Bosi (1988) diferencia interprete de leitor citando Carlo Diano. Diano descreve o
interprete como aquele que tem o papel de resgatar para o leitor o evento, que traz em si
complexidade subjetividade e historicidade, a que o autor deu forma. Dessa maneira se pode
afirmar que o interprete enxerga além, penetra as muitas camadas do texto e transpõem a
“opacidade” da qual fala Bosi, num exercício intelectual mais complexo, apreendendo o
sentido do que é lido.
As palavras de um texto não são translucidas e sua opacidade (BOSI, 1988) se faz da
justaposição de inúmeras camadas de significados. O trabalho do interprete se dá justamente
na retirada dessas camadas da exposição desses muitos significados. Michel Foucault, citado
por Nunes, define muito bem esse inesgotável trabalho do interprete quando diz que “a
linguagem não diz exatamente o que diz”. Dessa maneira cabe ao interprete dar voz àquilo
que não foi dito pelas palavras
No primeiro momento o texto não diz necessariamente o que de fato está dizendo,
antes fala mais nas entrelinhas. Aquilo que não está expresso nas palavras grafadas por vezes
tem maior significado do que aquilo que está explicitado. A interpretação consiste num eterno
“o autor quis dizer” que pode estar bem distante das intenções do autor exatamente pelo fato
de que a interpretação é um evento intimo que pode variar de individuo para individuo a partir
do mesmo texto, pois é uma ação que perpassa por um olhar influenciado pelo contexto
cultural.