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A ÉPOCA

POMBALINA_
+
NQMUNDO LUSO'BRASILEIRO

Francisco Falcon e Claudia Rodrigues


(Organizadores)

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Av.:uman
Copyright © Francisco Falcon e Claudia Rodrigues
Direitos desta edição reservados à
EDITORA FGV
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no todo ou em parte, constitui violaçãodo copyright (Lei nº 9.610/98).

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Osconceitosemitidos nestelivro sãode inteira responsaãilidade

1aedição 2015

Coordenação editorial e copidesque: Ronald Polito


Revisão: Marco Antonio Corrêa e Clarisse Cintra
e
Capa, projeto gráfico diagramação: Luciana Inhan
da Óleo
Imagens capa: sobre
tela,96x 126cm sem
(oval) e
assinatura semdata.
Coleção do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
Mapa do início do séculoXVIII, de Portugal e do Brasil, Johann Homann, 1704.
Biblioteca Nacional do Brasil.
Impressão: Grupo SmartPrinter

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA


BIBLIOTECA MARIO HENRIQUE SIMONSEN/FGV
____. __
___WM

A Época Pombalinano mundolusobrasileiro/ Francisco


Falcon,ClaudiaRodrigues
- Rio deJaneiro : Editora FGV, 2015.
(Organizadores).
536 p.

Inclui bibliografia.
ISBN: 97885-22516544

1. Pombal, SebastiãoJoséde Carvalho e Mello, marquêsde, 1699-1782.2. Portugal'-


História -José I, 1750-1777. 3. Brasil História Período Colonial, 15001822. I. Falcon,
FranciscoJoséCalazans, 1933- . II. Rodrigues, Claudia. III. Fundação Getulio Vargas.

-
CDD 946.903
3.

A ECONOMIA DO IMPÉRIO PORTUGUÉSNO


PERÍODO POMBALINO

Antonio Carlos]uca'deSampaio'

INTRODUÇÃO

O estudo do devir econômico no período pombalino é, ao mesmo tempo,


uma oportunidade e um desafio para o historiador econômico. Oportunida
de porque significa debruçarse sobre um período rico em transformações,
que sem dúvida marcaram a evolução posterior não só do Brasil como do
império lusitano como um todo. O desafio, por outro lado, está no diálogo
com uma historiografia já consolidada sobre o período, que o vê como um
momento de crise para o conjunto do império, mas, sobretudo, para a rela
ção entre Brasil e Portugal: queda na produção do ouro, decadência do co
mércio entre Portugal e Inglaterra, diminuição da arrecadação da Coroa etc.
Nesta perspectiva, as políticas pombalinas Visariam fundamentalmente a
responder a essa mesma crise.1 Logo, o sucesso ou fracasso de Pombal seria
medido por sua capacidade de responder a tais desafios.
0 que se pretende aqui é mostrar algo mais do que isso. Por um lado,
devemosfugir da ideia de um Pombal demiurgo, responsávelúltimo pela
evoluçãoeconômica não só do Reino como de todo o império. Se por um

.
W

DoutoremhistóriapelaUniversidade
Federal (UFF).Professor
Fluminense daUniversi
dadeFederaldo Rio deJaneiro (UFRJ) e pesquisadordo CNPq.
1. Mesmo Kenneth Maxwell, que busca estabeleceruma visão equilibrada da atuação de
considera
Pombal, suapolíticacomoessencialmente
reativa:
Maxwell(1996:169-170).
,32 A EPOCA POMBALINA NO MUNDO LUSOBRASILEIRO

lado é verdadeque o marquêsinova com uma atuação bem mais consistente


do que seusantecessores,a ponto de podermos falar numa autêntica política
econômicapombalina, é igualmente verdadeiro que essatinha limites claros,
e dependia para seu sucessode fatores que Lisboa não controlava, como a
descoberta(ou, por outro lado, o esgotamento) de veios auríferos, as safras
dos produtos agrícolascoloniais (tabaco,açúcar etc.) e mesmo a instável con«
juntura política europeia. Mesmo um ramo mercantil tão fundamental para
o império como o tráfico de escravosera controlado por comerciantes sedia
dos na colônia, tendo a Coroa uma capacidademuito limitada de atuaçãoaí.2
Afirmar tais limites não significa, por outro lado, cair no extremo oposto
e negar a importância de medidas como a criação das companhias de co
mércio e do Erário Régio, o fortalecimento de um grupo de comerciantes
lisboetas,entre outras que serão analisadas neste texto. Significa tão somente
colocálas em perspectiva,e recusarqualquer tentativa de se medir o sucesso
ou o fracassode Pombal, já que tal perspectiva nos parece claramente des
locada.
Também parece equivocadaa visão da política pombalina como mera
mente reativa à conjuntura do período. Se for verdade que em certos casos
essecaráter reativo era evidente,3 de forma geral é possível perceber a exis
tência de um claro projeto modernizante nas ações da Coroa no reinado de
d. JoséI. Esse caráter ativo da monarquia, que ia além do seu papel tradicio-
nal de mantenedora dos equilíbrios sociaispreexistentes, marca o que Anto
nio Manuel Hespanha denomina de mudança do paradigma contratualista
para o individualista na segunda metade do Setecentos. Segundo Hespanha,
a Coroa entendese a partir daí não só como a fiadora de uma estrutura social
e política que em grandeparte independeda mesma,mascomo a responsável
pela reforma dessamesma estrutura quando estajá não atendia ao bem co-
mum dospovos, na expressãoda época(Hespanha e Xavier, 1998:113140).
A política pombalina, portanto, inserese num contexto de profunda
transformação das estruturasdo Antigo Regime, transformação esta que não

2. Pierre Verger mostra como as tentativas de se criar companhias para o comércio com a
Africa visando uma maior participação de comerciantes reinóis no tráfico sempre esbarra-
ram na resistênciados comerciantescoloniais, que de fato controlavam tal atividade: Verger
(1987:59-107). Ainda no final do século XVIII, a Coroa portuguesa buscava diminuir a
autonomia dos comerciantescoloniais em tal comércio, igualmente sem sucesso:Ferreira
(2001:368-370).
3. Os exemplosmais claros são a reconstruçãode Lisboa após o terremoto e a reforma do
exército português como consequência da Guerra dos Sete Anos.
A economiado impériopartuguêsnoperz'odopamáalina33

selimitava a Portugal mas, pelo contrário, atingia toda a Europa. O caráter


estrutural dessamudança na atuação da Coroa fica claro quando vemos que
mesmoapósa queda de Pombal não há uma alteraçãono padrão dessaatua
A
ção; viradeira
chamada ded. Maria I não um
significou retornoaopadrão
no
anterior, que pesem as críticas à tirania pombalina.4Em outras palavras,
a sobrevivênciade grande parte da política pombalina deveu-senão ao gênio
de seu criador, mas às acomodaçõesprofundas que se verificavam no terre
no da estrutura social.
É dentrodestecontextoqueiniciamosnossaanáliseda economiano
períodopombalino.

A CONJUNTURAECONÓMICA DO IMPÉRIO LUSITANOEM MEADOS


DO SÉCULOXVIII

Mas afinal, como se apresentavaa economia do império na virada da pri


meira para a segunda metade do Setecentos?Em primeiro lugar, é preciso
consideraro papel central que o Brasil possuía então no interior do mundo
lusitano. A descoberta de ouro no início do século acentuou uma tendên
cia que se iniciara quase 100 anos antes, de uma crescente atlantização do
império, sobretudo a
após Restauração.5 Essa atlantização era fruto de um
duplo:por
processo umlado,a de
perda importantes do
praças Estado
daÍn
dia e a consequentedecadência do comércio tanto de longa distância quanto
nointeriorda própriaÁsia (Subrahmanyan,
1995).Por outro,a expansão
da economia da América portuguesa, com crescimento da exportação de
açúcar,tabaco e vários outros produtos. Já no início do século XVII, Am
brósio Brandão afirmava, através do personagem Brandônio, que o Brasil é
maisricoe dá maisproveitoà fazendade SuaMajestade,
quetodaa Índia
(Brandão,1977:118).Sublinhese que nesseperíodo Portugal ainda não pas
sarapelo longo processo de perda de suas possessõesasiáticas, que reduziria
drasticamentea dimensão do Estado da Índia.
No íinal do Seiscentosesseprocessoviuse acelerado pela descobertados
Veiosauríferos. A riqueza a partir de então produzida atraiu não só uma grande

4. O caráter limitado da viradeira já havia sido percebido por Charles Boxer: Boxer
(1992:194-195).
5. Há uma vastabibliografia sobre esseprocesso.Ver, por exemplo: Boxer (19921cap.VII).
34 A ÉPOCAPOMBALINA
NOMUNDO
LUSO-BRASILEIRO

massade imigrantes reinóis quanto de africanos trazidos cativos.A autêntica


explosão das rotas de comércio e principalmente ascrescentes torrentesde ouro
que chegavam não só ao Reino como também ao restante do império torna«
Vamo Brasil simplesmenteessencialpara a própria sobrevivênciade Portugal.6
Mesmoo relativorenascimentoda Carreira da Índia no Setecentos deviase
à sualigação com a economiada América portuguesa, graças à escalade suas
nos
embarcações portos locais,sobretudo em Salvador. O ouro eratrocado por
artigos diversos,sobretudo têxteis indianos, os quais eram destinados ao co
mérciocomaÁfrica,emtrocadecativos(Subrahmanyan, Por
19951257-304).
essarazão,não é de seestranharque d. Luís da Cunha tenha propostotrans
ferir para o Rio de Janeiro a sededa monarquia em 1738, reconhecendoque
esteestavamuito melhor situado em relaçãoàs principais rotas de comérciodo
império do que Lisboa (Boxer, 1963:333).
A partir daí, é evidente que as relaçõesentre o Brasil e Portugal tinham
um significado decisivo para o império como um todo. Mais ainda, fica claro
o
que próprio Reino de Portugal dependia fundamentalmente dessas rela
ções. Dentro delas, o ouro desempenhava um papel fundamental. Era ele
que servia como meio de pagamento das crescentes importações portuguesas
do Setecentos,além de ser responsável,direta ou indiretamente, pelo rendi-
mento da Coroa.7Por isso, começamospor estudar as exportaçõesde metal
amarelo para o Reino.
Em primeiro lugar, cabe destacar que os dados de Michel Morineau
referemse à exportação para Portugal, e não à produção de ouro no Brasil.
Mais ainda, não contamos com quaisquer estimativas para as exportaçõesde
comoÁfrica,Américaespanhola
ouroparaoutrasregiões, ouÁsia.Mesmo
assim, os dados apresentados são bastante eloquentes. Apontam claramente
para uma da
redução chegada de ouro em Portugal na segunda metade do
Setecentos.A queda inicia-se coincidentemente com o reinado de d. JoséI e,
o
portanto, governo de Pombal.
Tal queda não significa, no entanto, uma diminuição equivalente da
produção de ouro. Analisando os dados da amoedação do ouro no Rio de
janeiro, Morineau demonstra que esta só começa a cair de forma mais sig-

6. Para uma análise dessa idade do ouro, ver: Boxer (1963). Para os caminhos e descamiª
nhos do ouro, ver: Sampaio (2003zcap.3).
7. Mais do que o que arrecadavadiretamente, com os quintos, a Coroa era beneficiadaSO
bretudo pelo aumentoda arrecadaçãodos tributos cobrados da atividade comercial,comoa
dízima da alfândega:Hespanha (1998:189195).
A do
economia no
português
império período
pombalina35

Média quinquenªl
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Fonte: Morineau (1985:170).
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niíicativa a partir de 1765.8Há, portanto, um relativo descompassoentre o


é
que produzido e o é
que exportado, explicável pelos outros destinos que o
ouro podia ter (fundamentalmente, a circulação interna ou o contrabando).
Mesmo em Portugal a oferta monetária tendeu a crescerna segunda me
tade do Setecentos,o que relativiza o impacto na sociedadereinol da dimi-
nuição do fluxo de ouro brasileiro (Rocha e Sousa,20051220).Na verdade,
a diminuição da entrada de ouro em Portugal foi compensadapela retração
das importações lusitanas de artigos ingleses a partir da década de 1760,
semque o mesmo se dessecom as exportaçõesportuguesas para a Inglaterra
(Fisher, 1984:206207). Assim, o saldo comercial inglês, embora tenha se
mantido positivo, reduziuse bastante, e o mesmo ocorreu no comércio com
a França (Costa, 2005 :294-295).
As demaisexportaçõesda América portuguesatampouco apresentavam
um comportamento brilhante.

8. Em números:a amoedaçãoatinge 36.684.750 cruzados em 1745-49,37.497.250cruzados


em 1760-64 e 30.498.750 cruzados em 1765-69: Morineau (198S:144145).
, NOMUNDO
POMBALINA LUSO-BRASILEIRO
36 AEPOCA

Tabela 1 .

Médias das deaçúcar


exportações
quinquenais (1716-65)
' à]? 1

Periodo . Totalemcaixas
.
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171620 . ' ' '
14.000
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«__ú _ #

Fonte: Morineau (1985:150151).

A tabela demonstra que o açúcar apresentou uma relativa estagnação do


total exportado ao longo da primeira metade do século XVIII. Numa análise
mais desagregada,fica clara a diminuição da produção açucareira da capita-
nia fluminense, enquanto Bahia e Pernambuco consigam manter relativa-
mente estãveis suas exportações.9
O tabaco apresentaum comportamento parecido no que se refere às ex-
portações para o Reino. Se no período 1696-1700 tais exportações alcan-
çaram 143.649 arrobas, no quinquênio 1746-50 chegaram a 170.450, um
crescimentopequeno que escondediversasoscilaçõesao longo dessaprimei
ra metadedo Setecentos.
Poroutrolado,asexportações
paraa África apre-
sentaram clara tendência de crescimento. Se no final do século XVII 91,7%
do tabaco exportado tinha como destino Portugal, em meados do século
seguinte essa proporção já tinha caído para 64,9% (Nardi, 1996:114115).
Tal dado sublinha a importância do comércio com outras regiões, inclusive
as situadasfora do império, como era o casoda Costa da Mina, onde o fumo
era uma moeda da maior importância na troca por cativos.

9.Morineau(1985:152153). teremconta,comobemressalva
É importante Morineau,que
os dados de exportação não devem ser entendidos como os dados da produção. No casodo
é
açúcar, preciso levar em conta o grande crescimentoda população total no o
período, que
semdúvida afetouseuconsumointerno. Parauma análisedetalhadada quedada produção
açucareira ver:
fluminense, Sampaio(2003zcap.2).
doimperiopartugués
A economia 37
noperzodopombalino

Infelizmente não contamos com dados sobre a exportação de ouro para a


África, por exemplo,sem dúvida bem
significativa,10 como de aguardente.11
T ais dados serviriam para matizar a importância do comércio com o Reino
n0 conjunto do império e tornariam o quadro mais complexo.
Em relaçãoà Ásia, tambémnos faltam dadosmais substanciais.
Um
do númerode embarcações
levantamento envolvidas
na Carreirada Índia
fornece um indício indireto da magnitude desse comércio. Assim, vemos
que a tendência geral é de uma relativa na
estagnação primeira metade do
Setecentos,com o número de embarcações oscilando entre 9 e 11. Somente a
partir de 1731-35esses
númerostendem a crescer,
atingindo um máximo de
16embarcaçõesem 174650.12Essecomportamento é fortemente influencia
do pelo ouro, já que as embarcaçõesda Carreira faziam escalana América na
viagem de retorno. Ter acessoao ouro por meio do fornecimento de produtos
asiáticosseria sem dúvida uma ótima oportunidade. Assim, não é por acaso
a
que queda no número de embarcações se deu na década de 1760, quando
todos os indicadores apontam para uma diminuição da produção aurífera.
Em resumo, os dados existentes, ainda bastante fragmentários, apon
tam para uma conjuntura que em meados do século XVIII não indicava a
existênciade qualquer crise mais grave. No que pese a queda na entrada de
ouro em Portugal, não houve qualquer carência de moeda metálica no Reino
no século XVIII. Se as demais produções coloniais não apresentavam uma
performance brilhante, é igualmente verdade que também não estavam em
decadênciaou com um decréscimo significativo. Tais dados enfraquecem a
Visãodo período pombalino como marcado pela crise, tornando assim a po
lítica do marquês mera reação a uma conjuntura econômica negativa (Costa,
2005z287-291).Ressaltam, igualmente, o caráter programático de sua atua
ção, sobretudo no campo econômico.

10. Embora proibido o envio de ouro para a Costa da Mina, em 1730, ele mantémse no trato
com Angola, por exigência dos próprios comerciantes angolanos: Sampaio (2003:164165).
11. Para uma análise da importância da aguardente no comércio com Angola ver: Ferreira
(2001:339 378).
12.Godinho 345).É preciso
(1990: lembrar
que a Carreira
refere
se somente
ao comércio
e o restante
entrea Ásiaportuguesa doimpériolusitano.
Desdeo século
XVI, osfluxos
maisimportantesdo Estadoda Índia eramos intraasiáticos:Subrahmanyan
mercantis
(1995:cap. VII).
38 A EPOCA POMBALINANO MUNDOLusoBRASILEIRO

As MEDIDAS POMBALINAS

Dentro "destecontexto,veremosque asmedidaspombalinas eram, em parte,


reações a uma conjuntura muito e
específica, que há de tornar-se ainda mais
complexa com o início da Guerra dos Sete Anos, em meados da década de
1750, e com o terremoto de Lisboa (1755)(Maxwell, 1996:cap.3). Por outro
lado, eram também fruto de reflexões não só do próprio Pombal como de um
conjunto mais ou menos numeroso de membros da elite reinol, preocupados
com o atrasoportuguês em face das potências europeiase em definir medi«
dasque o superassem.Sem dúvida, a figura de proa dessacorrente foi d. Luís
da Cunha. Segundo Maxwell (1996:10),

As preocupaçõesde Pombal também refletiam a de uma geração de fun


cionários públicos e diplomatas portugueses que haviam meditado muito
sobre a organização imperial e as técnicas mercantilistas que acreditavam
houvessemocasionadoo poder e a riqueza surpreendentese crescentesda
França e da GrãBretanha (....)

As primeiras grandes medidas de Pombal na área econômica reHetiam


exatamente essa reflexão anterior e, a partir de um diagnóstico específico,
buscavam
os remédiosquefortaleceriam
Portugale seuimpério. É nesse
sentido que podemos compreender duas medidas essenciais tomadas por
Pombal em 1755: a criação da Companhia de Comércio do GrãoPará e Ma
ranhão e a proibição dos comissários volantes nas frotas que ligavam Portu-
gal e Brasil.Ambasvisavamfortalecero controleportuguêssobreo comércio
com sua principal possessão,afastando a concorrência estrangeira que ope-
rava via contrabando. A criação da Companhia do Grão-Pará tinha também
um segundoobjetivo: fortalecer uma região periférica do império lusitano,
mas sobre a qual se debruçavam outras potências europeias, notadamente a
França. Seu estabelecimento apenas dois anos após a fracassadacriação da
destinada
Oriental,
Companhia à do
salvação da
Estado Índia, demonstra
o quanto Pombal acreditavanesseinstrumento para o desenvolvimento do
comércioimperial (Falcon, 1982:470).
Para conseguir a adesãode comerciantes à Companhia do GrãoPará,
ofertouse uma sériede privilégios, como a concessãode hábitos da Ordern
de Cristo e a proteçãodos capitais nela investidos. Sobretudo, concedeue
noperíodopanda/£71039
A ecºnomiadoimpériopartugués

~56à Companhia o monopólio do comércio e navegaçãocom a região do


Grão-Paráe Maranhão pelo período de 20 anos. O estabelecimentode uma
grande companhia monopolista, ainda que apenaspara uma região espe
cífica, visava alterar a arquitetura do sistema comercial lusitano, até então
extremamenteaberto ao pequeno capital mercantil (Almeida, s.d.:951-972).
A concentração de capital decorrente do monopólio possibilitaria criar as
grandes casas comerciais que, na visão de Pombal, faltavam em Portugal.
/ Ao alterar tão a
profundamente lógica de funcionamento do sistema mer-
a
cantil, criação da Companhia não podia deixar de gerar protestos. Com
panhiasmonopolistassempreenfrentaram enormesresistências no império
Com
português.13 a do GrãoPará e Maranhão não seria diferente. A Mesa
do Bem Comum do Comércio, ciosa de seu papel na regulação da atividade
mercantil, protestou contra a sua A
criação. reação de Pombal foi imediata:
dissolveua Mesa e exilou ou encarcerou alguns de seus membros (Boxer,
1992:184).No entanto, sua açãomais importante foi a substituição da Mesa
pelaJunta do Comércio. Tal substituição, longe de representar uma simples
troca de nomes, significou uma mudança profunda no próprio caráter da
instituição representativa dos homens de negócio, tanto em Lisboa quanto
no restante do império.
A Mesa do Bem Comum era uma típica instituição do Antigo Regime
lusitano, fundada em sua lógica corporativa. Representava os homens de ne
gócio perante a Coroa e a sociedade em geral, além de regular o comércio
e a atuação de seus agentes. Possuíatambém um caráter misto, já que além
de cuidar do comércio era também uma irmandade dedicada ao culto do

Espírito Santo. Sobretudo possuía uma forte autonomia, pois embora seus
estatutostivessem que ser aprovadospelo monarca (como os de qualquer
irmandade), sua gestão independia da Coroa (Maxwell, 1996:70).
A'Junta do Comércio, por sua vez, foi criada diretamente pela Coroa.
Emboratenhatambémum carátercorporativo, é evi
a perdadeautonomia
dente. Mais do que isso, transformase num órgão da administração da mo
A
narquia. Junta se constituirá no centro da política econômica pombalina,
atuando tanto no fomento à produção quanto na esfera da circulação. Em
relação a esta última, cabia à Junta a organização das frotas, a definição dos
fretes e da lotação de cargas dos navios, a concessãode passaportes para os

13. Born exemplo disso é a resistência à Companhia Geral do Estado do Brasil no século
XVII. Ver, por exemplo: Boxer (1973z303-305).
40 A EPOCA POMBALINA NO MUNDO LUsoBRASILEIRO

'

navios nacionais e a atestação para os comerciantes que quisessem passar


para o Brasil. Mais ainda, todos os comerciantes, homens de negócio ou
mercadoresde retalho, eram obrigados a se matricular nela como condi~
çãopara exercerem sua atividade. Por fim, a Junta foi responsávelpela Aula
do Comércio, instituída três anos depois de sua criação. A Aula destinava
se a dar uma formação adequadaaos comerciantes, ensinandolhes as mais
modernastécnicasadministrativas e contábeis. Tomouse, por isso mesmo,
a grande difusora da moderna literatura mercantil em Portugal (Falcon,
1982:450451).
Sua direção compunha-se de um provedor, um secretário, um procu
rador e seisdeputados(quatro representantesda Praça de Lisboa e dois da
Praça do Porto). Os deputadostinham mandatos de três anos, sem reeleição,
cabendo ao rei fazer a escolha, sendo três nomes indicados pelos próprios
deputados no fim do mandato (Falcon, 1982:4501451).
Mudança tão signiãcativa sinaliza claramente as transformações verifi
cadasna atuação da Coroa. Longe de simplesmente respeitar os equilíbrios
sociais preexistentes, ela altera tais equilíbrios ao ampliar seu raio de atuação,
trazendo para sua órbita o que antes era privado ou, talvez seja melhor
dizer, corporativo. Qle tal medida tenha nascido não de um planejamento
prévio, mas da reação a um fato, mostra que havia uma linha de ação prede
finida ou, o que é o mesmo, uma nova Visão por parte dos agentes da Coroa
sobre a forma como esta deveria se relacionar com a sociedade.

Lógica semelhante à da criação da Companhia do GrãoPará presidiu o


alvaráque, em dezembrode 1755,proibiu que comissáriosvolantes viajassem
ao Brasil. Segundo o texto, os comissáriosvolantes eram pessoasignorantes
do comércio e destituídas dos meios para o cultivar. Em outras palavras,
indivíduos sempreparo para a lide mercantil e, principalmente, sem recursos
próprios significativos,mas que mesmo assim se de
encarregavam grossas
partidas de fazendas. Resumindo, aquilo que o alvará denominavade co
missáriosvolantes constituíase de um grupo de pequenos comerciantes cuja
função principal era a de meros intermediários entre os grandes comerciantes
sediadosdos dois lados do Atlântico. O que o alvará ocultava era que, para
Pombal, essescomissários eram de fato a ponta de lança dos interessesbriª
tãnicos na América portuguesa. Sutilmente, buscavaafastar ou, ao menos,
reduzir signiâcativamentea presençaestrangeiranos domínios de Sua Ma
jestade e, ao mesmo tempo, preservar tão importante aliança.
A economia
do impériaportuguês
naperíodopomóalino41

Kenneth Maxwell, em seu famoso livro sobre Pombal, incorpora a visão


d0 Marquês sobre os comissários volantes. Segundo ele,

Os comerciantes britânicos e outros estrangeiros estabelecidos em Lisboa,


protegidos por seus privilégios especiais, forneceram o crédito que, nas
mãos de seus colaboradores portugueses (mercadores itinerantes conheci-
.
doscomocomissáriosvolantes)sustentavam
a conexão
do contrabando
através do Atlântico e no interior do Brasil. (Maxwell, 1996144)

Em outras palavras, tanto para Pombal quanto para a historiograâa que


se deixou levar por seus argumentos, os denominados comissáriosvolantes
eram pequenos comerciantes dedicados ao contrabando em favor de inte
ressesestrangeiros. Vivendo, como o nome já indica, de comissõessobre as
mercadorias que vendiam, eles seriam uma espécie de mascates, mas cuja
mascatariacruzava o Atlântico. Subentendese aqui que são os pequenos
comerciantesque se movem, ficando os grandes a manipular os fios da rede
dos dois lados do Atlântico.
Em texto recente, Leonor Freire Costa (2006z119123) sublinhou o
quanto essavisão é equivocada. Trabalhando com os Livros de Manifesto
de 1%, registros oficiais do embarque de ouro, Costa demonstrou a forte
de
presença grandes negociantes entre os comerciantes que viajavam nas fro
tas. Tomando os dados de 1751 como exemplo, descobriu que nada menos
que 1990dos maiores receptores do ouro em Portugal (aquelesque recebiam
mais de três contos de réis) tinham viajado com o mesmo na frota (ou seja,
viajavam acompanhados do seu próprio ouro).
Exemplo desse tipo de intinerância encontramos em Manuel da Costa
Cardoso, homem de negócio carioca que, em 1751, segue com a frota para
dos quais 2:636$800 lhe pertenciam, sendo o
Lisboa levando 8169235000,
restante da Companhia que tinha com seu irmão, Antônio da Costa Cardo=
So,negociante no Porto (Costa, 2006:124).
Mais significativa ainda é a extrema mobilidade de Inácio de Almeida
Jordão,consideradopor GomesFreire como o primeiro homemdaguelapmª
m [do Rio de janeiro]14 em 1734. Vamos encontralo em 1710 em Lisboa,
14.ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO. CatálogoCastroeAlmeida:Doc. 8564.
Consulta do Conselho Ultramarino sobre informações do governador do Rio de Janeiro sobre
Uma sociedade montada para descaminho do ouro e tráfico de escravos na Costa da Mina
(4/5/1735). A carta do governador que dá origem à denúncia é de novembro de 1734.
42 A EPOCA POMBALINA NO MUNDOLUSO-BRASILEIRO

casandosecomTeresaInáciadeAndrade(Rheingantz,1965zv.
3,fase.
3ª,p,
144-145). E se em 1731 temo-lo em terras cariocas,já em 1736e emjaneiro
de 1739eleaparece emLisboadocapitão
comoprocurador de
José Águila
Moreira, junto com seu irmão. Mas em novembro do mesmo ano eleé
designado procurador na Praça carioca. Por fim, em 1743já o encontramos
novamenteno Rio, escolhendoseuspróprios procuradoresno Reino.16
Logo, a mobilidade não era exclusiva de pequenos comerciantes,mas
frequentemente se fazia necessáriamesmo para os maiores. Mais ainda,os
dados de Leonor Costa mostram que os comerciantesestrangeirossedia
dos em Lisboa recebiam ouro tanto dos malafamados comissários volantes

quanto de correspondentes fixos no Brasil. Nas da


palavras autora, se con
seguiram tecer redes que os inhltraram no comércio com o Brasil, nem por
os o
isso estrangeiros fizeram atravésde uma organização significativamente
diferente da que estavaà disposiçãodos negociantesluso-brasileiros (Costa,
2006:126).
O alvará, portanto, estavacondenadoa ser inócuo, pois de fato não alte
rava a estrutura mercantil do império, já que partia de uma análise equivo
cada da situação. Não por acasosuasdisposiçõestiveram que ser reiteradas
em 1760 (Falcon, 1982:473). Mas no que pesem erros e acertos, o que fica
claro é que, em 1755, a Coroa portuguesajá estabelecerauma clara estraté-
gia: tratava-se de fortalecer a elite mercantil portuguesa(compreendida em
seu sentido amplo, ou seja,não só aquelasediadano Reino como tambémno
ultramar) com o intuito de diminuir a participação estrangeira nos circuitos
mercantis imperiais.
Inspiração semelhante, além de poderosos interessesagrários, levouà
fundação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro
apenas um ano depois. Buscavase, em primeiro lugar, organizaro comércio
do vinho e retirar o seu controle das mãos dos ingleses(Boxer, 1992:184),
Além disso,o cultivo do vinho espalharasepor Portugal, aumentandoainda
mais a concorrência.Os grandesprodutores,muitos delesnobres,enfrenta
vam uma miríade de pequenosvinicultores, que vendiam diretamenteaos
britânicos.A criaçãoda Companhiavisava,assim,não só regularizaracor
do
mercialização produto atravésde um sistema monopolista, como também

15.ARQUIVO NACIONAL/ RIO DE JANEIRO,CSON(Doravante


ANR]- CSON)
Livro 48, f. 75v e Livro 51, f. 35v.
16.ANR] CSON:Livro48,f. 75v(1736); f.
Livro51, Livro f. 56c
(1739); 53, (1741);
35vv
Livro 54, f. 276v (1743).
A economia no
da imperioportugués Períodopombalina 43

proteger os grandes proprietários de vinhedos da concorrência dos peque-


nos produtores, criando-se para isso uma zona restrita de produção. A Com
panhia funcionava como uma intermediária entre os exportadores ingleses e
os Viticultores, visando garantir a qualidade do produto, o controle dos pre
ços e um rendimento mínimo aos produtores (Sideri, 1978:145-148). Pombal
de fato não pretendia retirar o controle da exportação das mãos inglesas,já
que era essecontrole que garantia o acessodo produto português ao mercado
britânico, incluindo aí suascolônias (Maxwell, 1996:64).
A última grande companhia criada por Pombal foi a de Pernambucoe
Paraíba.Aqui, não se buscava,como no caso do GrãoPará e Maranhão,
desenvolveruma região periférica e subpovoada.Pelo contrário, Pernambuco
erauma dasregiõesde colonizaçãomais antigasda América portuguesa.No
a
entanto,jamais conseguiureconquistar preeminênciaperdida após a inva-
sãoholandesa(1630).A companhia tinha, portanto, o objetivo de estimular
a produção açucareira,bem como a diversificaçãoprodutiva, apostandoem
outrosprodutos igualmente exportáveis,notadamenteo tabaco e o algodão.
Para tanto, possuía o monopólio não só do comércio com o Reino como
também do tráfico de escravospara a região (sem o que qualquer estímulo
dado seria inócuo).
A razão que levou à criação de tais companhias foi fundamentalmente a
necessidadeda união de esforçosentre a Coroa e particulares e de concentra
de
ção capitais, para fazer frente à crescente disputa verificada no comércio
atlântico, além da própria dinamização da produção agrícola na América
A
portuguesa. criação de monopólios mercantis sobre áreas específicasevi
tava os inconvenientes da livre concorrência, além de facilitar a cobrança de
tributos por parte da Coroa (Cardoso, 20051359).
A criação das companhias também estimulou o investimento nas fro-
tas mercantes. Em sua estada londrina, Sebastião José de Carvalho e Melo
debruçouse sobreos efeitos dos Atos de Navegaçãoinglesesnas gravescon
sequências do Tratado de Methuen.

Portugal era importador de têxteis, era exportador de vinho, mas a dre


nagem do ouro faziase pelo monopólio de fato, fruto da intromissão da
marinha inglesa, que, por conluios entre negociantese armadores,afasta
Va indevidamente a frota e os agentesportuguesesdas relaçõesbilaterais.
(Costa, 20052287)
44 A ÉPOCAPOMBALINA
NOMUNDO
Lusosaasero

O exemploda Companhia do GrãoPará e Maranhão ilustra bemesse


crescimento da frota portuguesa. Em uma década foi construída uma frotª
com 124 embarcaçõese 43 mil toneladas(Maxwell, 1996:97).Já a Compal
nhia de Pernambucoconstruiu ou adquiriu 50 navios, dos quais 26 foram
empregados no comércio de escravos (Carreira, 1983:225-226).
A existéncia de uma marinha poderosa, tanto mercante quanto milit
tar, era sem dúvida essencial para o projeto pombalino de exercer um maior
controle sobre o comércio português, tanto aquele realizado no interior do
seu império quanto fora deste. Não por acaso o período pombalina é mars
cado por uma importante reforma da marinha de guerra, que se inicia com
a transformaçãoda Ribeira das Naus de Lisboa em Arsenal de Guerraapós
o terremoto de 1755, transformação que será estendida a outros pontosdo
e
império posteriormente, que teve por eixos o estímulo à proãssionalização
dos efetivos militares e à construção naval nas diversas regiões do império,
sobretudo na América portuguesa.17
Por outro lado, não deixa de ser curioso que Pombal não tenha criado
companhias monopolistaspara as duas principais regiões da América por
tuguesa, Bahia e Rio de Janeiro. Considerando-se a falta de dados,pode
se apenasespecularsobre as razões disto como uma maior capacidadede
resistênciados comercianteslocais a criação de monopólios ou simplesmente
uma análise por parte da Coroa da superíicialidade de tal criação nasáreas
Paraessasregiões,de fato, Pombal acabapor
economicamentemais ativas.18
adotarumapolíticaoposta:em1765aboliuo sistema
defrotasparaasduas
regiões (não sem antes tentar reforma-lo)e no ano seguinteregulamentou e
diminuiu as taxas de fretes (Maxwell, 1996:132), visando estimular a frota
mercante.Esta medidapareceindicar que em suavisão tais regiõesprescin
diam de companhias,dado o grande poder econômico de suasrespectivas
elites mercantis.O próprio Pombaljustificaria anosmais tarde a criaçãodas
a
Companhias partir do atraso e do abandono das a
regiões que se destina
vam(Falcon,
1982:471). na
Também Áfricaa administração esti-
pombalina
mulou o comérciolivre como forma de desenvolvimentodo tráfico negreiro,

17.Construir (ou reformar)embarcações na América ou simplesmenteimportar suasma'


deirassignificavapara Portugal livrar-se da incômoda dependênciado Báltico. Parauma
análisedetalhadada reformanavalpombalina,ver: Malvasio(2009).
18.ParaDauril Alden, a nãocriaçãodascompanhiasdeveuseà forte oposiçãobritânica
e à falta de capitaldisponívelparatão considerávelinvestimento.Dada a falta de comprovar
seus
ção, não
argumentos chegama Alden
convencer. (1990:326).
A economia
doimpérioportuguês 45
noperz'adopamáalina

o que sublinha o pragmatismopombalino (Falcon, 1982:474).Sejacomo for,


a permanênciade um comérciolivre (entendidoaqui comonãomonopolista)
nas duas capitanias estabeleciaos limites da atuaçãopombalina na transfor-
mação do sistema de comércio. A antiga estrutura mercantil, dotada de uma
arquitetura aberta, mantinhase forte graças a essapermanência.
Tal fato não significou, contudo, um fracassode Pombal. Seusprincipais
objetivos com a criação das companhias foram ao menosparcialmente atin
gidos: o crescimento das regiõesenvolvidas(e, consequentemente,dos fluxos
mercantis a elas vinculados) (Magalhães, 2005:305-308) e o fortalecimento
da elite mercantil lisboeta.
Em relação ao primeiro ponto, uma análise ainda que superficial da evo-
lução econômica de ambas as a
regiões após criação das companhias mos
tra claramente uma expansãoda produção local, sobretudo daquelavoltada
à exportação. Em relação ao GrãoPará e Maranhão, há um crescimento
das exportaçõesdas chamadasdrogas do sertão (cacau,salsaparrilha, co-
chinilha, baunilha etc.) bem como de produtos agrícolas, como o café, o
tabaco,o arroz, o feijão e o cacau,este agora também cultivado e não apenas
coletado. No GrãoPará, o cacauserá o principal artigo de exportação, en
quanto, no Maranhão, se destacará o algodão, cuja exportação iniciase em
1760, e o arroz, a
exportado partir de 1767 (Magalhães, 2005:307; Maxwell,
199697). A produção de algodão logo superou a demanda reinol, gerando
um lucrativo comércio de reexportação.
Nesta região tratavase, como já exposto, não somente de desenvolvêla
economicamente, mas de melhor conhecêla e povoar. Por isso, não podem
ser desconsideradasas missões de reconhecimento da região, como as mis
sõesdemarcadoras dos tratados com a Espanha e a Viagem Filosófica de
Alexandre Rodrigues Ferreira. Nesse mesmo contexto insere-se a promul
do
gação Diretório dosÍndios (1757),
quetinha o
por objetivointegrar
indígena na sociedade colonial, favorecendo a miscigenação e o crescimento
populacional. Neste de 46
esforço colonização, aglomerados foram elevados
à condição de vila. Foge ao escopo deste trabalho a análise do sucessoou
fracassode tais medidas, mas é inegável que elascontribuíram para a conso
da
lidação presença lusa na região.19

19.Parauma análiseda política portuguesapara a regiãonorte na segundametadedo século


XVIII, ver: Domingues (2000).
% AÉeocn Pontuarm' no MUNDO
LusoBRASILEIRO

Em Pernambuco,a companhiautilizou seu capital para adiantarmera


tadorias e escravospara os agricultores com juros de 3% ao ano. No setor
açucareim tal injeção de recursos apresentou resultados claros. Um relatório
da Companhia de 1780 estimou que entre 1759e aqueleano o númerode
engenhos cresceu de 207 para 330. A produção de tabaco também aument
tou com subsídiose a garantia de preços(Maxwell, 1996:98).Além disso,
a companhia teve o papel central de introdutora e difusora do algodãona
região e, sobretudo,de financiadora das primeiras safrasdo produto.20
Em resumo, ambasas companhias foram ao menos parcialmente bem..
*sucedidasem seuspropósitos.Se,no que concerneao estímulo da produção,
o balanço ainda não é claro (sobretudo no casopernambucano, mormenteno
que se refere ao açúcar), no relativo ao controle sobre o comércio e a nave
gação, o sucessoé evidente e se expressaprincipalmente no crescimentodas
respectivasfrotas mercantes. Em outras as
palavras, companhias atingiram
o objetivo de aumentar o controle português sobre a atividade mercanteno
interior do império. Além, é claro, de contribuírem para uma maior concen
tração do capital mercantil nas mãos de uma pequena elite de negociantes,
cujo destino se atrelaria fortemente aos desígnios de Pombal.
Aqui entramos no segundo objetivo de Pombal ao fundar as compa
nhias. De fato, desdeo início de seugoverno ele apoiou (e foi apoiado)por
uma parcelada elite mercantil lisboeta, grupo no qual enxergouos homens
que considerou capazesde ombrear com as grandes casas comerciais euro
As entravam
pains. companhias aí como importantesvias de de
acumulação
capitais para essemesmo grupo.
o
Entretanto, principal mecanismo de formaçãodessegrupo não sua
será
nas
participação companhias, e sim na arremataçãode contratos.
Segundo
jorge Pedreira(19952154),

A contrataçãode rendimentose monopólios régios constituía, assim,um


poderoso instrumento de acumulaçãoe de influência e, como tal, funcio-
navacomo um fator de diferenciação ou discriminação no interior do corpo

20. Tais benefíciosforam, no entaum,largamentecontestados.Após o períodopombalina,


osdetratoresda companhiaafirmavamqueosempréstimosfeitos aosagricultoresacabavam
por foca-los, e queo crescimentoda de
exportação açúcar fora no
pequeno período. Por
trás de tais argumemosha umaclaradisputapolítica, que não noscabeabordaraqui:Pala'
cios (1998:117-120).
A economia
do impéríopartugués
naperíodopombalina 47

de comércio,propiciando a formação de uma elite e fomentando ate'(...) o


desenvolvimento de tendências oligárquicas na praça mercantil.

Por esta razão, no período pombalino ocorrerá uma renovação dos


contratadores. O mais importante dos contratos, 0 Geral do Tabaco, mu
dará de mãos três vezes até 1765, até ser ânalmente entregue a Anselmo
José da Cruz (Pedreira, 1995:156). A renovação não era em si uma novidade.
A fluidez do corpo mercantil era alta e poucos permaneciam na mercancia
por longosperíodos. Na Lisboa pombalina, somente 40% dos homens de ne
gócio mantinhamse em atividade durante 10 anos e apenas 25% durante 15
anos(Pedreira, 1995:133).A grande novidade desseperíodo foi exatamen-
te a criação de uma oligarquia de contratadores cuja atuação estendese até
a décadade 1820. Tal oligarquia, composta por seis famílias (Braancamp
-Sobral, Machado, Caldas, Qiintela, Bandeira e Ferreira), controlava não só
os principais contratos do Reino como também os empréstimos feitos a uma
Coroa sempre necessitada de recursos. No início do século XIX, metade da
elite mercantil tinha origem pombalina, incluindo todos os contratadores
(Pedreira, 1995:175, 187).
Para que se tenha clara a importância dos contratos é preciso lembrar de
suaimportância central para a economia portuguesa em geral e a arrecada
ção da Coroa em particular. Grossomodo, os contratos podem ser divididos
em dois tipos. O primeiro é o dos contratos dos diversos estancos régios.
A comercialização de produtos como o tabaco, os diamantes e o paubrasil
era considerada monopólio da Coroa, que em vez de exploralos direta-
mente concediaos a particulares em troca de uma remuneração.21 0 se
é
gundo tipo composto pelos contratos de arrematação de impostos. Em
vez de dedicarse diretamente à cobrança dos tributos, a Coroa optava por
também conceder sua cobrança a particulares, em troca de um rendimento
lixo. Em ambos os casosos contratos eram temporários, normalmente trie
nais e arrematados em leilões públicos. Sua alta lucratividade tornavaos
vias privilegiadas de acumulação de capitais (Osório, 2001:107138).
Além dos contratos do Reino, os negociantes lisboetas dedicaramse
também aos contratos da América portuguesa. Inácio Pedro Quintela, por

21. No caso dos diamantes, os problemasocorridos com os diversos contratos feitos para
suaexploraçãoacabaramlevandoa Coroa a optar pela administraçãodireta de suaextração:
Pedreira (1995:156).
48 A EPOCA POMBALINA NO MUNDOLUSO-BRASILEIRO

exemplo, arrematou o contrato dos dízimos da Bahia e, entre 1754 e 1755,


arrematou o direito sobrea dízima da alfândegados naviosque entrassemno
Rio de Janeiro fora da frota (Maxwell, 1996:75).JoséFerreirada Veiga,por
sua vez, arrematou por duas vezeso contrato das entradas de Minas Gerais.
No entanto, a presença dessaelite lisboeta aí foi relativamente modesta, e
de fato não fez sombra à atuaçãodos negocianteslocais. Tanto em Minas
quanto no Rio Grande do Sul ou Rio de Janeiro, para âcar somente nos ca
sos mais bem conhecidos, os contratos foram controlados quasesemprepor
negociantes sediados na América.22
A concessãode um contrato não dependia somentedo oferecimentodos
maiores lances e/ou das maioresgarantias,já que o sistemade concessãoper
mitia sua dispensa e a adjudicaçãopor simples ato administrativo. Sobreleva
-se assim a importância das relaçõespessoaiscomo elemento decisivo para
acesso ao mesmo. No caso de Pombal, as boas relações com grandes nego-
ciantes rendiam claras vantagens. Só Anselmo José da Cruz emprestoulhe
70 contos de réis sem cobrançade juros (Pedreira, 1995:159).
Tais relaçõespessoaisexplicam, no entanto, somente parte da história
da formação da elite. Papel fundamental desempenhouaí a ocupaçãode car-
gos públicos. Segundo Jorge Pedreira, em torno das novas instituições a
Junta do Comércio, 0 Erário as
Régio, Companhias reuniuse um grupo
de cerca de quarenta homens de negócio, que ocuparam os postos de maior
responsabilidade e influência (Pedreira,1995:160).
Neste ponto, ganha importância central a criação do Erário Régio em
1761. Destinado a concentrar e registrar toda a renda da Coroa, esta insti-
tuição estendiasuajurisdição aosdistintos setoresda administração fiscal,
englobando desde os monopólios régios até a receita da Alfândega. Em
outras palavras,era com o Erário Régio (cujo inspetorgeral do Tesouro
erao próprioPombal)queos negociantes
quearrematavam
os contratos
tinham que se entender.Neste contexto, não era por acasoque José Fran
cisco da Cruz, irmão de Anselmo José da Cruz, tenha sido o primeiro
tesoureirogeral da nova instituição. As instruções de Pombal eram de que
também na América os ocupantesdos principais postos das Juntas de Fa-
zenda fossemnegociantes,preferencialmente os mais abastados(Maxwell,
1996z98,129).A ocupaçãode tais postos significava não somente o aces
so a importantes vias de acumulação(sobretudo no caso das companhias)
22. Araújo (2006:153169),Osório (2001), Sampaio(2001:73106).
A economiado impériopartuguêsnaperíoa'opombalina 49

como também o estabelecimento de uma influência direta sobre a política


econômica pombalina.
O resultado dessa política de privilegiamento foi que no reinado de
d. José I os 54 homens de negócio que mais participavam da arrematação
de contratos respondiam por 77% dos ingressos dos contratos que, por sua
vez, representavam, entre 1762 e 1776, mais de 40% da receita do Estado
(Pedreira, 1995:162).
Pombal buscou também estimular os comerciantes através da concessão
de direitos de nobreza. Os estatutos das Companhias previam isenções e
privilégios que eram prerrogativas da nobreza, além do acessoà Ordem de
Cristo, primeiro passo de uma possível nobilitação posterior. Pretendia assim
aumentar a consideração social sobre a mercancia e seus agentes.24
Igualmente importante para a ascensão social dos negociantes foi a ins-
titucionalização da diferença entre comércio de grosso trato e comércio de
retalho. Esta concretizou-se com a criação da Mesa do Bem Comum dos
Mercadores, cujos estatutos foram aprovadosem 1757 (Falcon, 1982:411).
Essa institucionalização marcou, na verdade, um longo processo de afas-
tamento entre homens de negócio e mercadores no vocabulário social da
época. Sua institucionalização afastava os grandes negociantes do trabalho
manual, origem do defeito mecânico que os distinguia negativamente da
nobreza (Sampaio, 2006173-96).
Uma análise da política econômica pombalina não estaria completa se
não se debruçasse sobre o fomento às manufaturas. De fato, como Vimos
a da
acima, criação Junta do Comércio visava, entre outras coisas, fomentar a
produção manufatureira. Tal fomento ganhou impulso, após 1760, quando a
diminuição da de
capacidade importar (causada pela menor remessade ouro
do Brasil) levou a uma política de substituição de importações.

A política do fomento industrial, em bases manufatureiras, teve como


ponto de partida uma nova crise na de
capacidade importar que forçou a
tomada de providências no sentido de realizarse a substituição daquelas

23. No Rio de Janeiro, e ainda na primeira metade do século XVIII, os negociantes ocu-
param postoschave da administração colonial, sobretudo os que envolviam perícia com
contabilidade, como os de moedeiro, almoxarife etc. Ver: Sampaio (2004:276312).
24. Maxwell (1996:77). A concessãode títulos da Ordem de Cristo a negociantes não é,
porém, uma inovação pombalina. De fato, é no reinado de d. João V que essa prática se
generaliza.Ver: Donovan (1990).
50 A Epoca POMBAuNA no MUNDO LUSOBRASILEIRO

importações mais necessárias ao consumo de um maior número de pessoas,


Logo, não foi pelos artigos de luxo que se tentou começar, emboratais pro
dutos aparecessemnos requerimentos dos primeiros empresários desejosos
de fabricar alguns deles mediantes privilégios. (Falcon, 1982:464)

A política manufatureira de Pombal não foi, no entanto, mera conse


quência de uma conjuntura desfavorável. Esta a acelerou, mas desde pra
ticamente o seu início a Junta do Comércio começou a conceder auxílios e
privilégios.
Já em 1757,a reforma do regime de administração da Fábrica de Sedas
foi, nas de
palavras Jorge Pedreira o
(1994z47), primeiro passo de uma po
litica de fomento manufatureiro que não tinha precedentes,nem na profun
didade, nem na amplitude. Administrativamente, ela ficava subordinada à
e
Junta, incorporava em sua das
direção representantes Companhias mono
polistas do Brasil, visando facilitar as exportações e combater o contrabando
francês.No que concerneà organizaçãode suaprodução, a Fábrica das Sedas
deixou de ser apenas uma unidade de fabrico e tornou-se o centro coorde'
nador de uma série de oficinas.
Esta atuação da Junta do Comércio se repetiria nos demais ramos rna-
nufatureiros. A expansãoda produção não foi resultado de iniciativas indivi'
duais, mas de uma política deliberada e do apoio direto dajunta: monopólios
da fabricação de certos artigos, isençõesfiscais e até empréstimos faziam
parte da política governamental de fomento à produção. O setor lanígem
foi um dos grandesbeneficiadosdessapolítica E preciso lembrar aqui que
os têxteis de lã ingleses eram os grandes beneficiados com o Tratado de
Methuen. Aumentar sua produção interna equivalia a diminuir a depen
dência em face da Inglaterra. Para atingir tal intento, as diversas etapasda
produção têxtil foram (da de
regulamentadas compra pastagens à venda de
lã) visando seu incremento. Buscouse reavivar as regiões de Guarda, Castelo
Brancoe Pinhel, famosaspela produçãoda Covilhã e do Fundão. Na década
de 1770 criouse a Fábrica de Portalegre, também de lanífícios. Diversas
outras manufaturas foram introduzidas (Falcon, 19822466),mas o incentivo
à produçãomanufatureiraesbarrava,no entanto, no relativo desinteressedo
setor privado em realizar tais investimentos. Paradoxalmente, a criação das
companhiasmonopolistas, um dos outros da
pés política econômica pomba«
lina, acabava por atrair para a esfera mercantil a maior parte dos recursos.
A economia no
daimperioportugués períodopombalina 51

Neste vácuo, o Tesouro acabou sendo o responsável por fornecer às novas


fábricas parte substantiva do seu capital, além de contratar mestres estran
geiros para atender às necessidades de qualificação da mão de obra.
Essa atuação estatal, portanto, não nos permite falar em uma política
industrializante. De fato, o que move as decisões pombalinas é uma per
cepção ainda profundamente mercantilista do comércio,visto como um jogo
de soma zero, onde o ganho de uma parte significava necessariamente o
prejuízo da outra. Nesta lógica, ao mesmo tempo que se incentivava o co-
mércio considerado benéúco à Coroa e aos seusvassalos (fundamentalmente
o comérciode produtos coloniais) buscavase igualmente reduzir aquele que
traria prejuízos ao Reino, por drenar seus recursos. Em outras palavras, o
incremento da produção interna tornava o país menos dependente de seus
parceiros externos, e é isso que se buscava assegurar.
O fomento à produção era, assim, subsidiário do fomento ao comércio.
O setor em que talvez esta subordinação se torna mais clara é o da produção
de têxteis de algodão, para cujo nascimento a atuação do Estado foi decisiva.
A partir da década de 1770 as manufaturas foram se estabelecendo perto
do litoral. Algumas grandes unidades produziam seuspróprios tecidos e os
estampavam. Entretanto, é sobretudo o setor de estamparia que terá uma
grande expansão. A maioria das fábricas acabou por abandonar a produção
de tecidos e dedicar-se unicamente à estampagem. Os tecidos estampados,
sua
por vez,vinham da
primordialmente Ásia Dada
portuguesa. a suade-
pendência desse comércio de longo curso, era natural que esse setor fosse
dominado pelos grandes negociantes. Para eles, estampar tecidos significava
a possibilidade de participar do comércio imperial, sobretudo com a América
e
portuguesa coma África 1994:96-97).
(Pedreira,
Nada mais distante de uma revolução industrial, nada mais próximo de
uma política mercantilista, com forte feição seiscentista. E é nesse senti-
do que podemos entender a política de Pombal. Seu interesse sempre foi
garantir um maior controle do comércio português (entendido aqui como
aquele realizado no interior do império) pelos vassalos de Sua Majestade e,
ao garantilo, fortalecer o poder da própria Coroa. Para isso podia se utilizar
de medidas opostas, como criar companhias monopolistas e acabar com o
sistema de frotas.
O caráter pragmático de sua atuação não nos impede, no entanto, de
perceberseusobjetivos gerais. Se a idade do ouro da América portuguesa
NOMUNDO
52 A Época POMBALINA LUSO-BRASILEIRO

tinha passado,era aindaverdadeiraa importânciaincontrastãvelda colônia


americanano conjunto do império. Qualquerreformaeconômicatinha, por
isso mesmo, que passarpor ela. E uma análise mais detida das principais
medidas pombalinas mostra que é exatamenteisso o que acontece.Além
das medidasexplicitamente à
ligadas América, como a das
criação compar
nhias, sua importância também está presentenas medidas a
que, princípio,
dizem respeitosomenteao Reino. Tal é o casodo incentivo à produçãode
lanifícios e têxteis de algodão,a qual acabadestinando-seem grandeparte
à colônia. Mesmo a criaçãodo poderosogrupo pombalina de contratadores
dependia desta.Os principais contratos,como o do tabaco,demonstram isso
claramente. Em outras palavras,a política pombalina, longe de diminuir,
acabapor reforçar a dependênciade Portugal perante suaprincipal colônia.

UM BALANÇO: E LIMITESDAPOLÍTICAPOMBALINA
PERMANÉNCIAS

A expressãoviradeira definiu por muito tempo a conjuntura política que


marcou a morte do rei d. JoséI e a consequente do
queda marquês de Pombal.
Tal expressão buscavamarcarum períododemudançapolíticae, sobretudo, de
fun da tirania pombalina.Fatoscomoa suspensão de algunsdosprogramas
em execução,a libertaçãode parte dospresospolíticos e o processoinstaurado
contra Pombalpareciammarcaruma efetivamudançade orientação.
Uma análise mais detida mostranos, no entanto, que a expressãoé no
mínimo exagerada, já que indica um movimento de contrarreforma quede
fato nãoocorreu.Pombalfoi semdúvidaalijadodo podere passouseusúltimos
dias precisandodefender-se. Escreveuparaissodiversasapologias,nasquais
aplicava suasprincipaispolíticas e rebatiao que consideravacomo calúnias
(Maxwell, 19961168).No entanto, o primeiro governoformado sua
após que
da, chefiadopelo viscondede Vila Nova de Cerveira,contavacom colabora
dorespróximosao marquês,comoMartinho de Melo e Castroe Aires de Sá
e Melo. A junta queacompanhou a açãogovernativada rainhaeraformada
principalmente por reformistas,e o próprioprocuradorda Coroa, JoãoPereira
Ramosde AzevedoCoutinho, reformistae aliado de Pombal,manteveseem
Tal permanência,maisdo queindicar
suasfunções(Monteiro, 1998:419-421).
da
umacontinuidadeadministrativa,demonstraquea novaformade atuação
Coroa,inaugurada
por Pombal, não sofreria descontinuidade.
qualquer
A economia
doimpérioPortuguês 53
noperíadapombalina

No campo econômico, ao qual nos ateremosaqui, a percepção inicial


também é de descontinuidade. As companhias do Grão-Pará e de Per-
nambuco são extintas, ou melhor, não têm seus privilégios renovados. Em
grande medida, isso se deveu à ampla gama de interesses envolvidos, tanto
de comerciantes situados dos dois lados do Atlântico, prejudicados por não
participarem das duas companhias, quanto de devedores que viam em sua
a
extinção possibilidade de não pagarem seus débitos ou, pelo menos, de
adiaremao máximo tal pagamento. Por outro lado, convém sublinhar que
a Companhia das Vinhas do Alto Douro, em parte por não ter sido estabe-
lecida corn privilégios temporários e em parte porque atendia, como vimos,
a interessesda própria nobrezaportuguesa, passouincólume por tais conjun
turas políticas.26
O fim das companhias não significou, por outro lado, qualquer alteração
nastransformaçõesque vinham ocorrendo em suasrespectivas regiões. Ma-
ranhão e Pernambuco consolidamse como as duas grandes regiões produ
toras de algodão até o século XIX. No Maranhão a produção salta de 6.510
arrobas em 1760 para 40.553 em 1777 e 206.449 arrobas em 1807. Para Per
nambuco os dados são mais tardios, mas de uma estimativa de 37 mil arrobas
em 1788 salta-separa nada menos que 334.914arrobas em 1807.27Em outras
o
palavras, impulso dado no
pelas companhias período de sua atuação criou e
consolidou não só a produção de algodão como também o mercado para este,
o que permitiu a continuidade de suaexpansão,favorecida naturalmente pela
Revolução Industrial e de
inglesa pela guerra independência das 13 colônias.
No casodo comércio português com outros paíseseuropeustambém não
há qualquer transformação das tendênciasantes observadas.Em relação à
a
Inglaterra, reduçãodo déficit verificada no período pombalino mantémse,

25. As Companhias, no entanto, mesmo com seusprivilégios extintos, continuaram cobran


do seusantigos devedores,às vezes por diversos anos. Sem o monopólio, porém, seu poder
de pressãotornavase muito menor. Para o casoda Companhia de Pernambuco, ver: Palacios
(1998:119120).
26. Um aspectoainda a ser esclarecidoé até que ponto o próprio Pombal não consideravatais
companhias necessariamente os
provisórias, já que privilégios foram a elas concedidos pelo
prazo de 20 anos, ainda que renováveis. Outra é
hipótese plausível que Pombal tenha feito
issosomentepara reduzir as resistênciasà criação de ambas.Para a Companhia da Agricul
tura das Vinhas do Alto Douro ver: Sousa (2008:1530).
27. No casode Pernambuco, há também um claro crescimento da produção de açúcar, que
se inicia ainda no período da Companhia, mas prolongase até o século XIX. Nesse caso,
contudo, a correlação com a atuação da Companhia é bem mais complexa, já que se trata
de um período de crescimentogeral da produção açucareirana América portuguesa: Alden
(1990:331-338).
54 A ÉPOCA POMBALINA NO MUNDO LusoBRASILEIRO

e são sobretudo as exportaçõesportuguesasque se expandem.Melhor dix


zendo, as reexportações portuguesas do algodão brasileiro, que passamde 2
milhões de libras em 1786para 8.025.674em 1796.Tal crescimentonãosigx
niíica nova dependência lusitana, embora a Grã-Bretanha continuassesendo
o seu principal parceiro comercial. O comércio do Reino com a Europa em
seu conjunto mais do que triplicou entre 1777 e 1796, com destaque para as
transações com a França (até 1790) e com a Rússia (Costa, 20051279).
Não há igualmente qualquer alteraçãona relaçãoda Coroa com a oligar~
quia dos contratadores. Se esta foi criada por Pombal, é no período maria
no que ela se consolida. A renovaçãoda elite mercantil, sempre considerável,
é muito mais lenta nessegrupo. Até a invasãofrancesa,só nove dos 30 maio
res contratadoresdo Reino (responsáveis,em conjunto, por 90% das receitas
sob contrato) não pertenciam a famílias que haviam participado de arre
matações de contratos na épocapombalina. Mais ainda, a política de nobi
litação dos vai
negociantes permanecer, e no início do século XIX Joaquim
Pedro Qiintela (em 1803) e Jacinto Fernandes Bandeira serão agraciados
com o título de barão (Costa e Olival, 2005:341).
Os limites da política econômica de Pombal não se encontravam, como
está claro, em sua pessoa. Suas diretrizes sobreviveram pelo menos até o
início do século XIX, no que pese a importância crescente do liberalismo
econômico a partir do final do Setecentos.
Seuverdadeirolimite encontravasena dependênciade Portugal diante da
suaprincipal colônia,dependência estaquejá ressaltamos.O crescimentodas
exportaçõesportuguesas na viradado séculoXVIII para o XIX foi baseado
sobretudonareexportaçãodeprodutosbrasileiros.A expansão nãosódapro-
do
dução algodão, mas também do açúcar,tabacoe diversos
outrosprodutos
imprimiu um novodinamismo ao comércio do Reino com outrospaíseseuro-
peus.Seem o
1755 valortotaldasfrotasdo Brasilqueiam paraPortugalerade
17.800.000cruzados(dosquais12.400.000cruzadossereferiamao ouro em-
em
barcado), 1806essevaloralcançaria nadamenosque35500000 cruzados

(dosquais 2.300.000cruzadossereferiam ao ouro) (Morineau, 1985:163).
Em outraspalavras,a expansão da produçãoagrícolada América portuguesa
na segunda metadedo séculoXVIII compensoucom sobrasa decadênciada
exportação de ouro.
O limite nãosódo modelopombalinamasda sobrevivência desseestado
de coisasera,naturalmente,a continuidadeda ligação entre o Reino e sua
A economia noperíodoPombalina 55
da impérioportugués

americana.
possessão Por isso mesmo é que 1807 marca uma ruptura defini-
tiva nesse padrão. A transferência da Corte para a agora ex-colônia mudava
radicalmente os termos da equação.Portugal perdia então sua confortável
função de entreposto comercial, porta giratória entre o Brasil e a Europa.
Essaruptura tornarseâ definitiva com a independência do Brasil, como se
sabe.O destino diverso das duas partes do antigo império nos revela muito.
Enquanto o Brasil independente não sofreu qualquer solução de continuida-
o
de, antigo Reino entrou em profunda crise. A própria oligarquia financei-
ra, sempre tão atrelada à Coroa, entrou em clara decadência. Aqui se esbo-
roavadefinitivamente o sistema imperial português. O velho marquês e seu
modelo já eram agora parte do passadoou, se quisermos, parte da história.

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