Renato William Rodrigues de SOUZA (1); Sandro César Silveira JUCÁ (2); Emannuel Diego
Gonçalves de FREITAS (3);
(1) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. Av. Contorno Norte, 10;CEP 61939-900 -
Maracanaú, CE - Brasil;Telefone: (85) 38786300, e-mail: renatowilliam21@gmail.com;
(2) IFCE,e-mail: sandrojuca@cefet-ce.br
(3) IFCE, e-mail: emannueldiego@gmail.com
RESUMO
Com os avanços na área da automação é comum perceber suas aplicações e benefícios em nosso cotidiano.
Estes avanços tornam viáveis as construções dos chamados “Ambientes Inteligentes”, ou seja, ambientes
dotados de sensores, controladores e atuadores capazes de interagir e se adaptar à presença de usuários,
facilitando as operações e otimizando as condições operacionais. No presente artigo é apresentada uma
proposta de automação capaz de acionar e controlar equipamentos eletroeletrônicos, como lâmpadas,
motores e atuadores. Neste trabalho é utilizado controle baseado em microcontroladores da família PIC,
conta com um supervisório de baixo custo e uma interface gráfica do sistema, que permite ao usuário a
possibilidade de interagir naturalmente com o cenário automatizado, bem como adquirir dados deste sistema.
O principal objetivo deste trabalho é possibilitar o controle dos diferentes aparelhos e equipamentos
eletroeletrônicos em um ambiente onde seja necessária a supervisão de forma centralizada e/ou remota,
proporcionando comodismo e praticidade ao usuário. Tal arquitetura é validada através de um protótipo que
utiliza como cenário uma sala automatizada.
Palavras-chave: Automação de Ambientes, Sistemas Microcontrolados, Supervisório de baixo custo.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, com o avanço tecnológico, a automação tornou-se possível em todas as áreas. Praticamente
todos os ambientes podem ser parcial ou totalmente automatizados, proporcionando de uma maneira geral,
maior segurança, agilidade, economia, conforto e um conseqüente aumento de qualidade de vida. O
surgimento do microcontrolador contribuiu enormemente para a disseminação da automação, principalmente
fora dos ambientes industriais. Com a utilização de microcontroladores, projetos envolvendo automação de
ambientes tornaram-se bastante facilitados, pois somente um microcontrolador pode substituir circuitos
eletrônicos contendo um grande número de outros componentes (CARMO, 2005).
Na automação de diferentes tipos de ambientes podem ser utilizados vários métodos e equipamentos,
fornecendo a habilidade de realçar estilos de vida próprios. Trata-se de uma integração de vários
equipamentos e processos, que têm por finalidade deixar mais cômoda e de fácil controle a vida dos usuários,
sistema esse inteligente, programável e centralizado, podendo ser adaptado e controlado pelo próprio
usuário.
Cada nova tecnologia traz um novo vocabulário. Quando o assunto é residência, não é diferente: casa
automática, casa inteligente, automação residencial, domótica, entre outros (BOLZANI, 2004).
Este trabalho tem por finalidade desenvolver um protótipo de um Sistema Microcontrolado de Automação de
Ambientes com Supervisório, demonstrando a viabilidade e eficácia levando em conta a comodidade,
segurança e economia dos recursos fornecidos. A implantação desse sistema permite ao usuário o controle
dos equipamentos integrados, o qual é informado em tempo real, através do sistema supervisório sobre
algum tipo de disfunção dos equipamentos instalados. Caso haja uma alteração dos parâmetros pré-
estabelecidos, o próprio software deve intervir de forma eficaz para restabelecer os padrões, ou avisar sobre a
necessidade de possíveis correções.
O projeto tem como objetivos específicos o desenvolvimento de um protótipo com os componentes
necessários e o desenvolvimento de um software que permita uma comunicação eficiente entre o
microcontrolador e o supervisório, além de processar os sinais provenientes dos sensores utilizados.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O sistema é composto basicamente por um microcontrolador PIC18F2550, uma memória EEPROM
(memória eletricamente reprogramavel), um relógio em tempo real (RTC), que se comunicam utilizando o
protocolo de comunicação serial I2C e sensores distribuídos nos ambientes, juntamente com atuadores.
(MICROCHIP, 2009).
O canal “USB” (Universal Serial Bus) é utilizado por um computador para a configuração do relógio “RTC”,
para realizar o resgate dos dados da memória “EEPROM” externa através da emulação de uma porta serial
virtual, bem como a leitura de dados obtidos pelos sensores e a possível intervenção pelos usuários através
do supervisório, além da gravação e atualização do firmware do microcontrolador. Este sistema de
automação é caracterizado por possuir aplicação geral para dados analógicos e digitais, pela simplicidade de
hardware e consequentemente, baixo custo.
A memória EEPROM (Electrically Erasable Programmable Read Only Memory) é um dispositivo que pode
ter o seu conteúdo apagado eletricamente. Com isto, é possível gravar e apagar o conteúdo da memória
mesmo com a memória instalada no circuito (desde que o circuito seja construído com estas funções).
A maioria dos modelos da família PIC apresenta memória EEPROM interna, com capacidade de
armazenamento de 256 bytes. Entretanto, para um sistema de automação de ambientes, é necessária uma
EEPROM externa cuja capacidade é determinada em função do número de sensores e do período de
armazenamento dos dados. Neste protótipo optou-se pelo modelo de memória 24C256, a qual disponibiliza
256 Kbits, ou seja, 16 Kbytes de armazenamento e interface de comunicação I2C.
O Real Time Clock (RTC) DS1307 é um relógio/calendário serial de baixo custo, possui oito pinos e é
controlado por um cristal externo de 32.768 Hz. A comunicação com o DS1307 é, também, realizada por
meio da interface serial I2C por um pino de clock (SCL) e um pino de dados (SDA). Esse RTC contém uma
memória RAM interna onde seis bytes são configurados na forma Binary Coded Decimal (BCD) para a
função relógio/calendário, ou seja, ele fornece hora, minuto, segundo, dia, mês e ano. Ele, ainda, oferece a
possibilidade de retenção dos dados em um eventual falta de energia (DALLAS, 2006). Na figura 1 é
mostrado o circuito comum de operação do RTC.
O PIC 18F2550 contém 23 pinos de E/S, 32 kbytes de memória de programa e um contador de programa
com 21 bits (MICROCHIP, 2009), além de ser um microcontrolador bastante difundido no mercado
brasileiro.
2.5. Sensores
Para Thomazini e Albuquerque (2007), sensor é o termo empregado para designar dispositivos sensíveis a
alguma forma de energia do ambiente, que pode ser luminosa, térmica, cinética, etc. relacionando
informações sobre uma grandeza que precisa ser medida, como temperatura, pressão, velocidade, corrente,
aceleração, posição e outras. Transdutor é o instrumento completo que engloba o sensor, que é apenas a parte
sensitiva do transdutor.
2.5.1. Ldr
O LDR (Light Dependent Resistor) possui a característica de ser um componente eletrônico cuja resistência
elétrica diminui quando incide sobre ele energia luminosa. Isto possibilita a utilização deste componente para
desenvolver um sensor que é ativado (ou desativado) ao receber esse tipo de energia. A resistência desse
componente varia de forma inversamente proporcional à quantidade de luz incidente sobre ele. Enquanto o
feixe de luz estiver incidindo, o mesmo oferece uma resistência muito baixa. Quando este feixe é cortado,
sua resistência aumenta (THOMAZINI e ALBUQUERQUE, 2007).
2.5.2. Sensor de temperatura LM-35
O sensor LM35 é um sensor de precisão, que apresenta uma saída de tensão linear relativa à temperatura em
que ele se encontrar no momento em que for alimentado por uma tensão de 4-20vdc e GND, tendo em sua
saída um sinal de 10mv para cada Grau Celsius de temperatura (NATIONAL, 2009). O LM35 não necessita
de qualquer calibração externa ou trimming para fornecer com exatidão, valores de temperatura com
variações de ¼ºC ou até mesmo ¾ºC dentro da faixa de temperatura de –55ºC à 150ºC. Este sensor tem saída
com baixa impedância, tensão linear e calibração precisa, fazendo com que o interfaceamento de leitura seja
especificamente simples, barateando todo o sistema em função disso.
2.6 Atuadores
Atuadores são dispositivos que modificam uma variável controlada. Recebem um sinal proveniente do
controlador e agem sobre o sistema controlado. Geralmente trabalham com potência elevada. (THOMAZINI
e ALBUQUERQUE, 2007). Exemplos de alguns atuadores:
a) Relés (estáticos eletromecânicos)
b) Motores (step-motor, syncro, servo-motor)
c) Lâmpadas.
Um protocolo de comunicação nada mais é do que um conjunto de convenções que rege o tratamento e,
especialmente, a formatação dos dados num sistema de comunicação. Seria a "gramática" de uma
"linguagem" de comunicação padronizada. Conhecemos vários protocolos de comunicação e fazemos uso
deles diariamente, mas não pensamos neles como protocolos de comunicação. O mais antigo deles é a língua
falada: duas pessoas que emitem sons audíveis aos ouvidos humanos podem se comunicar. Neste exemplo, o
protocolo de comunicação é a emissão de sons numa dada faixa de frequência, o código utilizado é a língua
falada e a mensagem é o conteúdo do que se fala. Em se tratando de máquinas, o meio mais utilizado até hoje
é o elétrico. Porém, para fazer uso de qualquer código para transmitir uma mensagem, existe a necessidade
de um protocolo.
O microcontrolador já tem em seus dispositivos internos um clock de 4 MHz, o que é suficiente para se
comunicar com outros dispositivos. Mas não vai se comunicar com o PC, pois a comunicação entre os dois é
feita via protocolo USB, e esse só funciona com 48 MHz. Para adquirir tal freqüência se faz necessário a
utilização de um circuito de clock externo.
3.2 Hardware
O controle do processo é realizado através do microcontrolador PIC 18F2550 da Microchip, ele é
responsável por receber sinais provenientes dos sensores e enviá-los para o supervisório, bem como para os
atuadores. O cabo USB (à direita) que aparece na imagem estava sendo usado neste momento para a
comunicação entre o PIC e o PC e alimentação dos dispositivos montados no protoboard. Os pares de fios
trançados são identificados como: laranja D -, verde D +, azul VCC e branco GND (Grupo SanUSB,2009).
Os atuadores utilizados nesse protótipo são basicamente um motor CC e lâmpadas de 12V. Para o
acionamento dos motores e demais atuadores é necessário a utilização de relés, que são energizados por
drives de potência ULN2803, que possuem internamente oito transistores com resistores de base e oito
diodos de roda livre. O relé utilizado possui um pólo e duas posições, com alimentação da bobina de 5V.
3.3 Software
O software supervisório do sistema é desenvolvido em linguagem Delphi, e conta com uma interface gráfica
intuitiva baseada nas tradicionais manipulações de janelas, que facilitam a sua utilização.De forma
simplificada, pode-se dividi-lo em duas etapas de utilização: uma para controle e outra de eventos. Na
interface de controle, o usuário pode monitorar visualmente a quantidade luminosa e níveis de temperatura e
controlar o ligamento e desligamento de cargas em tempos e horários pré-determinados. Na de eventos, o
usuário possui acesso a um relatório de informações em tempo real, e a um gráfico com o histórico das
temperaturas e dos níveis de luminosidade do ambiente.
Na figura 8 é mostrada a tela do software supervisório. Nela estão contidos todos os elementos de controle e
monitoramento para o hardware. Na mesma tela é encontrado o botão “Eventos”, que exibe a etapa de
relatórios e gráficos em tempo real.
(a) (b)
A interface do supervisório está dividida em duas partes, a primeira é um gráfico, onde se podem ver os
sinais provenientes dos sensores de temperatura e luminosidade (a escala do valor da luminosidade é 1:10 e a
da temperatura é de 1:1).A segunda é um relatório dos eventos ocorridos no ambiente.
Os eventos que são mostrados nesse relatório são provenientes de dados armazenados na memória EEPROM.
Dados esses que são recolhidos quando ocorrem eventos sensíveis pelos sensores. Assim, um registro é
incrementado na memória RAM. Em intervalos de tempo pré-determinados, o microcontrolador armazena a
leitura dos sensores na memória EEPROM externa pelo barramento I2C. A cada segundo o processador
realiza uma leitura do relógio RTC pelo barramento I2C, por intermédio da interrupção do timer1,
verificando a data (dia, mês e ano) e o horário (segundo, minuto e hora).
4. TESTES E RESULTADOS
Os testes são realizados de forma a avaliar o desempenho do sistema proposto. Abaixo são descritos os testes
realizados neste protótipo:
• Acionamento de motores: para este teste são utilizados motores CC de 12 V, sendo um para o dispositivo
de abrir/fechar uma porta e o outro como exaustor do sistema de temperatura. No teste o controlador se
comporta de forma satisfatória e proporciona uma ótima resposta para o acionamento dos motores. Quando
este é submetido para deslocar uma porta através de polias, engrenagens e uma pequena cremalheira,
derivados de uma sucata de CD-ROM obtem-se bons resultados, visto que o deslocamento dessa porta foi
realizado com sucesso. A técnica empregada para a reversão deste motor foi o acionamento de uma ponte
“H” com micro relés que se mostrou bastante usual nestes casos onde se deseja reverter o sentido de rotação.
Já no caso do exaustor o acionamento foi feito de forma simples utilizando apenas um micro relé para a sua
alimentação.
• Fonte externa de alimentação: Para a alimentação dos motores e lâmpadas foi usada uma fonte “ATX”
de PC, esse tipo de fonte fornece para o circuito do protótipo as tensões de 5 V e 12 V.
5. CONCLUSÃO
O sistema Microcontrolado de Automação com supervisório desenvolvido neste trabalho mostra-se eficaz
conforme os resultados obtidos na realização dos testes de seu funcionamento apresentam um
comportamento de acordo com o projeto, ratificando sua confiabilidade. Entre as principais características
destacam-se o fácil controle dos atuadores através do supervisório, bem como a análise dos sinais captados
pelos sensores, que são mostrados em um gráfico. Outra característica importante que pode ser citada aqui é
o armazenamento de dados relacionados com a data e o horário em uma memória não volátil.
O projeto apresenta uma facilidade apreciável referente à comunicação, proporcionada pela utilização do
protocolo I2C, que se mostra uma ótima ferramenta para troca de dados entre circuitos integrados de
diferentes fabricantes. Outro ponto positivo encontrado no projeto é a facilidade de se gravar os programas
no microcontrolador, conseguida graças a utilização da porta USB integrada a ferramenta SanUSB. A grande
vantagem deste sistema, além da eficácia e confiabilidade, está no fator econômico, pois utiliza componentes
de custo relativamente baixo e de fácil disponibilidade no mercado brasileiro.
O sistema desenvolvido mostrou-se ser de baixo custo, tendo em vista que foi gasto em torno de R$150,00
no desenvolvimento do supervisório e do controlador e que, para a mesma aplicação, utilizando CLP, o
sistema custaria em torno de, R$10.500,00, pois um CLP custa em torno de R$2.500,00 e a licença de um
software supervisório SCADA custa em torno de R$8.000,00. Hoje em dia com todos os avanços
relacionados à tecnologia de supervisórios e CLPs e com diversos tipos de fabricantes, o preço comercial da
implantação dessa tecnologia ainda se encontra alta em relação ao SIMMAS, ou seja, a faixa de valores se
encontra distantes.
Em trabalhos futuros, pretende-se realizar o controle de acesso a ambientes de forma remota utilizando a
internet.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Pedro Urbano B. de;ALEXANDRIA, Auzuir Ripardo de. Redes Industriais:
aplicações em sistemas digitais de controle distribuído. Fortaleza: Livro Técnico, 2007.
BOLZANI, Caio A. M. Residências Inteligentes. São Paulo: Livraria da Física, 2004.
CARMO,Vilson do; Protótipo de Controle de Acesso para Academias de Ginástica Utilizando
Microcontrolador Pic e o padrão rs-485:Trabalho de conclusão de curso (Ciências da Computação) -
Universidade Regional de Blumenau ,2005.
DALLAS Semiconductor (2009). DS1307 Data SheetDisponível em:
http://www.sparkfun.com/datasheets/Components/DS1307.pdf. ; acesso em 15 jan 2008
Grupo SanUSB (2008). Aquivos do Grupo SanUSB. Disponível em:
http://br.groups.yahoo.com/group/GrupoSanSB/ Acesso em: 18 Abril. 2009.
MICROCHIP Technology Inc. (2009) PIC 18FXX2 Data Sheet; Disponível em:
http://ww1.microchip.com/downloads/en/Device Doc/39564c.pdf. ; [acesso em 15 jan 2008]
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http://www.national.com/ds/LM/LM35.pdf. [acesso em 15 maio 2009]
PEREIRA, F. (2007). Microcontroladores PIC Programação em C, Ed. 7, São Paulo:Érica
THOMAZINI, Daniel; ALBUQUERQUE, Pedro U. B. de. Sensores Industriais: fundamentos e aplicações.
São Paulo: Érica, 2007.