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Novos Rumos do

Sindicalismo no Brasil

Alexandre Sampaio Ferraz

Introdução profundas transformações. Ao mesmo tempo que o


enquadramento e a contribuição compulsória per-
Após a redemocratização do país, a discussão manecem como legados do modelo estatal, os freios
sobre o futuro do sindicalismo tomou dois rumos na intervenção do Estado, a regulamentação das
distintos com relação ao impacto das alterações da centrais sindicais e as mudanças no cenário político
estrutura sindical sobre a capacidade de organiza- transformaram a dinâmica da disputa no interior
ção e ação do movimento sindical. De um lado, da estrutura sindical. Essas mudanças nas regras
os autores que salientam a permanência do “cor- do jogo têm alterado a dinâmica do sindicalismo,
porativismo estatal” após o fim do autoritarismo; aproximando-a do corporativismo societário.
de outro, os autores que enfatizam as mudanças na A desconcentração e a fragmentação na base,
estrutura sindical em direção a alguma forma de herdade da estrutura anterior, foram contrabalancea-
neocorporativismo ou mesmo ao pluralismo. Este das pela concentração na cúpula, com as centrais
artigo analisa as mudanças na estrutura sindical desempenhando um papel de destaque na defini-
tendo como pano de fundo esse debate. ção das políticas públicas deliberadas nas novas ins-
O corporativismo estatal adotado no Brasil tâncias de participação. O princípio da unicidade
adaptou-se a diferentes regimes e contextos po- não evitou a intensa competição nas eleições sin-
líticos até ser colocado em xeque pelo “novo sin- dicais nem o desmembramento dos sindicatos, e a
dicalismo” e, com a redemocratização, passar por competição na cúpula ganhou novo impulso com a
Artigo recebido em 29/05/2012 regulamentação das centrais. Mesmo assim, as cen-
Aprovado em 08/04/2014 trais passaram a atuar de modo unificado na defesa
RBCS Vol. 29 n° 86 outubro/2014
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de bandeiras importantes, como a valorização do analisar o papel dos grupos de interesse. Em uma
salário mínimo e a redução da jornada de trabalho. crítica a abordagens como a de Claus Offe (1989),
o autor argumenta que o corporativismo não é an-
tidemocrático, contra a máxima “cada homem um
O debate sobre o corporativismo voto”, mas altera a qualidade da democracia: “se al-
guém procura expandir a noção de igual oportuni-
O corporativismo é um sistema no qual o Es- dade e tratamento políticos para incluir os períodos
tado concede status público aos sindicatos, criando entre eleições e o processo ‘extra’ eleitoral, então o
espaços institucionais dentro do aparelho estatal corporativismo pode ser interpretado como uma
para sua atuação. Na perspectiva da abordagem extensão do princípio da cidadania” (Schmitter,
corporativista, o poder sindical está ligado às ca- 1983, p. 916).2
racterísticas institucionais do sistema sindical e à A literatura sobre corporativismo apresenta di-
existência de canais institucionalizados de acesso versas fissuras em torno das definições do concei-
ao sistema político decisório (Almeida, 1998, p. 4). to e sua operacionalização. Alguns autores, como
No célebre artigo “Ainda o século do Corporativis- Lehmbruch (1977), preferem enfatizar o corpo-
mo?”, Schmitter (1974, p. 85) procura afastar do rativismo como um padrão institucionalizado de
conceito o peso do autoritarismo, bem como disso- formação de políticas públicas e não apenas de
ciá-lo de culturas políticas e tipos de regime singu- articulação de interesses, caracterizado pela aber-
lares, construindo uma “definição operacional” do tura de canais institucionalizados de participação
que chama de um “moderno sistema de representa- dos sindicatos no processo político decisório.3 En-
ção de interesses”.1 tretanto, Schmitter (1982, p. 263) prefere chamar
Schmitter define o corporativismo como um esse fenômeno de “concertação”, pois na sua visão
“arranjo institucional” e não um padrão compor- o corporativismo é antes um sistema de interme-
tamental, criado como alternativa ao pluralismo diação de interesses definido pelas propriedades
“para ligar os interesses associativos organizados da associativas do sistema.
sociedade civil às estruturas decisórias do Estado” A abordagem do corporativismo, como um pa-
(Idem, p. 86). Essa “corporativização” do sistema drão distinto de fazer política, atribui grande ênfase
de intermediação de interesse seria uma resposta à relação estreita entre a ação das lideranças sindi-
institucional às “necessidades do capitalismo para cais e partidárias na construção da base legal do
reproduzir as condições de sua existência”, capaz de sistema e sua crescente institucionalização. O esta-
assumir características diversas em diferentes fases belecimento de “redes corporativas” para as quais é
do capitalismo e contextos políticos (Idem, p. 107). delegado o poder Legislativo em determinadas áre-
O corporativismo pode assumir duas formas, as pressupõe uma “íntima e mútua penetração dos
estatal e societária, diferenciadas pelo padrão de re- interesses do partido e das organizações” (Lehm-
lação da estrutura sindical com o Estado. No pri- bruch, 1984, p. 74). A palavra-chave nessa visão é
meiro caso, os sindicatos seriam criados pelo Esta- “concertação”, ou consenso ativo, o que presumiria
do e, no segundo, surgiriam “espontaneamente” da a representação paritária em canais institucionali-
sociedade (Idem, p. 126). Entretanto, a migração zados de consulta ao longo do processo decisório,
do corporativismo estatal para o societário seria di- anteriores à deliberação legislativa.
fícil devido à “dependência do passado” e ao fato Enquanto nas primeiras pesquisas sobre o cor-
de a sociedade moderna apresentar novas demandas porativismo a preocupação era com a estrutura da
que não “caberiam” nos pressupostos da especializa- organização do sistema de representação de inte-
ção funcional e da organização hierárquica presen- resse, nas pesquisas posteriores a agenda se concen-
tes nas suas duas formas. trou no efeito dessa estrutura sobre o processo de
Com essa abordagem, Schmitter procura con- produção e a implementação de políticas públicas.
ciliar o corporativismo e a democracia e, assim, Ao dar esse passo, os trabalhos mostraram que o
criar uma alternativa ao paradigma pluralista para corporativismo entendido como arranjo institucio-
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nal nem sempre está associado ao corporativismo ma de “poder das centrais na barganha coletiva”
como padrão de formação de políticas públicas, e e Schmitter de “centralização organizacional”. A
que era preciso conhecer melhor o efeito isolado de centralização avança na medida em que as orga-
suas variáveis. nizações de cúpula são capazes de controlar os
sindicatos através de algum tipo de autoridade,
propondo ou vetando greves ou acordos coletivos
Indicadores de corporativismo e recolhendo contribuição dos sindicatos filiados
(Golden, 1993, p. 443).
Os primeiros estudos que procuraram apresen- A concentração indica o grau de fragmentação
tar indicadores mensuráveis de corporativismo tra- presente no sistema de intermediação de interesse,
balharam basicamente com índices compostos que o que Cameron chama de “unidade organizacional”
uniam as duas formas de expressão do corporativis- e Schmitter de “monopólio associativo”. Quanto
mo discutidas na seção anterior (Goldthorpe, 1984). maior a representatividade e menor o número de
Esses indicadores apresentam diversos graus de com- centrais e sindicatos dentro delas, maior a concen-
plexidade, variando da simples classificação binária tração (Idem, p. 443). O monopólio da representa-
que opõe o corporativismo ao pluralismo, como em ção, legal ou de fato, é fundamental para a concen-
Crouch (1985, p. 117), à criação de índices compos- tração, pois restringe a possibilidade de competição
tos, ou aqueles que abarcam apenas uma das caracte- entre centrais e sindicatos.
rísticas do corporativismo (Kenworthy, 2003). Os dois indicadores buscam captar o grau de
O indicador do grau de “corporativismo socie- coordenação do movimento sindical, que estaria
tário” formulado por Schmitter (1981, p. 294) é a associado à maior capacidade de barganha e à pos-
principal referência dessa fase, e agrega dois outros sibilidade da troca “crível” de moderação salarial
rankings numa escala de cinco pontos: a) centraliza- pela garantia de um baixo nível de desemprego e
ção organizacional; b) monopólio associativo.4 Este de outras políticas de bem-estar. A coordenação
indicador é muito similar ao construído por Da- pode ser atingida tanto pela maior centralização
vid Cameron, chamado “poder organizacional” dos quanto pela maior concentração, entretanto, Gol-
sindicatos.5 Mas em vez de se concentrar nas carac- den (1993, p. 451) mostra evidências de que é a
terísticas institucionais e organizacionais do siste- maior concentração na estrutura sindical que ex-
ma, Cameron (1984) incorpora algumas variáveis plica o melhor desempenho econômico, e não as
conjunturais e de “estilo de agregação de políticas”, variáveis relacionadas com a centralização ou mes-
como a taxa de sindicalização e a representação no mo com a taxa de sindicalização.
sistema político. A falta de provas consistentes quanto aos efei-
Os estudos posteriores tiveram dificuldade de tos do corporativismo sobre a economia levou os
replicar os indicadores de Cameron e Schmitter de- pesquisadores a se voltarem novamente para a di-
vido à falta de clareza nas suas definições, levando a mensão política do corporativismo, a da partici-
uma nova geração de trabalhos que buscaram desa- pação no processo político decisório (Boreham e
gregar os indicadores de corporativismo para sua me- Compston, 1992). Compston (1997, p. 723), por
lhor compreensão (Siaroff, 1999; Kenworthy, 2003). exemplo, mostra a “participação sindical no proces-
O trabalho de Miriam Golden (1993) é um dos so político” é “consistentemente associada com a
mais consistentes nesta direção, chamando aten- diminuição do desemprego em 13 países da Europa
ção para o fato de que os índices de corporativismo Ocidental” entre 1972 a 1993. Na mesma linha,
agregam dois conceitos distintos, os de centraliza- Kenworthy mostra que “condicionalmente à pre-
ção e concentração, e que eles têm impactos diversos sença de governo de esquerda, a participação dos
sobre o emprego e nem sempre estão associados da sindicatos tende a ser associada ao baixo desempre-
mesma maneira. go nas décadas de 1980 e 1990” (2002, p. 238).
A centralização mede o grau de “autoridade A nova onda de pactos sociais nos anos de
interna” ao arranjo sindical, o que Cameron cha- 1990 reforçou a abordagem do corporativismo
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como modo de produção de políticas e sua ca- vida dos trabalhadores. A “autonomia” do Estado
pacidade de oferecer respostas satisfatórias de go- possibilita que a disputa entre capitalistas e tra-
vernança aos governos e ao movimento sindical balhadores seja vista não como um jogo de soma
(Molina e Rhodes, 2002, Siaroff, 1999; Grote e zero, como querem os liberais ou os marxistas,
Schmitter, 2008). A presença de pactos em países mas de soma positiva.
com baixo grau de corporativismo mostrou tam- Essa abordagem da relação entre capitalismo e
bém a relevância de novos mecanismos de coorde- democracia abre espaço para o estabelecimento de
nação pautados no diálogo social (Baccaro, 2003).6 um pacto racional e mutuamente benéfico entre as-
Apesar da morte anunciada, o corporativismo en- salariados e capitalistas (Idem, p. 246). Entretanto,
contra-se vivo e ativo. frustrado no campo econômico, onde as partes são
claramente desiguais, tal pacto só pode celebrar-
-se no campo político. Essa perspectiva representa
O poder sindical entre economia uma ruptura na literatura marxista, que Przeworski
e política (1994) reconstrói em sua análise da social democra-
cia. De um lado, os autores que sustentam a pos-
A democracia dissociou o poder de decisão da sibilidade da barganha consensual e mutuamente
propriedade dos ativos, possibilitando aos trabalha- benéfica entre as classes; de outro, aqueles que pen-
dores influir na alocação e na distribuição da renda, sam que qualquer tentativa de barganha esconde a
através da sua atuação na arena política. A criação cooptação, a burocratização e o “entreguismo” dos
do mercado político democrático pressupõe, assim, dirigentes sindicais (Offe, 1989).
que os capitalistas transfiram parte das decisões so- A disputa de forças entre capitalistas e traba-
bre o investimento e o gasto para o Estado e para lhadores e o compromisso que emerge da barganha
o governo democraticamente eleito. Mas, como entre as duas classes dependem da posição inicial
mostra Adam Przeworski (1994), nesse sistema a e da capacidade de coordenação dos “jogadores”.
ação do Estado passa a ser limitada estruturalmen- A dificuldade intrínseca de coordenação dos tra-
te pelo fato de sua sobrevivência depender da ma- balhadores os coloca, então, diante de dois jogos
nutenção do lucro capitalista. simultâneos (Przeworski e Wallerstein, 1988, p 30;
Mesmo que os trabalhadores cheguem a postos Offe e Wiesenthal, 1984). No primeiro, têm que
decisórios do Estado, devem enfrentar a existência enfrentar o problema da organização, resolvendo
de um trade-off entre o aumento da participação dos o “dilema da ação coletiva”.8 No segundo, devem
salários e a diminuição dos lucros. Isso leva os traba- barganhar diretamente com o Estado e com os ca-
lhadores a colaborar com a manutenção do lucro, pitalistas por ganhos econômicos e sociais. Nada
enquanto permanecerem sob as regras do capitalis- garante que a solução encontrada pelos trabalhado-
mo, garantindo inclusive a própria sobrevivência res no primeiro conduza à maximização dos objeti-
das organizações sindicais.7 A alternativa seria ex- vos no segundo.
propriar os capitalistas e eliminar o lucro, mas ela é O papel ativo do Estado na economia e nas
improvável em função da grande incerteza quanto políticas sociais não é, assim, resultado inevitável
ao novo sistema a ser implantado. da democratização e do desenvolvimento capitalis-
A possibilidade de melhora do padrão de vida ta, mas depende da ação dos trabalhadores nessas
dentro do capitalismo implica que, apesar da de- duas arenas. O máximo de coordenação seria atin-
pendência estrutural do Estado, há uma margem gido com a centralização da estrutura em apenas
de manobra para aumentar a taxação sem extin- uma organização de cúpula e em uma conjuntura
guir os lucros e sem comprometer os investimen- política em que o governo fosse alinhado “exclusi-
tos privados. É este aumento da arrecadação que vamente” ao movimento sindical.9 Nesta situação,
permite ampliar a capacidade de ação do Estado concluem Przeworski e Wallerstein (1988, p. 97),
e a adoção de políticas ativas de emprego e outras o governo “escolherá taxar o consumo capitalista”
políticas públicas visando melhorar o padrão de e reverter este “ganho” para os trabalhadores que
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“receberão benefícios materiais praticamente iguais gindo a intervenção do poder público no funcio-
aos que poderiam obter sob o socialismo”. É essa a namento da organização e permitindo a legalização
grande encruzilhada em que se encontra o movi- das centrais. Foram também cristalizados os diretos
mento sindical brasileiro. fundamentais à greve, a autonomia para a vincula-
ção com partidos – ainda que mantida a proibição
das doações eleitorais e partidárias –, a liberdade de
Transformações da estrutura sindicalização dos trabalhadores do setor público e
sindical no Brasil a filiação voluntária.
A criação das centrais sindicais a partir desse
O arranjo corporativista implantado por Ge- período foi a grande mudança originada no seio do
túlio Vargas não criou o movimento sindical, mas próprio movimento sindical e não na lei, conferin-
seu projeto institucional foi capaz de transformá-lo do uma dose de centralismo e de orientação clas-
profundamente. Não foi um modelo pronto, ergui- sista ao movimento antes desarticulado (Almeida,
do de uma única vez, mas construído a partir de 1996). O pluralismo na cúpula passou a conviver
um conjunto de normas que sucederam à criação com a antiga estrutura corporativa, descentraliza-
do Departamento Nacional do Trabalho, em 1931. da e desconcentrada, e inaugurou um sistema hí-
O legado deste projeto institucional para a cultura brido de intermediação de interesses (Rodrigues,
do associativismo e consolidação da democracia é 1990; Almeida, 1996). Entretanto, a virtude do
ainda hoje objeto de grande controvérsia (Cardo- sindicalismo “autônomo” teve seu custo ao negar o
so, 2007; Silva, 2008), assim como os benefícios reconhecimento legal às entidades, mantendo-as à
de sua estrutura para os trabalhadores (Rodrigues, margem da estrutura corporativista oficial (Almei-
1990, p. 66; Boito, 1991). da, 1996).
O arranjo institucional corporativista atri- A manutenção do monopólio sindical conser-
buiu status público aos sindicatos, legitimando-os vou no sindicato de base municipal a exclusividade
como representantes dos trabalhadores nas nego- da representação dos trabalhadores durante a bar-
ciações coletivas e impondo a extensão automá- ganha do contrato coletivo de trabalho. Essa prer-
tica dos acordos independentemente da filiação. rogativa pode ser transferida para as organizações
Mas as regras para concessão da carta sindical e a de grau superior por delegação prévia do sindicato
contribuição compulsória impuseram às entidades ou decisão da Justiça do Trabalho, mas não às cen-
um preço alto em termos de subordinação ao go- trais sindicais. Sem qualquer participação institu-
verno (Boito, 1991). A contribuição compulsória, cionalizada no processo de barganha e participação
embora resolvesse o problema do financiamento legal na contribuição sindical, as centrais se viram
dos sindicatos, criou incentivos para ação irrespon- estruturalmente dependentes da contribuição dos
sável das lideranças perante a base e a criação de sindicatos associados, particularmente dos “grandes
sindicatos “de carimbo”, sem representatividade. O sócios” (Comin, 1994).
monopólio legal por categoria profissional de base Mas a falta de mecanismos de controle sobre
mínima municipal e o calendário oficial da data- os sindicatos foi de certa forma compensada pelo
-base contribuíram para a constituição de uma es- acesso das centrais aos fóruns tripartites oficiais,
trutura extremamente desconcentrada, descentrali- como representantes legítimas dos trabalhadores.
zada, que se refletia nas formas de luta (Almeida, É por via da participação das centrais nesses or-
1996; Boito, 1991). ganismos que os sindicatos realizam a maior parte
Na década de 1980, com o advento da aber- da sua interlocução com o governo (Idem). Se a
tura democrática e a pressão do “novo sindicalis- autonomia em tese permite aos sindicatos optar
mo”, foram realizadas importantes modificações na ou não por uma das identidades políticas estabe-
estrutura sindical, posteriormente incorporadas à lecidas pelas centrais, na prática esses passaram a
Constituição de 1988. Essas alterações introduzi- ter um importante incentivo para a filiação a uma
ram elementos de liberdade democrática, restrin- ou outra central.
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Apesar das mudanças no arranjo institucional do registro ficou a cargo da Secretaria de Relações
implantadas com a redemocratização, alguns au- de Trabalho do Ministério do Trabalho, mas suas
tores procuram mostrar que a estrutura básica do regras passaram recentemente a ser consensuadas
“sindicalismo de Estado” permanecia intocada. Na no Conselho de Relações de Trabalho (CRT), de
visão de Boito (1991), lembrando as análises de natureza tripartite. O conselho não confere os re-
Offe (1989), a estrutura impõe um limite crucial às gistros, mas “colabora” na definição das suas regras
conquistas dos trabalhadores, contendo a luta sin- e aferição das centrais.
dical no terreno do interesse político da burguesia A nova carta conferiu maior autonomia ao mo-
e separada da luta revolucionária, desorganizando vimento ao assegurar também o direito de greve,
os trabalhadores. Seus reflexos são a atomização, colocando como única restrição a definição, em
a fragmentação da luta de classe e a submissão do lei específica, do atendimento das “necessidades
movimento sindical à hegemonia de uma fração de inadiáveis da sociedade” em termos de “serviços ou
classe, a oligarquia sindical, capaz de manipular a atividades essenciais”.10 Logo após a promulgação
base contra “seus reais interesses”. da carta, o governo Sarney tratou de aprovar a Lei
Apesar de naquele momento ter visto na li- 7.783/89, conhecida como a lei de greve do setor
gação entre a Central Única dos Trabalhadores privado, em resposta à eclosão de greves no perí-
(CUT) e o Partido dos Trabalhadores (PT) um odo. No setor público, o direito de greve mereceu
indício da superação do sindicalismo populista, um artigo à parte, nunca regulamentado, devendo
posteriormente Boito (1994) chega à conclusão de ser “exercido nos termos e nos limites definidos em
que todos os que lutaram para a superação do cor- lei específica”.
porativismo estatal foram cooptados pela estrutura Por fim, o outro elemento importante da li-
do sindicalismo oficial. De um lado, o novo sin- berdade sindical previsto pelo artigo 37 da Cons-
dicalismo, que outrora de massa e confronto teria tituição é justamente a liberdade de sindicalização
rapidamente caminhado para o “neo” corporativis- do servidor público civil. A ausência da contribui-
mo, passando a agir de forma reativa e a defender ção compulsória, a alta taxa de sindicalização e a
posições de cunho “meramente” setorial. De outro capacidade de mobilização fizeram do sindicalis-
lado, os novos atores teriam também abandonado mo do setor público o grande exemplo de orga-
a luta pela liberdade sindical e a adoção da Con- nização voluntária, reforçando sua legitimidade e
venção 87 da Organização Internacional do Tra- aproximando-o da base.11 Mas apesar da garantia
balho (OIT). constitucional da liberdade, o sindicalismo no se-
A possibilidade de diferentes interpretações da tor público foi limitado por duas questões básicas:
lei torna ainda mais acirrada a discussão sobre as a regulamentação da greve e da negociação coletiva.
mudanças normativas na estrutura sindical, princi- Apenas no governo Lula foi dado um passo
palmente no que diz respeito à liberdade sindical. objetivo para reverter essa situação, com o envio da
A nova carta é categórica ao afirmar em seu artigo PEC 369/2005, que consolidava as demandas do
oitavo que é “livre a associação profissional ou sin- Fórum Nacional do Trabalho (FNT). Mas se a ade-
dical”, impedindo o Estado de “exigir autorização são à Convenção 151 da OIT e a decisão do Su-
para fundação de sindicato”, mas derrapa ao exigir premo Tribunal Federal (STF) de aplicar as regras
o “registro em órgão competente”. Aos trabalhado- do setor privado para as greves do setor público até
res, por sua vez, foi mantido o princípio da livre fi- a sua regulamentação reforçaram a necessidade de
liação aos sindicatos, tal como no período anterior. regulamentação da matéria, as resistências dentro
A lei maior determina que a “cassação da car- da burocracia estatal – questionando a constitucio-
ta de reconhecimento não imporá o cancelamen- nalidade da negociação no setor público e a falta
to do registro” sindical, nem seu fechamento, mas de acordo entre sindicatos de servidores e centrais
o impede de receber a contribuição sindical e ser o quanto à inclusão de regras de unicidade, represen-
“chancelador” oficial da convenção ou acordo co- tatividade e contribuição sindical no projeto – tem
letivo de trabalho. Nos anos de 1990, a concessão contribuído para retardar esse processo.
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A movimentação na cúpula interlocutora da classe trabalhadora junto ao em-


presariado e ao governo. Seria a origem do “sindi-
A CUT foi a primeira central criada sob a ban- calismo de resultados”, erguido em contraposição
deira do “novo sindicalismo”, em 1983, mantendo à estratégia de confronto adotada pela CUT. Neste
desde o início estreitos vínculos com o PT. O dis- período, a CGT acabaria “rachando”, com a saída
curso contrário ao corporativismo estatal, ao im- dos membros ligados ao MR-8 e ao PCB para criar
posto sindical e pela liberdade sindical, juntamente a atual Confederação Geral dos Trabalhadores do
com uma estratégia combativa e a recusa dos pactos Brasil (CGTB).
sociais nos anos de 1980, contribuíram para o for- Entre 1988 e 1989, sindicalistas ligados aos
talecimento da central. Tal fato contrastava com a partidos PCB, PCdoB e PSB também sairiam da
adoção de uma estratégia pragmática de conquista CGT para ingressar na CUT alguns anos depois.
das entidades oficiais pela via eleitoral e de mobili- Mas foi em 1992 que um novo racha na CGT, lide-
zação política nos novos canais legislativos abertos rado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Pau-
com a redemocratização (Almeida, 1996). Noronha lo, deu origem à segunda maior central do país, a
(2000) mostra a centralidade da arena legislativa Força Sindical (FS). Esta ganhou espaço dentro do
para os sindicatos após a redemocratização e diante movimento sindical com um discurso de contrapo-
do nosso sistema “legislado” de relações de trabalho. sição à CUT, buscando aproximar-se do governo
Ainda em 1985, seria criada também a União em defesa das reformas neoliberais. Essa linha de
Sindical Independente (USI), com predomínio de atuação contribuiu inclusive para que a entidade
sindicatos ligados ao comércio. E no ano seguinte, ganhasse a eleição em importantes sindicatos cutis-
a Central Geral dos Trabalhadores (CGT), aglu- tas ligados às empresas privatizadas (Boito, 1999).
tinando membros da estrutura oficial ligados aos As alterações na cúpula continuariam na déca-
partidos MR-8, PCB, PMDB e PCdoB. Enquanto da de 1990 com a criação da Central Autônoma
na fundação da CUT havia a presença significativa dos Trabalhadores (CAT), em 1994., e da Social
de funcionários públicos e sindicatos rurais, a CGT Democracia Sindical (SDS), em 1996, com dissi-
apresentava um grande número de federações e dentes da FS e apoio político do PSDB. A influên-
confederações da estrutura oficial, o que contribuiu cia da competição partidária foi decisiva na disputa
para que a nova CGT herdasse as posições da velha entre as centrais e mesmo nas disputas internas, o
CGT, pela manutenção do imposto sindical e a re- que levou Rodrigues (1991) e Almeida (1996) a
cusa da liberdade nos moldes da Convenção 87 da atribuírem esse movimento de criação e fusão de
OIT (Santana e Braga, 2009). centrais mais à atuação das elites sindicais no cam-
A década de 1980 foi marcada pela explosão po partidário do que uma adesão explícita ao plu-
do número de greves e também de novos sindica- ralismo sindical.12 Além disso, diversos dirigentes
tos, ajudando a legitimar o movimento dos traba- passaram para carreira política ou para cargos na
lhadores que se revitalizava com a redemocratização gestão pública.
(Noronha, 2009; IBGE, 2003). Mas a atividade A movimentação na cúpula continuou na dé-
grevista na base contrastou com a baixa capacidade cada seguinte com o surgimento de quatro novas
de influência das centrais nos governos Figueiredo e centrais. O contexto político marcado pela re-
Sarney, não se traduzindo na “construção de canais forma da previdência, pelo Fórum Nacional do
de influência sobre políticas de governo” (Almeida, Trabalho (FNT) e por escândalos de corrupção
1998, p. 351). Entretanto, o fracasso dos planos contribuiu para que, em 2004, grupos ligados ao
de estabilização e a articulação de greves nacionais Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
foram aos poucos legitimando as centrais como (PSTU) e à corrente Intersindical saíssem da CUT
interlocutoras dos trabalhadores na construção de para fundar a Consultas. Em 2007, a CUT perde-
pactos sociais. ria também a Corrente Sindical Classista, ligada
A Central Geral dos Trabalhadores buscou ao PC do B, que fundaria a Central dos Trabalha-
preencher esses novos espaços, colocando-se como dores do Brasil (CTB).
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Os conflitos ocorridos durante o FNT leva- No que toca à contribuição sindical, prevale-
ram, ainda, à criação da Nova Central Sindical ceu a tese de que os sindicatos têm a liberdade de
dos Trabalhadores (NCST), em 2005, reunindo as filiação às centrais, decidindo para qual será reverti-
confederações oficiais. Por fim, em 2007, foi cria- da a contribuição e abrindo uma brecha para a sua
da a União Geral dos Trabalhadores (UGT), com substituição pela “contribuição negocial”, nos mol-
a fusão de CAT, SDS e CGT e a incorporação de des defendidos pela CUT. A alteração da CLT pro-
dissidentes da Força Sindical. Mas apesar desse movida pelo texto final destinou às centrais 10% da
conflito latente em torno da estrutura sindical, a contribuição sindical, em prejuízo da conta “Em-
partir do governo Lula as centrais foram capazes de prego especial, emprego e salário”. Assim, o próprio
construir uma unidade de ação e uma importante governo absorveu a perda de arrecadação, em vez
pauta nacional conjunta, em grande parte mediada de impor custos à estrutura existente, dissipando
pelo Dieese (Radermacher e Melleiro, 2007). as resistências que poderiam surgir. Mas não evitou
Essas mudanças na cúpula ocorreram no bojo que o interesse pelos recursos acirrasse a disputa na
da consolidação e da institucionalização das cen- cúpula por sindicatos.
trais no governo Lula. A legalização das centrais
materializou-se por meio do PL 1997/2007 de au- As novas instâncias de participação
toria do Executivo e relatoria do deputado Vicenti-
nho (PT-SP), após o fracasso da Medida Provisória A participação das centrais sindicais em fóruns
239/2006. Sua redação apresentava duas diferenças tripartites ganhou um novo caráter com a Consti-
importantes em relação ao texto da MP, abrandan- tuição de 1988. O governo Sarney foi permeado
do os critérios para determinar a representatividade por tentativas frustradas de pacto social envolvendo
das centrais – de 10% para 7% dos trabalhadores as centrais, devido em grande parte à debilidade do
sindicalizados no país – e conferindo às centrais movimento sindical e do próprio governo e de uma
uma parte dos recursos da contribuição sindical. marcada estratégia de confronto por parte da CUT.
No texto da Lei 11.648/08, o Legislativo re- As tentativas de pacto social e negociação tripartite
jeitou a brecha para que as centrais assumissem o foram retomadas no governo Collor com a criação
papel dos sindicatos ao mudar a redação inicial do dos “grupos executivos de políticas setoriais” e pos-
artigo primeiro pelo qual elas teriam a prerrogativa teriormente o Fórum Capital Trabalho, reunindo
de “exercer a representação dos trabalhadores”, para pela primeira vez as três maiores centrais. Mas foi
“coordenar a representação”. O poder Executivo, a “câmara setorial automotiva”, no governo Itamar,
por sua vez, vetou a regra que obrigava as centrais a que teve o maior êxito entre essas iniciativas. O
prestarem contas ao Tribunal de Contas da União. próprio caráter tripartite da câmara foi introduzido
A lei formalizou o papel das centrais de repre- na lei por iniciativa de um deputado do PT ligado à
sentante dos trabalhadores no plano nacional atra- CUT, Aluisio Mercadante (Martin, 1996).
vés da negociação em “fóruns, colegiados de órgãos Esse experimento de diálogo social foi esvaziado
públicos e demais espaços de diálogo que possuam no governo Cardoso, mas deixou uma marca expres-
composição tripartite”. Tal posição consolidou a siva no movimento sindical (Santana e Braga, 2009;
atuação que já era de fato exercida pelas entidades Ramalho e Rodrigues, 2010). As interpretações dessa
e que encontra respaldo no artigo 10 da Constitui- experiência na literatura podem ser divididas em dois
ção que assegura “a participação dos trabalhadores grupos: de um lado, os autores que viam nas câma-
e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos ras o embrião de sucesso do que poderia ser o esta-
em que seus interesses profissionais ou previdenciá- belecimento de “corporativismo societário” no país
rios sejam objeto de discussão ou deliberação”. Ao (Martin, 1996),13 de outro, os que criticaram a ex-
Ministério do Trabalho coube a criação do índice periência como manifestação de um tipo de neocor-
de representatividade das centrais, a ser usado para porativismo setorial, egoísta por natureza, que desvia
definir a proporção de vagas de cada central nos fó- os trabalhadores da luta por “transformações estrutu-
runs tripartites, “salvo em caso de acordo entre elas”. rais” e legitima a política neoliberal (Boito, 1999).14
Novos Rumos do Sindicalismo no Brasil  117

As origens dessa nova face participacionista e O FNT evidenciou a face consociativa do go-
propositiva do sindicalismo estão intimamente vin- verno Lula. A tentativa de formular uma proposta
culadas ao pacto constitucional de 1988. Aos pou- de reforma trabalhista e sindical a partir da criação
cos os sindicatos foram ocupando os novos espaços de uma comissão tripartite justificava-se pela especi-
democráticos, seja pela pressão direta dos poderes ficidade dos interesses envolvidos e pelo alto grau de
Executivo e Legislativo, seja pela participação ins- resistência tanto por parte dos sindicatos dos traba-
titucionalizada nas novas instâncias tripartites. A lhadores quanto dos empresários. No lado dos tra-
Constituição consagrou os princípios da participa- balhadores, a CUT e a Força Sindical dividiram o
ção popular e das organizações dos trabalhadores comando das plenárias e das comissões, convergindo
no processo legislativo e na administração pública na maior parte das questões, mas sem a adesão das
– áreas das políticas previdenciária, agrícola, segu- demais centrais (Almeida, 2007).
ridade social, saúde e assistência social. Esses dis- No texto final, que acabou sem apoio consen-
positivos permitiram a criação de muitos conselhos sual, ficou determinado que o imposto sindical seria
consultivos, deliberativos e fiscais, que procuram gradualmente extinto e substituído pela “contribuição
aumentar o controle e a transparência da adminis- negocial” e que as centrais deveriam ser legalizadas. As
tração pública e influenciar o rumo das políticas reformas propostas foram divididas em dois blocos:
públicas. a reforma trabalhista, propriamente dita, e a reforma
As centrais sindicais, mesmo antes de sua le- sindical. O primeiro resultou na Proposta de Emen-
galização oficial, passaram a atuar em conselhos da Constitucional n. 369/05, que altera a redação do
importantes criados após 1990, como o Conselho capítulo sobre liberdade sindical e cria a representação
Nacional de Previdência Social (CNPS), o Conse- no local de trabalho. O segundo, no “Anteprojeto de
lho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Traba- Lei de Relações Sindicais” que regulamenta as centrais
lhador (Codefat) e o Conselho Curador do Fundo sindicais, cria o Conselho Nacional de Relações de
de Garantia por Tempo de Serviço (CCFGTS).15 Trabalho e reorganiza o financiamento do sistema.
Esses conselhos deliberam sobre algumas das po- A participação dos sindicatos nos fóruns tri-
líticas públicas mais importantes para os trabalha- partites não se limitou a essas esferas, estendendo-
dores e movimentam orçamentos vultosos. Apenas -se a uma multiplicidade de novas arenas, como
o FAT e o FGTS, duas das principais fontes de fi- os conselhos das cidades, da saúde, da educação e
nanciamento do desenvolvimento do país, tinham do “Sistema S”. Na esfera federal, havia 32 conse-
em 2012 um patrimônio conjunto de R$ 529 bi- lhos e duas comissões nacionais, até 2010, sendo
lhões ou 12% do PIB. que 18 foram criados no governo Lula e outros
No governo Lula ampliaram-se essas novas are- 15, reformados (Brasil, 2010). Ao menos 19 desses
nas e foram criados novos conselhos, como o Con- conselhos e comissões têm participação direta do
selho Nacional de Economia Solidária (CNES) e o movimento sindical. No seu conjunto, esses fóruns
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social têm definido aspectos importantes das políticas pú-
(CDES). Também foi regulamentada a participação blicas, particularmente após o governo Lula, e pos-
dos trabalhadores nos conselhos das empresas esta- sibilitado o exercício do controle social das políticas
tais e de economia mista e foram criadas outras ins- e recursos (Pogrebinschi e Santos, 2011).
tâncias de duração determinada – as conferências –, O aprofundamento dessa participação tem
onde se discutiram pontos específicos da agenda permitido aos sindicatos um aprendizado a respeito
sindical e governista. Três destas foram particular- da elaboração de políticas públicas, que os coloca
mente importantes para o movimento sindical: 1) o em um novo patamar no debate sobre os rumos
Fórum Nacional do Trabalho (FNT); 2) a Comis- do Estado e da economia (Comin, 1994, p. 389;
são de Valorização do Salário Mínimo, responsável Santana e Braga, 2009). Além disso, contribui para
por uma política de valorização do salário mínimo, cristalizar o caráter consociativo da democracia bra-
vinculando-o ao crescimento do PIB e à inflação;16 sileira na sua interface com o corporativismo, aqui
3) o Fórum Nacional de Previdência Social. como modo de “fazer política”. A permanência de
118  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 86

um governo liderado por um partido de esquerda e 49,2% entre 1992 e 2001, chegando a 11.354. Tal
próximo aos sindicatos no poder foi fundamental crescimento implicou maior fragmentação, mas re-
nessa construção, fato reforçado pela aposta do go- velou também uma grande capacidade de mobiliza-
verno Dilma Rousseff na arquitetura de uma nova ção dos trabalhadores (Cardoso, 1997). No mesmo
política industrial pactuada a partir das Comissões período, 3,5 milhões de “novos” trabalhadores ur-
Sistêmicas do Plano Brasil Maior. banos se sindicalizaram, elevando para 9,2 milhões
o número de sindicalizados, dos quais 66,5% esta-
vam sob o guarda-chuva das centrais.
O sindicalismo está morto? O crescimento na base foi acompanhado de
maior concentração na cúpula, com o aumento dos
Na década de 1990, o sindicalismo passou sindicatos filiados às centrais, que passou de 33% para
por uma crise que tem fundamentos tanto teóri- 38%. Ao mesmo tempo, as duas principais centrais
cos quanto empíricos. O destino do sindicalismo mantiveram sua hegemonia, com mais de 86% do
estava marcado pelo declínio do seu poder – não total das filiações sindicais ao longo do período. Em
só de uma perspectiva institucional, mas também 2001, os sindicatos filiados a centrais respondiam por
política, com a queda do número e da proporção 52,3% do total de trabalhadores filiados (66,5% no
de trabalhadores filiados – e o declínio das taxas de caso dos empregados urbanos), sendo que as duas pri-
greve (Rodrigues, 2002). Entretanto, alguns auto- meiras centrais concentravam mais de 88% desses tra-
res procuraram mostrar sinais de persistência nas balhadores. O próprio IBGE (2003, p. 80), na análise
organizações sindicais e na sua importância políti- do censo sindical, conclui que: “Levando-se em conta
ca, afirmando que em alguns casos esta “sobrevida” que houve um expressivo aumento do número abso-
se dava em um patamar mais alto de concentração luto de sindicatos na última década, conclui-se que as
(Golden, Wallerstein e Lange, 1999). centrais sindicais fortaleceram-se bastante”.
O corporativismo não é imune às mudanças Apesar de não serem comparáveis aos dados do
tecnológicas na produção e no mercado de traba- IBGE, os dados do Ministério do Trabalho e Empre-
lho, nem aos ciclos econômicos e às alterações no go mostram que no início de 2010 havia 8.826 sin-
equilíbrio de forças na arena política. Se é verdade dicatos urbanos com carta sindical, contra 6.133 no
que diante dessas alterações o movimento sindical censo de 2001. Em 2010, 61,3% dos sindicatos eram
brasileiro tem sido “prisioneiro do passado”, tam- filiados a alguma central, contra os 38% de 2001. Em
bém é verdade que tem sido capaz de usar e alte- março de 2012, o total de entidades registradas havia
rar a estrutura, ao longo dos anos, para acomodar passado para 9.854, sendo 72,9% filiadas a centrais.
seus interesses e se fortalecer. Apesar de ter tido sua Este crescimento veio acompanhado de uma nova
morte decretada, o sindicalismo tem mostrado que realidade no mercado de trabalho, marcada pelo cres-
está vivo e mais forte do que se esperava. cimento expressivo do emprego formal. Entre 2003
Não foi fácil superar a década de 1990, quando e 2012, o emprego formal registrado na Rais/MTE
o emprego formal divulgado pelo Ministério do Tra- cresceu 60%, contra os 24% no período anterior.
balho apresentou uma tendência de queda e a taxa A Tabela 1 apresenta o índice de representa-
de desemprego calculada pelo IBGE subiu de for- tividade das centrais calculado pelo Ministério do
ma praticamente constante. O resultado foi um au- Trabalho.17 Nela é possível observar um quadro
mento da informalidade nas regiões metropolitanas, de relativa estabilidade na representatividade das
entre 1992 e 2002, coincidindo com a estagnação centrais, apesar do pluralismo e da competição na
do PIB per capita e a queda contínua do rendimen- cúpula. Também é possível observar o aumento
to médio dos ocupados, entre 1996 e 2003 (Ipea, do volume da contribuição sindical destinada às
2013). Mas, apesar desse cenário, o sindicalismo pa- centrais, um movimento que deve ser explicado
rece ter se fortalecido. pelo aumento da participação de sindicatos filia-
Os dados do IBGE (2003) mostram que o dos, mas também pelo crescimento do emprego
número de sindicatos dos trabalhadores cresceu formal e da renda.
Novos Rumos do Sindicalismo no Brasil  119

Tabela 1
Índice de Representatividade das Centrais (%) e Valor da Contribuição Sindical (R$ Milhões)

Central 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014


CUT 35,8 36,8 38,2 38,3 36,7 35,6 34,4
FS 12,3 13,1 13,7 14,1 13,7 13,8 12,6
UGT 6,3 7,2 7,2 7,9 11,3 11,2 11,9
CTB 5,1 6,1 7,6 7,8 9,2 9,2 9,3
NCST 6,3 5,5 6,7 7,0 8,1 8,1 8,0
CGTB 5,0 5,0 5,0 7,0 – – –
Total 70,8 73,7 78,4 82,2 79,0 77,9 72,6
Três maiores 54,46 57,08 59,13 60,33 61,7 60,6 58,9
Contribuição Sindical* 65,7 81,0 102,3 124,6 141,7 161,9
* Boletim de Informações Financeiras do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT/MTE.
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em http://portal.mte.gov.br/portal-mte/relacoes-de-trabalho/
consulta-afericao-de-central-sindical/.

Os dados de 2011 mostram que UGT, CGTB zações tanto para preencher os novos espaços insti-
e NCST estavam próximas do limite mínimo para tucionais quanto para levar adiante a disputa com
receber o repasse, de 7% de trabalhadores. Em a patronal, bem como a disputa interna ao movi-
2011, contudo, a CRT definiu que o novo cálculo mento. O julgamento da Adin 4.067 pelo Supremo
levaria em conta a declaração do número de filiados Tribunal Federal deve resolver se o repasse é legal
que consta das atas de votação nas eleições sindicais ou não, em uma votação que segue empatada. Caso
e montou uma comissão intersindical para apurá- o repasse seja revertido, as centrais devem encontrar
-lo. O resultado foi que em 2012 a CGTB não uma grande dificuldade financeira e ter reduzida
atingiu o índice, mas manteve seu status público sua capacidade de ocupar os espaços tripartites.
oficial, o direito aos recursos da contribuição e a
participação nos conselhos federais graças a uma
decisão judicial, cujo mérito ainda não foi julgado. Perspectivas para a próxima década
Na luta para superar o índice mínimo de re-
presentatividade e receber o imposto sindical e as- O sindicalismo parece novamente se encon-
sento nos fóruns tripartites, é possível que ocorram trar em uma encruzilhada. Antigos debates sobre a
novas movimentações na cúpula, com a fusão das autonomia sindical permanecem, como a cobran-
centrais existentes.18 Entretanto, os dados permi- ça do imposto sindical e a adoção da Convenção
tem observar que há uma grande concentração do 87 da OIT. Outros ganharam novo fôlego, como a
movimento sindical na CUT e na Força, apesar do concessão da carta sindical e o enquadramento sin-
grande número de centrais.19 A maior porcentagem dical, a regulamentação da contribuição sindical e
de sindicatos ligados às centrais parece qualificar a dos direitos de greve e a negociação no setor públi-
concentração na cúpula, movimento que foi esti- co. Particularmente no setor público, as definições
mulado pela vinculação da receita com a contribui- podem favorecer maior fragmentação, levando a
ção sindical à filiação dos sindicatos na base. uma corrida pelo registro e pela contribuição sin-
O valor repassado, por sua vez, tem permitido dical. Mas também podem dar ao sindicalismo do
às centrais profissionalizar e estruturar suas organi- setor público maior capacidade de mobilização, o
120  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 86

que trará implicações de longo prazo para o balan- de categorias singulares, compulsórias, não competi-
ço de poder entre os sindicatos dos setores público tivas, hierarquicamente ordenadas e funcionalmente
e privado dentro das centrais sindicais. diferenciadas, reconhecidas e permitidas (se não cria-
Ao mesmo tempo, o movimento sindical deve das) pelo Estado, às quais se outorga o monopólio
de uma representação deliberada no interior das res-
buscar a consolidação das conquistas obtidas du-
pectivas categorias em troca da observância de certos
rante o governo Lula no que toca à presença dos controles na seleção de seus líderes e na articulação de
sindicatos nas novas arenas de participação, a po- suas demandas e apoios” (1974, pp. 93-94).
lítica de valorização do salário mínimo e de cres- 2 Offe (1989) afirma que o corporativismo não pode ser
cimento do emprego. No caso da participação nos legitimado democraticamente e chama atenção para
conselhos de políticas públicas, como o Codefat, o os efeitos negativos da atribuição de status público:
CCFGTS e o CNPS, em que a presença sindical burocratização, irresponsabilidade, oportunismo.
já está de certa forma consolidada, o movimento 3 Lehmbruch define o corporativismo como um “pa-
sindical pode vir a observar uma batalha entre as drão institucionalizado de formação de políticas no
centrais pela participação, em decorrência do cum- qual grandes organizações de interesses cooperam
primento da Lei 11.648/2008. umas com as outras e com as autoridades públicas não
As modificações em curso parecem nos aproxi- apenas na articulação (ou mesmo intermediação) de
mar cada vez mais do corporativismo societário, con- interesses, mas na alocação oficial de valores e na im-
trariando o cenário dos anos de 1990, quando o plu- plementação dessas políticas” (1977, p. 94).
ralismo parecia plausível (Almeida, 1998). O toque 4 O primeiro agrega quatro variáveis indicando o poder
menos “míope” e mais classista parece ter sido dado das centrais sobre seus filiados (participação na barga-
pelo amadurecimento das centrais, ao contrário do nha coletiva; fundos de greve; staff próprio; cobrança
de contribuição). O segundo agrega três variáveis or-
que se viu até a estabilização econômica (Almeida,
ganizacionais (número de centrais; abrangência; exis-
1996, p. 197). Ainda que a sobrevivência de certas tência de facções internas nas centrais).
características do arranjo anterior não contribua para
5 O índice de Cameron (1984, p. 164) agrega cinco
a maior coordenação e centralização do movimen-
variáveis: 1) taxa de sindicalização; 2) estrutura orga-
to sindical, as novas regras para centrais parecem ter nizacional (número de centrais e de sindicatos); 3) po-
modificado a dinâmica da disputa na cúpula, favore- der das centrais na barganha coletiva (fundos de greve,
cendo a concentração e a coordenação. veto sobre acordos e greves); 4) escopo da barganha
Se o pluralismo parece distante e improvável, coletiva; 5) existência de canais institucionalizados de
a permanência do corporativismo estatal ou sua representação no sistema político.
migração para um modelo societário deve ser vista 6 “Mesmo estruturas sindicais relativamente fragmen-
dentro do jogo de forças que atuou no Fórum do tadas podem encontrar formas alternativas e mais
Trabalho e resulta da cristalização de interesses e da democráticas de coordenação em apoio a processos
fragmentação política, mais do que da intenção do políticos concertados” (Baccaro, 2003, p. 700).
Estado. O projeto institucional dos criadores do ar- 7 Como observa Rodrigues: “Os sindicatos, para garan-
ranjo corporativista brasileiro ganhou vida própria e tir sua sobrevivência, devem ser antipatronais, mas
as organizações sindicais voltam a ensaiar sua eman- não anticapitalista [...] o limite do poder sindical é a
cipação sem, no entanto, andar no sentido do plura- sobrevivência da empresa” (1990, p. 44).
lismo e do abandono do status público. 8 Wallerstein (1989) mostra que a centralização re-
presenta um padrão específico de coalizão de classe,
alicerçada na barganha por políticas sociais, mas que
outra conjuntura poderia favorecer coalizões setoriais
Notas e a demanda por políticas protecionistas.

1 Segundo Schmitter, o corporativismo é um sistema 9 A associação entre o poder organizacional dos tra-
de intermediação de interesse, “no qual as unidades balhadores e o controle do governo por partidos de
constituintes são organizadas num número limitado esquerda é fundamental nesta literatura (Cameron,
1984; Lipset e Katchanovski, 2000).
Novos Rumos do Sindicalismo no Brasil  121

10 Segundo o art. 9 da Constituição: “É assegurado o di- BIBLIOGRAFIA


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sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses ALMEIDA, Gelsom (2007), “O governo Lula, o
que devam por meio dele defender. §1º A lei definirá
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os serviços ou atividades essenciais [...]. §2º Os abusos
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cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei”.
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culação da CUT passou no decorrer do tempo a ado- sismo e a socialdemocracia”, in Sebastião Neto
tar uma postura marcadamente social-democrata, em e Vito Giannotti (org.), Para onde vai a CUT?
prol da negociação e em oposição às posturas socialis- Campinas, Scritta.
tas ou anticapitalistas. BACCARO, Lucio. (2003), “What is alive and what
14 Para Boito, as câmaras foram, em relação à estratégia is dead in the theory of corporatism”. British
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um movimento específico de despolitização do sindi- BOITO, Armando. (1991), O sindicalismo de esta-
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16 Esta política iniciada em 2006 foi estendida, no go-
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verno Dilma Rousseff (Lei 12.392/2011), até 2019. political intervention: the politics of unem-
17 O índice de representatividade é calculado com
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base na Portaria 194/2008, em cumprimento à Lei 1986”. European Journal of Political Research,
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162  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 86

NOVOS RUMOS DO NEW DIRECTIONS FOR NOUVELLES ORIENTATIONS


SINDICALISMO NO BRASIL BRAZILIAN UNIONISM POUR LE SYNDICALISME
BRÉSILIEN

Alexandre Sampaio Ferraz Alexandre Sampaio Ferraz Alexandre Sampaio Ferraz

Palavras-chaves: Corporativismo; Sindica- Keywords: Corporatism; Unionism; Mots-clés: Corporatisme; Syndicalisme;


lismo; Instituições políticas; Democracia. Political institutions; Democracy. Institutions politiques; Démocratie.

O objetivo deste artigo é resgatar o deba- The purpose of this article is to rescue Le but de cet article est de récupérer le
te sobre os rumos do corporativismo no the debate about the direction of cor- débat à propos des différentes orienta-
Brasil após a redemocratização e avaliar poratism in Brazil after the democrati- tions du corporatisme au Brésil qui a eu
o impacto das mudanças institucionais zation, as well as to assess the impact of lieu après la démocratisation ainsi que
recentes para o sistema de intermediação the recent institutional changes on the d’évaluer l’impact des changements ins-
de interesse. A retomada da abordagem system of interest intermediation. The titutionnels récents pour le système d’in-
corporativista na literatura internacional resumption of the corporatist approach termédiation d’intérêts. La répétition de
permite um contraponto para o debate on the international literature allows for l’approche corporatiste dans la littérature
interno ao recolocar a importância das a counterpoint to the internal debate, as internationale permet un contrepoint au
dimensões organizacionais e de “modo it reinforces the importance of the or- débat interne en redonnant de l’impor-
de tomada de decisão” para caracterizar ganizational dimensions and the “mode tance aux dimensions organisationnelles
o corporativismo como sistema de in- of decision making” to characterize the et au « mode de prise de décision » en
termediação de interesses. A partir dessa corporatist interest intermediation. The vue de caractériser l’intérêt corporatiste
leitura, o trabalho aponta para o fortale- argument points to the strengthening of comme système d’intermédiation des
cimento da estrutura sindical, particular- the trade union structure, particularly of intérêts. À partir de cette interprétation,
mente das organizações de cúpula, e para its top organizations, and to the multi- l’étude indique un renforcement de la
a multiplicação e a consolidação de di- plication and consolidation of several tri- structure syndicale, particulièrement
versas arenas tripartite, responsáveis pela partite arenas responsible for the defini- des organisations dominantes et vers la
definição de temas importantes da polí- tion of important issues of public policy. multiplication et la consolidation de di-
tica pública. Esses novos traços parecem These new traces seem to place the Bra- verses arènes tripartites, responsables de
aproximar cada vez o modelo brasileiro zilian model of corporatism closer to the la définition de thèmes importants de la
do tipo societário de corporativismo, em “societal” type, as opposed to pluralism. politique publique. Ces nouveaux pro-
oposição ao pluralismo. pos semblent rapprocher davantage le
modèle brésilien du genre sociétaire de
corporation en opposition au pluralisme.

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