
do mundo. Somente ele, Deus
perfeito e homem perfeito,
poderia sofrer em nosso lugar
para pagar a penalidade que
merecíamos pagar”.
46 | Revista f é pa r a h o j e
tativas determinadas culturalmente. mente tachados de fanáticos e consi-
Como ocidentais, eles consideram derados como potencialmente con-
inconscientemente, como muitos ou- fusos. Mesmo no avanço da Grande
tros, segurança e conforto como seus Comissão, muitas igrejas e cristãos do
valores mais importantes; por isso, eles Ocidente valorizam inconscientemen-
constroem seu entendimento da vida te o dinheiro mais do que a obediência
de discipulado dentro desses parâme- e supõem que Deus nunca pediria aos
tros. A supremacia destes interesses seus que arrisquem sua vida por amor
parece tão autoevidente que nem mes- à sua obra. Sofrer é visto como anor-
mo ocorre a alguém examiná-los. Os mal, incomum e mau.
evangélicos ocidentais simplesmente Nisto, assim como em muitas coi-
não pensam na possibilidade de que sas, a experiência cultural do Ocidente
Deus exija deles algo que seja descon- está em desarmonia com a maior parte
fortável ou inseguro, além do, talvez, do mundo no decorrer da maior par-
desconforto brando de compartilha- te da História. A maior parte da raça
rem o evangelho com alguém que se humana não tem tido outra escolha,
ofende no decorrer do processo. senão a de suportar sofrimento como
Quando um evangelho centrado uma ocorrência comum da vida. Sem
no homem é pregado, esta tendência os grandes escudos protetores que o
se torna ainda mais visível. Quando Ocidente desfruta (tecnologia, medi-
pessoas ouvem que o alvo da salvação cina, sistemas de distribuição global
é satisfazer suas necessidades ou seus de alimentos, paz interna e o governo
desejos por realização (ou mesmo dar- da lei), a maior parte da raça humana
lhes uma “vida abundante” mal defini- tem vivido com a ameaça de doenças,
da como “sua melhor vida agora”), não fome, desastres naturais e violência
faz sentido alguém pensar que seguir a humana, como uma condição normal.
Jesus pode envolver sofrimento e per- Até no Ocidente, embora o sofrimen-
da. No entanto, mesmo em igrejas que to seja restringido e ocultado, ele não
mantêm um teocentrismo bíblico, esta pode ser eliminado verdadeiramente.
aversão inconsciente ainda se mantém Crimes ainda acontecem. Desastres
real. O sofrimento como uma parte naturais destroem comunidades in-
normal da vida e um componente nor- teiras, e crises econômicas aniquilam
mal de seguir a Cristo não integra a anos de economias numa noite. Pode-
agenda mental da maioria dos cristãos mos ter os melhores cuidados médicos
ocidentais. Quando os crentes seguem do mundo, mas as pessoas ainda ficam
um caminho de obediência que envol- doentes, e todos, por fim, morrem – às
ve desconforto, eles são considerados vezes, de maneira lenta e dolorosa. A
heróis da fé incomuns. Quando esse diferença é que as pessoas do Ocidente
caminho de obediência os coloca em se ofendem com o sofrimento, como
um risco físico sério, são frequente- se seus direitos fossem de algum modo
48 | Revista f é pa r a h o j e
que vive neste mundo caído está sujei- dencial, Deus protege, muitas vezes,
ta ao sofrimento apenas por causa da o seu povo de desastres que poderiam
propensão inata das pessoas para feri- ter acontecido. Todo crente tem um
rem umas às outras. testemunho de maneiras pelas quais
A queda afetou muito mais do que Deus o protegeu de dano potencial, e,
apenas os relacionamentos humanos. muito provavelmente, no céu desco-
Ela corrompeu toda a ordem criada. briremos inúmeras outras ocasiões em
Em Gênesis 3, Deus disse a Eva que que Deus nos protegeu, quando nem
sua dor no parto aumentaria grande- mesmo percebemos. No entanto, ele
mente e disse a Adão que sua sobrevi- nunca promete que sempre nos prote-
vência dependeria de labor doloroso. gerá e não está sob qualquer obrigação
Em Romanos 8, Paulo explicou que de fazer isso. O sofrimento acontece
toda a criação está “sujeita à vaidade”, apenas porque este é um mundo caí-
em “cativeiro da corrupção” e, “a um só do. Algumas pessoas experimentam
tempo, geme e suporta angústias até menos sofrimento por causa do lugar
agora” (Rm 8.18-22). Como resultado em que vivem, e parte desta diferen-
de nossa rebelião, este mundo se tor- ça pode ser atribuível ao impacto da
nou um lugar de desastres naturais, e Palavra de Deus na cultura, através
nossa vida é caracterizada por doença e do tempo. Todavia, cada pessoa está
morte. Terremotos, furacões, tornados, sujeita à possibilidade de desastres na-
secas, inundações, fomes, deslizamen- turais ou crimes. Cada pessoa pode ter
tos de terra, câncer, doenças de cora- câncer ou doença de coração; por fim,
ção e coisas semelhantes, tudo resulta cada pessoa morre. Estas formas de
do fato de que este é um mundo caí- sofrimento vêm apenas porque o mun-
do. Essas coisas atingem tanto o povo do é caído, e os sofrimentos não discri-
de Deus como aqueles que desafiam minam entre crentes e não crentes.
a Deus. Em sua Palavra, Deus nunca
promete que seu povo será isento de Sofrimento por fazermos o mal
qualquer destas características doloro-
sas de um mundo caído. Neste mundo O sofrimento vem, às vezes, como
bagunçado pelo pecado humano, coi- resultado de fazermos o mal. Algumas
sas más acontecem a todas as pessoas. coisas são apenas as consequências na-
Devido à gravidade do pecado, é turais de desconsiderarmos as orienta-
admirável que as coisas não sejam pio- ções dadas por Deus. Alcoolismo, abu-
res. Nas operações da graça comum, so de drogas e glutonaria causam seu
Deus ainda provê bênçãos para os jus- próprio dano natural na raça humana.
tos e, também, para os injustos. E o Quando alguém comete um crime e
Espírito de Deus restringe o mal, para é apanhado, sua punição subsequente
que as coisas não sejam tão más como vem como uma consequência legal do
poderiam ser. Em seu cuidado provi- procedimento errado. Também é ver-
50 | Revista f é pa r a h o j e
dádiva: “Porque vos foi concedida a nosso lugar para pagar a penalidade
graça de padecerdes por Cristo e não que merecíamos pagar. Nesse sentido,
somente de crerdes nele” (Fp 1.29). A Jesus sofreu para que os crentes não
palavra traduzida aqui por “foi conce- tivessem de passar por esse sofrimen-
dida” vem da família da palavra charis, to. Porque ele suportou a ira de Deus
no grego, e poderia ser traduzida por contra a nossa rebelião, aqueles que
“foi presenteada”. A Bíblia nos diz que creem nele nunca terão de enfrentar
os apóstolos se regozijaram por terem essa ira. Nenhum crente jamais sofreu
sido considerados dignos de sofrer para compensar qualquer de seus erros
por causa do nome de Jesus (At 5.40- aos olhos de Deus. A morte expiatória
41). As igrejas em Jerusalém (At 8.1), de Jesus é totalmente suficiente para
na Galácia (Gl 3.4), em Filipos (Fp pagar todos os pecados de todas as
1.29), em Tessalônica (1 Ts 2.14) e na pessoas que crerão nele, em todos os
Ásia Menor (1 Pe 4.12), todas expe- lugares, em todo o tempo. Nada pode
rimentaram sofrimento, tal como os ser acrescentado a essa morte.
recipientes originais da Epístola aos No entanto, a Escritura nos diz
Hebreus (Hb 10.32). Paulo atravessou que aqueles que creem em Cristo es-
sofrimento horrível (2 Co 11.23-29), tão agora, eles mesmos, “em Cristo”.
como também os outros apóstolos (At Por meio da habitação do Espírito,
5-8). Na Escritura cristã, a chamada os crentes possuem agora uma união
para seguir a Cristo é uma chamada íntima com Jesus. Muitas bênçãos
para abandonar a tranquilidade, a se- maravilhosas fluem para o povo de
gurança e o conforto deste mundo, a Deus por meio desta união com o seu
fim de tomar a cruz. Isto não é uma Salvador. Esta mesma união os une
descrição de uma superfé extraordi- também com o contínuo sofrimen-
nária. É uma descrição bíblica da vida to dele no mundo, não como obra de
normal do cristão normal.1 expiação, e sim como a experiência de
oposição do mundo ao amor e à santi-
A comunhão no sofrimento de dade dele. Parte do que significa estar
Cristo “em Cristo” é compartilhar da comu-
nhão de seus sofrimentos. Paulo une
No Novo Testamento, muitas das o conhecer a Cristo e o poder de sua
referências que falam sobre sofri- ressurreição com o compartilhar de
mento dizem respeito especialmente seus sofrimentos, como se estas duas
ao sofrimento de Jesus. Há um forte coisas fossem inseparáveis (Fp 3.10).
sentido em que estes sofrimentos são Paulo disse aos cristãos de Corinto:
exclusivos de Jesus. Somente ele pode- “Porque, assim como os sofrimentos
ria sofrer ou morrer pelos pecados do de Cristo se manifestam em grande
mundo. Somente ele, Deus perfeito medida a nosso favor, assim também a
e homem perfeito, poderia sofrer em nossa consolação transborda por meio
52 | Revista f é pa r a h o j e
dado especial. A condição normal de o contexto indica claramente que ele
um seguidor de Cristo é participar da falava sobre participar da obra do
comunhão dos sofrimentos dele, e os evangelho (2 Tm 1.6-9).
que não fazem isso precisam sempre Este padrão tem permanecido até
perguntar a si mesmos por que não o ao presente. Aqueles que têm levado
estão fazendo. o evangelho a lugares onde ele nunca
foi ouvido antes têm sido, sempre, al-
Sofrimento e o avanço do vos especiais de oposição e sofrimento.
evangelho David Garrison, em seu livro Church
Planting Movements (Movimentos de
Promover o avanço do evangelho é Plantação de Igreja), lista o sofrimen-
um empreendimento perigoso. Aque- to de missionários como uma das prin-
les que levam a luz de Cristo às trevas cipais características na maioria dos
de um mundo rebelde parecem expe- lugares em que Deus tem agido de ma-
rimentar um nível intensificado de neiras extraordinárias.2 Isto não deve
sofrimento. Isto foi certamente uma surpreender-nos. O mundo, o Diabo e
experiência de Paulo. Bem no começo a nossa própria carne se opõem, todos,
da vida cristã de Paulo, quando Ana- à obra de Deus. Aqueles que levam o
nias lhe foi enviado em Damasco para evangelho a lugares em que Cristo
restaurar-lhe a visão, Deus ligou uma ainda não é conhecido têm de fazer
descrição de sua chamada missionária isso com seus olhos abertos para o que
com estas palavras: “Eu lhe mostrarei possa vir adiante. Além disso, a igreja
quanto lhe importa sofrer pelo meu no Ocidente tem de abraçar a verdade
nome” (At 9.16). Paulo entendeu esta de que o evangelho é digno de qual-
ligação e a expressou a Timóteo no quer preço que Deus pede que pague-
final de sua vida, ao descrever o evan- mos e tem de abandonar sua aversão
gelho e dizer sobre ele: “Para o qual instintiva ao desconforto e ao perigo.
eu fui designado pregador, apóstolo A Grande Comissão não será cumpri-
e mestre e, por isso, estou sofrendo da sem sofrimento.3 Se uma parte do
estas coisas” (2 Tm 1.11-12). Para corpo de Cristo demonstra que não
que ninguém pense que esta conexão está disposta a pagar qualquer tipo de
entre sofrimento e serviço do evange- preço, Deus os deixará de lado e usa-
lho era exclusiva dos apóstolos, Paulo rá aqueles cujos valores estão mais em
aplicou-a também a Timóteo, dizen- harmonia com os valores dele.
do: “Participa dos meus sofrimentos
como bom soldado de Cristo Jesus” Cosmovisão Bíblica e Sofrimento
(2 Tm 2.3). Na verdade, esta conexão
era tão íntima, que Paulo usou a ex- Até aqui esta discussão têm sido
pressão “participa comigo dos sofri- um tanto sombria. Tudo isto signifi-
mentos, a favor do evangelho”, onde ca que o cristianismo bíblico é algum
54 | Revista f é pa r a h o j e
genuíno e eterno. Quando os crentes a reconhecer que não pertencem a
assimilam o incrível valor de Cristo e si mesmos, mas vivem somente pela
de seu evangelho e o valor comparati- graça e para a glória dele. Quando
vamente menor e passageiro das coisas essa perspectiva é atingida, a chamada
boas desta vida, podem ver com os para suportar sofrimento por causa do
mesmos olhos de Paulo, o qual, depois evangelho deixa de ser notícias som-
de tudo por que passou, escreveu: “A brias e se torna uma parte razoável de
nossa leve e momentânea tribulação nossa chamada jubilosa em Cristo.
produz para nós eterno peso de glória, Os cristãos que têm assimilado a
acima de toda comparação, não aten- mentalidade da cosmovisão bíblica
tando nós nas coisas que se veem, mas aceitam o sofrer por Cristo porque ele
nas que se não veem; porque as que se é intrinsecamente digno disso. Eles
veem são temporais, e as que se não acharam em Cristo o maior tesouro do
veem são eternas” (2 Co 4.17-18). mundo, e em comparação com ele to-
Evidentemente, o problema é que das as atrações e confortos do mundo
as coisas que podemos ver são imedia- parecem esterco coberto de ouropel.
tas e sedutoras, enquanto as que não Como Paulo, eles podem dizer com
podemos ver só podem ser assimiladas honestidade: “Sim, deveras considero
pela fé. Aqueles que têm muitas coisas tudo como perda, por causa da sublimi-
boas que podem ver aqui têm frequen- dade do conhecimento de Cristo Jesus,
temente mais dificuldade para assimi- meu Senhor; por amor do qual perdi
lar o valor superior das coisas que não todas as coisas e as considero como re-
podem ver. A maioria das pessoas pre- fugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3.8). As
fere ter seu bolo e, também, comê-lo. coisas deste mundo não são dignas de
Preferem gozar as coisas boas desta nosso sofrimento, mas Jesus é.
vida e as coisas melhores da vida por
vir. Contudo, em sua sabedoria, Deus Benefícios do sofrimento
sabe que não podemos servir a dois
senhores (Mt 6.24). Ele não chama Vale a pena sofrer por Jesus por-
seus filhos a renunciarem todas as que ele é muito maior do que qualquer
possessões e prazeres, assim como não coisa que percamos em segui-lo. Além
nos ordena buscar o sofrimento por si disso, há certos benefícios que vêm ao
mesmo. Tudo que ele criou é bom, in- crente por meio do sofrimento. Um
cluindo possessões e prazeres usados desses benefícios é que o sofrimento
corretamente. Deus chama os seus fi- testa e demonstra se a fé é genuína
lhos a valorizarem aquilo que é infinita ou não. Em sua parábola dos quatro
e eternamente valioso, acima daquilo solos, Jesus falou sobre aqueles que
que é menos importante e temporal. fazem uma aceitação superficial do
Deus os chama a investir sua vida nas evangelho, mas não aprofundam suas
coisas da vida por vir. Ele os chama raízes. Quando a perseguição ou as di-
56 | Revista f é pa r a h o j e
que nos sobrevenha, sem comprome- abandonará. Nada pode tirar-nos de
termos nossa integridade em Cristo. suas mãos ou separar-nos de seu amor.
O Novo Testamento ressoa este tema Nosso dever é pagar o mal com o bem.
repetidas vezes. Eis dois exemplos. Devemos deixar as consequências com
Paulo disse a Timóteo: “Tu, porém, sê Deus e ser proativos em fazer a obra
sóbrio em todas as coisas, suporta as de seu reino em face de qualquer coisa
aflições, faze o trabalho de um evange- que nos sobrevenha. Precisamos guar-
lista, cumpre cabalmente o teu minis- dar-nos da tentação real de entrarmos
tério” (2 Tm 4.5). Pedro afirmou: “Por- no modo de sobrevivência e, em vez
que isto é grato, que alguém suporte disso, permanecermos ativos na pro-
tristezas, sofrendo injustamente, por pagação de sua glória.
motivo de sua consciência para com Devemos usar nossas experiências
Deus” (1 Pe 2.19). A nossa tentação de sofrimento para confortar os outros
carnal é fazer quaisquer comprometi- que sofrem. Paulo abordou isto com
mentos que forem necessários para ba- alguma amplitude em 2 Coríntios 1.
nir nosso sofrimento. Deus nos chama Em vez de tornar-nos apáticos ou in-
a suportar com paciência. sensíveis, o sofrimento deve nos tor-
Em terceiro, devemos amar aque- nar compassivos para com os outros
les que nos perseguem e orar por seu em suas aflições.
bem-estar (Mt 5.43-47). Não deve- Devemos fixar nossos olhos em
mos tomar vingança daqueles que er- Jesus (Hb 12.1-3). Esta talvez seja a
ram contra nós (Rm 12.14, 17, 19-21). reação mais essencial de todas. Nossa
Tanto a nossa carne quanto o mundo carne sempre recuará do sofrimento.
ao nosso redor nos instigam a que vin- O mundo sempre nos dirá que somos
diquemos a nós mesmos, mas devemos loucos por nos colocarmos no sofri-
reagir aos instrumentos humanos de mento, em primeiro lugar. Somente
nosso sofrimento como Jesus reagiu, por mantermos uma perspectiva bí-
amando até as pessoas que o mataram. blica sobre o supremo valor de Jesus,
Em quarto, devemos crer em Deus seremos capazes de suportar com pa-
em meio ao nosso sofrimento e reagir ciência o sofrimento, enquanto aben-
por fazermos o bem proativamente. çoamos nossos perseguidores, confor-
“Os que sofrem segundo a vontade tamos outros que sofrem e continua-
de Deus encomendem a sua alma ao mos ativamente na obra do reino de
fiel Criador, na prática do bem” (1 Pe Deus. Isto exige dedicação em oração
4.19). A consequência de nosso sofri- e no estudo da Palavra de Deus. Tam-
mento está nas mãos de Deus, e pode- bém exige encorajar e desafiar outros
mos confiar nele quanto a essa conse- no corpo de Cristo, a menos que es-
quência. Deus pode nos libertar por tejamos involuntariamente separados
levar-nos ao lar para ficarmos com ele, dos outros crentes. Somente em Cris-
mas ele nunca nos deixará, nem nos to o sofrimento pode não somente ser
58 | Revista f é pa r a h o j e
O FUNDAMENTO
DA IGREJA E A FÉ
Mauro
Meister
60 | Revista f é pa r a h o j e
Continuando com a sua sutil e cer- das fundamentais diferenças entre o
teira pedagogia, Jesus faz, então, a per- cristianismo e outras religiões. A reve-
gunta que realmente interessa: “Mas lação que vem da parte de Deus e que
vós, continuou ele, quem dizeis que eu corresponde à realidade dos fatos. Je-
sou?” (v. 15). Observe que a associa- sus é aquele que a Escritura diz que ele
ção é imediata: “o Filho do Homem” e é. Jesus é aquele que ele mesmo diz ser.
quem “eu sou”. Aqui está a primeira Jesus é aquele que Deus diz ser! Temos
lição direta: Jesus é o Filho do Homem aqui três ideias básicas. Primeiro, que a
anunciado no Antigo Testamento. revelação passada se cumpre em Cris-
Como é usual, Pedro sai na frente to, afinal, ele é o Messias prometido.
ao dar a resposta. É peculiar de Pedro Segundo, que a revelação presente, na
adiantar-se em falar e agir. E a respos- encarnação do Filho do Deus vivo, é
ta de Pedro é direta: “Tu és o Cristo, o superior. Não no sentido de que a re-
Filho do Deus vivo” (v. 16). A resposta velação anteriormente dada fosse im-
é carregada de conceitos teológicos fun- perfeita, mas agora, ela é completa e
damentais que são trazidos pelos textos plena. Tudo o que Deus quis revelar,
da Lei, dos Salmos e dos Profetas. Em mostrou-nos no seu Filho (Hb 1.3;
resumo, Pedro faz uma associação teo- Jo 1.18). E terceiro, aprendemos que a
lógica dizendo que o Filho do Homem iluminação individual é fundamental.
é o mesmo Messias, que é o Cristo e que O verso 17 nos ensina que Deus reve-
este mesmo é o Filho do Deus vivo, e, lou a Pedro esta verdade. Os escribas,
afinal, era este homem que estava dian- fariseus e todos os estudiosos da época
te dos seus próprios olhos na região de tinham as mesmas fontes que Pedro ti-
Cesaréia de Filipe. A partir desta reali- nha, mas foi Pedro quem conectou os
dade, aprendemos alguns importantes pontos da revelação passada com a re-
princípios no diálogo que se desenvolve. velação presente diante dos seus olhos.
Esta mesma verdade é viva hoje quan-
Princípio da Revelação do, pela iluminação do Espírito Santo,
percebemos na Escritura a verdade de
Na resposta do diálogo, Jesus mos- Deus. Crer na revelação da Palavra de
tra, então, o primeiro grande funda- Deus é uma bem-aventurança: “Bem
mento sobre o qual a sua igreja está fir- -aventurado és, Simão Barjonas”. So-
mada: a iluminação do Espírito Santo bre esta revelação é que a fé da Igreja
sobre a Revelação, ou como chamarei deve ser fundamentada.
aqui, o Princípio da Revelação. O
Senhor Jesus diz que não foi carne ou Princípio da Edificação
sangue que fizeram Pedro reconhecer
esta verdade revelada nas Escrituras e A resposta de Jesus a Pedro come-
agora exposta diante de seus próprios çou com uma troca de palavras: você
olhos, mas o próprio Deus. Esta é uma disse que eu sou o Cristo, e eu digo,
62 | Revista f é pa r a h o j e
Princípio da Autoridade que as “portas do inferno” não operem
dentro dela mesma. Logo, a Igreja na
Por último, podemos perceber o terra deve viver na busca de realizar a
princípio da autoridade de Cristo so- vontade soberana do Pai do céu.
bre a sua Igreja. Para demonstrar este E como, afinal, esta fé deve ser vi-
princípio temos, em primeiro lugar, a vida aqui na terra?
afirmação desta autoridade: “E as por- “Então, disse Jesus a seus discípulos:
tas do inferno não prevalecerão contra Se alguém quer vir após mim, a si mes-
ela” (v.18b). O conceito é, de certa for- mo se negue, tome a sua cruz e siga-me.
ma, muito simples: o fato da Igreja ter Porquanto, quem quiser salvar a sua
a autoridade da revelação de Deus, ser vida perdê-la-á; e quem perder a vida
a propriedade e a edificação de Cris- por minha causa achá-la-á. Pois que
to, não há nada neste mundo, nem o aproveitará o homem se ganhar o mun-
próprio inferno, que possa se colocar do inteiro e perder a sua alma? Ou que
contra ela e vencer. Assim, a verdadeira dará o homem em troca da sua alma?
Igreja de Cristo não tem o que temer; Porque o Filho do Homem há de vir na
não há poderes que possam terminá-la, glória de seu Pai, com os seus anjos, e,
porque ela pertence a Cristo. Aliás, então, retribuirá a cada um conforme
opor-se à obra de Cristo na Igreja é as suas obras. Em verdade vos digo que
obra de Satanás e é por isto que Pedro alguns há, dos que aqui se encontram,
é repreendido severamente ao opor-se, que de maneira nenhuma passarão pela
quando foi dito que era necessária a morte até que vejam vir o Filho do Ho-
morte e ressureição do Senhor. mem no seu reino” (16.24-28).
Por outro lado, a verdadeira Igreja O que o texto nos mostra é que a
trabalha como uma agência do céu aqui vida de fé na igreja deve ser vivida em
na terra. O Senhor afirma: “Dar-te-ei torno da cruz! É, com certeza, uma vida
as chaves do reino dos céus; o que liga- de negação dos padrões da individua-
res na terra terá sido ligado nos céus; e lidade egoísta para viver os padrões da
o que desligares na terra terá sido des- vida do bem-aventurado. Da mesma
ligado nos céus” (v.19). Veja que o texto forma como era necessário que o Se-
é muito claro em dizer que a ordem da nhor fosse a Jerusalém para passar pela
ação de ligar e desligar começa no céu cruz, o cristão toma a sua cruz e segue a
e é implementada na terra pela Igreja. Jesus nos passos da ressurreição.
Acredito que aqui temos o ensino claro,
somado ao contexto de Mateus 18.15-
18, onde aparece a mesma expressão,
que a Igreja tem a obrigação de admitir
e demitir aqueles que não cogitam das Franklin Ferreira: É mestre em teologia, pastor
batista, autor, preletor, diretor do Seminário
coisas de Deus. A Igreja tem a respon- Martin Bucer, em São José dos Campos, SP.
sabilidade de abrir e fechar a porta para
Fo rtale za - C E
o Deus presente
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