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XI SIMPÓSIO NACIONAL DE PRÁTICAS

PSICOLÓGICAS EM INSTITUIÇÃO

A ação da psicologia em saúde e educação:

reflexões ético-políticas

Shirley Macedo

Melina Pereira

Waléria Mendes

Organizadores

ANAIS

UNIVASF
Petrolina – PE
2016
Simpósio nacional de práticas psicológicas em instituição
(11.: 2015 novembro 16 a 18: Petrolina, PE).
S612a A ação da psicologia em saúde e educação: reflexões
ético-políticas : 16 a 18 de novembro de 2015 / organizado
por Shirley Macedo, Melina Pereira, Waléria Mendes.---
Petrolina,PE: UNIVASF, 2016.
270p : il. ; 29 cm.

Vários autores

ISBN 978-85-60382-64-4

1. Psicologia – Políticas públicas. 2. Psicologia clínica da


saúde. 3. Plantão médico. 4. Psicologia - Congressos. I.
Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

CDD 150.63

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca da UNIVASF.


Bibliotecária: Maria Betânia de Santana da silva – CRB4-1747
Coordenadora Geral do Evento: Bárbara E. B. Cabral
(UNIVASF)

Comissão de Programação Científica


Shirley Macêdo Vieira de Melo - Coordenação (UNIVASF)
Grace Liz Dantas Barros (UNIVASF)
Gledson Wilber de Souza (UNIVASF)
Lourivan Batista de Sousa (UNIVASF)
Melina de Carvalho Pereira (UNIVASF)
Ravena Moura Rocha Cardoso dos Santos (UNIVASF)
Thalita Silva de Castro (UNIVASF)
Waléria Mendes de Carvalho dos Anjos (UNIVASF)

Comissão de Comunicação e Divulgação


Erika Hofling Epiphanio – Coordenação (UNIVASF)
Clara Souza (UNIVASF)
Emanoela Lima (UNIVASF)
Jair Rocha (UNIVASF)
Layta Sena (UNIVASF)
Roseana Pacheco (UNIVASF)
Marluce Silva de Lima (UNIVASF)
Jaquelline Machado de Oliveira (UNIVASF)
Rozelair Barreto (UNIVASF)
Sonha Maria Coelho de Aquino (UNIVASF)
Fernando Sá Bispo da Silva (UNIVASF)
Marcelo Oliveira (UNIVASF)
Comissão Bem- Estar
Silvia Raquel Santos de Morais – Coordenação (UNIVASF)
Catarine Gonçalves (UNIVASF)
Karla Daniele Maciel Luz (UNIVASF)
Priscila de Lima Souza (UNIVASF)
Ramessa Florêncio Pereira da Silva (UNIVASF)
Kathary Soares Silva (UNIVASF)
Yasmin Albuquerque (UNIVASF)

Comissão de Apoio Logístico


Barbara E. B. Cabral – Coordenação (UNIVASF)
Ana Jamile Braga Maia (UNIVASF)
Anne Crystie da Silva Miranda (UNIVASF)
Catielli Dias (UNIVASF)
Ana Jamile Braga Maia (UNIVASF)
Erika Freire (UNIVASF)
Fagner de Jesus Nascimento (UNIVASF)
Gabriela Wrublebski (UNIVASF)
Lusiane Miranda Palma (UNIVASF)
Monzitti Baumann Almeida Lima (UNIVASF)
Paola Cecato (UNIVASF)
Stephanie Souza (UNIVASF)
Thatiane da Silva Castro (UNIVASF)

Colaboradores Externos
MEMBROS DO GT-ANPEPP: PRÁTICAS PSICOLÓGICAS EM
INSTITUIÇÕES: ATENÇÃO, DESCONSTRUÇÃO E INVENÇÃO.
Carmem Lucia Brito Tavares Barreto – Universidade Católica de
Pernambuco/UNICAP
Darlindo Ferreira de Lima – Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
Heloisa Szymanski – Grupo de Pesquisa do Diretório CNPq - Práticas
Educativas e Atenção Psicoeducacional na Escola, Comunidade e Família
ECOFAM
Jurema Barros Dantas – Universidade Federal do Ceará/UFC
Luciana Szymanski – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo/PUC-SP
Maria Inês Badaró – Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP
Maria Julia Kovács – Universidade de São Paulo/USP
Maria Luisa Sandoval Schmidt - Universidade de São Paulo/USP
Simone Dalla Barba Walckoff (UNICAP)

Outras instituições parceiras:


UPE – Garanhuns
Ana Maria de Santana
Janne Freitas de Carvalho
Suely Emília de Barros Santos
ESUDA
Luísa Manjorani Cardoso
Maria Cláudia Pontual Peres

Palestrantes
Barbara E. B. Cabral (Univasf)
Carmem L. B. T. Barreto (UNICAP)
Erika Hofling Epiphanio (Univasf)
Maria Inês Badaró Moreira (UNIFESP-BS)
Janne Freitas de Carvalho (UPE – Garanhuns)
Jurema Barros Dantas – Universidade Federal do Ceará/UFC
Heloisa Szymanski (Grupo de Pesquisa do Diretório CNPq - Práticas
Educativas e Atenção Psicoeducacional na Escola, Comunidade e Família
ECOFAM)
Luciana Szymanski (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-
SP)
Maria Luísa Sandoval Schmidt (USP)
Maria Júlia Kovács (USP)
Shirley Macedo Vieira Melo (Univasf)
Simone Dalla Barba Walckoff (UNICAP)
Sílvia Raquel Santos de Morais (Univasf)
SUMÁRIO

Apresentação…………………………………………………......15

Conferência de Abertura............................................................. 18

Ciranda Temática

CT1 – Formação profissional e política em diálogo com o

pensamento de franco basaglia e hannah arendt

1.1 Notas reflexivas acerca da formação profissional e do trabalho

em equipes de saúde................................................................49

1.2 Desinstitucionalização como conceito ferramenta para as

práticas em saúde mental.........................................................58

1.3 O pensamento de franco basaglia e a formação de profissionais

de saúde...................................................................................64

CT2 – Plantão psicológico

2.1 Plantão psicológico como acontecimento: ressonância do

cuidado na prática clínica........................................................67

2.2 Experiencia de plantão psicológico em hospitais, unidades de


9

cuidados paliativos e no laboratório de estudos sobre a

morte........................................................................................72

2.3 Sofrimento psíquico e sociedade: um ensaio sobre o plantão

psicológico como uma prática clínica contemporânea.............81

2.4 Plantão psicológico e compromisso ético-político: a

experiência do CEPPSI/UNIVASF..........................................93

CT3 – Práticas Psicológicas e Processos de tornar-se Psicólogo

3.1 Oficinas de desenvolvimento da escuta como prática clínica

em instituição formadora de psicólogos.................................102

3.2 Grupo de estudos: o NUEFE como espaço de formação para

ser psicólogo...........................................................................111

3.3 Panoramas da infância e da adolescência, um estudo

fenomenológico sobre ações psicoeducativas em

instituições..............................................................................121

CT4 – Possibilidades de ação clínica na perspectiva

fenomenológica

4.1 Perspectiva fenomenológica existencial: uma compreensão

hermenêutica filosófica sobre as possibilidades de ação clínica


em instituições......................................................................136

4.2 Psicologia do esporte: uma possibilidade da escuta clínica

fenomenológica.....................................................................143

4.3 A atenção psicológica à ação arendtiana no plantão

psicológico.............................................................................151

Rodas narrativas

RN1 – Clínicas e Práticas Fenomenológicas

1. Uma proposta humanista-fenomenológica em clínica do

trabalho: a hermenêutica colaborativa.................................161

2. Leitura gestáltica do processo de escolarização: uma clínica

da neurose............................................................................163

3. Ação clínica no acontecer do viver cotidiano: compreensão

fenomenológica....................................................................165

4. Experiência de segurados do INSS com grupos interventivos

na Clínica Humanista-Fenomenológica do Trabalho..........167

5. Hermenêutica familiar como recurso colaborativo na

promoção do cuidado junto à criança..................................169


11

6. Um estudo fenomenológico colaborativo com oficinas de

desenvolvimento da escuta...............................................171

7. Experiência como participante em oficina de

desenvolvimento da escuta...............................................173

8. O encontro reflexivo na pesquisa interventiva em psicologia:

encaminhando direções....................................................175

9. Reflexões acerca da supervisão: primeira experiência

enquanto plantonista na rua..............................................177

10. O abrigar da escuta: compreensões acerca da ética e da

política na experiência clínica..........................................179

11. Reflexões sobre o plantão psicológico no processo

formativo do Psicólogo....................................................182

12. O des-velar do caminhar: compreensões acerca da técnica no

Plantão Psicológico..........................................................183

13. Psicologia das emergências e dos desastres: SAMU e

Plantão Psicológico..........................................................185

14. Silêncios e barulhos: significando experiências em Plantão

Psicológico com crianças.................................................187


15. Vida e morte: compreensões sobre suicídio em um Plantão

Psicológico.......................................................................189

16. Práticas Clínicas em Instituições: uma experiência numa

casa de passagem..............................................................191

17. Temporalidade em plantão psicológico na rua: reflexões

sobre uma experiência......................................................193

18. Desvelando sentidos da síndrome do pânico numa

perspectiva fenomenológica existencial...........................195

19. Velar des-vela vida? ........................................................197

20. Angústia e prática psicológica: diálogos a partir da

fenomenologia existencial...................................................199

21. Oncovida: uma intervenção grupal com pacientes

oncológicos e seus familiares...........................................201

22. Grupos terapêuticos com adolescentes: relato de

experiência em uma clínica-escola...................................203

23. O Desabrochar da formação de psicólogo: a clínica escola

como possibilidade de atuação.........................................205

24. Atendimento a famílias em clínicas-escola: interrogando a

prática, propondo intervenções........................................207


13

25. Psicodiagnóstico Interventivo Colaborativo promoção do

cuidado a criança na Clínica Escola.................................209

26. Plantão Psicológico no serviço-escola da UNIVASF: um

estudo descritivo...............................................................211

27. Vozes e ruídos desvelando sentido na experiência de

plantonistas.......................................................................213

RN2 – Práticas Psicológicas em Educação

28. Aconselhamento de carreira na formação de estagiários em

Psicologia da UNIVASF..................................................215

29. Entre trocas de saberes e experiências: assumindo novas

parentalidades...................................................................217

30. Orientação para pais: um relato de experiência...............219

31. Formação de professores da educação inclusiva: atuação do

psicólogo na instituição....................................................221

32. Juventude crítica: relato de experiência de estágio em

Psicologia.........................................................................223

33. Práticas pedagógicas no mundo azul...............................225


34. Jovens assentados: histórias de vida e projetos de

felicidade..........................................................................227

35. Metodologia científica como lume a prática a prática do

psicólogo na intervenção psicossocial.............................229

36. A flexibilização do tempo: a escola para um atendimento

inclusivo...........................................................................231

RN3 – Psicologia e Políticas Públicas de Saúde

37. Os espíritos chegam à clínica: e agora?...........................233

38. O lugar da técnica moderna na transformação dos

ambientes e suas repercussões no existir.........................235

39. Práticas psicológicas na atenção básica de saúde e proteção

social básica da assistência...............................................237

40. Refletindo sobre práticas de cuidado em unidades básicas

de saúde............................................................................239

41. Grupo de família promovendo o cuidado integral – CAPS II

Petrolina.......................................................................... 241

42. Práticas psicológicas num serviço escola do sertão de

Pernambuco: desafios e avanços......................................243


15

43. Modos de enfrentamento de cuidadoras de crianças em

tratamento oncológico......................................................245

44. Autonomia e liberdade: norteando a prática psicológica em

hemodiálise......................................................................247

45. Práticas psicológicas em instituições e pessoas surdas:

(re)fazendo saberes e ações..............................................249

46. Atu(ação) de psicólogos (as) junto a moradores de

rua.....................................................................................251

47. CAPSi: o olhar infantil sobre o cuidar e o

brincar..............................................................................253

48. (Re)avistando a prática psicológica em saúde

pública..............................................................................255

49. Estágio em Psicologia: contribuições a um dispositivo de

Saúde Mental....................................................................256

50. Loucura e Saber Científico-profissional: vozes da

experiência.......................................................................258

51. Atenção Psicossocial e o trabalho com grupos terapêuticos

no CAPS...........................................................................260
52. Mobilização antimanicomial e formação: extensão

universitária propiciando o empoderamento

coletivo............................................................................262

53. Condições de trabalho e saúde mental no NASF de

Petrolina/PE......................................................................264
15

Apresentação

É com grande honra que o Vale do São Francisco recebe, de 16 a 18

de novembro de 2015, o XI Simpósio Nacional de Práticas

Psicológicas em Instituição, cujo tema central será “A ação

psicológica em Saúde e Educação: reflexões ético-políticas”.

A realização dos Simpósios Bienais tem sido uma das ações

sistemáticas do Grupo de Trabalho: Práticas Psicológicas em

Instituições: atenção, desconstrução e invenção, vinculado à

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia –

ANPEPP. A proposta deste GT, criado em 1994, consiste em

promover uma produção de conhecimento que pense a ação

psicológica nos mais diversos cenários, desde uma perspectiva

interdisciplinar, voltando-se à implicação das práticas psicológicas

na constituição de modos de subjetivação e nas dinâmicas de

singularização da existência, em contextos institucionais. Mantem-

se o foco em ações que reflitam a prática inovadora de atenção na

saúde e na educação, sustentados por uma discussão ética

comprometida com a diversidade humana, tendo como fundamento,

principalmente, a fenomenologia existencial e a fenomenologia em


16

diferentes vertentes. Seu âmbito de influência tem sido a formação

de profissionais compromissados com a transformação social, em

direção a uma sociedade mais justa, à ampliação do conhecimento

sobre as práticas psicológicas em diferentes contextos institucionais

e a constituição de redes de cuidado em saúde e educação.

Desse modo, há mais de uma década este grupo de pesquisadores

tem se reunido regularmente para divulgar conhecimento produzido

pelos trabalhos realizados em instituições de todo o país,

comprometidos, então, com uma ampliação das possibilidades do

fazer psicológico.

Neste ano de 2015, marcado por intensos debates políticos,

incertezas quanto aos rumos coletivos da nação e reflexões em

torno da atuação ética no contexto das relações entre humanos, a

11ª edição do Simpósio ocorre na região do semiárido nordestino,

destacando, a partir do seu tema, uma das preocupações

fundamentais do GT: a relação teoria-prática na ação de psicólogos

nos diversos cenários, permeada por práticas de Saúde e Educação.


17

O XI SNPPI está sendo realizado pelo LETRANS (Laboratório de

Estudos Transdisciplinares em saúde e Educação/Univasf), em

articulação com todos os pesquisadores do GT-PPI, tendo o apoio

de vários grupos de pesquisa e Laboratórios, a exemplo

do LEFE (Laboratório de estudos e práticas em Psicologia

fenomenológica Existencial/USP São

Paulo); LACLIFE (Laboratório de Psicologia Clínica

Fenomenológica Existencial- UNICAP); NUEFE (Núcleo de

Estudos em Fenomenologia Existencial, Ação Clínica e Prática

Psicológica/UPE- Garanhuns), o Grupo Práticas Clínicas em

Instituições e Psicologia Comunitária /UFPE (do Curso de Saúde

Coletiva no Centro Acadêmico Vitória-UFPE, que fica na cidade de

Vitória de Santo Antão-PE).

A Comissão Organizadora Local saúda a tod@s que virão se reunir

conosco para compartilhamento de experiências, conhecimentos e

reflexões a partir desse fio condutor!


18

CONFERÊNCIA DE ABERTURA

Profª Drª Maria Luísa Sandoval Schmidt

Começo agradecendo à comissão organizadora deste

simpósio pelo convite para participar de sua abertura e pela

organização primorosa e afetuosa de todo o evento.

Quero também agradecer à Carmem Barreto pelo paciente e

útil trabalho de recuperação da história do GT "Práticas

psicológicas em instituição: atenção, desconstrução, invenção" por

meio da consulta aos registros de nossos encontros nos Simpósios

da ANPEPP e de nossos encontros locais, chamados jocosa e

carinhosamente de anpepinhas, de cuja série este encontro faz parte.

Declaro meu prazer e contentamento em partilhar essa mesa

com Carmem e Heloisa, queridas companheiras e interlocutoras

nesta jornada de um grupo de trabalho que fará em breve 20 anos.

Dou as boas vindas a todas e todos que participarão das

atividades nesses dias de simpósio e manifesto meu profundo


19

agradecimento a toda essa gente brava e valente que encarou as

múltiplas tarefas de tornar o sonho e a vontade de fazer um

encontro no sertão, realidade.

Combinamos entre nós, participantes desta mesa de

abertura, que cada uma traria algumas lembranças e dimensões da

história do GT para que pudéssemos alimentar uma "conversa de

comadres", fazendo jus ao espírito das rodas narrativas e cirandas

de conversa que anima a programação deste encontro.

Pensei, então, em partir de uma percepção que tive em

minha primeira participação num Simpósio da ANPEPP, em 1998,

em Gramado, a convite de Henriette Morato, percepção à qual

frequentemente retorno. Ela é significativa porque assinala, do meu

ponto de vista, potências, contradições e impasses da proposta de

um simpósio nacional reunindo todos (ou quase todos) os

programas de pós-graduação brasileiros. Essas potencialidades,

contradições e impasses parecem abrir uma dimensão política que

gostaria de por em tema.

Vinha reclamando muito dos congressos e encontros

acadêmico-científicos que haviam se tornado, já àquela época,


20

grandes feiras de exposição de trabalhos e pesquisadores, num

ritmo alucinante de apresentações, muitas vezes desconectadas

entre si, sem tempo e condições propícias para o pensamento e o

debate. Imagino que vocês sabem do que estou falando: participar

de congressos passou a ser uma espécie de corrida contra o relógio

em comunicações apressadas que, ao final, reservavam um minuto

para uma pergunta e mais dois para uma resposta.

O formato da ANPEPP, com os GTs se reunindo pelo menos

quatro períodos para apresentação e discussão de trabalhos de um

número reduzido de pesquisadores parecia um outro mundo. Ao

mesmo tempo, não havia quase oportunidades de reunião coletiva

de todos e todas participantes: os únicos momentos programados

para a participação de todos e todas eram exposições intermináveis

de nossos representantes na CAPES em que passavam para o

auditório as instruções e novas demandas da agência. Na verdade,

tratava-se de um encontro no qual nossos pretensos representantes

corportavam-se como representates dos interesses da CAPES e nos

ensinavam como "fazer a lição direitinho". Nenhuma discussão ou

debate sobre os graves, interessantes e diversos problemas e


21

questões da pós-graduação nacional. Os espaços mais amplamente

coletivos eram totalmente ocupados pelos porta-vozes da CAPES

que aproveitavam a presença de todos os programas para "passar os

seus recados". Era o reinado dos tecnocratas da CAPES e seus

power points poderosos que ocupavam todo o tempo disponível e

não davam nenhuma chance de manifestação da atenta e

preocupada plateia de pesquisadores que eram chamados a

responder com prontidão e eficiência às imposições do

produtivismo.

Fiquei com uma forte sensação desta divisão: uma ocasião

muito interessante para o intercâmbio e debate de ideias, práticas,

pesquisas, intervenções e uma ocasião singular, única para

organizar e encaminhar propostas e reivindicações quanto à política

acadêmico-científica que era desperdiçada por nós e,

propositalmente, controlada pela fala dos tecnocratas.

Apenas em 2006, no simpósio de Florianópolis, pela minha

lembrança, um grupo de pesquisadores usamos a hora do almoço

para fazer um debate político sobre a forma do Simpósio da

ANPEPP e sobre a necessidade de democratização da participação


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nos espaços mais amplamente coletivos. Essa movimentação deu

origem aos Foruns (ética em pesquisa, política científica de pós-

graduação, articulação graduação e pós-graduação - ensino). Esses

foruns foram, durante um tempo, espaços ricos de apresentação e

debate de temas pertinentes à pós-graduação e funcionaram de

maneira mais democrática, com tempo e condições de participação

de interessados e interessadas nos assuntos tratados. Mais que isso,

passaram a ser instâncias legítimas e legitimadas para a construção

e encaminhamento de propostas em nome de pesquisadores e

programas.

Mais recentemente, os simpósios da ANPEPP têm tido um

número vertiginosamente maior de GTs e de participantes e, ao

mesmo tempo, os Foruns, e falo especialmente daquele de ética que

tenho acompanhado desde seu nascimento, têm se apresentado

menos democráticos, assolados, de novo, por membros de

comissões da própria ANPEPP que se instalam com seus power

points, ocupando algumas vezes mais de 90% do tempo para a

reunião com suas apresentações. Pontos polêmicos não podem ser


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debatidos e os encaminhamentos nem sempre são decididos de

maneira democrática.

Portanto, parece-me que a possibilidade de uma participação

democrática e politicamente informada é uma questão em aberto;

mas possivelmente para poucos e poucas colegas: uma grande

maioria tem a expectativa de receber as instruções de como fazer

daqueles que representam a CAPES e outras instâncias de

avaliação. A relação entre produção e avaliação parece ser um

elemento que, já bastante presente no final dos anos 90, torna-se

cada vez mais determinante nos e para os simpósios nacionais.

No âmbito de nosso GT, tenho recordações de certa

inquietação: em Águas de Lindóia, talvez em 2002, reclamamos

formalmente da ausência de espaço coletivo de debate dos temas

pertinentes ao conjunto dos programas e do uso que representantes

da CAPES faziam dos poucos momentos coletivos. A assembleia

ou plenária geral era sempre feita quando o simpósio já estava

esvaziado e havia pouca influência do coletivo mais amplo nas

decisões e encaminhamentos feitos em nome da Associação

Nacional.
24

A história da política dos simpósios é acompanhada de uma

história da política de nosso GT.

Nomeio alguns princípios que atravessam essa história e que

atribuem uma face ao GT: o apego e respeito à pluralidade,

buscando sustentar afinidades e divergências teóricas,

metodológicas e interventivas; o interesse por composições e

interlocuções interdisciplinares, no interior da psicologia e na

relação com outras áreas, especialmente a filosofia; a identificação

(identitária) com as perspectivas fenomenológicas e existenciais; a

escolha por um posicionamento crítico em relação à tendência

hegemônica da ciência positivista em nosso mundo e meio,

praticando pesquisas sobretudo qualitativas de recorte interventivo

e participante; o apreço pelas práticas cotidianas como origem de

questionamentos e tensionamentos com a teoria consagrada e como

lugar de invenção e descoberta.

Esse conjunto de princípios, professados e buscados, nem

sempre alcançados, não tenho dúvidas, está na base de um intento

constante de construir e garantir espaços coletivos de participação

democrática: nos simpósios nacionais, em nossos encontros locais,


25

em nossas práticas de pesquisa, ensino e extensão nas instituições

universitárias e nos territórios em que agimos.

Praticar a democracia é mais importante do que meramente

professá-la. Espero que possamos aproveitar essa maravilhosa

oportunidade de fazê-lo nesses dias tão generosamente

programados por aqueles e aquelas que aqui nos recebem.


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Profª Drª Carmem Lúcia Brito Tavares Barreto

Prof. Heloisa Szymanski

Primeiro gostaria de dizer da minha alegria de participar

deste primeiro momento do nosso encontro, recebendo todos vcs,

junto com a comissão organizadora, no meu nordeste querido, no

sertão pernambucano.

E chegado o momento de comemorar a nova configuração do nosso

grupo, depois de tantas mudanças: alguns membros se afastaram e

outros passaram a compor o GT, permitindo abrir e/ou consolidar as

perspectivas traçadas como orientadoras de nossa produção e

pesquisa . Acreditamos que este momento é decisivo para confirmar

o direcionamento do grupo, apesar de saber que tal caminhar deve

ser sempre revisto possibilitando mudanças ou ampliações de

interesses e temáticas, procurando manter a aderência com o

objetivo que desde o inicio foi se delineando na formação do GT

“PRATICAS PSICOLÓGICAS EM INSTITUIÇÕES:

ATENÇÃO, DESCONSTRUÇÃO E INVENÇÃO”


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Com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e

pesquisas, respeitadas as metas acima citadas, o GT vem

promovendo, regularmente, há dez anos, Simpósios Nacionais de

Práticas Psicológicas em Instituições, realizados nas instituições de

origem dos membros do grupo. Nesses Simpósios, o GT segue um

formato participativo, incluindo também alunos de pós-graduação e

de iniciação científica, que possibilita, além da produção científica,

uma preparação do GT para os Simpósios bienais da ANPEPP. Esse

formato resultou, em 2007, 2008 e 2009, 2010 nos VII, VIII, IX e X

Simpósios Nacionais do GT, na publicação de anais (eletrônicos)

com trabalhos completos e no encaminhamento de produções

conjuntas para um livro. Após um intervalo, estamos reunidos em

2015, aqui em Petrolina para participar do XI Simpósio Nacional de

Praticas Psicológicas em Instituições.

Para participar desta mesa, tive a curiosidade de fazer um

levantamento de nossa historia, para assim ir tentando configurar as

linhas de pesquisas e orientações teórico-metodológicas que foram

se delineando, como também ir acompanhando nossa jornada que


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hoje se configura com uma nova organização, alem de contar com

novos membros desde a reunião de Bento Gonçalves.

Nossa historia começou em 1994, em Caxambu, no V

SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIENTÍFICO EM

PSICOLOGIA da ANPEPP, com a criação do GT

“Problematização das relações entre teoria e prática em

Psicologia Clínica”, sob a coordenação de Marília Ancona-Lopez.

Naquele momento as discussões versaram sobre a compreensão de

subjetividade entreposta como condição de conhecimento e de

compreensão dos fenômenos humanos, bem como as relações

tensionais entre teoria e prática, na perspectiva de investigação em

Psicologia Aplicada, questionando o estatuto de cientificidade sob o

ponto de vista tradicional. A discussão já estava dirigida para a

possibilidade do estabelecimento de novo paradigma e

conhecimento de ciência que leve em conta a especificidade própria

do fenômeno estudado.

Em 1996, em Florianópolis, no VI SIMPÓSIO DE PESQUISA E

INTERCÂMBIO CIENTÍFICO EM PSICOLOGIA da ANPEPP, o

GT se divide em dois: um para tratar do tema da Religião, ainda sob


29

a coordenação de Marília Ancona-Lopez e, outro, permanecendo no

tema das relações entre teoria e prática, sob a coordenação da Profa.

Henriette Tognetti Penha Morato. A leitura e discussões dos

trabalhos no GT permitiram a seus participantes aproximarem-se da

presença necessária de um movimento desconstrutivo subjacente às

temáticas em discussão, respeitando-se a especifidade dos vários

recortes e a singularidade de cada trabalho. Dado o

encaminhamento do questionamento, o grupo de trabalho

considerou apresentar uma mudança na sua denominação. As

pesquisas realizadas durante os GTs revelaram, através da

problematização das relações entre teoria e prática em Psicologia

Clínica, uma nova direção na condução do tema. É no contexto das

práticas psicológicas em instituições de saúde e educação que tem

se descortinado a pluralidade teórica, demandando do psicólogo em

formação um ancoramento na experiência como modo de inventar

outras possibilidades de intervenção para além das “tradicionais”.

Dentro dessa nova perspectiva, o GT optou por adotar desde então o

nome “Práticas psicológicas em instituições: atenção,

desconstrução e invenção”. Propôs-se, assim, a encaminhar seus


30

trabalhos nessa esfera de investigação e questionamentos para sua

discussão no VII Simpósio.

A partir de 1998, no VII SIMPOSIO, realizado em

Gramado, o GT concentrou sua produção de conhecimento no

campo das pesquisas participantes e interventivas, uma vez que

essa modalidade de pesquisa estava atravessada pela ênfase do

grupo na relação indissociável entre teoria e prática. Focalizou as

práticas psicológicas em instituições públicas e privadas no campo

da educação e saúde, sobretudo, mas não exclusivamente, tendo

como fundamento teórico-metodológico a fenomenologia

existencial e a fenomenologia em suas diferentes vertentes. O

conceito de instituição foi posto em discussão, tomando como um

dos eixos centrais dessa discussão o problema do singular nos

contextos de intensa institucionalização. Nessa direção, expandiu-

se a noção de instituição para compreendê-la em suas formações

historicamente sedimentadas em modos cotidianos impessoais de

existência.

Em 2000, no VIII SIMPOSIO realizado em SERRA NEGRA ,

os membros do GT propõem a manutenção do mesmo nome do


31

grupo, ou seja, “Práticas psicológicas em instituições: atenção,

desconstrução e invenção”, uma vez que vem sendo elaborada

produção conjunta dos participantes, privilegiando a explicitação da

atenção às demandas sociais. Tal posicionamento se apresenta

depois do encaminhamento de práticas psicológicas que se

propunham a desconstruir a hegemonia do pensamento da

modernidade, considerando as demandas do momento

contemporâneo. As investigações dirigem-se, agora, para

problematizar as relações tensionais entre tais práticas e as

instituições nas quais se efetivam. Nesse sentido, buscou-se refletir

em que medida e quais as brechas que poderiam ser entrevistas pela

promoção de tais práticas, visando que, efetivamente, possibilitem

transformações tanto para o campo de atuação do psicólogo (e

outros profissionais de saúde e educação), quanto para sua

formação e oferecimento de melhoria de serviços com qualidade à

comunidade. Para isso, partiu-se das condições do mundo e

sociedade atuais, para buscar no modo de ser e viver do homem

contemporâneo em confronto com a tecnocracia científica, quais as

possibilidades e que desafios se impõem aos investigadores

inquietos com a fragmentação e o desamparo social, ético e político


32

da humanidade às portas do terceiro milênio. Ao reconhecer tais

condições, nova atitude é demandada dos pesquisadores imersos no

tecido social que envolve suas práticas interventivas, o que pode

promover situações de aprendizagem aos futuros profissionais e

pesquisadores, bem como revelar, no outro polo, adesões

dogmáticas da própria comunidade assistida quanto às suas

expectativas para a vida. Ou seja, seu imaginário, ou melhor, as

brechas do humano entre atenção e hábito.

Uma das questões bastante discutidas durante a reunião,

trazidas por Henriette Morato, referia-se à compreensão das

diferenças entre pedidos, queixas e demandas de instituições e suas

diferenças e semelhanças com pedidos, queixas e demandas dos

usuários dos plantões nas instituições em que se desenvolviam

plantões psicológicos. Esta modalidade de prática era a mais

discutida no GT, além do questionamento da psicologia clínica

associada exclusivamente à prática consultorial. Falava-se muito de

ampliação do sentido de clínica psicológica. Do ponto de vista da

prática psicológica no campo da educação pensou-se na ampliação


33

do sentido de práticas psicoeducativas para além da educação

formal escolar.

O IX SIMPOSIO, foi realizado em 2002 em Águas de Lindóia.

Aproveitando o momento de aprofundamento de reflexão teórica e

da oxigenação promovida por novos participantes, foi possível

elaborar mais objetivamente a proposta de preocupações do GT, a

partir da qual haviam sido encaminhadas as investigações e

discussões nos I e II Simpósios Nacionais Anuais do GT em 2000,

em São Paulo e em 2001, em Recife. Como resultado do GT no

VIII Simposio de 2000, pode ser apresentada a estruturação a

seguir, encaminhada como proposta de trabalho para 2002.

Temática Geral: Praticas Psicológicas que, surgidas a aprtir de

instituições universitárias e com caráter investigativo, critico e

formador, perspectivam queixas e demandas da clientela no

contexto da vida atual e de instituições nas quais o trabalho se

realiza. Privilegiou discussões sobre a contextualização das praticas

psicológicas em instituições; problematização da alteridade como

diferença e como exclusão e elaboração de projeto temático.


34

O X SIMPOSIO aconteceu em 2004, em Aracruz teve como

temática geral:

- Projeto de avaliação das praticas psicológicas

desenvolvidas pelos integrantes do GT, surgidas a partir de

instituições universitárias e com caráter investigativo, critico e

formador, perspectivam queixas e demandas da clientela no

contexto da vida atual e de instituições nas quais o trabalho se

realiza. Privilegiou discussões sobre a contextualização das praticas

psicológicas; reinteração do compromisso ético-politico dessas

praticas no contexto de desafio; discutir o caráter dialógico-

constitutivo dessas práticas na relação com a população atendida;

questionamento acerca de possíveis formas de reificação dessas

práticas e do sofrimento humano, via crenças, representações

sociais, imaginário humano; analise critica da política de educação

e saúde; forma de investigação participativa interventiva e

questionamento metodológico; ressignificação da atenção

psicológica como eixo norteador atitudinal das praticas

psicológicas em instituições; exploração da eficácia dessas práticas.


35

As dimensões éticas e políticas sempre se constituíram em foco das

discussões do grupo.

O XI SIMPOSIO, realizado em 2006, em FLORIANÓPOLIS,

teve como foco de trabalho uma rodada de atualização das

atividades de pesquisa e produção do conhecimento de cada

membro, com o objetivo de delimitar o contorno do grupo e definir

as direções encaminhadas. Foram discutidas as seguintes pesquisas

pelos membros efetivos que participaram do evento:

Roberto Novaes apresentou como foco de sua pesquisa a atitude

específica da clínica em relação à atitude fenomenológica, tendo

por base o dialogo com Heidegger, Husserl, Boss e Biswanger.

Maristela de Araújo discutiu os projetos de pesquisa que vinha

desenvolvendo voltados à formação de profissionais da Saúde nas

áreas de Psicologia do trabalho, da família, saúde mental e

dependência química, sempre implicados com a gestão de práticas

de políticas públicas.
36

Elza Dutra apresentou seu Projeto de Pesquisa voltado para discutir

à ideação e tentativa de suicídio entre estudantes de medicina de

duas capitais nordestinas.

Nilson Gomes definiu como marco norteador de sua pesquisa a

“Análise da prática terapêutica (Teoria dialógica) em rede social”.

Maria Luisa Schmidt demonstrou seu interesse pela discussão

teórico-metodológica da pesquisa participante de base etnográfica.

OProjeto de Pesquisa em desenvolvimento dizia respeito ao

itinerário entre cuidado e desamparo, buscando quais os acessos dos

usuários aos Serviços de Saúde na cidade de São Paulo. Apresentou

seu interesse por pesquisa interventiva com agentes comunitários de

saúde da Vila Dalva em São Paulo.

Vera Cury tem como interesse investigar a “Apreensão de

processos essenciais presentes nas práticas como ajuda

psicológica”.

Heloisa Szymanski desenvolveu os seguintes Projetos de Pesquisa:

1) Práticas educativas na família e na creche: constituição de


37

identidade e 2) Diálogo e participação: da prática dialógica na

família à participativa na escola e comunidade.

Henriette Morato Desenvolveu Projetos que integram Pesquisa,

Ensino e Extensão, através dos quais desenvolve atividades na

FEBEM, Polícia Militar, Distrito Policial, Setor de Assistência

Jurídica e supervisão clínico-pedagógica no IPUSP. O projeto de

pesquisa em andamento no periodo versava sobre a atenção

psicológica e a prática em aconselhamento psicológico como

especificidade do psicólogo na sua atuação em Instituições, atuando

como multiplicador social.

Angela Andrade teve como projeto de seu pós-doutorado a

“Avaliação genealógica de práticas psicológicas em instituições”,

no qual acompanhou os trabalhos de pesquisa interventiva

desenvolvidos por três membros do GT: Henriette Morato, Heloisa

Szymanski e Christina Cupertino. Desenvolve também o Projeto de

Pesquisa “Olhar genealógico sobre práticas da educação

permanente nas UBSs”.


38

Fazendo uma breve analise das temáticas pesquisadas consegue-se

delinear alguns direcionamentos: atitude clinica numa perspectiva

fenomenológica; formação de profissionais de saúde; serviços

ofertados aos usuários da rede pública de saúde; integração entre

ensino, pesquisa e extensão. Tais temáticas vão se consolidando e

passarão a compor o perfil do GT.

Alem dessa atividade, discutiu-se o modo de funcionamento do

GT, tendo sido aprovadas as seguintes propostas:

1 - esforço sistemático para debates teóricos e metodológicos no

clareamento de conceitos relevantes à temática do grupo, advindos

do exercício de pesquisadores;

2 - definições claras da concretização desse esforço através do

estabelecimento de metas para cada evento acordado, ou seja,

tarefas a serem realizadas compartilhadamente entre alguns

membros e apresentadas/discutidas no encontro;

3 - sustentação das afinidades e divergências para com ideias

fecundas que surgirem, assim como de suporte para a produção de

análise das pesquisas interventivas realizadas;


39

4 - manutenção de convites para participação em bancas de defesa

entre os membros do gt, mesmo que para suplência, garantindo as

leituras como conhecimento das produções dos colegas.

Já no XII SIMPOSIO, realizado em Natal em 2008, após dez

anos de interlocução e reflexões, o grupo empenhou-se em criar

corpos conceituais que refletissem esse outro modo de pensar/fazer

a psicologia, não capturado em modelos, mas tendo como

referência a experiência e afirmação das singularidades. Sustentado

na Ética, este empenho envolve pesquisadores, alunos e população,

uma vez que implica no resgate do “senso comum”, fundamental na

transformação das atuais relações sociais autoritárias e normativas,

calcadas na ignorância/ilusão, em relações horizontais nas quais,

através do exercício do pensamento, se construa conhecimentos

comuns àquele grupo. Nesse encontro também foi feita uma análise

de produção do GT considerando as práticas, as metodologias e os

contextos das pesquisas realizadas por seus participantes. Tal

análise possibilitou a apropriação de uma pluralidade rica de

perspectivas metodológicas (participante de cunho etnográfico,

cartográfica, interventiva, genealógica), assim como de contextos


40

institucionais para além da saúde e da educação, strito senso, como

conselhos tutelares, delegacias de polícia, lares abrigados, entre

outras. Na esfera das práticas psicológicas, destacaram-se o plantão

psicológico, o plantão psicológico educativo, supervisões de apoio

psicológico, grupos de encontro focados em processos de trabalho,

atendimento psicoterapêutico, matriciamento, entrevistas e

encontros reflexivos, entre outras, no âmbito da clínica psicológica,

da clínica ampliada, da educação e das políticas públicas sociais.

Carmem Lúcia Barreto contribuiu com a ideia de ação clínica,

numa ampliação/transformação da ideia de prática psicológica, que

se apresenta como um modo de compreender a atuação de

profissionais de psicologia nas suas várias áreas de atuação em

instituições de saúde, educação e serviço social. A noção de ação

clínica possibilita também um aprofundamento do modo

fenomenológico de desempenhar a prática psicológica.

Quase que compondo a comemoração dos 10 anos, foram

elaborados os seguintes objetivos para o GT:

Objetivos definidos:
41

O compromisso do grupo em produzir conhecimentos

comprometidos com a transformação psicossocial aparece como

objetivo principal, comum a todos os pesquisadores. Nesse sentido,

pretendia-se:

- Refletir sobre as pesquisas desenvolvidas no grupo, procurando

avaliar em que medida os conhecimentos produzidos têm

propiciado transformações tanto na formação do profissional,

como nas relações sociais das populações envolvidas, assim como

os desafios, limitações e conquistas em sua efetivação.

- Avaliar o alcance destas pesquisas no estabelecimento de redes e

intercâmbios com os diversos setores da sociedade (órgãos gestores,

instituições formais e informais de educação e saúde, representantes

comunitários, profissionais e agentes de saúde e educação, entre

tantos outros) comprometidos e empenhados com tais

transformações.

O XIII SIMPOSIO aconteceu em 2010 – FORTALEZA. No

encontro foi feito uma avaliação de configuração do GT,

acentuanado-se a característica de produzir conhecimento embasado


42

na fenomenologia existencial, sustentada no tensionamento teórico-

prático, uma vez que todos compartilham a importância de

pesquisas interventivas, inseridas em contextos públicos e privados,

voltadas para a transformação das relações sociais ou dos modos

existenciais restritivos do poder-ser humano. Tal processo exige um

compartilhamento constante que sustente a angústia advinda da

afirmação do singular nos contextos institucionais. Nessa medida,

amplia-se a noção usual de instituição na direção de compreendê-la

como todas as orientações gerais historicamente sedimentadas que

estruturam os modos cotidianos impessoais de existência. A

dinâmica de construção dessa proposta realiza-se por meio de

encontros, parcerias e intercâmbios regularmente promovidos pelo

grupo, resultando no desenvolvimento de práticas inovadoras em

saúde e educação. Nessa direção, os objetivos propostos no

Simpósio anterior foram revistos e formalizados:

Objetivos e propostas de trabalho definidas:

Como objetivo principal, comum a todos os pesquisadores,

mantém-se o compromisso do grupo em produzir conhecimentos

comprometidos com o tensionamento entre os modos


43

historicamente instituídos de subjetivação e as dinâmicas de

singularização da existência. Nesse sentido, pretende-se:

1 - refletir sobre as pesquisas desenvolvidas no grupo,

considerando em que medida os conhecimentos produzidos: a)

têm colaborado na formação de profissionais compromissados com

a transformação social em direção a uma sociedade mais justa e

tolerante com as diferenças; b) como as instituições se apropriam

das propostas que apresentamos; c) como as populações envolvidas

respondem às nossas práticas; d) quais desafios, limitações e

conquistas temos encontrado em nossas trajetórias;

2 – compreender as implicações dessas pesquisas no

estabelecimento de redes e intercâmbios com os diversos setores da

sociedade (órgãos gestores, instituições formais e informais de

educação e saúde, representantes comunitários, profissionais e

agentes de saúde e educação, entre outros).

XIV SIMPOSIO – BELO HORIZONTE, 2012

Do ponto de vista teórico, foi possível notar uma certa hegemonia

do pensamento de Martin Heidegger subsidiando a crítica de um


44

certo humanismo romântico, colocando em questão noções se

sujeito e subjetividade igualmente românticas, no entanto, sem

exclusão de outras leituras fenomenológicas e existencialistas, bem

como de autores capazes de tensionar estas vertentes, como o caso

de Friedrich Nietzche.

A percepção desta pluralidade e destes tensionamentos levou à uma

revisão que culminou com a proposição, na última reunião do GT

no Simpósio de Belo Horizonte em 2012, de uma assunção positiva

e construtiva desta pluralidade, buscando a constituição de um

espaço mais amplamente interdisciplinar, no interior do espectro

das fenomenologias. qualificar o GT, parece importante identificá-

lo com os matizes fenomenológicos, com abertura para o diálogo

com outras teorias: reafirmando seu caráter de lugar de interlocução

para as pesquisas que realizamos e para o debate

teóricometodológico no campo das práticas psicológicas em

instituições de saúde e educação.

XV SIMPOSIO – BENTO GONÇALVES, 2014


45

A proposta, aqui apresentada para o Simpósio de 2014,

consubstancializa mudanças decididas na direção de reforçar o GT

como lugar de interlocução e criação de rede de saberes.

Para qualificar o GT, parece importante identificá-lo com os

matizes fenomenológicos, aberto a interlocuções com outras teorias:

reafirmando-se como grupo de interlocução para as pesquisas que

realizamos e para o debate teórico-metodológico.

As mudanças tratam, por um lado, portanto, de retomar e afirmar

vocações que estão na origem de sua fundação: partir do estudo das

práticas para fazê-las tensionar a teoria e tomar as diferenças como

oportunidade de enriquecimento e diálogo profícuo. Por outro,

ensejam uma renovação da própria constituição do GT e de sua

organização.

No plano de sua constituição, houve a saída de quatro integrantes e

o convite para a entrada de sete novos pesquisadores. Estes novos

pesquisadores representam aberturas de diferentes teores: a leitura

de autores de interesse para o GT, nomeadamente, Jean-Paul Sartre,

Hannah Arendt, Michel Henry, Enrique Pichón-Riviére, Franco


46

Basaglia; o aprofundamento do diálogo entre psicologia e filosofia;

o acesso a realidades sócio-culturais fora do eixo das capitais

brasileiras; a continuidade em novos contextos do estudo das

articulações entre práticas psicológicas e políticas públicas de saúde

e educação.

No plano da organização, pretendemos instalar a prática de enviar

as comunicações sobre andamento de nossas pesquisas com

antecedência para todos os participantes, para que possamos

reservar o momento de encontro no Simpósio para s discussão das

mesmas. O GT deve manter os encontros que realiza anualmente,

reunindo seus pesquisadores, seus alunos e outros interessados,

assim como as parcerias e intercâmbios regulares para ministração

de cursos, condução de seminários de pesquisa, participação em

bancas examinadoras, planejamento de publicações e realização de

pesquisas coletivas.

Concluindo, o grupo tem como foco as práticas psicológicas em

instituições, configurando olhares e visões críticas ao paradigma

positivista, a partir de perspectivas fenomenológicas com abertura

para interlocuções com outras abordagens teóricas. Busca um


47

refinamento das interlocuções e diálogos possíveis no campo da

chamada interdisciplinaridade, reconhecendo, contudo, a

impossibilidade eventual de tais arranjos pela presença

irreconciliável de diferenças epistemológicas, políticas, ideológicas

e éticas.

2. Objetivos e propostas de trabalho

Como objetivo principal, comum a todos os pesquisadores,

mantém-se o compromisso do grupo em produzir conhecimentos,

desde uma perspectiva interdisciplinar, voltados para a implicação

das práticas psicológicas na constituição de modos de subjetivação

e nas dinâmicas de singularização da existência, em contexto

institucionais. Nesse sentido, pretende-se planejar, realizar e

discutir as pesquisas dos participantes do GT:

1 - considerando sua influência na formação de profissionais

compromissados com a transformação social em direção a uma

sociedade mais justa e tolerante com as diferenças; os modos de sua

apropriação pelas instituições envolvidas; as respostas das


48

populações às práticas estudadas; os desafios, as limitações e as

potências gerados em suas trajetórias;

2 – compreendendo suas implicações no estabelecimento de redes e

intercâmbios com os diversos setores da sociedade (órgãos gestores,

instituições formais e informais de educação e saúde, representantes

comunitários, profissionais e agentes de saúde e educação, entre

outros).
49

CIRANDA TEMÁTICA I

FORMAÇÃO PROFISSIONAL E POLÍTICA EM


DIÁLOGO COM O PENSAMENTO DE FRANCO
BASAGLIA E HANNAH ARENDT

1.1 NOTAS REFLEXIVAS ACERCA DA


FORMAÇÃO PROFISSIONAL E DO TRABALHO
EM EQUIPES DE SAÚDE

Profª Drª Barbara Eleonora Bezerra Cabral

Professora adjunta do Colegiado de Psicologia e do Colegiado das


Resdiências Multiprofissionais em Saúde da Universidade Federal
do Vale do são Francisco/Univasf.

Laboratório de Práticas Transdisciplinares em Saúde e Educação –


LETRANS
E-mail: barbaraebcabral@gmail.com
Integrando a Ciranda Temática intitulada "Formação

profissional e política em diálogo com o pensamento de Franco

Basaglia e Hannah Arendt", a proposta de comunicação tem o

objetivo principal de estimular o debate acerca da formação de

profissionais de saúde – dentre os quais, os psicólogos – tendo em

vista o desafio do trabalho em equipe. Pretende-se ressaltar,

sobretudo, o caráter simultaneamente técnico e político da atuação


50

em saúde, o que parece tornar imperativa a reflexão permanente

sobre arranjos possíveis e pertinentes ao processo formativo.

Como solo para as provocações apresentadas, situa-se o

processo interpretativo vivido, como experiência (Larrosa, 2002), a

partir da pesquisa interventiva realizada no doutorado, orientada

pela seguinte questão-bússola: como se caracterizam as

possibilidades de ação transdisciplinar, tomando como cenário as

práticas de equipes multiprofissionais – com inserção de psicólogos

– dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) dos municípios

de Juazeiro-BA e Petrolina-PE? (Cabral, 2011).

O trabalho em equipe é considerado uma diretriz

fundamental para os trabalhadores que ingressam nas redes de

atenção do Sistema Único de Saúde (SUS), estando em negociação

apenas os meios e modos de sua tessitura, como indica Ceccim

(2008). Isso, por si, constitui expressivo desafio. Embora tal

diretriz pareça legitimada, não estando, portanto, em questão,

reconhece-se que os processos formativos em nível de graduação

ainda se centram em fragmentações e segmentações de diversas

ordens, que se revelam no tipo de conteúdo discutido, nos próprios


51

modos de discussão da teoria, na insuficiente articulação teórico-

prática, em práticas pedagógicas verticalizadas, dentre outros. Tais

aspectos dificultam a possibilidade de intervenções atravessadas

pela integralidade e pela articulação dos representantes dos diversos

núcleos profissionais, quando se deparam com as

demandas/necessidades das pessoas nos territórios “vivos”. Em

função disso, o país tem experimentado iniciativas de reorientação

da formação profissional, induzidas por programas como o Pró-

Saúde, PET-Saúde e VER-SUS, que se centram na proposta de

aproximação ensino-serviço, valorizando a realidade das redes

públicas de atenção à saúde.

A pesquisa proposta teve como um dos seus principais

resultados a necessidade de ampliação da própria questão-bússola,

que não pôde ser sustentada em sua intenção de compreender a

prática de psicólogos em equipe. Como um dos efeitos produzidos a

partir da cartografia das práticas das equipes NASF, tornou-se

determinante discutir o trabalho em equipe, para além das

especificidades nucleares, ainda que tenha se mantido a

compreensão que cada núcleo profissional resguarda singularidades


52

e particularidades. Borrar tais fronteiras disciplinares foi se

caracterizando como uma atitude demandada no cotidiano de

cuidado.

Outro “achado” que remete ao que de fundamental a

pesquisa revelou – ou, quiçá, tenha simplesmente reafirmado – foi a

compreensão da potência do trabalho em equipe como produção

coletiva, pela via da ação transdisciplinar, tecida como algo

possível, acessível, transformada em ato pelos profissionais no

encontro entre si e com os próprios usuários que recorrem aos

dispositivos de cuidado. Cabe, então, caracterizar tal ação

transdisciplinar mais propriamente. O trabalho em equipe precisa

extrapolar a simples soma de diversos olhares e perspectivas, pela

valorização do encontro entre profissionais de diferentes áreas, com

compartilhamento do(s) projeto(s) de atenção em saúde e

elaboração de modos de cuidado/intervenção que decorrem da

invenção e construção conjunta.

Desse modo, a principal direção emergente – como sentido –

foi a de que os encontros constituem fontes primordiais de produção

e criação de novos modos, estratégias, métodos: aí residiria o


53

fundamental da aposta trans. O “pulo do gato” no trabalho em

equipe é puro movimento e processo, em busca constante de

consistência e afinação, aspectos que se constroem coletivamente e

são passíveis de contínuas recomposições.

A aposta trans não cabe nas prescrições, passando pela

criação na hora, em ato e incorpora contornos próprios em cada

contexto, a partir dos encontros e misturas que ali ocorrem. É

transpassada pela criação-poiesis, estando para além das

especialidades – embora não as negue –, caracterizando-se como

inventiva e jamais prescritiva. Não cabe nas normatizações e

implica, portanto, ousadia, transformação e, fundamentalmente, a

sustentação de tensão, pelo exercício de borrar as fronteiras que sua

ação põe em ato. Apenas pode se apoiar no hiato do que está

prescrito, em meio ao inusitado das situações com que os

profissionais se deparam na atenção à saúde. Momentos trans são,

assim, possíveis e não devem ser engessados ou padronizados,

porque se alimentam do inusitado.

Essas circunscrições de um trabalho em equipe como

produção coletiva, que parece se alinhar às demandas e


54

necessidades que são apresentadas aos profissionais nos contextos

das redes públicas, não somente de saúde (e aqui se destaca a

intersetorialidade como outra diretriz importante para uma atuação

pertinente), apresentam questões diversas à formação desses

profissionais. Então, retoma-se o fio condutor da comunicação-

provocação: que modos seriam próprios e pertinentes para o

engendramento de processos formativos que possibilitem aos

futuros profissionais uma margem alargada de trânsito e produção

de cuidado nas redes?

Compreende-se que os ensaios de respostas a questões como

essa deverão ser múltiplos e distanciados de perspectivas

normativas, protocolos, regras ou modos rígidos de intervenção,

enfim, “modelos”, em geral, idealizados. A própria palavra

intervenção comporta em seu seio a invenção, entre humanos.

Entretanto, assumir tal atitude enquanto formador ou profissional

destoa dos “imperativos” contemporâneos, com raízes em séculos

anteriores, matizados por perspectivas disciplinares, de controle, de

dominação, de normatização, que assumem “novas” roupagens

como a supervalorização da prática/conhecimento baseado em


55

evidências, a ênfase da noção de periculosidade dos riscos (sem

consideração de componentes subjetivos), a prescrição de modos

saudáveis de viver.

Nesse cenário, assume-se uma rota crítico-compreensiva em

torno das exigências aos processos formativos de profissionais de

saúde, a partir da interlocução com fragmentos do pensamento de

Franco Basaglia e Hannah Arendt. Em relação ao primeiro,

recorrer-se-á a reflexões que surgiram ao longo da experiência de

reforma psiquiátrica empreendida em Trieste, na década de

70/século XX, em que a perspectiva de controle, basal ao saber

psiquiátrico tradicional, é posta em xeque como condição para

avançar na construção de outros modos de relação da sociedade

com os que atravessam a experiência de loucura (Basaglia, 2005).

Importa salientar que, como indicado por Amarante (2003),

Basaglia sofreu críticas acerca de um possível descuido da

“clínica”, assumindo um viés fortemente político em sua atuação...

De que clínica se fala? A que dimensão política se faz referência? A

defesa feita a partir disso é a inseparabilidade clínico-política,


56

proposta por Benevides (2005) ao refletir sobre a prática de

psicólogos no SUS.

De Hannah Arendt, serão resgatadas: a perspectiva de ação,

como constitutiva dos humanos, destacando-se seu sentido

originário de “iniciar”, e reflexões acerca do governar e executar

(Arendt, 2001), além do conceito de banalidade do mal (Arendt,

1993; 2013), a partir de que aprofunda compreensões sobre o

exercício do pensamento como via possível – apesar de todas as

suas limitações – de impedir catástrofes, pessoais, ou mesmo

coletivas.

Para finalizar esse resumo da proposta de comunicação-

provocação, resgato mais uma vez um fragmento da tese: a garantia

de espaços coletivos se revela como caminho auspicioso para

possibilidades de ação transdisciplinar como produção coletiva,

sendo crucial o investimento na expansão da habilidade de

sustentar a tensão, que continuamente virá à tona no contexto da

atenção à saúde. Para tanto, torna-se imprescindível o exercício de

comunicação entre integrantes das equipes, pela disponibilidade de


57

falar/escutar comentários, sugestões, críticas, elogios, estimulando-

se a atuação criativa e inovadora nas propostas de intervenção.

Pensamento-afetação, valorizando a elaboração de

experiência. Construção de sentido ético-político ao que se faz.

Modos e não modelos. A expectativa é que, da ciranda, que pode

ser caracterizada também como espaço coletivo, saiamos instigados

a manter aberta a capacidade de resistir a perspectivas de controle

da vida no âmbito do cuidado em saúde, desafio maior...

Palavras-chave: transdisciplinaridade; trabalho em equipe;

formação profissional em saúde.

Referências:

Amarante, P. (2003) A (clínica) e a reforma psiquiátrica. In:


Moacyr Scliar et al.; Amarante, P. (org.) Archivos de saúde
mental e atenção psicossocial. Engº Paulo de Frontin, RJ:
Nau, 45-65.

Arendt, H. (1993) Pensamento e considerações morais. In: Hannah


Arendt. A dignidade da política. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 145-168.
58

Arendt, H. (2013) Eichmann em Jerusalém. São Paulo:


Companhia das Letras.

Basaglia, F. (2005) O circuito do controle: do manicômio à


descentralização psiquiátrica. In: Franco Basaglia. Paulo
Amarante (org.). Escritos selecionados. Rio de Janeiro:
Garamond, 237-257.

Benevides, R. (2005). A psicologia e o sistema único de saúde:


quais interfaces? Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, ago.
17(2), 21-25.

Ceccim, R. (2008) Equipe de saúde: a perspectiva entre-disciplinar


na produção dos atos terapêuticos. In: Roseni Pinheiro; Ruben
Araújo de Mattos (orgs.). Cuidado: as fronteiras da
integralidade. 4 ed. Rio de Janeiro:
IMA/CEPESC/ABRASCO, 261-280.

Cabral, B. E. B. (2011) Sustentando a tensão: um estudo


genealógico sobre as possibilidades de ação transdisciplinar
em equipes de saúde. 185 f. Tese (Doutorado em Psicologia).
Programa de Pós-Graduação em Psicologia. UFES, Vitória-ES.

Larrosa, J. (2002) Notas sobre a experiência e o saber de


experiência. Revista Brasileira de Educação. Campinas, 19,
20-28.
59

1.2 DESINSTITUCIONALIZAÇÃO COMO


CONCEITO FERRAMENTA PARA AS PRÁTICAS
EM SAÚDE MENTAL

Profª Drª Maria Inês Badaró Moreira

Professora do Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva


da Universidade Federal de São Paulo – Baixada Santista.
Responde pelo Módulo de Saúde Mental e supervisiona estágios em
Saúde Mental para o curso de Psicologia; Professora do Módulo de
Produção de Narrativas para o Eixo Comum dos cursos do Instituto
de Saúde; Professora da disciplina Saúde Mental e Saúde Coletiva
para a Pós-Graduação da UNIFESP-BS e está na equipe de tutoria e
docência da Residência Multiprofissional em Rede de Atenção
Psicossocial da Unifesp – Baixada Santista.

E-mail: mibadaro@gmail.com.br

Esta comunicação se insere na roda de conversa "Formação

profissional e política em diálogo com o pensamento de Franco

Basaglia e Hannah Arendt". Tem como objetivo principal

apresentar contribuições da perspectiva desinstitucionalizante para a

formação de psicólogos a partir do pensamento de Franco Basaglia.

Trata-se de trabalho em andamento e vivido como processo,

colocado em análise no sentido de partilhar e constituir possíveis

interlocuções. As diferentes experiências relatadas compreendem a


60

desinstitucionalização como conceito-ferramenta para o

enfrentamento dos desafios epistemológicos e assistenciais na

produção de novas práticas em saúde mental.

Franco Basaglia realizou transformação radical no modo de

cuidar em saúde ao propor um modo democrático e uma importante

mudança das relações de poder nas ações. Para alcançar esta

mudança indica a necessidade de deslocamento dos rótulos

classificatórios que sustentaram e ainda sustentam as práticas

clínicas.

A partir do lema: “a liberdade é terapêutica”, Franco

Basaglia (1982) transmutou uma realidade excludente, rompeu com

as barreiras da segregação, construiu um corpo teórico significativo

e, além disso, inspirou diversos projetos de reforma psiquiátrica,

inclusive a reforma psiquiátrica brasileira. Do ponto de vista

assistencial, ao romper com o que foi produzido em nome da

psiquiatria e inaugurar um novo enquadre clínico, o sofrimento

tomou outra configuração. Nesta proposta a clínica se mantém

respaldada pela importância da relação proximal com o indivíduo

no contexto social e sua história, e pela necessidade de dar ouvidos


61

aos relatos do sofrimento e de suas consequências para a vida do

sujeito.

O afastar-se dos rótulos, demonstrou que a vertente técnico-

assistencial deve se orientar pela restituição da compreensão do

fenômeno da loucura em outros pilares, pois, “para estabelecer uma

relação com um indivíduo, é necessário considerá-lo

independentemente daquilo que pode ser o rótulo que o define”

(BASAGLIA, 1985, p. 28).

A pauta basagliana busca a compreensão e a aproximação da

experiência da loucura em sua complexidade e se opõe aos olhares

diagnósticos e biomédicos simplificadores deste fenômeno. Nesta

perspectiva a ação clínica é indissociável da política, na medida em

que a desinstitucionalização aponta para o afastamento da busca

pelo tratamento/cura ao defender um lugar para a convivência, para

as trocas, para o protagonismo, para a cidadania e para a circulação

livre na cidade como espaço de trocas.

A clínica como ação política também deve fazer circular o

conhecimento ao valorizar os diferentes saberes sobre a saúde e


62

para isso é fundamental o compartilhamento de conhecimentos

vindos das diferentes fontes e formas de organizar o que saber/fazer

das pessoas. Assim, apontamos para a necessidade de formação de

profissionais da saúde que consigam atuar com o sofrimento como

um fenômeno complexo, que busque um fazer clínico pautado na

produção coletiva e no protagonismo dos usuários.

Serão apresentadas ações de ensino, pesquisa e extensão

em que diferentes protagonistas são convidados para proposição e

composição de ações de ensino-aprendizagem em saúde mental que

faça sentido para os usuários do serviço, seus familiares e busque

atingir a comunidade em que vive. Ao assumir a perspectiva

desinstitucionalizante, estas experimentações de práticas e ideias

podem promover o deslocamento necessário da tríade

doença/tratamento/cura que tem sustentado as ações em saúde em

direção de espaços de encontro e convívio com o

sofrimento/existência/projeto de vida.

Este relato apresenta e coloca em análise algumas

experimentações e vivências, em desenvolvimento, que pretendem

promover a politização das práticas de cuidado a partir da


63

formação, em busca de possíveis caminhos de superação da

distância entre atuação profissional e política.

Os preceitos e a experiência Italiana são direcionamentos de

experimentações e definem a abertura para o encontro com o

homem, distanciando dos rótulos que ele carrega. Assim, ao

trabalhar com a perspectiva da desinstitucionalização, compreende-

se que um fazer clínico é também político na medida em querequer

que o trabalho terapêutico seja voltado para a reconstituição de

pessoas, como sujeitos de suas histórias.

Palavras-chave: Formação do Psicólogo; Saúde Mental;

Desinstitucionalização; Franco Basaglia, Sofrimento psíquico.

Referências

BASAGLIA, F. Psiquiatria alternativa: contra o pessimismo da


razão, o otimismo da prática. São Paulo: Ed. Brasil Debates, 1982.

BASAGLIA, F. A instituição negada: relato de um hospital


psiquiátrico 3. ed. São Paulo: Graal, 1985.
64

1.3 O PENSAMENTO DE FRANCO BASAGLIA E A

FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Profª Drª Maria Luisa Sandoval Schmidt

Professora Titular da Universidade de São Paulo-USP

maluschmidt@terra.com.br

A presente comunicação faz parte da roda de conversa com

título "Formação profissional e política em diálogo com o

pensamento de Franco Basaglia e Hannah Arendt". Tem como

propósito chamar a atenção para contribuições do pensamento de

Franco Basaglia na esfera da formação de profissionais de saúde.

Trata-se de análise do texto do autor, em co-autoria com Franca

Basaglia Ongaro, chamado "Los crímenes de la paz" que está no

livro por eles organizado "Los crímenes de la paz: investigación

sobre los intelectuales y los técnicos como servidores de la

opresión".

A análise permite compreender os comprometimentos éticos

e políticos de intelectuais e técnicos do campo da saúde mental e

deles derivar uma série de problemas postos à formação destes


65

profissionais nos anos 70 do século XX, quando o texto foi escrito,

os quais podem inspirar debates sobre a formação na atualidade.

Destaca-se a questão da consciência de uma contradição

básica entre posição política progressista e atuação profissional

pautada no controle e na disciplina exercidos sobre a população

usuária de serviços de saúde mental com base em "verdades

científicas".

Essa consciência formativa provoca deslocamentos e

problematizações na esfera das tensões e diferenças de classe e

posição social entre população e profissionais que serão tratadas a

partir dos argumentos trazidos por Franco Basaglia, procurando

sustentar a idéia de uma formação profissional articulada à

formação política e ética, no campo da saúde.

Para essa formação, uma dimensão de interesse refere-se às

relações entre realidade e utopia, remetendo à discussão sobre o par

teoria e prática, bem como àquela sobre as idealizações em torno de

modelos e propostas de políticas públicas. Serão ainda consideradas

concepções sobre o trabalho em equipes multiprofissionais, o lugar

e papel de mediação de certos profissionais técnicos como


66

enfermeiros e a centralidade da prospecção das necessidades da

população usuária de serviços de saúde mental como organizador

potente de ações politicamente comprometidas com a emancipação.

Palavras-chave: Profissionais de Saúde; Sociedade; Saúde Mental;

Política; Ética; Franco Basaglia.


67

CIRANDA TEMÁTICA II

PLANTÃO PSICOLÓGICO

2.1 PLANTÃO PSICOLÓGICO COMO


ACONTECIMENTO: RESSONÂNCIA DO
CUIDADO NA PRÁTICA CLÍNICA

Prof. Dr. Darlindo Ferreira de Lima

Professor Adjunto do Curso de Saúde Coletiva da UFPE-Campus


Vitória de Sto Antão

E-mail: Darlindo_ferreira@hotmail.com

A psicologia enquanto ciência e profissão se encontram

inserida em um contexto no qual é solicitada a partir de várias

demandas da contemporaneidade a inovar. Nos últimos anos há

notadamente um movimento crescente de aproximação entre a

produção do saber em psicologia e o social, sobretudo pela inserção

desse profissional como ator importante na construção de políticas

públicas, mais especificamente no Sistema único de Saúde (SUS),

na educação e Sistema Único de Assistência social (SUAS).


68

Dentre as diversas formas de participação nessa nova

configuração em que se constrói a psicologia destacamos as práticas

psicológicas clínicas em instituições. O plantão psicológico tem

sido uma dessas práticas que vem encontrando um espaço cada vez

mais amplo de desenvolvimento articulando fundamentalmente três

características que consideramos importantes: a democratização ao

acesso aos serviços de psicologia; a rediscussão dos modelos

técnicos de intervenção e a dimensão de uma ação ética na medida

em que possibilita pensar o cuidado como acontecimento

transformador em seu tempo próprio de transformação.

Será sobre essa última dimensão que iremos focar nossa

reflexão, pois se a princípio o plantão parece se sintonizar com a

premissa de um tempo histórico líquido (Bauman, 1998), no qual

tudo frui em um desfacelamento incessante e impossibilitador de

constituição de sentido e significado próprios, será justamente no

sentido oposto que postulamos sua ação.

A partir de uma leitura fenomenológica existencial o plantão

psicológico configura-se como uma modalidade da prática

psicológica que se caracteriza principalmente por se constituir em


69

uma intervenção em situação de crise. Dito de outra forma, uma

forma de inter(in)venção que se dá como espaço/tempo de

acolhimento do sofrimento humano e ao mesmo tempo espaço de

instauração de outro modo de estar-no-mundo tão original a ponto

de implicar a afirmação de novas formas de produção de sentido e

significado, ou seja, um acontecimento afirmativo do modo de ser

cuidado.

Nossa experiência mais significativa com o plantão se deu

por meio da prática do plantão psicológico na Delegacia

Especializada no Atendimento a Mulher (DEAM). Realizamos

uma pesquisa nas DEAM’as de Petrolina-PE e Juazeiro-BA

(Lima,2012), na qual foi possível compreender que por se dar em

uma instituição que lida com a violência esta esteve de alguma

forma atravessando o saber-fazer do plantão.

A intervenção principal do plantão foi o modo de ser plantão

em que os plantonistas se dispõe em situação de plantão. A abertura

ao encontro, a escuta atenta e sensível, embora sejam fundamentais

para a ação do plantão não são suficientes para garantir uma forma

de relação na qual a usuária do plantão pode desprender-se da


70

vivência de impotência advinda da violência e se ligar ao encontro

potencializador do trânsito entre o ôntico e o ontológico ali na

situação do plantão.

A possibilidade de acompanhar a usuária no plantão a partir

de uma postura inter(in)ventiva na qual a linguagem se desprende

de uma dimensão cotidiana e passa se constutuir como clareira

(Heidegger, 2002). Na e pela linguagem o novo irrompe como

eminentemente outro para aquele que fala. Estar atento para

apreender com o outro esse “novo sentido” que emerge do seu

linguajar cotidiano parece remeter a um acontecimento que permite

que cuidando com-o-outro faça que o usuário-cuide-de-si.

A dimensão inesperada, a quebra dos chamados settings

tradicionais, o desprendimento do tempo cronológico são condições

que geralmente estão presentes em um encontro do plantão. Desta

forma será justamente essa abertura ao incerto que o plantão pode

possibilitar a instauração de espaço criativo para construção de

novo começo próprio, originário para aqueles que o procuram. A

dimensão do acontecer originário permite a criação de espaços para


71

a transformação daqueles que se encontram no plantão, mesmo que

esse seja um encontro único.

Portanto, reside nessa condição a dimensão ética do existir

em situação de crise, ou seja, um momento intenso no qual ruptura

e recomeço se fazem presentes como possibilidades vivas que

encontra no inusitado do encontro com desconhecido a sua abertura

acontecimental e quanto a esta não há controle ou predição por

parte do plantonista apenas o acompanhar cuidadoso do se mostrar

do encontro. A essa forma de estar-no-mundo no encontro nos

inclinamos chamar de acontescência do cuidado.

Palavras-chave: Plantão psicológico; acontescência; cuidado;

prática clínica.
72

2.2 EXPERIENCIA DE PLANTÃO PSICOLÓGICO


EM HOSPITAIS, UNIDADES DE CUIDADOS
PALIATIVOS E NO LABORATÓRIO DE ESTUDOS
SOBRE A MORTE

Profª Drª Maria Julia Kovács

Professora Livre Docente do Instituto de Psicologia da USP

E-mail: mjkoarag@usp.br

O plantão psicológico se configura como espaço de

acolhimento e escuta da demanda de quem nos procura para

esclarecer o caminho percorrido pelo cliente até o momento. É um

espaço para aprofundar a experiencia de sofrimento e também as

formas de lidar com situações de conflito em sua vida, como

apontam (Breschgliari et.al, (2013). Mahfoud (2013) refere que o

plantão psicológico é o momento em que a pessoa pode se

confrontar com sua vida na presença de um plantonista, psicólogo

ou estagiário, disponível para lidar com o desafio do que ainda não

se conhece e que abarca uma diversidade de situações a serem

conhecidas naquele momento.


73

Procuramos adaptar experiências de plantão psicológico em

instituições com características diversas, valorizando sua ação como

porta de entrada em locais onde acorrem pessoas gravemente

enfermas e em processo de luto.

Nos hospitais desenvolvemos o trabalho de plantão

psicológico para funcionários de saúde, após experiência de

trabalho com grupos vivenciais para enfermeiros e técnicos de

enfermagem. Como apontamos (Kovács, 2010), o cotidiano dos

profissionais de saúde frente à morte envolve escolhas difíceis,

gerando estresse e conflito. Na mentalidade da morte interdita não

se autoriza a expressão de emoções e dor, levando ao adoecimento e

aumento dos casos de depressão, aumentando a incidência da

Síndrome de Burnout entre profissionais de saúde. Não conseguir

evitar a morte ou aliviar o sofrimento traz ao profissional a vivência

de sua finitude. Estabelece-se relação entre sofrimento, colapso e

luto não reconhecido entre profissionais de saúde, ao perderem

pacientes com quem estabeleceram vínculos. O plantão psicológico

foi proposto à equipe de enfermagen nas dependências de um

hospital de ensino. Os grupos vivenciais tiveram procura pela


74

equipe, graças à organização da coordenação de enfermagem da

instituição, liberando os profissionais para a atividade. Após a

realização do grupo experiencial fizemos a proposta de plantão

psicológico aos profissionais, aí como busca individual. Esta

proposta não teve a mesma freqüência que os grupos, havendo

pouca procura pelo plantão. Os plantonistas estavam numa sala no

mesmo andar dos funcionários. Tentamos compreender o motivo

desta pouca adesão possivelmente pelo fato do plantão ocorrer no

local de trabalho dos funcionários e sua procura ser entendida como

exposição do estado de sofrimento, que poderia ser mal interpretada

na unidade. Um ponto de discussão sobre plantão psicológico em

instituições é: como oferecer plantão psicológico no local de

trabalho do funcionário.

Apresentamos a seguir o projeto de implantação de plantão

psicológico para pacientes, familiares e profissionais de uma

Unidade de Cuidados Paliativos. (Kovács, et al, 2001). Pacientes

com câncer avançado apresentam vários sintomas incapacitantes,

sendo o principal a dor. A família passa por estágios de adaptação,

observando-se dificuldades na comunicação e isolamento. Os


75

programas de cuidados paliativos têm como foco o alívio e controle

de sintomas, com ênfase na qualidade de vida e diminuição do

sofrimento. O plantão psicológico oferece espaço de escuta

favorecendo um acolhimento da demanda. Realizamos uma

pesquisa com os seguintes objetivos: Estudar a implantação de um

serviço de plantão psicológico em uma ala de cuidados paliativos de

hospital de referencia em oncologia numa cidade do interior de São

Paulo, descrevendo as necessidades dos pacientes, da família e da

instituição; avaliar a proposta do plantão psicológico ouvindo a

clientela beneficiária; elaborar um projeto de plantão psicológico

para este grupo. Os dados foram coletados durante atendimentos

quinzenais. Os temas trazidos pelos pacientes foram: dor nas

dimensões física, psíquica, social, espiritual e distúrbios na

comunicação. Para os familiares os temas foram: tristeza pela perda

do paciente pelo adoecimento e futura morte, e distúrbios na

comunicação. O plantão psicológico favoreceu: esclarecimento das

necessidades, expressão dos sentimentos, facilitação de

comunicação. Entre os aspectos a serem aprofundados observou-se:

significado da doença, formas de enfrentamento das

limitações. Mesmo se tratando de encontro único, o plantão


76

facilitou a acolhida da demanda dos pacientes e familiares neste

tipo de unidade possibilitando encaminhamento a recursos

competentes. Vários pacientes e familiares (vistos como unidade de

cuidados) se beneficiariam de um atendimento mais longo, sendo

importante a presença do psicólogo como membro efetivo na

equipe multidisciplinar de atendimento em programas de cuidados

paliativos, bem como, uma rede de atendimento na cidade para a

realização destes atendimentos. Entre os pontos a serem discutidos

havia também a circunstancia de que os plantonistas (alunos de

iniciação científica e eu como coordenadora) éramos da capital e o

oferecimento do plantão era vinculado ao dia em que a equipe

viajava até o hospital. No dia em que era oferecido o plantão

atendíamos todos os interessados, configurando-se como plantão de

encontro único, constituindo-se em espaço de acolhida e escuta. O

plantão neste local envolveu as plantonistas em situações

complexas em que o setting tinha que ser improvisado nos quartos e

numa sala de estar do programa. Esta atividade de plantão

infelizmente foi interrompida, pois o projeto foi encerrado. Foi

proposta a continuidade do plantão com os profissionais do

hospital. Nas supervisões, além de discutir a necessidade dos


77

pacientes, também tínhamos a perspectiva de compartilhar como os

atendimentos dos pacientes com doença avançada sensibilizavam as

plantonistas, ainda alunas de graduação.

Apresentamos a seguir os atendimentos a pessoas enlutadas

e com ideação suicida no Laboratório de Estudos sobre a Morte

(LEM) no Instituto de Psicologia da USP. (www.lemipusp.com.br).

Estes atendimentos se configuram como primeiro encontro, uma

forma de plantão psicológico, em que abrimos a disponibilidade de

escuta da demanda de quem nos procura. A partir deste primeiro

atendimento e junto com o cliente combinamos encontros pontuais

de orientação e esclarecimentos ou atendimento regular na forma de

psicoterapia. Como atualmente o LEM conta com 4 participantes

psicólogos disponibilizamos alguns horários de atendimento entre

nós. Temos também uma lista de credenciados composto por ex-

orientandos de mestrado e doutorado, que disponibilizam um

horário gratuito para atender quem nos procura. Realizamos

também plantão telefônico, ou por internet ajudando na busca de

cuidados a pessoas vivendo situações de perda ou com ideação


78

suicida, bem como encaminhamento de bibliografia para estudantes

e profissionais interessados.

Nestas três modalidades apresentadas, o plantão psicológico

demanda dos plantonistas o que foi ressaltado em alguns textos

sobre plantão psicológico, destacando os escritos por Mahfoud

(2012, 2013) e Schmidt (2004) e o trabalho que há anos é realizado

no Serviço de Plantão Psicológico ( SAP) fundado por Rachel

Rosenberg. Em 2013 a equipe do SAP elaborou o capítulo “Plantão

Psicológico em Centro Escola, tradição, reinvenções e rupturas”

(op. cit)em que traçamos a trajetória do plantão psicológico no

Serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia

da USP, com as transformações promovidas desde a sua fundação.

Neste artigo discutem-se formas de atendimento vinculadas às

demandas da clientela, que atendemos. O que permanece invariável

em todas as modalidades de atendimento apresentadas é a

disponibilidade para escuta do plantonista, esclarecimento da

demanda e do sofrimento de quem nos procura. Mais do que

oferecer caminhos, busca-se traçá-los junto com o cliente.


79

Palavras chave: plantão psicológico, instituições de saúde,

sofrimento humano, Laboratório de Estudos sobre a Morte.

Referências

Breschliari J.O. Eisenlohr, G.V.; Fujisaka, A P; Kovács, M.J.;


Rocha, M.C & Schmidt, M.L. (2013). Plantão psicológico em
Centro-Escola. In: M.A.Tassinari; A.P.S. Cordeiro & W,T.
Durange.(Orgs). Revisitando o plantão psicológico centrado na
pessoa. Curitiba, Editora CRV, 61-82.

Kovács, M.J. (2010). Sofrimento da equipe de saúde no contexto


hospitalar. Cuidando do cuidador profissional. Mundo da Saúde,
(impresso), v.34, 420429.

Kovács, M.J.; Kobayashi, C.; Santos, A.B.B. & Avancini, D.C.F.


(2001). Implantação de um serviço de plantão psicológico numa
unidade de cuidados paliativos. Boletim de Psicologia, 51(114),
01-22.

Mahfoud, M (2012). A vivencia de um desafio. In: M. Mahfoud


(Org.) Plantão psicológico. Novos horizontes. São Paulo,
Companhia Ilimitada, 17-29.

Mahfoud, M. (2013). Desafios sempre renovados: plantão


psicológico. In: Tassinari, M.A Tassinari; A.P.S Cordeiro. &
T.G. Durange (Orgs). Revisitando o plantão psicológico
centrado na pessoa. Curitiba, Editora CRV, 33-50.
80

Schmidt, M.L. Plantão psicológico, universidade pública e política


de saúde mental. Estudos de Psicologia, Campinas, v.21, n.3,
p.173-192, setembro/dezembro 2004.
81

2.3 SOFRIMENTO PSÍQUICO E SOCIEDADE: UM ENSAIO


SOBRE O PLANTÃO PSICOLÓGICO COMO UMA
PRÁTICA CLÍNICA CONTEMPORÂNEA

Profª Drª Jurema Barros Dantas

Universidade Federal do Ceará

E-mail: juremadantas@ig.com.br

A busca pelo sentido da existência, a constatação do vazio

existencial e da solidão, se tornaram marcas dos modos de ser

contemporâneos e parecem estar sendo uma das principais queixas

que nas clínicas psicológicas, aliadas às crescentes dificuldades de

estabelecer relacionamentos duradouros e amorosamente

verdadeiros. O sujeito contemporâneo parece estar convocado

diariamente a confrontar-se com os impasses de, por mais espantoso

que possa parecer, ser possível sofrer. Fundamentada em uma

espécie de soberania de sua condição de sujeito, há uma

reivindicação constante de êxito desempenho, sucesso, beleza e,

porque não dizer, felicidade. De forma cada vez mais acentuada,

buscamos soluções para nossos problemas existenciais e nosso

sofrimento psíquico pelo menos de duas maneiras: primeiro, pela


82

mais avançada tecnologia, aqui incluído o arsenal

psicofarmacológico; em seguida, pelos mais variados tipos de

terapia, incluindo aí aquelas originárias dos Centros Acadêmicos

bem como aquelas que surgem por modismos e misticismos de todo

gênero.

Pressionado a assumir responsabilidades crescentes num

mundo em permanente e rápida mudança, o “indivíduo incerto”,

como definido por Ehrenberg (1999; 2004), e fragmentado de nossa

contemporaneidade, mergulha na fadiga, insônia, ansiedade,

indecisão, assimiladas a um quadro de depressão, que se naturaliza

como modo de ser e de estar-no-mundo. Tornam-se cada vez mais

frequentes na clínica demandas de um sujeito que “refere um agir

compulsivo, desinibido, destituído de culpam cujas narrativas estão

repletas de lamentações que ambicionam o encontro triunfal com o

bem-estar supremo” (Lemos, Rodrigues e Monteiro, 2014, p.33). É

dentro deste quadro de eterna busca por um “estado de melhora”,

que este estudo se insere, procurando entender os modos de

desvelamento do sofrimento psíquico na contemporaneidade, sua

relação com uma demanda pela psicoterapia e, sobretudo, a


83

possibilidade de uma prática clínica contemporânea vocacionada

para o acolhimento destas demandas para promoção de saúde.

Como bem nos lembra Rebouças e Dutra “o mundo contemporâneo

demanda novas formas de conhecimento, busca um paradigma não

mais baseado numa verdade universal, mas em múltiplas verdades,

constituídas a partir da singularidade do ser humano, do seu

contexto e de sua história” (2010, p.3).

A psicologia clínica contemporânea nos coloca diante de

situações imprevisíveis que põem em questão nossas teorias e

práticas. Tendo como base analisadora uma perspectiva

fenomenológica existencial, este estudo pretende problematizar as

novas enunciações do sofrimento psíquico no contexto

contemporâneo e a modalidade clínica do plantão psicológico como

uma prática comprometida com a emergência de novos sentidos.

Uma prática que precisa, na atualidade, estar voltada para a

singularidade se (re) inventando, ousando, arriscando, enfim, em

movimento e em permanente construção. Assim, partimos do

pressuposto que a uma prática clínica comprometida com a

promoção de saúde não pode estar circunscrita em um único saber


84

ou ser compreendida a partir de uma única lógica. O plantão

psicológico favorece a experiência na qual o psicólogo se apresenta

como alguém disposto, presente e disponível e não apenas como

detentor do conhecimento técnico. E isto seria um estar junto, um

inclinar-se na direção sofrimento, deixando-se afetar para

compreender. “A proposta do plantão é aceitar manter-se junto com

o cliente no momento presente, na problemática que emerge,

promovendo uma melhor avaliação dos recursos disponíveis,

ampliando, assim, seu leque de possibilidades”. (Rebouças e Dutra,

2010, p.5). Assim, podemos partir da premissa de que a

contemporaneidade tem demandado uma postura clínica

multiprofissional e transdisciplinar.

O sofrimento psíquico nesse contexto do contemporâneo

deve ser pensado como um fenômeno entrelaçado ao nosso viver,

assim como a busca incessante por meios de atenuar tal sofrimento.

A História da Medicina, da Psiquiatria e da Psicologia tem nos

apontado a universalidade do sofrimento psíquico, as diferentes

representações que o tema adquiriu, bem como a incansável busca

das diversas práticas terapêuticas que se produziram no sentido de


85

apaziguar, ou mesmo curar, as inúmeras formas de expressão do

sofrimento. Entretanto, temos observado que desde a modernidade,

especialmente no século XX, o discurso sobre o sofrimento

psíquico tem impregnado a vida cotidiana de maneira inédita,

revelando-se objeto de uma grande preocupação social, política e de

saúde mental. Revistas de grande circulação, acadêmicas ou não,

têm procurado elucidar o público sobre esta questão. A preocupação

está também nas universidades que vêm produzindo,

sistematicamente, uma discussão profícua sobre o tema (Giovanni,

1980; Lefèvre, 1991; Pignarre, 1999; Birman, 2001, 2002, 2013;

Nascimento, 2003; Solomon, 2002). Quais as razões desta situação?

Quais transformações sociais engendraram tamanho relevo aos

problemas psíquicos? Neste contexto, atualmente, a interface entre

questões sociais e questões mentais parece ser de tal ordem que se

pode conceber a emergência de uma nova linguagem e de um novo

espaço de representação em torno da noção de sofrimento psíquico.

As discussões sobre sofrimento psíquico têm mobilizado

pesquisadores nas mais diferentes áreas e nossa inquietação se

configura em torno da possibilidade de analisar os diferentes modos


86

de enunciação do sofrimento psíquico na contemporaneidade a

partir da hipótese geral de que numerosas doenças e problemas da

sociedade se apresentam atualmente sob o termo “Sofrimento

Psíquico” e passam a propor soluções em termos de “saúde

mental”, mais especificamente, em termos de uma intervenção

medicamentosa. Assistimos a uma crônica patologização da vida

cotidiana. Um fenômeno que parece estar transformando situações,

antes consideradas naturais de serem enfrentadas durante a vida, em

episódios que merecem ser tratados e solucionados por um conjunto

de saberes ávidos em responder os dilemas do existir humano.

De maneira sistemática esquecemos que o sofrimento é

constitutivo da condição humana. Adotamos a premissa de que é

proibido sofrer. De modo mais radical podemos supor que vivemos

uma sensação generalizada e aguda de que a vida, tal como se

apresenta, incerta, imprevisível, vulnerável, efêmera, não pode ou

deve ser boa o suficiente. Tal ideologia estabelece uma condição de

eterna busca por um bem-estar inatingível, por uma certa imunidade

ao sofrimento, por uma receita de prolongamento da juventude e

possibilidade diária de felicidade.


87

Trata-se de um horizonte histórico de sentido que revela de

modo crescente a experiência generalizada da inquietude, do

desamparo e da vulnerabilidade. Um horizonte histórico que retrata

a enunciação de um paradoxo: por um lado, presenciamos avanços

técnicos e científicos que prometem a solução dos mais variados

problemas, por outro lado, deparamo-nos com um cenário de

extrema precariedade das relações interpessoais, de intensa

sensação de incerteza, insegurança e desconforto. Trata-se de um

processo de tecnificação, segundo Dantas (2014), que evidencia o

aprisionamento da vida nas malha s da tecnologia e na frenética

busca por respostas prontas e soluções instantâneas para os

problemas cotidianos que, em sua maioria, são tomados como

patológicos e como obstáculos para o transcorrer da vida pautado na

performance e no controle sobre o devir.

Deslizando no mundo do instantâneo, das próteses, do

virtual, do consumo, da compulsão, da medicalização, o homem

contemporâneo vive a dificuldade de escolher de forma autêntica o

seu modo de viver, sendo bombardeado por uma multiplicidade de

novidades científicas que atendem a demanda de renovação


88

permanente proposta pelo capitalismo de mercado: Distúrbio de

explosão intermitente, Transtorno de deficiência motivacional,

Transtorno desafiador opositivo, Síndrome das pernas inquietas.

São tantas as possibilidades que o ato de se diagnosticar com algum

transtorno passou a pertencer ao campo da banalidade e

paradoxalmente, ao da normalidade. Com a veiculação midiática do

discurso “psi” agindo na produção de subjetividades, vemos surgir

um processo de naturalização do vocabulário neurocientífico,

fazendo com que termos como ‘serotonina’, ‘antidepressivos’,

‘neurotransmissores’, ‘transtorno mental’, sejam incorporados ao

cotidiano das pessoas, influenciado, em muitos casos, o modo como

experimentam a vida. De acordo com Lefevre (1991), nas

sociedades regidas pela lógica atual do consumo, ninguém é

permitido sentir-se verdadeiramente saudável porque “algo” sempre

estará faltando devido a uma sensação de vazio a ser sempre

preenchida por algum serviço ou mercadoria: planos de saúde,

pílulas, vitaminas, frascos atraentes, consultas médicas, etc. A

saúde passa a ser objeto de consumo vendido nas prateleiras de

lojas de departamento e o medicamento passa a ser o símbolo da

saúde e da satisfação imediata de desejos. Diante de tal contexto,


89

deparamo-nos possivelmente com uma geração que cresce

encorajada a depender de drogas psiquiátricas para lidar com suas

emoções. Observamos entorpecidos a retirada do protagonismo do

homem e a proliferação de um processo de vitimização do

indivíduo, que diante de tantos meios feéricos de coerção, acaba

acreditando que não é capaz de lidar sozinho com seus possíveis

problemas, necessitando impreterivelmente recorrer às soluções

mágicas que os medicamentos, as cirurgias plásticas, as

intervenções médicas de toda ordem podem proporcionar.

Trata-se de um aprendizado constante voltado para a gestão

da dor. O sujeito contemporâneo sente-se insuficiente e em

crescente desvitalização, imerso em um contexto histórico regido

pela eficiência, pela urgência e pelo excesso. Um contexto que nos

convoca para uma felicidade permanente que, se não alcançada,

torna-se uma reponsabilidade individual. Revela-se assim, um

cenário que despontencializa o sofrimento, medicaliza o mal-estar

e, sobretudo, categoriza os sintomas.

Não há solução eficiente para a vida pois ela é este vai e

vem constante de alento e desamparo. “Infelizmente, afirma


90

Birman, as perdas, as decepções e as insatisfações, pontuadas pelos

ressentimentos de desesperanças, continuam a acossar a existência

humana na experiência cotidiana” (2002, p.58). Ainda assim,

segundo o filósofo Jean-Paul Sartre (1997), mesmo no inferno do

“prático inerte”, do que já está aí, pronto, da nossa realidade

circundante, mesmo aí, o homem sente ser “possível” que as coisas

não perdurem como estão, sente ser “possível” mudar, ser

“possível” uma saída, ser possível outra vida.

A contemporaneidade, assim, tem demandando da

Psicologia Clínica uma nova postura e um novo olhar diante do

homem. E para isso, segundo Rebouças e Dutra (2010), a psicologia

precisa romper com o modelo metafísico baseado no instrumental

técnico e em verdades absolutas e inquestionáveis, indo de encontro

a uma clínica pautada na ética.

Referências

BIRMAN, Joel. O sujeito na contemporaneidade: espaço, dor e


desalento na atualidade. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2013.
91

________. Relançando os dados: a psicopatologia na pós-


modernidade, novamente. In: VIOLANTE, Maria Lúcia V.
(Org.). O (im) possível diálogo psicanálise psiquiatria. São
Paulo: Via Lettera, 2002.
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contemporânea. Paraná: Editora CRV, 2014.
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NASCIMENTO, M. C. de. Medicamentos: ameaça ou apoio à
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PESSOTTI, Isaias. Para compreender a ‘vida dura’. Folha de São
Paulo. Caderno Mais, domingo, 26 de janeiro de 2003.
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Editora 34, 1999.
REBOUCAS, Melina Séfora Souza e DUTRA, Elza. Plantão
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SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
SOLOMON, Andrew. O Demônio do Meio-Dia. Uma anatomia da
depressão. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
93

2.4 PLANTÃO PSICOLÓGICO E COMPROMISSO


ÉTICO-POLÍTICO: A EXPERIÊNCIA DO
CEPPSI/UNIVASF

Profª Drª Sílvia Raquel Santos de Morais

Docente do Colegiado de Psicologia da Universidade Federal do


Vale do São Francisco/ UNIVASF

Coordenadora do Projeto Plantão psicológico no Centro de Estudos,


Pesquisas e Prática (CEPPSI/UNIVASF); Tutora do Programa de
Intensivismo da Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital
Universitário da UNIVASF e Coordenadora do Laboratório de
Práticas Transdisciplinares em Saúde e Educação/ LETRANS

E-mail: silviamorays@yahoo.com.br

O plantão psicológico (PP) enquanto proposta de

democratização de acesso à Psicologia no Vale do São Francisco

constitui um projeto de extensão que ocorre no Centro de Estudos,

Pesquisas e Práticas em Psicologia (CEPPSI) da Universidade

Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) desde março de

2013. O PP é realizado por graduandos do último ano do curso de

Psicologia sob a supervisão e orientação de quatro docentes dessa

instituição.
94

O PP constitui uma modalidade de prática psicológica que

visa acolher, no momento da procura, pessoas em situação de

sofrimento que recorrem ao serviço de Psicologia. Desse modo,

oferta-se um espaço de acolhimento e escuta clínica, valorizando-se

o encontro entre plantonista e usuário, não havendo, portanto, a

necessidade de inscrição prévia. A proposta é garantir a atenção no

momento da urgência por meio do encontro dialógico e da co-

construção de sentidos a partir da experiência narrada. Não há uma

preocupação prioritária com classificações diagnósticas ou

enquadramentos de qualquer natureza: a função primordial do

plantonista é colocar-se à disposição do demandante, na perspectiva

de reflexão sobre a experiência de sofrimento vivida. Ao dispensar

a inscrição prévia e assumir um caráter de atenção imediata, o PP se

destaca como uma modalidade que visa democratizar o acesso da

população a dispositivos de Atenção Psicológica, objetivando,

ainda, otimizar o fluxo de atendimento nas Redes Locais de Apoio

Social e de Saúde e garantir um espaço de cuidado condizente com

modos de existir contemporâneos. Ressalta-se que, em sua prática, é

possível também desmistificar possíveis estereótipos ligados à

função do psicólogo, contribuindo, assim, para a efetivação do


95

compromisso ético-político desse profissional no atendimento à

comunidade. A partir disso, revela-se outro aspecto crucial do

projeto: o compromisso com a formação de profissionais de

Psicologia. Experimenta-se um processo formativo, a partir dessa

prática, de caráter contextualizado, com permanente construção de

sentido ético-político sobre o fazer, enfatizando-se a atitude de

acolhimento, a capacidade de escuta qualificada e a valorização do

encontro.

Nunes e Morato (2013) destacam o PP como um espaço

destinado à apropriação reflexiva da experiência vivida, a qual

passa a ser narrada e compreendida por meio do encontro dialógico.

Assim, o PP desenvolvido no CEPPSI visa acolher, no momento da

procura, pessoas em situação de sofrimento que recorrem ao

serviço. Desse modo, oferta-se um lugar de acolhimento e de escuta

clínica imediata, não havendo, portanto, a necessidade de inscrição

prévia no serviço. A proposta é garantir Atenção Psicológica por

meio da escuta qualificada e do acolhimento, na intenção de

promover a construção de sentidos a partir da experiência vivida.


96

Enfatiza-se que não há, no exercício do Plantão, uma

preocupação prioritária com classificações diagnósticas ou

enquadramentos de qualquer natureza: a função primordial do

plantonista é se colocar à disposição, no modo de cuidado e

abertura, a quem busca a atenção psicológica, na perspectiva de

valorizar o encontro e as possibilidades de reflexão sobre a

experiência (de sofrimento) vivida. Há nessa prática um caráter

singular, de maneira que não é possível “tecnicizar” o Plantão, no

sentido de definir modelos ou técnicas corretas, a serem

reproduzidas.

Há já um vasto campo teórico sobre o PP no país, sendo

que, no projeto do CEPPSI, uma referência fundamental é o

trabalho produzido no IPUSP, lugar onde se originou a prática d PP,

no contexto de reconfiguração contínua do Aconselhamento

Psicológico. Referências como a Fenomenologia Existencial de

Heidegger ganham destaque, mas há a possibilidade de se alimentar

das produções de outros campos para a ampliação da compreensão

da prática e atitude no PP, a exemplo das discussões sobre cuidado

e acolhimento no campo da Saúde Coletiva feitas por Ayres (2009),


97

das discussões sobre a ética dos encontros (Spinoza, 2009) e

elementos do pensamento de Nietzsche, sobretudo em Genealogia

da Moral (Nietzsche, 2009).

O PP se destaca como uma modalidade que visa

democratizar o acesso da população a dispositivos de Atenção

Psicológica, objetivando, ainda, otimizar o fluxo de atendimento

nas Redes Locais de Apoio Social e de Saúde e garantir um espaço

de cuidado condizente com modos de existir contemporâneos.

Ademais, o PP visa contribuir com a articulação e fortalecimento da

Rede de Apoio Social regional, recorrendo a equipamentos de apoio

social e de assistência à saúde mapeados ao longo do processo. A

articulação do Plantão com as Políticas Públicas se revela uma via

fértil para uma atuação psicológica implicada e imbuída de

compromisso ético-político. Com isso, ressalta-se que, a partir

dessa prática é possível desmistificar estereótipos ligados à função

do psicólogo, contribuindo para a efetivação do compromisso ético-

político desse profissional no atendimento à comunidade. Ademais,

outro aspecto crucial do projeto é o compromisso com a formação

de profissionais de Psicologia por meio dessa prática


98

contextualizada, com permanente construção de sentido ético-

político sobre o fazer, enfatizando-se a atitude de acolhimento, a

capacidade de escuta qualificada e a valorização do encontro.

Considerando a significativa contribuição que o PP vem

dando na composição da oferta de Atenção Psicológica na região e

na formação de psicólogos, o mesmo constitui uma porta aberta à

comunidade, sem restrições de qualquer ordem, exceto as

relacionadas com o funcionamento burocrático da Universidade e

do CEPPSI, implicando na ativação/articulação das Redes Públicas

de Apoio Social. Assim, o projeto se configura como uma via

potente para efetivar o compromisso social da UNIVASF com o

apoio ao desenvolvimento regional, sendo a oferta de atenção

psicológica à comunidade um aspecto fundamental. Seguramente a

contínua avaliação dessa experiência se apresenta como algo

imprescindível no sentido de aprimorar sua oferta e garantir o

cumprimento dos objetivos propostos.

A metodologia utilizada para efetivação dos plantões tem

sido a escuta clínica ancorada na Fenomenologia Existencial ou no

pensamento nietzschiano, a depender da professora supervisora


99

presente. Desde sua fundação até junho de 2015, foram atendidos

602 usuários, sendo em sua maioria mulheres solteiras na faixa

etária de 18 a 55 anos com ensino médio completo. 410 usuários

procuraram o PP por escolha própria ou por encaminhamento de

profissional de saúde. As principais queixas relatadas ae referiam a

questões existenciais, sociais e psiquiátricas, enquanto que as

demandas centravam-se prioritariamente em conflitos familiares.

Destaca-se que apenas 178 usuários tiveram indicação de retorno ao

PP.Com isso, ficou claro que o papel do plantonista consiste não em

aplicar técnicas para ajustamento de condutas, mas em trazer

provocações que gerem o pensamento meditante e o cuidado

libertador (Heidegger, 2006). Além disso, observou-se que

afetações diversas experimentada pelos atores envolvidos (cuidado,

encantamento com a profissão, expressão das tonalidades afetivas

fundamentais, insegurança, cansaço, desejo de resolutividade) tem

permitido: a) reflexão constante sobre a práxis desenvolvida, b)

redimensionamento da visão de especialista, c) sustentação das

tensões, d) abertura para com as experiências narradas, e) ação

voltada para a compreensão do vivido. Conclui-se que o PP tem

contribuído para a democratização do acesso à Psicologia na região,


100

constituindo-se como estratégia eficaz para efetivação do

compromisso ético-político com a formação de psicólogos, uma vez

que a mesma ainda encontra-se pouco voltada para a clínica da

urgência.

Palavras-chave: Plantão Psicológico, clínica escola, Política

Pública, Ética.

Referências

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nas práticas de saúde. Rio de Janeiro: CEPESC: UERJ/IMS:
ABRASCO.

Heidegger, M. (2006) Ser e tempo; tradução de Márcia Sá


Cavalcante Schuback; Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista:
Editora Universitária São Francisco.

Nunes, André Prado; MORATO, Henriette T. P.(2013). Plantão


Psicológico no Departamento Jurídico do “XI de Agosto”: relato
de plantonistas. Em: BARRETO, Carmem Lúcia T.; MORATO,
Henriette T. P.; CALDAS, Marcus Túlio (Orgs.) Prática
Psicológica na Perspectiva Fenomenológica, p. 257-281.
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Nietzsche, Friedrich (2009). Genealogia da moral. São Paulo:


Companhia das Letras.

Schmidt, M.L. Plantão psicológico, universidade pública e política


de saúde mental. Estudos de Psicologia, Campinas, v.21, n.3,
p.173-192, setembro/dezembro 2004.

Spinoza, Benedictus de (2009). Ética. Belo Horizonte: Autêntica.


102

CIRANDA TEMÁTICA III

PRÁTICAS PSICOLÓGICAS E PROCESSOS

DE TORNAR-SE PSICÓLOGO

3.1 OFICINAS DE DESENVOLVIMENTO DA


ESCUTA COMO PRÁTICA CLÍNICA EM
INSTITUIÇÃO FORMADORA DE PSICÓLOGOS

Shirley Macêdo Vieira de Melo

Docente do Colegiado de Psicologia

Diretora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia – CEPPSI

Laboratório de Práticas Transdisciplinares em Saúde e Educação –


LETRANS

Laboratório de Carreiras e Desenvolvimento de Competências

Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF

E-mail: mvm.shirley@gmail.com

A Resolução CNE/CES N. 8, de 7 de maio de 2004,

instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de

Graduação em Psicologia no Brasil, apontando para a necessidade

do psicólogo graduado ser capaz de diagnosticar, avaliar e atuar em


103

problemas humanos de ordem cognitiva, comportamental e afetiva;

além de coordenar e manejar processos grupais; atuar inter e

multiprofissionalmente; realizar orientação, aconselhamento

psicológico e psicoterapia; levantar questões teóricas e de pesquisa;

e gerar conhecimentos a partir de sua prática profissional.

Para isso, é elencado um conjunto de competências a serem

desenvolvidas pelo curso e as habilidades nas quais essas

competências se apoiam. No artigo 3º (p. 1), é referido que a

formação do psicólogo deve estar fundamentada em alguns

compromissos, dentre eles a capacitação e o aprimoramento

contínuos. Além disso, o texto do CNE/CES destaca que algumas

das habilidades que dão suporte às competências básicas são as de

“descrever, analisar e interpretar manifestações verbais e não

verbais como fontes primárias de acesso a estados subjetivos” (p.3).

Sobre o dever das atividades acadêmicas, as Diretrizes também

apontam proporcionar subsídios para que as competências, as

habilidades e os conhecimentos fundamentais básicos para a prática

profissional sejam adquiridos pelos futuros psicólogos.


104

Como docente de curso de graduação em Psicologia,

entende-se, tal como defendido por Quayle (2010), que qualquer

proposta voltada para a formação do psicólogo deve ser formulada

tomando por base estas diretrizes e suas posteriores reformulações

(2011). E defende-se que todas as competências elencadas nas

diretrizes não estão apartadas da escuta clínica, pois a mesma faz

parte, dentre outras, das habilidades interpessoais que devem ser

desenvolvidas num curso de Psicologia.

No entanto, como bem alertam Bandeira et al (2006) e

Heckert (2007), nem sempre a academia permite alcançar tal

objetivo, pois escutar não pode ser ensinado apenas por um ato

pedagógico ou por conteúdos teóricos que se aplicam em sala de

aula visando a aprendizagem de uma técnica. Ensinar a escutar é

uma tarefa impossível, pois que se desenvolve na experimentação,

no caminhar da formação como psicólogo. Assim, “no processo de

formação, torna-se fundamental criar estratégias que permitam

escutar as diferenças (...) e afirmar a escuta como experimentação”

(Heckert, 2007, p.10). Lembrando que a formação pode constituir-

se como espaço de compartilhamento de experiências, essa seria


105

uma saída para desenvolver a escuta no contexto de graduação do

psicólogo, já que, como bem alerta a mesma autora, “todo processo

de formação se produz no encontro com a alteridade, pois que é um

processo de produção de subjetividade” (Heckert, 2007, p.5).

Formar é intervir. “A formação-intervenção requer ser

acionada como dispositivo de abertura a outras sensibilidades”

(Heckert, 2007: p.6). E uma das sensibilidades que se percebe como

essencial na formação do psicólogo é, tal como diria Meira &

Nunes (2005), ao lembrar Vale (2003), fazer com que o

entendimento do autocuidado seja uma constante.

Seria no contato com o outro, na experiência da prática, que

o estudante de Psicologia poderia lançar mão do dispositivo da

escuta, aprimorando sua competência de ouvir, transitando entre o

cuidar e saber de si, a fim de dar conta dos múltiplos sentidos do

processo de ajudar quem porta certo tipo de sofrimento (Lima,

2005). Mas, como as atividades de sala de aula, estritamente

acadêmicas, não permitem o aprendiz aprofundar a escuta,

necessário se faz, pois, que as instituições de ensino superior de

psicologia empreendam esforços para oferecerem práticas nas quais


106

os universitários possam ter a chance de ampliarem suas

possibilidades de capacitação.

Nesta perspectiva, temos ofertado no curso de Psicologia da

Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),

Oficinas de Desenvolvimento da Escuta, as quais vêm sendo objeto

de projetos de extensão e pesquisa fenomenológica interventiva.

São utilizados materiais como argila, fotos da infância, poesias,

contos, músicas, colagens, textos. A cada período de pesquisa foi-se

caminhando de instrumentos de coleta como entrevistas individuais

com pergunta disparadora até se realizar, mais recentemente, o

estudo do processo em grupo a partir do instrumento da Versão de

Sentido (Amatuzzi, 2008). Perspectiva-se, para o próximo ano,

adotar a proposta da Hermenêutica Colaborativa, que consiste em se

conduzir grupos de discussão gadamerianos, com foco no

compartilhamento de experiência intersubjetiva pautada na epocké

incompleta merleau-pontyana (Macêdo, 2012).

Os resultados do primeiro ano de pesquisa levaram a

concluir que os estudantes reconheceram a importância da oficina,

tanto no âmbito profissional, destacando a escuta como uma


107

ferramenta indissociável ao trabalho do psicólogo e como essa

ferramenta pode ser desenvolvida no decorrer da graduação; quanto

no âmbito pessoal, uma vez que para alguns os encontros

apontavam características individuais que eram expressas no grupo

sem preconceitos, tendo alcance terapêutico.

A oficina foi uma experiência nova na universidade e

favoreceu que a escuta dos acadêmicos passasse a ser mais atenta.

Em alguns casos específicos, a atividade foi norteadora para uma

atuação mais efetiva no contexto de estágio profissionalizante. Os

estudantes passaram a se deparar com uma escuta acolhedora,

humanizada, sensível, uma escuta de si e do outro que promove

cuidado.

Tendo concluído o primeiro ano de estudo, compreendeu-se

que estas oficinas poderiam constituir uma prática clínica em

instituição formadora de psicólogo, e foi ofertada a atividade para

estudantes do 8º período, prestes a adentrar os estágios

profissionalizantes.
108

Na medida em que a oficina ia sendo oferecida, estudava-se

o processo dos grupos. Na percepção destes colaboradores, os

encontros permitiram a apropriação de suas singularidades e

promoveram novos modos de subjetivação, tendo, por isso, um

alcance terapêutico. Eles reconheceram, também, que escutar não é

algo puramente de um, mas acontece na relação, no contato com o

outro: é preciso se dizer e ser escutado para poder se escutar o que

se diz. Reconheceram, portanto, na prática e na experimentação do

escutar, a necessidade de desenvolver esta competência para seus

exercícios futuros profissionais como psicólogos.

Todos os resultados até agora alcançados fazem propor que

tais oficinas possam ser institucionalizadas como uma prática

clínica em Psicologia Organizacional e do Trabalho em instituições

formadoras de psicólogos, já que as mesmas têm favorecido

processos de transformações subjetivas e intersubjetivas de quem

delas participa. Se inseridas no processo de formação de

psicólogos, podem permitir esse encontrar consigo mesmo e com o

outro, onde os sujeitos apreendem, pelos significados da

experiência compartilhada em grupo, os elementos necessários para


109

a transformação pessoal no sentido de maior efetividade para

atuação futura no campo profissional.

Palavras-chave: Prática Clínica em Instituição; Escuta;


Cuidado; Formação; Psicologia Organizacional e do Trabalho

Referências

Amatuzzi, M. M. (2008). Por uma psicologia humana. São Paulo:


Editora Alínea.

Bandeira, M., Quaglia, M. A. C., Freitas, L. C., Souza, A. M.,


Costa, A. L. P., Gomides, M. M. P., & Lima, P. B. (2006).
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Brasil, CNE/CES (2004). Resolução N. 8, de 7 de maio.


Recuperado em 04, setembro, 2014 de
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces08_04.pdf

Brasil, CNE/CES (2011). Resolução N. 5, de 15 de março.


Recuperado em 12, setembro, 2014 de
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=1
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Heckert, A. L. C. (2007). Escuta como cuidado: o que se passa nos


processos de formação e de escuta? Em R. Pinheiro, R. A. de
Mattos (Orgs.), Razões públicas para a integralidade em
110

saúde: o cuidado como valor (pp. 199-212). Rio de Janeiro:


ABRASCO/CEPESC.

Lima, D. (2005). Algumas considerações sobre a escuta na


abordagem fenomenológico-existencial. Recuperado em 03 de
maio, 2012, de
http://portalamazonia.globo.com/plantaopsicologico/algumasco
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Macêdo, S. (2012). A saga de Hefesto: hermenêutica colaborativa


como possibilidade de ação humanista-fenomenológica em
clínica do trabalho, 2012. 230f. Tese (Doutorado em Psicologia
Clínica) - Laboratório de Práticas Psicológicas Clínicas em
Instituições, Universidade Católica de Pernambuco, Recife.

Meira, C. H. M. G., & Nunes, M. L. T. (2005). Psicologia clínica,


psicoterapia e o estudante de psicologia. Paideia, 15(32), 339-
343.

Quayle, J. (2010). Reflexões sobre a formação do psicólogo em


psicoterapia: estado da arte e desafios. Psicologia: Ensino &
Formação, 1(1): 99-110.
111

3.2 GRUPO DE ESTUDOS: O NUEFE COMO


ESPAÇO DE FORMAÇÃO PARA SER
PSICÓLOGO

Profª Ms. Janne Freitas de Carvalho; Profª Ms. Suely Emilia de


Barros Santos

Professoras do Curso de Psicologia da Universidade de


Pernambuco-UPE, Campus Garanhus

E-mails: janne.freitas@upe.br; suely.emilia@upe.br

Este trabalho tem como objetivo apresentar o grupo de

estudos como um espaço de formação no processo de ser psicólogo.

Vale salientar que o marco teórico/metodológico que orienta o

grupo de estudos NUEFE, é a perspectiva fenomenológica

existencial. Neste estudo, enfocaremos a ação clínica na referida

perspectiva, bem como daremos ênfase a cartografia clínica como

possibilidade para questionar a formação do psicólogo e contribuir

para o processo de tornar-se psicólogo.

Em uma formação que privilegia uma aprendizagem em

coparticipação, o diálogo se faz essencial para o acontecer de uma


112

coconstrução acadêmica experiencial com sentido. Nesta direção,

ao aluno é solicitado um olhar atencioso, bem como uma atitude de

cuidado com o movimento de ser aprendiz com-outros. Ao corpo

docente, cabe a responsabilidade de não favorecer que este aluno se

torne apenas um feixe de habilidades técnicas, nem apenas um mero

reprodutor de teorias, que ele – o aluno – consiga ir trilhando seu

próprio caminho, descortinando sentido em seu modo de

experienciar o ser psicólogo em formação, bem como questionando

a própria formação que a Instituição de Ensino Superior (IES)

oferece, num diálogo coparticipativo. Como afirma Figueiredo

(2004), “Ai da faculdade de psicologia que não consegue deixar

seus alunos desejosos de mais psicologia, ou seja, fecundamente

insatisfeitos” (p.157). Preparar-se para ser-psicólogo é, então, estar

aberto para lidar com alteridades, de modo ético e político, através

de ações que requerem constante dedicação e investimento.

Considerando este contexto, surge o Núcleo de Estudos em

Fenomenologia Existencial, Ação Clínica e Prática Psicológica –

NUEFE. Criado em 2008, a partir de solicitações de discentes do

Curso de Psicologia da Universidade de Pernambuco/UPE -


113

Campus Garanhuns, que pretendiam compreender a Psicologia

Clínica em diálogo com a fenomenologia existencial. Incialmente,

portanto, o NUEFE se desenvolveu como grupo de estudos,

articulado as atividades de ensino do referido curso.

Na medida em que os estudos foram se desenvolvendo,

trabalhos e publicações foram surgindo como desdobramentos das

questões e inquietações levantadas pelas discussões do grupo de

estudos. Assim, o NUEFE passou a estar relacionado a atividades,

também, de pesquisa e extensão, proporcionando reflexões sobre

ação clínica e práticas psicológicas (em especial o plantão

psicológico e a psicoterapia), além de integrar as ações relacionadas

às atividades de estágio obrigatório.

Destarte, abre-se possibilidades para que reflexões possam

ser articuladas não apenas no espaço do NUEFE, mas também que

reverberam entre os caminhos da formação em geral, na medida que

as ressonâncias ecoam em outros espaços de trocas de

conhecimentos, desvelando significado sentido para o tornar-se

psicólogo.
114

Enquanto grupo de estudos, o NUEFE tem desenvolvido

reflexões sobre ação clínica e modalidades de práticas psicológicas

em uma perspectiva fenomenológica existencial a partir de leituras

de textos científicos, obras literárias e filmes. As discussões são

livres e acompanhadas pelas coordenadoras do grupo/autoras deste

trabalho, atentas e disponíveis a “todo querer saber, querer

compreender que se lança interrogante em direção àquilo que o

apela, que o afeta, que provoca sua atenção e interesse” (Critelli,

1996, p. 25-26). Estas reflexões são fundamentais para os

desdobramentos da ação clínica relativa ao estágio específico que

serão experienciadas pelos estagiários e, também, pelos discentes

envolvidos nas atividades de extensão e pesquisa, bem como estão

presentes em componentes curriculares vinculados.

Nesta direção, a ação clínica pode ser compreendida como

um modo de intervir. De acordo com Santos, Barreto e Morato

(2015), a ação clínica

se mostra como uma atitude de inclinar-se ao outro, de

acompanhar o cliente [...] a ação clínica, enquanto intervenção

propriamente dita do psicólogo está presente nas diversas


115

modalidades de prática psicológica, a saber: psicoterapia, plantão

psicológico, psicodiagnóstico interventivo/colaborativo, entre

outras. (p.06)

Assim, a clínica se constitui como uma atitude própria do

psicólogo (ação) em seu modo próprio de fazer (prática psicológica)

(Morato, 2013). A diversidade de fenômenos que podem emergir de

um encontro, atravessado por esta concepção que entende clínica

como ação, demanda uma abertura para acolhê-los de modos

diferentes (Barreto, 2008). Por outro lado, a prática psicológica

relaciona-se, “na maioria das vezes, a uma modalidade de

intervenção clínica que acontece em um contexto específico, a

partir de demandas que solicitam uma atenção psicológica.”

(Santos, Barreto & Morato, 2015, p.06). Vale dizer que, prática vem

“do grego prassein, prattein (passar por)” (Houaiss & Villar, 2009,

eletrônico). Portanto, diz de uma ação, de um fazer.

A partir destas reflexões que emergem tanto no grupo de

estudos, quanto nos eventos realizados e nas parcerias

interinstitucionais, os trabalhos desenvolvidos, sejam no âmbito do

ensino, pesquisa e/ou da extensão, a narrativa se torna um utensílio


116

que possibilita modos de articulação e reflexão, uma vez que “Ela

mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retira-la dele.

Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do

oleiro na argila do vaso” (Benjamin, 1985, p.205). As narrativas

reveladoras das cartografias clínicas, registradas nos diários de

bordo, se tornam guias fundamentais para os desdobramentos das

investigações pretendidas. Pelas narrativas, o sentido pode se

desvelar possibilitando compreensão do horizonte de investigação.

Ao interrogar acerca de modos de ser-com-o-outros em territórios

ou espaços de intervenção, a cartografia clínica se faz presente.

Segundo Morato (1999) o “cartógrafo participa e constitui

realidade. Seu movimento é de entrega para descobrir e inventar.

Seu corpo é deixado vibrar nas várias frequências possíveis para

encontrar sons, canais de passagem, carona para viver a existência.”

(p.63).

A partir do momento que o cartógrafo se permite ser

nômade, põe-se numa atitude de abertura para recolher os

movimentos presentes no território destinado a cartografia. Coloca-

se no trânsito dos fenômenos que se mostram, possibilitando ainda


117

desvelar sentido a partir do movimento existente no território. A

experiência de cartografar é um momento em que a história é

percorrida e o território tatua o corpo/experiência do cartógrafo

confrontado com o inesperado.

Articulado à cartografia, os diários de bordo se mostram

como recursos para registro da experiência, na medida em que

possibilitam a tessitura de compreensões na experiência vivida.

Segundo Aun (Biselli & Barreto, 2013) o diário de bordo é

construído “por um protagonista, a próprio punho, disposto a

compartilhar uma experiência. Ao comunicar algo vivido e sentido,

um Diário é como o tecer de várias estórias interligadas.” (p. 246).

Assim, os diários de bordo têm se mostrado como registros vivos de

experiências que possibilitam a compreensão de sentido.

Diante desta caminhada, compreendemos que a perspectiva

fenomenológica existencial nos possibilita um modo singular de

acompanhar os alunos de Psicologia em sua trajetória de ser

psicólogos, uma vez que sua formação se constrói em uma

intersecção entre experiência e aprendizagem, possibilitando um

sentido para a sua ação clínica como psicólogos em formação.


118

Palavras-Chave: Grupo de estudos; Formação; Fenomenologia


Existencial; Ação Clínica; Cartografia Clínica.

Referências

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fenomenológica existencial da Clínica Psicológica. In: Anais do
VIII Simpósio Nacional de Práticas Psicológicas em Instituições
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interventivo/colaborativo e formação do psicólogo: relato de uma
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Buracos: a construção de uma rede de atenção em saúde a partir
do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
(IPUSP). In: Barreto, C. L. B. T., Morato, H. T. P. & Caldas, M.
T. Prática psicológica na perspectiva fenomenológica
existencial. (p.p. 421-442). Curitiba: Juruá.

Critelli, D. M. (1996). Analítica do Sentido: uma aproximação e


interpretação do real de orientação fenomenológica. São Paulo:
Brasiliense.

Figueiredo, L. C. M. (2004). Revisitando as psicologias: da


epistemologia à ética das práticas e discursos psicológicos. 3.ed.
ver. e ampl. Petrópolis, RJ: Vozes.

Houaiss, A. & Villar, M. S. (2009). Dicionário eletrônico Houaiss


da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.

Mahfoud, M. (1999). Plantão Psicológico: novos horizontes. São


Paulo: Companhia Ilimitada.

Morato, H. T. P. (1999). Aconselhamento Psicológico: uma


passagem para a transdisciplinariedade. In: Morato, H. T. P.
(org.) Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos
desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Morato, H. T. P. (2008). Prática psicológica em instituições: ação


política. In: Anais doVIII Simpósio Nacional Prática Psicológica
em Instituição - Atenção Psicológica: experiência, intervenção e
pesquisa. São Paulo. v. 1, p. 1-19.
120

Santos, S. E. de B., Barreto, C. L. B. T.& Morato, H. T. P. (2015).


Produção nos PPGs sobre ação clínica numa perspectiva
fenomenológica existencial: análise compreensiva Ekstasis:
revista de hermenêutica e fenomenologia. n. 2, v.3, p. 112-134.
121

3.3 PANORAMAS DA INFÂNCIA E DA


ADOLESCÊNCIA, UM ESTUDO
FENOMENOLÓGICO SOBRE AÇÕES
PSICOEDUCATIVAS EM INSTITUIÇÕES

Profª Drª Luciana Szymanski


Psicóloga, Terapeuta, Docente da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo - Curso de Psicologia e Programa de Estudos Pós-
Graduados em Educação: Psicologia da Educação. Líder do Grupo
de Pesquisa Práticas Educativas e Atenção Psicoeducacional na
Escola, Família e Comunidade (ECOFAM) e membro do e Grupo
de Pesquisa Aprendizagem Significativa na formação de
profissionais de saúde e educação (IPUSP).

E-mail: lucianaszymanski@gmail.com

O presente trabalho abarca oito projetos de mestrado em

andamento pelo Programa de Pós Graduação Educação: Psicologia

da educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e

quatro Iniciações Científicas. O projeto amplo “Panoramas”

apresenta um olhar crítico ao conceito tradicional de

desenvolvimento humano na psicologia, segundo o pensamento

fenomenológico-existencial e tem como objetivo analisar e

desenvolver ações psicoeducativas em instituições educacionais, na

interface da psicologia e educação. Aprofunda, com isso, estudos


122

sobre a metodologia da pesquisa intervenção. As pesquisas que

compõem o projeto “Panorama” exploram vários temas como

inclusão, gênero, plantão psicoeducativo e questões da infância e

adolescência, considerando em suas investigações o olhar dos

alunos, gestores, professores e famílias.

As análises fundamentam-se na análise do sentido, a partir

do pensamento heideggeriano e dialogam com o pensamento de

Paulo Freire no que diz respeito à noção de diálogo.

Como procedimento desenvolve-se a prática de

reconhecimento do território, observação participante, encontros

grupais e entrevistas reflexivas. Estamos falando, assim, de um

projeto “guarda-chuva” que se desdobra em várias intervenções

concomitantes organizadas, sistematizadas e analisadas por um

grupo de pesquisadores em parceria com algumas instituições

públicas educacionais (escola de ensino fundamental, de educação

de jovens e adultos e centro de educação infantil) que atendem

crianças e adolescentes, suas respectivas famílias e educadores.

Escolhemos apresentar aqui especificamente os resultados

de um dos trabalhos de pesquisa e intervenção numa escola de


123

ensino fundamental que, por sua vez, solicitou uma intervenção e

análise sobre seus adolescentes e as relações de cuidado que a

instituição pode e deve desenvolver com essa faixa etária.

A pesquisa em questão, cujo objetivo foi de reconhecer

quem é o adolescente, o que ele pensa de sua escola e o que a escola

pensa e espera dele, foi financiada pela CNPq e já foi concluída.

Será aqui apresentada como um desdobramento do Projeto

Panoramas. As demais pesquisas que fazem parte do projeto maior

ainda estão em andamento e portanto ainda sem seus resultados

sistematizados.

O trabalho com adolescentes se fez urgente pelo fato de que

algumas questões relativas a essa faixa etária causava um impacto

peculiar nos educadores – isto é, nos responsáveis que transitam nos

diferentes âmbitos da instituição (gestão, funcionários, professores)

– que pediram auxílio para o desenvolvimento de repertório na

relação com esse grupo de alunos.

Outra justificativa para essa demanda foi o fato de que os

adolescentes estão em vias de sair da escola de ensino fundamental

e se dirigir para o ensino médio ou mercado de trabalho, conforme


124

aparece em suas narrativas. Isso significa que a escola se

preocupava com um projeto de futuro para essa população e pediu

parceria com a universidade para a discussão sobre

encaminhamentos. Afinados com essa preocupação implantamos

conjuntamente alguns projetos de pesquisa-intervenção, conforme

trabalhamos no grupo de pesquisa ECOFAM. Para que

entendêssemos o incômodo/desafio que a convivência com os

adolescentes produzia, desenvolvemos especialmente essa pesquisa

que, no bojo do Projeto “Panoramas da infância e da adolescência,

um estudo fenomenológico sobre ações psicoeducativas em

instituições”, denominou-se “O adolescente e a escola: uma leitura

fenomenológica”. Contamos com quatro alunos da graduação para

seu desenvolvimento.

A pesquisa teve como eixo quatro questões: 1. como os

adolescentes se colocam em relação à escola; 2. qual o olhar dos

professores em relação aos adolescentes 3. como os funcionários

percebem os adolescentes e 4. como os gestores interpretam as

ações desenvolvidas na escola com esta faixa etária. A equipe

acompanhou a escola durante um ano, reconheceu o território e se


125

vinculou com os atores da cena escolar. Entrevistou, por fim, sete

pessoas (diretor; uma funcionária; dois professoras; três

adolescentes).

O procedimento metodológico, em afinação com o

pensamento fenomenológico pautado nos princípios da pesquisa

qualitativa – que aspira uma compreensão interpretativa (DENZIN,

LINCOLN et all, 2006) – foi o da entrevista reflexiva

(SZYMANSKI, H. 2013), cuja premissa é o entendimento de que

uma entrevista pode e deve apresentar uma condição de

reflexividade, o que significa uma relação calcada na

horizontalidade entre entrevistador e entrevistado. Tal

procedimento implica uma dinâmica dialógica entre os

participantes.

O processo considera não apenas um movimento de simples

escuta, ou coleta de dados (no sentido unilateral), mas uma contínua

volta ao entrevistado, movimento este que tem como objetivo o

esclarecimento daquilo que está sendo dito, bem como a criação de

um espaço de interação no qual o entrevistado se sinta confortável.

Não possuir um roteiro prévio além da questão desencadeadora e da


126

questão-eixo, que é o principal interesse do trabalho, constitui um

importante aspecto da entrevista reflexiva: trata-se de um exercício

de abertura, por parte do entrevistador, para aquilo que se

manifestará, e que não necessariamente se conhece.

Trata-se de um preparo para o inusitado, desconhecido, para

o vir-a-ser, ou seja, para a gama de possibilidades com a qual temos

que lidar no âmbito da psicologia (na pesquisa ou não). Este é,

portanto, um recurso metodológico. A ausência do roteiro detalhado

e prévio constitui o próprio recurso. Cada um dos quatro

pesquisadores elaborou uma questão desencadeadora, que é a

primeira questão a ser feita, cujo caráter amplo permite que o

participante discorra o mais livremente possível sobre o tema.

A questão desencadeadora impulsiona a entrevista e a fala

do entrevistado para uma revelação de sua experiência original e

pessoal. Deve abordar quais são as expectativas, queixas, demandas

e percepções que se revelam no encontro entre adolescentes e

escola, de maneira geral; como se trata da inserção na escola de

quatro pesquisadores, foram realizadas quatro perguntas, a saber:

Como os adolescentes se colocam em relação à escola?; Como os


127

professores percebem os adolescentes?; Como os funcionários

percebem os adolescentes?; Como os gestores interpretam as ações

desenvolvidas na escola com esta faixa etária?

Em relação à análise e aos resultados, preocupamo-nos com

a questão do sentido. Assim, elegemos a fala do participante na sua

totalidade e olhamos para ela na perspectiva do sentido entendido

como possibilidade de compreensão: “(...) o sentido é o contexto no

qual se mantém a possibilidade de compreensão de alguma coisa,

sem que ele mesmo seja explicitado ou, tematicamente,

visualizado.” (HEIDEGGER,1993, § 65). Percorremos pela fala da

maneira como ela foi apresentada pelo participante e pelo

entrevistador, já que é parte do método analisar também as

intervenções daquele que realiza a entrevista. Também partimos do

entendimento de que a escola é o espaço do encontro e do

desencontro, da experimentação e do conflito. É também um espaço

próximo e supostamente conhecido, onde tanto o pesquisador como

o participante habitam cotidianamente, tornando a análise dos dados

ainda mais delicada.


128

A hermenêutica, influenciada pelo pensamento

fenomenológico, traz importante contribuição sobre a questão da

compreensão daquilo que aparece, num claro questionamento à

neutralidade:

Uma pessoa que procura compreender um texto (discurso ou

contexto) está preparada para que este lhe diga algo. Por isso uma

mente preparada pela hermenêutica deve ser, desde o princípio,

sensível à novidade do texto. Mas este tipo de sensibilidade não

implica nem "neutralidade" na questão do objeto, nem a anulação

da personalidade dessa pessoa, mas a assimilação consciente dos

significados prévios e dos preconceitos. (GADAMER apud

BLEICHER, 1980: 155, grifo nosso).

Assim, a interpretação do sentido é uma tarefa

hermenêutica; nela a compreensão é a antecipação de um novo

projeto de sentido. Podemos daqui recuperar o problema de

pesquisa e inseri-lo nesta tarefa. Como o jovem interpreta a escola?

Como a escola o percebe? Quais sentidos aparecem na sua fala e

ação? Quais sentidos aparecem no espaço escolar, na maneira como

é organizado, nas práticas cotidianas, nas aulas? Quem lerá tais


129

sentidos? Qual sua postura como pesquisador? Quais noções a

priori aparecem na investigação? Como preparar uma “mente para a

hermenêutica”? Essas são algumas das preocupações que edificam a

atual pesquisa; passam pelo problema propriamente dito e

estendem-se para o preparo do pesquisador que vai à campo que

está em processo de formação. Assim, aquilo que se revela “é

negociado mutuamente no ato da interpretação; não é simplesmente

descoberto” (DENZIN, LINCOLN, 2006, p. 199).

Após a realização e transcrição das entrevistas reflexivas

com os atores da escola que participaram ativamente do processo de

pesquisa, foram feitas leituras em grupo ao longo de encontros na

universidade. Para análise dos dados, agrupamos os principais

temas que apareceram nas entrevistas em unidades significativas

denominadas “Constelações”. Szymanski, H. (2004) traz a tona

uma série de autores que corroboram com a ideia de que a

compreensão acontece em situação, a partir de um determinado

horizonte de significação. Assim, a ideia de constelação pode ser

um bom paralelo para se falar das possiblidades de interpretação de


130

um texto já que, o conjunto das estrelas propriamente ditas, são

observadas conforme as possibilidades do seu observador.

À semelhança de um céu estrelado, várias constelações

podem ser delineadas. Consta que os índios guaranis vêem outras

configurações de nosso céu e definem outras constelações, como

“Tamanduá”, “Pote de Mel”. Índios do Xingu nomeiam inclusive os

vácuos, onde não se vê nenhuma estrela e usam outros referenciais

para se orientarem pelas estrelas e definirem seu calendário

(SILVA, 2003 apud SZYMANSKI, 2004)”.

As constelações que apareceram receberam as seguintes

denominações: Gênero; Escola como espaço de acolhimento;

Protagonismo na escola; Família e escola. Esses conjuntos mais

amplos dizem respeito a todas as entrevistas, permitindo uma

análise mais ampla de todas as entrevistas e do perfil da escola de

modo mais geral. É a análise das constelações que permite uma

devolutiva para a instituição daquilo que se revelou na pesquisa.

Por fim, a pesquisa revelou tópicos importantes que

atravessam a instituição escolar quando o assunto é “adolescência”.

Na intenção de trazer à tona a percepção de adolescência de um


131

coletivo, pode-se dizer que importantes facetas da adolescência se

revelaram. Dessa forma, o movimento de “voltar ao adolescente”

nos fez destrinchar os sentidos revelados na fala de cada um dos

entrevistados. E o adolescente, que já não pode ser referido como

“O” adolescente, aparece de várias maneiras e, junto com ele,

constituindo seu caráter de ser-aí, aparece seu mundo, que nesse

caso é o mundo dos moradores de um bairro de periferia,

atravessado pelas questões da sociedade desigual em que vivemos,

e que segrega nossos adolescentes, crianças e população como um

todo.

No entanto, vemos nessa escola – situada em uma

localização pouco privilegiada da cidade em relação à oferta de

equipamentos de cultura, transporte, saúde e educação – um projeto

pedagógico primoroso que deveria ser divulgado o mais

amplamente possível.

Essa pesquisa pretendeu, dentre outras coisas, ao investigar

o sentido de ser adolescente nesse local, também divulgar para a

comunidade acadêmica um projeto de escola democrática e

dialógica. Trata-se de uma escola que olha para seus adolescentes,


132

respeitando-os nas suas especificidades, pois isso aparece nas falas

de representantes de todas as instâncias das escolas, e

principalmente nas falas dos próprios adolescentes.

Eles próprios se colocam com muitas perspectivas e sonhos

e um reconhecimento em relação à escola e seus projetos de contra

turno, bem como uma identificação com as propostas que lhes são

oferecidas (projeto de música no recreio; literatura suburbana,

danças brasileiras, cultura africana, entre outros). Isso não significa

um olhar que não problematiza, pelo contrário.

O olhar de cada entrevistado problematiza o adolescente e

fala das fragilidades da faixa etária e das necessidades de

investimento. Os discursos apontam para questões do mundo do

adolescente, entendido como sua família, seu papel social, seu papel

de gênero, suas possibilidades de diversão e dos riscos que fazem

parte do seu cotidiano.

A escola, como resposta à nossa pergunta inicial, sobre

quem é esse adolescente, também nos ensinou sobre a

horizontalidade sobre a qual se falou no projeto de pesquisa como

um todo. Pode-se dizer que essa escola apresenta um olhar


133

respeitoso e problematizador acerca da adolescência: vê seus alunos

como potência, como projetos, como futuro. Como vir a ser

cidadãos que se preocupam com sua condição. Assim a instituição

cria, com quase nenhum recurso, uma (muitas) situação (ões) para

que esse aluno se veja como um leque de possibilidades.

Por fim, os dilemas que vários entrevistados trazem à tona

como a questão do limiar entre democracia e perda de respeito pelo

adulto, ou dificuldade de se colocar limite; papeis sexuais desiguais

que restringem pessoas a um espaço específico; o consumo como

possibilidade de aquisição de respeito social; o papel da família; a

questão da vulnerabilidade que é explicita nessa região, dentre

outros aspectos, servem para que se pense junto à instituição

iniciativas de reflexão-ação mais sistemáticas.

Como a presente pesquisa está inserida em um contexto

maior de intervenção de longo prazo – o projeto Panoramas – ela

aponta para questões que se desdobrarão em ações no âmbito de

estágios, pesquisas e outras iniciativas não necessariamente

vinculadas à academia que façam desenvolver o potencial da escola

e do território: um exemplo desse desdobramento foi a decisão de


134

implantar um projeto de discussão sobre gênero e diversidade, já

que esse tema atravessou a fala de todos os participantes da

pesquisa e ocupou lugar central na narrativa dos adolescentes.

Na devolutiva da pesquisa, feita em um contexto de

assembleia, chegou-se conjuntamente à conclusão de que um

projeto direcionado ao adolescente e que abarcasse esse tema se

fazia urgente. Assim, uma intervenção abre espaço para outra: a

pesquisa expande o escopo dos questionamentos institucionais e

traz novas possibilidades de intervenção, desnaturaliza termos e

conceitos muitas vezes engessados e proporciona ao psicólogo em

formação a possibilidade de (des/re) construir conjuntamente com a

comunidade novos olhares e práticas.

Palavras chaves: Fenomenologia; Educação; Adolescência, Escola.

Referências

Bleicher, J. (1980). Hermenêutica Contemporânea. Lisboa: edições

70.
135

Denzin, Lincoln et all. (2006).O Planejamento da Pesquisa

Qualitativa: Teorias e Abordagens. Porto Alegre: Artmed.

Heidegger, M. (1993). Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá

Cavalcanti. Rio de Janeiro: Petrópolis, Vozes.

Szymanski, H. “A Prática Reflexiva em Pesquisas com Famílias de

Baixa Renda”, 2004. Anais do II Seminário Internacional de

Pesquisa e Estudos Qualitativos. A pesquisa qualitativa em

debate. 25 a 27 de março de 2004. Bauru, USC.

Szymanski, H. Szymanski, L. (2013). Repercussões do Pensamento

Fenomenológico nas Práticas Psicoeducativas. In.

BARRETO, C; MORATO, HTP; CALDAS, M. (orgs).

Prática Psicológica na Perspectiva Fenomenológica. Curitiba:

Juruá Editora.
136

CIRANDA TEMÁTICA IV

POSSIBILIDADES DE AÇÃO CLÍNICA NA


PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA

4.1 PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL:


UMA COMPREENSÃO HERMENÊUTICA FILOSÓFICA
SOBRE AS POSSIBILIDADES DE AÇÃO CLÍNICA EM
INSTITUIÇÕES

Profª Drª Carmem Lúcia Brito Tavares Barreto

Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da


Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP

Coordenadora do Laboratório de Psicologia Clínica


Fenomenológica Existencial – LACLIFE

Coordenadora da Linha de Pesquisa “Praticas Psicológicas em


Instituições” do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clinica
da UNICAP.

E-mail: carmemluciabarreto@hotmail.com

É crescente a ação do psicólogo clínico em contextos

institucionais, junto a populações vulneráveis, em organizações de

serviços prestados por clínicas-escola e na discussão e

implementação de intervenções clínicas no âmbito da saúde. Por se


137

tratar de uma inserção relativamente recente, é possível apontar a

escassez de produção científica e de propostas que possam subsidiar

a ação do psicólogo em diversas modalidades de prática psicológica

em instituições.

O presente texto tem como objetivo primeiro discutir as

possibilidades de prática psicológica em instituições de saúde e

educação em diálogo com a perspectiva da Hermenêutica Filosófica

de Martin Heidegger. A ação clínica do psicólogo nas diversas

modalidades de prática psicológica em instituições vem sofrendo

alterações, exigindo a contextualização da analítica da cotidianidade

a partir do horizonte histórico contemporâneo.

A apropriação crítica de nosso horizonte histórico apresenta-

se como tarefa contínua do pensamento, incidindo como tarefa

urgente do psicólogo, principalmente no que concerne às práticas

psicológicas desenvolvidas nas diversas instituições. Tal tarefa

revela-se urgente em uma época em que somos conclamados a

trilhar o caminho do sucesso e da felicidade numa atitude que exalta

a eficácia compulsiva, ao lado de uma postura conformista e

depressiva diante de um mundo cada vez mais hostil e competitivo.


138

Diante de tal contexto, deparamo-nos com um

“estranhamento crítico” ao lado de uma suspensão dos valores e dos

discursos dominantes. A patologização médica ou psicológica do

sofrimento humano, diante de tal estranhamento e da experiência da

“vida em risco”, ao acenar com promessas de cura que buscam o

bem-estar rápido e eficaz, leva o ser humano a abrir mão do que lhe

é mais essencial para sua existência: o pensamento e a liberdade.

A perspectiva fenomenológica existencial, ao modo de

Heidegger, ao possibilitar uma compreensão filosófica crítica e

desconstrutiva do pensamento predominante na modernidade,

expõe os riscos a que a vida humana está submetida no momento

contemporâneo. Época histórica instituída quando as relações do

homem com os outros homens e com os demais entes se dão a partir

das exigências e imperativos da ciência moderna, condenando a

vida humana a um destino compreendido por um olhar

tecnocientífico.

Nessa direção, abre questionamentos sobre o sofrimento do

homem contemporâneo na era da técnica - fenômeno crescente no

momento atual – o qual se encontra entercortado e acossado pelo


139

controle tecnológico da vida biológica e social, pela intensificação

da violência cotidiana, pela destruição da natureza. Nessa direção,

refletir a condição de exposição da vida humana a toda sorte de

riscos na modernidade técnico-científica é de fundamental

importância na proposição de um modo de pensar que possa

favorecer a constituição de uma prática psicológica que, ao apontar

para outras possibilidades de tematização dos fenômenos

psicológicos, possibilite pesquisar outros modos de intervenção

clínica nas diversas instituições de saúde e educação.

Os questionamentos feitos por Heidegger, ao possibilitarem

uma reviravolta nos pressupostos que fundamentam as teorias

psicológicas tradicionais, ofereceram subsídios para pensar a ação

clínica a partir da dimensão ontológica existencial do acontecer

humano, desvinculada do domínio da técnica, fenômeno essencial

da ciência moderna. Desse modo, apontam para o ultrapassamento

da ciência e da própria filosofia pelo pensamento não metafísico e

que poderia favorecer “a constituição de disciplinas científicas

existencialmente fundadas, as quais escapassem dos dilemas e


140

perigos em que a pesquisa científica tradicional se enreda sem sabê-

lo” (Duarte, 2010, p. 142, grifo do autor).

É importante ressaltar que tal perspectiva possibilita adotar

novos pontos de partida mais originários, capazes de orientar a

aproximação da Psicologia aos fenômenos clínicos de modo mais

radical, respeitoso e aderente às suas manifestações existenciais

imediatas no nosso tempo e no nosso contexto de globalização da

objetificação e reiterações técnicas.

Desse modo, parece possível estabelecer convergências

entre o registro ôntico (teorias psicológicas) e o ontológico

(elucidação do modo de ser do homem) na experiência humana,

mantendo a diferença entre esses dois planos (Barreto, 2006). Para

tanto, é necessário ambos se manterem na abertura, apesar da

diferença entre os modos de reflexão que desenvolvem: a referência

ôntica teórico-científica da psicologia clínica visa a compreender e

propor modos de intervenção nos fenômenos psíquicos singulares

que se manifestam em modos de sofrimento e adoecimento,

enquanto a referência ontológica se volta para a elucidação do

modo de ser do homem, condição e fonte dos fenômenos psíquicos.


141

A convergência entre esses dois registros é também

considerada por Safra (2004), na sua Clínica Sobórnost, ao

considerar a dimensão ontológica como “fundamento” para a ação

clínica, apontando para a necessidade do estabelecimento, no

processo terapêutico, “de uma situação que possibilite o acontecer

da condição humana, a partir da compreensão daquilo que é

ontológico no ser humano” (p. 33).

Para Loparic (2002), Winnicot, com sua psicanálise centrada

na teoria do amadurecimento, realiza, sem saber, o projeto

heideggeriano de uma ciência do homem não naturalista. Ao

conceber tal proximidade, aponta para a possibilidade de uma

leitura winnicottiana de Heidegger como caminho para uma

reinterpretação das ideias do filósofo alemão através da busca de

novos existenciais ou “novos modos de dizer a verdade do ser – a

partir da experiência ôntica acessível exemplarmente na prática

psicoterápica winnicottiana” ( p. 410-411).

O reconhecimento desses dois registros da experiência

humana remete ao pensamento de Heidegger, na busca de refletir

possibilidades dos pressupostos fenomenológicos existenciais


142

“fecundarem” uma ação clínica, que acontece no plano ôntico, de

modo a abrirem caminho para pensar a convergência entre as

dimensões ôntica e ontológica da condição humana na prática

psicológica. A ação clínica convergente com tal compreensão

demanda a explicitação de “reflexões” que, além de orientarem a

intervenção clínica e ressaltar suas possibilidades e limites,

redefinam a clínica psicológica.

Palavras-chave: ação clínica, prática psicológica, hermenêutica


filosófica, instituições, saúde.
143

4.2 PSICOLOGIA DO ESPORTE: UMA


POSSIBILIDADE DA ESCUTA CLÍNICA
FENOMENOLÓGICA
Profª Drª. Erika Hofling Epiphanio

Universidade da Vale do São Francisco- Univasf/ Colegiado de


Psicologia
NEPFE- Núcleo de Estudos e Pesquisa em Fenomenologia e
Esporte
E-mail: erikapsicoesporte@yahoo.com.br

A proposta deste trabalho é abrir uma discussão sobre de

que maneira a escuta clínica fenomenológica é uma possibilidade

de atuação em Psicologia do Esporte. Esta discussão baseia-se na

minha experiência enquanto psicóloga que atua no contexto

esportivo há quase 2 décadas, tendo a fenomenologia como

embasamento teórico e metodológico de meus trabalhos

interventivos, bem como investigativos.

A prática da Psicologia do Esporte ainda é uma área pouco

difundida nos cursos de psicologia no Brasil e pensar nesta

possibilidade de atuação do psicólogo sob o olhar fenomenológico

ainda é menos conhecido.

Por diversas vezes obtive um espanto dos profissionais da

psicologia ao apresentar este “feliz” casamento entre esporte e


144

fenomenologia, no entanto, considero este um caminho muito

eficiente, significativo e que abre muitas possibilidades de pensar o

homem, o atleta e o esporte em uma perspectiva mais humana,

considerando toda a subjetividade peculiar também neste contexto

de atuação do psicólogo.

Para dar início a esta discussão irei contextualizar

brevemente a Psicologia do Esporte enquanto campo de atuação do

psicólogo. Os primeiros trabalhos que surgiram em que se

propuseram a discutir o esporte alinhado a aspectos psicológicos

datam de 1895. Após este período aparecem alguns trabalhos

isolados em que pensam esta ligação de conhecimento. No entanto,

a área começa a se solidificar quando o esporte de alto rendimento

se transforma em uma manifestação de interesses políticos e

econômicos exigindo que se pense o atleta de uma maneira mais

abrangente para que o mesmo atinja o máximo de suas

possibilidades competitivas.

Com o tempo, a Psicologia do Esporte ganha espaço

científico focando principalmente em habilidades psicológicas que

auxiliem o atleta a elevar seu desempenho físico. No entanto,


145

principalmente após os anos 90, a Psicologia do esporte se amplia

na perspectiva de pensar também de que maneira a prática esportiva

contribui ao bem estar psicológico, como esta prática pode ser

associada à recuperação de diversas patologias físicas e psíquicas e

ainda, um outro campo que se destaca é o esporte como ferramenta

educacional, sendo que através desta prática é possível desenvolver

habilidades fundamentais ao crescimento da criança em termos

físicos, psíquicos e sociais.

A partir desta breve apresentação proponho pensar esta área

à luz da fenomenologia. Compreender a Psicologia do Esporte sob

o olhar da fenomenologia tem sido bastante significativo em minha

prática enquanto psicóloga atuando com atletas, treinadores, pais de

atletas e também como supervisora de estágio no contexto

esportivo, no entanto para o desenvolvimento deste trabalho focarei

no trabalho interventivo que realizei com atletas de alto-rendimento

em diversas modalidades esportivas.

Para esta reflexão partirei da visão de homem proposta pela

fenomenologia que considera o homem como uma unidade

complexa e subjetiva, da qual não se separa mente e corpo, uma

prática bastante comum no contexto esportivo e que, a meu ver


146

limita profundamente as possibilidades de compreensão do

indivíduo atleta.

Quando Husserl propõe a Fenomenologia enquanto campo

de investigação científica, criando critérios para se conhecer os

aspectos subjetivos do ser humano por meio da redução

fenomenológica, ele abre a possibilidade de conhecer o homem em

sua essência, a partir de suas próprias experiências, criando com

isso uma atitude fenomenológica diante do que se pretende

investigar. Este tem sido o caminho do qual tenho percorrido pra

compreender o ser-atleta, bem como o contexto do esporte.

Os pressupostos teóricos apresentados por Merleau-Ponty

fazem jus a esta importante relação entre o esporte e a psicologia,

pois este autor trabalha a noção de corpo pela fenomenologia, em

que parte da ideia de que o corpo é a pura percepção do mundo.

Nós somos constituídos enquanto ser que existe pelas nossas

percepções captadas pelo corpo. As manifestações de

temporalidade, bem como de espaço são vivenciadas pelo corpo,

logo o corpo é a expressividade da existência e ao pensar por esta

perspectiva fica inviável considerar o atleta de maneira dicotômica.


147

E ainda outro aspecto que acredito ser importante salientar é

o ser-no-mundo. Para se obter conhecimento sobre o homem é

fundamental que haja compreensão do mundo em que este está

inserido, sendo que o homem é um ser provisório e sua verdade é

relativa ao momento, ao tempo, ao espaço e as relações vividas,

indicando com isso que o que diz respeito ao indivíduo, ao homem

e ao atleta não se trata de um conhecimento absoluto. Com isto,

podemos afirmar que para se compreender o ser-atleta é necessário

adentrar ao meio em que este está inserido, o mundo do esporte,

considerando suas peculiaridades. Ao trabalhar em Psicologia do

Esporte é necessário compreender e trabalhar junto ao atleta as

relações (ser-com-outros) partindo-se das relações do contexto

específico que são bastante particulares como: relação atleta-

treinador, atleta e companheiros de equipe, atletas e seus

adversários, mas para se completar uma compreensão existencial do

ser-atleta é fundamental considerar também as relações de vida

pessoal.

As ideias acima apresentadas são de grande importância

para se pensar no trabalho interventivo do psicólogo no contexto


148

esportivo, que se propõe a uma compreensão de base

fenomenológica em sua prática.

E então, irei explanar rapidamente sobre a escuta

fenomenológica como uma ferramenta reflexiva de grande utilidade

para o desenvolvimento do atleta, pois esta proporciona um

movimento de autoconhecimento, fundamental para que o ser-atleta

desenvolva uma maior consciência de suas possibilidades, de suas

limitações e de seus processos de escolha, oferecendo assim uma

maior autonomia do indivíduo em sua vida no esporte e fora dele.

O homem atual, aqui e presente, vive a pressão da

produtividade. A produtividade é o comportamento esperado pelo

homem atual. E é fato, o homem, o indivíduo e o atleta autônomos,

possuem habilidades mais sustentáveis ao modo de ser produtivo.

A escuta fenomenológica do atleta aponta para reflexões sobre o

potencial do autoconhecimento para o desenvolvimento positivo da

autoestima, da responsabilização pelas escolhas e total autonomia

no processo de construção da vida de atleta. Com isto posso

concluir que o a escuta fenomenológica clínica, no contexto

esportivo, tem se mostrado uma estratégia de cuidado importante ao

indivíduo atleta que tem em seu contexto uma grande cobrança para
149

ser mais, se doar mais, ir além e em geral, não é visto em suas

manifestações humanas.

Quando construímos uma relação de ajuda psicológica na

perspectiva fenomenológica, estabelecemos uma relação humana,

que pode olhar, compreender e cuidar do ser-atleta em toda a sua

existência, proporcionando assim uma atuação da psicologia do

esporte que vai além do contexto esportivo, pois o atleta, além de

ser atleta é um ser existente.

Palavras-chave: Fenomenologia, escuta clínica e Psicologia do

Esporte.

Referências:

Amatuzzi, M. M. (2009) Psicologia fenomenológica: uma


aproximação teórica humanista. Estudos de Psicologia,
Campinas 26 (1), 93-100.

Critelli, D.M. (1996) Analítica do sentido. São Paulo: Editora


Brasiliense.

Forghieri, Y.C.(1993). Psicologia Fenomenológica: fundamentos,


método e pesquisas. São Paulo: Pioneira.

RanieriI, L.P., Barreira, C. R.A.(2010). A superação esportiva


vivenciada por atletas com deficiência visual: um estudo
150

fenomenológico. Rev. Bras. de Psicologia do Esporte, v. 3, n.


2.

Rubio, K. (org).(2000) Psicologia do esporte: interfaces, pesquisa e


intervenção. São Paulo: Casa do psicólogo.

Castro, P. A.(2008) A onto-fenomenologia do mundo em Merleau-


Ponty ou o (im) pensado de Husserl. Uma proposta de leitura
a partir do filósofo e sua sombra. Estudos e Pesquisa em
Psicologia, UERJ, 8. (2),179-190.

Merleau-Ponty, M.(1971). Fenomenologia da Percepção. Rio de


Janeiro: Livraria Freitas Barros.

Prado, R.A.A, Caldas, M.T., Queiroz, E.F. (2012) O corpo em uma


perspectiva fenomenológico-existencial: aproximações entre
Heidegger e Merleau-Ponty. Psicologia: Ciência e profissão,
32 ( 4), 776-791.
151

4.3 A ATENÇÃO PSICOLÓGICA À AÇÃO


ARENDTIANA NO PLANTÃO PSICOLÓGICO

Profa. Dra. Simone Dalla Barba Walckoff

Universidade Católica de Pernambuco

simonewal@ig.com.br

Este trabalho versa sobre os resultados iniciais de uma

pesquisa cujo objetivo é investigar a atenção à ação arendtiana no

plantão psicológico por meio da análise da narrativa contida em

diários de bordo de alunos, da supervisora e do relato dos

atendimentos. A análise parcial dos diários de bordo e dos relatos

vêm apontando para a importância da compreensão conjunta da

demanda emergente no atendimento, constituindo uma grande

narrativa possibilitadora de ação.

A prática psicológica é foco de estudos de diversos grupos

de pesquisa. Isto se justifica, em grande parte, pela frequente

dissonância entre a intervenção psicológica realizada e a

necessidade da população atendida. Nesse sentindo, este trabalho

tem como objetivo apresentar os resultados preliminares de uma


152

pesquisa de caráter interventivo que tem como horizonte investigar

modos de prática psicológica que atentem para a demanda e se

constituam a partir dela, à luz do pensamento de Hannah Arendt.

A compreensão de prática psicológica adotada é a trazida

por Figueiredo, na qual as atuações na área da psicologia, apesar de

todas as diferenças, é que esta se dá no encontro com o outro. Nele,

o psicólogo é afetado e é esta afetação que o convoca para um

modo de intervenção. Deste modo, a prática psicológica não é mera

aplicação teórica; ela se constitui na relação entre os participantes.

Tal condição da atenção psicológica não exclui conhecimentos dos

mais diversos. Estão presentes, por exemplo, todos os anos de

formação acadêmica, experiências profissionais e pessoais. No

entanto, estes só são acessados pela presença do outro, na

experiência do encontro.

Desse modo, a intervenção psicológica se delineia a partir de

uma atenção psicológica fruto do diálogo entre a teoria e a

experiência. A atenção psicológica assim compreendida convoca

para intervenções que tomam forma a partir do encontro, que não

podem ser replicadas e que precisam ser constituídas tendo como


153

referência a demanda que emerge do encontro entre os

participantes. Posto isto, outro ponto importante é que a pesquisa

mencionada busca investigar a ação, conforme compreendida por

Hannah Arendt, em uma modalidade de prática psicológica

específica: o plantão psicológico.

A escolha pela compreensão do fenômeno da ação humana

deve-se por esta aparecer como uma demanda recorrente nos

atendimentos psicológicos, conforme podemos constatar nas

pesquisas de Walckoff (2009), Andrade (2008), Freire (2007), entre

outras. A ação segundo Arendt (2001) é a atividade humana

vinculada à natalidade, mas esta não em seu sentido biológico, e

sim com o fato de “o” homem em sua biografia e “os” homens, na

história do mundo, possuírem o poder de dar início a um novo

movimento, que rompe com a linearidade, com a mesmice. A

autora, ao examinar o fenômeno da ação, o traz de modo muito

diferenciado do que tem sido posto historicamente.

A ação, em geral, tem sido descrita como aquela vinculada à

razão ou à emoção. Arendt (2002) relativiza o papel do pensamento

e da emoção no que tange o fenômeno da ação e traz para o seu


154

exame outras atividades humanas, como a vontade e o juízo. Além

disso, situa a ação no campo da política, ou seja, do mundo entre os

homens e não como um encargo da esfera da vida privada. A Ação

está vinculada à política pela condição humana de

pluralidade/singularidade. A pessoa que inicia a ação, a inicia pelo

fato de, por meio de atos e palavras, expor sua singularidade diante

de outros e, ao fazê-lo, distingue-se trazendo o inesperado, a

novidade. No entanto, esse inesperado compartilhado atinge não só

quem o trouxe, mas os que foram testemunhas de sua aparição.

Pelo fato de o homem ser sempre entre homens. Como

observa Arendt: “[(..) o idioma romano (...) empregava como

sinônimas as expressões ‘viver’ e ‘estar entre os homens’ (inter

homines esse). Ou ‘morrer’ e ‘deixar de estar entre os homens’

(inter homines esse desinere)” (ARENDT, 2001a, p. 15).

Segundo Arendt, “Como a ação atua sobre seres que

também são capazes de agir, a reação, além de ser uma resposta, é

sempre uma nova ação com poder próprio de atingir e afetar os

outros” (2001a, p. 203). Deste modo, a ação tem caminhos

imprevisíveis, pois ela surge sempre em meio a uma “teia de


155

relações” e por ela é “acabada”. O produto da ação não tem um

autor determinado, é, por isso, inesperado (e também irreversível,

visto que o que se fez não se pode apagar).

Como observa Arendt, “(...) as histórias, resultado da ação

e do discurso, revelam um agente, mas esse agente não é autor nem

produtor. Alguém a iniciou e dela é o sujeito, na dupla acepção da

palavra, mas ninguém é seu autor” (2001a, p. 197). Como se pode

observar, a ação está vinculada à política no sentido de ter nela o

seu fundamento. A esse respeito, Arendt assinala que essa é a única

atividade humana que não pode ser feita na solidão.

Nesse sentido, as reflexões trazidas por Hannah Arendt

podem auxiliar os profissionais de psicologia na atenção a demanda

por ação, que se faz tão presente nos atendimentos psicológicos. O

plantão psicológico, por ser um espaço de acolhimento à urgência

em compreender o vivido e assim poder vislumbrar outros

encaminhamentos para a existência, parece ser um lugar

privilegiado para a compreensão deste fenômeno.


156

No plantão, as pessoas encontram um espaço para

interromperem a vida cotidiana narrando sua história, refletindo

sobre a história contada para então seguirem em frente. Através da

narrativa para si mesmo e para o outro, outras compreensões acerca

do vivido e seu sentido (sua destinação) vão sendo constituídas

conjuntamente na relação entre plantonista e a pessoa que o

procurou. Essa modalidade de atendimento psicológico é oferecida

para a população de Recife pela clínica escola da Universidade

Católica de Pernambuco, como parte da pesquisa desenvolvida,

possibilitando a investigação do problema proposto.

Para realizar esta investigação o método interventivo

apresenta-se em consonância com o objetivo, buscando, como

lembra Heloisa Szymanski, além de investigar determinado

fenômeno fazê-lo por meio da realização de modalidades de prática

psicológica oferecida para a comunidade: no caso dessa pesquisa o

plantão psicológico. O relato dos atendimentos, os diários de bordo

dos plantonistas e da supervisora são analisados tendo como

inspiração o modo de análise da narrativa trazido por Critelli, tendo


157

como pano de fundo a compreensão de história e narrativa trazida

por Arendt, Walckoff (2013).

O plantão psicológico na clínica-escola da UNICAP tem na

compreensão conjunta da demanda trazida um de seus alicerces.

Esse modo de acontecer do plantão foi se constituindo por um lado

em razão da influência da experiência no LEFE (USP) e por outro

lado pela própria característica do grupo de alunos (as),

pesquisadores(as) e psicólogos (as) presentes no grupo.

A grande narrativa, podemos chamar assim, que surge a

partir de então em cada atendimento realizado aponta uma

proximidade com a ação. As análises iniciais dos relatos dos

atendimentos e dos diários de bordo dos plantonistas e da

supervisora, destacam o modo de tecitura da grande narrativa como

dimensão essencial neste sentido. Esta é constituída por uma

diversidade de modos de percepção da experiência trazida pelo

paciente. Os olhares do paciente, dos plantonistas, da supervisão

(feita pelo grupo de plantonistas e pela professora/supervisora) vão

tecendo ao longo do atendimento uma história sobre a história

trazida.
158

É o compartilhamento do que emerge no atendimento, que

implica na explicitação de singularidades que apontam diferentes

modos de percepção, que surge a possibilita da novidade. Ao

configurar-se nesse espaço de abertura para o novo o plantão

retoma sua origem, o aconselhamento, mas este no sentido trazido

por Benjamin, quando afirma que “Aconselhar é menos responder

a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de

uma história que está sendo narrada...” (1994, p. 199). Ao longo

do atendimento, várias possibilidades de compreensão e

continuação aparecem com maior ou menor vigor e parece que esta

é uma maneira de atenção à ação no plantão psicológico.

Referências

ANDRADE, A. N. & MORATO, H. T. P. M. A dimensão ética (e


moral) das prática institucionais. Revista Estudos de Psicologia
UFRN, Natal, v. 09, nº 02, 2004. p. 345-353.

ANDRADE, Renata Capeli Silva. Plantão psicoeducativo:


cuidando dos educadores. 2008. Dissertação (Mestrado) – PUC,
São Paulo.
159

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo:


Perspectiva, 2000.

––––––. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 2001a.

––––––. Compreensão e política e outros ensaios. Lisboa:


Relógio D`Água Editores, 2001b.

––––––. A vida do espírito: o pensar, o querer, o julgar. 5. ed.


Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

CRITELLI, Dulce Mara. A história pessoal e sentido da vida:


historiografia..Educ, São Paulo, 2012.

FIGUEIREDO, L. C. (1993) Sob o signo da multiplicidade.


Cadernos de Subjetividade, n.1:89-95. PUC-SP, São Paulo.

MORATO, Henriette Tognetti Penha; ANDRADE, Ângela


Nobre de Andrade. Para uma dimensão ética da prática
psicológica em instituições. Estudos de Psicologia, n. 9 (2), p.
345-353, 2004.
160

SZYMANSKI, Heloisa. A prática reflexiva em pesquisa com


famílias de baixa renda. II Seminário de Pesquisas e Estudos
Qualitativos. SEPQ, Bauru, p. 34, São Paulo, 2004a.

––––––; CURY, Vera Engler. A pesquisa intervenção em


psicologia da educação e clínica: pesquisa e prática
psicológica. Estud. Psicol., Natal, v. 9, n. 2, p. 355-364, ago.
2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141
3294X2004000200018&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1413-
294X>.

WALCKOFF, Simone Dalla Barba. A questão da reflexão e da


ação nas práticas psicoeducativas na pesquisa interventiva.
2009. Tese (Doutorado) – PUC, São Paulo.
161

RODA NARRATIVA: CLÍNICA E PRÁTICAS FENOMENOLÓGICAS

UMA PROPOSTA HUMANISTA-FENOMENOLÓGICA EM CLÍNICA DO

TRABALHO: A HERMENÊUTICA COLABORATIVA

Shirley Macêdo Vieira de Melo – UNIVASF

mvm.shirley@gmail.com

No campo da interface entre a psicologia clínica e a psicologia organizacional e do

trabalho, surgiram nas últimas décadas as chamadas clínicas do trabalho. Com

abordagens diferentes, têm em comum serem práticas de pesquisa e intervenção que dão

centralidade à relação trabalho e subjetividade e adotarem propósitos emancipatórios,

almejando a ampliação do poder de agir do trabalhador. Em 2012, surgiu a clínica

humanista-fenomenológica do trabalho, que, utilizando o método da hermenêutica

colaborativa, embasa-se nos princípios teóricos da psicoterapia humanista de Carl

Rogers e nas filosofias de Maurice Merleau-Ponty e Hans-Georg Gadamer. A

metodologia visa promover o compartilhamento de narrativas de experiências para

favorecer a construção conjunta, entre clínico e clientes, de estratégias para elaboração

de projetos de felicidade humana. Objetiva-se, portanto, descrever a operacionalização

do método e os resultados alcançados por clientes que já se submeteram aos processos.

As intervenções são realizadas tanto em grupos interventivos (máximo 10 clientes cada,

conduzidos em torno de duas horas, quinzenalmente, por duplas de terapeutas), quanto

em atendimento individual semanal. O percurso se dá em círculo hermenêutico: 1.

Exploração do sentido da experiência (através de moldagem em argila, os sujeitos

expressam qual o sentido da sua situação atual de trabalho ou não trabalho); 2. Resgate
162

da consciência histórica (uso de dinâmica da foto da infância para favorecer a

apropriação subjetiva de características pessoais passadas que possam viabilizar o

enfrentamento das adversidades presentes); 3. Mapeamento de competências

(utilizando-se a dinâmica da maquete cidade, identificam-se habilidades e atitudes para

atuação no mercado de trabalho); e 4. Elaboração de projeto de felicidade humana

(construção de planilhas de planejamento de carreira, projeto ou livretos de vida). Os

clientes têm encerrado seus processos, sejam grupais ou individuais, verbalizando mais

clareza de si, do mundo e das possibilidades de manutenção e/ou reinserção no mercado

de trabalho; reconhecendo o próprio potencial; desenvolvendo habilidades interpessoais

e de liderança; ampliando vínculos sociais e fortalecendo vínculos afetivos; elevando a

autoestima; dentre outros. Conclui-se, principalmente, que, como os resultados têm

correspondido aos objetivados pelas técnicas utilizadas, pode-se apresentar ao meio

científico a sistematização metodológica da clínica humanista-fenomenológica do

trabalho.

Palavras-chave: clínica do trabalho; psicologia organizacional e do trabalho; psicologia

clínica; saúde mental e trabalho.


163

LEITURA GESTÁLTICA DO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO: UMA

CLÍNICA DA NEUROSE.

Gabriela de Menezes Sobreira Campêlo, Fernanda Letícia Leite Oliveira e Larissa

Gomes de Freitas- Faculdade Leão Sampaio

gabriela_demenezes@hotmail.com

Para os autores da Gestalt, ao nos inserirmos em determinada cultura, alienamo-nos às

suas normas para garantir o convívio e inclusão sociais e, muitas vezes, nesse processo,

deixamos de lado os nossos excitamentos que, desde cedo, aprendemos a reprimir

corporalmente. É esse o preço pago pela garantia de uma vida segura e previsível: uma

existência apática, desvitalizada. Desse reprimir deriva a neurose: um ajustamento do

self que impede a criatividade dos sujeitos e que se caracteriza essencialmente pela

evitação dos excitamentos espontâneos e interrupções, inicialmente deliberadas e que se

tornam habituais, dos processos de contato, resultando em atitudes desconcertadas,

sujeitos ressentidos e culpados, tímidos, ansiosos etc. Nesse sentido, o presente ensaio

objetiva discutir o papel do processo de escolarização no adoecimento neurótico, haja

vista o papel normatizador e de ajuste de sujeitos que a escola desempenha, sob uma

leitura da teoria da Gestalt acerca da clínica política dos ajustamentos evitativos, na qual

se enquadra a neurose, oferecendo assim, pressupostos teóricos que permitam pensar a

atuação do psicólogo escolar no sentido de prevenção, identificação e intervenção nessa

forma de adoecimento. Para esta discussão, a metodologia utilizada será uma revisão

bibliográfica de cunho qualitativo, que inclui material teórico coerente com a temática

proposta e que elucidem os conceitos base da teoria da Gestalt, mais especificamente a

clínica política da neurose, além dos processos de institucionalização dos sujeitos,


164

sobretudo a escolarização. A aplicação da teoria da Gestalt a um processo naturalizado

da cultura, que é a escolarização, ampliará a compreensão dos processos que geram

adoecimento, além de instrumentalizar o profissional psicólogo que poderá desenvolver

junto à escola, intervenções preventivas e terapêuticas, no sentido de potencializar a

espontaneidade, curiosidade e a capacidade de ajustamentos criativos dos sujeitos a

partir da realidade, permitindo-lhes o contato com o fluir de sua experiência.

Palavras-chave: Escolarização; Gestalt-terapia; Neurose.


165

AÇÃO CLÍNICA NO ACONTECER DO VIVER COTIDIANO:

COMPREENSÃO FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL

Suely Emilia de Barros Santos, Carmem Lúcia Brito Tavares Barreto, Ana Maria de

Santana, Danielle Siqueira Leite, Ellen Fernanda Gomes da Silva – UNICAP –

UPE/Campus Garanhuns – UNIFAVIP/DeVry

suely.emilia@upe.br

Este trabalho pretende apresentar o andamento de uma pesquisa de doutorado do

Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da Universidade Católica de

Pernambuco – UNICAP, a qual tem como objetivo propor, a partir de uma compreensão

da prática de psicólogos, como a ação clínica se dá a ver no acontecer do viver

cotidiano. O caminho a percorrer envereda pelo marco teórico dos pressupostos da

fenomenologia existencial, ao modo de Heidegger, os quais se mostram no assumir

pressupostos de uma atitude fenomenológica na clínica e não de uma “aplicação” ou de

uma teoria da clínica. Tomando como direção a questão-bússola: Como a ação clínica

de psicólogos, por uma compreensão fenomenológica existencial, se dá a ver no

acontecer do viver cotidiano, está em curso uma pesquisa qualitativa e interventiva,

sobre ação clínica, a qual toma como orientação para análise, a hermenêutica filosófica

de Gadamer e os movimentos de realização de Critelli. Alguns fenômenos se

desvelaram como próprios da ação clínica e da prática psicológica no modo de ser

clínico das participantes-psicólogas que trabalham na acontecência do viver cotidiano: a

intersecção entre Psicologia, arte, cultura e política; a inserção no cotidiano com

destaque para o se por em andança; a presença de uma ação do psicólogo como ação
166

clínica, política, ética e educativa coexistem indivisamente; uma prática psicológica que

acontece sem nomeação e, por fim, um questionamento a formação do psicólogo,

quando sua intervenção se faz no viver cotidiano, se revelando como principais

contribuições deste estudo.

Palavras-chave: Ação clínica; fenomenologia existencial; prática psicológica; viver

cotidiano.
167

EXPERIÊNCIA DE SEGURADOS DO INSS COM GRUPOS INTERVENTIVOS

NA CLÍNICA HUMANISTA- FENOMENOLÓGICA DO TRABALHO

Angelina Rodrigues de Oliveira Lima; Shirley Macêdo Vieira de Melo – UNIVASF

angelina.rodrigues@hotmail.com

A clínica humanista-fenomenológica do trabalho foi recentemente proposta e se utiliza

da hermenêutica colaborativa como metodologia de pesquisa e intervenção. Tem se

expandido em projetos de pesquisa e extensão na Universidade Federal do Vale do

São Francisco nos últimos três anos. Diante de tais avanços, esta pesquisa foi

desenvolvida num contexto de trabalho de conclusão de curso e teve por objetivo

compreender a experiência de segurados do INSS que participaram de grupos

interventivos neste enfoque. Os colaboradores foram sete segurados que responderam

individualmente a uma entrevista aberta com pergunta disparadora, gravada e transcrita.

Os dados foram analisados fenomenologicamente, considerando os seguintes passos: a)

leitura integral de todo o relato; b) encontro com elementos significativos da

experiência; c) presentificação dos sentidos das experiências; d)encontro dos sentidos

em comum das experiências de todos os participantes. Os resultados principais

resultados encontrados foram: ressignificação do sofrimento em um espaço coletivo de

discussão sobre a realidade vivida pelos segurados que sofrem por causa do afastamento

do trabalho; mudanças em modos de subjetivação, pois os sujeitos parecem ter

aprendido a pensar mais estrategicamente sobre seus projetos futuros, assim como

reconhecido o desenvolvimento de algumas competências, percebendo transformações

nos seus modos de agir que ocorreram graças aos processos vividos; estabelecimento de

vínculos afetivos, para além do compartilhamento de experiência nos grupos


168

interventivos; socialização com outros segurados que favoreceu sair da rotina; e

desenvolvimento de competências estratégicas para reinserção no mercado de trabalho.

Concluiu-se, principalmente, que oferecer um espaço intersubjetivo de

compartilhamento de experiências é uma ação efetiva em clínica do trabalho, por

permitir, para além do labor,ampliação do poder de agir do sujeito frente às

adversidades enfrentadas por quem está afastado do trabalho.

Palavras-chave: Clínica do Trabalho; Pesquisa Fenomenológica; Reabilitação

Profissional.
169

HERMENÊUTICA FAMILIAR COMO RECURSO COLABORATIVO NA

PROMOÇÃO DO CUIDADO JUNTO À CRIANÇA.

Ana Maria de Santana, Adgleicy Rodrigues Aquino, Andrielly Maria Pereira, Naianny

Sthefanny Souza Mendes, Natália Maria da Silva - UPE

sant_anm@hotmail.com

Este estudo visa comunicar sobre prática psicológica no Agreste de Pernambuco junto à

criança e seus familiares. Responde a solicitação da Universidade de Pernambuco

apoiando comunitários do Município de Garanhuns que demandam por uma atenção

psicológica devido às experiências de sofrimento no cenário social. Realizou-se uma

intervenção psicológica com o objetivo de promover o cuidado à criança em situação de

crise por meio da hermenêutica familiar. A intenção foi a de possibilitar diálogos com o

comunitário referendando experiências de vida, desenvolvimento infantil e existência. A

metodologia adveio da Fenomenologia Existencial na perspectiva de Gadamer, eleita a

interlocução como recurso de acesso e compreensão a hermenêutica familiar promotora

de cuidado. As ferramentas clínicas usadas foram – a escuta clínica viabilizadora de

atenção às demandas e a criação de vínculos que pressupõe dialogia. Foi assinalado um

sofrimento com forte predominância de valores culturais inclusos na trama comunitária

servindo de utensílio à compreensão e comunicação do que é vivido como mal-estar nas

experiências. Outra evidência diz respeito às demandas que parecem assinalar

imobilidade na complexidade móvel de se viver em cidadania. O atendimento

psicológico no contexto comunitário, partindo da afetação vivida na experiência clínica

e da elaboração de narrativas de aflição realizadas por meio da fusão de horizontes entre

cuidador e comunitários, auxiliou a análise compreensiva das demandas infantis. A


170

perspectiva gadameriana refere que no diálogo entre pessoas há proximidade de dois

horizontes que se interpenetram, resguardando as peculiaridades de cada uma no que se

refere à maneira específica de ser e do outro. Tal intervenção permitiu o sentido de uma

prática psicológica nessa comunidade, promoveu vínculos solidários com atores sociais

em crise vindo revelar modos de encaminhar a vida em experiências de sofrimento.

Palavras-chave: fenomenologia-existencial; prática psicológica em comunidade; saúde

da criança.
171

UM ESTUDO FENOMENOLÓGICO COLABORATIVO COM OFICINAS DE

DESENVOLVIMENTO DA ESCUTA

Monzitti Lima; Cristiane Quirino; Shirley Macêdo – UNIVASF

monzittibaumann@yahoo.com.br

Este estudo fundamentou-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de

graduação em psicologia. Situado na interface entre a Psicologia Organizacional e

do Trabalho e a Psicologia Clínica, é fruto de alguns resultados obtidos em pesquisa

anterior, pelos quais se constatou, dentre outros, que oficinas de desenvolvimento da

escuta podem constituir uma prática clínica em instituição de formação de

psicólogos. O objetivo geral foi, a partir da oferta destas oficinas nos momentos que

antecediam a entrada nos estágios profissionalizantes, descrever processos

intersubjetivos de desenvolvimento da escuta entre estudantes de psicologia.

Especificamente, pretendeu-se compreender as experiências dos sujeitos ao

participarem das oficinas; investigar o sentido que elas tiveram no processo de

formação destes; identificar possíveis alcances das oficinas na (trans) formação de

seus modos de subjetivação; identificar possíveis competências desenvolvidas,

assim como ganhos de aprendizagem obtidos. Os colaboradores foram 16

universitários do oitavo período do curso de psicologia da UNIVASF. A

metodologia fenomenológica colaborativa se deu a partir do compartilhamento de

experiências, do resgate da consciência histórica, do jogo de perguntas e respostas,

da fusão de horizontes e da construção conjunta de alternativas entre facilitador,

monitores e participantes. Ao longo de cinco encontros semanais de três horas,


172

foram realizadas dinâmicas de grupo, dramatizações e vivências, durante as quais se

utilizou materiais como argila, crônicas, mitos, contos, poesias, frutas, fábulas e

músicas. O instrumento adotado foi a Versão de Sentido, que era produzida por cada

estudante ao final de um encontro e lida no subsequente, favorecendo a participação

dos graduandos na análise. Como resultados, aponta-se: maior sensibilização para a

necessidade de se ouvir antes de ouvir o outro; produção de novos modos de sentir,

pensar e agir frente a sofrimentos diversos; apropriação, ressignificação e manejo da

angústia diante do futuro como estagiário; além de um convívio mais suportável

com o silêncio na prática da escuta clínica. Concluiu-se, principalmente, que

oficinas de desenvolvimento da escuta podem funcionar como espaço de cuidado e

autocuidado entre estudantes de psicologia, sendo uma ferramenta eficaz na

formação graduada.

Palavras Chave: Escuta; Pesquisa Fenomenológica; Formação de Psicólogo.


173

EXPERIÊNCIA COMO PARTICIPANTE EM OFICINA DE

DESENVOLVIMENTO DA ESCUTA

Gledson Wilber de Souza – UNIVASF

gledson_wilber@hotmail.com

A escuta, mesmo sendo uma competência fundamental a ser desenvolvida na formação

do psicólogo, por muitas vezes é negligenciada durante o processo de graduação do

estudante. Reconhecendo a necessidade de aprimoramento da escuta na minha

formação, senti-me mobilizado por um projeto de iniciação científica (PIBIC

CNPq/UNIVASF 2015-2016) a participar como colaborador de uma pesquisa que

visava descrever processos intersubjetivos vividos por futuros estagiários de psicologia

que se submeteram a oficinas de desenvolvimento da escuta na UNIVASF. Neste

sentido, o relato de experiência ora apresentado surgiu a partir da participação naquela

pesquisa, que tinha como objetivo inicial a preparação/capacitação para ser bolsista e

adentrar o PIBIC. Entretanto, a experiência provocou, para além disso, uma reflexão e

mudança na forma de ver e pensar a minha postura como estudante e futuro estagiário

de Psicologia. Sendo colaboradores da pesquisa, eu e mais seis estudantes entre o 7º e

8º período, nos encontramos semanalmente, num total de cinco encontros com duração

de três horas cada. A metodologia utilizada foi a Hermenêutica Colaborativa, onde os

pesquisadores usavam como principal instrumento a Versão de Sentido (VS), produzida

por cada colaborador no final de cada encontro e lida no início do encontro posterior.

Durante a oficina o tema escuta foi trabalhado a partir de músicas, fotografias, poesias,

textos científicos e artes plásticas. Ao final do processo, a sensação que tive é que essa

experiência é um importante passo no processo de formação do psicólogo, visto que


174

passei por mudanças nos meus modos de subjetivação, principalmente no que diz

respeito à futura prática profissional em psicologia. De forma metafórica, a oficina é

como uma terra fértil, boa para colher frutos, os seus e os de outros; é um espaço de

troca de experiências, onde a relação que se constrói com o outro participante vai além

dos papeis normalmente desempenhados como estudantes em sala de aula. Compartilhar

angústias, dividir sofrimentos e saber que o outro também vivencia as mesmas

dificuldades, é uma forma de diminuir a dor ou de aprender a lidar com ela, e a oficina

proporcionou esse tipo de troca. Nessa experiência de aprender a se escutar escutando o

outro, ficou muito evidente a importância e a necessidade de uma terapia pessoal no

processo de autocuidado, entendendo que é preciso cuidar de si para poder cuidar do

outro, pois a oficina permitiu um movimento de apropriação de si e produção de

sentidos a partir do encontro. Essa experiência leva-me a concluir que a oficina com

todos as suas contribuições pessoais e acadêmicas deveria ser pensada como

instrumento institucionalizado na formação de psicólogos.

Palavras-chave: Escuta; Formação; Estágio.


175

O ENCONTRO REFLEXIVO NA PESQUISA INTERVENTIVA EM PSICOLOGIA:

ENCAMINHANDO DIREÇÕES.

Jailton Bezerra Melo, Carmem Lúcia Brito Tavares Barreto, Simone Dalla Barba Walckoff -

Universidade Católica de Pernambuco

melo.jailton@hotmail.com

Este estudo parte de questões subsidiadas na pesquisa de mestrado do autor principal,

ainda em andamento, e visa apontar como os Encontros Reflexivos – prática

psicoeducativa – pode possibilitar encaminhamento de questões na pesquisa

interventiva em Psicologia numa perspectiva fenomenológica existencial. Além de

prática psicoeducativa, no presente estudo, os Encontros Reflexivos serviram como

instrumento de pesquisa. Tal prática é fundamentada a partir de 5 momentos, que são

eles: planejamento, atividade preparatória, devolutiva, reflexão focada na demanda e

síntese final. Estes momentos acontecem interligados, de maneira que não acontecem

literalmente nesta ordem. A leitura compreensiva da prática interventiva foi tecida a

partir da fenomenologia existencial ao modo Martin Heidegger, da narrativa de Walter

Benjamin e da analítica do sentido e história biografia de Dulce Critelli. Neste estudo,

os Encontros Reflexivos possibilitaram construir sentido para a questão de pesquisa a

partir de pressupostos que pensam a reflexão como uma atitude de (re)contar histórias,

assimilá-las, poder dar um sentido a elas e poder, ainda, refletir nos demais

participantes do grupo as questões de quem fala e dos demais que se encontram no

grupo. A partir das intervenções grupais, pôde-se compreender que além de prática

psicoeducativa, os Encontros Reflexivos também podem se configurar como prática

psicológica em instituições, além de se constituírem como espaço de pensar a pesquisa

interventiva em Psicologia.
176

Palavras-chave: Encontro reflexivo; pesquisa interventiva; prática psicológica;

reflexão grupal.
177

REFLEXÕES ACERCA DA SUPERVISÃO: PRIMEIRA EXPERIÊNCIA

ENQUANTO PLANTONISTA NA RUA

John Kennedy Siqueira Ferraz de Menezes, Lucas Gonçalves de Souza, Lindair

Ferreira de Araújo - UPE – Campus Garanhuns

John.k95ph@gmail.com

Através da parceria entre o Núcleo de Estudos em Fenomenologia Existencial, Ação

Clínica e Prática Psicológica - NUEFE e a Universidade de Pernambuco foi possível

implantar o serviço de Plantão Psicológico, a partir do projeto de extensão intitulado

“Plantão Psicológico: Trilhando percursos em parceira com o Serviço de Atenção

Psicológica – SAP/UPE”. Em 2015, houve o convite advindo do Conselho Regional de

Psicologia (CRP) para a protagonização do Plantão Psicológico na rua, o qual

oportunizou a atuação de alguns discentes como plantonistas pela primeira vez durante

o curso de graduação em Psicologia da UPE-GARANHUNS. Assim, foi possível

vivenciar toda a imprevisibilidade do contato com o outro e consigo mesmo e realizar

uma reflexão a propósito do cuidado na supervisão. O presente artigo tem como

principal objetivo articular a perspectiva fenomenológica existencial com a experiência

vivenciada na supervisão em plantão de rua, com ênfase em promover a reflexão acerca

da experiência enquanto cuidado durante os momentos de supervisão. Considerando o

modo como o Plantão Psicológico se desenvolve através do NUEFE, as supervisões

podem acontecer simultaneamente à prática psicológica. Os plantonistas podem solicitar

este espaço a qualquer instante, considerando suas próprias afetações seja no decorrer

do acolhimento e/ou após este momento. A supervisão pode ser compreendida como

espaço para articulação, reflexão e cuidado, possibilitando aos plantonistas


178

compreenderem como foram afetados pelas narrativas que acompanharam.

Considerando o aporte teórico que apoia esta forma de intervenção, é possível fazer a

leitura de que a supervisão desvelou-se como espaço de resgate de sentido, como

abertura para possibilidade de compreensão sobre a própria atuação junto ao outro, além

de promover um olhar reflexivo sobre si mesmo abrindo novas possibilidades para

cuidar de ser. Na experiência em Plantão psicológico realizado na rua foi possível

perceber enquanto plantonistas, a desconstrução da ideia até então presente de que a

supervisão direcionava-se estritamente ao atendimento em si quando trata-se de um

olhar estendido às afetações dos plantonistas. Tendo em vista tais especificidades, o

presente artigo tem caráter qualitativo e exploratório, com revisão bibliográfica,

considerando o diário de bordo como principal instrumento. Partindo desta premissa,

consideremos este um relato reflexivo a partir de uma experiência vivida de suma

importância acadêmica, por possibilitar refletir sobre a importância da supervisão na

graduação para o aluno de psicologia levando à ascensão de novos modos de

conhecimentos até então velados aos autores.

Palavras-chave: Plantão Psicológico; Supervisão; Compreensão; Experiência.


179

O ABRIGAR DA ESCUTA: COMPREENSÕES ACERCA DA ÉTICA E DA

POLÍTICA NA EXPERIÊNCIA CLÍNICA

Ana Paula Galdino de Oliveira e Janne Freitas de Carvalho – UPE, Campus Garanhuns

anagaldino93@gmail.com; jannefreitas@gmail.com.

Ao pensarmos no trabalho do psicólogo, torna-se inevitável não refletirmos sobre as

características que compõem o seu ofício, sendo a escuta destacada como uma das mais

importantes. A escuta do psicólogo é uma possibilidade de acolhimento ao cliente que

ali se mostra e que vai ao seu encontro a fim de colher compreensões sobre o seu

sofrimento. A escuta atenta a esse cliente pode possibilitar outro modo de olhar para a

sua vida, podendo ser o momento de novas significações para a sua existência, assim

como o encontro com o sentido que a habita. O cliente, agora responsável sobre si e

sobre suas ações, consegue transformá-las em possibilidades de mudanças para sua

existência no mundo, sendo ator não só de sua própria história, mas tendo papel também

nas transformações da sociedade a qual está inserido. A presente pesquisa refere-se a

um projeto desenvolvido a partir do trabalho de conclusão de curso em Psicologia. Com

uma leitura fenomenológica existencial pretende-se focar a experiência da escuta por

profissionais de Psicologia de diferentes campos de atuação. Neste sentido,

compreende-se a clínica não como lugar determinado, e sim, como movimento de

inclinar-se, de estar junto a um alguém em sofrimento, tornando-se assim uma ação

voltada para o cuidado. Com isso, diante do eixo o qual se localiza este trabalho,

compreende-se a escuta enquanto ação profissional está inclinada ao acolhimento do

sofrimento e cuidado de demandas que emergem nos lugares os quais o profissional está

inserido. Por isso, a escuta, compreendida como ação de cuidado, poderá dar a

possibilidade de o psicólogo refletir sobre sua atuação e compromisso com a profissão,


180

de modo que sua ação possa desdobrar-se em uma atitude ético-política frente aos

territórios em que atua.

Palavras-chave: escuta; ética; política; fenomenologia existencial.


181

REFLEXÕES SOBRE O PLANTÃO PSICOLÓGICO NO PROCESSO

FORMATIVO DO PSICÓLOGO.

Waléria Mendes, Thalita Castro, Silvia Morais e Mônica Tomé – UNIVASF

waleriamcpsic@gmail.com

O plantão psicológico (PP) é uma modalidade de atenção clínica voltada para atender

demandas emergenciais de sofrimento psíquico no momento em que ele ocorre, de

modo que o usuário é acolhido em caráter emergencial e pontual. Em Petrolina-PE, o

PP é ofertado no Centro de Estudos, Pesquisas e Práticas em Psicologia (CEPPSI) da

Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), realizado por discentes do

último ano do curso de Psicologia sob a supervisão de três docentes psicólogas. A

presente pesquisa, utilizou-se da análise qualitativa, via interpretação dos diários de

bordo das plantonistas/pesquisadoras, construídos durante o Estágio Profissionalizante I

e II em um período de oito meses. Foi utilizada a Fenomenologia Existencial

Heideggeriana a partir da Analítica do sentido onde desprendeu-se, então, três grandes

temáticas: 1) Papéis e/ou funções das plantonistas com a sustentação da angústia e

desconforto existencial, a escuta clínica livre de julgamentos, a postura de abertura e a

ação para a compreensão do vivido; 2) Desafios vivenciados pelas plantonistas como o

medo, insegurança, cansaço e angústia e 3) Conquistas e transformações

experimentadas no processo formativo via plantão surgindo o encantamento com a

profissão, o aprendizado e experiência adquirida. Tais ações favoreceram que as

tonalidades afetivas fundamentais como a angústia, temor e tédio propostas por

Heidegger viessem à tona. A emergência dessas tonalidades permite ao plantonista

voltar a ser abertura para o novo e desconhecido, redimensiona a sua conduta

diagnóstica e visão de especialista. Esse trabalho permitiu que nos deparássemos com
182

uma grande e enriquecedora experiência de estagio, a partir da qual percorremos vários

modos de fazer clínica. O PP neste caso serviu não só como espaço de elaboração da

experiência dos usuários, mas contribuiu significativamente para a elaboração de

experiências das plantonistas e essa experiência como sendo aquilo que nos

passa/atravessa/acontece/toca e não somente como o que ocorre. E embora todos os dias

muitas coisas ocorram, ainda assim nem tudo nos toca. Dessa forma os resultados

evidenciaram a importância para a experiência e para o aperfeiçoamento do processo de

ensino- aprendizagem na formação dos futuros psicólogos e a riqueza de afetações a

partir da prática do plantão e o quanto este serviço tem sido importante para a promoção

de saúde e para o papel social da universidade pública e a efetivação do compromisso

com a população atendida.

Palavras-chave: Plantão Psicológico; Serviço escola; Psicólogo; Fenomenologia

existencial.
183

O DES-VELAR DO CAMINHAR: COMPREENSÕES ACERCA DA TÉCNICA

NO PLANTÃO PSICOLÓGICO

Amanda Gabriela de Sá Ferraz Souza, Janne Freitas de Carvalho – UPE, Campus

Garanhuns.

amandasaferraz@gmail.com

O presente artigo se dá a partir de um relato de experiência de participação no Plantão

Psicológico, realizado na clínica escola, Serviço de Atenção Psicológica - SAP, do

curso de Psicologia da Universidade de Pernambuco. Como participantes do NUEFE

(Núcleo de Estudos ebm Fenomenologia Existencial, Ação Clínica e Prática

Psicológica) desenvolvemos um Projeto de Extensão pretendendo a implantação desse

serviço, sendo semanalmente disponibilizado à comunidade. O Plantão Psicológico é

um modo de prática psicológica, que se dá através das compreensões, afetações e

sentidos que emergem no encontro com o outro – sua alteridade e suas narrativas. Não

fixado nos métodos de triagem, baseada em técnicas tradicionais da Psicologia ou da

psicopatologia, é no ouvir aquele que busca esse serviço, que o plantonista, permitindo-

se também olhar e sentir suas próprias afetações, se constitui como cuidador de si que,

no encontro, pode possibilitar para o outro, o seu próprio cuidado. A partir dessa

experienci-ação, muitas inquietações surgiram, e a mais presente foi: como é estar

atendendo no serviço de Plantão Psicológico? Atravessada pelo pensamento moderno

de eficiência, a angústia de estar diante do outro sem manual que explicite como fazer

tal atendimento, nos levou a questionar como esse modo de pensar está implicado nas

práticas psicológicas. Bem como, articular outros modos de atuação que possibilitem

refletir sobre o lugar do profissional de Psicologia na clínica sem que esteja,

necessariamente, voltado para o modo da técnica tradicional. Buscamos essa


184

compreensão partindo de uma pesquisa qualitativa, utilizando a técnica do diário de

bordo como registro das afetações que surgiram no experienciar de um atendimento no

Plantão. A pesquisa bibliográfica também se faz presente, a partir da psicologia clínica

no diálogo com a perspectiva fenomenológica existencial, sobre técnica e techné, para a

construção de uma reflexão sobre esta experiência. O modo de fazer ciência

predominante, desde a modernidade, nos diz de cálculos e regras sobre o que pode ser

legitimado ou não. Mas como quantificar e formatar o atendimento do Plantão

Psicológico? Através do pensamento heideggeriano, procuramos compreender essa

prática psicológica como uma possibilidade de estar frente ao outro permitindo o des-

velar de sentidos possíveis, sendo este encontro um poder-ser de compreensões de

verdade como alethéia (des-velamento), e não como explicação calculante. Pensar sobre

a experiência de estar no acontecer do Plantão Psicológico é uma reflexão que pode

desvelar compreensões não só sobre esse serviço, mas para a atuação na clínica

psicológica. A reflexão sobre a construção do que é ser psicólogo(a) no inesperado e

imprevisível encontro com o outro, pode contribuir para o aprofundamento de pensar a

clínica psicológica.

Palavras-chave: plantão psicológico; fenomenologia existencial; técnica.


185

PSICOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS E DOS DESASTRES: SAMU E PLANTÃO

PSICOLÓGICO

Grace Liz Dantas Barros; Marcelo Silva de Souza Ribeiro; Darlindo Ferreira de Lima

– UNIVASF

gracelizdb@gmail.com

Na existência de sujeitos contemporâneos subjaz o contato com uma diversidade de

experiências, muitas vezes permeadas pelo encontro com o imprevisível. O inusitado

imbricado nesse modo de estar-no-mundo implica em um encontrar-se desalojado

provocado por fatores externos que extrapolam a ideia hegemônica moderna de

controle, tais como nos casos de acidentes e desastres. Circunscrevendo o método e as

relações a partir da impessoalidade, a metafísica, matriz hermenêutica de construção de

um conhecimento do mundo estático, faz-se presente nessa fuga da condição de

inospitalidade do mundo, apontada por Heidegger (1889-1976) como condição

originária. Partindo dessa perspectiva, a psicologia das emergências e dos desastres se

apresenta como movimento de aproximação com essa temática, na tentativa de articular

saberes e fazeres, como também de enfrentar o desafio de construir uma atuação efetiva

frente às vicissitudes que a vida contemporânea impõe como desafios cotidianos.

Considerando a importância do papel das equipes de resgate com atuação marcada pelas

dimensões da imediaticidade e contato com a vivência da dor no humano, a pesquisa em

questão objetivou compreender a experiência da prática dos profissionais que atuam no

Serviço de Atendimento Móvel de Urgência frente às emergências cotidianas a partir do

desenvolvimento da prática de Plantão Psicológico enquanto dispositivo de cuidado.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de inspiração fenomenológica existencial, fazendo


186

uso da analítica do sentido, a partir da perspectiva da pesquisa-intervenção, utilizando

como método a modalidade do plantão psicológico. Através dos instrumentos, deu-se a

apreensão das narrativas apresentadas pelos profissionais, articuladas às impressões

vivenciadas pelo pesquisador/plantonista ao longo do processo interventivo. Ao longo

de dois meses de inserção no campo e contando com a participação de 21 profissionais,

os plantões foram construídos a partir do imperativo da plasticidade e consonância com

a dinâmica do contexto. Como temáticas destacadas por esses encontros cita-se: “A

instituição SAMU”, “A experiência do Plantão Psicológico” e “Os desafios de uma

prática pautada na ética do cuidado”. Marcado pela hibridez e pelo encontro com o

inesperado, o plantão se apresentou como instrumento de alinhave, de produção de

sentidos, que carregavam dores, indecisões, ansiedade, bem como amores e felicidades;

caracterizou-se, assim, como uma ação legitimadora da integralidade desses

profissionais. Partindo de uma postura de implicação, fazer plantão apresentou como

imperativo o posicionamento de abertura às incertezas e contradições vivenciadas ao

longo do processo. Assim, por estarmos enraizados geralmente em uma concepção

positivista, pensar e fazer algo sem moldes e amarras se mostrou como algo desafiador

e, portanto, provocador de desconfortos e insegurança. Através da possibilidade de um

dizer por meio da fala própria, os colaboradores viam ali um espaço de construção, de

escuta/acolhimento e movimento de si frente a um outro que se coloca disponível a

acompanhá-lo nessa trajetória da experiência de cuidar-de-ser.

Palavras-chave: Psicologia das emergências e dos desastres; SAMU; plantão

psicológico.
187

SILÊNCIOS E BARULHOS: SIGNIFICANDO EXPERIÊNCIAS EM PLANTÃO

PSICOLÓGICO COM CRIANÇAS

Ana Priscila da Silva Ferraz, Andreia Karla Moraes Arruda, Janne Freitas de

Carvalho – Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns psferrazm@gmail.com

Através do NUEFE (Núcleo de Estudos em Fenomenologia Existencial, Ação Clínica e

Prática Psicológica) em parceria com a UPE (Universidade de Pernambuco) - Campus

Garanhuns, desenvolveu-se um projeto de extensão em 2014 com o objetivo de

implantar o serviço de Plantão Psicológico na clínica-escola (SAP – Serviço de Atenção

Psicológica) da referida Universidade. Em 2015, dando continuidade ao referido projeto

intitulado “Plantão Psicológico: Trilhando percursos em parceira com o Serviço de

Atenção Psicológica – SAP/UPE” objetiva implementar-se, criar raízes e ampliar-se.

Como graduandas de psicologia, integrantes do NUEFE e do Projeto de Extensão, as

autoras narram a experiência de ser plantonistas com crianças dizendo de afetações que

foram compartilhadas. Por um lado, o inesperado se desvela ante a negação à fala,

quando uma criança se curva e silencia dores, barulhando-as à plantonista pelo não-dito.

Por outro, um grupo de crianças que, simultaneamente, solicitavam a plantonista pela

fala, silenciando-a e a deixando perdida em barulhos. Surpreendidas por experiências

que, a princípio, mostravam-se tão avessas, surge a importância de se fazer

compreender a escuta clínica com crianças a partir das vivências em Plantão

Psicológico. Em uma perspectiva fenomenológica existencial, a linguagem pode ser

compreendida como expressão em todas as suas manifestações, como aspecto integrante

na interação do testemunho de um encontro, sendo os silêncios parte da fala tal qual as

emissões verbais. Mesmo que nada comunique, argumente ou explique, a linguagem


188

pode ser sentida, compreendida e dedicada ao sentido. Destarte, lançar um olhar clínico

acerca do Plantão Psicológico com crianças no SAP e apontar de que modo a linguagem

pode estar presente na escuta clínica é caminho possível para dialogar a respeito do

barulho que silencia e do silêncio que barulha. Diante disso, optou-se como recurso

metodológico o relato de experiência à luz de uma perspectiva fenomenológica

existencial. Nesse sentido, trata-se de um projeto qualitativo e exploratório, envolvendo

levantamento bibliográfico e tessitura de narrativas por meio de diário de bordo, modo

escolhido para contemplar as duas experiências. Visto que há carência de referencial

teórico sobre plantão psicológico com crianças, considera-se importante (com)partilhar

experiências através de produções acadêmicas, proporcionando espaço de diálogo no

modo de atuar em psicologia clínica, no âmbito das práticas psicológicas.

Palavras-chave: plantão psicológico; crianças; linguagem; escuta clínica.


189

VIDA E MORTE: COMPREENSÕES SOBRE SUICÍDIO EM UM PLANTÃO

PSICOLÓGICO.

Vanessa Falcão da Silva Rios; Záina Pereira Martins Santos; Bárbara Eleonora

Bezerra Cabral – UNIVASF

vanessafalcaorios@gmail.com

O suicídio é uma temática complexa e delicada que perpassa a existência humana e se

apresenta como uma das condutas mais enigmáticas, perturbadoras e que faz surgir

diversos questionamentos a respeito da morte e da vida, sendo um campo rodeado de

tabus e de difícil conceituação. Hoje, o suicídio está situado no campo das

psicopatologias, sendo relacionado aos transtornos mentais, dispondo de uma maior

investigação sobre causa, prevenção e influências, porém ainda traz consigo estigmas

relacionados à culpa, constrangimento e revolta, o que, influencia no preconceito,

subnotificação em serviços de saúde e “não-ditos” sobre o assunto (TORO et al., 2013).

Desta forma, a Psicologia lida diretamente com os dilemas éticos porventura

encontrados (sigilo, proteção do paciente, preservação do vínculo terapêutico e

autoproteção), competindo a esse profissional, para além do respaldo no Código de

Ética profissional, o papel de acolhimento, escuta, compreensão, facilitação do fluxo de

emoções e reflexões, visando atitude profissional embasada na relação com o sujeito e

caminhando em busca de resignificações dos modos de vida (TORO et al., 2013).

Assim, sendo o Plantão Psicológico uma modalidade de atendimento que consiste em

“um tipo de intervenção psicológica que acolhe a pessoa no exato momento da

necessidade, ajudando-a a lidar melhor com seus recursos e limites.” (CHAVES;

HENRIQUES, 2008, p. 152), a presente pesquisa buscou, a partir de uma metodologia


190

cartográfica, visando traçar uma investigação onde as implicações do investigador

sejam cruciais no processo, mapear a chegada de tal temática no espaço do Plantão

Psicológico, ouvindo as implicações dos estagiários e as estratégias utilizadas no lidar

com o tema. Para tanto, traçou-se um diálogo com sete plantonistas, estagiários do

Centro de Estudos, Pesquisas e Práticas em Psicologia (CEPPSI), clínica escola da

Universidade Federal do Vale do São Francisco, a respeito do suicídio, através de

entrevistas individuais com um roteiro de perguntas norteadoras, abordando questões

que se referiam desde o modo como a demanda vinha chegando ao plantão, faixa etária,

como funciona a abordagem nesses casos e até a forma como cada um lida com o

assunto (suicídio), tudo isso atrelado às normas do serviço. Desta forma, foi possível

observar que há uma faixa etária predominante (ente 15 e 25 anos) nos casos de ideação

ou tentativa de suicídio que chega ao serviço, sendo então corroborada a ideia de que a

modalidade de atendimento emergencial, a qual o plantão psicológico se firma, faz

dessa uma estratégia fundamental tanto no tratamento quanto na prevenção do suicídio,

sendo também fundamental peça para articulação do usuário com a rede de apoio. Além

disso, verificou-se que diversos são os sentimentos que perpassam pelos estudantes que

se encontram em formação, como a preocupação com questões éticas, sentimentos de

impotência atrelados ao desafio de aprender a lidar com tema pouco discutido

teoricamente.

Palavras-chave: Suicídio; Plantão psicológico; Clínica escola.


191

PRÁTICAS CLÍNICAS EM INSTITUIÇÕES: UMA EXPERIÊNCIA NUMA

CASA DE PASSAGEM

Maria Iracema de Sousa Araújo; Eloína A. R. Damasceno Silva; Camila S. Santos;

Mary Nila T. M. de Lima; Shirley M. V. de Melo. – UNIVASF

miracemasousa@gmail.com

Este estudo é fruto de uma intervenção realizada em uma casa passagem no sertão

pernambucano, como parte prática da disciplina Práticas Clínicas em Contextos

Institucionais ofertada no curso de graduação em Psicologia da UNIVASF. A casa de

passagem acolhe provisoriamente pessoas de passagem pela cidade e que necessitam de

abrigo. Utilizando-se de duas modalidades clínicas de atuação do psicólogo, a saber,

grupos operativos e plantão psicológico, a intervenção teve por objetivo principal

promover novos modos de subjetivação para aqueles que estavam hospedados na

instituição. Os encontros ocorriam duas vezes na semana, sendo um destinado ao Grupo

Operativo e outro para o Plantão Psicológico. Foram realizados quatro grupos

operativos, com duração de duas horas cada, dos quais participaram uma média de 12

hóspedes. Os plantões psicológicos ocorreram três vezes, somando um total de 12

pessoas atendidas, quatro em cada dia, com duração média de 50 minutos cada

atendimento. Ao final de todas as atividades, elaborou-se uma síntese dos

acontecimentos, buscando transcrever as falas dos hóspedes, para em seguida ser feita

uma análise do material, que se deu por uma abordagem qualitativa, visto que o enfoque

foi a promoção de novos modos de subjetivação ocorridos no processo de intervenção.

Essas duas modalidades de intervenção deram aos hóspedes um espaço para fala, troca

de experiências e reelaboração do processo vivido. Os processos vivenciados nas


192

atividades apontaram para o sofrimento em decorrência do rompimento dos vínculos

com os familiares e a dificuldade de conseguir trabalho. As atividades evidenciaram que

para além do acesso à dormida e comida, as pessoas que se hospedavam na casa de

passagem tinham grande carência de suporte psicológico. Diante disso, aponta-se como

importante a realização de atividades como as realizadas, seja de prática grupal ou

individual, que dê voz aos hóspedes para falarem de seus anseios, expectativas e medos,

trabalhando com outras demandas, ampliando o acesso à informação e fortalecendo o

espaço para o diálogo. Além de permitir aos alunos de psicologia o descobrir de novas

realidades, desenvolveu-se a escuta clínica e o acolhimento integral, dedicando cuidado

a esse público desprovido de atenção psicossocial.

Palavras-chave: Grupo; Plantão; Escuta; Cuidado.


193

TEMPORALIDADE EM PLANTÃO PSICOLÓGICO NA RUA: REFLEXÕES

SOBRE UMA EXPERIÊNCIA

Amanda Dias da Silva, Lindair Ferreira de Araújo – UPE, Campus Garanhuns.

amandasmdias@gmail.com

A partir de inquietações surgidas através de uma experiência vivida durante a realização

de um serviço de Plantão Psicológico na rua, questionamentos sobre a temporalidade

foram levantados. O presente resumo tem como base a perspectiva fenomenológica

existencial, com caráter qualitativo, baseado numa experiência vivenciada a partir do

projeto de extensão, intitulado “Plantão Psicológico: Trilhando Percursos em Parceria

Com o Serviço de Atenção Psicológica – SAP/UPE”, em 2015. A experiência em

questão foi registrada tanto em cartografia quanto em diário de bordo da plantonista, e

consistiu no fato de que, durante o acontecimento do Plantão Psicológico na rua, em um

evento organizado pelo CRP (Conselho Regional de Psicologia), uma cliente apareceu

abruptamente, puxou-a pelos dedos e, no mesmo local, contou sua história – tudo em

menos de cinco minutos, e se foi. Nesse pouco tempo, ficaram dúvidas se o encontro

podia ou não ser caracterizado como plantão, gerando questionamentos sobre a

temporalidade para que a afetação e o plantão se deem. Como khrónos o tempo é

percebido de modo linear, configurando a sucessão de minutos, dias e anos. Este modo

de experienciar o tempo é fundamental para compreensão de presente, passado e futuro,

nas suas possíveis articulações no horizonte existencial do Dasein. Porém, o tempo tem

outras formas de mostração e uma delas é o kairós, fundamentado não apenas no viver

convencionado, mas sobretudo na afetação das pessoas pelas experiências. Este modo

do tempo se articula com o inesperado, com a imprevisibilidade do viver, sendo


194

constituinte da condição humana. Para além da questão cronológica, o Plantão

Psicológico possibilita encontros entrelaçados com uma temporalidade entendida como

constância, ou seja, movimenta-se no campo das intensidades. É um tempo existencial

que diz da procura do sofrente pelo serviço e das afetações mútuas desveladas pelo

acompanhar de histórias pelo plantonista. No encontro, o espaço temporal se mostra

como abertura na direção do cuidado de si. A partir da psicologia clínica, compreendida

em diálogo com a fenomenologia existencial, a temporalidade pode ser considerada

como o momento agora, o tempo presente. Neste sentido, ser-plantonista é habitar

também este espaço temporal em que o cuidado, a compreensão e o sentido desvelam-se

na experiência do encontro. A experiência relatada foi de grande contribuição para a

formação em Psicologia da plantonista, considerando que são essenciais reflexões sobre

o Plantão Psicológico na rua como prática psicológica.

Palavras-chave: Temporalidade; Experiência; Plantão Psicológico.


195

DESVELANDO SENTIDOS DA SÍNDROME DO PÂNICO NUMA

PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL

Misael Carlos do Nascimento Neto e Sílvia Raquel Santos de Morais – UNIVASF

misaelcarlos13@hotmail.com

Trata-se de um relato de experiência do processo de acompanhamento psicoterapêutico

de um usuário atendido ao longo de cinco meses durante estágio profissionalizante no

contexto da graduação em Psicologia da UNIVASF. Tal usuário é um jovem do sexo

masculino que se apresentou como portador de síndrome do pânico. No decorrer de

treze atendimentos foi possível compreender a síndrome do pânico como queixa inicial

que desvelava uma vivência de sofrimento marcada pela dificuldade de enfrentamento

dossintomas fisiológicos, da administração de medicamentos e das repercussões dessa

experiência em sua vida laboral, afetiva e social.. O método utilizado foi o estudo de

caso com base nos registros das sessões e no processo de supervisão, tendo como

recursos: a escuta clínica e a compreensão do saber-fazer por meio da Fenomenologia

Existencial Heideggeriana. A partir da escuta clínica, foi possível ir além da concretude

dos sintomas e desvelar os sentidos dessa experiência de adoecimento por meio de

intervenções reflexivas e da leitura do mito do deus grego Pã (aquele que causa

temor/medo nos andarilhos noturnos que percorrem suas florestas). Assim, pôde-se

compreender que a queixa apontava demandas relacionadas ao desamparo vivido diante

das relações cotidianas, ao apego ao discurso alheio, a dificuldade de apropriar-se de

suas escolhas, a impossibilidade de anulação dos sintomas, a medicalização como forma

de atenuar o despertar das tonalidades afetivas fundamentais (angustia, tédio, temor),

bem como, a busca pelo acolhimento genuíno. Conclui-se que no caso em questão, a
196

síndrome nomeada como queixa desvelou sentidos para além de um conjunto de

sintomas, exigindo uma relação dialógica pautada em condutas não prescritivas, na

sustentação das tensões e no convite a ultrapassar o pensamento calculante. Dentre os

resultados alcançados com a psicoterapia, o jovem relatou: elaboração e publicação de

auto relatos sobre os momentos de crise, o retorno à prática de atividades físicas e de

lazer, a ausência de sintomas durante um período mais espaçado de tempo, o cultivo de

uma relação amistosa com animais de estimação, além das estratégias de enfrentamento

em prol da ressignificação da experiência de sofrimento. Para além da compreensão da

relação queixa-demanda, esse caso clínico realçou a importância da atenção psicológica

enquanto dispositivo potente para a promoção do pensamento meditante em tempos de

crise. Desse modo, foi possível compreender a síndrome do pânico através de uma ótica

fenomenológica existencial e perceber a sua efetividade no acompanhamento

terapêutico.

Palavras-chave: Síndrome do Pânico; Clínica; Fenomenologia Existencial.


197

VELAR DES-VELA VIDA? A POSSIBILIDADE DA NATALIDADE

(RE)VELADO NO PLANTÃO PSICOLÓGICO

Itala Daniela da Silva, Simone Dalla Barba Walckoff – UNICAP

italadaniela@gmail.com

Ao longo de nossa existência nos deparamos, constantemente, com o fenômeno da

morte. No que concerne a temática da morte, podemos nos remeter a vivências distintas

desse fato. Durante a nossa existência, podemos experienciar várias finitudes, no sentido

de ruptura. Além das rupturas e finitudes experienciadas em vida, a nossa natureza

biológica é mortal e, portanto, nos conduz a um cessar físico da existência. Levando em

consideração que há um leque de possibilidades para se pensar sobre a vida e a morte

como laços do existir direcionamos nosso olhar para o ato do velar, bem como para

compreender as consonâncias que o morrer do outro pode causar na vida dos que ficam.

Hoje, um dos questionamentos presente é: O ato de velar pode convocar para a vida?

Nesse sentido, a presente pesquisa tem o objetivo de descrever o pensamento de Hannah

Arendt acerca da natalidade, compreender a experiência de ruptura, o morrer do outro, e

as suas possíveis afetações na existência bem como refletir sobre o velar como

possibilitador de novos encaminhamentos biográficos inspirado nas reflexões

arendtianas de nascimento e ação. A pesquisa tem uma proposta qualitativa de

inspiração fenomenológica e, utilizando-se no método cartográfico e da compreensão de

pesquisa interventiva, por ser uma pesquisa-extensão, propõe-se a oferecer um serviço à

comunidade através do plantão psicológico e da entrevista reflexiva. A análise das

narrativas dar-se-á a partir da hermenêutica ricoeuriana. Os participantes são pessoas

que estão no velório e que aceitam participar do plantão psicológico. Após o


198

oferecimento do Plantão, aproximadamente 1 (um) mês depois, entramos em contato

com esses participantes, maiores de 18 anos e o convidamos para a entrevista reflexiva.

A nossa pesquisa será construída a partir da narrativa participativa de 10 pessoas que

aceitarem participar tanto do plantão psicológico como da entrevista reflexiva.

Assinalamos que essa é uma pesquisa que está em andamento e, portanto, esses são os

delineamentos reflexivos iniciais.

Palavras-chave: Velório; Morte; Nascimento; Plantão Psicológico.


199

ANGÚSTIA E PRÁTICA PSICOLÓGICA: DIÁLOGOS A PARTIR DA

FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL

Ellen Fernanda Gomes da Silva; Carmem Barreto; Ana Maria Santana; Danielle

Siqueira Leite; Suely Emília de B. Santos. – UNICAP

ellenfernanda1@hotmail.com

O objetivo do presente texto é trazer as discussões que estão sendo realizadas para

subsidiar a pesquisa de doutorado da autora que versa sobre a temática em pauta.

Importa ressaltar que a orientação da investigação em desenvolvimento não está

vinculada a explicações causais a respeito da angústia. Por outras vias, pretende-se

problematizar esse discurso que, baseado no aparato tecnológico, tem promovido a

patologização de dimensões humanas e a medicalização da vida. A perspectiva adotada

para compreensão da angústia no presente estudo é fecundada pelo diálogo com o

pensamento heideggeriano. A angústia, por ser um existencial que singulariza o homem,

é considerada por Heidegger como disposição fundamental. Além do caráter de

singularização da existência do homem, ela abre a possibilidade de sair da decadência

cotidiana, permitindo ao homem apropriar-se de seus modos de ser no mundo,

encaminhando-se para assumir o seu ser próprio. Tal estudo justifica-se, inicialmente,

pela experiência clínica da pesquisadora, ao considerar a atualidade e a possibilidade de

problematização da temática proposta. Também se mostra relevante pelos resultados

encontrados a partir de pesquisas realizadas com o objetivo de fazer um levantamento

do estado da arte, os quais apontaram para duas direções: a biologização, patologização

da angústia e a compreensão da angústia enquanto condição humana originária –

dimensão ontológica – e a manifestação dessa angústia na constituição do sofrimento

psicológico.
200

Palavras-chave: Angústia; Fenomenologia Existencial; Prática Psicológica.


201

ONCOVIDA: UMA INTERVENÇÃO GRUPAL COM PACIENTES

ONCOLÓGICOS E SEUS FAMILIARES

Tatiany Soares Torres – Hospital Regional de Juazeiro (HRJ), Jusciara Cassia,

Fernanda Luísa Campos Alencar Brito, Misael Carlos do Nascimento Neto e Sílvia

Raquel Santos de Morais. – UNIVASF

tatianytorres@hotmail.com

O ONCOVIDA é um grupo de apoio desenvolvido em um centro de oncologia de

Juazeiro-BA e consiste em um projeto implementado ao longo do estágio

profissionalizante em Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco

(UNIVASF), sendo o mesmo desenvolvido por dois discentes e uma preceptora sob a

orientação de uma docente da referida instituição desde mês Julho de 2015. O grupo

visa proporcionar momentos de reflexão e informações não só aos pacientes

oncológicos, mas também aos seus acompanhantes, familiares e cuidadores. A

metodologia de trabalho do grupo está baseada na participação voluntária de seu

público-alvo por meio de uma sistemática de funcionamento periódico, já que o grupo

ocorre duas vezes por semana e versa sobre diferentes temáticas levantadas pelos

próprios pacientes. O método adotado para a narrativa desse trabalho foi o relato

descritivo de experiência com uso de narrativas dos participantes e observação direta a

partir das intervenções realizadas. Até o momento foram realizados sete encontros e

diversos profissionais têm contribuído para a realização dos grupos, tais como:

psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e nutricionistas. Dentre as temáticas já

abordadas, destacam-se: “Perspectivas sobre o futuro”, “Finitude”, “Cine-Onco”,


202

“Esclarecimentos sobre a atuação do psicólogo”, “Higiene e cuidado corporal”,

“Nutrição e o câncer” e “Mitos e verdades sobre o câncer”. De um modo geral, os

encontros têm sido bem avaliados, tendo uma boa aceitação não só por parte dos

pacientes quanto também da própria equipe. Adjetivos como: “legal”, “bom”, “Foi

muito bom”, “Deu para aprender mais”, “adorei, deu para aprender mais”, “vai

entendendo muita coisa”, “proveitoso”, “maravilhoso”, “cheguei atrasada, mas foi

bom”, “o vídeo foi gratificante, tira as dúvidas, que aconteça mais vezes” marcaram a

avaliação oral feita pelos participantes. Quando a temática foi finitude, uma avaliação

feita por um paciente foi peculiar: “não contribui muito, mas foi bom”, trazendo que a

função daquele grupo na verdade era prepará-los para a morte. Ou ainda, “Foi bom, mas

semana que vem não falem de morte”. Alguns encontros foram extremamente

mobilizadores para os pacientes a ponto de um deles relatar: “Vocês mexem com o

coração da gente” e ainda, outro relato que se destaca: “Ave Maria! Vão falar de morte

aqui”. Conclui-se que o ONCOVIDA é um dispositivo importante para a

ressignificação do processo de adoecimento oncológico, contribuindo para o

desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e fortalecendo o diálogo

interdisciplinar. Algumas temáticas ainda serão abordadas, tais como: autoimagem do

paciente oncológico, rotina de cuidados com o paciente no pós-operatório, cuidados

paliativos, transplante de medula e transfusão de sangue. Mas para que isso ocorra e a

integralidade da atenção aconteça, será necessário incluir outros profissionais e

estabelecer parcerias com outras instituições que agreguem valor ao trabalho já

realizado, tais como bancos de sangue, institutos de educação e de beleza.

Palavras chave: oncologia; grupos; interdisciplinaridade; psicologia.


203

GRUPOS TERAPÊUTICOS COM ADOLESCENTES: RELATO DE

EXPERIÊNCIA EM UMA CLÍNICA-ESCOLA

Záina Pereira Martins Santos; Vanessa Falcão da Silva Rios; Sílvia Raquel Santos de

Morais. – UNIVASF

zainapms@gmail.com

O grupo terapêutico é um dispositivo de atenção psicológica que pode ser indicado e

utilizado com adolescentes em situação de sofrimento psíquico, sobretudo aqueles que

se encontram inscritos em clínica escola aguardando longas filas de espera para

atendimento. Diante desse contexto enfrentado pelo Centro de Estudos, Pesquisas e

Práticas em Psicologia (CEPPSI) da Universidade Federal do Vale do São Francisco

(UNIVASF), foi proposta a montagem de um grupo com adolescentes da lista de espera

desse serviço com o intuito de verificar se a queixa relatada na época da inscrição

permanecia e se havia necessidade de psicoterapia individual para todos esses casos. O

método utilizado foi a seleção de 25 fichas cadastro com base na ordem da data de

inscrição e na faixa etária (com idades entre 12 e 17 anos) e em seguida, marcou-se

triagens individuais com 12 Adolescentes e seus respectivos responsáveis. Dentre esses,

11 foram convidados a compor o grupo. Desses, compareceram sete. O grupo ocorreu

por meio de quatro encontros no período de aproximadamente um mês do ano corrente.

Os temas de cada encontro foram definidos após o primeiro encontro, o qual visava

levantar as principais demandas e o foco do trabalho. As principais demandas

identificadas foram baixa autoestima, situações de descuidado e violência,

conflitosintergeracionais,falta de diálogo, baixo rendimento escolar (na maioria dos

casos, com causas externas à escola) e culpa diante do sofrimento vivido. Logo, as
204

temáticas trabalhadas por meio de oficinas terapêuticas e oficinas de criatividade foram

àquelas comuns a todos os participantes (1) “Quem sou eu?”, 2) “Eu e os outros”, 3)

“Conflitos” e 4) Devolutiva om os responsáveis. Observou-se que o grupo cumpriu com

os objetivos propostos e além de otimizar o andamento da fila de espera de

atendimentos infanto-juvenis, através das atividades propostas, do engajamento dos

participantes, da escuta clínica e da sustentação de tensões, foi possível co-construir

sentidos para as experiências narradas, já que ofertou-se um espaço de escuta e saber de

si capaz de esclarecer o binômio queixa-demanda e facilitar o diálogo intergeracional. E

mesmo com poucos encontros, algumas questõescomuns ao grupo puderam ser

refletidas e encaminhadas. Conclui-se que a realização do grupo contribuiu para o

esclarecimento da demanda e a elaboração de sentidos diante da experiência de

sofrimento narrada, servindo não só para otimizar o andamento da fila de espera, como

também para a resolutividade de alguns dos casos, já que ao final do grupo, apenas

quatro dos adolescentes optou por continuar aguardando psicoterapia individual.

Palavras-chave: Psicologia; Grupo Terapêutico; Clínica; Adolescentes.


205

O DESABROCHAR DA FORMAÇÃO DE PSICÓLOGO: A CLÍNICA-ESCOLA

COMO POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO

Jéssica Caroline de Moraes Veríssimo e Janne Freitas de Carvalho –UPE, Campus

Garanhuns

jessica.cm.verissimo@gmail.com

Este trabalho tem como objetivo compreender a formação de psicólogos em clínica-

escola e a dimensão do cuidado desvelada pelas práticas psicológicas desenvolvidas, a

partir da experiência de estágio obrigatório no último ano da graduação. Neste sentido,

pretende-se contextualizar a formação de psicólogos em clínica-escola, expondo

concepções possíveis sobre o cuidado, dialogando com a ação clínica e as práticas

psicológicas desenvolvidas. Serão colhidas narrativas de estagiários que atuam em

clínica-escola, buscando compreender como o cuidado se desvela na atuação. A

compreensão das narrativas será possível a partir das afetações e meditações decorrentes

do diálogo entre o referencial teórico e o pesquisador. A história da psicologia é longa e

perpassou por diversos períodos, possuindo raízes nos fundamentos filosóficos e

mitológicos. Estes períodos foram de fundamental importância para a gestação do

espaço psicológico, bem como para o reconhecimento da psicologia enquanto ciência.

Hoje quando falamos em psicologia, não estamos apenas fundamentados em um modo

de fazer desta profissão, estamos falando de “psicologias” e suas múltiplas

possibilidades de atuação e perspectivas teóricas. Trazer luz sobre a temática da

formação do psicólogo, não se limita apenas a uma atribuição caracterizada pela atuação

consumida pela técnica e objetividade. De outro modo, possibilita lançar reflexões

através do lugar que se ocupa e como a atitude de ser-psicólogo possibilita o diálogo e


206

interlocuções com as práticas psicológicas desenvolvidas. Desta forma, faz-se

necessário olhar atentamente para aquilo que chamamos de atuação profissional do

psicólogo em clínica-escola. Do sentido e o significado presente na atuação emerge a

noção ética aqui considerada como uma colcha de retalhos sobre a diversidade presente

em uma dimensão ampla e complexa. Tais articulações ecoam, no cotidiano do

estagiário como um leque de possibilidades que o permitem refletir sobre o seu fazer

saber. A troca de saberes se constrói através de uma teia de significado presente nas

relações que circulam na esfera da formação acadêmica, a dialogicidade ética se

constrói desde o compartilhamento de conhecimento tácito e explícito na graduação. O

estágio obrigatório nesta perspectiva é um lugar possível, de cuidado, escuta e ação

política, que reverbera na atuação do estagiário na clínica. Responsabilizar-se por si

mesmo no contexto da psicologia clínica é fazer automaticamente alusão à dimensão do

cuidado vivenciado na prática do psicólogo, na atitude ética e política deste profissional.

Este é um momento em que muitos graduandos se apropriam das suas escolhas e muitos

outros se veem lançados no movimento do ter que escolher para concluir mais uma

etapa que é exigência da academia. É preciso cuidar deste espaço de troca, que aqui está

sendo contemplado pelo espaço clínico. Portanto, por ser um trabalho que abrange os

estudos e as práticas psicológicas desenvolvidas dentro do contexto da clínica-escola,

pode-se compreender como relevante refletir sobre a ação clínica implicada na

formação, levando-se em consideração a atitude ética e política necessárias tanto para a

atuação profissional.

Palavras-chave: Formação do Psicólogo; clínica-escola; Estágio Supervisionado.


207

ATENDIMENTO A FAMÍLIAS EM CLÍNICAS-ESCOLA: INTERROGANDO A

PRÁTICA, PROPONDO INTERVENÇÕES.

Danielle Siqueira Leite, Carmem Lúcia Brito Tavares Barreto, Ana Maria de Santana,

Suely Emilia de Barros Santos, Ellen Fernanda Gomes da Silva – UNICAP –

UNIFAVIP/DeVry - UPE/Campus Garanhuns

daniellesiqueira_psico@hotmail.com

Apresentamos, nesse trabalho, o andamento de uma pesquisa que se direciona a

problematização dos “serviços psicológicos” de atendimento à família ofertados por

clínicas-escola de Pernambuco, para propor intervenções num diálogo com os

pensamentos de Heidegger. Para tanto, realizamos: uma pesquisa documental com 89

prontuários de 3 clínicas-escola; entrevistas narrativas com 3 supervisores e 1 técnicos

de psicologia; e 3 rodas de conversas com 16 alunos. Como possibilidade de “des-

velamento” e interpretação do real recorremos a Hermenêutica Filosófica de Gadamer,

postura epistemológica que assume a compreensão como condição ontológica própria

ao ser-do-homem. As compreensões “pro-duzidas” (postas-a-diante) nessa caminhada

apontam para uma diversidade de modalidades de práticas psicológicas que já

acontecem no contexto das clínicas-escola. As narrativas compartilhadas desvelam a

existência de uma demanda que ultrapassam a dimensão do indivíduo, apontando para a

condição ontológica do ser-do-homem enquanto ser-com. Importando destacar que

mesmo reconhecendo que o modo como cada ser compreende-se a si, aos outros e ao

mundo compartilhado é sempre singular, parece que essas demandas revelam um

sofrimento que ultrapassa a dimensão de uma singularidade, na direção das relações que

estes estabelecem enquanto família. Implicando, desse modo, na necessidade do des-


208

cobrimento de uma atitude que se volta para facilitar o acolhimento e a apropriação dos

modos como o cuidado acontece neste contexto, sem deixar-se cair nas armadilhas e

tentações de individualizar esse atendimento.

Palavras-chave: Ação clínica; fenomenologia existencial; família.


209

PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO/COLABORATIVO: PROMOÇÃO DO

CUIDADO A CRIANÇA NA CLÍNICA ESCOLA.

Adgleicy Rodrigues Aquino, Andrielly Maria Pereira, Naianny Sthefanny Souza

Mendes, Natália Maria da Silva, Ana Maria de Santana. – UPE

andriellypereira@hmail.com

Diante do crescimento da procura por atendimento psicológico nas clínicas-escolas, e da

escassez de atendimento gratuito desta natureza, nota-se que há uma longa lista de

espera daqueles que se encontram em sofrimento e necessitam de um acolhimento

imediato, mostrou-se como necessário e socialmente útil a realização de tal proposta

interventiva diante da espera para o atendimento psicológico de crianças, triadas no

Serviço de Atenção Psicológica/SAP do Curso de Psicologia da UPE, este resumo diz

respeito ao projeto de extensão, onde foi ofertado o Psicodiagnóstico Interventivo

Colaborativo, como modalidade de prática psicológica clínica, esta foi direcionada ao

diagnóstico de demandas infantis bem como de intervenção no âmbito familiar, visando

o acolhimento destes em situação de crise, com abertura para outras compreensões,

para além disto este projeto pode proporcionar o contato dos discentes com a práxis

psicológica frente à criança em sofrimento. A abordagem norteadora foi a

Fenomenologia Existencial, utilizando também a noção de fusão de horizontes presente

na Hermenêutica Gadameriana que se inspirou na Ontologia Fundamental de Martin

Heidegger, que fortalece a dimensão colaborativa desta modalidade. Estabeleceu-se

diálogos no que concerne aos compartilhamentos sobre os possíveis sentidos que a

família elabora diante da relação com a criança. Nesses encontros, os pais/responsáveis

podiam trocar experiências, elaborar novos significados para o sofrimento em questão.


210

Esse passo do processo também se revelou importante por trazer reflexões significativas

acerca do posicionamento do psicólogo, como aquele que não é o detentor e o único

produtor de conhecimento. Interroga-se, acerca do sentido que o familiar elabora frente

à experiência de sofrimento da criança. Esse psicodiagnóstico revelou-se como um

espaço onde a família dava uma pausa nas suas atividades para pensar conjuntamente

sobre sua dinâmica e suas relações, além de proporcionar um outro olhar para a queixa

que era inicialmente atrelada a criança.

Palavras-chave: Psicodiagnóstico; Clínica Fenomenológica; crianças; família.


211

PLANTÃO PSICOLÓGICO NO SERVIÇO-ESCOLA DA UNIVASF: UM

ESTUDO DESCRITIVO.

Thalita Castro, Waléria Mendes, Mônica Tomé e Silvia Morais. – UNIVASF

thalita_scastro@hotmail.com

O plantão psicológico é um serviço de pronto atendimento das demandas emergenciais

de sofrimento psíquico. O objetivo desta pesquisa foi investigar o perfil dos usuários

atendidos no plantão psicológico em seus dois anos (Mar/2013 à Mar/2015) de

implantação do Centro de Estudos, Pesquisas e Práticas em Psicologia (CEPPSI) da

Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), para isso utilizou-se a

análise quantitativa demográfica. Os dados foram obtidos por meio de investigação de

dois instrumentos: 1) Fichas de Atendimento (Sexo; Faixa etária; Estado civil;

Escolaridade; Indicação ao serviço; Situação Laboral) ; 2) Prontuários de atendimento

(Queixa; Demanda; Encaminhamento). Utilizou-se uma planilha eletrônica, em que

todas as informações (exceto aquelas que podem identificam os sujeitos, como nome,

endereço, telefone e/ou informações pessoais) foram registradas. Posteriormente, os

dados foram tabulados, a fim de serem classificados, a partir da natureza das queixas e

demandas encontradas. Os dados obtidos foram processados eletronicamente através do

programa especializado para a construção de tabelas e gráficos. Os resultados

mostraram que o número total de atendimentos do PP no período supracitado foi de 602,

sendo que alguns desses atendimentos foram feitos com o mesmo usuário. Cinquenta e

seis usuários retornaram ao serviço pelo menos uma vez, este número podendo variar de

duas a nove vezes. Houve uma predominância de usuários do sexo feminino (63,5%) e

adultos de 18 a 55 anos (69%). A queixa mais citada foi em relação ao contexto social
212

(27,9%), sendo as dificuldades existenciais apontadas como as demandas mais

recorrentes (32,2%). Usuários com ensino médio (completo ou incompleto) equivaleram

a 38,4%, aproximando-se daqueles com ensino superior (completo ou incompleto) que

foi de 30,9%. Este fato deve-se a grande procura da população universitária pelo PP. A

idade média dos usuários foi de 30,4 anos (Idade mínima 2 anos e máxima 77 anos)

sendo que as mulheres apresentam idade média superior (32,6 anos) a dos usuários do

sexo masculino (26,7 anos). Contudo, 86% dos atendimentos ocorreu com pessoas de

10 a 55 anos. Assim, os dois primeiros anos de PP podem ser considerados como

relevantes, tanto para a comunidade atendida, quanto no auxilio a gestores da rede de

assistência sanitária e social a reordenar os serviços existentes e a implementar novas

políticas de atenção aos usuários, já que esse estudo forneceu uma espécie de “raio x”

temporal das condições psicossociais da população atendida na região.

Palavras-chave: Plantão Psicológico; Serviço escola; Análise quantitativa.


213

VOZES E RUÍDOS DESVELANDO SENTIDO NA EXPERIÊNCIA DE

PLANTONISTAS

Jéssica Caroline de Moraes Veríssimo, Ana Paula Galdino de Oliveira, Grazielle

Serafim dos Santos, Janne Freitas de Carvalho. – UPE, Campus Garanhuns

jessica.cm.verissimo@gmail.com;

O NUEFE (Núcleo de Estudos em Fenomenologia Existencial, Ação Clínica e Prática

Psicológica), desenvolvido atualmente no curso de Bacharelado em Psicologia, da UPE

- Campus Garanhuns, em parceria com o CRP (Conselho Regional de Psicologia – 2ª

região) e o SESC Garanhuns, realizou o Plantão Psicológico, possibilitando a alguns

discentes, vinculados a um projeto de extensão, atuarem como plantonistas na rua. Esta

é uma prática desenvolvida a partir da perspectiva fenomenológica existencial, trata-se

de uma modalidade interventiva utilizada em situações de emergência psicológica.

Consideramos como rua o espaço público que é entrelaçado pelos espaços privados,

espaço de trânsito, de movimento. Desta forma, o presente trabalho, tem como objetivo

relatar a experiência inovadora de prática psicológica desenvolvida na rua. Este trabalho

deu-se através do relato de experiência de três plantonistas, que puderam compreender a

importância deste serviço para a comunidade da Cidade de Garanhuns em Pernambuco.

Como método para o desenvolvimento deste trabalho, pôde-se fazer uso da cartografia

clínica e do diário de bordo, em que foi possível detalhar as afetações das plantonistas.

O plantão psicológico na rua, por ser uma prática clínica completamente inovadora,

solicita as plantonistas, um olhar atento também às questões ético-políticas presentes

nos atendimentos, uma vez que, o sentido dado ao sigilo em um atendimento

psicológico na rua, quebra paradigmas das quatro paredes presentes no setting

terapêutico tradicional. A partir da ação do plantonista que se inclina em solicitude a


214

quem está passando, o espaço corriqueiro como o da rua pode ser vivenciado de modo

diferente. O inesperado e o inusitado que perpassam o acontecer do Plantão, dão a essa

prática uma roupagem que foge completamente aos ditames cientificistas e tecnicistas

que atravessam o saber Psicológico, fazendo do Plantão uma prática desalojadora e

ainda em construção. Para as psicólogas em formação, diante do estranhamento, da

novidade, e dos possíveis desafios, o Plantão na rua, assim, se fez como espaço de

abertura para a elaboração de novos significados no encontro com a alteridade e de

novas possibilidades de estar em atuação.

Palavras-chave: Plantão Psicológico; Plantão na rua; formação; prática psicológica.


215

RODA NARRATIVA II

PRÁTICAS PSICOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO

ACONSELHAMENTO DE CARREIRA NA FORMAÇÃO DE ESTAGIÁRIOS

EM PSICOLOGIA DA UNIVASF

Ravena Moura Rocha Cardoso dos Santos, Shirley Macêdo Vieira de Melo – UNIVASF

ravenamrc@gmail.com

O Aconselhamento de Carreira é uma modalidade prática da Psicologia Organizacional e do

Trabalho na interface com a Psicologia Clínica. Tem se mostrado importante para ajudar

graduandos em seus processos de escolha de campos de atuação e de planejamento

estratégico de carreira, principalmente quando os sujeitos portam inquietude e desgaste

emocional resultantes de angústias e incertezas em relação ao futuro profissional. Constitui-

se a partir de atividades nas quais o conselheiro busca, junto ao aconselhando, aliar

experiências profissionais e de vida às necessidades e expectativas diante de uma carreira a

seguir, a partir do uso de ferramentas que favoreçam identificar competências fundamentais

ao exercício de uma profissão. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar como

são realizadas intervenções em aconselhamento e planejamento estratégico de carreira com

universitários no contexto de estágio profissionalizante no curso de Psicologia da

Universidade Federal do Vale do São Francisco. Desde que foi implantado como atividade

sistemática para a formação dos estagiários, a partir de setembro de 2014, já atuaram como

conselheiros cerca de dez estagiários, acompanhando, individualmente, em torno de vinte

clientes que buscaram o serviço na clínica-escola. Os passos percorridos são: entrevista por

competência para resgatar as experiências do sujeito e como ele as enfrentou; aplicação de


216

dinâmica de grupo, para identificação de competências de trabalho em equipe; leitura dos

processos a partir de ferramentas de planejamento estratégico; preenchimento de planilha de

planejamento estratégico pessoal a ser entregue no final do processo, quando da entrevista

devolutiva. As demandas geralmente foram: baixa autoestima; conflitos internos; incertezas

quanto ao futuro; expectativas ou falta de apoio da família; dúvidas em relação à profissão

e/ou curso escolhido. Os aconselhandos relataram conseguir, a partir das sessões realizadas,

refletir mais sobre suas histórias (profissionais e de vida) e seus sonhos; resgataram

vontades e afinidades esquecidas; conseguiram pensar em outras possibilidades que lhes

permitam atuar em áreas afins; e perspectivaram ações futuras, projetando-se e planejando

suas execuções. Para os estagiários que acompanharam os casos, os ganhos de

aprendizagem e as competências desenvolvidas foram diversos: aplicação de ferramentas

práticas de administração/gestão estratégica; desenvolvimento da escuta clínica e de visão

estratégica; segurança e amadurecimento profissional. Concluiu-se, principalmente, que

esta prática psicológica em instituição possibilita que os clientes se sintam mais seguros e

conhecedores de si para atuar no campo profissional; e que aos estagiários de Psicologia

abre-se uma oportunidade quando adentrarem o mercado de trabalho da região: a

perspectiva de uma prática clínica em psicologia organizacional e do trabalho.

Palavras - chave: Carreira; Aconselhamento; Mercado de trabalho.


217

ENTRE TROCAS DE SABERES E EXPERIÊNCIAS: ASSUMINDO NOVAS

PARENTALIDADES

Melina de Carvalho Pereira, Marcelo Silva de Souza Ribeiro, UNIVASF.

melinamcp@gmail.com

Este trabalho refere-se a um relato de experiência sobre o serviço “Grupo de Pais”,

oferecido desde 2014 no Centro de Estudos e Práticas em Psicologia (CEPPSI), serviço

escola de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).

Sendo um dos atendimentos psicológicos oferecidos à comunidade que também tem

como função inserir estudantes no campo de estágio, o “Grupo de Pais” é um espaço de

troca de experiências e saberes entre pais/mães/responsáveis mediado por estagiários do

último ano do curso de Psicologia. Tal prática é supervisionada por um professor e tem

uma psicóloga do serviço como referência. Cada grupo é composto por até 10

integrantes reunidos em oito encontros semanais com duração de duas horas. Os

referenciais teóricos e metodológicos que sustentam esse saber fazer está alicerçado em

uma visão multiferencial: teorias da aprendizagem social, das relações parentais e

vinculares, assim como em uma perspectiva sistêmica das relações familiares. Nos

encontros, ocorrem momentos de dinâmicas de grupos, trocas de experiências e

exposição sucinta de conhecimentos sobre a Psicologia do Desenvolvimento e temas

afins. Trata-se de uma proposta semiestruturada de intervenção: alguns conteúdos são

concebidos previamente, porém a disposição, sequência e cronologia podem variar de

acordo com as especificidades dos grupos acompanhados. Quanto a estrutura dos

encontros, o primeiro nível de intervenção refere-se à exposição da proposta para o

grupo, apresentação dos integrantes e contrato terapêutico; o segundo nível compõe do


218

segundo ao sétimo encontro presencial e trabalha aspectos de conhecimentos e tomadas

de consciência do grupo; Por fim, no último encontro (terceiro nível) é feita uma

avaliação do processo e a finalização com a consolidação de novas formas de subjetivar

as relações parentais. Dentre os principais temas abordados estão regras e limites, estilos

parentais e intergeracionalidade das práticas parentais, envolvimento afetivo com os

filhos, trabalhados por meio das histórias de vida, habilidades sociais do grupo, relações

de poder, projeto de vida e outros. Observa-se que as principais demandas gravitam em

torno de conflitos conjugais que afetam a criação dos filhos, impasses sobre alguma

dificuldade/deficiência da criança e adoção. De modo geral, há tensões entre o interesse

dos pais no atendimento da criança, caracterizando o “problema” como específico dela,

desconsiderando a dinâmica familiar. Constata-se ainda, em termos de dificuldade para

operacionalização do serviço, a incompatibilidade de horários, resistência para trabalhar

em grupo e as constantes faltas dos pais. Quanto aos desafios, busca-se oferecer

serviços para pais de adolescentes e sistematizar o conteúdo de oito encontros para

encontros individuais com pais. Sem dúvidas, trabalhar com pais sobre a criação de seus

filhos, prática ainda pouco comum no Brasil, tem favorecido novos modos de

subjetivação das funções parentais por meio de trocas de saberes e novas tomadas de

consciência, facilitando inclusive outros processos psicológicos desenvolvidos no

serviço escola, como a psicoterapia infantil.

Palavras-chave: comunidade; estagiário; práticas parentais; psicologia.


219

ORIENTAÇÃO PARA PAIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA: PRÁTICAS

PSICOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO

Gidvanny Alves Miranda, Aymê Sobrinho de Oliveira, Ariane Siqueira Barboza Souza,

Mariany Carneiro Costa, Dalmo Cardoso Barreto - UNIVASF

gidvannymiranda@hotmail.com

O estágio profissionalizante tem como objetivo geral auxiliar a formação de concluintes

da graduação através de uma atuação supervisionada. Dentre os campos possíveis de

atuação, está o Centro de Estudos e Práticas Psicológicas (CEPPSI), onde são

oferecidos diversos serviços de psicologia gratuitamente à comunidade. A orientação

para pais é uma das modalidades de atendimento ofertada há dois anos. Para tanto, são

aplicados conhecimentos com base em referenciais teóricos e metodológicos que

sustentam o saber fazer deste serviço e possibilitam a aquisição e o desenvolvimento de

habilidades e competências relevantes à formação profissional, dentre eles as teorias da

aprendizagem social, das relações parentais e vinculares, bem como, a perspectiva

sistêmica da relação entre pais e filhos. Os graduandos objetivam criar e mediar espaços

de trocas de experiências e saberes sobre a criação de filhos, buscando desenvolver

estratégias positivas e assertivas em práticas educativas. Os atendimentos podem ser

individuais (4 encontros com duração de 50 minutos) ou em grupo (8 encontros com

duração de duas horas cada), podendo as sessões serem estendidas de acordo com a

demanda apresentada. As temáticas mais trabalhadas são: infância dos pais,

autoconhecimento, conhecimento dos filhos, estilos parentais, práticas educativas,

relação família e escola, rotina da família. Observa-se que as principais demandas

apresentadas são referentes a comportamentos agressivos e/ou depressivos, birra, mal


220

comportamento na escola, separação dos pais, adoção, dentre outros. Os participantes

relatam um maior discernimento na criação dos seus filhos e uma maior segurança no

estabelecimento de limites. Além disso, afirmam se sentirem menos estressados e

pressionados porque têm a oportunidade de poderem também falar das suas questões e

sofrimentos relacionados com a grande responsabilidade de educar uma criança ou um

adolescente. É sabido também que a transmissão intergeracional se mostra presente e

que os filhos tendem a reproduzir, quando se tornam pais, o estilo parental observado

em sua criação. Dessa maneira, é gritante a necessidade de divulgação de práticas

educativas parentais mais adequadas como uma forma de prevenção de problemas que

poderão repercutir por gerações.

Palavras-chave: Práticas educativas; comportamento; assertividade.


221

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ATUAÇÕES

DO PSICÓLOGO NA INSTITUIÇÃO – APAE

Maria Theodora Gazzi Mendes - APAE

theodora.maria@gmail.com

A APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) é uma Instituição que, desde

1954, visa a promoção e defesa dos direitos de cidadania da pessoa com deficiência e a

sua inclusão social. O objetivo da APAE é realizar o tratamento, educação, reabilitação

e inserção social das pessoas com deficiência intelectual e múltipla, desde a primeira

infância à idade adulta. Diante deste contexto, é certo que boa parte do sucesso do

programa inclusivo e do próprio binômio ensino-aprendizagem, depende

fundamentalmente do professor como agente facilitador. Desta forma, um programa de

capacitação desses profissionais na comunidade escolar se faz importante como recurso

de treinamento e aperfeiçoamento, campo fértil para a atuação do psicólogo dentro da

Instituição. A Apae do Município de Petrolina conta com uma equipe pedagógica de

vinte e dois professores, que são advindos da Rede Municipal de Ensino, do qual a

exigência para o cargo é apenas o de Curso Superior de Pedagogia. Observando que

poucos professores têm especialização em educação especial, é que se fez necessário e

de grande importância para o sucesso de um programa inclusivo, a capacitação

continuada destes. Durante o período de março à outubro de 2015 foram realizadas três

capacitações coordenadas pelo setor de psicologia da Instituição: duas desempenhadas

pela responsável técnica da área e outra feita em parceria com estagiários do curso de

Psicologia da Univasf. Os temas abordados foram respectivamente: “Práticas lúdicas

para a sala de aula”; “Psicologia de mãos dadas com a educação”; “Inclusão começa em
222

mim”. O objetivo destas capacitações foi o de promover a exposição de conhecimento e

de conceitos necessários para a atuação do professor na educação da pessoa com

deficiência, discussões acerca de dúvidas sobre as práticas, esclarecimento sobre a

atuação do psicólogo na instituição e temas que envolvem a psicologia. Logo após cada

encontro, foi observado aumento de encaminhamentos por parte dos professores ao

serviço de psicologia, principalmente após identificação em sala de aula de sinais de

alunos que poderiam estar vivendo conflitos familiares. Também foi notado que houve

um uso mais adequado dos momentos na brinquedoteca, visando não só aspectos

pedagógicos como também professores que se colocaram no lugar de facilitadores de

convivência social e de vivência lúdica de seus alunos(as). Além disso, relatos

informais à técnica de psicologia foram feitos no sentido de maior satisfação na relação

ensino-aprendizagem. Identificando as limitações metodológicas de um relato de

experiência, a prática institucional traz o reconhecimento da importância da capacitação

dos professores para os processos de desenvolvimento e aprendizagem do(a) aluno(a)

com deficiência. A educação inclusiva tem sido um desafio para diferentes profissionais

que trabalham na promoção do desenvolvimento de alunos com deficiência e o apoio

institucional para a formação e preparo dos professores que lidam diretamente em sala

de aula é reconhecido como principal fator que proporciona a efetivação dos princípios

inclusivos.

Palavras-chave: formação professores; educação inclusiva; psicologia.


223

JUVENTUDE CRÍTICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM

PSICOLOGIA.

Gabriela de Menezes Sobreira Campêlo, Fernanda Letícia Leite Oliveira e Larissa

Gomes de Freitas. – Faculdade Leão Sampaio

gabriela_demenezes@hotmail.com

A adolescência é um período de conflitos e descobertas. Vivenciar esse período em

situação de vulnerabilidade social, o que gera, muitas vezes, sofrimento ético-político,

pode ser ainda mais complexo. A prática do profissional de Psicologia, nesse contexto,

deve seguir no sentido de emancipação dos sujeitos, na medida em que promover

discussões sobre a realidade objetiva e facilitar o processo de implicação dos sujeitos

nesta, pode resultar em criticidade, autonomia e independência. O presente projeto de

intervenção foi idealizado ao longo da disciplina de Estágio Supervisionado Básico II

do curso de Psicologia da Faculdade Leão Sampaio, e aplicado na Escola Estadual EFM

Clotilde Saraiva Coelho, no bairro Pirajá em Juazeiro do Norte com os alunos do

terceiro ano do Ensino Médio, objetivando promover a reflexão crítica destes sobre sua

realidade e a implicação desses jovens no discurso de transformação desta e de

construção do futuro que almejam, além de oferecer espaço para que manifestassem

seus anseios, medos, limitações, sonhos e projetos de vida, suscitando a discussão sobre

temas elencados pelo grupo interventor e pelos próprios participantes, dentre eles o

mundo do trabalho, vulnerabilidades e potencialidades da comunidade em que vivem,

drogas, dificuldades inerentes ao seu nível socioeconômico, contexto sociopolítico

atual, entre outros. A intervenção ocorreu entre os meses de agosto e dezembro de 2014,

com frequência de um encontro semanal nos quais foram realizadas duas dinâmicas por
224

encontro de acordo com uma temática pré-selecionada. Após a realização das

dinâmicas, foram abertos debates sobre os temas trabalhados a fim e que os jovens

expusessem suas opiniões, dando-lhe voz para que se manifestassem e ouvissem a si

mesmos e aos outros. Foram temas trabalhados: escolha profissional, ideal de futuro,

vulnerabilidades e potencialidades da comunidade, papel pessoal e social, implicação

social, imagem pessoal e representação social, conjuntura política atual, drogas,

autonomia e emancipação. Os resultados alcançados foram coerentes com a proposta

inicial do projeto. Foi possível observar evolução principalmente no que diz respeito à

autoconfiança em manifestar-se e na implicação nos discursos. Ao longo da

intervenção, sentiram-se mais confortáveis e confiantes para construir um discurso

coerente com a realidade em que vivem, implicando-se e compreendendo o papel

transformador de suas ações sobre aquela realidade. Explicitaram ainda uma maior

compreensão sobre o contexto sociopolítico nacional e comunitário, preocupações e

ideais de justiça e comprometimento social.

Palavras-chave: Psicologia; Adolescência; Relato; Educação.


225

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO MUNDO AZUL

Vitória Régia Batista de Souza; Itainhaiany Cardoso de Almeida Lima; Raquel

Pimentel Arruda; Ana Paula Gonçalves Nunes e Eidson Lima Damasceno – UNEB

vitoriaregiabatista43@gmail.com

O presente trabalho buscou apresentar o projeto Construindo um mundo azul, para saber

compreender como se dá a potencialização da aprendizagem por meio do livro sensorial

para crianças com espectro autista na sala de aula do 1º ano de uma escola regular da

cidade de Petrolina-PE, cuja sala contém um aluno com Transtorno do Espectro Autista

– TEA. Entendendo que o livro sensorial é um recurso que dá autonomia para a criança

com autismo e que estimula as funções sensoriais a partir das formas, cores, cheiros,

tamanhos, dando autonomia ao produzir a sua própria atividade, no caso c através de

uma produção literária coloca e tira os objetos no velcro, amarrando e desamarrando

cadarço, não sendo somente um livro para acalmar a criança autista, mas também como

potencializador de aprendizagem do mesmo. Tendo como objetivo contribuir através da

produção literária sensorial uma potencialização de aprendizagem da criança com TEA,

identificando a partir da realização da atividade com o livro a subjetividades do

educando, estimular a criatividade, o imaginário para perceber a psicomotricidade da

criança. Tendo como métodos da pesquisa, primeiramente se percebeu de uma forma

perspicaz as principais características do aluno autista, os comportamentos frequentes

apresentados pelo aluno na sua rotina na escola, logo após explorou-se o ambiente da

criança autista. Percebendo se podia iniciar uma quebra na rotina do aluno (o que é

muito complicado, por que a criança autista desenvolve a partir das repetições do que

acontece no dia a dia). Sendo assim, iniciou o contato da criança autista com o livro
226

sensorial. Passou por um momento de conhecimento do objeto. Tocar, perceber as

cores, as formas, assim, iniciou o desenvolver da história contada por ele, utilizando dos

objetos de feltro, porém antes se teve o contato com as atividades realizadas por ele,

para perceber a sua subjetividade, assim fazendo objetos de feltro em formas de

aparelhos eletrônicos, que é o que ele mais gosta.

Palavras-chave: Autismo; Aprendizagem; Potencialização; Livro sensorial.


227

JOVENS ASSENTADOS: HISTÓRIAS DE VIDA E PROJETOS DE

FELICIDADE

Denise Zakabi e Maria Luisa Sandoval Schmidt – USP

denise-z@usp.br

O assentamento Maceió, em Itapipoca, litoral do Ceará, tem sido local de conflitos pela

terra desde a sua formação, nos anos oitenta. Foi formado a partir da luta de

trabalhadores que reivindicaram o direito pela posse da terra, com apoio das

Comunidades Eclesiais de Base. A pesquisa teve como objetivo geral colher a história

de vida de jovens moradores do assentamento e de comunidades vizinhas, para

compreender, no contexto de trajetórias singulares, vivências significativas na

comunidade, elaboração dos conflitos relativos à posse da terra e perspectivas e sonhos

de futuro. Esse objetivo foi buscado através de entrevistas semiestruturadas, nas quais

foram construídas narrativas de história de vida de jovens assentados e de comunidades

vizinhas, associadas com a observação participante de atividades comunitárias. A

análise foi compreensiva, inspirada principalmente nos conceitos de enraizamento e

projetos de felicidade. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do

IPUSP (CAAE 36349614.2.0000.5561). Todos os jovens entrevistados e com os quais

se conversou durante a observação participante demonstraram um sentimento de

enraizamento na sua comunidade. Quando pensavam em projeto de futuro, lamentavam-

se por precisarem se deslocar para outra cidade para ampliar sua formação com uma

graduação. Todos consideravam que seria um deslocamento temporário, pois

pretendiam voltar para comunidade para contribuir com esta e com sua família. A

comunidade é uma continuidade de suas casas, sendo em alguns relatos indiferenciada a


228

menção às duas. Houve diferenças entre os jovens entrevistados das comunidades que

pertenciam ao assentamento, em relação àqueles da comunidade fora do assentamento.

Os jovens da comunidade do assentamento relataram maior união das pessoas da

comunidade em casos de necessidades e mobilização contra a entrada de grandes

empresas de turismo e de outros empreendimentos nos quais não houvesse uma gestão

comunitária. Mesmo com essas diferenças, também relataram transformações nas

relações dentro da comunidade, de trocas de produtos em caso de necessidade, para

trocas comerciais por dinheiro. Como maneira de lidar com situações de opressão, os

jovens podem agir taticamente, por exemplo, diante de condições futuras de sua

comunidade, instáveis e imprevisíveis, devido à falta de políticas públicas voltadas para

garantia de direitos desta população, pode-se pensar somente no presente e evitar pensar

nas ameaças à comunidade. Este estudo traz a relevância das histórias de vida dos

jovens assentados e os modos de vida rurais. Pode gerar reflexões sobre como o

psicólogo pode atuar nas áreas rurais, especialmente com jovens assentados. Além

disso, evidencia a importância de políticas públicas voltadas para a população do

campo, particularmente, para que jovens enraizados não sejam forçados à migração.

Palavras-chave: narrativas; juventude; projeto de vida; migração humana; ambientes

rurais.
229

PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO/COLABORATIVO: PROMOÇÃO DO

CUIDADO A CRIANÇA NA CLÍNICA ESCOLA.

Adgleicy Rodrigues Aquino, Andrielly Maria Pereira, Naianny Sthefanny Souza

Mendes, Natália Maria da Silva, Ana Maria de Santana. – UPE

andriellypereira@hotmail.com

Diante do crescimento da procura por atendimento psicológico nas clínicas-escolas, e da

escassez de atendimento gratuito desta natureza, nota-se que há uma longa lista de

espera daqueles que se encontram em sofrimento e necessitam de um acolhimento

imediato, mostrou-se como necessário e socialmente útil a realização de tal proposta

interventiva diante da espera para o atendimento psicológico de crianças, triadas no

Serviço de Atenção Psicológica/SAP do Curso de Psicologia da UPE, este resumo diz

respeito ao projeto de extensão, onde foi ofertado o Psicodiagnóstico Interventivo

Colaborativo, como modalidade de prática psicológica clínica, esta foi direcionada ao

diagnóstico de demandas infantis bem como de intervenção no âmbito familiar, visando

o acolhimento destes em situação de crise, com abertura para outras compreensões,

para além disto este projeto pode proporcionar o contato dos discentes com a práxis

psicológica frente à criança em sofrimento. A abordagem norteadora foi a

Fenomenologia Existencial, utilizando também a noção de fusão de horizontes presente

na Hermenêutica Gadameriana que se inspirou na Ontologia Fundamental de Martin

Heidegger, que fortalece a dimensão colaborativa desta modalidade. Estabeleceu-se

diálogos no que concerne aos compartilhamentos sobre os possíveis sentidos que a

família elabora diante da relação com a criança. Nesses encontros, os pais/responsáveis

podiam trocar experiências, elaborar novos significados para o sofrimento em questão.


230

Esse passo do processo também se revelou importante por trazer reflexões significativas

acerca do posicionamento do psicólogo, como aquele que não é o detentor e o único

produtor de conhecimento. Interroga-se, acerca do sentido que o familiar elabora frente

à experiência de sofrimento da criança. Esse psicodiagnóstico revelou-se como um

espaço onde a família dava uma pausa nas suas atividades para pensar conjuntamente

sobre sua dinâmica e suas relações, além de proporcionar um outro olhar para a queixa

que era inicialmente atrelada a criança.

Palavras-chave: Psicodiagnóstico; Clínica Fenomenológica; crianças; família.


231

A FLEXIBILIZAÇÃO DO TEMPO: A ESCOLA PARA UM ATENDIMENTO

INCLUSIVO.

Raquel Pimentel Arruda; Itainhaiany Cardoso de Almeida Lima; Vitória Régia Batista

de Souza; Ana Paula Gonçalves Nunes; Eidson Lima Damasceno. – UNEB

raquel.pedagoga@hmail.com

Esta pesquisa tem como proposta discutir sobre a flexibilização do tempo: a escola para

um atendimento inclusivo. Temática que emerge das discussões realizadas no NETEME

– Núcleo de Estudos Tecnologias em Educação Especia¹. Sendo que esta proposta foi

sendo amadurecida nos processos formativos desenvolvidos no núcleo, o que nos

conduziu a perceber a necessidade de estudos mais aprofundados quanto a temática.

Com o intuito de compreender o entendimento do educador em relação à Flexibilização

do curso na Educação Especial, compreendendo a sua cronologia para o aprendizado e

seu contexto ao qual está inserido e colaborar para uma mudança na LDB em relação à

flexibilização do tempo de curso através de um aprofundamento teórico desta discussão.

Com um dos objetivos Específicos de: Identificar qual o conhecimento de educadores

em relação à flexibilização do tempo de curso para alunos com necessidades especiais.

Para alcançar os objetivos propostos neste anteprojeto de pesquisa, propõe-se a realiza

de uma pesquisa documental, bibliográfica de natureza qualiquantitativa. Uma vez que

esse tipo de pesquisa possibilita analisar as situações humanas no âmbito das

subjetividades de forma concomitante com a análise de dados quantitativos. Como

instrumentos de coletas de dados serão utilizado à busca em documentos e legislação

correlata ao assunto, bem como a realização de entrevistas semi-estruturadas com

educadores da região.
232

Palavras Chave: Flexibilização; Inclusão; Tempo de Curso.


233

RODA NARRATIVA

PSICOLÓGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

OS ESPÍRITOS CHEGAM À CLÍNICA: E AGORA?

Profa. Dra. Karla Daniele Luz – UNIVASF

karladanimac@hotmail.com

A história das crenças e religiões confunde-se com a própria história da humanidade.

Em cada época essa perspectiva marcou os feitos e trajetos humanos. Na

contemporaneidade isso não é diferente. Há nos dias atuais um visível movimento de

retorno há hábitos e crenças como uma busca incansável pelo transcendente. Esse

trabalho objetiva apresentar relatos clínicos de experiência religiosa em sua presença

cada vez mais constante no contexto das práticas psicológicas; como também, discutir o

que seriam, segundo os trabalhos do professor Gilberto Safra (2008), os possíveis

manejos clínicos da experiência religiosa. Nas atuais práticas e campos em que o

psicólogo se insere não é raro a presença de discursos e vivências religiosas, muitas

vezes trazem desconforto e desalojamento a esse profissional. Para ilustrarmos essa

informação traremos aqui alguns fragmentos clínicos e a possibilidade de discuti-los na

intercessão entre prática e postura ética, as quais buscam ‘estar com’ esse sujeito em sua

‘alteridade’. Primeiro fragmento clínico: A.O.S., 15 anos, católico, diz: “...dentro da

igreja eu me sinto protegido de tudo e de todos. Todo final de tarde eu estou lá rezando,

quando sinto Jesus entrar e sentar ao meu lado para conversarmos”(sic.). Segundo

fragmento: D.A.I., 38 anos, evangélica, diz: “...não sou eu, é o demônio, a senhora

entende? Toda noite o demônio me pede para pegar uma faca e matar meu marido. Eu
234

sei que é ele...”(sic.). Terceiro fragmento: J.S.S., 26 anos, filho de santo, relata: “Olhe

doutora, hoje a senhora vai ouvir tudo que tenho para lhe dizer. Ontem no terreiro

estive com meu mestre Oxum. Ele me disse muitas coisas sobre minha vida, as coisas

que falo aqui com a senhora, mas depois ele me pediu para lhe dar um recado...”(sic.).

Esses relatos clínicos encontram-se cada vez mais presentes onde quer que o psicólogo

esteja, marcando exatamente a possibilidade de uma alteridade sempre diversa entre

nós. Como manejar essa experiência? Como definir as sutilezas de sua ação na vida

psíquica e em todo modo de subjetivação daquele que assim crê? Podemos mencionar

aqui que o psicólogo deve estar devidamente apto para lidar com essa experiência outra

e do outro. Há que se mencionar que é legítimo que os sujeitos tragam ao encontro

terapêutico toda gama de vivências que lhe é peculiar. Há que se compreender que o

manejo dessa experiência passa pela maturidade profissional e clareza que a vivência

religiosa tem grande participação na constituição subjetiva daquele que crê. Desse modo

acreditamos em um avanço ético, técnico e, por que não dizer epistemológico, no

tocante ao manejo clínico da experiência religiosa.

Palavras-chave: religião; clínica; ética.


235

O LUGAR DA TÉCNICA MODERNA NA TRANSFORMAÇÃO DOS

AMBIENTES E SUAS REPERCUSSÕES NO EXISTIR HUMANO

Maria José Heráclio de Aquino Oliveira – UPE

m.heraclio@gmail.com

Diante das diversas modificações ambientais que o mundo vem experiênciando,

incluindo as transformações do espaço urbano, essa dissertação teve como objetivo

estudar o lugar da técnica moderna nesses fenômenos e suas repercussões no existir

humano. Inicia-se apresentando brevemente o percurso percorrido pela Psicologia

Ambiental, vertente da Psicologia que busca compreender o ser humano frente ao

ambiente a partir de uma visão interdisciplinar. Em seguida é feita uma apresentação de

fragmentos da obra de Heidegger que, ao perguntar pelo sentido de ser também

pergunta pelo sentido de seu habitar e como esse habitar se faz importante para o

próprio constituir-se do ser-aí enquanto ser-no-mundo. O trabalho foi realizado a partir

da experiência de desapropriação vivida por um grupo de moradores do canal Ibiporã,

na comunidade do Coque, localizada na região central da cidade do Recife. Esses

moradores foram entrevistados com o objetivo de compreender o fenômeno de ser

deslocado de suas casas para que uma obra pública fosse executada. Foi feita uma

observação participante em encontros desse grupo a fim de encontrar as cinco

colaboradoras dessa pesquisa e, então, utilizou-se a entrevista narrativa proposta por

Flick, assim como o diário de bordo trabalhado por Aún para somar a experiência da

pesquisadora à investigação. Como resultados foram encontrados alguns núcleos de

sentido:importância da história da comunidade;importância da rede de apoio;

sentimentos de impotência e vergonha diante de uma remoção imposta;ciclo vicioso de


236

ocupação irregular dos espaços; apego ao lugar; dúvidas e a angústia relacionados a um

futuro incerto; mudanças de hábito. Mas também é possível ver como essa história de

descaso com as pessoas e os lugares tem incentivado essas pessoas a se envolverem

com suas existências, formando-se politicamente e/ou valorizando seus espaços.

Palavras-chave: Psicologia Ambiental; técnica moderna; interdisciplinaridade;

transformações ambientais.
237

PRÁTICAS PSICOLÓGICAS NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE E

PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA DA ASSISTÊNCIA.

Alexsandra Marcela Lins de Souza Ferreira, Ana Lúcia Francisco – UNICAP.

alexsandralins@gmail.com

A prática psicológica, no Brasil, vem revelando diversas modificações desde a

regulamentação da Psicologia como profissão. A partir dos anos 1980, o trabalho do

psicólogo que antes era predominantemente no âmbito da clínica privada, se desloca

para o setor público frente a crescente demanda dos profissionais de Psicologia nas

políticas públicas. Contudo, as práticas psicológicas parecem ainda não contemplar,

satisfatoriamente, os aspectos políticos e sociais que a atualidade requisita,

considerando a forte presença destes componentes no sofrimento psíquico. Nesta

perspectiva, o presente trabalho objetiva compreender as implicações políticas e sociais

na prática de psicólogos que atuam na Atenção Básica de Saúde e na Proteção Básica da

Assistência Social. A pesquisa é de natureza qualitativa, de cunho fenomenológico.

Serão entrevistados 04 (quatro) psicólogos, sendo 02 (dois) que atuem nas políticas

públicas de Saúde, através do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e 02 (dois)

na Assistência Social, através do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS).

Como instrumentos, utilizaremos a entrevista narrativa, a partir de Benjamin (1994) e o

diário de bordo na perspectiva de Aun (2005). A compreensão das narrativas será

realizada através da hermenêutica filosófica proposta por Gadamer (1960).

Dialogaremos com autores que problematizam a formação do psicólogo e as demandas

clínicas da atualidade a exemplo de Ferreira Neto, Francisco, Bock e Figueiredo, assim


238

como Rolnik, Deleuze e Guattari, no tocante a construção da subjetividade e Edgar

Morin acerca do paradigma da complexidade. Como resultado dessa pesquisa,

esperamos problematizar e refletir as práticas clínicas, os novos sofrimentos psíquicos,

assim como as concepções de subjetividade, sujeito e mundo dos profissionais que

atuam na atenção básica de saúde e proteção básica da assistência. Objetivamos ainda,

favorecer a construção do conhecimento acadêmico disponibilizando as informações

para profissionais, pesquisadores e alunos viabilizando o desenvolvimento da Psicologia

como ciência e profissão.

Palavras-chave: Práticas psicológicas clínicas; Atenção básica; Proteção básica;

Aspectos sociais e políticos.


239

REFLETINDO SOBRE PRÁTICAS DE CUIDADO EM UNIDADES

BÁSICAS DE SAÚDE

Grazielle Serafim dos Santos, Janielly Dayse Silva, Marilyn Dione de Sena Leal, Régia

Maria Batista Leite. – UPE, Campus Garanhuns

grazi-se.sa@hotmail.com

Este trabalho surgiu a partir das atividades relativas ao projeto PRÓ-SAÚDE/PET-

Saúde, intitulado “Saúde Mental na Rede: Práticas de Educação Permanente e

Acionamento da Rede de Cuidados de Garanhuns/PE”. Financiado pelo Ministério da

Saúde e vinculado à Secretaria de Saúde de Garanhuns/PE e à Universidade de

Pernambuco – Campus Garanhuns. O objetivo deste trabalho é relatar experiências

vivenciadas por discentes bolsistas, no âmbito da Estratégia de Saúde da Família (ESF)

em relação às práticas de cuidado realizadas pelos profissionais aos usuários de drogas.

Pretendemos discorrer sobre a lógica de cuidado nas UBS’s com usuários de Crack,

álcool e outras drogas à luz da apreensão do processo de estigmatização vivenciado

pelos usuários nos serviços, evidenciando que o estigma dificulta o acesso destes à

Atenção Básica e, portanto, interfere de forma significativa na demanda de cuidado dos

usuários de drogas nas USF’s. Refletindotambém sobre as práticas de cuidado dos

profissionais que atuam na Rede de Atenção Básica e suas estratégias de acolhimento

para a inserção destes usuários na rede. O presente trabalho é alicerçado nas teorias

sociais construídas por Goffman (1988) e por Parker e Agleton (2002). Para a

apreensão da noção de cuidado foi utilizada a perspectiva de Ayres (2004). Ao longo

do PET, foram realizadas ações interventivas de promoção e prevenção em relação ao

uso/abuso das drogas e sobre a política de redução de danos tanto para os profissionais
240

quanto para a comunidade, com a finalidade de proporcionar reflexões sobre a temática

das drogas na rede. Devido à dificuldade do acesso, utilizou-se estratégias como,

palestras/rodas de conversas com os usuários nas salas de espera das UBS’s, visitas

domiciliares e a participação nas reuniões das equipes profissionais. Encontrou-se,

inicialmente, resistência dos profissionais para abordar esses usuários e também

resistência dos usuários para acessar a Atenção Básica, o que nos leva à reflexão sobre a

influência do preconceito e estigma presente na comunidade como dificultador de

acesso ao serviço de saúde. Com este trabalho percebe-se a importância de compreender

e refletir acerca das políticas públicas direcionadas para os usuários de crack, álcool e

outras drogas e sobre quais estratégias estão sendo utilizadas para que as práticas de

cuidado não estigmatizantes sejam efetivadas na rede de Atenção Básica.

Palavras-chave: Processo de Estigmatização; Práticas de Cuidado; Atenção Básica.


241

GRUPO DE FAMÍLIA: PROMOVENDO CUIDADO INTEGRAL - CAPS II

PETROLINA/PE

Grécia Rejane Nonato de Lima; Monique da Silva Ribeiro; Záina Pereira Martins

Santos; Aléssia Silva Fontenelle; Adriana Lira Pinheiro de Souza. –UNIVASF

grecianpsi@gmail.com

Durante muito tempo o tratamento a pessoas com intenso sofrimento psíquico se deu em

instituições que tinham como diretriz terapêutica o isolamento, porém, após a Reforma

Psiquiátrica houve a modificação desse modelo por serviços que visam prioritariamente

a cidadania dos seus usuários (Schrank, Olschowsky, 2008). O CAPS aparece então

como serviço substitutivo que tem por objetivo o cuidado integral do sujeito, focando,

assim, o engajamento da família e da comunidade no tratamento, valorizando o

território. No que concerne a reabilitação desses sujeitos, a família se constitui como

fundamental para que a terapêutica obtenha sucesso. Assim, sua inserção no tratamento

pelo CAPSII vem sendo possibilitada, entre outros, através do Grupo de Família, grupo

esse que somente passou a ser desenvolvido no serviço a partir de maio de 2015, de dez

anos de existência do serviço. Os grupos são realizados três vezes na semana (segundas,

terças e sextas-feiras), acontecendo dentro dos espaços do CAPS, onde são utilizadas

metodologias especificadas no cronograma, como rodas de conversa, dinâmicas de

grupo, expressões artísticas, dentre outros, com duração de uma hora e 20 minutos,

aproximadamente. Participam desses espaços os acompanhantes dos usuários nos

respectivos dias. A realização desses grupos tem por objetivo proporcionar ao familiar,

espaços de escuta e fala, valorizando o compartilhamento de experiências entre familiar-


242

familiar e familiar-profissional, de modo a acolhê-los em suas demandas, implicá-los no

cuidado ao usuário e no autocuidado. De acordo com Figueiredo (2005), os grupos de

família, em geral, possibilitam que questões referentes às suas experiências e

dificuldades diante do tratamento de seus parentes sejam trabalhadas, e para além disso,

essas podem se estender para o próprio sujeito, quando esse compartilha suas próprias

questões frente ao adoecimento, à loucura e suas possíveis soluções. Apesar de ainda

incipientes, a adesão aos grupos tem crescido gradativamente e atraído os

acompanhantes que frequentam o serviço semanalmente e que avaliam a proposta de

modo bastante positivo, identificando-a como um espaço de promoção de saúde. Assim,

tem-se observado que o desenvolvimento desses grupos vem ampliando o alcance das

intervenções do CAPS, de modo que os familiares são, de fato, convocados a se

implicarem no tratamento e a refletirem sobre seu papel no processo de saúde e

adoecimento. Isto é, deixam de compor a “plateia” da sala de espera que somente assiste

e emite reações diante do que vê (quando vê) e, cientes de sua importância, passam a

protagonizar o processo terapêutico junto aos seus cônjuges, irmãos, filh@s e

companheir@s.

Palavras-chave: Grupo de Família; CAPS; Saúde Mental; Cuidado.


243

PRÁTICAS PSICOLÓGICAS NUM SERVIÇO ESCOLA DO SERTÃO DE

PERNAMBUCO: DESAFIOS E AVANÇOS

Melina de Carvalho Pereira, Shirley Macedo Vieira de Melo - UNIVASF.

ceppsi@univasf.edu.br

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o serviço escola de psicologia da

Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), identificando as

atividades realizadas, delineando avanços e principais desafios enfrentados pela

instituição atualmente. O Centro de Estudos e Práticas em Psicologia (CEPPSI) é um

espaço inaugurado em 2009 com o intuito de efetivar acompanhamento psicológico

individual e/ou em grupo, assim como atividades acadêmicas de projetos de pesquisa e

extensão. Sua missão é oferecer ao estudante de Psicologia oportunidades para

desenvolver aprendizado e conhecimento científico, atendendo a variadas demandas da

sociedade e, ao longo dos anos, tem enfrentado constantes reformulações. Enquanto

inicialmente era disponibilizada para a comunidade apenas a psicoterapia individual,

atualmente as práticas psicológicas oferecidas aos usuários são: plantão psicológico,

psicoterapia individual, tratamento para paciente com síndrome de pânico, avaliação

psicopedagógica, grupo de obesidade, grupo de orientação de pais, grupo interventivos

em clínicas do trabalho, atendimento a atletas de alto rendimento, aconselhamento de

carreira e consultoria estratégica de Recursos Humanos. A formação dos estagiários

também vem passando por mudanças com atividades específicas para o aprofundamento

teórico-prático da ciência psicológica que envolve estudos de caso e capacitação com

profissionais externos à comunidade acadêmica. A carga horária de funcionamento da

instituição, outrora com apenas seis horas diárias, atualmente funciona em regime de 12
244

horas ininterruptas de segunda a sexta. A princípio, havia apenas quatro supervisores;

hoje são sete professores supervisores de Estágio Profissionalizante, somando ainda

aqueles que trazem seus alunos para desenvolverem atividades práticas que antecedem o

período de estágio. A equipe funcional, antes composta por dois assistentes

administrativos e uma psicóloga, atualmente comporta oito pessoas (sendo duas

psicólogas). Até o momento foram beneficiados mais de 2.000 usuários e 260

estagiários. Apresentam-se como principais dificuldades para a instituição o tamanho do

espaço físico e a pequena quantidade de serviços de psicologia disponíveis na região

para a comunidade, concentrando assim grande demanda neste centro. Como metas

futuras pretende-se ativar articulações permanentes com as redes de cuidado existentes

na região, ligadas aos diversos setores das Políticas Públicas e atender a demandas

específicas da comunidade do Vale do São Francisco. Diante dos dados apresentados,

percebe-se considerável ampliação quantitativa e qualitativa dos serviços oferecidos aos

usuários, assim como benefícios à formação dos estudantes, tornando-se o CEPPSI uma

instituição de referência em práticas psicológicas no Vale de São Francisco.

Palavras-chave: comunidade; estagiário; psicologia.


245

MODOS DE ENFRETAMENTO DE CUIDADORAS DE CRIANÇAS EM

TRATAMENTO ONCOLÓGICO.

Priscila de Lima Souza, Silvia Raquel Santos de Morais. – UNIVASF

prichixila@hotmail.com

No tratamento oncológico infantil, a família é considerada integrante e fundamental do

tratamento. Seu engajamento nesse processo gera incertezas e angústias, sobretudo

diante da iminência de morte de seus entes. Trata-se de um relato de pesquisa realizado

com cuidadoras de crianças com câncer em uma instituição especializada de Petrolina-

PE. O objetivo desse estudo foi identificar os modos de enfretamento utilizados por

quatro mães e uma avó que acompanhavam há pelo menos seis meses, o tratamento

oncopediátrico de seus entes (crianças). Partiu-se de uma pesquisa qualitativa ancorada

na Fenomenologia Existencial Heideggeriana com uso de narrativas, as quais foram

interpretadas por meio da Analítica do Sentido. Foi notória a menção do processo

demorado da descoberta da doença, bem como, o choque seguido de alívio diante do

diagnóstico, além da fé e do cultivo da espiritualidade como recursos de enfrentamento

da situação vivida. Apenas uma das participantes não citou a espiritualidade como modo

de enfrentamento. Esses modos de enfrentamento podem ser compreendidos como vias

de produção de sentidos diante da angústia que assola a complexidade do evento vivido

(tratamento longo, intercorrências clínicas, iminência de morte) e das incertezas

atualizadas. O estudo possibilitou uma maior aproximação e compreensão do cotidiano

das cuidadoras, agregou valor às práticas institucionais e realçou a necessidade de

espaços de cuidado como esse em prol da ressignificação do tratamento oncopediátrico.

Sugere-se que pesquisas futuras considerem a compreensão da própria criança acerca da


246

doença e tratamento, englobando subtemas que incluam educação em saúde, cuidados

paliativos na infância, escolarização e rede social de crianças com câncer.

Palavras-chave: oncologia pediátrica; modos de enfrentamento; cuidado.


247

AUTONOMIA E LIBERDADE: NORTEANDO A PRÁTICA PSICOLÓGICA

EM HEMODIÁLISE

Viviane Rodrigues Dolomieu, Maria Gracinda Oliveira de Souza, Simone Dalla Barba Walckoff

– Universidade Católica de Pernambuco

rfviviane@gmail.com

A nefrologia emergiu na medicina há 50 anos abrindo um novo campo de reflexões aos

questionamentos éticos através da sua inovação diagnóstica e das três terapias renais

substitutivas: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal. Na sala de hemodiálise,

o psicólogo se depara com constantes dilemas éticos que envolvem o paciente, a terapia

e a equipe de saúde. Nas suas intervenções, o psicólogo precisa cuidar para que o

respeito à autonomia do paciente esteja presente. O princípio bioético de autonomia tem

como base o reconhecimento de que o paciente, consciente e orientado, é capaz de

avaliar e escolher algo, por meio de sua determinação, sem restrições internas ou

externas. A liberdade, alicerce da expressão da singularidade, traz para a experiência do

adoecimento a possibilidade de uma novidade, ou de uma revolução na biografia do

paciente renal, apontando dessa forma para um caminhar também arraigado de saúde. O

presente trabalho tem como objetivo refletir acerca da liberdade e do princípio bioético

de autonomia enquanto norteadores da prática do psicólogo em instituição de diálise.

Para tanto, foi realizado um estudo de caso à luz da fenomenologia existencial entre

setembro e outubro de 2015. Esse estudo foi construído a partir da experiência da

prática clínica psicológica no contexto de hemodiálise e de uma revisão da literatura

tendo Hannah Arendt e escritos da bioética como referenciais teóricos. Consideramos

que realizar uma prática clínica ancorada na fenomenologia existencial e norteada pelos
248

princípios da bioética nos é fundamental e urgente na construção da presença do

cuidado psicológico e da garantia do respeito à dignidade do paciente em hemodiálise.

Palavras-chave: bioética; psicologia e nefrologia; liberdade e singularidade.


249

PRÁTICAS PSICOLÓGICAS EM INSTITUIÇÕES E PESSOAS SURDAS:

(RE)FAZENDO SABERES E AÇÕES

Profa. Dra. Karla Daniele Luz – UNIVASF

karladanimac@hotmail.com

O atendimento em saúde às pessoas com deficiência, de modo geral, vem, ao longo dos

anos passando por alguns avanços no que diz respeito às Políticas Nacionais de Saúde

(2008), tanto no que tange à acessibilidade arquitetônica (adequação de PSF, Hospitais,

etc.) no que diz respeito à acessibilidade atitudinal. Dentro dessa política encontram-se as

perspectivas voltadas à saúde da pessoa surda, com toda sua especificidade linguística. O

atendimento em saúde da pessoa surda certamente estará marcado pelas diferenças culturais

que a separam da cultura ouvinte. No tocante às particularidades das ações em saúde

voltadas para esse público, algumas ações já vem sendo realizadas como atendimentos com

a presença do intérprete de LIBRAS. Em alguns casos também é comum a presença de um

familiar, parente ou amigo acompanhando o surdo em consulta aos mais diversos

profissionais de saúde na tentativa de intermediar a comunicação. Pensando em toda essa

questão, esse trabalho pretende traçar uma discussão sobre toda perspectiva de ações em

Práticas Psicológicas em Instituições e a pessoa surda, considerando, pois sua

especificidade linguística. Aqui tomaremos o seguinte fragmento de caso clínico: Paciente

do sexto feminino, surda, 16 anos, com queixa de depressão após o término de um namoro.

Dada noite faz inúmeros cortes nos braços com uma faca de cozinha. No dia seguinte ao

perceber os ferimentos a família leva-a a urgência, ao se relatado que se cortara, suspeita-

se de um quadro de esquizofrenia. Em poucos dia a paciente é internada em hospital

psiquiátrico e a toda sua configuração sintomática é atribuído um quadro de psicose grave.


250

A prática clínica está repleta de relatos como esse e ainda piores de desrespeito e

incapacidade de se prestar atenção e cuidado à pessoa surda, considerando toda sua

especificidade existencial. Nesse caso uma das primeiras barreiras que se faz entre o

psicólogo e o sujeito surdo é a barreira comunicacional; desse modo acreditamos na

urgência de psicólogos que desde a formação sejam aptos em Língua Brasileira de Sinais.

Devemos, então, compreender que toda gama de trabalhos que diz respeito às Práticas

Psicológicas em Instituições devem estar devidamente acessíveis às pessoas surdas. Seja em

saúde ou em educação, seja no contexto público ou privado e exatamente dentro de uma

perspectiva fenomelógico/existencial é que atenção e saúde a esse público deve ser ética,

acessível e inclusiva. Afinal nossa defesa é práticas psicológicas em instituições para

pessoas com ou sem deficiênica.

Palavras-chave: psicólogo; surdo; prática profissional; LIBRAS.


251

ATU(AÇÃO) DE PSICÓLOGOS(AS) JUNTO A MORADORES DE RUA

Grazielle Serafim dos Santos, Janne Freitas de Carvalho. Universidade de Pernambuco-

Campus Garanhuns.

grazi-se.sa@hotmail.com

Atualmente tem havido algumas transformações e ampliações das possibilidades de

atuação para o psicólogo, levando os profissionais a repensarem áreas, modos e ações

em função de demandas emergentes. O deslocamento da atuação profissional de um

lugar concreto e definido (setting terapêutico) para locais abertos com possibilidade de

transitar nos territórios começou a pertencer ao fazer do psicólogo e, portanto, parte-se

de uma nova compreensão que diz de uma atitude clínica. Com a Constituição Federal

de 1988, no Brasil, a Assistência Social tornou-se uma Política Pública, pois a

preocupação com os direitos e bem-estar do cidadão foi colocada em destaque.

Começaram as reflexões sobre as possibilidades de concretização desta política para

garantir o direito de acesso de todos os cidadãos brasileiros. Sendo implantada apenas

em 2005, a rede SUAS (Sistema Único de Assistência), houve o reposicionamento e

ampliação da psicologia, visto a necessidade de contratação desses profissionais para

atuarem nas políticas públicas de assistência social, inicialmente CRAS (Centro de

Referência de Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado de

Assistência Social). Considerando este novo contexto de atuação para os profissionais

de psicologia, este estudo, relacionado a um projeto de trabalho de conclusão de curso

de graduação que se encontra em desenvolvimento, objetiva compreender a experiência

de psicólogos(as) que atuam junto a moradores de rua. Para isto, torna-se necessário

contextualizar a ação do(a) psicólogo(a) relacionada às políticas públicas e suas

estratégias direcionadas para os moradores de rua. A partir do histórico de correlação


252

entre a psicologia e as políticas públicas de assistência social, é perceptível que há

desafios para diferenciar o fazer psicológico e o fazer das outras práticas profissionais

no contexto com os moradores de rua. Para alcançar o objetivo proposto serão colhidas

narrativas, através da entrevista aberta, de quatro profissionais que atuam no contexto

explicitado em Recife/PE. O diário de bordo será outro instrumento que servirá como

forma de registo das afetações da pesquisadora sobre as narrativas dos pesquisados. A

metodologia utilizada será clínico-qualitativa fundamentada numa psicologia inspirada

pela perspectiva Fenomenológica Existencial. Dito isto, pretende-se lançar reflexões

sobre os modos de atu(ação) de psicólogos(as) apontando caminhos para um atitude

ético-politica. Diante do exposto, acredita-se que a temática se articula com o eixo

Psicologia e Políticas Públicas de Saúde por compreender a importância da

intersetorialidade das políticas públicas, visando uma rede integrada de atenção.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Moradores de Rua, Intersetorialidade; Prática

Psicológica.
253

CAPSI: O OLHAR INFANTIL SOBRE O CUIDAR E O BRINCAR

Eloína A. R. Damasceno Silva; Maria Iracema de S. Araújo; Marcelo Silva de S.

Ribeiro; Melina de C. Pereira – UNIVASF

eloina_ariana@msn.com

O presente estudo teve como objetivo compreender como se dão as relações do cuidar e

do brincar em um Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) do Vale do São

Francisco na perspectiva das próprias crianças usuárias. Tendo como orientação a

multirreferencialidade metodológica, que concebe a integração de perspectivas

epistemológicas da pesquisa, esta investigação se forjou a partir da fenomenologia e se

inspirou na etnográfica. Foram sujeitos dessa pesquisa 13 crianças usuárias do serviço,

de ambos os sexos, com idade entre 7 a 11 anos, que frequentavam a instituição uma

vez na semana. Os instrumentos utilizados foram: observação participante, diários de

campo e atividades lúdicas (brincadeiras, entrevistas informais / rodas de conversa,

recursos fotográficos e massa de modelar). A análise dos dados se deu organizando-os

por instrumentos e operando-os a partir da técnica de triangulação, que visa cruzar as

informações e conteúdos, identificando os temas emergentes e apreendendo possíveis

sentidos e significados. Os temas emergentes, via redução fenomenológica, foram

organizados de acordo com suas visadas (sentidos e significados). Foram eles: a) “O

cuidado como comida/ necessidades básicas”, esse tópico discorre sobre como as

crianças se sentem cuidadas através da alimentação recebida no CAPSi; b) “O cuidado

como afeto” traz relatos das crianças a respeito da construção dos vínculos afetivos

também como uma forma de cuidado; c) “Retribuindo o cuidado” refere-se ao relato das

pesquisadoras sobre as crianças que, ao se sentirem cuidadas, passaram a ter um


254

comportamento diferente, demonstrando maior zelo com os materiais escolares do

decorrer da pesquisa; d) “Ambiência: fator de cuidado?” menciona sobre a necessidade

de melhora na infra-estrutura do CAPSi, por se tratar de um espaço destinado ao público

infanto-juvenil; e) “CAPSi como lugar de brincar” discorre acerca da relevância da

brincadeira para as crianças, sendo essa a atividade que ocupa o primeiro lugar na

preferência dentre as outras desenvolvidas na instituição; f) por fim “Prazer e

envolvimento com o lúdico” que relata a importância do lúdico para o envolvimento das

crianças nas atividades realizadas durante a pesquisa e a satisfação despertada. Os

resultados obtidos no presente estudo sugerem que o cuidado e a brincadeira são

indispensáveis ao desenvolvimento do ser humano. Além disso, contribuiu para os

estudos na área de saúde mental em geral, fomentando ainda, as discussões que

valorizam o protagonismo da criança através de um trabalho dinâmico e flexível.

Palavras-chave: Crianças; Brincar; Cuidar; CAPSi; fenomenologia.


255

(RE)AVISTANDO A PRÁTICA PSICOLÓGICA EM SAÚDE PÚBLICA

Ana Maria de Santana, Carmem Lúcia Brito Tavares Barreto; Danielle de Fátima da Cunha

Cavalcanti de Siqueira Leite, Ellen Fernanda Gomes Silva, Suely Emília de Barros Santos –

UPE

sant_anm@hotmail.com

Trata-se de uma comunicação que põe em evidência a prática psicológica no âmbito da

clínica ambulatorial em Rede Pública de Saúde. A intenção é de contribuir com

subsídios para a compreensão da prática psicológica em policlínica, tendo como lume a

Hermenêutica Filosófica de Martin Heidegger. Nesse propósito, caminha para

identificar referenciais da ciência moderna que vem influenciando na construção da

prática do psicólogo em saúde face as manifestações contemporâneas diversas de

sofrimento. Em seguida, partindo da crítica heideggeriana à aplicação do modelo de

ciência moderna a compreensão do ser do homem, procura interrogar o caráter

constitutivo existencial que vem surgindo nos cenários de atuação de psicólogos na

saúde em tarefas ambulatoriais. A metodologia advém da pesquisa bibliográfica junto a

autores inspirados na perspectiva fenomenológica existencial num esforço de encontrar

reveladores de uma prática psicológica em policlínica pública alinhada as indicações

formais heideggerianas, adotadas em vista da fecundidade que trazem à construção de

conhecimentos sobre a ação de psicólogos no campo da saúde.

Palavras-chave: fenomenologia-existencial; prática psicológica em saúde.


256

ESTÁGIO EM PSICOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES A UM DISPOSITIVO DE

SAÚDE MENTAL

Monique da Silva Ribeiro; Grécia Rejane Nonato de Lima; Záina Pereira Martins

Santos; Aléssia Silva Fontenelle; Adriana Lira Pinheiro de Souza – UNIVASF

cowmonista@gmail.com

Tendo em vista as diretrizes da Reforma Psiquiátrica e o papel de serviço substitutivo a

ser desempenhado pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) no âmbito da Saúde

Mental, vislumbra-se possibilidades de cuidado menos excludentes. A atenção

psicossocial prestada pelos CAPSs pressupõe um acolhimento aos sujeitos em intenso

sofrimento psíquico, baseado em um conjunto de ações que visam à substituição da

lógica manicomial (OLIVEIRA, 2009). Os CAPSs devem fornecer atendimento à

população, com acompanhamento clínico e reinserção social dos usuários pelo acesso

ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis, fortalecimento dos laços familiares e

comunitários, além de oferecer suporte à saúde mental na rede básica. Nesse contexto, a

atuação multiprofissional se mostra fundamental diante da necessidade de se promover

um cuidado integral à saúde, e a Psicologia, que, segundo Sales e Dimenstein (2009),

consiste-se em uma profissão historicamente ligada ao campo da Reforma Psiquiátrica,

ocupa um lugar crucial nessas equipes no que tange a ir além a readaptação e

normalização dos sujeitos. No intento de desenvolver essas habilidades, o estágio

profissionalizante ofertado para psicólogos em formação abrange como campo o CAPS

II de Petrolina, utilizando, como arcabouço teórico norteador da prática, a teoria

psicanalítica de orientação lacaniana, em conformidade com as percepções teóricas da


257

Reforma Psiquiátrica e da atual Política Nacional de Saúde Mental, regulamentada a

partir da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Objetivando atender as demandas daí

advindas, são desenvolvidas, diariamente, diversas intervenções que visam a

reabilitação de pessoas em intenso sofrimento psíquico. Entre as atividades realizadas,

destaca-se aqui a realização de grupos terapêuticos com usuários, com familiares, os

grupos de “Bom Dia”, que funciona como acolhimento diário, e os atendimentos

individuais como possibilidade de atuação do psicólogo, pautando-se na ética do sujeito,

respeitando a singularidade e não a sua adaptação social; as reuniões de equipe e

reuniões supervisionadas, as quais se constituem como possíveis caminhos para orientar

sobre o que é de fato desenvolvido, além de conhecer as possíveis estratégias

interventivas de forma ética, crítica e comprometida com o público ao qual se atende; e

evolução de prontuários e Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS) como

interlocução entre a prática desempenhada no serviço e toda a rede de saúde, além de

facilitar a comunicação intra-equipe, favorecendo o caráter interdisciplinar. Assim, a

prática desenvolvida pelo estágio profissionalizante dentro da equipe CAPS II, contribui

para o fortalecimento desse cuidado integral ao usuário, fazendo cumprir, portanto, com

os princípios que regem a Política Nacional de Saúde Mental, bem como para que

aconteça uma formação dos futuros psicólogos baseada numa vivência intensa a qual

possibilita um aprendizado que conecta teoria e prática.

Palavras-chave: CAPS; Saúde Mental; Estágio profissionalizante; Psicologia.


258

LOUCURA E SABER CIENTÍFICO-PROFISSIONAL: VOZES DA

EXPERIÊNCIA

Anne Crystie da Silva Miranda, Barbara Eleonora Bezerra Cabral – UNIVASF

annecrystie@hotmail.com; barbaraebcabral@gmail.com

Este trabalho compartilha recortes de uma pesquisa qualitativa compreensiva que

refletiu sobre sentidos da loucura, partindo da perspectiva de pessoas que viveram a

experiência da internação psiquiátrica. Objetivou-se circunscrever sentidos que

atravessaram os depoimentos, tecendo críticas a respeito da experiência da loucura e sua

redução patológica e discutindo possíveis repercussões dessas sobre o cuidado em

Saúde Mental. Em seu processo histórico de patologização, a loucura é alvo de cuidados

que se instituíram com pouca ênfase à experiência do “enlouquecer” tal como vivida.

Sob ótica fenomenológica existencial, entretanto, compreende-se que legitimar que as

próprias pessoas rotuladas como “loucas” podem efetivamente expressar “verdades”

acerca da sua loucura, de maneira que vozes da experiência de ter sido identificado

como louco diante do imaginário social e/ou de ter vivido o “enlouquecer” sejam

escutadas, é um dos “estetoscópios” dos quais a Atenção Psicossocial necessita.

Considerando que a experiência da loucura ainda é comumente relacionada ao

internamento, recorreu-se à metodologia dos relatos orais, tomando-se como matéria-

prima a narração de quatro pessoas que já foram internadas em instituição psiquiátrica

acerca da experiência da loucura. Com o aporte metodológico da Analítica do Sentido,

de Critelli (2006), os resultados foram discutidos a partir de quatro macrodimensões

(Loucura e experiência; Loucura e saber científico-profissional; Modos de cuidado à

pessoa antes, durante e depois da crise e Outras dimensões que atravessam a


259

compreensão de loucura). Propondo este relato a apresentar a macrodimensão Loucura e

saber científico-profissional, interpretações das narrativas sinalizam o que Jaspers

outrora já pretendia redimensionar: há uma sobreposição da linguagem médica da razão

à linguagem da experiência. Além disso, revelam obras da produção biomédica do

normal versus patológico, à qual Canguilhem teceu severas críticas, apesar de acentuado

o questionamento quanto à legitimidade do diagnóstico recebido, demonstrando que, em

alguma medida, os interlocutores têm buscado empoderar-se da voz da experiência que

carregam. Noutro quesito, destacam que sintomas habitualmente associados às situações

de crise nem sempre cumprem função negativa e desconfortável, sendo a remissão, por

vezes, a medicalização dos próprios modos de subjetivação, dos modos de cuidar de ser.

Assim, mesmo considerando a fronteira tênue que separa os “sãos” dos “loucos”, até

que ponto um cuidado “para loucos por não loucos” respeita a singularidade de cada

experiência, tornando-se efetivo? Há um longo caminho a percorrer na luta pela

validação dessas e doutras experiências no sentido de simplesmente “ser”: serem

ouvidas, reconhecidas, legitimadas naquilo que exprimem. É necessário demolir as

barreiras que segregam o mundo da loucura do mundo da expertise científico-

profissional, pois processos formativos respaldados em um saber-poder descolado da

experiência, acabam por distanciar os profissionais de uma disponibilidade de escuta

genuína das pessoas que atravessam a experiência de “loucura”.

Palavras-chave: Acontecimentos que Mudam a Vida; Saúde Mental; Assistência

Centrada no Paciente.
260

ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E O TRABALHO COM GRUPOS

TERAPÊUTICOS NO CAPS

Záina Pereira Martins Santos; Monique da Silva Ribeiro; Grécia Rejane Nonato de

Lima; Aléssia Silva Fontenelle; Adriana Lira Pinheiro de Souza. – UNIVASF

zainapms@gmail.com

O trabalho com grupos se constitui num dos principais recursos terapêuticos nos mais

diferentes contextos de assistência à saúde e, mais especificamente, no campo da saúde

mental (SOUZA, et. al., 2004). Nesse contexto, os grupos terapêuticos, enquanto espaços

de tratamento a usuários do dispositivo de Saúde Mental CAPS II, visa contribuir e

permitir o encontro a sujeitos em intenso sofrimento psíquico, buscando a promoção e o

exercício da cidadania, a expressão de liberdade e a convivência dos diferentes através das

diversas atividades promovidas. Um dos principais objetivos dos grupos terapêuticos no

CAPS, é, segundo Cedraz e Dimenstein (2005), buscar que estes funcionem como

dispositivo de promoção de mudança da lógica manicomial. Possibilitam, dessa forma, o

laço social e integração entre os participantes de modo a manifestar angústias e apontar

para direcionamentos possíveis para resolver questões do dia-a-dia, no que diz respeito às

formas de lidar com os sintomas que sustentam os sujeitos participantes. No CAPS II

André do Cavaquinho - Petrolina/PE- esses grupos são realizados pela equipe de

Psicologia, a qual conta, atualmente, com duas psicólogas, uma coordenadora, com

formação em psicologia, e cinco estagiários da Universidade Federal do Vale do São

Francisco. No referido serviço, os grupos com a equipe de Psicologia acontecem duas

vezes por semana (terças e quintas-feiras), com duração aproximada de 1hora e 20 minutos
261

cada e são mediados pelos psicólogos em formação. Na dinâmica do serviço, diariamente,

após o café da manhã e acolhida inicial (Bom dia), os usuários ficam livres para circular e

escolher qual grupo participar. As propostas são elaboradas a partir de temas cotidianos, os

quais resgatam temáticas sociais, atividades, interesses, obtenção de renda, projetos que

direcionem para aspectos da vida para além da instituição. É elaborado um cronograma

semestral no serviço onde são selecionados e pensados todos os grupos, articulando-os de

acordo com o calendário geral da instituição (consonante aos eventos, datas ou semanas

comemorativas) ou mesmo sugeridos pelos usuários de forma direta ou a partir do que

surge ou ainda, do que venha a ser mobilizado na realização de cada grupo. Destaca-se a

utilização de recursos diversos (massa de modelar, tinta, papel, argila, cola, tesoura,

revistas, papeis variados, vídeos, músicas, filmes, etc.), com o intuito de possibilitar a

produção coletiva com atividades variadas como pinturas, colagens, atividades

expressivas, reflexões, discussões, etc., em temáticas voltadas ao empoderamento dos

usuários em assuntos e situações diárias (autocuidado, gestão responsável de

medicamentos, artes, por exemplo), tendo, muitas vezes, o incremento de convidados ou

passeios extra CAPS. Nesse contexto, as intervenções e o manejo clínico pretendem

proporcionar uma atenção diferenciada à singularidade de cada participante no desenrolar

da proposta. Considerando-se a efetividade terapêutica do cuidado em saúde mental no

trabalho com grupos, é possível destacar que os referidos grupos terapêuticos mediados

pelos psicólogos em formação têm proporcionado espaços onde os discursos podem ser

expressos, promovendo oportunidades para trocas de experiências e o fortalecimento das

relações entre os sujeitos e a sociedade.

Palavras-chave: CAPS; Grupo terapêutico; Psicologia.


262

MOBILIZAÇÃO ANTIMANICOMIAL E FORMAÇÃO: EXTENSÃO

UNIVERSITÁRIA PROPICIANDO O EMPODERAMENTO COLETIVO

Alexandre Monteiro Ribeiro; Ana Dulce Dourado Bastos da Conceição; Barbara Eleonora

Bezerra Cabral; Grécia Rejane Nonato de Lima; Lorena Silva Marques. – UNIVASF

grecianpsi@gmail.com

O projeto de extensão: “Fortalecimento do Protagonismo de usuários e familiares das

Redes de Atenção Psicossocial do Sertão do Submédio São Francisco: articulando

formação e arte” (PROEX/Univasf), desenvolvido pela Universidade Federal do Vale

do São Francisco (Univasf), vem buscando contribuir com o fortalecimento da Rede de

Atenção Psicossocial (RAPS). Em articulação com o Núcleo de Mobilização

Antimanicomial do Sertão – Numans - importante dispositivo político que tem se

constituído enquanto fórum permanente de discussões em torno da Luta

Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica na região, busca-se o empoderamento dos

usuários e familiares das redes de cuidado. Objetiva-se, assim, despertar o protagonismo

dos sujeitos envolvidos, almejando que estes se tornem atores no cenário local em torno

da transformação da atenção em saúde mental e da consolidação das RAPS no sertão. O

projeto é composto por estudantes de graduação e residentes multiprofissionais,

professora orientadora, e outros profissionais de saúde envolvidos com a temática. As

reuniões ocorrem semanalmente e buscam contemplar estudos teóricos e discussões

relativas ao campo da saúde mental e mobilização social, intervenções cenopoéticas,

construção política de estratégias de intervenção e fortalecimento de práticas

humanizadas do cuidado. As atividades possuem um caráter de produção

essencialmente coletivo, e a metodologia utilizada contempla a pesquisa interventiva


263

através da inserção dos integrantes nos cenários da RAPS local, ação-reflexão e a

compreensão e valorização das narrativas e da experiência na produção de

conhecimento. Essa aproximação ensino-serviço tem viabilizado espaços formativos

que tem como eixo a reformulação dos modos de cuidado e assistência nos dispositivos

públicos de saúde e apostado no fortalecimento do poder de contratualidade de usuários

e familiares através da Cenopoesia, recurso artístico que se propõe a afetar e provocar as

pessoas através do teatro, dança, música e poesia. Considerando a dinamicidade e

potência da arte para as diversas formas de expressão de singularidades do humano, tal

experimentação tem estimulado a produção de encontros e narrativas mediadoras de

reflexões e produtoras de compreensões mais positivas em relação à experiência da

loucura e aos diversos modos de ser do humano. E é nessa luta de movimento,

mobilização e processo formativo dos envolvidos que o grupo organizou o 5º Fórum de

Mobilização Antimanicomial (FMA) em maio de 2015, com o tema “Ampliar e

consolidar a RAPS: possibilidades e responsabilidades no cuidado” apostando

movimentar as discussões em torno desse movimento com participações de

universitários, profissionais de saúde, usuários da rede e representantes governamentais

que complementaram os debates. Para além dos momentos de FMA, anuais, são

realizadas também reuniões e intervenções cenopoéticas nos Centro de Atenção

Psicossocial (CAPS) de Juazeiro e Petrolina, mensais, a fim de convocar ao debate e à

ação-reflexão. Evidencia-se o desafio da proposta de buscar uma articulação coerente

entre os campos: acadêmico e social, no entanto, tem sido possível observar,

principalmente, através das posturas dos envolvidos, onde se corroboram

posicionamentos mais investidos de um de um sentido ético-político e valorização do

compromisso social.

Palavras-chave: Formação; Saúde Mental; Extensão Universitária; Empoderamento.


264

CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE MENTAL NO NASF DE

PETROLINA/PE

Evelline Ferreira de Brito; Shirley Macêdo Vieira de Melo - UNIVASF

evellineferreira@hotmail.com

O objetivo geral desse estudo foi compreender as condições de trabalho de equipes de

NASF’s de Petrolina/PE, e como elas afetam a saúde mental dos profissionais.

Especificamente, pretendeu-se descrever as condições de trabalho destas equipes,

investigar a relação entre as suas condições de trabalho e o processo saúde-doença dos

profissionais envolvidos e identificar as estratégias de cuidado dos mesmos com a

própria saúde mental. Num contexto de pesquisa fenomenológica colaborativa,

participaram nove colaboradores, que, em três grupos, narraram e compartilharam suas

experiências a partir de pergunta disparadora. Os principais resultados apontam a

estrutura física e de funcionamento precária das unidades de saúde básica; rotatividade

dos profissionais nas equipes NASF; excesso de trabalho; satisfação com o trabalho

vinculado à relação estabelecida com os usuários; dificuldade de trabalho em equipe;

relações interpessoais, crenças religiosas e a separação entre a vida pessoal e

profissional, utilizadas como estratégias para manutenção da saúde mental pelos

profissionais. Diante disso, conclui-se, principalmente, que o contexto investigado

apresenta condições de trabalho desfavoráveis ao crescimento profissional, à

inventividade nas ações desenvolvidas, ao trabalho em equipe, à permanência dos

trabalhadores nesses vínculos e à promoção da saúde mental.

Palavras-chave: NASF; Saúde mental e trabalho; Condições de trabalho.


265

Índice de Autores

Aquino, A. R. - 169, 209, 229

Araújo, L. F. - 177,193

Araújo, M. I. S. - 191,253

Arruda, A. K. M. - 187

Arruda, R. P. - 225,231

Barreto, C. L. B. T. - 136, 165, 175, 199,207, 255

Barreto, D. C. - 219

Barros, G. L. D. - 185

Brito, E. F. - 264

Brito, F. L. C. A. - 201

Cabral, B. E. B. - 49, 189, 258, 262

Campêlo, G. M. S. - 163,223

Carvalho, J. F - 111, 179, 183, 187, 205, 213, 251

Cassia, J. - 201

Castro, T. - 181, 211

Conceição, A. D. D. M. - 262

Costa, M. C. - 219
266

Damasceno, E. L. - 225, 231

Dantas, J. B. - 81

Dolomieu, V. R. - 247

Epiphanio, E. H. - 143

Ferraz, A. P. S. - 187

Ferraz, A. P. S. - 237

Fontenelle, A. S. - 241, 256, 260

Francisco, A. L. - 237

Freitas, L. G. - 163, 223

Kovács , M. J. - 72

Leal, M. D. S. - 239

Leite, D. F. C. C. S. - 165, 199,207, 255

Leite, R. M. B. - 239

Lima, A. R. O. - 166

Lima, D. F. - 67, 185

Lima, G. R. N. - 241, 256, 260, 262

Lima, I. C. A. - 225, 231

Lima, M. - 171

Lima, M. N. T. M. - 191
267

Luz, K. D. - 233,249

Macêdo, S. - 102, 161, 166, 191, 215, 243, 264

Marques, L. S. - 262

Melo, J. B. - 175

Mendes, M. T. G. - 221

Mendes, N. S. S. - 169, 209, 229

Mendes, W. - 181,211

Menezes, J. K. S. F. - 177

Miranda, A. C. S. - 258

Miranda, G. A. - 219

Morais, S. R. S. - 93, 181, 195, 201,203, 211, 245

Moreira, M. I. B. - 59

Neto, M. C. N. - 195, 201

Nunes, A. P. G. - 225, 231

Oliveira, A. P. G. - 179,213

Oliveira, A. S. - 219

Oliveira, F. L. L. - 163,223

Oliveira, M. J. H. A. - 235

Pereira, A. M. - 169,209, 229


268

Pereira, M. C. - 217, 243, 253

Quirino, C. - 171

Ribeiro, A. M. - 262

Ribeiro, M. S. - 241, 256, 260

Ribeiro, M. S. S. - 185, 217, 253

Rios, V. F. S. - 189,203

Santana, A. M. - 165, 169, 199,207, 209, 229, 255

Santos, C. S. - 191

Santos, G. S. - 213, 239, 251

Santos, R. M. R. C. - 215

Santos, S. E. B. - 111, 165, 199, 207, 255

Santos, Z. P. M. - 189,203, 241, 256,260

Schmidt, M. L. S. - 64, 227

Silva, A. D. - 193

Silva, E. A. R. D. - 191,253

Silva, E. F. G. - 165, 199, 207, 255

Silva, I. D. - 197

Silva, J. D - 239

Silva, N. M. - 169, 229


269

Silva, N. M. - 209

Souza, A. G. S. F. - 183

Souza, A. L. P. - 241, 256, 260

Souza, A. S. B. - 219

Souza, G. W. - 173

Souza, L. G. - 177

Souza, M. G. O. - 247

Souza, P. L. - 245

Souza, V. R. B. - 225, 231

Szymanski, L. - 121

Tomé, M.- 181,211

Torres, T. S. - 201

Veríssimo, J. C. M. - 205,213

Walckoff, S. D. B. - 151, 175, 197, 247

Zakabi, D. - 227
270

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