Limites de especificação
É importante esclarecer um ponto que muitos confundem.O uso dos limites de
especificação se assemelha muito ao uso da definição operacional, apesar desta
última ser utilizada de maneira muito menos entusiástica. Se os limites de
especificação são necessários, eles precisam ser acompanhados de uma definição
operacional e de um método claro de como medi-las.Deverá haver uma regra
que defina quando algo deverá ser reprovado, retrabalhado, descartado ou
apenas desculpado, caso contrário, haverá margem para confusão.
As especificações são importantes, mas a exemplo dos japoneses, devemos
utilizá-las mais como um benchmark do que como nossa meta ou ponto
final.Nossa meta deve ser desenvolver sistemas que atenda a todas as
especificações desde o começo, e sejam continuamente melhoradas desde
então.Esta é uma filosofia muito diferente do que trabalhar para atingir as
especificações e por isto, gera efeitos muito diferentes. Atingir as especificações
é algo importante, mas deve-se buscar sempre superá-las.
Então, se não é possível utilizar os limites de especificação para definir o que é
bom e o que é ruim, como devemos proceder? Vamos retornar ao diâmetro
nominal do furo de 13.25mm.A verdade que realmente importa é que quanto
mais perto do nominal for o diâmetro, melhor será o furo. E quanto mais longe,
pior será o diâmetro.Os erros mais graves ocorrem à medida que nos afastamos
do nominal. 13.25mm é a melhor medida de todas. 13.26mm não é tão boa e
13.27 é pior ainda.
Até que ponto pode aceitar então?
Para aqueles que não estão acostumados com produção à manufatura, Pete
Jessup da Ford sugeriu um exemplo que todos podem entender a temperatura
da sala.
Para responder a esta pergunta precisamos lançar mão de um conceito diferente,
que não leva em conta o que é bom e o que é ruim, o que é conforme e não
conforme. Este novo conceito é a Função Perda de Taguchi, apresentada em 1960
por Taguchi no Japão e muito usada pelos matemáticos a mais de duzentos anos.
O valor da característica da qualidade é registrado no eixo horizontal, enquanto
o vertical mostra a perda ou quão sério poderá ser um desvio na no valor medido.
A perda é zero quando o valor do atributo de qualidade medido é igual ao
nominal. Quando o valor medido está muito próximo ao nominal, a perda
também é muito pequena. Porém, quando o valor se afasta do nominal e perda
aumenta cada vez mais.
Agora o problema é calcular a perda. Como é calculada esta perda? É em termos
da redução da qualidade no produto final, possível retrabalho insatisfação do
cliente, baixa moral na força de trabalho por produzir algo de pior qualidade, etc?
A resposta do próprio Taguchi para esta questão parece que varia. Por um lado
ele se referia à perda como “a perda para a sociedade”, enquanto sua
metodologia de planejamento de experimentos necessitava de uma forma
específica de se calcular a perda.
Abordagem de Taguchi
Apesar das dificuldades, as vantagens da abordagem de Taguchi são muitas.
Primeiramente, pode-se debater a natureza exata da função perda em qualquer
condição em particular. Este debate é baseado em uma análise lógica, oposta a
discussão dos limites de especificação que não são uma representação real da
realidade.
Outro ponto, a função perda de Taguchi mantém sempre na mente dos
envolvidos a necessidade de se melhorar sempre – se houver discrepâncias entre
o valor nominal (o que sempre há), haverá perda e, assim, a necessidade de se
melhorar (reduzir a variabilidade). Este ponto se contrapõe à visão de que ter
100% das peças dentro dos limites de especificação é o objetivo da qualidade.
O terceiro ponto é que mesmo função perda estimada de forma grosseira poderá
fornecer muita informação para se priorizar os esforços de melhoria. Para se
priorizar qual projeto de melhoria deve ser realizado primeiro, pode-se estimar a
função perda para os vários projetos escolhidos e priorizar o com a função perda
com evolução mais rápida.
Por último, a utilização da função perda de Taguchi permite prover uma base, se
for necessária, para se analisar o valor dos esforços de melhoria e também irá
tornar mais visível o custo de algumas práticas da empresa.
Exemplo
Há processos nos quais o desgaste da ferramenta causa uma redução gradual na
qualidade medida.Uma prática comum das empresas que possuem este processo
de fabricação é ajustar a máquina para produzir próximo ao limite superior de
especificação quando a ferramenta é nova e depois deixar a média cair de
maneira gradual e então trocar a ferramenta quando a medida ficar próxima ao
limite inferior de especificação.
Esta prática resulta num dimensional de saída que cobre toda a faixa de
especificação permitida, causando segundo a função perda de Taguchi um
prejuízo grande.