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Lowen Ean bwe eee Poneman Ficn Pini gets fn ola cu Loven Fe Gb Liam, APPZ. : Cinema Brasileiro 0 Periodo Silencioso Maria Rita Galvito Primeira fase CJ das origens de 1912 Desde o inicio, & preciso que se fenha em mente @ atle icou a introduced do cinema —{ruto direto da pes quisa cientifica, do progresso téenico ¢ do desenvotvimento industrial — nuim pais pouco desenvolvide como era 0 fra. sil nos dltimos anos do século XIX. O cinema, na Eurona Ccidental ena América do Norte, encarnou a chegada dt revolugio industrial ao campo do entretenimento. e & sent Ficativo o fato de ele ter surgido e se desenvolvido ent pri ineiro lugar € praticamiente ao mesmo tempo. precisamente em paises altamente industrializades. A noviclade se espit~ thot rapidameate por toda a parte e. meig ano denois das primeiras apresentagdes pablicas de cinema, temas ci ‘no Brasil. Porém um Brasil penosainente atrasado: pais e5- sencialmente agricola, recém-saido da monacquiia € area do ainda com-o peso de umn regime escravecrata abotido eniconica cam: havia menos de wna década. O cinema, 4 po propicio ao sew desenvolvimento aos prices industrial ‘zados, ird engatinhar e estagnar-se em paises retardatarios ‘como 0 nosso, exportadares de matérias primas e importa dores de produtos industrinis. Assim, 0 fato de as prime tas [ilmagens brasileiras terem surgido muito cedo a rigor ‘nao quer dizer muita coisa: em que pesasse a curiosidadle ‘que elas certamente despertavam e 0 sucesso que pectem fer tido junto ao piblico, nao havia condigées objetivas que taping, Sls ji Pulley, muitoe sa. eamios Frederico Figner Fey a0 Rie er tense 4 Rnetoncope ct prints ardate de rtan # mb lia pots Jo PHONOGRAPHO bol SAANDE REPERTURLO LtAICO Fated yrs it.» Kinotoncope + ome 3 {S640 Bhotlographo 1$000 OUVIDOR 132 Fe or 1 YOOIANG oa YAY Lumiére, e antes que se fixe 0 nome einematégrapho 0 ci- nema recebe as denominagbes mais diversas: animatogra. pho, cinebgrapho, vidamotdgrapho. bidgrapha, vitasco- pio, kinetOgrapho ou mesmo scenomaidgrapho. Como em muitos outros lugares, também no Brasil 0 cinema nao era diversio independente, € © seu mercado inicia, bastante flufdo, confundia-se com o de especticu- los de variedades, em que se exibia cinema juntamente com X prestidigitadores, museus de cera, indios, fonbzrafos, apa telhos de Raio-X, bonecos mecdnicos, mulheres barbadas e toda a espéeie de curiosidades (0 comircio cinematografico é campo de atuacao quase ‘que exclusivamente de ambulanies europeus, que trazem, para o Brasil o seu proprio aparelhamento € um pequeno, estoque de files, sobretudo franceses. Os jornais da €po- ca nos permitem identificar pelos titulos boa parte dos fil mes aqui exibidos nos primeiros tempos: de inicio predo- tmina a producto dos Lumiére, logo depois ha alguma coi sa de Edison © em quantidades crescentes a producto de Méliés, ¢ alguns filmes ingleses e portugueses, Alem das eternas chegadas de trens, demotigdes de muros, bebes pa- pando, regadores regadas, coroagdes de reis e bulevares europeus, vez por outra um programa de cinematégrafo anunciava «vistas locaes», tomadas por alguim cinegrafista itinerante que as inclufa em suas turnés. Apresentando-se iniciaimente nos saldes de variedades, passando pelos tea- {ros € cafés-cantantes, paralelamente 0 cinema chega 20s parques de diversdes, ¢ com eles percorre as cidades do in- terior. Acrescenta-se ao mercado urbano que se esbocava ‘um paiblico dilwido que tem alguma significagto apenas ros estados do Rio de Janeito © de Séo Paulo, as regides ‘mais desenvolvidas do pais. Os ambulantes europeus raras vezes se arriscam a embreabar-se inais para dentro ou para omotte: 0 temor das febres © a ma fama de selvajaria da terra limitam sua atuagao ao sul, mais urbanizado, ¢ & al- ‘aumas poucas capitais do norte, portos de mar. (© mercado que se delineia a partir disto é extremamen- te mediocre: a clientela do recém-descoberto cinematdgra- fo t aquela possivel de see atingida, num Brasil de enormes, disténcias e poucas estradas, por modestos artestios do es- petdculo que ineluern em sua tralha um projetor que € a0 mesmo tempo camara e copiadeira, AAs raras salas fixas de exibiedo se concentram no Rio de Janeiro, € mesmo assim sua permantcia ¢ relativa, Por variados motivos — entre eles certamente a dificuldade de ‘obtengao de cépias, problemas tecnicos com os aparelhos ‘ou instalagdes, € ainda os incéndios— ha frequentes inter rupgées dos expetdculos cinematograficas, por vezes por ongos periods. Sem esquecer as epidemias, durante as aquais se interrompian todos os espetaculos pablicos, A primeira sata fiva de exibiezo cinematografica do Rio de Janeico ¢ instalada em 1897 pelos irmaos Segreto, igrantes italianos, Chama.se de inicio Sain de Novidades mas como o cinema & novidade Francesa logo nuda seu me para Paris no Rio, Ja no ano seguinte, muiiias 580 as vistas brasileiras anunciadas pelos jornais Pairam davidas sobre qual teria sido a primeira file ‘gem feita no Brasil. Os jornais cariocas em junho de 1898 ‘anunciam a chegada do navio francés Brézil trazendo bordo Afonso Segreto, um dos donos do salao Paris wo Rio, que de volta da Europa, onde fora comprar filmes 1t0- ‘vos, traz também pelicula virgem e uma maquina de presa, ‘ena entrada da Baia do Guanabara filma as fortalezas € ab ‘guns navios de guerra. HA no entanto referéncias Ue histo riadores a filmagens anteriores: trata-se de dois registros {que nfo chegavam a.um minuto, uma Chegada do Trem a Estagdo de Peir polis, pequena cidade do estado do Rio de Jancito, € um Bailado de Criancas no Colégio do Andarat, também de Petrépolis. Ambos os titutos (de que 80 en- contramos vestigios em jornais da época) constam do pro- grama de um exibidor ambulante que se apresentou etm Pe- trépolis no inicio de 1897, Vitorio di Maio. Esta questo a rigor sem importincia —nio faz a menor diferenca, em termos da compreensto de um processo, saber se 0 primci- 10 filme brasileiro foi este ou aquele — provocou significa- tiva poléiica entre os primeiros historiadores do nosso ci nema, Uns acreditam tratar-se de uma farsa: 0 exibidor te- ria simplesmente mudado o nome de alguma das intimeras ‘Chegadas do Trem a Qualquer-Parte, substituindo La Cio: tat ou Genova por Petrapolis para atrair o publico petro: politano; outros, 20 contrario, julgam absurdo que se pre- tendesse tapeat um piblico que certamente conhecia muito ‘bem a sua propria estacdo de ferro € 0 seu proprio colegio: a0 que terceiros ponderam, lembrando a ina qualidade das projecdes nestes primeiros tempos, que taclo mundo se da- ria por satisfeito se chegasse a reconhecer simplesmente um trem ou meninas dangando De qualquer mado a primeira filmagem brasileira con: eretamente docuneniada continua seniddo a de Afonso Se- reto em 19 de Junho de 1898. Dez dias mais tarde, o mes: mo Afonso Segreto filma alguinas vistas. da cidade do Rio de Janeiro ¢ 0 cortejo fanebre de Floriano Peixoto, ex- presidente da Repiblica ¢ um dos generais autores do gol- ‘pe que nove anos antes havia deposto o Lmperador do Brav sil, Dom Pedro If, As proximas filmagens focalizam 0 ea- ao presidente da Repliblica Prudente de Morais e algamas praias do Rio de Janciro: configuran-se de imiediato aque: les que seriam os principais temas do cinema brasileiro du: rante anos ~ 05 «tituais do poder e a «paisazem do org Iho nacionaly®. Pais pobre e apagado, poucas qualidades tinha de que os brasiteiros tanto se orgulliassem como a exuberancia de sua natureza: as belas praias, as matas vit gens, as montankias € cataratas serdo filmadas a saciedade, E além dos presidentes da Republica indo ¢ vindo, visitan do ¢ inaugurando, cumprindo a exterioridade das suas fun- oes. filunagens de toca a espécie de cerimdnias oficiais —politicas, administrativas, militares ou mesmo eclestés- ticas— complementam os rituais do Estado, aiudande a reforgat a importancia que se pretende atribuir § neva Re publica do Brasil ‘A cnoridade francesa tem sucesso, € 08 irmaos Segre: to expandem seus negocios para outras cidades: ainda em 1898 inauguram um novo salao, Paris ent Campos. € poit co mais tarde haveria um Paris em Sao Paulo, No inicio de 1899 a exibigdo de vistas nacionais nos seus saldes torna-se frequente, € durante algum tempo tera continuidade. Em 1900 anunciam pelos jornais a criagto de uma laboratario, cinematogrdfico permanente para a fabricagao de vistas nacionais (e provavelmente também para a contratipagem tires), © especificam: «Todos os dias vistas novas imos. acontecimentos nacionais ¢ estrangeiro Alone Segee4n e seu salvia Downs nos primes Alim de salges de variedades abrem parques de diversoes, 2 partir dz 1901, quando comeca a moda no Rio de Ja- neiro dos cafés-concerto, ou dos «chops», como inicial mente etam chamados os mais modestos, 08 Segreto va0 exibie cinema também nos cafés, € serao proprietétios de varios deles. Ainda que a maior parte dessas salas sejam de ceucta ducagdo, configura-se um primeiro momento de ani- maga cinematografica de que nos dao conta os jornais da epoca. Deste modo surge no Brasil um incipiente cinema «aa- tural» feito de registros documentais de locals, persoma- gens © acontecimentos considerados importantes no mo mento: paradas militares, as festas comemorativas da In- dependéncia ¢ da Republica, a Baia do Guanabara, inau- ‘euragdes, enterros, visitantes ilustres, personalidades de destaque, recantos exdticos, Festas populares € religiosas, as nias do Rio de Janeiro, igreias ¢ momumentos, praias € mais praias. A maior parte destes filmes claramente n&o pasiam de registros simples de acontecimentos, oU no ma: imo de uma série de cegistros justapostos; alguns titulos, no entanto, sugerem pequenas encenacées narrativas ou filmagens de espetéculos de variedades: Uma Familia Acrobitica, O Mégico dos Bonecos, A Danga de un Bai no, A Quadritha do Moulin Rouge, Um Careca, Um Poli- cia dentro do Tanque, A Infelicidade de wnn Velho na Noi- te do Casamento, Um Maxixe do outro Mundo, Uma Via- gem de Niipeias que acaba mal. Destes filmes, euja ago se achava resumida ot mais provavelmente toda ela contida no proprio titulo, nenfurn chegou até nés. Dos dez primeiros anos de cinema brasilei- ro, 2 memoria escrita registra apenas uma série de titulos ta, Afonso Segreto. A partir de 1902, n&o encontramos mais referencias ao seu nome; as vistas nacionais anuncia- das pelos jornais diminuem bastante, ¢ boa parte das apre- sentadas s8o repeticdes. Em 1905, surge um outro cinegra- fisia trabalhando regularmente, 0 portugués Ant6nio Leal, ‘que serérnos-proximes-enes-um-dos principais-nomes do.cie nema brasileiro. tempo, varios deles inclusive produzidos por Pascoal Se greto, irmio de Afonso. Assim, a partir de 1903, sabe-se dda existéncia de varios cinegrafistas cujos nomes se perde: No resto do Brasil, no ha praticamente nada, a n3o ser raras ¢ eiporadieas filmagens de“exibidores ambulantes. cexcego, mesmo assim relativa, & Sao Paulo, onde tais fit Imagens so mais frequentes (embora nio haja cinesrafistas tabathando de modo regular sendo a partir de 1905), 0 ‘que se explica pelo niimero bem maior de exibidores cine: matograficos que visitam a cidade, Tal como no Rio, filmam-se as ruas, parques piblicos, passeios. ¢ ha ainda ‘alguns filmes encomendados pela Secretaria da Agricultura sobre cafezais, plantagdes de algodao ¢ hortalicas, abrinco ‘um camino fértil para 0 cinema brasileiro do periodo mu do, com claros prolongamentos até o dia de hoje: a propa ganda governamental institucionalizada no cinema. O pri- meico filme de enredo paulista de que se tem noticia foi tum imitagdo de Mélies, O Diabo, feito em 1908 por Antd- nio Campos, que (ransformara em filmadora um projetor fe passa a filmar atuatidades locais, dedicandlo-se no futuro 2 feitura de alguns filmes de enredo ¢ muita propaganda paga, sobretudo governamental. Em outros estados brasileiros, 0 apareciimento de cine grafistas (cabathando de modo continuo & mais tardio. No Nao houve, no entanto, interrupsto das filinagens no Rio de Janeiro durante o periodo que separa os ultimos fil- mes de Segreto ¢ 0s primeiras de Leal. Fornais de outros estados registram a exibieao de filmes no Rio durante este "Apts oalimogo. sata 0 Consethcizo para. cide, pene rans Sods ou an Sinema, O eines ext © Cine Heal yo Pins fee Sema ehnciar ert Roy Harass 0 propctics eh inca sera The gina cadeten que eemtinuow reserve mest depess da mwas de Ry Barbs 2 Parana, teremos Anibal Requido filmando naturais a par- tir de 1907, € Aristides Gramacho na Bahia a partir de 1909. No Rio Grande do Sul, os primeiros exibidores enco- inendam filtagens locais com alguma frequéncia por esta epoca, mas nao ha cinegrafistas trabalhando regularmente na regio como nos outros estados mencionados; em 1908, produz-se em Porto Alegre um primeiro filme de enredo, Ranchinho de Palka, baseado num poems de Bastos Tigre ¢ filmado por Eduardo Hirt desenvolvimento do incipiente mercado cinematogr’: fico que se esbosava no Brasil € emperrado por fatores de cordem diversa: tecnicamente, @ deficiéncia de iluminagao; como espetéculo, a repeticao de assuntos; ¢ culluralmente, 2 comparacio com 0 teatro, de muito maior prestigio so- cial. AS poucas salas fixas de exibigao na verdade sao bas; ‘ante precitias, € funcionam mal: sao frequentes as recla- magdes dos jornais sobre a m& qualidade da projeo, ¢ também as referéncias aos atrasos ou malogro de exibigdes ‘em decorréncia de enguigos mec@nicos ou de falta de ener gia. A precariedade da energia elétrica fornecida por gera- dores particutares impedia um funcionamento razodvel dos projetores, € a menor ventania interrompia o fornecimento de energia para os poucos locais que contavam com tal mo- dernidade, Por outro lado, @ insisténcia coni que os an cios afirmavam a wnitidezn das imagens, stua «pouca trepi dagon © 25 ucenas inéditas», nos da uma boa idéia do quanto deveriam ser pouco nitidos, tremidos e repetitivos 0s filmes apresentados nestes primeiros tempos. Durante dez anos, 0 cinema vegetou no Brasil. Foi ape- nas por volta de 1907 que comecaram a se espathar pelas grandes cidades —fundamentaimente Rio € Sao Paulo— (0 cinemas propriamente ditos, propiciando a formacao de Jum mercado cinematografico mais consistente. No Rio ¢ em Sto Paulo, a relacko entre a industrializagao da eletrici- dade e © florescimento do mercado cinematografico parece see direta — mas € temerdrio associar de modo mecanico estes dois Fatos. A relacdo claramente existe, porém com certera ndo-foi este 0 inico fator a influir no processo. Uma histéria comparada das cinematografias sul- americanas talver apontasce a existéncia de outros fatores, de ordem externa. Por pequeno que seja 0 nosso conheci- mento de outeas cinematografias proximas a brasileira, al- gumas relagdes se impdem. Por exemplo, niio pode ser me- Argentina ra coincidéncia 0 Tato de que também 1907/1908 tenha sido © periodo de expansio cinematogra fica (assim como também la, tal como no Brasil. 8s pritnei ras exibigdes tiveram lugar em 1896 e as primeiras Fila: zens documentais pouco depois): no entanto, a industrial zagio da eletricidade en) Buenos Aires ¢ anterior Aleuns historiadores observam sinda que, mesmo em paises alta mente industrializados, como a Franca ea Alemanba, foi le inicio generalizado 0 emprego de outras Fontes de ilumi- ago que aio a eléirica sem que isto livesse emperrado 0 desenvolvimento dos espetitculos cinematograficos. a também a considerar que outros espeticulos teatrais ¢ de variedades que no Brasil apresentavam projecdes fixes ¢ dependiam de iluminagdo usavam sistemas a gas bastante parecidos com a perigosa lanterna Mottin dos cinemat6. grafos europeus. De qualquer modo, @ fato que 0 cinema. tografo usava de preferéncia 2 energia elétrica, e a indus- trializago da eletricidade certamente : fn nrorecen de seu desenvolvimento. A partir de 1907, moltipticam-se os cinemas com extraordindria rapidez, instalando-se as dezenas, de inicio no Rio e ent Sio Paulo, pouco mvary vat de tambim nas outras capitais de estados e em muitas cida. des do interior. ‘A abertura de salas ¢ mais salas de cinema animow ba tante a importacio regular de filmes estrangeiros, segulida de perto pelo imediato florescimento da produg2o local. O problema de renovar o estoque de filines era de tal modo compiexo, caro e trabalhoso, exigindo constantes viagens & Europa e algumas vezes aos Estados Unidos, que quase se tornava tao facil fazer filmes quanto importé-los. O cine: ma era ainda fundamentalmente artesanato, ¢ mesmo no Brasil, onde 0 atraso técnico retardava o desenvalvimento industrial, fazer filmes era uma alividade relativamente simples para os artesdos imigrantes que passam a se ocupar dela. E, deste que se dispusesse de um equipamento itn portado, podia-se recrutar fotdgrafos — com que o Brasil j& contava em nlimero suficiente havia anos— para este novo campo de atividade. O trabalho de win cinegrafista se reduzia, em ltima andlise, a acertar a maquina e a girar s manivela (por isso eram chamados de homens do realejow) € 0 conhecimento fotogratico resolvia os proble mas de revelacao e copiagem. ‘A producto se intensifica’, ¢ ao lado dos filmes de atualidades tem inicio @ produgo regular de «posados», cvjos atores s4o rectutados no tealra, bem como os «en saiadores», quando existiam. Em geral, porem, os pro- prios cinegraistas encarregavam-se da direcZo das cenas. Tal como de inicio os irmaos Segreto, os novos empre- sarios dedicam-se simultaneamente & exibicdo, importagdo « producto, Este intimo entrosamento entre a exibigao ¢ a fabricacdo de filmes certamente foi fator fundamental pa- maa vitalidade que o cinema brasileiro conheceu endo. Os principais nomes do cinema nacional da época con tinuam sendo estraageiros, mas aos poucos alguns brasilei- 105 v2o se entrosando na actividade cinematogratica. Entre 0s cinegrafistas, os mais atives sto o portugués Antnio Leal eo francés Jillio Ferrez, 20s quais vAo se juntando os brasileiros Alberto € Paulino Botetho, Eduardo Leite, An- tdnio Serta e varios outros. Entre os exibidores-produto- 1s, 08 principais sero o italiano Labanca, o alemao Avler © pouco mais tarde o espanhol Serrador (0s filmes procuram copiar canhestramente a producao esteangeira, adaptando-a as circunstancias e assuntos lo- cais, Tecnicamente £0 inferiores aos filmes americanos & europeuts, que se desenvolviam ¢ aprimoravam com muita rapidez, mas no momento isto no tem grande importin- cia: o cinema estrangeiro nc tivera tempo ainda de criar no piblico a capacidade de distinguir apreciar 0 bom aca- bamento, nem o hébito de ver projetada na tela a sua reali- dade (a do estrangeiro) € no a dele (piiblico brasileiro). Desenvolve-se ento no Rio de Janeiro uma produgto cinematografiea bastante variada ¢ animadissima. Ha co- médias, crénica policial, melodramas convencionais, dra- mias histéricos, filmes patridticos, carnavatescos, religio- 50s, h& sitira, politica, pequenas crénicas de costumes, atc., etc. Uma relagdo pormenorizada de filmes nao Faria {alvez sentido para um Ieitor estrangeiro, mas no Brasil os seus simples titulos € temas tém ressonfincia e reconstituem com consisténcia todo um momento historico. Os primeiros filmes de grande sucesso sao reconstitui des de crimes que assombraram a imaginagdo popular, enchendo paginas e mais paginas dos jornais, dando ot gem a peces teatrais e folhetos de literatura de cordel: Os Estronguladares (AntOnio Leal, 1908), O Crime da Mala allo Ferrez, 1908), Noivado de Sangue (Antonio Serra, 1903], € uma série de outros, abrindo mais um caminko “nto Leal natura de Viena do Cate plone cea bn, que seria constantemente trilhado pefo cinema brasileiro posterior, Grandes assaltos, esquartejamentos, crimes poli- ticos © passionais, quadrithas de falsarios, gangues dos morros e favelas, toda a crdnica policial das grandes cid des ou dos longinquos sertdes comporao um dos temas fa. voritos do cinema brasileiro. Nos primeiros tempos, estes filmes apresentavam a vantagem suplementar de dispensa: rem granides letreiras explicativos ou esquemas narratives, demasiado complexos; dividides ew quadres precedidos de tum letreiro indicativo, na verdade os filmes meramente ilustravatn as historias, de antemao fartamente conhecidas pelo piblico, sem necessidade de efectivamente conta-tes. (© mesmo acontecia com boa parte das historias encena das. Melodramas convencionais como Jodo José ou Re ‘morso Vivo (ambos de Eduardo Leite, 1909) faziam parte do repert6rio teatral corrente apresentado dezenas de vezes, ‘em palcos € circos brasileiros. Romances extcangeiros co- mo A Cabana do Pai Tomds (AntOnio Leal. 1909), quando cchegam a tela j& haviam entrada para o dominio piblico desde as campanhas abolicionistas. Os dramas hi como Inés de Castro (Eduardo Leite, 1908) out a Restaura: fies hintorices das prineipios dn che fine Tragedia Linen ow Revolugie Porngnein,produgay 4. Willi ule. A cena referee 20 banguete ofereckin pot D. Nantel 1 (93 ‘oso Baptista Martins) so ent Presidente Brasileiro, Marcell Heres ds Fonseen (nedade. perto dh mess, representado flo actor Santucei) "Tudo ite se paso as sesperne do § de Ota {go de Portuga! em 1640 (Domingos Braga, 1909) faziam parte da formagao escolar dos — nao mi Brasileiros instruidos. Os filmes de temas catdlicos, que ccriain outra tradigtio duradoura no nosso cinema — tais como As Portas do Céu (Anténio Serra, 1909), Milagres de Nassa Senhora da Penha (Alberto Botelho, 1910) ou Mila- gres de Santo Ant6nio (Ant6nio Serra, 1909) — apoiavam- se na grande religiosidade do povo brasileiro e nas historias dos santos favoritos de suas devogdes © promessas. Os pa tridticos. como A Vida do Baréo do Rio Branco (Alberto Botelho, 1910), exploravam episédios recentes € as perso des fundamentais no esforgo de consolidagtio da Re- publica cinema brasileiro comega a tecer a crénica do quoti- diano urbano, ¢ além das paisagens ¢ cerimBnias oficiais cenfoca a vida social das elites, aspectos do trabatho ¢ do la: zer, 0 futebol ¢ o carnaval, ampliando a sua tematica. Por veves mesmo, ¢ desde 0 inicio do século, ainda que de mo: do incidental, estes filmes a seu modo refletem alguns dos principais fendmenos que caracterizam o Brasil da época. Imigracao ¢ Colonizacdo no Estado de Sto Pawio (Stama- to, 1910) ou Circolo Operaio (sic) Hatiano em So Paulo (1900) atestam a preseniea crescente dos imigrantes qu vindos-para-elavoura-em-substituicho &-mao-de-obra es ctava, irfo para as cidades, compondo nos préximnos anos boa parte do protetariado urbano, ¢ logo em seguida, em ja ascenco social, 0 empresariado industrial; Nid Anastécio chegou de Viagem (Jilio Fettez, 1908), Sé Lore rio e Sid Ofrasia (Anténio Leal, 1908) e uma série dle ou- tras comediazinhas semelliantes ginsam o chogue cultura grandes, trazende de camponeses que pracuram as cia seus habitos dos velhos tenipos, representatives do, rast retrogrado que se pretende superar. © aa mestit tempo @ Lusos e costumes que se valorizam come os auténticns ¢ terra, que @ internacionalizacdo as.cieales ¢ @ crescent {quantidade de imigeantes estrangeiros tenclem a fazer desa parecer: O Bando Precarsirin para a Seca do Ceard (1900) ‘Afonso Segreto) focaliza a caridade institucional, tnic: Forma com que o stl mais rico se propée a debetar a mise ria que assola o nordeste co pais durante as seeas. A Re volta da Chibata (Alberto Botello. 1910) on Revolt m Marinka (do mesivo ano) documentam as primeiras mani Festacdes da inquietacao social quie se iria desenvalver de: wey com as grandes ere ante a prosima década, culnin ves e manifestacdes operdrias do Final do periodio que tra mos; Pescadores tirando Peixes nas Aguas de Niters (1900) Danga de Capoeiras, (1908) O Padre Vendedor a Fésforas (Ant6nio Leal, 1908) registram tipas, usos € cos tumes populares. Segunda-Feira do Bonfim (Diomede Gramacho, 1910), As Fesias da Penfa (1909) ¢ unia seri. de outros filmes sobre festas populares documentam a manifestacdes de sincretismo com que, misturando a deve Gio cristd com 0 profano do carnaval € os ritos africana herdados do: escravos, © poco constioi a sua religiosidad especifica. Porém durante anos pouea atencao darit o cine rma brasileiro a0 povo, concentrand-se nas personalidade de nome e na alta burguesia. Se apecar dissa ele se far nre ‘Uns engietes de cen 1 Pathe. cm 18, os ini fe fash Ri 7 sente de um modo ou de outro, se1& sempre enfocado de uum pont de vista que @ exterior aos seus problemas: de sum moda geral aos cinegrafistas @ que interessa no povo & co carater folelorico de alguns aspectos da sua vida (0 Rio de Janeiro passava entio por grandes transfor macdes que visasam modernizar a capital do pais e modift caram inteiramente a sua fisionomia. Muitos sto os filones de atualidades que registram intensa urbanizac&o da ci dade, com a abertuta de novas avenidas, viadwtos, metho: ramentos puiblicas, atecramento de morros que conquistam espaco ao mar. «O Rio civiiza-sen, era 0 refrao da época, fo cinema brasileiro se empenha em demonstrar sua vera: cidade nios documentaios € filmes de enredo. ‘Mas a0 meso feinpo demonstra, sem sequer dar-se conta, quem sabe, alguns dos aspectos mais significativos € dolorosos do nosso suhdesenvolvimento. Talvez 0 exemplo Finite seja um filme chamado O Comprartor de Ratos (An ténio Leal, 1908), que transforma em comédia a doenga ¢a miséria urbanas abordando em tom de satira as tentativas do governo de saneamento das cidades: numa campanha de erradicacao de epidemias, © governo institui a compra de ratos, transmissares de doencas, pagando alguns tost&es por eamanclongos e progressivamente mais por rates malo: res; imediatamente se desenvolve, nas favelas e bairros po- bres do Rio de Janeiro, um prospero € readoso negocio — a ctiacdo de ratos em siveiros para vendé-los, adultos, 20r dos ¢ saudaveis, por melhor preco. A figura do comprador de ratos, com sett tragico pregtio — «Rato, rato, raio! Ca- mandongo, percesejo, carrapatol — talvez tenha sido a nificativa que o cinema brasileiro te ersonagem mais nha criado até entéo, Merece também registro 0 inicio das producdes «pican tes» — filines como ls Horas da Mundana (William Hen- selins, 1909) ou $06 comira o Espiroqueta Patido (Paulino Botelho, 1911) — de enorme porvir no cinema brasileiro, ‘que em sessdes 56 para homens apresentavam «cenas bre- itis, Nagelo nacional desde os tempos do Brasil colénia. Finalmente, hi o g@nero de filmes de maior sucesso que se consideravam «tipicamente wossosn: os chamados «cat tares € que logo se transformaram em «fatantes», Ele surgem eon Sao Paulo, mas sera no Rio de Janeiro que irao se desenvolver € aprimorar, De inicio, so filmezinhos cu tos, apresentanite um dueto musical. dev mente mais longe até cheparem, por volta cle 1909. 1910. st foperetas completas, projetadas enquantes @ trupe inteiet ceantava atris da tela. Alguns de’ tados centenas de cezes, com enorme siieesst, em verses por diferentes exibidores, Toxto » repertaria cor rente de areas, operas e operetas da ene foi inclaidns Conde de Luxemburgo, A Gueixa. A Camdessa Deseaeds Filmes foram atpresen Lo Boheme, Covalteria Rusticena, | Peatiacst, Tani sec, Un Ballo in Maschera, It Teovarare. Exnnai. Lucie ee Lanumernoor, “A Princesa dos Délures, Sele de Valet. Tosca, Carmien, etc., etc, od bitira Meare, ale de ues ver saes diversas, teve ainda uma parddia, O Utne Ueere (Mauri, 1910). Afora operas ¢ ope revistas de aitialidade politica, nia tradieao teatral des ve thas revistase-Fim-de-anie brasileiras. que ironizacany os principais acontecimentos politicos «lo momento. Anais mosa delas foi Paz ¢ Anror (Guilierine Auler. 1940) exi bida centena de vezes no Rio de Janeico € ainda em cartar cinco anos depois da producao, excwisionande peto norte do pais com «companhias de cinema fatanten. € além dos Imes nacionais, sonorizam-se (ambém os estrangeiros com canto e/ov dialogos sempre que 05 temas a isto se prestam, ‘Um simples apanhado dos titulos de filmes brasileiros conhecidos deste periodo sugere claraniente @ seu enraiza mento cultural e sua vinculagta aos expeticulos de teatro Tigeito, na tradigao do circo, da revista € do mambembe ‘Sao iniimeras as referéncias dos inriais ao enorme sucesse de piblico que tinham estes flues, A producto nacional se ‘encaiva organicamente no campo das diversdes ¢ no meren i, Fane éaFeun dn cnenatogr afin, eapatentenente nfo ha ding. ot tatranaero creee, aparece, se expan, integrase dequatio anor, Durante ese tenipo « cincr anndal se traetonma de mod dei, sae 0B ge iia Fe tarda nevdade cinematogrtica una verdad initia Geaversber ee Toi possvel, no inicio do sculo, 9 exis tteca de uma producto cinematogrific estnulante © hein deitalldade num pals sem udisria con ea ¢ Bsa Guargve fotGgrafo dotado de alga halide pestis ser tim einegeafista, qualgy , maya rn projet em mkquina de-pesa,revelasae con eee eee niente reese meme inva Gener ecwfesconcerto. ord nia Franca ins Exes Uskls jema brasileiro ida do Rio de YC ree ecaurico engenhoso transfor a industrializagao do entretenimento. Produz-se em série © fem quantidades erescentes, of filmes se desenvolvemt € se aprimoram, tornam-se cada vez mais longos, mais comple. 08, mais caros, Com 0 aumento de custos da producto, @ ampliagdo da mercado & condigao imprescindivel a0 des volvimento da nova industria: a indisteia do filme espalha seu produto pelo mundo todo, constituinde e organizan- do 0 seu mercado, ‘0 proceso demora algumn tempo @ atingir 0 Brasit. Um precitio mercado exibidor que mal ensaia os seus prime 0s passos nfo atraia especialmente 0s produtores euro- peus que consolidavam os seus mercados no mundo desen- volvido. Ao Brasil chegevam ainda apenas os antigos arte. sos ambulantes, ¢ os exibidores brasileiros, se queriam fil- mes novos, tinhamn de ir buscd-los nas metropolis — ou de produzi-los. ‘Mas por volta de 1912 0 mercado mundial ineorpora 0 Brasil. Em obedigncia ao que Paulo Emilio Salles Gomes chamou de «uma das leis inapelaveis do subdesenvolvi menion — a decadéncia precoce — o cinema brasileiro eclipsou-se, num movimento rapido € dréstico que nio du ra mais do que alguns meses para se processar (5). O cine: ‘ma ja agora é uma indistria, com a qual a producto arte: sanal brasileira nfo tem condigdes de concorrer. O merea. do brasileiro, que com altos ¢ baixos daqui por diante se desenvolvera de modo crescente, fica iateiramente dispo- sigho do filme estrangeito. Segunda fase ~ de 1913 aos primeiros anos 20 £ 0 inicio da crise crénica. A primeira decadéncia im- poe um processo que iia se perpetuar monotonamente por toda a histéria do cinema brasileiro, instituindo como com digo de existéncia a crise permanente. Daqui por diante, a caminhiada € penosa. A intensa producdo do periodo anterior se reduz bastante (6). Temos, pela primeira vez um fendmeno que se repetira vezes sem conta: 0 desaparecimento completo de firmas, produtores, atores, realizadores, Os evibidores, vinculando-se & indis- teia estrangeira, no produzem mais, ¢ nao h& outros pro- dutores variedades — na parca medida em que elas pro vivem, pois também tais formas de entretenimento artes nal vao sendo sufocadas pelo cinema, a indistria de diver sdes. Resisiem apenas alguns cinegrafistas, ao lads dos pouicos novos diretores que ira0 sureindo. A margem dos interesses do mercado € quase ignorado pelo pitblico, o cinema brasileiro sobrevive com algunia continuiidade no anico campo em que o cinema estrangeiro no Ihe oferece concorrencia: 0 das atualidades locais. Co: mo sub-produto desta atividade ja em si marginal, vez por coutra surgem filmes de earedo — atividade marginal na produgao corrente dé filmes natucais — em geval produri dos pelos proprios cinegrafistas. Quebrado 0 vinculo inicial entre a exibigdo € @ prod ho, 0 cinema brasileiro nao tem onde exibir-se, O aprimo- Famento téenico do cinema estrangeiro deixa a leguas de distancia o primitivismo da nossa produc&o. Sem um mini mo de condigées para tanto, 0 cinema brasileiro continua procurando imitar o estrangeiro, mas diante da contrafac Gio precaria 0 exibidores € 0 pitblico preferein o original de boa qualidade. Na impossibitidade de imitar convincemtemente, come ga entlo a procura de um cinema que. de algim modo, atraia o publica por ser diferente do estrangeiso: wm ci ma ubrasileiron. © desenvolvimento tematico da producto nacional claramente indica esta preocupacao: 0 grosso da produgdo se baseia em adaptacdes de romances (radicio~ nnais, em temas que enfocam o indio ou 0s costumes tipicos do interior brasileiro, e na encenacio de episodios histori- cos ou patridticos. O enraizamento cultural. que no perio- do anterior eva, por assitn dizer, natural — uma questo de fato — & agora objeto de angustiosa busca. A precariedade da producto que, bem ou mal, conse- gue ser concretizada, reflete na sua prdpria feitura, € de um modo gritante, a condigto de subdesenvolvimento, Quando — raramente — ela consegue ser vista nos cinemas pelo piblice brasileiro, a propria imagem refletida nao & agradavel, e 0 pilblico mais e mais se afasta deta ‘Sem sucesso na imitagto e sem vigor na forcada oriei- nalidade, o cinema brasileiro é totalmente posto 4 margen. e sua grande luta, ducante décadas, & a de simplesmente subsistir. COs artistas voltam para o teatre gciro. o circo. as ias sobre: Gens de 0 Crime Sensei ‘os rs ori fits dso Lentamente, no Rio de Janeiro, recomera a producto = «posadasn, Os primeiros sto historias de erimes. reto~ ‘ando a tradi¢&o que vinha do periodo anterior: O Caso dos Caixotes ¢ © Crime de Paula Matos, ambos feitos em 1913 pelos irmios Botelho. Serdo eles tanrbéin os autores. do principal jornal cinematogratico focal: 0 Cine Jornal Brasileiro. Dues marcas estrangeiras, a Pathé © a Gav. mont. incliem atualidades locais nos seus jornais cinema- coerdficos. E surgem também nesta épaca outros jornais, cinematograficos regulates no Rio ¢ em Sao Paulo, Havera ada em varios pontos do pais produgdo de atualidades locais, porém sem grande continuidade Em 1914, merece meno um caso raro no ional: 0 aparecimento no Rio de Janeiro de um autor ci- nnematografico que conseguira desenvolver uma carreira continua durante quase cinquenta anos: Luis de Barros, gue entre 1914 e 1962 dirigird mais de sessenta longas me- ma na tragens. No periodo de que tratamos @ ele sem divi principal figura do cinema brasileiro, quer pela quantidade de filmes que realisa, quer pela variedade de géneros que aborda — adlaptagdes de romances tradicionais, aventura, comédias, dramas mundanos, temas regionais: Five ow Morto (1914), A Viterinha (1915), Perdida (1916), fracema (1917), Zero Treve (1918), Ainor e Boemia (1918), Ubivaia ra (1918), Este ito, adaptacdo de unr romance indians ta de José de Alencar, marca a estréia no cinema da actriz Carmen Santos, que sera nos anos 20. 30, no apenas unre de nossas maiores atrizes, mas também prod tos filmes: Em Sao Paulo, nos primeiras anos 10, 0s fitmes de fie clo so muito poucos, mas a producao de documentos ¢ jornais cinematograficas se intensifica, € formanse os quadros que iriam sustentar © cinema paulista durante as duas préximas décadas, Sao Paulo era ento 0 centro da fora de mui ST Pevdida (1916). vealzaco de Lois de Baros fo wy dos mnores éxito do nents bravo nos anos ee guerra. O vctor (Leopoldo Friis) era 0 i tamosn dow actones hears dees tempes. Erce Brags N04 este ite mais prospera reptao do pais. A cidade vivia 0 inicio do processo de industrializacao que iria transformé-la na maior concentracgo urbana brasileira, ¢ j4 era economica- ‘mente uma cidade importante gracas ee café. proletariado paulista dos primeiras tempos é funda: mentalmente um proletariado imigrante, ¢ nos bairros po- bres da cidade surgem iniimeros centros de cultura oper’- ria, a maior parte italianas. Ao lado de suas funcdes de de- fesa dos intecesses profissionais do proletariado, formam- se neles grupos de teatro que procuram atender as necessi- dades de divertimento e lazer dos associados. O cinema que se desenvolverd em Sao Paulo a partir de 1915 estara intimamente ligado 20 desenvolvimento dos grupos ania- dores de teatro dos centros operarios, ¢ sera um dos veios de maior vitalidade do cinema brasileiro durante o periodo ude. firetamente grup ios se ligam direta ow todos os nomes do cinema paulista da epoca, @ viaiorta de origem italiana: Vittorio Capetlaro, os irmaos Lambertini, Guelfo Andald, Arturo Carrari, Miguel Milani, Pauto ‘Aliano, ete. (a tinica excegio digna de nota é 0 brasileiro ‘Antonio Campos, que vinka do periodo anterior). Imi- prantes de primeira ou segunda geragio serio também os professores €.@ maioria dos slinos clas wescolas de eineman que se formam emt Sao Paulo no final dt guerra e se espa thai por algunas outras cidades da pais nos anos 20, Que nio se tenha, porém. a iusto tle que, pelo fate de cesses grupos serem fundainentalmiente opersrios. sous fil nodo politizadis ou politizantes. Av ramente no repertorio mes fossem de alg contrario, eles se enquadram convencional da época. Os temas que procuram os seus au tores — imigrantes cujo sonho & intcerar-se na sociedade local — sio os que mais possam aprosima-tos dos braciel tos. Em primeiro lugar, as adaptacdes de romances trad cionais: Iocéncia (Vittorio Capellaro, 1918), uma das mais populares obvas do romantisme brasileiro: Os Fare. leiros (Miguel Milani, 1919), wm conto de Monteiro Loba. to; O Cruzeiro do Sul (Vittorio Capellaro, 1917), baseadlo no roniance O Mularo, le Aluisio Azevedo. Ean seguida, {temas figados a historia do Brasil: © Grito do Ipiranga tir mndios Camibertinis 1917} que-trate-da-prockamagte la in- depéncia do pais: A Retirada ca Laguna (jsindos Lamberti 1917). sobre os «Herois Brasileiros na Guetta do Para guain, como diz 0 sub-titulo do filme: Tiradentes (Paulo Aliano, 1917), enfocando 0 episidio da Inconfidéncia Mi 0 Guarani (Antonio Campos € neira. E temas indianistas Vitcorio Capellato, 1915), em que os indios eram represen: tados por mullatos semti-nus pintados de amarelo e salpica dos de penas; Iracema (1918). que o mesmo Capellaro fara io Rio de Janeiro com o cinegrafista Paulo Benedetti, um dos melhores técnicos do cinema brasileiro durante o pe- tiodo silencioso. Guelfo Andale realisa uma das primeiras ‘obras. tratar do banditismo rural: Diogwinko (1916); ¢, na inh dos filmes patridticos ele far em 1917 Péiria Brasi- bina, sobre o recrutamento militar de voluntarios para a Primeica Guerra Mundial, Alem deste, a guerra inspirou mais trés filmes no Rio de Janeiro — 0 que nao deixa de ser ins6lito, dado 0 fato de que a participacao do Brasil no conflito foi meramente simbdlica: Patria e Bandeira (Ant6nio Leal, 1918), com a colaboragao das Forgas armadas e da aviacao militar brast- ‘eira, focalizava a espionagem alema ern territério nacio- nal; Le Film du Diable (1918), que curiosamente tinha o ti Dicewih. 9 histérs do Dondide que fo 6 tettor des Fertbee Religie Gulls Amato en 1946, Lulo original em franeds, apresemtava letreinos em verses cle Basios Tigre € punha em acedo uma complicada historia passada no Rio ¢ na Bélgica invadida pelos atemaes,. com 9 ‘otrela Miss Ray aparecendo numa cena inteiramente ne. pela primeira vez tum filme brasileiro. E ainda ha O Kai ser (Mixio Seth, 1917), um dos primeiros desentos anima: dos feitos no Brasil ‘Outro veio que se desenvolve nesta época, sobretudo 0 cinema paulista, sto as «historias caipiras. até hoje Fonte inesgotivel do cinema brasileiro mais popular. Anténio Campos inicia © que ele chamou dos seus westudos dos isos € costumes sertancjas» com O Curandeiro (1917), ba. seado em lendas e contos regionais, transposi¢ao cinemato- grifica da moda do Regionalismo, movimento que faria sucesso nia musica, no teatro € na literatura. Na mesma fi tiha esto 4 Caipirinhia (Anténto Campos, 1919} ¢ A Finn. ganca do Pedo (Alberto ¢ Paulino Boteiho, 1918) (0 Guarani (1918) prnca versio do romance tke ond de Alene fo inact lee ale il \ 8) QUEDRIOIG Do LJQUEEIC WEEE KE: xe fe KEEA fe fe ofp res Rohl : Lh sh ) Rae No Rio de Jansire, varios filmes se apresentam como -as de wcostunes carioces», coma A Quadvithe do Exqueleso (Vasco Lima, 1917), que retrata as gangues dos tairros pobres e@ figura tipica do amalandro», ou Pierr6 & Colombina (Eduardo das Neves, 1916). cujo tema é o car naval. Ha também intimeros decumentarios weatnavales cosn, distribuidos pelas cidades maiores juntamente com pequenas trupes de cantores que entoavam em coro as mit sicas durante a projec&o. Fora do eixo Rio-Sdo Paul. tem inicio em dois estados, brasileiros um ferdmeno que se tornaria frequente nos ‘anos 20: os chamados «ciclos regionais» de cinema. Na cidade miaeira de Barbacena, 0 italiano Paulo Be- nedeiti, exibidor desde 1909, monta uma pequena produto. ra em 1913 para explorar um proceso de sua invengao, a ‘acinemetrophonia», que consistia em registrar numa faixa de baixo do fotograma a mnésica de acompanhamento para a orquesta, com a partitura ao longo de todo 9 filme. O Guarany (1913) € uma dpera inteira «cinemetrophdnica». Em 1914, Benedetti filma uma opereta, Uma Transformis ta Original, com truques & moda de Méliés, miisien grava~ ‘da em discos sincronizados e as partes de canto registradas, pelo processo cinemetrofonico. Quando, poweo mais tar de, Benedetti se transfere para o Rio de Janciro, onde farit ‘uma carreira continua durante todo 0 periodo mudo, 0 seu processo causa bastante impress4o. Nao teve, porém, © au- tor condigdes de levar adiante 0 empreendimento, quie s¢ interrompe no inicio da guerra. (© mesmo acontece com o pequeno sutto de cinema que surge em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Um velho ator portugués, Francisco Santos, aposentado do palco, se ins- tala na cidade, uma das mais progressistas do estado, quecida pelo cométcio ¢ produce do xarque. Monta wm faboratoria e tum estidio, e apés alguns documentaries lanca-se ao loniga metragem com uma ambiciosa superpro- duco de mais de duas horas, O Crime de Banhados (1912), que se inspirava num epis6dio de lutas politicas cut- minando com 0 massacre de uma famitia inteira numa fa- zenda. O filme aleancou grands sucesso local, porém nao ha registros de sua exibicdo em nenhum outro estado bras Ikiro. O cielo de Pelotas produriu mais dois filmes, O Al- bun Maldito ¢ Os Oculos do Vov6, ambos de média me tragem, feitos em 1913. Ao iniciar-se mais um, Amor de Perdigtio (1914), baseado no romance de Camilo Castelo Branco, a produgao se interrompe pela dificuldacle de ob: tengiio de filues virgens, em razdo da guerra Uma outra cidade brasileira — Petropolis. no estado do Rio de Janeiro ~ produz am fitme enn 19tt t Evran geira, dirigido por um adolescente de qu que Pongetti, que posteriormente se tornaria conhecido es critor e jornalista Com as excegdes mencionadas, fora dos grandes ce tros mio hé produgto ficcional. Em varias capitais de est dos em diferentes momentos ha prochuao dle cinejornais, ¢ em muitos outros pontas do pals surgem civegrafisias iso: lados que filmam naturais, porém de modo intermitente De qualquer forma, a esta altura o cinema ja se espraion por todo 0 imenso territério brasileiro: regularmente on nfo, filma-se de Manaus ao extremo sul ‘A descentralizagao dx producto — sobretuilo com a entrada de So Paulo no cenario cinematogréfico — vai pesar no aumento da produg2o anual, especialmente no que se refere a filmes de encedo (7) ‘Nunca mais, no entanto, ira o cinema silencioso brasi- teiro aproximar-se, em voluine ot importancia, da proc do que alcangou entre 1908 ¢ 1912. E o aumento da pro- nze anos, Henri 0s, Oewtes do Vn de Fronciceo Sates (1913 ¢ 7 se crerva ds nia eis

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