Renata Apar ecida Ribeiro Custódio
ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
APLICADA À ODONTOLOGIA – CLÍNICA
GERAL – UM ESTUDO DE CASO
Or ientador : Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr.
Itajubá
2006
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJ UBÁ
Renata Apar ecida Ribeiro Custódio
ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
APLICADA À ODONTOLOGIA – CLÍNICA
GERAL – UM ESTUDO DE CASO
Banca Examinadora:
Examinador: Prof. José Geraldo Trani Brandão, Dr.
Examinador: Prof. Carlos Henrique Pereira Melo, Dr.
Or ientador : Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr.
Itajubá
2006
iii
Para Antônio Carlos, Ágata e Íris.
iv
AGRADECIMENTOS
Tenho muito a agradecer aos professores Luiz Gonzaga Mariano de Souza e Alaor
José Borges de Campos, principalmente pelo apoio para meu ingresso nas ciências em
engenharia.
Ao prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, agradeço a todas as orientações e
oportunidades de estágiodocê lvs Mad rs t T
v
Tudo começa com uma escolha.
vi
RESUMO
Esta dissertação se propôs a realizar a análise da atividade do cirurgiãodentista a fim
de construir um ponto de vista desta profissão. Para tanto foi aplicada a metodologia da
Análise Ergonômica do Trabalho – AET, por se tratar de um método de abordagem
ascendente, que permite compreender como o trabalhador age e reage nas situações de
trabalho. Foi escolhido um caso para estudo, onde o profissional se encontra bem próximo do
perfil do cirurgiãodentista brasileiro traçado pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas
Sócioeconômicas (Inbrape). Também foram identificadas as estratégias adotadas para fazer
face aos constrangimentos da atividade. O estudo demonstrou haver uma interrelação entre as
ações intrabucais e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, mas
também evidenciou um forte componente relacionado à organização do trabalho que
compromete a produtividade e a qualidade de vida do cirurgiãodentista. Por fim, foram feitas
as recomendações ergonômicas para o caso e identificados os referenciais que nortearão o
aperfeiçoamento e/ou desenvolvimento do assento odontológico.
Palavraschave: ergonomia; AET; cirurgiãodentista; odontologia.
vii
ABSTRACT
The purpose of this study is to analyze the activity of the surgeondentist in order to
construct a point of view of this profession. For in such way the methodology of the Analysis
Work’s Ergonomics AWE was applied, considering a method of ascending treatment that
allows understanding as the worker acts and reacts in the work situations. A case for study
was chosen for a professional that is close to the profile of the Brazilian surgeondentist did
by the Inbrape (Brazilian Institute of Social Economics Research). Also had been identified
the strategies adopted to make face to the constraints of the activity. This study demonstrated
having interrelations between the intramouthed actions and the Workrelated
Musculoskeletal Disorders – WRMD’s, but also evidenced a strong component related to the
organization of the work that compromises the productivity and the quality of life of the
surgeondentist. Finally, the ergonomic recommendations for the case had been made and
references was identified that will guide the improvement and/or development of the surgeon
dentist seat.
Keywords: ergonomics; AWE; surgeondentist; dentistry.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Chaves de Garengeot, pelicano e fórceps. 8
Figura 2: Primeira cadeira odontológica. 9
Figura 3: Chaves de Garengeot. 10
Figura 4: Base multifatorial do DORT. 25
Figura 5: esquema gráfico ISO/FDI. 36
Figura 6: Zonas de alcance. 38
Figura 7: A tarefa. 41
Figura 8: Tarefa, atividade e trabalho. 41
Figura 9: Trena CASTO. 49
Figura 10: Goniômetro CARCI. 50
Figura 11: Metodologia AET. 50
Figura 12: Marcação de consulta. 54
Figura 13: Planta baixa do consultório. 55
Figura 14: Medidas do mocho. 56
Figura 15: Equipo com três pontas. 56
Figura 16: Pedal de acionamento do motor. 56
Figura 17: Armários. 57
Figura 18: Gaveteiro móvel. 57
Figura 19: Refletor. 57
Figura 20: Cadeira do paciente. 58
Figura 21: Cuspideira e sugador. 58
Figura 22: Fluxograma das 9 etapas prescritas para a execução da prótese – fase moldagem
definitiva. 59
Figura 23: Fluxograma das 19 etapas prescritas para a execução da restauração
fotopolimerizadora. 60
Figura 24: Primeiro recorte na atividade. 62
Figura 25: Planta baixa do consultório. 63
Figura 26: Vista frontal dos armários alto e baixo sob o balcão. 64
Figura 27: Ação extrabucal. 66
Figura 28: Ação intrabucal. 66
Figura 29: Organização do trabalho. 67
Figura 30: Postura fixa na ação intrabucal. 68
Figura 31: Postura incorreta dos ombros. 69
Figura 32: Postura incorreta da cervical vertebral. 69
Figura 33: Postura incorreta da coluna cervical. 70
Figura 34: Apoio insuficiente dos pés. 70
Figura 35: Deslocamento da CD até o sugador. 75
Figura 36: Pegando material na geladeira 76
Figura 37: Pegando material no armário 76
Figura 38: Aplicação do esquema gráfico. 77
Figura 39: Plano horizontal 79
Figura 40: Compressão da parte inferior da coxa e angulação do joelho. 79
Figura 41: Mocho vista lateral. 80
Figura 42: Angulações da cadeira odontológica em estudo. 81
Figura 43: Ângulos necessários para relaxamento máximo segundo Lehmann. 81
Figura 44: Posição de acionamento do sugador. 82
Figura 45: Zonas de inclinação lateral e flexão do tronco. 83
ix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: A evolução da ergonomia 19
Quadro 2: Base multifatorial do DORT. 25
Quadro 3: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas. 26
Quadro 4: Estudos pertinentes às condições biomecânicas em profissionais da área
odontológica. 29
Quadro 5: Classificação dos movimentos do cirurgiãodentista. 38
Quadro 6: Etapas da intervenção ergonômica. 43
Quadro 7: Observações sobre etapas restauração fotopolimerizada. 61
Quadro 8: Prédiagnóstico 65
Quadro 9: Posturas e patologias associadas. 84
x
LISTA DE ABREVIATURAS
ABO – Associação Brasileira de Odontologia
ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico
ACBO – Academia Brasileira de Odontologia
AET – Análise Ergonômica do Trabalho
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CD – Cirurgiãodentista
CFO – Conselho Federal de Odontologia
DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
FIO – Federação Interestadual de Odontologia
FNO – Federação Nacional de Odontologia
IEA – International Ergonomic Association
Inbrape – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sócioeconômicas
PT – Posto de Trabalho
PTO – Posto de Trabalho Odontológico
SELF – Société d’Ergonomie de Langue Française
UDT – Unidade Dental Tripartida
xi
SUMÁRIO
1. Intr odução 1
1.1 Considerações iniciais 1
1.2 Justificativa 2
1.3 Objetivos Gerais e Específicos 3
1.3.1 Objetivo Geral 3
1.3.2 Objetivos Específicos 3
1.4 Limitações 3
1.5 Estrutura do Trabalho 3
2. Odontologia e Ergonomia 5
2.1 Considerações iniciais 5
2.2 Histórico da Odontologia 5
2.3 Ergonomia 16
2.3.1 A Ergonomia no Brasil 21
2.4 Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho do Cirurgiãodentista 23
2.5 Ergonomia e Odontologia 30
2.5.1 O posto de trabalho odontológico 32
2.6 Análise Ergonômica do Trabalho 38
2.6.1 Considerações iniciais 38
2.6.2 Objeto de estudo da AET 39
2.6.3 Tarefa e atividade 40
2.6.4 A construção da ação ergonômica 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 94
ANEXO A 98
ANEXO B 99
ANEXO C 100
1
Segundo Rasia (2004), as pesquisas realizadas até então com estes profissionais são
reducionistas, pois se restringem ao envio de questionários aos CDs. Os estudos encontrados
com o foco voltado para a análise da atividade ainda são incipientes. Deste modo este estudo
visa construir um ponto de vista da atividade deste profissional fundamentado na análise do
trabalho e, sobretudo na relação estabelecida entre as observações, verbalizações, entrevistas,
análise de documentos e dados. Para tanto será utilizada a metodologia da Análise
Ergonômica do Trabalho AET (GUÉRIN et al., 2001) por se tratar de método de
investigação que possibilita ao pesquisador compreender o trabalho a partir da análise das
atividades e das situações de trabalho, ou seja, confrontando o idealizado com o real e
buscando estabelecer uma relação de fatos em situação de trabalho que esteja contribuindo
para a ocorrência de efeitos negativos sobre a saúde. Neste estudo a AET tem um papel
primordial de evidenciar as causas de desconforto sofridas pelo CD por analisar a estrutura do
trabalho, as relações do indivíduo consigo mesmo, com outros sujeitos, os instrumentos e os
objetos (JAMIL, 2004). Para este estudo foi selecionado um caso cujo profissional é do sexo
feminino, com 22 anos de formada, sem auxiliar e que atua na clínica geral como liberal. Este
perfil está bastante próximo do perfil traçado pela pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro
de Estudos e Pesquisas Sócioeconômicos (Inbrape) com 614 CDs, no ano de 2002, onde a
maioria dos profissionais é do sexo feminino (57,5%), trabalha sem auxiliar (56,7%) e atua na
clínica geral (76,7%).
1
A palavra constrangimento origina do latim constringere e significa apertado, aperto, compressão, coação,
obrigatoriedade, restrição, cerceamento, injunções, etc. em ergonomia ela pode ter o mesmo significado mas
aplicado ao trabalho humano.
2
Pretendese após este estudo ter as referências necessárias que evidenciarão a
necessidade de se desenvolver e/ou aperfeiçoar instrumentos, equipamentos bem como uma
nova proposta de organização do trabalho deste profissional de modo a melhorar sua
qualidade de vida.
1.2 J ustificativa
A busca por este tipo de pesquisa foi motivada pela necessidade sentida pela
pesquisadora de aprofundar nos estudos dos fatores causadores dos problemas músculo
esqueléticos enquanto trabalhava como fisioterapeuta em uma clínica de reabilitação e
realizava inúmeros tratamentos de dentistas. Os poucos estudos na área fez com que este tema
fosse de interesse acadêmico e adequado para uma dissertação.
Apesar de estudos sistemáticos que são feitos desde a década de 50 e são responsáveis
pelas primeiras propostas de modificações no processo de trabalho dos dentistas, inclusive a
mudança do trabalho da posição ortostática para a posição sentada, o conhecimento sobre
esses problemas ainda é incipiente (BARRETO & FILHO, 2001).
Estudar o posto de trabalho do cirurgiãodentista através da metodologia da Análise
Ergonômica do Trabalho (AET), visando construir um ponto de vista da atividade desta
profissão para a construção das recomendações ergonômicas.
1.3.2 Objetivos Específicos
a) Obter as referências necessárias que evidenciarão a necessidade de se desenvolver
e/ou aperfeiçoar instrumentos e/ou equipamentos que melhorem a qualidade de vida dos
cirurgiõesdentistas.
b) Identificar as estratégias adotadas para reduzir os constrangimentos no trabalho;
c) Fazer as recomendações ergonômicas necessárias para o caso estudado.
1.4 Limitações
Por se tratar de um estudo de caso isolado não é possível generalizar os resultados,
porém esperase encontrar os pontoschave comuns a todos os CDs. Neste trabalho o uso de
recursos áudiovisuais como meio de apoio à coleta de dados, ficou limitado devido à
preocupação em se proteger a privacidade do paciente.
O Capítulo 2 destinase a revisão da literatura sendo dividido em quatro partes: a
primeira discorre sobre o histórico da odontologia, como surgiu e se desenvolveu. Fica
evidente que a profissão evoluiu muito tecnicamente, mas não da mesma forma em relação à
posição de trabalho; a segunda parte destinase ao histórico da Ergonomia e da sua aplicação
nas diversas áreas; a terceira parte se refere aos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho – DORT – no CD; a quarta parte trata da Odontologia e Ergonomia que visa
descrever as contribuições ergonômicas no trabalho do CD; a quinta e última parte descreve o
método Análise Ergonômica do Trabalho (AET), suas aplicações e adequações para este
estudo.
4
O Capítulo 3 trata especificamente da aplicação da metodologia AET no estudo de
caso selecionado.
O Capítulo 5 traz as recomendações para o caso estudado, as conclusões, bem como as
sugestões para trabalhos futuros baseados no conteúdo desta dissertação.
5
cita o papiro de Ebers, da civilização egípcia, como sendo um dos primeiros documentos da
história da medicina e dá destaque onde se lêem algumas passagens referentes às dores de
dentes, abscessos e gengivites. Provas fiéis de arte dentária são encontradas nas múmias do
Egito: dentes ourificados e peças protéticas. Investigações realizadas sobre maxilares no
período neolítico demonstram já atos cirúrgicos e extrações dentárias. O primeiro implante
data do século VII a.C. ao ser identificado na Argélia um crânio feminino com uma falange
implantada na região dos prémolares superiores (GÁRCIA & MÉNDEZ, 2002).
100 a.C. O romano Celsus escreveu, no seu importante compêndio de medicina, sobre
a higiene oral, colocação de dentes perdidos, tratamentos para dores de dentes e fraturas dos
maxilares.
500 1000 d.C. Durante a Idade Média, na Europa, a medicina, a cirurgia e a
odontologia eram praticadas pelos monges.
700 d.C. Um texto chinês sobre medicina menciona a utilização de “pasta de prata”
como um tipo de amálgama.
1130 1163 Os Éditos Papais proibiram os monges de executar qualquer tipo de
cirurgia, sangria ou extração dentária. Após os Éditos, os barbeiros tomaram o lugar dos
monges visto que já costumavam ajudálos nas suas atividades cirúrgicas.
1210 Surge, na França, uma corporação de barbeiros. Havia dois grupos de barbeiros:
os que foram treinados e educados para fazer cirurgias complexas e os que executavam
serviços rotineiros de barbear, sangria e extração dentária. Estes eram os cirurgiõesbarbeiros.
1363 O termo dentista foi criado pelo cirurgião francês Guy Chauliac e apareceu em
seu livro “Chirugia Magna”.
1500 No Brasil, a odontologia passa a ser conhecida a partir da carta de Pero Vaz de
Caminha que descreve os habitantes com bons rostos, o que pode indicar dentes sadios e
bonitos. Crânios encontrados em Lagoa Santa (MG), em regiões litorâneas de São Paulo e do
Paraná e observações dos primeiros colonizadores indicam que os índios tinham dentes bem
implantados e com pouquíssimas cáries, mas acentuada abrasão, causada pela mastigação de
alimentos duros. A tribo kuikuro, do norte do Mato Grosso, preenchia cavidades dentárias
com resina de jatobá aquecida, que cauterizava a polpa e funcionava como uma obturação,
depois de endurecida.
1530 Foi publicado, na Alemanha, o primeiro livro dedicado unicamente à arte
dentária. Escrito para barbeiros e cirurgiões que tratam a boca, o livro fala de higiene oral,
extração dentária, brocagem de dentes e colocação de obturações em ouro.
1534 1536 Na época da criação das capitanias hereditárias, com a chegada das
expedições colonizadoras e a formação dos primeiros núcleos de povoação, chegam ao Brasil
mestres de ofício de diversas profissões. Eram artesãos entre os quais se incluíam os barbeiros
que além de cortar e pentear os cabelos e barbear faziam curativos em muitos tipos de
machucados e operações cirúrgicas pouco importantes. Por possuírem grande habilidade
manual, passaram a cuidar da boca, fazendo extrações dentárias. O Regimento do Físicomor
de Portugal, datado de 25 de fevereiro de 152
8
Figura 1: Chaves de Garengeot, pelicano e fórceps. Fonte: Museu e biblioteca de Odontologia de São Paulo
Séc. XVIII Surgem os primeiros vestígios de legislação brasileira, regularizando o
exercício da arte de curar em todos os seus ramos. Com o paulatino enriquecimento do estado
de Minas Gerais, incrementado com o início do ciclo do ouro, a Casa Real Portuguesa nomeia
o primeiro cirurgiãomor desse estado, regulamentando os práticos de toda metodologia
dentária. A prática passava a contar agora com certo grau de organização, tanto que, nesse
mesmo período, a Lei 17 de junho de 1782 cria a Real Junta de ProtoMedicato, formada por
sete deputados, médicos ou cirurgiões, para um período de três anos, para uma melhor
fiscalização das colônias portuguesas. A essa junta caberia o exame e a expedição de cartas e
licenciamento de todos aqueles que tirassem dentes.
Nas últimas décadas deste século, surgiu agitando o cenário político brasileiro,
Joaquim José da Silva Xavier (1746 1792), conhecido como Tiradentes, por exercer entre os
seus múltiplos ofícios, o de dentista. Tiradentes possuía grande habilidade como operador e
que não se limitava a isso, também esculpia, provavelmente em marfim ou osso de canela de
boi, coroas artificiais para repor no lugar dos dentes ausentes. Entre os objetos encontrados
em sua casa, em Vila Rica, havia cinco pratos de pó de pedra branca, dois frascos de vidro
grandes, duas garrafas finas pequenas, uma peneira de seda e instrumental de dentista. Os
9
instrumentos fazem parte da reserva técnica do Museu Histórico Nacional (RJ): são dois
fórceps, duas chaves de extração e uma espátula. É considerado o “Patrono da Odontologia".
Nessa época não existia o tratamento de canal, os dentes eram extraídos com alavancas
rudimentares, as obturações eram de chumbo sobre os tecidos cariados e polpas afetadas. As
próteses eram simples e amarradas com fios aos dentes que haviam sobrado. Dentaduras eram
esculpidas em marfim ou osso. Dentes humanos ou de animais eram utilizados e retidos na
boca por molas.
1760 O inglês John Baker é o primeiro dentista, treinado sob o ponto de vista médico,
a praticar a odontologia na América.
1789 O francês Nicolas Dubois de Chemant recebe a patente para dentes de porcelana.
1790 Foi construída a primeira cadeira (Figura 2) feita especificamente para o
paciente, pelo dentista americano Josiah Flagg. Era portátil, de fácil montagem e acoplada a
uma caixa com a qual era transportada ao lugar onde o paciente estava. Foi utilizada entre
1885 a 1930.
Figura 2: Primeira cadeira odontológica. Fonte: Reprodução Catálogo Geral S. S. White 1929.
23 de maio de 1800 Foi criado o “Plano de Exames”, que consistia em um
aperfeiçoamento das formalidades e dos exames. É encontrado nesse ano em documentos do
Reino o vocábulo “dentista”. Esse é o início da arte dentária como profissão autônoma no
Brasil.
Início de 1808 Fugindo das forças francesas, o príncipe regente D. João VI, sua corte
e a elite portuguesa (15 mil pessoas) chegavam a Salvador, tornandose o Brasil, sede do
reino. Houve um grande surto de progresso. No hospital de São José, na Bahia criouse a
Escola de Cirurgia, graças à interferência do Dr. José Correa Picanço, físico e cirurgiãomor,
em nome da Real Junta do ProtoMedicato, mas que em nada beneficiou os dentistas, pois não
10
só licenciou os profissionais da corte como expediu cartas legalizando 11 barbeiros de
Salvador, todos negros, de baixa classe social, forros e até alguns escravos de poderosos
senhores.
sr Março de 1808 A família real chega ao Rio de Janeiro e o cirurgiãomor iniciou o
licenciamento dos profissionais da Corte, estendendo a fiscalização por todo reino. As
autorizações eram semelhantes às expedidas aos barbeiros baianos. Igualmente a Bahia os
barbeiros e sangradores eram normalmente es r
11
curativos nos dentes com licença dependendo do físicomor, ou seja, a parte médica da
profissão.
1820 José Correa Picanço, cirurgiãomor, concedeu ao francês Doutor Eugênio
Frederico Guertin, a primeira carta a um dentista mais evoluído, por ser diplomado pela
Faculdade de Odontologia de Paris, para exercer sua profissão no Rio de Janeiro. Este recebeu
permissão para extrair dentes, praticar todas as operações necessárias ao ramo, fazer
curativos, etc. Este profissional atingiu elevado conceito, atendendo a maior parte da nobreza,
inclusive D. Pedro II e familiares. Este verdadeiro dentista trouxe um progresso imensurável,
principalmente referente à prótese. Colocava coroas metálicas, obturava dente com ouro ou
chumbo, fazia limpeza nos dentes ou os extraia. Publicou em 1819 "Avisos tendentes à
conservação dos dentes e sua substituição", sendo, ao que tudo indica a primeira obra de
odontologia feita no Brasil. Em seguida outros dentistas franceses vieram trazendo o que
havia de melhor na odontologia mundial.
30 de agosto de 1828 D Pedro I (17981834) suprime o cargo de cirurgiãomór, cujas
funções passaram a serem exercidas pelas Câmaras Municipais e Justiças Ordinárias. O
objetivo dessa mudança era descentralizar a concessão de licenças, mas esbarrava na falta de
profissionais capacitados a examinar os candidatos em todos os lugares.
1832 James Snell inventou a primeira cadeira dentária reclinável.
1839 Foi publicado o American Journal of Dental Science, o primeiro jornal sobre
dentária no mundo.
A partir de 1840 Os dentistas franceses foram aos poucos suplantados com a chegada
de profissionais dos Estados Unidos, como Clintin Van Tuyl, o primeiro a utilizar
clorofórmio, em casos excepcionais, para anestesia. Em 1849 publica seu livro: "Guia dos
dentes são”. Este guia era destinado ao grande público, porém foi aproveitado pelos dentistas
da época, porque abrangia todos os assuntos odontológicos.
1840 Foi fundada a American Society of Dental Surgeons.
12
1850 Criada a Junta de Higiene Pública, em substituição à fiscalização exercida pela
Câmara Municipal, onde pelas medidas saneadoras possibilitou à medicina uma enorme
evolução. Esta Junta era responsável por ações saneadoras e pela regularização de
profissionais formados em universidades estrangeiras. Um ano depois, o decreto nº. 828,
artigo 28, determinava que médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras apresentassem
suas cartas de habilitação à Junta.
1859 Formação da American Dental Association (ADA).
18611865 Outros dentistas chegam dos Estados Unidos, alguns fugindo da Guerra da
Secessão.
1866 Lucy Hobbs, americana, foi a primeira mulher a conseguir o grau de medicina
dentária.
1870 O ensino da odontologia ganhou mais impulso no Brasil a partir do decreto
7.247, artigo 24, de 19 de abril de 1879, que determinava que a cada faculdade de Medicina
ficassem anexos uma escola de Farmácia, um curso de Obstetrícia e Ginecologia e um curso
de Cirurgia Dentária. Estava cada vez mais próxima a criação de um curso de odontologia.
1871 James Morrison revolucionou a prática da odontologia ao patentear a broca
elétrica acionada por pedal.
1871 O americano George Green recebe a patente pelo primeiro mecanismo elétrico
para odontologia: um motor independente associado a uma peça de mão.
13
1877 Surge a primeira cadeira dentária com mecanismo hidráulico, por Wilkerson.
4 de julho de 1879 – Brasil – a Decisão do Império nº. 10 concedia aos aprovados no
curso de cirurgia dentária o título de Cirurgiãodentista, mas o privilégio de “Cirurgião
dentista da Casa Imperial” era outorgado aos nascidos em famílias da alta sociedade, em geral
formados no exterior. Um levantamento entre 1840 e 1889 nos “Livros da Mordomia Mor da
Casa Imperial”, observouse que apenas 32 profissionais foram agraciados com tal privilégio
por D. Pedro II, estes na sua maioria do Rio de Janeiro.
1889 Formouse pela Faculdade de Odontologia do Rio de Janeiro, Isabela Von
Sidow, paulista de Cananéia, tornandose a primeira mulher dentista formada no Brasil.
25 de outubro Ficou sendo o "Dia do Cirurgiãodentista Brasileiro", pois nesta data
em 1884, Vicente Cândido. F. Sabóia e Thomas Gomes dos Santos Filho, escreveram um
texto dentro dos Estatutos das Faculdades de Medicina do Império, denominado "Reforma
Sabóia”, através do decreto nº. 9311, onde constava pela primeira vez, que a odontologia
formaria um curso independente.
1880 O tubo metálico flexível revoluciona tanto o processo de fabricação como o
marketing da pasta de dentes. Até aqui, os dentifrícios apenas existiam sob a forma de líquido
ou de pó e eram feitos por dentistas. Eram vendidos em garrafas, recipientes de porcelana ou
caixas de papel. O tubo de pasta de dentes, pelo contrário, é produzido em massa nas fábricas,
o seu marketing é feito em grande escala e é vendido em todos os EUA.
23 de fevereir o de 1880 O Visconde de Sabóia assumiu a direção da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro e atualizou o ensino material e cientificamente, criando
laboratório de cirurgia dentária, trazendo aparelhos e instrumentos dos Estados Unidos e
montou um laboratório de prótese dentária. A Thomas Gomes dos Santos Filho, cirurgião
dentista, a odontologia nacional muito deve, principalmente por ter descoberto a fórmula de
vulcanite e em seguida produzila.
12 de mar ço de 1881 O decreto nº. 8024, art. 94 do Regulamento para os exames das
Faculdades de Medicina diz: “Os cirurgiõesdentistas que quiserem se habilitar para o
14
exercício de sua profissão passarão por duas séries de exames: o primeiro de anatomia,
histologia e higiene, em suas aplicações à arte dentária; o outro de operações e próteses
dentárias”.
25 de outubro de 1884 O ensino de odontologia foi oficialmente instituído no Brasil,
por intermédio do Visconde de Sabóia. No início, o ensino era vinculado às Faculdades de
Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, programado em três séries. Ao concluir o curso, o
aluno recebia o título de Cirurgiãodentista, sem colar grau ou outras formalidades.
1885 A primeira assistente de odontologia é empregada pelo dentista Edmond Kells.
As suas funções eram de assistir o dentista durante o tratamento dos pacientes, de limpar os
instrumentos, fazer o inventário, apontamentos, a contabilidade e a recepção.
1890 Willoughby Miller, um dentista americano ao trabalhar na Alemanha, diz num
livro seu que a cárie dentária é originada por micróbios. Isto provocou um grande interesse
pela higiene oral dando origem a um movimento, ao nível mundial, para promoção de uma
escovação regular dos dentes e da utilização do fio dental.
8 de novembr o de 1895 No laboratório da Universidade de Wurzburg, o físico alemão
Wilhelm Conrad Roentgen (18451923) descobre o Raio X. Esta descoberta trouxe uma
grande colaboração nos tratamentos dentários e médicos.
1896 O dentista Edmond Kells fez a primeira radiografia dentária em pessoa viva nos
EUA.
1905 O químico alemão Alfred Einhorn formulou a anestesia local com procaína que
mais tarde ficou com o nome comercial de Novocaína.
1913 Alfred Fones fundou a primeira Escola de Higiene Oral e ficou conhecido como
o Pai da Higiene Dental dado que foi o primeiro a utilizar este termo.
1917 Fundação da Associação Brasileira de Odontologia Nacional, sob a identificação
de Federação Odontológica Brasileira (ABO, 1998).
15
Anos 30 Surge a industrialização das cadeiras odontológicas, próximas aos padrões
atuais. Nos anos 70, ela toma o formato atual, com mesas e aparelhos auxiliares.
1930 1943 Frederick McKay, dentista do Colorado, verificou que níveis elevados de
flúor na água de beber estavam associados a um baixo nível de cáries e a um alto grau de
manchas castanhas no esmalte dos dentes. Por volta de 1940, Trendley Dean determinou o
nível ideal de flúor na água de modo a reduzir as cáries dentárias sem manchar os dentes.
1938 Surge a primeira escova de dentes feita com fibras artificiais (nylon).
1945 As cidades de Newburgh e New York introduziram fluoreto de sódio nas suas
redes públicas de água.
1950 Começa a ser vendida a primeira pasta de dentes com flúor.
1957 John Borden introduz a turbina de alta rotação. A Airotor consegue velocidades
de 300.000 rpm e foi um sucesso comercial instantâneo.
1958 Surge uma cadeira dentária totalmente reclinável.
1960 Os raios laser são desenvolvidos e aprovados para procedimentos em tecidos
moles.
1960 É comercializada a primeira escova de dente elétrica. Foi desenvolvida na Suíça
depois da 2ª. Grande Guerra e introduzida depois nos EUA.
1962 Rafael Bowen desenvolve BisGMA, a complexa resina utilizada na maior parte
dos modernos materiais de restauração dos dentes.
1990 Tem início a era da odontologia associada à estética com o aparecimento de
novas cores de materiais de restauração, de tratamento para o branqueamento dos dentes e a
colocação de implantes dentários.
16
Desde a primeira citação sobre os vermes dos dentes pelos Sumérios (5000 anos a.C.)
até os dias de hoje com os sofisticados tratamentos curativos, corretivos e estéticos a
odontologia muito evoluiu principalmente no que diz respeito ao instrumental, aos
equipamentos, a técnica e ao reconhecimento da profissão. No entanto, em relação à postura
de trabalho, o CD passou de um atendimento itinerante, onde inclusive levava consigo a
cadeira odontológica, para o confinamento em salas cada vez menores tornandose refém de
todo o arsenal que utiliza para seu trabalho, da técnica e do contexto atual de alta
competitividade. A ergonomia em muito contribuiu para a evolução da odontologia, tanto em
relação ao conforto do paciente quanto em relação aos equipamentos e as posturas de trabalho
do CD. Por isso, conhecer o histórico da ergonomia, seus conceitos e aplicações contribuirá
para uma ampla abordagem do posto de trabalho odontológico.
2.3 Er gonomia
Etimologicamente o termo “ergonomia” significa regras, leis naturais (nomos) do
trabalho (ergon ). O termo foi criado por Wojciech. Jastrzebowski em 1857 no seu artigo
intitulado “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseados nas leis objetivas da
ciência sobre a natureza”. No entanto, foi apenas em 16 de fevereiro de 1950, que Murrel
propõe o termo ergonomia após consultar estudiosos da língua grega e latina (IIDA, 2005).
Sanders & McCormick (1993) consideram que a ergonomia remonta a iniciativas
empíricas desde a préhistória em que o homem buscou formas de adaptar o ambiente ao
redor às suas necessidades, transferindo a força de seu trabalho para animais, adequando
instrumentos às suas características anatômicas.
Com a 2ª. Guerra Mundial (1939 1945) novos aparatos tecnológicos surgem, aviões
cada vez mais velozes, submarinos, radares e tanques foram instituídos rapidamente,
tornandose indispensáveis nos campos de batalha. A nova realidade trouxe uma série de
comandos complexos que somados ao clima de tensão excessiva, pressões físicas e
psicológicas levavam os operadores a muitos erros, alguns com conseqüências fatais. Os
equipamentos militares exigiam dos operadores raciocínio e decisões rápidas em condições
críticas, grande quantidade de informações, alta complexidade nas operações, demonstrando
se assim várias incompatibilidades entre o humano e o tecnológico (MORAES, 2005).
Neste cenário, vários pesquisadores, entre eles o engenheiro inglês K. F. Hywell
Murrel, o fisiologista Floyd e o psicólogo Welford empenharamse no estudo que buscava
adaptar os instrumentos bélicos às características e capacidades do militar, visando reduzir as
17
perdas humanas e materiais. Além de se agravar o conflito entre o homem e a máquina,
deixam a desejar também as formas tradicionais de resolução dos mesmos – a seleção e o
treinamento. Assim engenheiros juntamse a psicólogos e fisiologistas para adequar a nova
tecnologia não só as características físicas, mas também psicológicas e cognitivas. Desta
forma integramse à análise outras variáveis como recepção e tratamento da informação
(ABRAHÃO & PINHO, 2001). Esta cooperação pluridisciplinar também propunha utilizar as
descobertas na indústria ou em qualquer outra atividade civil. Esses pesquisadores em 1949
formaram uma sociedade a “Ergonomic Research Society” para estudar o homem em
ambiente de trabalho. Os ergonomistas voltaram sua atenção para as milhares de máquinas
presentes no cotidiano e descobriram que “muitos dos erros que atormentavam marinheiros,
soldados e aviadores, existiam – e ainda existem – nas fábricas, nas estradas, na sinalização
urbana, nos tratores, caminhões, automóveis e até mesmo num fogão doméstico” (MORAES,
2005). Muitos projetos inadequados, de incompatibilidade no sistema homemtarefamáquina
como painéis com difícil interpretação pelo operador, sinais de trânsito que confundem os
motoristas, instrumentos de difícil manuseio são oriundos da falta de estudos para a adaptação
às características físicas, psíquicas e cognitivas humanas.
Em meados dos anos 50 do século passado a ergonomia surge na França em serviços
especializados nas indústrias. É importante esclarecer que em virtude da ausência da França
na aventura tecnológica advinda da exigência militar na II Guerra Mundial, os ergonomistas
francófonos foram conduzidos a estabelecerem uma problemática com menor influência da
abordagem sistêmica. Em 1958, J.M. Faverge, J. Leplat e B. Guiguet publicam a obra
“ L’adaptation de la machine à l’homme” pela Presses Universitaires de France. Mas sua
institucionalização só acontece no início dos anos 60 com a criação da Société d’Ergonomie
de Langue Française (SELF) que agrupava profissionais da França, Suíça, Bélgica e
Luxemburgo. Seu objetivo era o de adaptar o trabalho ao homem, tendo como foco o estudo
específico do trabalho humano. Essa abordagem francofônica é voltada para a atividade
realizada, centrandose no estudo da interrelação entre o homem e o contexto de produção de
bens e serviços no qual está inserido. Tal pensamento se opôs ao conceito dominante à época:
a adaptação do homem a sua profissão (BONNARDEL, 1943 apud WISNER, 2004).
É necessário, de acordo com Wisner (2004), apresentar brevemente as disciplinas que
contribuíram para a ergonomia nascente como eram naquela época a fim de evitar concebêlas
como são atualmente. As disciplinas são:
18
· A fisiologia do trabalho estava baseada nas questões energéticas do trabalho muscular,
tanto na Alemanha, (MaxPlanck Institüt für Arbeitphysiologie de Dortmund) como
na França (Laboratório de Fisiologia do Trabalho do Conservatoire National des Arts
et Métiers CNAM). As medidas de consumo de oxigênio, da freqüência cardíaca e da
temperatura central do corpo possibilitavam o estudo da fisiologia do trabalho
muscular e os efeitos do calor. A eletromiografia (EMG) surgiu mais tarde. As
pesquisas em relação à neurofisiologia do trabalho somente eram relativas à visão e à
fadiga auditiva.
· A antropometria voltada para ergonomia estava em conflito com a antropologia física,
a qual tinha como problemática as teorias e metodologias voltadas a caracterizar os
esqueletos das etnias vivas ou de escavações. O ergonomista estava interessado no
conhecimento das características de trabalhadores vivos. Portanto, não se conseguia
um diálogo científico que atendesse as necessidades dos ergonomistas.
· A psicologia usada na ergonomia era considerada experimental. Esta se surpreendia
com a pequena amostra necessária aos fisiologistas e estes ficavam surpresos com a
variabilidade dos resultados encontrados pelos psicólogos. As questões
epistemológicas dificultavam o diálogo entre estes profissionais.
Não foi fácil para os “ergonomistas constituírem uma abordagem comum dos
problemas colocados pela prática” (WISNER, 2004), pois o mesmo fenômeno industrial seria
tratado como antropométrico, biomecânico, fisiológico ou psicológico de acordo com o
especialista que fosse consultado.
Na mesma época se forma nos Estados Unidos a Human Factors Society, a ergonomia
dos métodos e das tecnologias, centrada na contínua necessidade de adaptação da máquina ao
homem e que utiliza a ciência para melhorar as condições de trabalho. “O Departamento de
Defesa Aérea dos EUA "USAF", começou a financiar a atividade, atitude que alicerçou as
pesquisas, e deu aos militares a vanguarda nos estudos e pesquisas da época. O próprio termo,
Human Factors, possui uma forte conotação militarista, sendo que os estudos antropométricos
19
realizados serviram para a construção de aeronaves equipamentos e posteriormente o projeto
da cápsula espacial. Pela primeira vez os projetos eram feitos de dentro para fora. No entanto,
sua aplicação na indústria tomou uma conotação de menosprezo, servindo muito pouco para a
elaboração de novos projetos” (MORAES, 2005).
50 Ergonomia militar
60 Ergonomia industrial
70 Ergonomia do consumo
80 Ergonomia de software e da interação homemcomputador
90 Ergonomia organizacional e cognitiva
00 Era da comunicação global e da ecoergonomia
Quadro 1: A evolução da ergonomia
A ergonomia é uma disciplina jovem, em evolução, e que vem reivindicando o status
de ciência como afirma Abrahão & Pinho (2001). Montmollin (1990) a define como a Ciência
do Trabalho ou por Wisner (1990) uma arte alimentada de métodos e conhecimentos
resultantes da investigação científica. A arte na qual são utilizados o saber tecnocientífico e o
saber dos trabalhadores sobre a própria situação do trabalho (WISNER, 1994). A
ergonomia está conceitual e eticamente comprometida com o ser humano e deve ser entendida
como a ciência de aplicação dos conhecimentos relativos ao homem, ao processo e aos
produtos, buscando o funcionamento harmônico e seguro do sistema homemmáquina
(OLIVEIRA et al., 1998). Um dos interesses da ergonomia (ABRAHÃO & PINHO, 2001) é
saber o que os trabalhadores realmente fazem, como fazem e porque fazem.
acentua fortemente, segundo Curie (2004), o caráter pragmático de seu objetivo e abordagem:
ergonomia é a utilização de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para
conceber instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados pelo maior número
de pessoas, com o máximo de conforto, de segurança e de eficiência . (Wisner (1996) apud
Abrahão
21
· Ergonomia de correção: quando a ergonomia é aplicada a situações reais para se
resolver problemas que se refletem na segurança, fadiga excessiva, doenças do
trabalhador ou quantidade e qualidade da produção;
· Ergonomia de participação: é a que procura envolver o próprio usuário (trabalhador ou
consumidor) do sistema na solução de problemas ergonômicos.
Com o surgimento dos livros de Chapanis (1962, 1972) e Miester (1971, 1985) uma
nova abordagem metodológica com ênfase na observação sistemática do trabalho, análise da
tarefa, medidas do ambiente e levantamentos antropométricos passaram a fazer parte do
22
escopo do ergonomista brasileiro (Soares, 2004). O acesso à bibliografia francesa em especial
os livros de Montmollin (1986), Sperandio (1984) e Wisner (1987), acrescentou novas
ferramentas e métodos de intervenção da ergonomia no Brasil.
O desenvolvimento da ergonomia no Brasil foi influenciado pela Ergonomia da
Atividade, praticada nos países de língua francesa e foi difundida a partir dos anos 70 por
Alain Wisner, devido à formação de diversos mestres e doutores em ergonomia e por meio de
suas várias viagens ao Brasil (LIMA & JACKSON FILHO, 2004). Ainda para Ferreira &
Mendes (2003) a Ergonomia da Atividade é uma abordagem científica que investiga a inter
relação entre os indivíduos e o contexto de produção de bens e serviços (espaço físico,
organizacional e social). Ela analisa as contradições presentes nesta interrelação e, em
conseqüência, as estratégias individuais e coletivas de mediação operatórias que são
forjadas para responder à diversidade de exigências existentes nas situações de trabalho .
Apesar desta forte influência, podemse distinguir duas linhas ergonômicas presentes
no Brasil: uma dos métodos e das tecnologias, mais antiga e caracteristicamente americana
(anglosaxônica), centrada na contínua necessidade de adaptação da máquina ao homem,
chamada de human factors e outra mais recente de origem européia (francofônica), que tem
como foco o estudo específico do trabalho humano, visando adaptálo ao homem. Essa
abordagem francofônica é voltada para a atividade realizada, centrandose no estudo da inter
relação entre o homem e o contexto de produção de bens e serviços no qual está inserido.
Essas duas abordagens da ergonomia (MONTMOLLIN, 1990) não são contraditórias, mas
complementares, uma vez que a anglosaxônica realiza suas pesquisas, muitas vezes, em
laboratório, e a francofônica em situações reais de trabalho para verificar os aspectos que
constituem fatores de desgaste para o trabalhador.
23
O DORT não se caracteriza por uma patologia aguda. É de início insidioso onde o
indivíduo apresenta dor normalmente ao final da jornada de trabalho ou quando faz um
esforço maior. Em seguida, os sintomas são mais persistentes mesmo fora do trabalho. Caso
as condições de trabalho não mudem os sintomas passam a afetar as atividades da vida diária,
como pendurar roupa no varal, segurar uma panela, parafusar, girar uma maçaneta, secar os
cabelos, etc. À dor e ao desconforto são somados outros sintomas e sinais como o edema,
perda da força e o calor local.
É importante saber que quando um diagnóstico de DORT é indicado significa que
existe uma síndrome já bem conhecida da medicina (ortopedia, reumatologia e clínica
médica), decorrente do uso excessivo das estruturas osteomusculares por condições especiais
e inadequadas de trabalho (OLIVEIRA et al., 1998), ou seja, a patologia desenvolvida pelo
trabalhador possui sua origem no trabalho. Sem este nexo causal uma patologia não pode ser
caracterizada como DORT para fins legais. Essas patologias não têm um tratamento difícil,
mas possuem uma má evolução, diminuindo o desempenho profissional, caso não se aborde
de forma efetiva o fator causador.
Como se pode observar no histórico da odontologia, a profissão evoluiu muito
tecnicamente, seja no que diz respeito aos materiais ou aos instrumentos. Nos últimos tempos
esta evolução tem sido cada vez mais rápida devido às pesquisas mais intensas que tentam
atender a uma demanda cada vez maior com o objetivo de se aumentar a produtividade e
24
diminuir os custos. Dentro de um contexto global, segundo Saquy e Pécora (1994), o trabalho
tornase mais dependente da técnica, o que aumenta de forma assustadora o número de
acidentes e doenças profissionais. No que toca ao CD, existe um grande risco de desenvolver
tais doenças devido ao uso e dependência também cada vez maiores da técnica para exercer
com êxito sua profissão e se tornar mais competitivo.
A ANVISA (BRASIL, 2006), em seu documento “Serviços Odontológicos: Prevenção
e Controle de Riscos” considera como riscos ocupacionais a possibilidade de perda ou dano e
a probabilidade de que tal perda ou dano ocorra. Implica, pois, na probabilidade de ocorrência
de um evento adverso. Segundo o documento, os riscos mais freqüentes a que estão sujeitos
os profissionais que atuam em assistência odontológica são:
· Os físicos: ruído, vibração, radiação ionizante e nãoionizante, temperaturas extremas,
iluminação deficiente ou excessiva, umidade e outros. São causadores desses riscos:
caneta de alta rotação, compressor de ar, equipamento de RX, equipamento de laser,
fotopolimerizador, autoclave, condicionador de ar, etc.
· Os químicos: poeiras, névoas, vapores, gases, mercúrio, produtos químicos em geral e
outros. Os principais causadores desses riscos são: amalgamadores, desinfetantes
químicos (álcool, glutaraldeído, hipoclorito de sódio, ácido peracético, clorexidina,
entre outros) e os gases medicinais (óxido nitroso e outros).
· Os ergonômicos: postura incorreta, ausência do profissional auxiliar e/ou técnico, falta
de capacitação do pessoal auxiliar, atenção e responsabilidade constantes, ausência de
planejamento, ritmo excessivo, atos repetitivos, entre outros.
· Os mecânicos ou de acidente: entre os mais freqüentes, podemos citar: espaço físico
subdimensionado, arranjo físico inadequado, instrumental com defeito ou impróprio
para o procedimento, perigo de incêndio ou explosão; edificação com defeitos;
improvisações na instalação da rede hidráulica e elétrica; ausência de EPI e outros.
· Por ausência de conforto no ambiente de trabalho: sanitário em número insuficiente e
sem separação por sexo, falta de produtos de higiene pessoal, como sabonete líquido e
toalha descartável nos lavatórios, ausência de água potável para consumo, não
fornecimento de uniformes, ausência de ambientes arejados para lazer e confortáveis
para descanso, ausência de vestiários com armários para a guarda de pertences, falta
de local apropriado para lanches ou refeições, falta de proteção contra chuva, entre
outros.
25
· Os biológicos: a probabilidade da ocorrência de um evento adverso em virtude da
presença de um agente biológico. Sabese que as exposições ocupacionais a materiais
biológicos potencialmente contaminados constituem um sério risco aos profissionais
da área da saúde nos seus locais de trabalho. Estudos desenvolvidos nesta área
mostram que os acidentes envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos correspondem
às exposições mais freqüentemente relatadas.
Podese observar que os riscos são inúmeros, porém aqueles que estão fortemente
ligados ao desenvolvimento do DORT são os biomecânicos (postura, força, compressão
mecânica, repetitividade, habilidade) que estão enquadrados nos riscos ergonômicos. Oliveira
et al. (1998) afirmam que o DORT é o resultado do uso abusivo dos músculos e tendões, por
movimentos rápidos, repetitivos e de força, em ações estáticas e posturas inadequadas.
A abordagem dos aspectos biomecânicos do DORT é mais freqüentemente valorizada
talvez pelo fato de serem facilmente observados e mensurados. No entanto, Lym & Carayon
(1995) mapearam a base multifatorial do DORT que somados aos fatores biomecânicos
evidenciam que o caminho para amenizar esta problemática não pode se limitar apenas a um
destes fatores. A Figura 4 deixa bem clara a etiologia do DORT segundo estes autores.
Etiologia
Str ess
psicológico
DORT
Fator es
psicossociais Fator es
er gonômicos
Figura 4: Base multifatorial do DORT. Fonte: adaptado de Oliveira et al. (1998).
O exercício da profissão leva o CD a utilizar de forma intensa os membros superiores
o que pode gerar patologias específicas de acordo com sua especialidade. Contudo, Rasia
(2004) aponta além das posturas fixas, o estresse como um componente que pode acentuar as
patologias do trabalho. Aliados a isto também se encontram as características hereditárias e o
estilo de vida adotado por cada um.
Segundo Smith (1996), há oito fatores de risco que interferem na possibilidade de
ocorrência de distúrbios osteomusculares nos membros superiores relacionados ao trabalho.
São eles:
26
· A freqüência dos movimentos do membro superior: índice de repetição e duração da
exposição;
· A força necessária para realizar a tarefa ou a carga que cria forças na musculatura e
nos tecidos;
· A vibração;
· As condições ambientais;
· As características da organização do trabalho;
· As condições psicosociológicas;
· Os fatores de risco de ordem individual, tal como o sexo.
Com o intuito de esclarecer, mas não de esgotar o assunto, pretendese destacar as
principais patologias ou regiões corpóreas que o CD está predisposto a desenvolver.
Segundo Michelin et al. (2000) e Laderas & Felsenfeld (2002), os distúrbios que mais
acometem os CDs são: a síndrome do túnel do carpo, as tendinites e os problemas de pescoço
e coluna. Segundo uma pesquisa realizada por Rio & Rio (2000) com 450 dentistas na cidade
de Belo Horizonte, 92,12% sentiram nos últimos 12 meses dor ou incômodo físico
relacionados ao exercício da profissão e 96,85% consideram a profissão estressante. Gobbi
(2003), em sua pesquisa com 165 CDs de uma cidade no interior de São Paulo, encontrou
29
referência a algum tipo de sintoma osteomuscular nos últimos 12 meses em 92,7%, sendo que
as regiões mais afetadas foram a cervical (67,3%), punhos e mãos (63%), lombar (62,4%),
torácica (61,2%) e ombros (58,8%). Resultados próximos destes foram encontrados por
Finsen et al. (1998), onde 65% dos entrevistados em sua pesquisa na Dinamarca apresentavam
algum tipo de dor ou desconforto também nas regiões do pescoço e/ou ombros. No entanto,
para Régis Filho et al., (2005) as regiões mais afetadas pelo DORT são ombro/braço
(39,40%), punho/mão (18,30%) e pescoço (17,20%). Neste mesmo trabalho os autores
afirmam que o CD pertence a um grupo profissional exposto a risco considerável de adquirir
algum tipo de DORT desde que alguns fatores (força excessiva, posturas incorretas, alta
repetitividade de um mesmo padrão de movimento, compressão mecânica dos tecidos,
características pessoais) estejam presentes.
Michelin et al. (2000) também cita uma alta prevalência de dores lombares,
desconforto no pescoço e ombro. Burke et al. (1997) apontaram a aposentadoria prematura
por DORT em 29,5% da população de 393 CD pesquisados. Por fim, Murphy (1997)
sintetizou as pesquisas realizadas ao longo de 40 anos segundo o públicoalvo e região afetada
pela dor ou desconforto. É o que se pode observar no Quadro 3:
Segundo Murphy (1997), os fatores de risco para desenvolver o DORT foram
identificados e podem ser demonstrados pela não adoção dos princípios ergonômicos,
incluindo, dentre diversas causas, o posto de trabalho, as ferramentas, o paciente, as técnicas
de trabalho (uso do espelho), a organização e o ambiente de trabalho. No entanto, não estão
limitados somente a uma causa independente, apresentando assim, razão multifatorial,
concordando, portanto com Lym & Carayon (1995). Os dados acima confirmam a
necessidade de se compreender melhor a gênese destes distúrbios e a atividade do CD.
2.5 Er gonomia e Odontologia
As primeiras contribuições da ergonomia no campo da odontologia destinaramse a
melhorar as condições de trabalho dos CDs, criando e aperfeiçoando as ferramentas,
instrumentos e mobiliário utilizado por esses profissionais. A abordagem human factors ou
anglosaxônica é muito forte nos estudos ergonômicos voltados para essa área. De fato, na
revisão da literatura sobre ergonomia na odontologia ainda é incipiente os estudos com a
abordagem francofônica, ou seja, estudos ergonômicos voltados para a análise da atividade.
Embora seja citada no histórico da odontologia a construção da primeira cadeira em
1790, feita especificamente para os pacientes, pelo dentista americano Josiah Flagg, para
Barros (1993) a primeira grande novidade no campo da ergonomia voltada para a odontologia
se dá com a construção da cadeira operatória do tipo Relax, em 1944, sendo inspirada nas
poltronas para pilotos de bombardeiros B29, que proporcionaram ao dentista trabalhar com o
paciente na posição sentada ou reclinada e com o mínimo de tensão possível. Em seguida,
surgiram as demais inovações, tais como o primeiro mocho giratório, o PostureConfort
Stool, e a técnica para sucção de alta potência, WashedFieldTechnique, permitindo que o
dentista executasse seu trabalho com o campo operatório limpo, boa visibilidade e sem
maiores interrupções. Outra grande contribuição (MARQUAT, 1980) foi à concepção do
equipo dividido, split unit concept, que separava os elementos do equipo do CD dos
elementos da assistente, ao invés de estarem todos juntos, como era originalmente.
Contudo foi o artigo referente à Ergonomia em Odontologia publicado por Eccles e
Powell no Reino Unido que introduziu os conceitos de ergonomia para odontologia na década
de 50 (MURPHY, 1997). Em 1959, foi realizado um grande workshop sobre problemas
físicos relacionados ao trabalho odontológico na Western Reserve University School of
Dentistry, Cleveland, Ohio (LALUMANDIER et al., 2001 apud RASIA 2004). Esse
workshop foi realizado para avaliar as posturas e movimentos dos CDs em seu trabalho
31
clínico, sendo então publicado em 1963 o primeiro artigo norteamericano sobre Ergonomia e
Odontologia (MURPHY, 1997).
Posteriormente, em 1965, outros estudos foram realizados pela Pierre Fauchard
Academy, que confirmaram que um terço dos CDs sofria com problemas nas costas.
Kilpatrick e colaboradores identificaram as regras posturais e de procedimentos na década
seguinte e determinaram normas para o trabalho odontológico na posição sentada
(LALUMANDIER et al., 2001 apud RASIA, 2004).
De 1970 até a atualidade, as universidades têm trabalhado os conceitos e práticas na
atividade odontológica como a lógica nos procedimentos, o “trabalho a quatro mãos”, human
factors e ergonomia odontológica propriamente dita (LADERAS & FELSENDELD, 2002).
A University of British Columbia , no início da década de 1980, realizou pesquisas
buscando investigar a lógica nos procedimentos clínicos, baseado em um modelo postural
individual (RUCKER & SUNELL, 2002). Os trabalhos iniciaram com estudos de exercícios
proprioceptivos para determinar as preferências posturais do profissional e adoção de posições
para controle físico e visual na atividade de movimento fino, baseado nas necessidades
músculosesqueléticas individuais, anatômicas e fisiológicas. Utilizouse para isso estratégias
operacionais as quais tentavam neutralizar as limitações que talvez tenham sido impostas pelo
equipamento específico e pela experiência psicomotora prévia.
· Propiciar maior conforto no trabalho;
· Prevenir o estresse e a fadiga visual, física e psíquica;
32
· Prevenir o aparecimento de varizes dos membros inferiores.
Para Djerassi (1971) apud Castro & Figlioli (1999), a ergonomia aplicada à
odontologia tem como objetivo obter meios e sistemas para diminuir o estresse físico e
mental, prevenir as doenças ocupacionais, buscando uma produtividade mais expressiva.
Seguindo a linha Human Factors buscase a racionalização do trabalho (POI &
TAGLIAVINI, 1999) com a organização dos procedimentos clínicos, conceitos sobre
gerenciamento empresarial, noções sobre ergonomia, divisão da área de trabalho e postura de
trabalho, odontologia a quatro mãos e preservação da saúde do profissional. Para Castro &
Figlioli (1999), os princípios ergonômicos, os conceitos de racionalização dos procedimentos
odontológicos e sua respectiva aplicação são fundamentais para alcançar a simplificação do
trabalho, a prevenção da fadiga e o maior conforto tanto para equipe quanto para o paciente.
Segundo Iida (2005), o posto de trabalho (PT) é a configuração física do sistema
homemmáquinaambiente. É uma unidade produtiva envolvendo um homem e o
equipamento que ele utiliza para realizar o trabalho, bem como o ambiente que o circunda.
Para Rio & Rio (2000), o PT do CD é constituído pelos seguintes elementos:
· Cadeira odontológica;
· Mocho do dentista;
· Refletor;
· Equipo;
· Unidade suctora (sugador e cuspideira);
· Unidade auxiliar.
33
Para Barros (2006), o PT é formado por duas unidades dentárias tripartidas (UDT),
sendo que, cada UDT é dividida também em três unidades:
a) Unidade do paciente:
· Cadeira odontológica.
· Encosto para nuca e ombros.
b) Unidade do CD:
· Dois aparelhos de corte de alta rotação com as pontas;
· Dois aparelhos de corte de baixa rotação com as pontas (micromotor);
· Um aparelho auxiliar específico de acordo com a especialidade exercida pelo
profissional;
· Uma seringa tríplice (água, ar e spray);
· Armário fixo;
· Armário móvel;
· Uma bandeja auxiliar acoplada ao equipo;
· Um mocho;
· Comandos eletrônicos de todos os aparelhos no pé direito.
c) Unidade da auxiliar intrabucal:
· Armários fixos;
· Unidades suctoras de baixa e alta potência;
· Seringa tríplice;
· Funil (cuspideira móvel);
· Armário ou bandeja auxiliar;
34
· Mocho;
· Comandos eletrônicos de todos os aparelhos nos pés;
Neste trabalho, a unidade produtiva do caso estudado se enquadra no conceito de Rio
& Rio (2000), uma vez que é utilizado apenas uma UDT e sem uma equipe de auxiliares extra
e intrabucal.
Em relação à postura que deve ser adotada, a posição sentada é considerada a mais
favorável para exercer a atividade odontológica, pois o gasto energético é menor que em pé.
Barros (2006) cita a pesquisa de E. Atzler que em seu manual de fisiologia afirma que uma
pessoa sentada consome 4% de energia e uma pessoa em pé 12%. Quando se adota a postura
em pé e inclinada este consumo energético passa para 55%. De acordo com Barros (2006),
inicialmente o trabalho odontológico era executado com o CD em pé e sem auxiliar. Finsen et
al. (1998) constatou que 82% dos dentistas na Dinamarca trabalhavam principalmente
sentados, 13% em pé e o restante alternava essas posições. Segundo Iida (2005), a posição
sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter esta postura e a ligeira
inclinação para frente a torna mais natural e menos fatigante do que a ereta. Em relação à
posição em pé, a sentada tem a vantagem de liberar as pernas para tarefas produtivas e
facilitar a realização de trabalhos delicados com os dedos. Isto vem de encontro com a
atividade do CD que precisa ao mesmo tempo utilizar o pedal para acionar o motor e de
precisão motora e visual para intervir no dente. Dul & Weerdmeester (2001) vêem a postura
sentada também como menos fatigante que a postura em pé, contudo recomendam que não se
deva ficar por tempo prolongado na posição sentada. Este fato se torna mais importante para
as atividades que exijam um acompanhamento visual onde o pescoço e as costas ficam
inclinados para frente e são submetidos à tensão. Por fim, recomendam que quando a tarefa
exige um tempo prolongado sentado, devese alternar com outras tarefas que permitam andar
ou ficar em pé. De encontro a esta recomendação Barros (2006) sugere duas UDT para que o
CD possa alternar as posturas sentada, em pé e andando. No entanto, isto apenas se torna
possível quando se possui uma equipe de auxiliares.
Levando em consideração a racionalização do trabalho, a maneira mais favorável de se
trabalhar (BARROS, 2006) em odontologia é com o “trabalho a 4 mãos”. Desde 1943, Klein
35
demonstrou que um CD utilizando uma auxiliar atendia 33% de pacientes a mais que um CD
sem auxiliar. Em 1946, Waterman trabalhando com uma auxiliar bem preparada aumentou em
50% sua produtividade e com duas auxiliares aumentou para 75% (BARROS, 2006). Segundo
Finkbeiner (2000), o “trabalho a quatro mãos” abrange um conceito de trabalho em conjunto
por uma habilidade individual precisa dentro de padrões ergonomicamente delineados com o
intuito de promover produtividade da equipe odontológica, qualidade nos cuidados com o
paciente, ao mesmo tempo em que busca o bemestar dos profissionais que compõem o grupo.
Tal sistema de trabalho apenas é interessante quando o mesmo minimiza movimentos
indesejados e acelera a maioria dos procedimentos. A delegação de funções simples ao
auxiliar traz resultados altamente satisfatórios no balanço final.
Atualmente, é absurda a idéia de um CD trabalhar sem um auxiliar, mas há
profissionais que ainda o fazem (BARROS, 1995). A técnica de transferência de
instrumentos, comumente utilizada na medicina, aumenta a produtividade e é pouco utilizada
na odontologia. O “trabalho a quatro mãos” não se configura na simples transferência de
instrumental de um profissional para o outro e nem no aumento substancial de velocidade no
atendimento. Mais do que isso, esse sistema é o caminho para um trabalho inteligente e
eficiente.
Para muitos CDs e assistentes (FINKBEINER, 2000) é rotina afirmar que executam o
“trabalho a 4 mãos”. No entanto, os relatos de estresse físicos são evidentes, devido à
utilização inadequada de equipamentos e técnicas, pois há desconhecimento dos conceitos
básicos do “trabalho a 4 mãos”. Os dentistas podem, ainda, serem observados realizando
torções e virandose para alcançar instrumentos ao seu lado. Se o assistente não está repondo
constantemente todo o instrumental necessário e/ou os equipamentos não estão ao alcance do
assistente, o verdadeiro “trabalho a 4 mãos” não está sendo praticado.
Com o objetivo de orientar a atividade odontológica é que a Internacional
Organization for Standardization (ISO) e a Federation Dentaire Internacionale (FDI)
descreveram esquematicamente o sistema de trabalho para esta classe. O esquema se baseia
em um relógio imaginário colocado sobre o posto de trabalho odontológico onde se pode
indicar a posição a ser adotada pelo CD e seu auxiliar durante o atendimento do paciente (POI
& TAGLIAVANI, 1999; CASTRO & FIGLIOLI, 1999). No centro deste sistema encontrase
o campo operatório. O paciente com a cabeça voltada para as 12 horas e os pés para 6 horas.
A posição do CD e do auxiliar será então denominada de acordo com o número para o qual as
costas deste profissional estejam voltadas. A Figura 5 mostra o esquema gráfico com o CD
em 9h e seu auxiliar em 3h.
36
Figura 5: esquema gráfico ISO/FDI. Fonte: Porto (1994).
Além disso, toda a atividade do tratamento está em volta do paciente (FINKBEINER,
2000). Essa área de trabalho pode ser dividida em 4 zonas ou regiões de atividade. Essa
orientação também é realizada com um mostrador de relógio. Deste modo, temse para
profissionais destros a região:
· do operador: estendese das 7 às 12 horas;
· do assistente: das 2 às 4 horas;
· de transferência: entre 4 e 7 horas;
· estática: entre 12 e 2 horas.
Normalmente, o CD destro posicionase em 7, 9 ou 11 horas. As posições mais
vantajosas para execução do trabalho odontológico são em 9 e 11 horas. A posição 9 horas
(CASTRO & FIGLIOLI, 1999; BARROS, 2006) permite ao CD ampla visualização direta das
faces dos dentes inferiores e superiores, assim como da maioria das regiões da boca. Sua
vantagem em relação à posição de 7 horas é que se houver inclinação do tronco, esta será
frontal e não lateral, além de manter os braços junto ao corpo. Em 11 horas, o profissional
trabalha com visão indireta, principalmente das faces palatinas dos dentes anteriores
superiores, sendo orientada para utilização de instrumentos manuais e turbina de baixa
rotação.
Pesquisa realizada com CDs dinamarqueses apontou a posição de 10 horas como a
mais adotada, enquanto que as posições de 9 e 11 horas apresentaramse em segundo e
terceiro lugar respectivamente na preferência dos pesquisados. Nessa mesma pesquisa,
somente 2% dos profissionais trabalham sem auxiliares em tempo integral. Já 34% utilizam
auxiliares em mais de 50% de suas atividades e 18% clinicam com auxiliares em todos os
37
procedimentos (FINSEN et al, 1998). No Brasil, sabese que 56,7% dos CDs trabalham sem
auxiliar (CFO, 2002).
As sugestões para um posicionamento correto da equipe sugerem que o CD deve estar
sentado em posição de 9 horas, com o paciente reclinado em posição supina e o auxiliar
posicionado em 3 horas com pequenas variações à esquerda e à direita. Barros (2006) acredita
que nesta posição o CD pode atuar em qualquer dente, em qualquer face com visão direta
concordando, portanto com Castro & Figlioli (1999). O auxiliar (POLLACK, 1996) também
deve ter acesso total ao campo operatório, para que o serviço técnico tornese mais preciso.
Todos os aparelhos (equipos, periféricos, bandeja auxiliar com instrumentais e materiais
necessários, armários ou gavetas de armários, suctor, terminal de computador) e o campo
operatório devem estar em um plano horizontal imaginário que passa a altura do cotovelo do
CD quando ergonomicamente sentado. A tolerância de variação de altura para este plano é de
até 15 cm acima do mesmo.
Para Castro & Figlioli (1999), a visão direta para o auxiliar pode ser alcançada com o
posicionamento entre 1 e 3 horas, podendo também adotar a posição de 5 horas. No entanto a
posição de 3 horas permite que o auxiliar tenha uma visão direta do campo operatório,
desempenhando muito bem o afastamento e sucção, obtendose menor fadiga e assim, melhor
rendimento. Esse posicionamento é ideal quando o CD trabalha em 9 ou 11 horas. Para os
profissionais canhotos as posições devem ser invertidas com as do auxiliar.
Tanto o CD quanto seu auxiliar necessita do máximo suporte lombar oferecido por
seus respectivos mochos (POLLACK, 1996; POLLACKSIMON, 2000). O auxiliar necessita
estar a uma altura de 10 a 15 centímetros a mais que a visão do CD com um suporte para
descanso dos pés. A posição elevada permite uma visualização do campo operatório acima
das mãos do profissional, enquanto ocorre a assistência. Além disso, o paciente também
participa da adoção de posturas que facilitem o trabalho do CD. Sempre se deve solicitar ao
paciente que altere a posição de sua cabeça para melhor visualização e estabilidade do campo
operatório.
Para reorganizar os materiais com objetivo de atingir as condições de trabalho
favoráveis é interessante exemplificar os movimentos desempenhados no diaadia pelos CDs.
Barros (1999) classificou os movimentos desempenhados pelo CD em 5 tipos, conforme é
mostrado no Quadro 4:
38
Movimento Exemplo
1 Somente dos dedos Pegar um rolete de algodão.
2 De dedos e punho Manipular um instrumento manual.
3 Dedos, punho e cotovelo Alcançar a caneta de altarotação.
4 Todo o braço e ombro Alcançar materiais além da área de trabalho, sem fazer torção da coluna.
5 Torção completa do Virarse para alcançar um equipamento.
tronco
Quadro 4: Classificação dos movimentos do cirurgiãodentista. Fonte: Barros (1999).
Os movimentos (BARROS, 1999) que englobam as classes 1, 2 e 3 formam o que é
considerada a área ótima para o trabalho com as duas mãos (Figura 6).
Figura 6: Zonas de alcance. Fonte: Iida (2005).
Esta área é denominada área de pega normal e o campo operatório deve estar dentro
deste espaço para evitar que o profissional realize movimentos incorretos.
As faculdades de odontologia são os melhores locais para aprendizagem ergonômica e
dos princípios de utilização dos equipamentos para otimizar o trabalho. No entanto, essas
entidades freqüentemente oferecem equipamentos antigos os quais apresentam uma
configuração mais eficiente para instrução do que para a prática (RUCKER, 2000; BARROS
1999). Além disto, normalmente adotase o trabalho a 2 mãos durante o período de
aprendizado na maioria das faculdades, o que dificulta ainda mais a assimilação de um
trabalho ergonomicamente correto (FINKBEINER, 2000; RUCKER, 2000).
trabalho (MAGGI, 2006). Ao contrário das técnicas de tempos e métodos tradicionais que
reduz o trabalho a uma somatória de gestos isolados e passíveis de serem divididos,
reelaborados e recompostos, a AET vai buscar como o trabalhador enquanto um ser integral
age, raciocina e utiliza sua inteligência para fazer face às variabilidades e imprevistos que a
ele se apresentam nas situações de trabalho (SALERNO, 1998). Para Iida (2005), a AET visa
ampliar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma situação
real de trabalho.
A situação real de trabalho é o campo no qual a atividade do homem é exercida. Então
se tem que a atividade do homem no trabalho é orientada em vista de um determinado
resultado. Esta atividade é organizada no interior de um grupo social e exercida de maneira
regular. O resultado desta atividade que é econômica e produtora de utilidade social necessita
de coordenação do conjunto das atividades humanas, no sentido de produzir o que é útil.
Neste sentido, a atividade de trabalho é a maneira como esse resultado é obtido, isto é, a ação
ou forma de trabalhar na matéria, de manejar um instrumento, maneira como uma coisa criada
pelo homem foi executada (FIALHO & SANTOS, 1995). Portanto, a ergonomia tem por
objeto de estudo o trabalho e o cerne deste objeto é a própria atividade de trabalho (GUÉRIN
et al., 2001).
Condições
deteminadas
TAREFA
Resultados
antecipados
Figura 7: A tarefa. Fonte: Guérin et al., (2001).
Ainda para estes mesmos autores, o conceito de atividade é dado como a maneira que
os resultados são obtidos e os meios utilizados. Complementando o esquema mostrado na
Figura 7, temse então a Figura 8:
Tr abalho
r eal
Trabalho
prescr ito
Condições
r eais
Condições
deteminadas
ATIVIDADE DE
TAREFA TRABALHO
Resultados
antecipados
Resultados
efetivos
Figura 8: Tarefa, atividade e trabalho. Fonte: Guérin et al., (2001).
Podese concluir, portanto que existem três realidades:
· a tarefa como resultado antecipado fixado em condições determinadas;
· a atividade de trabalho como realização da tarefa;
· o trabalho como unidade da atividade de trabalho, das condições reais e dos resultados
efetivos dessa tarefa.
42
Portanto, temse que a análise ergonômica da atividade é a análise das estratégias,
entendidas aqui como regulação, antecipação, usadas pelo operador para administrar a
distância entre “o que é pedido” (trabalho prescrito) e “o que a coisa pede” (trabalho real). A
tarefa é imposta ao operador. Ela é exterior ao operador, determina e constrange sua atividade,
mas ao mesmo tempo é indispensável para que ele possa operar. A atividade, segundo
Ferreira & Mendes (2003), tem um caráter mediador, apresentando uma dinâmica de
“mutações”, em que o indivíduo transforma o contexto e ao mesmo tempo é transformado por
ele.
Sendo a AET um método destinado a analisar a complexidade das situações de
trabalho, ninguém pode pretender fazer uma abordagem somente com sua competência.
Portanto, é necessário fazer um certo recorte do campo de conhecimento e da ação. Cada um
se coloca em função deste recorte sem ignorar que a dimensão de trabalho pela qual se
interessa não é independente das outras.
O método AET (GUÉRIN et al., 2001) tem como foco o estudo da atividade e não
possui rigidez em suas etapas, ao contrário, permite uma flexibilização de acordo com a
situação real de trabalho. Os autores apresentam o esquema geral da abordagem ergonômica
como sendo uma construção que se elabora e toma forma ao longo do desenrolar da ação e
cada ação é singular. Existe, porém um conjunto de fases que vão estruturar a construção da
ação ergonômica, onde a importância de cada uma, o que compreendem as idas e vindas entre
elas, é específica de cada ação ergonômica.
43
O esquema do Quadro 5 mostra as etapas que compõem a AET. A intervenção em
ergonomia é um processo singular que tem seu início a partir de uma demanda socialmente
estabelecida. Os contornos e as formas dessa intervenção vão se transformando no confronto
com a realidade de trabalho, determinando a seqüência das etapas e os recortes da realidade.
A AET, com todas as suas etapas, implica em decompor para apreender a atividade para
recompôla sob novas bases, considerando a análise de trabalho real e a participação do
trabalhador no processo (ABRAHÃO, 1993).
Das primeiras formulações de demanda à identificação dos
fatores gerais em jogo: análise da demanda e do contexto,
reformulação da demanda.
Exploração do funcionamento da empresa e de
seus traços: características da população, da
produção, indicadores relativos à eficácia e à
saúde. Hipóteses de nível 1: escolha das
situações a analisar.
Análise do pr ocesso técnico e
das tar efas
Inter ação
Obser vações globais da atividade com
(obser vações aber tas) os
oper ador es,
papel
Formulação das
de um entr evistas
prédiagnóstico e das
Hipóteses ver balizações
de Definição
Nível 2 de um plano de
obser vações
Observações
sistemáticas
Tratamento dos
dados
Validação
Diagnóstico:
diagnóstico local incidindo sobre a(s) situação(ões)
analisada(s) em detalhe;
mas igualmente diagnóstico global incidindo sobre
o funcionamento mais geral da empresa.
Quadro 5: Etapas da intervenção ergonômica. Fonte: Guérin et al. (2001).
44
Para Guérin et al. (2001), a AET pode ser organizada da seguinte forma:
a) A análise da demanda
A ação ergonômica iniciase a partir de uma demanda, aqui entendida como uma
solicitação, um pedido. Frequentemente, a demanda é um incômodo que se apresenta
cotidianamente e é quase sempre colocada em termos de problemas a resolver, isolados de seu
contexto. Portanto, é necessário reformular a demanda inicial e hierarquizar os diferentes
problemas colocados, articulálos entre si e, às vezes apontar outros. Devese detectar a
natureza dos outros problemas potenciais interrogandose sobre o grau de importância
daqueles que foram apontados e reformular a demanda inicial numa problemática de natureza
ergonômica centrada na atividade de trabalho (GUÉRIN et al., 2001). Nesta fase, os primeiros
dados da situação de trabalho são levantados, permitindo a formulação das hipóteses de
primeiro nível (hipóteses de nível 1 ou preliminares) a serem consideradas na realização do
estudo: tipo de tecnologia utilizada, organização do trabalho implantada, principais
características do pessoal disponível, principais aspectos sócioeconômicos da empresa e os
diversos pontos de vista a respeito do problema formulado na demanda (FIALHO &
SANTOS, 1995). As hipóteses elaboradas nesta etapa levarão a escolha das situações de
trabalho que devem ser analisadas em detalhe para se obter elementos que respondam às
questões levantadas.
c) Diagnóstico
A partir dos registros de observações e das explicações fornecidas pelos operadores é
que o diagnóstico pode ser dado. Ao se ater à atividade real se compreenderá as dificuldades
encontradas em um determinado lugar e se identificará os pontos que devem ser objeto das
transformações dessas situações de trabalho. Por fim, é a partir deste diagnóstico que se
realizam as recomendações e se propõe um acompanhamento do processo de transformação.
Para Fialho & Santos (1995), o plano metodológico da AET pode ser dividido em três
etapas, a saber:
a) Análise das referências bibliográficas.
b) Análise ergonômica do trabalho, que está dividida em três fases:
· Análise da tarefa: a partir das hipóteses de nível 1 fazse a análise das condições de
trabalho e uma descrição minuciosa dos diversos componentes do sistema. Todos estes
dados poderão confirmar ou recusar as hipóteses formuladas;
· Análise da atividade: é a análise dos comportamentos de trabalho (posturas, ações,
gestos, comunicações, direção do olhar, movimentos, verbalizações, raciocínios,
estratégias, resoluções de problemas, modos operativos, tudo o que possa ser
observado ou inferido a respeito da conduta do trabalhador) que serão confrontados
com os dados obtidos na fase anterior e permitirão elaborar um prédiagnóstico da
situação de trabalho.
c) Síntese ergonômica do trabalho: que está dividida em duas fases.
· Estabelecimento do diagnóstico da situação de trabalho;
· Elaboração do caderno de encargos de recomendações.
A obra destes últimos autores é pragmática, pois traz a metodologia AET em forma de
manual ou roteiro a ser seguido pelos profissionais na análise do posto de trabalho. Por outro
lado, a obra de Guérin et al. (2001) propõe o estudo e entendimento do método da AET e
46
além de discutir o método em si referencia inúmeros exemplos. Portanto, este último foi
escolhido como livro de referência principal para o desenvolvimento desta pesquisa.
47
· Situaçãoproblema: é a própria demanda e que segundo o autor nada mais é que a ponta
do iceberg, pois mascara com freqüência seus reais determinantes. A reformulação da
demanda através dos recortes e da hierarquização de suas causas por meio da busca de
informações pertinentes é um procedimento incontornável desta reformulação. Ela serve
de bússola da AET, pois orienta a trajetória de investigação.
· Par ticipação: é determinante para os resultados confiáveis da AET, pois sem a
participação dos atores sociais envolvidos com a demanda a realização da análise da
atividade fica comprometida.
· Infor mação: o acesso à informação deve ser irrestrito, contudo baseado nas regras
deontológicas.
· Atividade: o que faz, porque faz e como o faz é o centro de interesse da AET.
As observações livres tiveram início logo no primeiro contato com a CD para verificar se
a mesma estava próxima do perfil do CD brasileiro. Uma vez constatado que sim e a
profissional estar de acordo em participar da pesquisa, as primeiras visitas foram agendadas.
Nesta primeira reunião foram apresentados os objetivos da pesquisa e dois esquemas resumidos
da metodologia AET (ANEXO A e B). Nesta mesma reunião foi formulada a demanda inicial.
Algumas questões foram colocadas para a CD para se ter uma compreensão maior do serviço
prestado por ela, tais como: quais são os tratamentos que realiza, se possui auxiliar, se planejou
o consultório, se atende por convênios, se possui alguma queixa de dor ou desconforto
relacionado ao trabalho, se usa visão direta ou indireta e qual postura adota durante o
tratamento. Ao término desta, novas visitas foram programadas, tendo como critério a aceitação
da presença da pesquisadora no consultório por parte do paciente. A preocupação com o
conforto e a privacidade do paciente foi um aspecto que apareceu logo na primeira reunião e
demonstrou ser uma forte premissa.
As visitas subseqüentes tiveram como objetivo a observação livre de cada tipo de
tratamento a fim de verificar qual elemento era mais relevante para cada um deles. Antes
mesmo de relatar tais atendimentos, é interessante citar os outros instrumentos utilizados.
b) Análise documental
A coleta de informações se deu também através da consulta de documentos internos, tais
como:
· Agenda: utilizada para marcação das sessões e lembretes;
· Ficha clínica: onde a cada sessão é anotado o procedimento realizado e as observações
para aquele caso;
· Caderno de controle de atendimentos: onde é registrado o nome, a data inicial e final
do último tratamento. Este conq lh
49
Figura 10: Goniômetro CARCI.
Não foram realizadas filmagens dos tratamentos para preservar a privacidade do
paciente. Também não foram mensurados os níveis de ruído, iluminação, temperatura, umidade
do ar e ventilação por não estarem presentes na demanda e por não serem considerados
relevantes durante a pesquisa.
Análise da
atividade
Abordagem Pr édiagnóstico
global Hipóteses nível 2
Hipóteses
nível 1 Definição de
Análise um plano de
da obser vação
demanda
Obser vações
sistemáticas Diagnóstico
Tr atamento
dos dados
Validação
Recomendações
Figura 11: Metodologia AET. Fonte: adaptado de Guérin et al. (2001) pela autora.
51
Este caso foi selecionado, pois a profissional está bem próxima do perfil do CD
brasileiro traçado pela pesquisa encomendada à Inbrape pelas entidades 2 nacionais de
odontologia no ano de 2002.
Na Tabela 1 foram destacados os principais índices desta pesquisa que nortearam a
escolha realizada:
57,5% sexo feminino Sexo feminino
76,7% clínico geral Clínica geral
89,6% autônomo Autônoma
56,7% sem auxiliar Sem auxiliar
Tabela 1: critérios adotados para escolha do caso estudado.
3.2.2 Análise da demanda
a) A demanda inicial
A demanda inicial foi formulada logo na primeira visita onde também tiveram início as
observações livres. Após sanar algumas dúvidas por parte da profissional, foi formulada a
seguinte demanda inicial:
2
ABO (Associação Brasileira de Odontologia), ABENO (Associação Brasileira de Ensino Odontológico),
ACBO (Academia Brasileira de Odontologia), CFO (Conselho Federal de Odontologia), FIO (Federação
Interestadual de Odontologia) e FNO (Federação Nacional de odontologia).
52
b) O que está em jogo (les enjeux)
A reformulação da demanda se deu a partir do conhecimento dos elementos que estavam
em jogo nesta situaçãoproblema colocada inicialmente. Foram identificadas as seguintes
questões:
· Ergonomia: a princípio nesta demanda fica claro que a profissional faz pouco uso da
posição mais indicada, tanto para o paciente quanto para ela, ou seja, supina e 9h
respectivamente. Ela refere também não usar a visão indireta com auxilio do
espelhinho o que indica que deve realizar muitas inclinações e rotações do tronco para
ter a visão direta. Ela refere que na faculdade era avaliada segundo a ergonomia
empregada. Os alunos eram policiados se faziam uso da visão indireta. Contudo, ela
revela que possui noções da ergonomia correta de trabalho, mas que não as segue. A
afirmação abaixo deixa isto evidente.
Quando se começa a trabalhar sozinha, a gente faz diferente.
Desta forma a profissional se adapta ao posto e às necessidades do paciente em
detrimento do conforto próprio para atingir o resultado satisfatório. Ela refere ter tido
uma epicondilite direita que a afastou do trabalho por três meses e no momento
apresenta uma epicondilite esquerda, dores no cóccix, dor lombar lado direito e
ardência em todo o ombro, lado direito e esquerdo, além de dores de cabeça
freqüentes.
· Bem estar do paciente: esta demanda também aponta uma preocupação com o
conforto do paciente e que ao longo das observações realizadas ficou confirmada
como uma forte premissa. A profissional se preocupa com todos os aspectos que
envolvem o paciente. Ela diz:
Eu atendo meu paciente de forma holística.
Para ela a prioridade é o bem estar do paciente. Ela relata que existe paciente que fica
uma sessão toda falando.
Tem que dar atenção ao paciente. Tem que ser um pouco psicóloga. Isto é importante,
pois na próxima ele estará mais relaxado e eu poderei trabalhar com mais facilidade.
paciente que assim colabora com o tratamento permanecendo mais tranqüilo, seguro e
confiante.
c) Reformulação da demanda
A fim de responder à demanda (situaçãoproblema) colocada pela profissional e
considerando as questões nela embutidas, a pesquisadora optou por conduzir a pesquisa de
forma a identificar as restrições deste posto de trabalho, que fazem com que a CD não siga as
normas básicas de ergonomia odontológica e que expõe a mesma aos riscos de desenvolver
dores músculoesqueléticas. Ainda de outra forma, como a profissional se expõe e como se
preserva destas restrições, ou seja, quais são as estratégias adotadas por ela para fazer face a
estes constrangimentos. A opção por este caminho se justifica pelo fato da profissional
apresentar dores osteomusculares como já foi citado.
3.2.3 Abordagem global
Dando seqüência na pesquisa, procurouse conhecer a estrutura do consultório.
a) A organização do trabalho
Os atendimentos são realizados de segunda a sextafeira das 8:00 às 11:00 e das 13:00 às
17:00. A jornada semanal é, portanto de 35 horas.
1ª. sessão par a
CD ver ifica o or çamento é feita.
caso e faz ou não Aber tur a de uma ficha
a mar cação clínica. Paciente decide
se ir á ou não r ealizar o
tr atamento.
O paciente
aguar da par a
falar com a CD
ou a ligação é
tr ansfer ida
Se sim,
mar cação das
sessões.
Paciente fa z o
contato com a
secr etár ia
pessoalmente ou
por telefone
Execução do
tr atamento
Figura 12: Marcação de consulta.
A profissional além de atender a pacientes particulares (cerca de 50%) também atende
seus antigos pacientes de convênio pelo custo operacional. Desde 2003 se desligou do convênio
por questões econômicas. Refere que a partir desta mudança passou a trabalhar menos e ter um
faturamento maior. Concluiu, portanto que não vale a pena ser credenciada.
Em relação aos materiais, eles estão distribuídos nas gavetas do gaveteiro móvel, nas
prateleiras do armário alto (portas da esquerda e portas de vidro), dentro da geladeira e na
primeira gaveta à direita no balcão.
A estrutura física está demonstrada na Figura 13 que mostra a planta baixa do
consultório:
55
Janela de vidro
69
Escada EQUIPO
mezanino
69
r efletor
96
mocho
sugador
128 Base balcão
40
230
Liga/desl X
85
Raio 230
X
111 pedal
60 57
Mesa
com
compu
tador 75
e 65 57
telefone
100 76
135 90
86
343
253
Figura 13: Planta baixa do consultório.
Nesta planta podem ser observados:
· Os elementos da CD indicadas com as setas vermelhas:
Ø Mocho
56
5 13
14
36
46
Figura 14: Medidas do mocho.
Ø Equipo
Figura 15: Equipo com três pontas.
Ø Comando eletrônico no pedal
Figura 16: Pedal de acionamento do motor.
57
Ø Armário fixo
Figura 17: Armários.
Ø Armário móvel
Figura 18: Gaveteiro móvel.
Ø Refletor.
Figura 19: Refletor.
58
· Os elementos do paciente são indicados pelas setas verdes:
Ø A cadeira odontológica e o apoio para a cabeça
Figura 20: Cadeira do paciente.
· Os elementos do auxiliar são indicados pela seta azul:
Ø O sugador
Detalhe
Figura 21: Cuspideira e sugador.
c) Os documentos colocados à disposição
· Agenda
· Ficha clínica;
· Caderno de controle de atendimentos.
d) Tratamentos realizados
Em seu consultório ela oferece os seguintes tratamentos:
· Restaurações fotopolimerizadas (resinas): realizados com maior freqüência;
· Restaurações de amálgama: realizados com menor freqüência;
· Reabilitação protética;
· Prevenção;
· Odontologia com ênfase na estética (clareamento, troca de restaurações de amálgama
por de resina, redução de espaço interdental).
Para cada tipo de tratamento foi feito um fluxograma com as etapas obrigatórias
seguidas pela dentista para sua execução. Por se tratar da metodologia AET, cada etapa desta
está sendo considerada uma tarefa a ser cumprida, ou seja, as etapas precisam ser
obrigatoriamente realizadas numa determinada ordem para a realização do tratamento
odontológico e não podem ser alteradas por conveniência. A seguir, para efeito de
exemplificação, segue o fluxograma de uma das fases do tratamento de prótese (Figura 22) e
outro correspondente ao tratamento de restauração fotopolimerizada (Figura 23).
O tratamento protético é realizado nos casos onde houve perda de dentes ou quando
um dente precisa de uma grande restauração e o mesmo não oferece apoio para uma
restauração fotopolimerizada, por exemplo.
1
Preparação do 9 8
paciente Cimentação do Moldagem do
provisório antagonista
2
Remoção do 7
provisório / do Moldagem
cimento provisório
6
3 4 5 Afastamento
Moldagem da Anestesia da Isolamento gengival com fio
gengiva superfície gengiva relativo retrator
Figura 22: Fluxograma das 9 etapas prescritas para a execução da prótese – fase moldagem definitiva.
60
O tratamento de restauração fotopolimerizada é realizado diante de uma lesão cariosa
ou diante do interesse do paciente pela estética.
16
1 Escultura
Preparação do
paciente
17 15
Uso do carbono de Remoção das
dupla face e cunhas, da matriz e
2 escultura do isolamento
Aplicação da
relativo
pomada anestésica
18
Teste com fio dental 14
3 para verificar Uso do aparelho
Anestesia infiltrativa fotopolimerizador
excessos
40 segundos
4 19
Remoção da cárie Polimento final 13
Colocação da resina
e/ou obturação
em pequenos
fragmentos
5
Isolamento relativo
com algodão 12
Caso necessário uso
de uma matriz para a
reconstrução das
6 laterais do elemento
Preparo e inserção e cunhas na região
do forramento gengival
7 11
Aplicação do ácido Uso do aparelho
fosfórico fotopolimerizador
20 segundos
8
Lavagem com água 9 10
para a remoção do Refazer o Aplicação do
ácido isolamento relativo adesivo escolhido
Figura 23: Fluxograma das 19 etapas prescritas para a execução da restauração fotopolimerizadora.
Entre todos os tratamentos, a CD considera o de prótese o mais desgastante pelo custo
para ela e para o paciente, por isto se preocupa muito com a execução e com a satisfação do
paciente com o resultado final.
Foi observada uma sessão de cada tratamento e constatado que o tratamento de prótese
de fato é bastante desgastante pela preocupação com o resultado e pelos muitos movimentos
para manipulação dos materiais, por isso muitos gestos para acessar as gavetas, o balcão, o
equipo, ligar e desligar o sugador (este procedimento é adotado para se poupar o compressor
que já parou por sobrecarga), muitos movimentos com o mocho, de sentar e levantar para pegar
material no armário alto e sobre o balcão. Contudo, o tratamento de restauração
fotopolimerizada também apresenta uma grande manipulação de materiais e é realizado com
maior freqüência, embora seja realizado sem a mesma preocupação relativa ao custo do
tratamento protético.
e) A escolha da situação
Após a observação de todos os tratamentos, foi realizado o primeiro recorte da
atividade da CD para prosseguir a análise (Figura 24). Foram escolhidos os tratamentos de
prótese dentária e restauração fotopolimerizada segundo os critérios destacados no esquema da
Figura 24.
62
Observação
prevenção
Estética
Restauração Restauração
amálgam a resina
P rótese
1º. recorte na atividade
Figura 24: Primeiro recorte na atividade.
É extremamente importante ressaltar que não foi possível utilizar recursos áudiovisuais
durante as observações para preservar a privacidade do paciente, preocupação permanente da
CD. Os dois tipos de tratamento foram acompanhados e os dados contabilizados e registrados.
Segue um dos gráficos (Gráfico 1) que representa a atividade odontológica através da
freqüência com que as ações aconteceram:
Ações realizadas durante o tratameno de prótese
fa se prova do núcleo metálico
intervir na boca
80 utilizar equipo
Fr eqüência
68 70 utilizar balcão
70
abrir portas esq
60 abrir portas vidro
abrir/fechar 1a. Gaveta D
50 abrir/fechar 2a. Gaveta D
abrir/fechar 3a. Gaveta D
40
abrir/fechar 4a. Gaveta D
30 abrir/fechar 1a. Gaveta Central
abrir/fechar 2a. Gaveta Central
20 14
11 abrir/fechar 3a. Gaveta Central
10 7 9 7 abrir/fechar 4a. Gaveta Central
1 3 5 1
5
1 1
0 0 0 0 abrir/fechar geladeira
0 deslocar até sugador
Ações
1 acionar pedal
reposicionar refletor
atender telefone
Gráfico 1: Tratamento de prótese.
63
Ao ler o gráfico considerar que cada vez que o dentista acessava uma gaveta, ou ia até a
boca do paciente, ou até o equipo, por exemplo, foi contabilizada uma ação. Podese verificar
no gráfico uma grande intervenção intrabucal (68) e uma grande utilização do equipo (70).
Para estas ações a CD realizava inúmeras rotações de tronco, mais acentuadas a direita. Em
relação a utilização do balcão, ela necessitava afastar o mocho, girar para a direita e se levantar
quando não permanecia sentada e se esticava para alcançar algum material. Foi observada uma
grande utilização do gaveteiro central que apesar de possuir rodízios permaneceu imóvel sob o
balcão. Outra ação que chamou a atenção foi a de deslocamento até o sugador para ligálo e
desligálo. A maioria destes deslocamentos foi realizada deslizando o mocho até a posição de 3
horas e outras levantando do mesmo e se deslocando até o dispositivo liga e desliga. Por fim,
foram observados muitos reposicionamentos do refletor para evitar que o paciente bata a
cabeça quando for cuspir e para trazer o foco de luz sobre o equipo para melhorar a
visualização de uma peça que está esculpindo. Na Figura 25 a planta do consultorio é
reapresentada com destaque para os itens observados:
Janela de vidro
69
Escada EQUIPO
69 mezanino
refletor
128
96
sugador
Base ba lcão
40
Liga/desl X
85
Raio
X
230
111 pedal
60 57
Mesa
com
75
compu
tador 65 57
e
telefone
100 76
135
86
Figura 25: Planta baixa do consultório.
64
Na Figura 25 é importante destacar a localização do dispositivo liga/desliga no sugador
e a distância entre a mesa e o apoio de cabeça para o paciente que fica bastante reduzida – 57
cm – quando se faz uso da inclinação total da cadeira dificultando a passagem com o mocho.
Na Figura 26, o destaque é para a altura das prateleiras internas do armário alto e para o
lado de abertura da porta da geladeira.
Prateleiras
(Portas esquer da)
170
145
Auto L
clave i 87,5
x
Geladeira o
230
Figura 26: Vista frontal dos armários alto e baixo sob o balcão.
65
3.2.4 Prédiagnóstico
A partir das observações podese elaborar o seguinte prédiagnóstico (Quadro 7):
Mas leva fr equentemente
Em função: A CD faz: Isto car acter iza:
a pr ofissional a:
· da disposição dos · uma grande utilização do equipo · uma sessão sem · realizar inúmeras
materiais nas e do balcão para manipular os uma seleção inclinações e rotações de
gavetas e armários; materiais; prévia dos tronco e deslocamentos
materiais. com o mocho o que
· do controle liga e · uma grande utilização dos provoca uma fadiga
desliga do sugador; gaveteiros para procurar/pegar o física e dores lombo
material necessário; sacrais e uma perda de
· das regulagens do
refletor; · vários deslocamentos com o tempo na procura do
mocho para ligar e desligar o material desejado;
· do pequeno espaço sugador;
existente entre o · evitar um super
apoio de cabeça da · várias mudanças da posição do aquecimento do
cadeira do paciente refletor quando o paciente se compressor;
e a mesa. senta para cuspir e quando · garantir a segurança,
necessita de luz sobre o equipo; conforto do paciente e
· utilização insuficiente da sucesso do tratamento
inclinação da cadeira do
paciente.
Quadro 7: Prédiagnóstico.
Este prédiagnóstico apresenta uma explicação para o problema levantado inicialmente
na demanda. A partir deste ponto serão escolhidos os métodos mais adequados para se
trabalhar nos recortes que serão realizados na atividade.
· O recor te das ações
Ø as extrabucais: são todas as ações que acontecem fora da boca do paciente, como por
exemplo: pegar a caneta de alta rotação, pegar o jato de ar/água, pegar um rolete de
66
algodão, pegar um instrumental sobre o equipo, pegar um material na geladeira, na
gaveta, no armário alto, pegar o aparelho fotopolimerizador, o jato de bicarbonato,
atender ao telefone, deslocarse até o sugador, etc. A foto da Figura 27 mostra um
destes tipos de ação extrabucal.
Figura 27: Ação extrabucal.
Ø intr abucais: são todas as ações de intervenção na boca do paciente, como por
exemplo: usar a caneta de alta rotação, explorar a boca com o espelhinho, avaliar um
dente, colocar um rolete de algodão, esculpir, aplicar uma anestesia, inserir um
material (resina, amálgama, ácido fosfórico, adesivo, etc.), dar um jato de água/ar, etc.
A foto da Figura 28 ilustra uma ação intrabucal.
Figura 28: Ação intrabucal.
A seguir o Gráfico 2 que resume a observação do tempo das ações extra e intrabucais.
67
Gráfico 2: Tempo das ações intra e extrabuc
68
ela atua. Esta postura está sempre associada à tensão muscular seja pela manutenção da mesma
seja pelo contexto de apreensão em executar uma atividade onde o paciente na maioria das
vezes apresenta medo, expectativa ou dor. Além disto, a postura estática é uma das responsáveis
pelo desenvolvimento dos DORT. Uma outra questão que também é importante ressaltar que, na
atividade odontológica, a ação intrabucal é a que agrega valor ao tratamento, portanto mais um
motivo para reconhecer a relevância desta ação. A foto da Figura 30 exemplifica esta
consideração.
Figura 30: Postura fixa na ação intrabucal.
Na foto da Figura 30 a CD mantém sua postura para intervir com a mão direita e segurar
o sugador com a esquerda, além de manter a cabeça fixa permitindo assim a visão do dente em
tratamento.
A partir destas observações foi possível realizar o terceiro recorte na atividade e eleger
as ações intrabucais como foco de estudo. As observações se seguiram ainda sobre os
tratamentos de prótese e restaurações fotopolimerizadas. As seguintes posturas foram
identificadas como sendo as que mais são adotadas durante as ações intrabucais:
69
Figura 31: Postura incorreta dos ombros.
Na foto da Figura 31 pode ser observada uma abdução do ombro além de 45º. Esta
abertura dos braços é considerada excessiva uma vez que além desta graduação passase a ter a
contração dos músculos supraespinhoso e trapézio superior, que compromete a coluna cervical
e cintura escapular. Também pode ser observada nesta foto a ausência de apoio para a coluna
lombar.
Figura 32: Postura incorreta da cervical vertebral.
Figura 33: Postura incorreta da coluna cervical.
Na Figura 33, verificase a inclinação da cabeça para a direita com rotação para a
esquerda. Esta postura é bastante presente, pois a CD adota a postura de trabalho de 10h e utiliza
a visão direta do dente. Sendo assim necessita realizar tal rotação da coluna cervical.
Figura 34: Apoio insuficiente dos pés.
Por fim, na Figura 34, constatase que a base de apoio do corpo está muito reduzida
devido ao mau posicionamento dos pés. Também se verifica a ausência de apoio da coluna
lombar.
71
· Abdução de ombros;
· Flexão da coluna vertebral sendo mais acentuada na região cervical que leva a falta de
apoio para a coluna lombar;
· Inclinação da cabeça para a direita com rotação para a esquerda;
· Apoio insuficiente dos pés caracterizado por extensão acima de 120º do joelho esquerdo
e flexões menores que 90º do joelho direito.
4. Análise e diagnóstico
4.1 Análise das obser vações
Este capítulo tem por objetivo discutir os dados coletados, identificando os elementos
restritivos (constrangimentos) e estratégias adotadas para contornálos. Após esta análise, o
diagnóstico para o caso estudado será formulado.
Para facilitar a análise, o texto foi dividido nos seguintes tópicos: a organização do
trabalho, o consultório odontológico e as posturas de trabalho.
4.1.1 A organização do trabalho
a) Horár ios
A CD faz questão de agendar um paciente por hora e não mais do que isto, salvo alguma
urgência que segundo ela a agita.
Ela não realiza pausas programadas durante a jornada, mas aproveita os atrasos do
paciente para tomar um café, uma água e andar um pouco pela clínica. Quando não existe este
intervalo circunstancial ela refere tomar água até mesmo quando não está com sede somente
para poder parar um pouco.
b) Agendamento
O agendamento é realizado pela CD durante seu horário de trabalho. Isto garante que o
paciente tenha o atendimento segundo o padrão da profissional. Em relação a ela mesma fazer o
agendamento ela diz:
Se eu mesma não fizer isto as meninas (duas secretárias da clínica) não vão conseguir
manobrar lá fora e aí eu vou perder muito mais.
A interrupção de um atendimento para atender ao telefone gera normalmente um
desconforto para a CD, e apesar da aceitação deste fato por parte do paciente que está na
cadeira, a mesma reconhece que ele não gosta, mas que colabora com ela.
O paciente não gosta, mas entende.
Esta aceitação também se deve ao bom nível de relacionamento que a profissional
estabelece com seu paciente desde a marcação da primeira consulta, passando pela primeira
avaliação onde se discute o diagnóstico, o tratamento, o orçamento, a intenção do paciente e o
73
tipo de pagamento. Normalmente não inicia um procedimento na primeira sessão. Para a CD
este primeiro contato é fundamental para estabelecer uma relação de confiança.
Neste momento, a CD tem tido o auxílio de uma pessoa no período da tarde. Este auxílio
se caracteriza mais como o de uma auxiliar extrabucal, que se limita a fazer algum
agendamento segundo a orientação da profissional, pegar algum material, ir ao protético, fazer o
serviço externo, realizar a desinfecção dos materiais e organizar o consultório. Normalmente os
instrumentais usados na parte da manhã são lavados e esterilizados no início da parte da tarde
por esta pessoa.
c) Documentos
· Cader no de controle de atendimentos: todos os documentos são manuscritos e bem
organizados. Para a CD, a forma como organiza os dados permite que ela encontre o que
deseja com facilidade. Ela faz referência em relação à busca de uma informação neste
caderno:
Eu sempre encontro o que quero.
Neste caderno de controle de atendimentos ela tem o nome do paciente, a data de início e
do final do tratamento. Estes dados fazem com que a CD saiba se um paciente finalizou,
interrompeu o tratamento ou não deu continuidade no mesmo. Esta informação é
baseada na presença do registro da data final e não existe nenhuma observação. Ela
verifica o nome, a data e relembra o porquê daquele paciente ter, por exemplo,
interrompido o tratamento. De onde se tem um desconhecimento dos números
estatísticos de casos de abandono e conclusão de tratamento. Um dos meios de controle
que ela possui para saber se existe alguma pendência é de que, se uma ficha está no
arquivo de baixo e não no arquivo do mezanino é porque o paciente está em tratamento,
ou ainda não efetuou o pagamento, ou porque está esperando uma posição do paciente
para decidir se irá ou não realizar o tratamento.
Da mesma forma a profissional não tem este mesmo controle estatístico para os tipos de
tratamento, lucro, custo de materiais por tratamento, pacientes particulares e com custo
operacional, adultos, crianças, idosos, gestantes e especiais. Ela refere que seu controle
financeiro do consultório também deixa a desejar.
74
· Fichas clínicas: as fichas clínicas dos pacientes também são feitas à mão e a profissional
muitas vezes leva as fichas para casa para completálas quando não é possível fazer isto
a tempo no consultório.
Hoje acordei mais cedo para deixar as fichas em dia e não dei conta.
Eu levo as fichas para casa, mas elas voltam do mesmo jeito.
O fato de ter uma ficha desatualizada gera por vezes uma angústia por não poder
esquecer de anotar uma observação importante na ficha de um paciente.
Vou anotar que estou usando este medicamento com ele para saber disto na próxima vez
que ele voltar. Quando uso este medicamento não posso usar um outro.
Para não comprometer tempo de sessão do paciente a CD leva as fichas para casa. O
trabalho fica desta forma estendido à vida privada.
d) Música ambiente
Um recurso utilizado pela CD para favorecer o relaxamento do paciente é de colocar
músicas calmas. Segundo ela a música também a tranqüiliza.
A música relaxa o paciente e a dentista também.
Os materiais necessários a um tipo de atendimento estão localizados em vários lugares.
As bandejas clínicas, por exemplo, ficam na estufa que está no mezanino. A cada sessão é
necessário subir para buscar uma. Ela dispõe de 8 bandejas de rotina, sendo: 2 para orçamento
(uma pediátrica e outra adulto), 3 clínicas, 1 para amálgama e 2 bandejas de cirurgia (extração
de dente decíduo ou drenagem). Segundo a CD, os cuidados com as bandejas são desgastantes.
Ela verbaliza:
Esta parte é desgastante, porque precisa lavar, secar para não manchar o inox...
A esterilização leva de 40 minutos à 1 hora e 30 minutos, dependendo do material. Ela
possui a autoclave que fica em baixo, mas prefere utilizar a estufa porque acredita ser mais
eficaz na esterilização.
Além da bandeja clínica, a resina necessária para as restaurações fotopolimerizadas fica
na geladeira e é retirada durante a sessão. Grande parte dos materiais fica armazenada no
75
armário alto por terem uma embalagem volumosa que não cabe no gaveteiro móvel, o que faz
com que a CD se desloque muitas vezes durante uma sessão, sente e levante do mocho para
pegar este tipo de ma' n
76
Figura 36: Pegando material na geladeira
Figura 37: Pegando material no armário
O consultório foi avaliado segundo a norma ISO/FDI e o conceito de PTO de Barros
(2006), que orienta o posicionamento dos equipamentos bem como do CD no consultório.
A CD deste estudo adota preferencialmente em seu trabalho a posição de 10h para
trabalhar na maioria das faces dos dentes. Esta posição é adotada porque também favorece o
deslocamento até o sugador e permite que ela segure a mangueira do mesmo a mantendo na
boca do paciente. Na foto da Figura 38, temse a visualização de um esquema gráfico
sobreposto ao consultório para facilitar esta análise.
9h
Figura 38: Aplicação do esquema gráfico.
Para facilitar a análise serão seguidos alguns itens de orientação:
78
· Círculo A
Nesta área o CD, o auxiliar bem como todo o material, instrumental e terminais de
equipamentos em uso devem estar presentes, pois esta área é considerada o espaço ideal de
pega. Neste caso, podese verificar que as pontas do equipo bem como os materiais da gaveta
que aparece aberta e que contém os materiais em uso estão fora deste espaço. Esta disposição
leva a CD a realizar inúmeras rotações do tronco para a direita para pegar as pontas do equipo
bem como materiais na gaveta.
· Círculo B
Dentro desta área está o espaço máximo de pega.
Nela devem estar o corpo do equipo, o armário móvel e o sugador. As gavetas dos
armários quando abertas devem cair dentro deste círculo. No caso acima o corpo do equipo está
parcialmente posicionado dentro da área indicada como correta. Por outro lado o sugador com
seu dispositivo liga/desliga e a mangueira estão de acordo para um trabalho a quatro mãos, a
saber.
· Círculo C
Nesta área devem estar a pia e o corpo dos armários fixos. Verificase que estes itens
estão praticamente dentro da área citada.
b) Os equipamentos
· Mocho
Ø Os rodízios: durante as observações foi verificado que a CD realizava um grande
esforço para se deslocar com o mocho. Esta impressão foi confirmada pela profissional,
que rapidamente verificou os rodízios e constatou que eles não estavam em bom estado e
logo em seguida os substituiu por outros novos. A mudança dos rodízios trouxe uma
alteração da forma de trabalhar deixando a CD mais ágil e realizando deslocamentos
com uma grande redução do esforço. A mudança também teve uma repercussão nas
dores do cóccix que desapareceram em seguida.
Ø Medidas: em relação à altura do assento, ele está um pouco acima do ideal, pois a CD
possui 38 cm de distância do solo até a fossa poplítea (região posterior do joelho) e o
assento está a 46 cm. Esta diferença de altura leva a uma compressão da parte posterior
da coxa, o que compromete a circulação sanguínea. Segundo Barros (2006), a fossa
79
poplítea deve estar um pouco à frente da borda anterior do assento e neste caso ela se
encontra 16 cm além da borda quando bem posicionada no mocho (Figura 39).
Plano
hor izontal
= 15 cm
16 cm
68 cm
38 cm 90º 120º
aceitável
Figura 39: Plano horizontal (elaborada pela autora).
Um outro fator que também colabora para dificultar a circulação sanguínea nesta região
é a extensão do joelho. Uma variação aceitável é de 90º a 120º. Na Figura 40 é possível
visualizar esta distância e a angulação excessiva do joelho esquerdo de 130º.
130º
Figura 40: Compressão da parte inferior da coxa e angulação do joelho.
Ø Revestimento: foi observada que a CD procurava sempre se acomodar melhor no
mocho. Uma fala da profissional veio de encontro a esta observação:
80
Não sei o que acontece, mas eu fico escorregando neste mocho. Deve haver algum
material antiderrapante para revestimento.
De fato o revestimento não é antiderrapante, mas esta situação está mais relacionada ao
tamanho do assento como foi visto e à regulagem do encosto que será falado em seguida.
Ø Regulagens: o mocho permite regulagens de altura do assento, no entanto esta altura
permanece sempre a mesma e não é ajustada de forma a não comprimir a coxa em sua
face posterior. O encosto também pode ser regulado no sentido de afastar e aproximar do
dorso. Foi constatado que o encosto encontrase muito próximo da coluna lombar de
forma a reduzir a área do assento e por conseqüência a área de contato da bacia com o
mocho e favorecer o escorregamento do qual a profissional se queixou anteriormente
(Figura 41).
Figura 41: Mocho vista lateral.
· Cadeira odontológica
Ø Inclinação: a cadeira permite colocar o paciente na posição supina, pois sua
inclinação varia de 110º a 170º de flexão dos quadris (Figura 42). A angulação dos
joelhos é fixa em 160º o que não favorece um grande relaxamento do paciente quando
na posição deitado. Barros (2006) cita em seu trabalho os estudos de Lehmann que
identificou a posição que o corpo fica mais relaxado, ou seja, deitado com um ângulo
de 135º de flexão de joelhos e quadris e a cabeça no mesmo nível dos joelhos (Figura
43).
81
joelho
170º
160º
quadril
Figura 42: Angulações da cadeira odontológica em estudo.
joelho
135º
135º
quadril
Figura 43: Ângulos necessários para relaxamento máximo segundo Lehmann. Fonte: adaptado de Barros (2006).
Portanto, de acordo com este estudo, a cadeira do paciente não promove o relaxamento
total do paciente.
· Gaveteir o
A CD faz uso deste gaveteiro em todas as sessões que realiza, mas não se utiliza da
parte superior do mesmo, tão pouco o movimenta sendo que é um armário móvel. Utiliza
todas as gavetas para guardar materiais e instrumentais e durante uma sessão, abre e fecha
muitas vezes as gavetas para procurar um item que necessita. Durante uma observação de uma
sessão de restauração fotopolimerizadora foram contabilizados 27 vezes a ocorrência deste
evento.
O gaveteiro em relação ao plano horizontal está dentro dos limites de tolerância
máxima, ou seja, altura do cotovelo + 15 cm. Neste caso, têmse: 68 + 15 = 83 cm para altura
máxima do plano horizontal. A parte superior do gaveteiro se encontra a 78 cm de altura e a
primeira gaveta a 71 cm, portanto, dentro desta zona de tolerância.
· Equipo
Este equipamento é fundamental para o tratamento, pois traz nele os motores de alta e
baixa rotação bem como a seringa de jato de água e ar. Serve também de apoio para
instrumentais, materiais e para o manuseio dos mesmos.
82
Durante a observação verificouse a queda da caneta de alta rotação do suporte do
equipo algumas vezes. A CD afirmou que a braçadeira da caneta necessita de um ajuste para
que isto não ocorra, pois o custo de uma caneta é bastante elevado.
A área da bandeja, utilizada para o manuseio de material e de apoio possui 76 cm de
altura e a região de pega das canetas está a 66 cm de altura. Considerando um plano
horizontal de trabalho entre 68 e 83 cm, verificase que apenas a área de pega das canetas está
um pouco abaixo do ideal.
· Sugador
O sugador é parte integrante da unidade do auxiliar, por isso fica situado à esquerda do
paciente (junto à cuspideira), local onde deve estar o auxiliar que trabalha com um CD destro.
No caso estudado, o sugador também se encontra à esquerda do paciente embora a CD
não possua auxiliar. Um outro fator agravante é o seu acionamento que além de estar situado
no próprio equipamento possui um dispositivo de liga e desliga giratório que ela utiliza
sempre com a mão esquerda fazendo movimentos de pronosupinação. É importante
relembrar que ela possui uma epicondilite esquerda. Observar destaque na Figura 44.
Figura 44: Posição de acionamento do sugador.
Portanto além da profissional ter que se deslocar até o sugador para pegar a mangueira
ela também precisa ir até ele para reposicionála, ligar e desligar o mesmo. Isto implica em
deslocamentos desnecessários, perda de tempo e comprometimento do membro superior
esquerdo, pois a CD abduz e flete o ombro para alcançar o dispositivo e realiza uma rotação
interna e externa de todo o membro superior.
83
Em relação aos procedimentos para realizar os tratamentos, ela refere que eles não são
feitos de forma automática, pois uma atenção é necessária para executálos. Por isso a postura
durante a intervenção intrabucal se torna mais importante no que diz respeito ao grau de tensão
associado.
Segundo Finkbeiner (2000), existem alguns ângulos que devem ser respeitados para se
prevenir os DORT. Segundo a autora estes distúrbios aparecem quando estas angulações são
excessivas e mantidas por longos períodos. Ela cita três zonas de trabalho que estão destacadas
nas fotos da Figura 45.
· a primeira que é a aceitável (em verde);
· a segunda que é a zona comprometedora (em amarelo);
· e a terceira, a zona prejudicial.
Figura 45: Zonas de inclinação lateral e flexão do tronco.
A natureza do trabalho do CD requer a adoção de posturas longe do eixo central. Isto é
mais importante durante a intervenção intrabucal onde a tensão e a duração são fatores de
agravamento. No caso estudado, foram identificadas as posturaspadrão adotadas pela CD. O
Quadro 8 traz uma relação destas posturaspadrão, acompanhadas das fotos ilustrativas e das
doenças a que elas predispõem.
84
Inclinação
Síndrome Cefaléias freqüentes;
do Contratura muscular em
região de trapézios;
desfiladeiro
Lombalgia;
torácico.
Coccialgia.
Rotação
Quadro 8: Posturas e patologias associadas (continua).
85
Síndrome do pronador redondo; Epicondilite do cotovelo
esquerdo.
Abdução de ombro
Tendinite do supraespinhoso; A abdução é mais
acentuada no ombro
esquerdo devido a
sustentação da mangueira
do sugador ou uso de
outro instrumental com a
mão esquerda. Esta
posição favorece o
aparecimento da tendinite
do supraespinhoso.
Flexão e pronação de cotovelo e punho
Propensão a desenvolver
a Tenossinovite de De
Tenossinovite de De Quervain. Quervain por manter o
polegar em pinça enquanto
segura o sugador.
Tenossinovite dos extensores Também para tenossinovite
dos extensores por fixação
dos dedos. antigravitacional do punho.
Quadro 8: Posturas e patologias (continua).
86
Quadro 8: Posturas e patologias
4.2 Diagnóstico
Nesta etapa, após haver percorrido o trajeto metodológico da AET, é possível elaborar
um diagnóstico para o caso. Para Guérin et al. (2001) o diagnóstico aponta os fatores a serem
considerados para permitir uma transformação da situação de trabalho. Segue então o
diagnóstico:
Para desenvolver um trabalho tranqüilo e satisfatório, o bem estar do paciente é um fator
importante. Para se conseguir atingir este estado a profissional dedica uma sessão inteira para
avaliação de novos pacientes, esclarecimento do caso, orientação, formas de pagamento e
programação do número de sessões. Este primeiro contato diminui a expectativa do paciente e o
prepara para a próxima sessão na qual a CD utiliza de recursos como música ambiente calma
para o seu relaxamento.
88
5. Recomendações e conclusões
5.1 Recomendações
A partir do estudo foi possível formular as recomendações necessárias para abordar o
caso. Algumas destas recomendações são básicas e outras específicas.
Ela deve estar atenta para os dias onde estão previstos atendimentos mais desgastantes
como os de prótese dentária e prever um intervalo para descanso após a sessão, bem como
agendar no início da manhã ou da tarde, momento em que se encontra mais descansada.
5.1.2 Agendamento
Para eliminar o incômodo de interrupções com telefonemas durante a sessão, um
treinamento para as secretárias externas ao consultório poderia ser eficaz na medida em que
elas tivessem conhecimento sobre os tipos de tratamento, tempo necessário para cada um
deles, agendamento de urgências, etc. Em caso de dúvidas as secretárias poderiam anotar o
recado e a profissional retornar a ligação em um intervalo programado para este fim,
preferencialmente na parte da tarde quando conta com a presença da auxiliar extrabucal. A
idéia é de que além de representar a profissional as secretárias filtrem as ligações, solicitando
a mesma somente quando for necessário.
5.1.3 Documentos
Apesar de organizados os documentos não estão fornecendo as estatísticas necessárias
a uma boa gestão financeira.
A introdução de uma estatística do número de sessões por mês, por tipo de tratamento,
idade de pacientes (crianças, adultos e idosos), casos especiais, casos de interrupção ou
abandono, número de orçamentos, lucro por tratamento poderá ser um importante fator de
decisão para a escolha de tratamentos a realizar segundo a relação custobenefício físico e
financeiro, bem como o direcionamento de investimentos futuros (equipamento, cursos de
formação, contratação de auxiliar intrabucal, etc.).
Em relação às fichas clínicas, a atualização diária é importante para que informações
não sejam esquecidas. Por isto, recomendase, além dos momentos destinados a este fim, o
89
uso de um gravador onde se possa registrar diariamente as informações e depois transcrevê
las para as fichas.
Os materiais devem estar distribuídos nas gavetas do gaveteiro móvel de acordo com a
freqüência de uso e tipo de tratamento, sendo que a 1ª. e a 2ª. gavetas devem ser eleitas para
os materiais de maior manuseio por estarem estas dentro do plano horizontal de ação. Em
seguida a 3ª. e 4ª. gavetas devem ser escolhidas nesta ordem para o armazenamento de
materiais menos utilizados mas necessários.
Quanto aos materiais que estão no armário alto, a primeira prateleira deve ser
destinada aos materiais necessários a maioria dos tratamentos.
Modificar o lado de abertura da porta da geladeira de forma que abra para a esquerda
facilitando desta forma o acesso aos produtos no seu interior.
Inserir uma luz direcionada sobre o equipo para facilitar a visão dos materiais que
manipula sobre ele e não necessitar deslocar o refletor.
5.1.5 Tr abalho a duas mãos
Adotar o verdadeiro conceito de trabalho a quatro mãos é sem dúvida uma solução
para redução do estresse e aumento da produtividade, no entanto as adequações para reduzir a
fadiga, a exposição aos riscos ocupacionais e para um trabalho a duas mãos dentro do
contexto atual são as seguintes:
Afastar a cadeira odontológica do balcão cerca de 30 cm de forma a aumentar o
espaço e permitir que acesse a geladeira ou o armário alto quando o equipo estiver
posicionado ao lado da cadeira.
Eliminar a escrivaninha de trás da cadeira odontológica.
Retirar o gaveteiro móvel debaixo do balcão e posicionálo atrás da cadeira
odontológica.
Adaptar um dispositivo liga e desliga do sugador junto ao equipo ou no pedal, bem
como um suporte para encaixar a mangueira do sugador junto ao equipo.
Reduzir o tamanho do fio do pedal.
90
Posicionar o equipo paralelamente a cadeira de forma que este fique com as pontas das
canetas voltadas para a CD.
Eliminar a cadeira do computador e adquirir um novo mocho que possa servir ao uso
esporádico do computador e a auxiliar extrabucal no período da tarde.
Fazer uso da inclinação total da cadeira quando não houver restrições para o paciente.
Tornar o paciente mais colaborativo durante a sessão de forma a solicitar mudanças da
posição da cabeça para melhorar a visibilidade das faces dos dentes e não realizar inclinações
excessivas do tronco e da cabeça.
Fazer uso de lupa própria para o trabalho odontológico para diminuir o esforço visual.
Por fim, iniciar um treinamento da auxiliar extrabucal para assistência intrabucal.
Trocar o revestimento do mocho por um material antiderrapante.
Regular o encosto do mocho de forma que fique para trás 5 cm e permita que a CD se
acomode melhor no assento.
Trocar os rodízios do gaveteiro.
Regular as gavetas do gaveteiro para que fiquem mais macias para abrir e fechar.
Realizar uma revisão no compressor.
5.2 Conclusões
Esta dissertação teve como um dos seus objetivos específicos fazer as recomendações
ergonômicas necessárias para o caso estudado. Este fim foi atingido, pois as recomendações
abrangem tanto as atividades extrabucais quanto as intrabucais favorecendo a adoção de
posturas mais adequadas, a redução da fadiga, a otimização do espaço, enfim abordam a
organização do trabalho de forma ampla e os aspectos biomecânicos.
Um outro objetivo específico foi de identificar as estratégias adotadas para reduzir os
constrangimentos no trabalho. Os constrangimentos identificados e as estratégias
correspondentes são apresentados no Quadro 9:
Pr ecisão manual Como a intervenção intrabucal requer uma precisão manual, a CD adota
postur as estáticas. Para promover o próprio relaxamento durante e entre as sessões, a
CD coloca música ambiente tr anqüila e anda pela clínica entr e as sessões par a se
movimentar .
Ger enciamento do O período de uma hor a par a cada paciente ameniza a tensão, pois o tempo de
Tempo procedimento pode sofrer variações de acordo com o tratamento e dificuldades
encontradas no decorrer da sessão e comprometer o horário, o que agita em muito a
profissional. Ela sabe que poderia realizar um maior número de tratamentos por dia,
mas refere que o custo pessoal é muito alto e que prefere esperar a ser esperada.
Localização do O equipamento é projetado para um trabalho a quatro mãos para um CD destro. O
sugador sugador, portanto encontrase do lado esquerdo do paciente, local onde deve estar a
auxiliar intrabucal. Neste caso para acionálo a CD se posiciona em 10 hor as local
onde pode intervir na boca, utilizar o equipo e o sugador.
Campo oper atór io Atuar com precisão manual em uma faceta de um dente exige uma boa
r estr ito visualização do local. Para isso, a CD faz uso de uma lupa adaptada para a odontologia
e da visão dir eta, pois refere que esta favorece a precisão manual.
Quadro 9: Constrangimentos e estratégias adotadas
92
O terceiro e último objetivo específico era de obter as referências necessárias que
evidenciarão a necessidade de se desenvolver e/ou aperfeiçoar instrumentos e equipamentos
que melhorem a qualidade de vida dos cirurgiõesdentistas. Neste estudo, foi possível
verificar que a posição sentada é a de menor gasto energético (4%) e a adoção de posturas
estáticas aumenta a precisão manual durante as intervenções intrabucais e favorece a precisão
visual. Para atender a estas condições necessárias ao atendimento, o mocho se torna um
elemento chave neste cenário, merecendo, portanto ser repensado de maneira a promover uma
postura mais ergonômica ao profissional com o objetivo de minimizar os efeitos indesejáveis
das posturas estáticas – os DORT. Alguns elementos foram identificados e merecem uma
reflexão para se repensar o conceito de assento ergonômico para o CD. São eles:
· Apoio lombar: para diminuir a tensão na musculatura da coluna vertebral;
· Apoio para membros superiores: para que os braços não fiquem suspensos;
· Estabilidade/aderência: para que não se deslize sobre o assento e sobre o solo durante
um procedimento;
· Mobilidade: para que favoreça o deslocamento quando necessário;
O objetivo geral desta dissertação era de estudar o posto de trabalho do cirurgião
dentista através da metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), visando construir
um ponto de vista da atividade desta profissão para a construção das recomendações
ergonômicas. A AET mostrouse um método bastante adequado para o estudo e compreensão
da atividade promovendo desta forma que as adequações atendessem às necessidades da CD.
Ao se conhecer as determinantes desta atividade, os constrangimentos e estratégias
adotados pela CD para amenizálos, bem como as doenças osteomusculares a que o
profissional se expõe, foi possível construir um ponto de vista desta profissão caracterizada
como:
· Estressante: por exigir um controle do medo da dor, não apenas por parte do paciente,
mas também por parte da CD que teme que ela apareça;
93
· Perfeccionista: pela busca do sucesso no tratamento e satisfação do paciente. O
desgaste proveniente da busca pela perfeição desde o agendamento até a manutenção da
clientela colabora ainda mais para o aumento de tensão já existente nas posturas estáticas;
· Restritiva: pela intervenção em pequena área, pela exigência de precisão manual e
visual, pela adoção de posturas estáticas, e pela questão econômica que priva o profissional de
ter sua equipe de auxiliares intra e extrabucais.
Estes três elementos também são encontrados na literatura. Por outro lado, a CD deste
estudo apresenta uma grande satisfação em ter escolhido a odontologia. Acreditase que a
satisfação profissional se dá através da realização de um procedimento bem feito e do controle
da dor e do medo. Esta é a gratificação que compensa o custo negativo inerente à atividade.
Tendo como base o conteúdo desta dissertação, seguem algumas sugestões para
trabalhos futuros:
· a simulação em software específico, como o Promodel, por exemplo, pode trazer uma
contribuição para a organização do trabalho;
· estudo do assento para o CD, no que diz respeito aos elementos mínimos necessários
para fornecer uma posição ergonômica;
· a formação acadêmica relativa à ergonomia odontológica e ao conceito de trabalho a 4
mãos;
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Demanda
Abor dagem global
Atividade
Obser vação
sistemática
Diagnóstico
99
ANEXO B – Esquema ger al do método da análise
er gonômica
Análise da Demanda
Abordagem global
Análise estr utural
Análise da Atividade do Tr abalho
Observação global da atividade
Obser vações sistemáticas
Tr atamento dos dados
Diagnóstico
Recomendações
Realização
Validação
100