A corte é formada por 11 integrantes e sua escolha é regida pelo Artigo 101 da
Lei Maior, que determina que estes integrantes possuam notório saber jurídico e reputação
ilibada além de ter idade no intervalo entre 35 e 65 anos quando de sua nomeação. Esta,
se dá privativamente por indicação do Presidente da República com a necessidade de que
indicado passe pelo crivo do Senado Federal, através de votação por maioria simples
ocorrida após sabatina pública. Os ministros possuem cargo vitalício, ou seja, ocupam
seu lugar no tribunal desde a posse até sua aposentadoria compulsória aos 70 anos de
idade. A corte possui três órgãos: O Presidente, o Plenário e as Turmas. O STF é composto
atualmente pelos ministros e ministras: Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Gilmar
Mendes, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber,
Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes; aqui dispostos em ordem
decrescente de antiguidade.
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O plenário do STF é o órgão formado pelos 11 Ministros reunidos para
deliberação. Suas decisões são proferidas através de votos tomados dos ministros e
quantificação destes para formar maioria.
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ação compete, segundo artigo da Constituição Federal, basilarmente ao Procurador Geral
da República e de forma extensiva ao Presidente da República, Mesa do Senado Federal,
Mesa da Câmara dos Deputados, Mesa de Assembleia Legislativa ou Câmara Distrital,
Governador Estadual ou Distrital, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil,
Partido político representado no Congresso Nacional ou Confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional.
É pertinente enfatizar que de acordo com dispositivo expresso no Artigo 169, §1º
do Regimento Interno do STF, uma vez proposta a ação, dela a parte não poderá desistir.
Relatório
A ação da qual versa o presente trabalho foi ajuizada no Supremo Tribunal Federal
pela então Procuradoria Geral da República, cuja cadeira era preenchida pela Dra.
Deborah Duprat (que ocupava o cargo interinamente) a fim de que se interpretasse o
Artigo 58 da Lei 6015/1973 conforme a Constituição. O artigo supracitado trata dos
registros públicos, o cerne da ação situa-se na possibilidade de alteração de prenome e
gênero no registro civil sem que para tal haja procedimento cirúrgico de
transgenitalização, o qual o Ministro denomina de multilação.
“Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos
públicos notórios.
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determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público. “ Redação
vigente da Lei 6015/1973.
Pontua-se aqui que a ADI fora protocolada em 21/07/2009 pela Procuradora Geral
da República Deborah Duprat, e a leitura do relatório do Ministro Relator e a sustentação
oral dos Amici Curie se deu em 07/06/2017.
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Conclui então o Ministério Público, solicitando procedência da ação, para que
então se conferisse interpretação em consonância à Constituição do Artigo 58 da Lei
6015/1973, garantindo, portanto, a mudança de prenome e sexo no registro civil por parte
de pessoas transgêneros.
Amici Curie
Durante sua oitiva, a Dra. Maria aborda com autoridade a questão da cirurgia de
re-designação, e aponta o quão inapropriada é a exigência deste procedimento, uma vez
que ele parece apenas abarcar as mulheres trans, pois para homens transexuais, as
cirurgias existentes ainda são de caráter experimental e de pouco aspecto satisfatório tanto
no que concerne à estética do órgão formado pela cirurgia, quanto da segurança do
procedimento médico.
No tocante a segurança jurídica citada pelo Dr. Janot, é feito paralelo aos casos de
pessoas casadas que possuem alteração no registro civil e que nestes casos não existe uma
preocupação exacerbada quanto à imputabilidade cível, tributária ou penal.
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Dra. Gisele Alessandra Schmidt e Silva (Grupo Dignidade)
A segunda amicus curie traz à luz da suprema corte, a realidade objetiva das
pessoas transgênero em sua tarefa de obter alteração de prenome e sexo no registro civil,
enunciando que em alguns estados há dificuldades técnicas impostas como a de não ser
clara a quem cabe a competência para a alteração, o traz morosidade aos processos neste
sentido. A sustentação liga o registro do indivíduo ao gênero com o qual se identifica com
o exercício da dignidade da pessoa humana expressa na Lei da República e como caráter
mitigador dos preconceitos arraigados na sociedade frente a essa população
marginalizada.
O Dr. Wallace pauta sua sustentação oral no caráter violento que um documento
de identidade tem para uma pessoa transgênero, pois o mesmo é constantemente usado
como forma de humilhação pública de uma população. Ele expõe que o Estado é coautor
dessas práticas violentas quando este impede “o indivíduo de ser quem ele é”, nas palavras
que o doutor parafrasea o Ministro Roberto Barroso.
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a liberdade e autonomia que o compõem como cidadão, não podendo esta manifestação
ser vilipendiada.
Sobre a cirurgia, a corte é elucidada sobre os elevados custos que a mesma possui
e sobre a ineficácia do Sistema Único de Saúde – SUS para atender as demandas da
população transgênero, uma vez que poucas unidades de saúde realizam o procedimento.
Ele aponta ainda a distinção entre gênero e genitália, e que em uma sociedade onde a
nudez não é admitida, a percepção social de gênero não se dá desta forma, reforçando a
tese de que não se deve outorgar a quem quer que seja um procedimento invasivo.
Após as exposições dos Amici Curie, foi determinada pela Ministra Carmen Lúcia
a suspensão da sessão. Os votos dos Ministros foram tomados inicialmente no dia
28/02/2018.
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Ao tratar da morfologia, o Ministro pontua, por outro lado, que esta possui sim
relevância na identificação social e condiciona a alteração ao atendimento dos critérios
estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina através da Resolução 1955/2010 em
seus Artigos 3º e 4º
“Art. 4º: Que a seleção dos pacientes para cirurgia de transgenitalismo obedecerá à
avaliação de equipe multidisciplinar constituída por médico psiquiatra, cirurgião,
endocrinologista, psicólogo e assistente social, obedecendo os critérios a seguir definidos,
após, no mínimo, dois anos de acompanhamento conjunto:
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Ministro Alexandre de Moraes
O Ministro Fachin inicia seu voto destacando o papel dos Amici Curie como
grandes contribuintes no julgamento exercendo papel fundamental no processo de tomada
de decisão por parte dos togados. O magistrado estabelece uma tríade de princípios para
sustentar o seu voto que está em parcial consonância com o relator. O primeiro destes
princípios elenca que não há igualdade sem discriminações inclui aqui a identidade de
gênero. O segundo deles trata da não interferência do Estado em algo que opera apenas
no foro privado de seus indivíduos. O último valor fundamental, para o Ministro, é a
incompetência do Estado para definir um modelo do que é a expressão de gênero, mesmo
que para fins procedimentais. Os parâmetros explícitos na Lei Maior que o Ministro
Fachin usa para amparar seu voto estão no Artigo 1, inciso III; Artigo 5, inciso X e
também no Artigo 2 do Pacto de São José da Costa Rica.
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Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1 ainda não
estiver garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes
comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as
disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem
necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades. ” (Pacto de São José da Costa
Rica).
Ao passo que o voto se conclui, iniciam-se dois debates na corte, o primeiro entre
o Ministro Fachin e o Ministro Marco Aurélio sobre os termos transexual e transgênero,
o qual o último votante considera o segundo termo mais abrangente e, logo, mais
adequado para a terminologia o presente julgamento.
Um outro debate envolveu além dos ministros aqui citados, o Ministro Ricardo
Lewandowski, que pontua que o entendimento adotado pelo Ministro Fachin pode causar
prejuízo ao ato pretérito jurídico perfeito de registro civil, uma vez que não parece
demandar autorização judicial para a mudança de registro. O Ministro Fachin responde a
isto pontuando que a autoridade judicial só seria solicitada quando fosse provocada em
casos cabíveis. O Ministro Alexandre de Moraes toma parte em momento posterior nesta
discussão, elencando que para a segurança jurídica é necessária a autorização judicial,
pois há relação do Poder Judiciário com autarquias como, por exemplo, o INSS,
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ocasionando uma célere alteração em todos os registros que por ventura seriam
necessários serem modificados.
O voto mais breve foi proferido pela Ministra Rosa. Uma vez que a mesma se
sentiu contemplada pelos argumentos verbalizados pelos Ministros Fachin e Barroso que
a antecederam, e por lançar mão, no voto escrito, dos mesmos dispositivos
Constitucionais de ambos, e assim como estes, acolhendo as sugestões da CIDH, limitou-
se a formalizar seu total acordo com os Ministros supracitados.
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Ministro Luiz Fux
Outro novo paradigma inserido pelo voto do Ministro Fux, é de que para o mesmo,
deve-se adotar o termo transgênero, pois, em seu entendimento, o termo transexual seria
inconstitucional, ferindo os princípios da dignidade da pessoa humana (Artigo 1, inciso
III), da igualdade (Artigo 5, caput), e da intimidade (Artigo 5, inciso X).
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testemunhas que atestem a condição afirmada pelo solicitante, para que decida
favoravelmente no direito subjetivo quanto à mudança, ou não, de registro civil. O
Ministro também rejeita exigências de caráter temporal.
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togado, o STF tem como prerrogativa exercer papel contra majoritário afim de
salvaguardar direitos decorrentes de possíveis falhas do legislador.
O togado se funda na segurança jurídica para solidificar a tese por ele proposta,
chegando a exemplificar situações em que a mera alteração em cartório poderia levara a
prejuízo de particulares em questões patrimoniais. Ele cita ainda o dispositivo da Lei
6015/1973 que trata de forma cautelosa toda mudança de prenome e exige salvo raras
exceções expressas no Artigo 110 da mesma Lei, que as mudanças sejam submetidas ao
poder judiciário. O Ministro reflete então o mesmo princípio para a questão do gênero,
fazendo, contudo, a proteção sigilosa do assentamento prévio para não haver prejuízos à
dignidade do indivíduo.
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Ministra Carmen Lúcia
A Ministra reforça que os indivíduos são iguais perante lei e que possuem
dignidade paritária onde não há valoração deste direito, entretanto estes são exercidos
dentro de uma pluralidade que só existe porque há diferenças, e que cada um deve
manifestar aquilo que se percebe. Os princípios da Lei da República por ela evocados em
sua sustentação são os da igualdade material, da dignidade da pessoa humana, princípio
da honra e o direito às diferenças. Ela elenca que o Estado deve perceber a condição do
indivíduo e a partir de aí dar-lhe registro mediante a auto percepção, ao invés de impor a
este ser humano que se comporte de forma submissa a um modelo que não lhe cabe. Além
da Lei Maior, a Ministra evoca o Pacto de São José da Costa Rica que consagra os mesmos
princípios.
Resultado
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Tese Formulada do Resultado
Referências Bibliográficas
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