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A MORFOLOGIA LEXICAL E OS

PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE
PALAVRAS

ELIS DE ALMEIDA CARDOSO


Objeto de estudo da Morfologia
lexical
Morfologia: definição
a parte da gramática que estuda a palavra do ponto de
vista da forma.
Gramática tradicional e estruturalismo:
a morfologia lexical descreve a estrutura e a formação
das palavras.
Gerativismo lexicalista:
o objeto da morfologia é a palavra enquanto item
lexical, estruturado por padrões ou produto de regras de
formação de objetos morfológicos.
Objeto de estudo da Morfologia
lexical: competência lexical
A morfologia lexical, do ponto de vista do gerativismo
lexicalista, dá conta da competência do falante nativo no
léxico de sua língua.
A competência lexical do usuário se caracteriza como o
domínio de parte do léxico efetivo e dos padrões
lexicais, responsáveis:
pela realização, produção e interpretação dessas
mesmas unidades, em discursos manifestados,
pela formação de unidades novas consideradas boas ou
aceitáveis ou ainda pela possibilidade de evitar a
formação de unidades inaceitáveis.
Objeto de estudo da Morfologia
lexical: competência lexical
O desempenho lexical do usuário da língua está
condicionado por fatores que vão da sua
competência lexical (conhecimento armazenado e
dispositivos da memória) a fatores externos como
as condições de produção do discurso, o
interlocutor, o ambiente, o grau de formalidade etc.
Objeto de estudo da Morfologia
lexical: competência lexical
A perspectiva gerativa deu um grande impulso aos
estudos lexicais, na medida em que focaliza o léxico
como conhecimento, em oposição à visão tradicional do
léxico como vocabulário.
A noção de competência lexical, abarcando as regras
que determinam as possibilidades de formação,
introduz no conceito de produtividade, já utilizado por
autores clássicos, uma relevância crucial, já que a
produtividade de regras de formação deixa de ser um
comentário sobre a vitalidade de um processo
específico para se transformar no fator determinante
da constituição da classe potencial de palavras de uma
língua (Basílio, 2010).
Objeto de estudo da Morfologia
lexical
Com base nessa visão, a morfologia lexical
concentra-se na determinação das regras de
formação de palavras e no estabelecimento de
proposições sobre as construções possíveis.
A descrição sobre a formação de palavras se
desenvolve por sua generalidade, relevância e
decorrência de princípios gerais estabelecidos na
teoria; levando-se em conta as intuições dos
falantes nativos e as evidências fornecidas por
dados de produção.
Processos de formação de palavras e
produtividade
A produtividade dos processos de formação de
palavras, responsáveis pela renovação lexical está
estreitamente ligada aos fatores sociais, uma vez que
"o léxico é um reflexo do universo das coisas, das
modalidades, do pensamento, do movimento do mundo
e da sociedade” (Barbosa, 1981).
A formação de palavras, que designam o universo
percebido pelos seres humanos, seus pensamentos e
sentimentos, faz parte da comunicação.
As palavras surgem da vontade de representação das
coisas, das ideias e dos fatos.
Processos de formação de palavras e
produtividade
A produtividade ocorre pela capacidade inerente
ao próprio sistema linguístico que permite a
construção de palavras por processos interiorizados
(aplicados normalmente de modo inconsciente) e
sistemáticos.
Processos de formação de palavras e
produtividade
A produtividade morfológica, aplicada à derivação,
congrega três aspetos:
a regularidade dos produtos que resultam das regras
de construção de palavras;
a disponibilidade dos afixos e
a rentabilidade.
Um processo morfológico está disponível quando o
falante pode usá-lo na construção de um neologismo,
preenchendo uma lacuna lexical e é rentável se for
efetivamente usado na produção de um largo número
de palavras derivadas.
Processos de formação de palavras e
produtividade
Pode-se pensar, então, que na língua há palavras
prováveis e palavras possíveis.
As palavras prováveis são as que têm uma maior
probabilidade de ocorrer,
As palavras possíveis são aquelas que podem
ocorrer, mas apresentam uma menor probabilidade
de ocorrência.
Processos de formação de palavras
O léxico de uma língua, para incorporar unidades
novas, recorre basicamente a três mecanismos, todos
muito comuns:
a) a construção de palavras através de regras do
próprio sistema linguístico, com a utilização de
procedimentos formais internos no nível morfológico,
sintático e fonológico.
b) a expansão de sentido, quando da reutilização, com
novos significados, de unidades léxicas já existentes.
c) a importação de unidades léxicas de outros sistemas
linguísticos, as quais podem-se apresentar adaptadas
ou não à nova língua.
Processos de formação de palavras
Para Alves (1990), em se tratando dos processos autóctones
– quando o neologismo é formado por mecanismos oriundos
da própria língua –, a derivação e a composição são, sem
dúvida, os mais recorrentes.
Segundo Basílio (1987), a razão básica de formarmos
palavras é a de que seria muito difícil para nossa memória
“captar e guardar formas diferentes para cada
necessidade que nós temos de usar palavras em diferentes
contextos e situações”.
A necessidade de se multiplicar muitas vezes o número de
palavras que teríamos como vocabulário básico tornaria a
língua, como sistema de comunicação, muito menos eficiente.
Processos formais
Derivação:
Derivação sufixal ou sufixação
Derivação prefixal ou prefixação
Derivação parassintética
Derivação regressiva
Composição:
Composição por bases presas
Composição por bases livres
Outros processos:
Abreviação ou Truncação
Recomposição
Siglonimização ou formação por siglas
Cruzamentos lexicais
DERIVAÇÃO X COMPOSIÇÃO
À primeira vista, a diferença entre derivação e composição parece
extremamente clara, uma vez que a composição consiste na combinação
entre duas ou mais bases (azul-marinho, azul-turquesa, azul-piscina) e a
derivação, por sua vez, consiste no acréscimo de afixos a bases (azulzinho,
azulão).
Comparando os manuais de língua portuguesa do começo do século com os
que aparecem após a publicação da Nomenclatura Gramatical Brasileira
(1959), observamos que gramáticos como Maximino Maciel, Eduardo
Carlos Pereira e Said Ali, admitem dois tipos de derivação (própria e
imprópria) e três tipos de composição (por prefixação, por justaposição e
por aglutinação).
Já em obras posteriores à NGB, como as gramáticas de Rocha Lima,
Evanildo Bechara, Celso Cunha e Celso Pedro Luft, a prefixação é
classificada como derivação e não como composição. É pelo fato de os
prefixos portugueses terem uma origem adverbial ou preposicional que
foram tradicionalmente classificados no âmbito da composição (ALVES,
2015).
DERIVAÇÃO X COMPOSIÇÃO
Para Basílio, a controvérsia desaparece uma vez que na prefixação
acrescenta-se a uma base um elemento fixo, com função pré-determinada.
Na composição, a partir de uma estrutura fixa com função semântica pré-
determinada combina-se a semântica de dois itens lexicais quaisquer.
A questão, diz a autora não deve se pautar em se a forma é livre ou presa,
mas sim se ela corresponde a um elemento fixo de uma lista para formação ou
não.
Aqui cumpre notar que embora, na maioria das vezes, pense-se na composição
como união entre duas bases livres, no português também é muito comum a
formação de palavras ou radicais a partir de combinações entre bases presas.
A grande maioria dos nomes compostos por bases presas é formada por
radicais de origem grega ou latina e tem grande produtividade na língua
formal.
Isso ocorre porque frequentemente essas bases combinam-se e recombinam-se
sendo, portanto, responsáveis por essa produtividade lexical, devido sobretudo
às necessidades constantes de novas denominações na linguagem científica e
tecnológica.
Derivação

A derivação é o processo mais disponível para a


construção de palavras, tanto na língua portuguesa
quanto nas línguas românicas.
Isso se verifica não só pela quantidade de palavras
derivadas registradas nos dicionários como ainda
pela produtividade desse processo na construção
de novas palavras.
DERIVAÇÃO: TIPOS

Tradicionalmente na derivação incluem-se processos


de natureza um pouco distinta.

Mais comumente, o processo de derivação se


caracteriza pela junção de um afixo (sufixo ou
prefixo) a uma base para a formação de uma
palavra.
DERIVAÇÃO: TIPOS
Derivação parassintética é a designação dada ao
processo que consiste na adjunção simultânea de um
prefixo e de um sufixo a uma base (abrilhantar,
desalmado, subterrâneo). Como a parassíntese
contraria o princípio da ramificação binária que rege a
derivação afixal tem sido alvo de estudos que
abordam esse processo tratando-o como circunfixação,
ou seja, afixação por meio de um afixo descontínuo.
A derivação regressiva, por sua vez, caracteriza-se
pelo fato de se retirar de uma base um segmento.
Trata-se de um processo de nominalização deverbal
(atacar – ataque).
DERIVAÇÃO:TIPOS
Alguns autores ainda consideram a derivação
imprópria como um outro tipo de derivação. Esse
processo consiste na manutenção da forma entre
base e derivado com a mudança de categoria
gramatical e de significado (burro, de substantivo a
adjetivo). Outros autores nomeiam esse processo de
conversão e o consideram um processo semântico.
Como a produtividade lexical é muito mais
evidente na prefixação e na sufixação, aqui nos
deteremos na processos.
Derivação: prefixação e sufixação
Mais comumente, o processo de derivação se
caracteriza pela junção de um afixo (sufixo ou
prefixo) a uma base para a formação de uma
palavra.
livreiro (livro + eiro),
lavável (lavar + vel),
contemplação (contemplar + ção),
reler (re + ler),
predispor (pré + dispor).
Constituintes imediatos
É importante destacar que quando há prefixo e
sufixo não simultâneos, analisa-se o processo do
ponto de vista do elemento mais externo.
Infelizmente = infeliz + {mente}: derivação sufixal
Infeliz = {in} + feliz: derivação prefixal
Derivação: produtividade
Para Sandmann (1991), em relação ao aspecto
produtivo das regras de formação de palavras,
haveria um continuum que vai da produtividade
praticamente plena de alguns casos de derivação até
uma produtividade bastante limitada.
Com o sufixo –esco, por ex., tem-se dantesco e
quixotesco, mas machadesco (de Machado de Assis) e
macunaimesco (de Macunaíma) causariam
estranhamento. Talvez porque dantesco e quixotesco
adquirem metonimicamente outros significados,
respectivamente, horrível e fantasioso.
Derivação: produtividade
Se os processos derivacionais responsáveis pela
transformação de verbos em substantivos apresentam
grande produtividade e alto teor de generalidade, não
se pode dizer o mesmo com o uso do sufixo –ada, por
exemplo, quando este se une a bases como feijão e peixe
(feijoada e peixada).
Nesse caso, o teor de produtividade é bastante restrito,
como se pode esperar pela particularidade da função do
sufixo, a de indicar um prato ou preparado feito na base
do alimento nomeado na base.
A diferença de generalidade entre os dois casos é nítida;
e a diferença no teor de produtividade não é acidental,
diz Basílio.
Derivação: produtividade
Noções como a negação, o grau, a designação de
indivíduos ou entidades abstratas são noções
bastante comuns e de grande generalidade.
Derivações com o prefixo des-, e com os sufixos –
inho, e –ismo, por exemplo, são bastante comuns o
que faz com que os processos sejam altamente
produtivos. Já processos apresentando funções mais
particulares teriam menor produtividade.
Derivação: produtividade
São produtivos os prefixos mini, maxi ou híper, que
originaram diversas palavras novas.
Atualmente, poderíamos mencionar também a
produtividade dos formantes nano, super e mega.
Esses prefixos, que ganham frequência, acabam
por substituir sufixos diminutivos e superlativos na
expressão da intensidade.
Derivação sufixal
A derivação sufixal é um processo extremamente produtivo na formação
de novos vocábulos, pois o sufixo atribui à palavra a que se associa uma
nova significação e, com frequência, altera-lhe a classe gramatical.
Os sufixos podem ser classificados em verbais ou nominais.
Sufixos nominais: formadores de adjetivo, formadores de substantivo e,
ainda, os aumentativos e diminutivos.
Sufixos formadores de adjetivos: há os que se agregam a bases verbais,
como -vel, e os que se agregam a bases substantivas, como -oso.
Sufixos formadores de substantivos: há os que se agregam a bases
adjetivas, como -idade, a substantivas, como -eiro, e a verbais, como -
mento, -ção.
Sufixo adverbial –mente: une-se a uma base adjetiva no feminino,
formando um advérbio que exprime ideia de qualidade, de quantidade ou
medida, ou de relação de tempo ou lugar.
Derivação sufixal
Câmara Jr. (1978, p.61) destaca os sufixos como
importantes elementos de formação vocabular,
ressaltando que no sistema linguístico sua posição é
muito mais mórfica do que semântica: “servem o
mais das vezes, antes de tudo, para transpor um
radical de uma categoria de palavras para outra”.
Entretanto, diz o autor, justamente por serem
elementos mais gramaticais do que semânticos, os
sufixos podem ser “vigorosos elementos estilísticos”.
Derivação sufixal
A sufixação para muitos autores é o processo de maior vitalidade, seja porque na
língua há mais de uma centena de sufixos, seja porque muitos deles sugerem
variedade de conotações.
Em português há muitos sufixos formadores de diminutivos, que expressam, na
verdade, muitos e diferentes valores afetivos.
Os nomes formados com diminutivos podem se relacionar à ideia de carinho,
delicadeza, ternura, humildade, mas também podem ser pejorativos, exprimindo
depreciação, desdém, irritação, ironia.
Principalmente na linguagem coloquial, advérbios e pronomes com sufixos
diminutivos podem ganhar um valor enfático (agorinha, nadinha).
Unidos a bases que já apresentam traços semânticos de delicadeza ou pequenez,
os diminutivos atuam como intensificadores (lindinho, pequenininho).
Já unidos a bases cuja conotação é depreciativa, o diminutivo pode indicar
tolerância e compreensão (feinho, bobinho).
Cumpre lembrar, entretanto, que os diminutivos também podem perder seus traços
semânticos em formações que se cristalizam com outros significados (camisinha).
Derivação sufixal
No português brasileiro cotidiano, o diminutivo -ete,
com o /e/ aberto, está muito frequente, e novas
palavras com esse sufixo vêm sendo utilizadas
principalmente na linguagem da mídia e da
internet: periguete, empreguete, amiguete, bixete,
neymarzete, funkete, rebolete.
Derivação sufixal
Dentre os sufixos nominais, destaca-se aqui a
produtividade dos sufixos: -ção, -eiro, –ismo, -
aria/-eria
Na criação de neologismos, o sufixo -ção é, pela
riqueza de exemplos, muito produtivo:
copacabanização, mexicanização, disneyficação.
EXEMPLO

O sufixo -ção é extremamente produtivo na formação de


substantivos deverbais, ao lado de –mento.
amação → amar + -ção
“Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas,
Do contrário evapora-se a amação” (CDA, Quero)

Amação é o ato de vivenciar essa situação amorosa em que a única


preocupação é com o som (amor/feito som), com a palavra (amor/saltando
em língua nacional) e não propriamente com o sentimento.
Amação é um sentimento exagerado que não tem simplesmente o significado
de ato ou efeito de amar, é um sentimento que só se realiza pela palavra
Derivação sufixal
A polissemia do sufixo –eiro faz com que ele seja
extremamente produtivo.
Dentre os nomes agentivos, indicadores de profissões ou
atividades, ao lado das conhecidas jardineiro, faxineiro,
porteiro, costureiro, roqueiro, hoje tem-se lancheiro, masseiro
e doleiro (profissionais especializados), funkeiro metaleiro,
sambeiro, jazzeiro (atividades referentes a gostos musicais),
roleiro, frangueiro (depreciações), interneteiro, blogueiro e
youtubeiro (atividades realizadas na internet).
Algumas formações refletem a expressão da
pejoratividade, principalmente quando –eiro concorre com
–ista (jazzeiro X jazzista).
Derivação sufixal
O sufixo -ismo tanto designa doutrinas e sistemas
(marxismo, capitalismo), como atitudes, o que é
muito comum nos dias atuais. Citam-se como alguns
exemplos mau-caratismo, sexismo, linguicismo,
dedodurismo, aberturismo, ambientalismo,
futebolismo.
Derivação Prefixal
Do ponto de vista morfológico, diz Alves (2015, p.20), “a associação do
morfema prefixal a uma base determina a formação de uma nova unidade
lexical, que pode ser de caráter nominal (substantivo ou adjetivo) ou verbal”.
Alves (2015) agrupa os morfemas prefixais de acordo com os valores
semânticos que assumem ao prefixarem-se a uma base: espacialidade e
temporalidade; intensidade; negação, oposição e favorecimento; quantidade e
dimensão. Pode-se perceber que alguns dos prefixos que indicam intensidade e
alguns dos que indicam negação/oposição são muito produtivos
cotidianamente na formação de novas palavras.
Dentre os prefixos que expressam intensidade aumentativa (super-, hiper-,
ultra, extra- macro-), percebe-se que o prefixo super- apresenta muitas
ocorrências nos textos de língua falada e de língua escrita. Essa vitalidade de
super-, diz Alves (2015) pode ser explicada por sua abrangência morfológica
e semântica: o prefixo associa-se a bases substantivas (supermercado,
superprodução), adjetivais (superfeliz), verbais (superfaturar), e não parece
conhecer restrições semânticas.
Derivação Prefixal
Dentre os prefixos que expressam negação e oposição, chama-se a
atenção para a produtividade do prefixo des-, que se une a bases
verbais (desaparecer, descarregar, desconhecer, desmontar), adjetivais
(descansado, descaracterizado, desiludido) e substantivais
(desvantagem, desjejum, desproporção). Esse prefixo, de origem
latina, é responsável por diferentes significados, dentre os quais
citam-se:
Ação contrária – desarrumar, desdizer, desenterrar, desfazer;
Separação – descascar, descontar, desfolhar;
Privação, negação – desamor, desarmonia, desleal, desonesto,
desonra, desordem;
Destruição: desmontar, despedaçar;
Aumento, intensidade, valor expletivo – desabusado, desnudar,
desinfeliz;
Derivação Prefixal
Cotidianamente percebe-se que o prefixo anti-, que seleciona apenas
nomes, preferencialmente substantivos (‘anti-furto’, ‘anti-drogas’), vem
sendo bastante utilizado em formações neológicas. Cumpre notar que
comumente anti- atribui a uma base substantiva um valor adjetivo. O
prefixo ocupa o lugar da preposição contra na frase de base que lhe dá
origem e é muito mais produtivo do que o prefixo contra-.

A produtividade do prefixo anti- pode ser notada em novas palavras


associadas a campanhas que envolvem saúde (luta antidroga, repelente
antidengue, vacina antizika), política (posição antigreve, lei anticorrupção,
posição antirreforma, manifestação antigolpe, comentário anti-Lula,
protesto anti-Dilma ou antiimpeachment), segurança (medida
antissequestro, aplicativo antifurto), economia (movimento antiinflação,
protesto anticorte, aliança antidólar). Retomando Correia, percebe-se que
esses neologismos são necessários e refletem momentos conturbados pelos
quais passa o país.
Derivação Prefixal
Ainda em relação à negação, estudos mostram que nas últimas décadas, o
advérbio de negação não, dada sua força de expressão, e sua pura expressão da
negatividade, vem sendo empregado com grande frequência na formação de
novos itens lexicais, ganhando assim status de prefixo. O prefixo não pode indicar
‘Falta de início de uma prática ou ato (não-autorizado, não-convocação) ou
restrição de sentido (não-editado). Como prefixo, é utilizado antes de particípios
(não-realizado), adjetivos (não-perecível) e, até mesmo, de substantivos (não-
execução).

A produtividade dos prefixos negativos, lembra Alves (1990), deve-se, em muitos


casos, a um desejo de economia discursiva por parte do falante:

Uma frase negativa, expressa por um prefixo, torna-se mais econômica do que uma
construção sintática negativa. Assim, a negação lexical permite frases como
“policiais não-violentos” e “entidades ligadas aos sem-terra”, ao invés de frases
sintaticamente mais complexas do tipo ‘policiais que não são violentos’ e ‘entidades
ligadas a aqueles que não possuem terras (1990, p. 28).
Derivação: outros tipos
Derivação parassintética
Derivação Regressiva
DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA
Derivação parassintética é a designação dada ao
processo que consiste na adjunção simultânea de
um prefixo e de um sufixo a uma base (abrilhantar,
desalmado, subterrâneo). Como a parassíntese
contraria o princípio da ramificação binária que
rege a derivação afixal tem sido alvo de estudos
que abordam esse processo tratando-o como
circunfixação, ou seja, afixação por meio de um
afixo descontínuo.
Na derivação parassintética a retirada do sufixo
ou prefixo (ou ainda simultaneamente) implica
palavras sem sentido próprio ou sem lógica.
Na derivação prefixal ou sufixal a retirada do
prefixo ou sufixo ou do dois implica em novas
palavras com sentidos diferentes mas reais e
aplicáveis.
Geralmente, os prefixos que figuram nos parassintéticos
têm um
sentido dinâmico:
embarcar (em-: movimento para dentro)
desfolhar (des-: ato de separar)
É muito comum o processo formar verbos, mas
substantivos e adjetivos formados por parassíntese
também podem ser encontrados:
subterrâneo (considerando que *subterra e
*terrâneo são formas inexistentes), conterrâneo,
desalmado
Os prefixos que formam comumente parassintéticos
são a-, en- e es-, indicando movimento.
Amanhecer: a + manhã + ecer
Engordar: em + gordo + ar
Esverdear: es + verde + ar
Há exemplos curiosos de verbos cujo radical é um
adjetivo que exprime cor, e que, aparentemente,
não seriam parassintéticos: amarelar, azular.
Todavia, se considerarmos o subsistema dos verbos
formados por esses adjetivos, verificaremos que
são, na maioria, parassintéticos:
acinzentar, alaranjar, arroxear, avermelhar etc.
Nesses verbos ocorre o prefixo a- Como os
adjetivos amarelo e azul começam pela vogal a-,
poderia ter havido uma crase.
Derivação Regressiva
A derivação regressiva, por sua vez, caracteriza-
se pelo fato de se retirar de uma base um
segmento. Trata-se de um processo de
nominalização deverbal (atacar – ataque).
Para que se tenha a certeza da presença do
deverbal regressivo verifica-se no substantivo
A ideia de ação verbal
O fato e ser abstrato
âncora
Âncora + ar = ancorar derivação sufixal
Canto
Cantar _ ar + o = canto derivação regressiva
Venda
A venda do carro (venda é abstrato)
A venda da esquina (venda é concreto)
Dois momentos de formação: derivação regressiva
e conversão de abstrato para concreto
É importante verificar cada uma das etapas da
formação de palavras
A engorda do gado.
Engorda é formado por derivação regressiva a
partir de engordar.
Engordar é formado por derivação parassintética a
partir de gordo
Floreio é formado por derivação regressiva a
partir de florear que é formado por sufixação a
partir de flor.

Flor + ear = florear


Florear – ar + o = floreio (o floreio, subst.)
Composição
A composição por justaposição, também chamada de
composição morfossintática é um dos produtivos processos
de formação de palavras e de criação neológica. Por meio
da combinação de elementos pertencentes a várias classes
gramaticais, as composições dão origem, de forma mais
recorrente, a substantivos e adjetivos, embora verbos e
advérbios sejam também formados por esse processo.
Os compostos podem condensar uma frase, uma locução, um
sintagma, dando ao texto mais agilidade e expressividade.
Pelo fato de passarem por uma transformação, seus
elementos não são unidos apenas por espécies de
vocábulos, ou seja, existe por trás da composição um
impulso da sintaxe e da semântica.
Composição
Essa combinação extrapola o âmbito lexical, chegando ao nível da
frase. Para Alves (1990, p.14): “a composição tem caráter
coordenativo ou subordinativo; os integrantes da composição
sintagmática e acronímica constituem componentes frásicos com o
valor de uma unidade lexical”.
Os substantivos compostos são formados por vários modos de
combinação. As criações mais comuns são as do tipo substantivo +
substantivo. Os substantivos que formam o composto podem estar
numa relação de coordenação – com ou sem a presença da
conjunção e – ou numa relação de subordinação em que a ordem
determinado/determinante é muito mais recorrente. Encontram-se
também construções do tipo substantivo + preposição + substantivo,
substantivo + adjetivo, resultantes da cristalização de um sintagma
nominal. O grupo preposicionado e o adjetivo desempenham
sempre o papel de determinantes.
Composição
Muito corriqueiras em português, as construções do tipo verbo + substantivo
são provenientes da redução de uma frase em que se tem a presença de
um verbo e de um objeto direto. O verbo, neste caso, é o determinado, e o
substantivo, o determinante.
Dentre os adjetivos compostos, encontram-se os do tipo adjetivo + adjetivo,
formados ou por coordenação, ou por subordinação, sendo a ordem
determinado/determinante necessariamente obedecida neste último caso.
Notamos também a presença de adjetivos compostos do tipo adjetivo +
substantivo, em que o substantivo exerce a função de determinante.
A composição também vem contribuindo com um sem-número de itens
lexicais recentes em português, em particular nos compostos S+S, como as
construções com ‘bolsa’ (‘bolsa-família’, ‘bolsa-escola’), ‘auxílio’ (‘auxílio-
aluguel’; ‘auxílio-alimentação’), ‘vale’ (‘vale-refeição’, ‘vale-transporte’) e
‘seguro’ (‘seguro-saúde’, ‘seguro-desemprego’), além da noção de ajuda
de custo (benefício social) que as formações ‘bolsa-família’ e ‘bolsa-escola’
acionam, percebemos também a noção compensatória, advinda de uma
política em que o governo oferece “benefícios” aos cidadãos, de modo a
suprir direitos básicos (saúde, educação, trabalho, alimentação, lazer,
moradia).
Composição por bases presas
Biologia

Composição por bases livres


Criado-mudo

Composição sintgmática
Papel higiênico, Cadeira de rodas
Propriedades dos compostos
Unidade semântica
Papel higiênico é um tipo especial de papel e não qualquer papel para
fazer higienização
Não separabilidade e não inversão
A ordem dos elementos do composto é rígida e entre eles não se pode
introduzir nenhum outro elemento. Assim, um substantivo composto como
amor-perfeito não poderia sofrer a inversão perfeito-amor; qualquer
adjetivo modificador do grupo deverá estar à esquerda ou à direita deste,
não sendo aceitável a sua colocação no interior do composto:
delicado amor-perfeito
amor-perfeito delicado
*amor..delicado..perfejto (inaceitável)
Não substituição
Os elementos do composto não podem,
isoladamente, ser substituídos ou suprimidos. Se,
num sintagma livre, como amigo dedicado, é
possível substituir dedicado por fiel, amigo fiel, não
é o que se verifica com o substantivo amor-perfeito
(como designação de uma flor) não admite a
substituição de um de seus termos, como, por
exemplo, *amor-imperfeito.
Outros processos
Abreviação ou truncação
Processo aleatório que consiste na redução de uma
palavra. A nova palavra formada por abreviação
pode coexistir com a palavra de origem ou
substituí-la
Pneumático – pneu
Cinematógrafo – cinema
Metropolitano - metrô
Abreviação de um composto
Fotografia - foto
Abreviação de um derivado prefixal
Ex-marido – ex
Pré-escola – pré
Ou abreviações quaisquer
Aniversário – níver
Professor – prô
Refrigerante – refri
Churrasco – churras
Flagrante – flagra
Etc.
Recomposição
É um processo de composição em que uma das
bases é resultado da abreviação de um composto
Auto-escola
Foto-jornalismo
Formação por siglas
Trata-se de um processo moderno e generalizado, em
que longos títulos ficam reduzidos às iniciais das
palavras que os constituem:
IBGE=Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ONU= Organização das Nações Unidas
PT= Partido dos Trabalhadores

As siglas se lexicalizam e podem formar novas


palavras
USP – uspiano
FFLCH - fefelechento
As siglas são tão comuns que muitas vezes deixam
se ser percebidas como tais
Radar
Laser
Aids
Bradesco – Banco Brasileiro de Descontos
CRUZAMENTOS VOCABULARES
Os cruzamentos vocabulares (SANDMANN, 1992) ou
lexicais, também chamados de amálgamas (PRUVOST-
SABAYROLLES, 2003), palavras-valise (ALVES, 1990),
palavras portmanteau na acepção de Lewis Carroll (Cf.
MARTINS, 1997, p. 123), e mais recentemente de
blends, mesclagens lexicais (GONÇALVES, 2006) e
fuves (BASÍLIO, 2010), são formados pela união entre
dois vocábulos com um objetivo específico e um
significado próprio.
A sua formação revela criatividade, espírito, e sua
força expressiva resulta da síntese de significados e do
inesperado da combinação.
CRUZAMENTOS VOCABULARES
Nesse processo, unidades lexicais se mesclam formando
outra unidade, sem, entretanto, manterem,
obrigatoriamente seus radicais.
Há casos em que se mantém a parte inicial de uma
unidade e a parte final de outra (portunhol).
Há casos em que uma unidade mantém sua integridade
morfofonológica e a outra sofre uma ruptura
(showmício).
Há casos em que uma unidade adentra-se na outra
(chafé, lixeratura, namorido), havendo entre elas uma
interseção lexical.
CRUZAMENTOS VOCABULARES
O significado da nova formação está associado a várias questões
culturais e comportamentais. Voláteis ou nem tanto, na grande maioria
das vezes elas refletem a visão crítica e o humor gerado por um
momento específico.
Algumas entram na língua e deixam de ser percebidas como uma
espécie de brincadeira linguística (motel [motor + hotel]), outras
resumem-se a um momento associado a um a um fato político:
Martaxa (Marta + taxa),
Renan Canalheiros (Calheiros + canalha),
Maldadd (maldade + Haddad)
A expressão da pejoratividade também encontra um vale fértil nas
mesclas. A intenção depreciativa é, pois, verificada facilmente em
cruzamentos como:
secretina (secretária + cretina), professorror (professor + horror),
intelijumento (inteligente + jumento).
CRUZAMENTOS VOCABULARES
Por não revelar tanta produtividade, como outros processos, as
mesclas são vistas por muitos autores como processos marginais. A
atenção a esse processo deve se voltar principalmente para a
criatividade lexical, uma vez que se chama a atenção justamente
para o inesperado resultante da combinação sintética.
Os cruzamentos não dicionarizados têm enorme força expressiva
pelo fato de traduzirem o ponto de vista do emissor e podem ser
encontrados além da língua comum, na linguagem publicitária, nos
textos e crônicas de humor e também nos textos literários.
Mais do que estudados apenas pelo processo responsável por sua
formação, os cruzamentos lexicais devem ser analisados
discursivamente, levando-se em conta seu potencial de
expressividade e o significado que apresentam no contexto em que
se inserem.
CRUZAMENTOS VOCABULARES
Em se tratando do discurso literário, pode-se dizer que Guimarães
Rosa é um grande criador de palavras formadas por esse processo
expressivo. De sua obra retiram-se exemplos como: desafogaréu
(desafogar + fogaréu), enxadachim (espadachim + enxada),
embriagatinhar (embriagar + engatinhar), psiquiartista (psiquiatra +
artista).
Dentre os poetas, Paulo Leminski utiliza em sua obra muitos
cruzamentos lexicais expressivos e criativos, dentre os quais citam-
se: espantânea, adminimistério, proema, desencontrários, invernáculo,
winterverno, enchantagem.
Os exemplos aqui apresentados mostram que os cruzamentos
lexicais têm forte motivação expressiva, trazendo ao contexto um
resultado inesperado.
Conversão
A conversão é um processo semântico em que há
mudança de classe gramatical ou subclasse
gramatical sem alteração da forma.
Como exemplos de conversão, em português, temos a passagem:
a) de substantivo próprio a comum: quixote — champanha;
b) de substantivo comum a próprio: Figueira — Ribeiro— Fontes;
c) de adjetivo a substantivo: circular — brilhante — ouvinte;
d) de substantivo a adjetivo: burro;
e) de substantivo/adjetivo/verbo a interjeição: Silêncio!— Bravo! —
Viva !;
f) de verbo a substantivo: poder — jantar — andar;
g) de verbo a conjunção: quer...quer — seja...seja;
h) de adjetivo a advérbio: (falar) alto — (custar) caro;
j) de particípio passado a substantivo e adjetivo: visto — ferida;
1) de palavras invariáveis a substantivos: (o) sim — (o) não — (o)
porquê.
NEOLOGISMOS SEMÂNTICOS

Ocorrem no texto literário principalmente com o uso


das metáforas expressivas, distantes do uso
cotidiano e do desgaste.
“Mas se sentia com a consciência engordada...” (G.
Rosa)
“O sol afogado queimava arranha-céus de nuvens.”
(Oswald de Andrade)
A chuva me irritava. Até que um dia Choveu tanto maria em minha casa
descobri que maria é que chovia. que a correnteza forte criou asa

A chuva era maria. E cada pingo e um rio se formou, ou mar, não sei,
de maria ensopava o meu domingo. sei apenas que nele me afundei.

E meus ossos molhando, me deixava E quanto mais as ondas me levavam,


como terra que a chuva lavra e lava. as fontes de maria mais chuvavam,

Eu era todo barro, sem verdura... de sorte que com pouco, e sem recurso,
maria, chuvosíssima criatura! as coisas se lançaram no seu curso,

Ela chovia em mim, em cada gesto, e eis o mundo molhado e sovertido


pensamento, desejo, sono, e o resto. sob aquele sinistro e atro chuvido.

Era chuva fininha e chuva grossa, Os seres mais estranhos se juntando


matinal e noturna, ativa... Nossa! na mesma aquosa pasta iam clamando

Não me chovas, maria, mais que o justo contra essa chuva estúpida e mortal
chuvisco de um momento, apenas susto. catarata (jamais houve outra igual).

Não me inundes de teu líquido plasma, Anti-petendam cânticos se ouviram.


não sejas tão aquático fantasma! Que nada! As cordas d’água mais deliram,

Eu lhe dizia - em vão - pois que maria e maria, torneira desatada,


quanto mais eu rogava, mais chovia. mais se dilata em sua chuvarada.

E chuveirando atroz em meu caminho, Os navios soçobram. Continentes


o deixava banhado em triste vinho, já submergem com todos os viventes,

que não aquece, pois água de chuva e maria chovendo. Eis que a essa altura,
mosto é de cinza, não de boa uva. delida e fluida a humana enfibratura,

Chuvadeira maria, chuvadonha, e a terra não sofrendo tal chuvência,


chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha! comoveu-se a Divina Providência,
e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Eu lhe gritava: Para! e ela chovendo, Não chove mais, maria! - e ela parou.
poças d’água gelada ia tecendo.
(Caso pluvioso, Carlos Drummond de Andrade)
Pluvioso Chuvar
Chuvosíssima Chuvido
Chuveirar Chuvência
Chuvadeira Anti-pretendam
Chuvadonha Enfibratura
Chuvinhenta
Chuvil
Pluvimedonha
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês! Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina
A digestão bem-feita de São Paulo! pasma!
O homem-curva! o homem-nádegas! Oh! purée de batatas morais!
O homem que sendo francês, brasileiro, Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
italiano, Ódio aos temperamentos regulares!
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Ódio aos relógios musculares! Morte à
Eu insulto as aristocracias cautelosas! infâmia!
Os barões lampiões! os condes Joões! os Ódio à soma! Ódio aos secos e
duques zurros! molhados!
que vivem dentro de muros sem pulos; Ódio aos sem desfalecimentos nem
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos arrependimentos,
para dizerem que as filhas da senhora falam o
francês sempiternamente as mesmices
e tocam os "Printemps" com as unhas! convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o
Eu insulto o burguês-funesto! compasso! Eia!
O indigesto feijão com toucinho, dono das
tradições! Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Fora os que algarismam os amanhãs! Todos para a Central do meu rancor
Olha a vida dos nossos setembros! inebriante
Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais
Mas à chuva dos rosais ódio!
o extase fará sempre Sol! Morte ao burguês de giolhos,
Morte à gordura! cheirando religião e que não crê em
Morte às adiposidades cerebrais! Deus!
Morte ao burguês-mensal! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! cíclico!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
“-Ai, filha, que te darei pelos teus anos? Ódio fundamento, sem perdão!
Um colar... Conto e quinhentos!!! Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Mas nós morremos de fome!"
Em “Ode ao burguês”, Mário de Andrade (1987, p. 88-89) demonstra claramente seu
desprezo ao homem da classe média, o chamado burguês, representante das elites
retrógradas do século 19. Lido na Semana de Arte Moderna em 1922, o poema, na verdade
uma denúncia social, ataca a mentalidade pequeno-burguesa, o indivíduo que permanece no
passado, que é avesso a mudanças, que só se preocupa consigo mesmo, que valoriza o luxo,
mas ao mesmo tempo é ignorante.
Para criticar suas atitudes, o autor cria vários neologismos por composição. São formados por
dois substantivos em relação de subordinação: burguês-burguês, burguês-cinema, burguês-
níquel, burguês-tílburi, homem-curva, homem-nádegas.
A crítica de Mário aponta para as diferenças de classe; é declarado o ódio à aristocracia e
à elite de São Paulo.
O reforço em burguês-burguês faz com que se entenda que a referência é feita ao burguês
mesmo a quem compara primeiramente com o níquel. Trata-se do indivíduo que só valoriza o
dinheiro (burguês-níquel), a diversão (burguês-cinema) e o conforto (burguês-tílburi), em uma
alusão ao meio de transporte da classe endinheirada do século 19. Pelo fato de gostar de
comer bem, enquanto outros passam fome, o burguês é gordo (homem-curva), mas não passa
de um retrógrado (homem-nádegas). A crítica atinge o homem de comportamento regular, que
preza a rotina, esse é o burguês-mensal.

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