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Capela de São Frutuoso de Montélios

A capela funerária de São Frutuoso de Montélios foi mandada


edificar na segunda metade do século VII por Frutuoso, então bispo de
Braga, como cellae memoriae para receber, na morte, o seu corpo, no
local onde fundara, em 660, um mosteiro consagrado a São Salvador.
Relembrando, na distribuição dos seus volumes ou na decoração
exterior em arcadas cegas, o Mausoléu de Gala Placídia em Ravena,
apresenta, contudo, diferenças significativas, nomeadamente na sua
estrutura interior ou nas absides inscritas em maciço rectangular,
sendo, porém, inegável a sua afinidade bizantina. As vicissitudes que
atravessou ao longo dos séculos, que determinaram o edifício que hoje
podemos contemplar, ditou intermináveis polémicas quanto à sua
filiação, bizantina, visigótica ou moçarabe.
Frutuoso de Braga é o Santo hispano-godo mais famoso. Nasceu no
seio de família nobre à volta do ano 600 e morreu, provavelmente no
ano de 6651. Tomou uma vida monástica errante, usando a
deambulação e as viagens como parte da sua vocação e método para
espalhar o monasticismo, promovendo a fundação de vários mosteiros.
Quando preparava uma peregrinação ao Oriente, foi detido pelo rei em
Toledo, impedindo que tão importante homem deixasse o reino e foi
colocado bispo, primeiro em Dume, e depois em Braga. A permanência
de Frutuoso junto da corte em Toledo haveria de reflectir-se na
edificação da sua cellae memoriae. Desde Leovigildo que o cerimonial
e simbologia imagética bizantinas eram copiados de modo a consolidar
a ideia de nação e império2. Assim, mais do que ter um protótipo em
Galla Placídia, S. Vital ou no Baptistério dos Ortodoxos, onde por
exemplo se encontram as mesmas arcaturas triplas, a capela de
Montélios reflecte o mesmo gosto do cruzamento de tradições heleno-
romanas e orientais que guiaram a outras construções bizantinas.
Logo, desde cedo, se instalou peregrinação devota dos crentes junto
do túmulo do santo, solicitando milagres para as suas doenças.
Permaneceu o santo e o seu mausoléu em sossego pelo menos até ao
início do século VIII, quando se iniciam as investidas árabes de
Mahomed Almansor até Compostela. Pela proximidade de Montélios à

1. Maribel Dietz. Wandering monks, virgins, and pilgrims: ascetic travel in the
Mediterranean. Pennsylvania State University Press, 2005.
2. Jerrilynn Denise Dodds. Architecture and Ideology in Early Medieval Spain.
Pennsylvania State University Press; 2 edition, 1994.
artéria romana, por onde passaram as hostes invasoras, é opinião de
alguns autores que a pequena capela não poderia ter resistido à
invasão. Teria havido, portanto, uma reconstrução de características
moçárabes nos séculos X ou XI após a reconquista cristã, não sendo a
actual capela a originariamente mandada construir pelo Santo3, como
outros supõem4.
Reconstruída ou não a capela, o culto de São Frutuoso nunca deixou
de existir, e no século XI ter-se-á tornado tão enraizado que, em 1102,
o Arcebispo de Compostela, temendo a concorrência da devoção à de
São Tiago, numa visita a Braga, aproveitando a ausência de Geraldo de
Moissac, prelado de Braga, furtivamente apoderou-se das relíquias de
Montélios e transportou-as para Compostela. A partir de então o culto
de São Frutuoso perdeu progressivamente importância.
No Século XVII o Arcebispo D. Diogo de Sousa efectuou obras no
mosteiro de S. Salvador e ali instalou os monges capuchos da ordem
de S. Francisco. Estes, crescendo em número, iniciaram, em 1728, a
construção de nova Igreja, fazendo-a acoplada ao mausoléu de S.
Frutuoso, que foi amputado e incluído na nova construção. Só no início
do século XX o monumento saiu do esquecimento, após a
desobstrução das paredes que o cobriam, e a reconstrução iniciou-se
em 1931 com Moura Coutinho4. A discórdia quanto à sua origem,
tratando-se ou não de uma construção posterior à primitiva, e a
polémica no que diz respeito ao restauro de monumentos antigos,
envolveu a reconstrução que nunca foi integralmente concluída.

A planta da capela é em cruz de braços iguais, habitualmente dita


em cruz grega. De um corpo central irradiam quatro braços,
correspondendo o oriental à entrada, de forma quadrada. Os restantes
três constituem um plano trilobado, desenhando-se em cada um uma
abside de curva ultra semi-circular, quase fechada, inscrita num
maciço rectangular. Este plano trilobado (trichora cella) encontra forte
tradição nas construções orientais paleocristãs e bizantinas de

3. Miguel Carrilho da Silva Pinto. A Igreja de S. Frutuoso de Montélios. ASPA, Braga, 1983.
4. João de Moura Coutinho. As artes pré-românicas em Portugal: São Frutuoso de
Montélios. Edição da Aspa, Braga, 1978.
5. Elisabetta Pagello. La materia e l'idea: significati e simboli nell'architettura antica.
Guida, 2003.
6. João de Moura Coutinho. Op. Cit.
martyria e mausoléus, onde assume relação simbólica, pela associação
ao triclínio, com o banquete eucarístico5. Seria, por outro lado,
igualmente significativa a aproximação da formação tríptica à
simbologia da Trindade6.
Os volumes exteriores individualizam-se bem numa distribuição
simétrica e harmoniosa. Nas paredes sobressaiem as arcaturas cegas,
alternando, ao contrário do que sucede no mausoléu de Galla Placídia,
arcos hemicirculares e em mitra. Esta disposição foi frequentemente
utilizada na decoração dos sarcófagos paleocristãos, como é o caso do
famoso sarcófago de Julius Bassus, justificando-se, pela sua difusão, a
inclusão em edifícios, como no interior do Baptistério dos Ortodoxos
em Ravena. A junção de dois arcos e uma mitra ou um arco e duas
mitras, como ocorre no Baptistério de São João de Poitiers, carregavam
a simbologia da Trindade.
Circundando o corpo central e servindo de base à cornija
desenvolve-se um friso que assenta em pequenos arcos geminados
ultrapassados que alternam, aos pares, com pequenos arcos de mitra.
O friso mostra flores-de-lis rodeadas por semicírculos justapostos sobre
um relevo de corda. Friso simples de corda contorna todo o edifício
cortando as arcaduras cegas, repete-se no corpo central ao nível da
base das janelas e emoldura os tímpanos dos frontões. Estes frisos
permitem estabelecer um ritmo decorativo que se acentua no
contraste do material escolhido, em calcário branco, com o negro do
granito dos silhares7.
Na parede exterior do lado norte da abside da cabeceira escava-se,
em toda a espessura da parede e fechado para o interior, o arcossólio
que abrigou o sarcófago de São Frutuoso, com tradição na prática
funerária das catacumbas dos primeiros cristãos. Num último gesto de
humildade, cumpriu a preceito canónico8.
Exceptuando, como já dito, os motivos decorativos, o material
empregue foi o granito da região, talhado em formas rectangulares,
regulares na altura mas não no comprimento. Nos três braços da cruz
e nas empenas do corpo central abrem-se vãos de pequenas janelas
com arco ultrapassado. Ainda que actualmente apenas visível na
elevação central, todas seriam geminadas, divididas por colunelo
central de mármore.

No interior, o tramo ou núcleo central, de configuração


quadrangular, forma-se por quatro pilares de granito onde se apoiam
outros tantos arcos torais que suportam um quadrado de silhares
coberto por cúpula em calote esférica. A cúpula, construída por
aparelho tangencial de tijolo dito, segundo alguns, bizantino, articula-

7. João de Moura Coutinho. Op. Cit.


8. Concílio I de Braga de 561: “Item placuit ut corpora defunctorum nullo modo in
Basilica Sanctorum sepeliantur, sed si necesse est de foris circa murum Basilicae
usque adeo non abhorret”

se com o quadrado por meio de pendentes que terminam em mísulas


de pedra lavrada. Sob cada um dos arcos torais, desenham-se arcos
triplos de curva ultrapassada, em que o do meio é predominante, com
maior raio gerador, e que se apoiam, lateralmente, sobre impostas nos
pilares e, no centro, sobre os capitéis de duas colunas de mármores
sem bases. Ambos, as impostas e os capitéis, são de inspiração
coríntia. Significativamente, estas arcadas triplas não são importantes
para a estabilização da estrutura, desempenhando, sobretudo, papel
decorativo9.
Ainda que no arco médio destas arcadas a curva que se forma por
baixo da linha do centro se detenha a um terço do raio, a maioria dos
arcos da construção são ultrapassados a mais do terço do raio,
característica não habitual das edificações visigóticas, o que
testemunharia a reconstrução posterior moçárabe na opinião de alguns
autores. A este se juntariam outros argumentos: o extradorso segue
paralelo ao intradorso, sem que caia verticalmente sobre a imposta; o
número de aduelas é par, sem aduela de fecho; as juntas das aduelas
convergem no centro do arco. De igual modo, os frisos de corda da
decoração exterior e as flores-de-lis seriam estranhas à construção
visigoda10.
Na construção original, não presentes na reconstrução actual, as
absides possuiriam no seu interior colunas e arcos que formariam
galeria anular em torno do perímetro da sua circunferência, quatro em
cada uma das absides laterais e seis na abside poente.
Também, e tal como o corpo central, originariamente os quatro
braços da cruz possuíam abobadamento. No de entrada seria uma
abóbada de berço ultra semi-circular peraltada e nos restantes, sobre
as absides, cúpulas hemisféricas. As estruturas radiantes dos braços
laterais ajudam a conter, segundo os princípios da construção
bizantina de manter contrafortes absorvidos no interior da construção,
as forças excêntricas da cúpula central.
A decoração interior, para além das referidas arcadas triplas, foi
conseguida pela repetição da faixa de flores-de-lis inscritas em arcos
tangentes sobre friso de corda presente no exterior e, sobretudo, pela
sumptuosidade dos capitéis que encimam as colunas e dos frisos dos
pilares do corpo central. São trabalhados de forma fina com folhas de
acanto e, por cima, o ábaco, igualmente esculpido, é coroado no

9. João de Moura Coutinho. Op. Cit.


10. Miguel Carrilho da Silva Pinto. Op. Cit.

centro por flôr de lótus. São obra dos artistas que erigiram o
monumento primitivo, tomando inspiração coríntia e, provavelmente,
em construção romana de prévia existência no local, segundo os
defensores da originalidade da igreja. Porém, outros vêem neste
primoroso modelado o trabalho de uma reconstrução posterior.

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