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A delicada relação entre a doutrinação religiosa e o conhecimento

cientifico

Priscila Amorim*

Resumo: Compreender a delicada relação entre o que o aluno da escola pública


paranaense carrega enquanto conhecimento/crença religiosa e o rol de conteúdos
propostos para discussão principalmente em disciplinas como Sociologia, Filosofia,
História e Ensino Religioso torna-se uma necessidade para o profissional que atua nas
referidas áreas. Por isso, procurar esclarecer os limites onde a crença do aluno não seja
confundida com o que o professor traz para as discussões em sala de aula é de
fundamental importância, visto que a própria Constituição Federal de 1988 deixa claro o
posicionamento da laicidade do Estado brasileiro. Para tanto, o discernimento, domínio
de conteúdo e controle dos processos de discussão em sala por parte do professor é
essencial. Ainda que se admita que a base da educação nacional tenha se iniciado
através de iniciativas religiosas – colégios implantados pelos jesuítas no período
colonial – não se pode negar que a evolução histórica da mesma. Ainda nos anos 1930,
com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, a educação passou a ser dever do Estado,
seguindo o modelo dos demais países que possuíam estrutura política governamental
semelhante a nossa naquele momento – leia-se ditaduras populistas de direita. A partir
desse momento, a maior parte das discussões acerca das reformas educacionais e novas
legislações para nortear a mesma traziam no seu âmago a preocupação em tornar a
educação pública laica, ou seja, desvencilhada da doutrinação ou proselitismo religioso.
No entanto, ainda hoje esse debate permanece vivo e atual, visto que para muitos
estudiosos, a presença da disciplina de Ensino Religioso nas séries finais do Ensino
Fundamental, claramente viria a ferir o texto constitucional que garante a legitimidade
do Estado laico.

Palavras chave: educação – Estado Laico – religião


Introdução

A chamada “Constituição Cidadã”, festejada e promulgada em 1988, traz em seu


artigo 19, uma das suas definições mais importantes, a que proclama o Estado brasileiro
como “laico”, ou seja, não há uma religião oficial no Estado brasileiro visto que a lei
maior do país garante a todos a liberdade religiosa, sendo assim, as instituições públicas
não devem, ou ao menos não deveriam, fazer qualquer tipo de proselitismo a quaisquer
religião. No entanto, quando se trata das instituições escolares, parece haver uma certa
“flexibilização” no que tange a tal artigo constitucional.Isso ocorre porque, em
praticamente todos os estados da federação adotam em suas grades curriculares em pelo
menos uma ou duas séries do Ensino fundamental, a disciplina optativa de Ensino
Religioso. Por mais que se defenda que não se trata de doutrinação religiosa mas sim de
uma disciplina voltada para temas como fraternidade, igualdade e respeito comum,
raramente os docentes dessa disciplina desvencilham-se de suas próprias convicções
religiosas. O que acaba por vezes interferindo nas atitudes e até mesmo na compreensão
de temas de outras disciplinas como História, Geografia e mais tarde no Ensino Médio,
da Filosofia e Sociologia por parte dos alunos. Logicamente, essa não é a única
influencia que nossos alunos passam ao longo do seu período escolar. Em sua própria
formação familiar a igreja, ou como a Sociologia define, a Instituição religiosa é um
dos primeiros grupos do qual passamos a fazer parte ainda na infância, portanto, torna-
se natural que os dogmas, crenças e tradições transmitidas pela mesma estejam de tal
modo incutidos em nossa formação de caráter ao longo dos anos.

Sendo assim, o presente artigo tem a intenção de questionar até que ponto a
formação religiosa de professores e alunos podem interferir na tênue linha que dentro
das escolas acaba separando o conhecimento científico – base do Estado Laico – do
tendencialismo religioso – no Brasil notadamente cristão – presentes no interior da sala
de aula. Para tanto, fez-se necessário revisitar a história da educação nacional desde
seus primórdios, onde todo conhecimento estava em poder dos padres jesuítas,
responsáveis não apenas pela catequização dos povos nativos como também pela
criação das primeiras escolas na recém surgida colônia. Assim, partiremos de uma
análise do desenvolvimento legal do processo educacional brasileiro até chegarmos a
este, que é sem duvidas um dos principais temas de debates entre estudiosos da
educação na atualidade: a laicidade da escola. Para tanto, foram consultados uma série
de artigos e entrevistas de diversos autores que debatem o assunto.
2. A história da Educação no Brasil colônia e a presença jesuíta

A história da Educação brasileira, em seus primórdios encontra-se intimamente


ligada ao processo de catequização indígena. A fim de estabelecer contato com os povos
nativos, os religiosos, tanto franciscanos como posteriormente os jesuítas, buscaram
meios de estabelecer contato com esses povos, inicialmente procurando compreender o
idioma nativo e posteriormente, ensinando-os através da catequização sua língua. Dessa
maneira, quando teve inicio o processo efetivo de colonização, com a construção das
primeiras vilas e cidades em território que hoje denomina-se Brasil, coube aos religiosos
da Igreja Católica a responsabilidade não apenas pela catequização como também pela
instrução (primeiras letras) dos filhos dos colonos. Assim, surgiram os primeiros
colégios em terras coloniais, inclusive o Colégio dos Jesuítas de Paranaguá, construção
que hoje abriga o Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR.

Como parte do projeto colonizador português, essa participação jesuíta no inicio


da História do Brasil tinha também o objetivo de “civilizar” o indígena a fim de inseri-
lo no mundo burguês, introduzindo em seu cotidiano o hábito do trabalho – tornando-o
um “ser produtivo” – ao invés do ócio improdutivo, ao qual os nativos estavam
habituados. Percebe-se ai então, que a Coroa Portuguesa deixou, deliberadamente nas
mãos da Igreja Católica, principalmente a partir do século XVII, a cargo da Cia de
Jesus, a missão “civilizatória” aos nativos através da educação.

Segundo Azevedo (1976), a atuação jesuítica na colônia brasileira pode ser


dividida em duas fases distintas: a primeira fase, considerando-se o primeiro
século de atuação dos padres jesuítas, foi a de adaptação e construção de seu
trabalho de catequese e conversão do índio aos costumes dos brancos; já a
segunda fase, o segundo século de atuação dos jesuítas, foi de grande
desenvolvimento e extensão do sistema educacional implantado no primeiro
período.

Sendo assim, ao longo de praticamente todo o período colonial, o processo


educacional brasileiro não fazia parte das preocupações da Coroa Portuguesa, visto que
a mesma preocupava-se apenas com a exploração das riquezas descobertas na colônia e
com a necessidade de mão de obra cada vez mais abundante.
Somente após a expulsão dos jesuítas, no século XVIII, por ordem do Marquês
de Pombal, é que o sistema educacional brasileira deixou de ser exclusivamente
domínio jesuítico e ficou assim dizer, aberto a instituições educacionais de outras
denominações religiosas ou leigas.

2.1 As transformações do sistema educacional brasileiro após a Independência

Somente após a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, é que
passa a existir uma certa preocupação da Coroa com a questão educacional. No entanto,
essa preocupação parecia restringir-se a formação universitária dos jovens – filhos de
portugueses – que aqui já viviam ou que vieram com suas famílias fazendo parte do
séquito de D. João VI. Ao longo do século XIX, houve o surgimento também de
algumas Universidades e Escolas de Medicina, Direito em regiões como Salvador, Rio
de Janeiro, Curitiba entre outras. Com a ascensão da República e da cafeicultura, na
transição entre os séculos XIX e XX as escolas de primeiras letras e Liceus, estavam
localizados nas sedes dos municípios sendo que as escolas isoladas, com turmas
multisseriadas atendiam as crianças da zona rural, porém, sem grande assistência estatal.
A principal interferência do Estado brasileiro em princípios do século XX estava
relacionada ao currículo.
Após a ascensão de Getúlio Vargas na década de 1930, pode-se observar uma
maior preocupação do governo federal com o sistema educacional. As leis educacionais,
influenciadas pelo pensamento de intelectuais de universidades como a USP e outras
sofreu alterações significativas, separando o ensino formal, da educação de caráter
confessional religioso aplicado pelas escolas existentes.
Porém, como tal histórico pode influenciar ou ainda se reflete no cotidiano
escolar da atualidade? Em que medida ainda temos em nossas práticas e nos conteúdos
formais resquícios desses primórdios da educação nacional onde a religião estava
diretamente relacionada com a formação educacional/cultural das crianças?
Entre as décadas de 1960, 1970 e 1980 existiram debates e criação de legislações
educacionais que visavam, principalmente, a preparação para o trabalho, explicitas no
currículo imposto principalmente pela ditadura civil militar – lei 5692/71 – exaltando
também temas como moral e civismo, tal currículo cuidou de “esvaziar” os conteúdos
das disciplinas da grade das ciências humanas, tais como História e Geografia que no
ensino fundamental (antigo ginasial), foram diluídas na disciplina de “Estudos Sociais”,
no atual ensino Médio (antigo 2º grau), disciplinas como Sociologia e Filosofia foram
substituídas por Educação Moral e Cívica e OSPB. Porém, gradativamente, essa grade
curricular foi sofrendo alterações até que a Constituição de 1988, a partir da garantia do
Estado Laico, propôs um novo formato educacional para o país, traduzido pela Lei nº
9394/96.

3. A questão da laicidade e o crescimento da influência religiosa no cotidiano das


salas de aula

As constantes reformas educacionais pelas quais tem passado nosso país ao


longo das últimas décadas tem trazido diversas propostas curriculares diferenciadas,
tanto na escala federal quanto na estadual. Uma das propostas mais polêmicas foi a
introdução da disciplina de Ensino Religioso nas turmas de 6º e 7º anos do Ensino
Fundamental. Tal proposta causou e causa tanta polêmica, justamente pela questão da
laicidade do Estado brasileiro, para tanto, torna-se importante compreender o conceito
de laicidade:

Conforme leciona Celso Lafer, “laico significa tanto o que é independente de


qualquer confissão religiosa quanto o relativo ao mundo da vida civil”.

Ainda segundo Celso Lafer(6):


Uma primeira dimensão da laicidade é de ordem filosófico-metodológica,
com suas implicações para a convivência coletiva. Nesta dimensão, o espírito
laico, que caracteriza a modernidade, é um modo de pensar que confia o
destino da esfera secular dos homens à razão crítica e ao debate, e não aos
impulsos da fé e às asserções de verdades reveladas.

Seguindo ainda essa mesma linha de pensamento, podemos compreender por


Estado Laico o seguinte:

Estado laico é estado leigo, secular (por oposição a eclesiástico). É estado


neutro.

Conforme leciona Celso Lafer, “laico significa tanto o que é independente de


qualquer confissão religiosa quanto o relativo ao mundo da vida civil”.O
modo de pensar laico teve o seu desdobramento nas concepções do Estado. O
Estado laico é diferente do Estado teocrático e do Estado confessional. No
Estado teocrático, o poder religioso e o poder político se fundem (exemplo:
Irã), enquanto no Estado confessional existem vínculos jurídicos entre o
Poder Político e uma Religião (exemplo: Brasil-Império, cuja religião oficial
era a católica). O Estado laico, por sua vez, “é o que estabelece a mais
completa separação entre a Igreja e o Estado, vedando qualquer tipo de
aliança entre ambos”.

Em perfeita síntese, Celso Lafer leciona que “em um Estado laico, as normas
religiosas das diversas confissões são conselhos dirigidos aos seus fiéis e não
comandos para toda a sociedade”.

Apesar de o Estado brasileiro ter se tornado laico em 1890, pelo decreto 119-A,
de autoria de Ruy Barbosa, não havia liberdade de culto no país. Ou seja, havia
liberdade de escolha mas não de culto, todo e qualquer culto religioso diferente dos
cultos cristãos eram considerados ilegais. Somente com a constituição Republicana de
1891 é que afirmou-se definitivamente o Estado Laico no Brasil, bem como a liberdade
religiosa e de culto (desde que “não contrariasse a ordem pública e os bons costumes” –
Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1934).
Mesmo assim, é comum observar-se em vários estabelecimentos escolares
símbolos religiosos com crucifixos, Bíblia, imagens religiosas nos corredores, salas de
professores e direção dos mesmos. Outra situação que se observa em algumas salas de
aula, é o momento de “oração”, conduzido por professores ou membros da equipe
pedagógica e diretiva do estabelecimento, porém, o que se percebe também é que esses
símbolos e orações são, em sua imensa maioria, de caráter confessional cristão, podendo
ser o mesmo católico ou evangélico. Onde está a presença ou o respeito a laicidade
nesses momentos?
Por mais isento que o professor busque ser em sala de aula, quando aborda
determinados assuntos, como por exemplo: Criacionismo X Evolucionismo; Reforma
Protestante e Contra Reforma Católica, Inquisição, Escravidão no Brasil,
homossexualidade, sincretismo religioso, diversidade religiosa, novas estruturas
familiares presentes na sociedade atual,entre outros, a resistência ou até mesmo a não
compreensão dos alunos – e por vezes até de colegas – é frequente. Procurar quebrar
essa resistência tem sido nos últimos tempos um dos principais entraves ao
desenvolvimento do trabalho dos professores das áreas de Humanas em sala de aula.
Pois, os alunos, sejam eles crianças ou adolescentes, não impõem mas enfatizam sua
visão religiosa em questionamentos e debates durante as aulas.
É inegável que questionamentos por parte dos alunos são essenciais ao bom
desenvolvimento da aula, principalmente porque as diversas visões e o conhecimento
prévio dos alunos são de extrema importância para que os mesmos possam não apenas
formar conceitos como também relacioná-los com os conceitos previamente
estabelecidos pelos autores trazidos pelo professor. No entanto, a linha entre a opinião,
o conhecimento prévio do aluno e uma certa tendência à “pregação” religiosa
(proselitismo) no intuito de convencer professor e colegas de sua crença como sendo a
mais correta, é muito tênue. Porém, cabe lembrar que não apenas os alunos trazem
consigo dogmas, crenças e tradições aprendidas em seu convívio religioso, mas também
os professores o trazem.
Em que momento, a crença torna-se proselitismo em sala de aula?

O proselitismo é a manobra, a tática, pra conquistar fiéis, com


propaganda religiosa à custa de condenações das outras religiões e de
artimanhas para atrair adeptos. O proselitismo consiste em rebaixar,
ridicularizar, combater as outras religiões, colocando-se numa situação
de superioridade e vantagem.(Liberdade religiosa e o proselitismo.Thalita
Borin Nóbrega)

No momento em que a discussão acadêmica deixa o aspecto cientifico e parte


para o debate religioso, conceitual, desse ou daquele dogma, em que uma ou outra
religião apresentam visões diferentes de um mesmo tema, deixando de lado outras
visões ou refutando quaisquer opiniões contrárias a estas, cerceando a liberdade do
aluno que – ou não professa nenhuma denominação religiosa, ou professa uma crença
daquela defendida pelo professor e outros alunos dentro de sala de aula - passamos a ter
uma séria agressão ao conceito de laicidade proposta nos documentos oficiais, tanto
LDB quanto na Constituição Federal e demais documentos oficiais.

Partindo então, de uma situação de respeito a diversidade religiosa presente em


sala de aula e a preservação do caráter científico da educação formal, nos deparamos
com um sério questionamento: até que ponto a formação do professor o torna apto a
mediar os possíveis conflitos ocasionados pela discussão temas delicados relacionados a
crença versus ciência que muitas vezes estão presentes nos currículos escolares? A fim
de não entrar em conflito com os alunos, por vezes o professor evita a abordagem de
temas polêmicos ou que possam levantar polêmica em sala de aula, justamente para
evitar constrangimentos ou conflitos verbais que possam ocorrer entre os alunos ou ate
mesmo.

É certo que a liberdade religiosa, garantida pela Constituição assegura o direito


ao cidadão de exercer e expressar suas crenças porém, entendendo-se a instituição
escolar e a sala de aula como espaço de conhecimento e livre pensamento, as diversas
visões religiosas devem ser contempladas, sem privilégio de uma ou outra,
independente da crença do professor ou da maioria dos alunos. Pois a partir do
momento, em que se impõe uma crença por esta ser considerada “maioria”, discrimina-
se aqueles considerados “minoria” mas que aos olhos da lei, tem os mesmos direitos dos
demais.

3.1 – Fundamentalismo religioso e o crescimento da intolerância na sociedade atual

Há muito tempo a sociedade ocidental preocupa-se em combater ou proteger-se


de ataques de grupos fundamentalistas. Geralmente e erroneamente, costumamos
associar o termo “fundamentalismo” a grupos extremistas árabes de religião muçulmana
praticantes muitas vezes de ataques “terroristas”. Porém, o termo fundamentalista não
teve origem com os grupos islâmicos, segundo Bodart(2013)

O termo fundamentalismo religioso foi criado por parte de um grupo


religioso, os quais, no início de século XX, nos Estados Unidos, se
reuniram para discutir e formular caminhos doutrinários de combate as
influências dos movimentos modernistas (na teologia, o Modernismo é
uma corrente heterogênea de pensamento que, basicamente, defende a
evolução e modificação ou transformação) do dogma e “uma
reinterpretação da religião à luz do pensamento científico do século
XIX”.
Assim, em todas as religiões, principalmente a três grandes religiões
monoteístas observa-se o fenômeno fundamentalista. Porém, observa-se que nas
chamadas igrejas “cristãs” tal denominação acaba sendo substituída por termos
menos agressivos como “ortodoxos”, por exemplo.
No entanto, nas últimas décadas, temos notado no interior da sociedade
brasileira, um certo crescimento de grupos de religiões cristãs,que adotam discursos
e posturas fundamentalistas, aceitando única e exclusivamente a versão bíblica como
verdade absoluta a ser tomada como modelo e exemplo para a vida em sociedad e.
Dessa forma, tal postura acaba interferindo significativamente não apenas no
cotidiano e convívio social como também no cotidiano das salas de aula. Muita
vezes essa postura traduz-se em opiniões radicais, por vezes agressivas e de caráter
discriminatório em relação aos colegas que expressam opiniões ou posturas e
crenças religiosas diferentes das suas, gerando desconfortos e conflitos
desnecessários durante as aulas. Tais atitudes acabam caracterizando uma forma de
controle social e ideológico da educação, visto que muitas vezes os pais desses
alunos “fundamentalistas” costumeiramente comparecem a escola para “questionar”
os conteúdos trabalhados e até mesmo a postura dos professores, ferindo não só a
autonomia da instituição escolar como também do próprio professor da disciplina
em questão – geralmente das disciplinas da área das Ciências Humanas.
Temas como teoria evolucionista, homossexualidade, feminismo, sincretismo
religioso e diversidade quando abordados em sala de aula acabam tomando uma
proporção e polêmica maiores do que o normal. Até mesmo assuntos relacionados a
sociedades da Antiguidade, no que tange aos aspectos cientifico e religiosos
(politeísmo) são alvos de ataques e deboches de alunos e pais que não aceitam senão
a versão bíblica para tal período.
Como enfrentar tal situação num período onde se leva tão a sério uma
proposta como da “Escola sem partido”? Como ficará a questão da autonomia da
escola e dos professores se não puderem mais abordar temas tão atuais e necessários
para a compreensão da nossa sociedade como os citados anteriormente? Em que
medida o crescimento desses grupos radicais/fundamentalistas cristãos, em sua
maioria ligados à religiões neopentecostais interferirá tão decisivamente na
construção da sociedade do século XXI, a ponto de perigosamente transformá-la em
uma sociedade baseada no ódio, na divisão e no desrespeito as desigualdades?
Todas essas questões estão no cerne das discussões atuais sobre a educação
nacional em todas as suas esferas e cabe a sociedade em geral, principalmente a
professores, pais e alunos conscientes, alertar para tal situação e buscar medidas que
impeçam esse cenário de retrocesso que estase desenhando para o país.
4. Considerações finais

Estabelecer uma análise que identifique até que ponto uma simples discussão de
conceitos em sala de aula transforma-se em debate de valores religiosos é não apenas
delicado, como também muito sério e necessário. A escola não é apenas uma instituição
voltada para a formação do cidadão, com também segundo Klein e Pátaro(p. 15-16)

A escola pode converter-se em uma instituição que reúne e difunde os


esforços de distintas instâncias da comunidade visando a melhora e a
transformação social. Esta transformação implica de um lado na possibilidade
de participação democrática efetiva de demais agentes escolares e extra-
escolares na discussão e na busca do enfrentamento de problemas comuns; de
outro lado, na permeabilização do currículo escolar aos problemas da
comunidade, ou seja, trazer para dentro das salas de aula temas e discussões,
através de projetos, vinculados à realidade e aos problemas da comunidade.
A escola articulada à comunidade, portanto, não é concebida apenas como
uma instituição meramente transmissora de conhecimentos, mas sim como
um local onde se trabalham afetos, valores, normas, modelos culturais e onde
se criam laços de coesão social.

Em tempos onde a Educação está no foco dos debates políticos, seja devido ao
momento políticos de eleições municipais, ou no momento político nacional, mais
delicado devido a um processo de impeachment e alternância de poder, cabe aos
educadores tomares parte de tal debate, visto que são eles, assim como os alunos e
demais membros da comunidade escolar, os maiores interessados nos mesmos.

Vivemos um período em que diversos setores e bancadas da política nacional e


estadual procuram influenciar o sistema educacional através de propostas e projetos de
lei que buscam cercear as liberdades de pensamento e expressão de professores e alunos
em sala de aula, a omissão é uma das atitudes mais perigosas a se tomar. Não se defende
aqui o partidarismo desta ou daquela ideologia dentro da sala de aula, mas sim de se
garantir o direito ao livre debate das diversas tendências políticas, econômicas e
religiosas que regem nossa sociedade, propondo assim que os alunos através da
reflexão, do livre pensamento possam optar por aquelas que melhor lhe convierem. Se
um dos propósitos da instituição escolar e principalmente das disciplinas ligadas às
ciências humanas, como a História, a Sociologia, a Filosofia, as Artes entre outras é
levar a formação de cidadãos críticos, a partir da leitura, construção de conceitos e
discussões em sala de aula, a aprovação de projetos de lei que visem de alguma
maneira, controlar, vigiar e cercear a atuação dos profissionais dessas áreas, seria no
mínimo, um retrocesso no sistema educacional brasileiro.
Garantir que a escola pública seja uma fiel representação do Estado Laico,
partindo da mediação das discussões de temas relacionados a diversidade em sala,
estabelecendo sempre o diálogo saudável entre alunos, sem proselitismos de qualquer
espécie é sem dúvidas um dos principais desafios dos professores na atualidade.
Compreender quais caminhos o Estado brasileiro está tomando, como esses caminhos
irão ou não interferir direta ou indiretamente no sistema educacional, quais as
consequências para professores, alunos e comunidade escolar no geral desse novo
direcionamento é o que nos cabe nesse momento. Participar ativamente desses debates,
posicionar-se em defesa da autonomia da escola pública garantindo que haja
participação na construção das possíveis novas propostas educacionais parece ser o
caminho natural para os professores, pedagogos e todos aqueles que atuam como
educadores.

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