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• HUMANIDADES

ARTE Um tratamento tão íntimo do


assunto foi possível graças ao projeto
Barroco Memória Viva, sob responsabi-
lidade de Tirapeli desde que ele mesmo

A festa o criou em fins dos anos 80. A idéia es-


sencial do projeto é promover viagens
culturais a cidades que abrigam monu-

visual do mentos históricos, para estudá-los in


loco. As viagens do Barrroco Memória
Viva, que em 1990 foi oficializado como
curso de extensão universitária e em

barroco 1994 tornou-se projeto permanente da


reitoria da Unesp, são precedidas de
um ciclo de palestras realizado em São .
Paulo. Participam das viagens professo-
res, alunos e funcionários da Unesp e
pesquisadores de outras universida-
Livro reúne des, que preenchem cerca de 40 va-
gas, a cada ano mais disputadas.
estudos, com Os textos do livro Arte Sacra Co-
lonial se originam das palestras do
fartas imagens, projeto. Tirapeli começou a procu-
sobre as raízes da rar patrocínio para publicá-Ias em
livro há quatro anos. Os textos fo-
estética colonial ram revistos e reestruturados, num
trabalho de atualização e adequa-
ção ao formato impresso. Entre
os autores estão nomes como
mprojeto de 14 João Adolfo Hansen, Benedito

U anos - envolven-
do viagens, cursos,
pesquisa de campo,
documentação fo-
tográfica e ciclos de palestras dos
principais especialistas brasilei-
Lima de Toledo, Wolfgang Pfeif-
fer e Régis Duprat, além do pró-
prio Tirapeli. A idéia de publica-
ção encontrou boa receptividade
nas inscrições para as leis de incentivo
(como as leis Mendonça e Rouanet),
ros em barroco - está por trás do mas nem tanto por parte de potenciais
livro Barroco Memória Viva, orga- patrocinadores. Finalmente a própria
nizado por Percival Tirapeli, profes- editora da Unesp se interessou em ban-
sor do Instituto de Artes da Universi- car o projeto. A Imprensa Oficial encar-
dade Estadual Paulista (Unesp). No regou-se da impressão e do papel.
centro do livro estão as igrejas, que de-
sempenharam o papel de núcleos de Século dobradu- Ao analisar a organi-
difusão da cultura e da arte coloniais zação preliminar do acervo de textos, os
brasileiras. pareceristas da editora da Unesp suge-
''A organização dos capítulos sugere riram que o enfoque do livro fosse di-
um dia festivo religioso, com todas as recionado para as manifestações barro-
possibilidades e uso dos sentidos que cas no Estado de São Paulo. "O próprio
envolvem a estética barroca", diz Tira- título é amplo e não delimita", observa
peli. Assim, os primeiros dos 18 artigos Tirapeli, destacando o caráter abrangen-
apresentam e discutem as cidades co- te do livro. "Mas se trata essencialmen-
loniais e sua arquitetura; em seguida, te de arte sacra colonial paulista', afirma
os textos mergulham no interior dos Senhor Morto, o pesquisador.
templos, para depois examinar outras do século 18, Esse aspecto específico, mas não li-
formas de expressão, como a música e a em Sorocaba, mitador, da obra é uma de suas caracte-
literatura, e também as implicações São Paulo: fim rísticas mais interessantes. Como o bar-
mais amplas da estética barroca, refleti- da idéia errada roco foi a estética dos séculos 17 e 18 ("o
das na política e na teologia. O tema de um barroco século do barroco no Brasil tem 200
rendeu o livro e um CD-ROM, ambos "caipira" anos", brinca Tirapeli), coincide com o
com apoio da FAPESP. período em que o Estado de São Paulo

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~--,
Espírito Santo,
século 17, em
Araçariguana,
São Paulo:
um barroco
internacional,
mas com sabor
local

desempenhava papel ostracismo de mais


econômico, social e de cem anos, durante
político secundário em os quais representou o
relação às regiões mais im- exemplo máximo de mau
portantes do país (Estados do gosto. No período de pre-
Nordeste e Minas Gerais). A rela- dominância do neoclassicismo
tiva pobreza das manifestações ar- na arquitetura, que opunha pu-
tísticas coloniais paulistas criou um es- reza geométrica e cromática ao rebus-
tigma. Como Tirapeli observa, "São Paulo camento de formas do barroco, fachadas
tem vasta bibliografia de sua arte colo- entalhadas de algumas igrejas chega-
nial- o que faltava era essa apresentação são fotos desses tetos, de igrejas de ram a ser cobertas de branco e telhados
com o status de arte barroca ou rococó Mogi das Cruzes, Itu e São Roque, en- foram cercados com platibandas, como
como as do Nordeste e Minas Gerais': tre outras. a "cobrir vergonhas': nas palavras de
Entre outros objetivos, o livro preten- Ainda sobre o barroco paulista, Ti- Tirapeli.
de, segundo seu organizador, desfazer rapeli observa a importância que as Tendo Mário de Andrade à frente,
equívocos que levaram alguns estudiosos construções coloniais do Estado, com iniciou-se na terceira década do século
a subestimar a produção artística pau- toda sua sobriedade e aparente modés- passado um amplo e profundo movi-
lista com rótulos como "barroco caipi- tia, desempenha no estudo da arquite- mento de reconstrução do passado ar-
ra" Se, de fato, não há nas cidades colo- tura jesuítica brasileira empreendido tístico brasileiro, ironicamente sob ins-
niais paulistas igrejas suntuosas como as por Lúcio Costa, cujo centenário de piração do futurismo e da procura de
mineiras ou baianas, no Estado se desen- nascimento está sendo comemorado uma expressão genuína nacional. Esti-
volveram alguns veios genuínos da pro- atualmente. A pesquisa do arquiteto e mulados por essa inquietação, pensa-
dução escultórica e pictórica colonial. urbanista é uma das obras-chave no dores fundamentais da cultura brasileira,
Tirapeli chama atenção para o nome de trabalho de recuperação e organização como Manuel Bandeira, Gilberto Freyre
João Gonçalo Fernandes - "português do legado barroco que foi empreendi- e Lúcio Costa, arregaçaram as mangas
que fugiu para o Brasil por causa de um do por artistas e intelectuais dos mais para tirar do esquecimento (e da imi-
crime'le se radicou em São Vicente, no variados meios, entre os anos 20 e 40 nência de extinção) a arte produzida no
litoral paulista -, autor das três primei- do século 20. Brasil colônia. Momento fundamental
ras imagens de barro cozido produzidas dessa movimentação intelectual foi a
no país, ~,or volta de 1560. Além disso, Ostracismo - Foi exatamente em 1924, fundação, em 1937, do Instituto do Pa-
o professor destaca as pinturas de tetos com a excursão dos modernistas de São trimônio Histórico e Artístico Nacio-
de igrejas paulistas, "muito pouco co- Paulo às cidades históricas de Minas nal (Iphan), pelo ministro Gustavo Ca-
nhecidas". Algumas das mais belas ilus- (tema de um dos capítulos do livro), panema. O projeto do Iphan, "uma
trações presentes no livro de Tirapeli que \arte barroca brasileira saiu de um verdadeira universidade", segundo Ti-

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Detalhe do azulejo que decora o claustro da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, em Salvador

rapeli, foi encomendado por Capane- do características próprias. "Ele já nas- Isso decorre da fartura, no Brasil, de
ma a Mário de Andrade. ce sendo o primeiro estilo internacional, certos materiais de talha, como madeira
como palavra de ordem no Concílio de e ouro, e da escassez de outros, como o
Rei ausente - A arte colonial assumiu, Trento (1545)': diz Tirapeli, mencio- mármore. A oposição entre o interior e
então, uma proeminência quase natu- nando o vínculo fundamental entre o o exterior dos templos corresponde a
ral 1).0 panorama histórico, na medida surgimento do barroco e as diretrizes da uma das principais características do
em que muitos estudiosos consideram Contra-Reforma, a reação violenta efe- barroco, o jogo de contrastes, presente,
o barroco a tradução estética da alma tivada pela Igreja Católica ao movimen- por exemplo, no claro-escuro das pin-
brasileira, pelo que tem de opulento e , to protestante liderado por Martinho turas que decoram as igrejas.
intenso. O período de vigência do bar- Lutero. ''A estética é a mesma, mostrada
roco coincide no Brasil com a ausência com maior ou menor esplendor': acres- Turismo - Com a autoridade de quem
do rei, que exerce a função de chefe de centa o professor. conhece de perto o objeto de seu estu-
igreja. O padre era não só a autoridade Tirapeli admite, no entanto, que do, Tirapeli, que aos 14 anos já cuidava
moral, mas também um funcionário existe um traço distintivo no barroco de um pequeno museu no seminário em
público, diz Tirapeli. É uma época am- brasileiro: "A simplicidade externa das que estudava no interior de São Paulo,
bígua, em que as fronteiras do religioso construções em contraste com a com- faz uma avaliação positiva dos atuais
e do secular, do público e do privado plexidade dos ornamentos internos". esforços de preservação do patrimônio
são bastante flexíveis. histórico brasileiro. O professor - autor
Tirapeli acredita que a principal he- o PROJETO também dos livros As Mais Belas Igrejas
rança desse tempo é a tolerância do bra- do Brasil e Patrimônio da Humanidade
sileiro, seja a que permite conviver com Barroco Memória Viva do Brasil, e que prepara agora para a
as diferenças, seja a que faz vista grossa editora da Unesp um volume sobre to-
MODALIDADE
à corrupção. "Nasceu daí um espírito das as igrejas coloniais paulistas - per-
Auxílio publicação
de busca, mas que sabe que nunca vai cebe o surgimento de "um sentido de
achar o fim': diz o professor. "Ele dá a PESQUISADOR história" na população, criando pres-
todos a liberdade de completar as re- PERCIVAL TiRAPELI - Instítuto de sões sobre o poder público para que se
gras, adaptá-Ias e floreá-Ias." Artes da Unesp preservem os monumentos históricos.
O fato de ter se enraizado tão pro- Além disso, acrescenta, "todos estão
INVESTIMENTO
fundamente na cultura brasileira não vendo que o turismo é um grande ne-
R$ 6.000,00
significa que o barroco local tenha gera- gócio': afirma o pesquisador. •

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