Sob o signo do
consumo: status,
necessidades e
estilos Introdução
O fato das tendências do consumo não estarem As múltiplas ofertas revelam, então, sujeitos
mais restritas às vitrines das lojas, mas diferentes e escolhas diferentes, não abun-
expostas nas pessoas, nos lugares, nos carros, dantes, talvez, nem variadas. Bourdieu e
na mídia, favorece mais a influência dos gostos Williams20 observam que a idéia dos indiví-
que a individualidade de suas escolhas. duos possuírem os mesmos bens antes de
Featherstone observa que o prazer da indicar a igualdade dos mesmos, reflete o
utilização das diferentes tendências se dá limite de suas possibilidades. Limite este que
quando elas são legitimadas. Daí o engaja- se apresenta, especialmente, na dificuldade
mento das pessoas a determinados estilos e o da realização de escolhas sem influências
direcionamento de sua “liberdade”, pois, do externas e sem a consideração do poder
contrário, elas podem não significar o que aquisitivo dos sujeitos.
pretendem.
Neste sentido, Baudrillard e Featherstone
A liberdade total das opções não vigora de salientam que as práticas do consumo acabam
fato. A prática daquilo que se propõe acaba refletindo o “poder” de alguns grupos pelos
requerendo limites no social. O olhar do outro, privilégios que lhes são reservados em termos
as mensagens que embasam um estilo, os de possibilidade de aquisição. Este fator não
estereótipos já formulados em torno de se manifesta no acúmulo de objetos de
determinados bens e comportamentos consumo, mas na vantagem de possuir bens
tornam-se, mesmo que inconscientemente, de alta qualidade, que os distingue dos demais.
condicionantes do consumo, limitadores das Assim, a classificação diferenciada dos
opções. indivíduos no social acaba aparecendo. Os
aspectos externos, como os bens de consumo,
Por outro lado, a multiplicidade de ofertas por exemplo, podem ser seu primeiro indício.
não garante a multiplicidade de escolhas, A aparência, no entanto, revela-se insuficiente
porque os sujeitos não são iguais. Os objetos para definir os sujeitos sem considerar a
de consumo realmente se oferecem a todos, complexidade de seus modos de vida e
mas a todos que tenham condições financeiras concepções.21
para adquiri-los, a todos que compartilhem
os mesmos gostos e valores neles represen- Independente dos equívocos de concepções e
tados. As diferenças manifestas nos gostos, crenças que a própria lógica do consumo
costumes, conhecimentos, atitudes e concep- possa promover, é a sua condição sígnica que
ções dos sujeitos precisam encontrar algumas não se pode desconsiderar. Ela embasa as
afinidades naquilo que lhes é oferecido. A práticas consumistas, recobrindo os objetos
“bagagem” individual que os sujeitos trazem de atributos e abstrações sedutoras. São os
consigo elabora-se e reelabora-se constan- signos daí emergentes que apelam ao
temente com a colaboração de diferentes imaginário dos sujeitos, fazendo-os conceber
fontes, entre elas, os intermediários culturais. a possibilidade da realização de suas
O misto de opiniões, sugestões, indicadores expectativas em determinados objetos.
de procedimentos que os indivíduos recebem
não os impedem de fazer suas próprias É a construção feita a partir destes objetos –
19 Idem, p. 132.